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Cotas nas universidades públicas

SANTOS, Jocélio Teles dos (org.). Cotas nas universidades: análises dos
processos de decisão. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA,
2012. 284p.
SANTOS, Jocélio Teles dos (org.). O impacto das cotas nas universidades bra-
sileiras (2004-2012). Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA,
2013. 278p.

Houve um tempo de fazer. Nesse têm o mérito de trazer para o crivo


tempo, havia apenas a experiência da reflexão um conjunto expressivo
conhecida do que se passara nos de experiências de adoção e imple-
Estados Unidos, poucas referências mentação de cotas em universidades
aos casos da Índia e da África do federais e estaduais em diferentes
Sul, e experiências pouco estudadas partes do país, com exceção da re-
mas bem sucedidas de políticas de gião Norte. Em termos temporais,
reserva de mercado implementadas pode-se afirmar que relatam proces-
entre nós desde o primeiro governo sos de implementação de cotas des-
Vargas. As ações afirmativas para de as primeiras iniciativas, em 2004,
garantir o acesso de estudantes ne- até a Lei Federal nº 12.711, de 2013,
gros às universidades brasileiras fo- que “unificou” e deu homogeneida-
ram feitas, portanto, a partir dessas de ao sistema de reserva de vagas
poucas reflexões prévias, num com- nas universidades federais.
plexo jogo de alianças e negocia- No primeiro livro, encontramos
ções políticas entre reitores, congre- estudos, ricos em detalhes, sobre
gações universitárias e movimentos como ocorreu o processo político
sociais, sob a vigilância ativa da opi- que levou à decisão por reserva de
nião pública e de muitos intelectuais vagas em onze estabelecimentos de
públicos. Ao final, prevaleceram as ensino superior. Como foram os pri-
cotas sobre outras formas de inclu- meiros debates? Quem eram os ato-
são, como os bônus. res políticos diretamente envolvi-
Hoje é tempo de refletir sobre dos? Quais respostas institucionais
essa história e escrevê-la. Estando foram apresentadas pela burocracia
garantida por uma decisão do Su- universitária? Quais técnicas e re-
premo Tribunal Federal, podemos tóricas de convencimento político
fazê-lo sem o compromisso ativista foram usadas pelos atores engajados
de quando a defendíamos. Os livros na mobilização em favor das cotas?
Cotas nas universidades: análises Como se formou a reação política
dos processos de decisão e O im- contra tal proposta no âmbito inter-
pacto das cotas nas Universidades no e externo à universidade? Essas
públicas brasileiras (2004-2012) e tantas outras questões dão viva-

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cidade aos artigos que compõem a les gestados no interior da burocra-
coletânea, organizada por Jocélio cia universitária, que, aliás, corres-
Teles dos Santos. Nesse sentido, pondem à maioria das experiências
os registros micro-históricos entre- de ações afirmativas no Brasil.
laçam-se às memórias dos autores, Assim como os ativistas, muitas
que, na maior parte dos casos, foram vezes, externos ao ambiente univer-
também atores no processo de deci- sitário, os agentes “internos” aos cír-
são que levou às formas particulares culos acadêmicos foram centrais na
e diversificadas de implementação articulação do processo que levou à
das cotas. adoção das cotas e à forma pela qual
Do processo político, dois pon- essa política configurou-se no sis-
tos parecem particularmente bem tema universitário. Docentes e pes-
detalhados por todos os autores: a quisadores atuaram em comissões
mobilização favorável à implemen- para implementação de ações afir-
tação das cotas e as reações à adoção mativas, apresentaram justificativas
de tal sistema. Embora não sejam te- técnicas e normativas de defesa das
mas novos na literatura acadêmica, cotas e elaboraram projetos que tra-
lidos em conjunto é possível identi- mitavam na burocracia institucional,
ficar padrões recorrentes nas expe- além de se fazerem presentes em au-
riências minuciosamente descritas diências públicas nas universidades,
no primeiro livro. nos debates na imprensa e nas reuni-
Desse modo, verifica-se a pre- ões de conselhos universitários. Por
sença marcante de três tipos de fim, eles mediaram os conflitos e a
agentes políticos: os ativistas oriun- relação entre o movimento social e
dos da sociedade civil; os professo- a burocracia estatal. Exemplos mar-
res e pesquisadores universitários; e cantes que revelam tal atuação po-
os gestores públicos da instituição dem ser apreendidos nos artigos que
de ensino superior. Os primeiros tratam das universidades federais de
agentes, muitas vezes, em forma Goiás (UFG), Maranhão (UFMA)
de movimentos sociais (movimento e Santa Catarina (UFSC), além das
negro, cursinhos pré-vestibulares, estaduais de Mato Grosso do Sul
lideranças e organizações indígenas, (UEMS) e de Santa Cruz (UESC).
pastorais religiosas) funcionaram Por sua vez, em nenhum caso
como grupos de pressão sobre as analisado, descartou-se a relevância
instituições universitárias em várias de agentes públicos. Muitas institui-
etapas do processo — da abertura do ções tiveram seus projetos adiados
debate, passando pela aprovação dos por semestres, justamente porque
projetos, à implementação propria- não havia “boa vontade” para colo-
mente dita. Isso ocorreu tanto em car em votação o projeto de cotas.
casos em que a política se deu por Os artigos revelam a relevância
meio de leis estaduais, como naque- de gestores públicos favoráveis às

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políticas de inclusão para o anda- forma pela qual se deu a reação às
mento dos processos no interior da cotas em duas instituições. Antonio
burocracia universitária. Dignos de F. Beraldo e Eduardo Magrone, que
nota foram a participação ativa de discorreram sobre a Universida-
pró-reitores, como na Universida- de Federal de Juiz de Fora (UFJF),
de Estadual do Mato Grosso do Sul mostram a indignação e o receio
(UEMS) e na Universidade Fede- dos alunos frente à possibilidade de
ral de São Paulo (UNIFESP); e o existência de cotas nas universida-
envolvimento direto de reitores, a des nas quais pretendiam entrar ou
exemplo da Universidade Federal nas quais já estavam matriculados.
da Bahia (UFBA) e da Universidade De outro lado, os relatos presentes
da Estadual de Londrina (UEL). no capítulo sobre o processo de de-
Por fim, registre-se a presença cisão na UFBA, escrito por Jocélio
e a participação institucional dos T. dos Santos e Delcele M. Queiroz,
núcleos de estudos afro-brasileiros revelam os argumentos e as alterna-
(NEABs), que promoveram debates tivas encontradas por professores
e ofereceram dados e estudos sobre para expressar sua revolta frente à
desigualdades de acesso ao Ensino possibilidade de adoção de cotas na-
Superior; dos intelectuais e das au- quela universidade.
toridades convidados para palestras; No que se refere ao conteúdo
dos políticos (vereadores, deputados, das reações, os argumentos listados
secretários); das associações de clas- ao longo do livro Cotas nas Univer-
se e estudantis; além dos órgãos es- sidades: análises dos processos de
tatais relacionados com a igualdade decisão não diferem daqueles que
racial. A presença desses apoiadores já tinham sido elaborados e analisa-
não foi uma regra geral nos casos dos desde a década de 1990, quando
analisados, entretanto, pelo menos o tema das ações afirmativas eram
um deles esteve presente no processo quase um delírio nos debates públi-
político de adoção das cotas. cos do Brasil. A oposição às cotas foi
No que toca às reações, em ge- mais intensa ao se discutir a reserva
ral, os autores afirmam que, embora de vagas para negros, do que para
houvesse grande resistência à reser- estudantes de escolas públicas. Não
va de vagas nas universidades, essa sendo exagero supor que isso talvez
oposição, na maioria das vezes, se explique o modelo de ingresso dife-
mostrou camuflada, ou seja, não se renciado que combinou “classe” e
apresentou de forma direta e pública “raça”, ou seja, beneficiou estudan-
nos fóruns criados para discutir esse tes negros originários de escolas pú-
tema. Ao que parece, as resistências blicas ou simplesmente egressos do
discente e docente revelaram-se de sistema púbico de ensino.
forma enviesada e indireta. Dois Vale a pena relembrar os tópicos
artigos são felizes em registrar a do discurso de objeção às cotas: 1) o

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modelo de miscigenação do país im- são as semelhanças nos sistemas de
pediria a identificação de quem é ne- inclusão adotados pelas instituições
gro; 2) as cotas sacrificariam o mé- analisadas. A começar pelo fato de
rito; 3) a má formação de egressos que todas decidiram por limitar um
de escolas públicas poderia compro- número de vagas que combinassem
meter a qualidade da universidade; critérios étnico-raciais com socioe-
4) com o tempo, as cotas azedariam conômicos, ou seja, as cotas destina-
as relações raciais, criando ou au- ram-se a estudantes, negros ou não,
mentando o racismo; 5) o sistema oriundos de escolas públicas (as
de cotas seria inconstitucional. Ao duas únicas instituições analisadas
ler os capítulos do livro, é notável a que apresentaram reservas de vagas
recorrência e persistência desses te- para negros, independentemente da
mas ao longo do tempo, bem como origem escolar, foram a UFSC e a
sua difusão em diferentes partes do UFSM). Somaram-se a esse perfil
país. Nesse sentido, os argumentos geral os indígenas, que foram gru-
de oposição não apresentaram par- pos preferenciais em universidades
ticularidades relevantes, compondo, como a UEMS, UFS (Universidade
assim, uma retórica modelar. Salien- Federal de Sergipe), UFSC, Unifesp
te-se o caráter defensivo e de reação e a UFRGS (Universidade Federal
daqueles que se opuseram às cotas, do Rio Grande do Sul), dentre ou-
em contraste com o discurso refor- tras.
mista e propositivo daqueles que lu- Do ponto de vista dos resulta-
tavam para introduzi-las no sistema dos, expostos no livro O impacto
universitário brasileiro. das cotas nas universidades brasi-
Com processos políticos reple- leiras (2004-2012), os autores são
tos de impasses, idas e vindas, al- unânimes em afirmar que as cotas
tos e baixos, aprovaram-se pouco foram eficientes para aumentar a
a pouco, nos conselhos universitá- proporção de estudantes de escolas
rios, todas as ações voltadas para públicas nas universidades, espe-
a inclusão de segmentos sociais cialmente nos cursos mais tradi-
negativamente privilegiados na so- cionais, de maior prestígio ou de
ciedade. Os programas são, de fato, elevada concorrência. O que parece
particulares, e refletem os debates, a óbvio, dada a forma de seleção. Mas
correlação de forças dos atores polí- a maior presença de negros não este-
ticos envolvidos e as características ve garantida, posto que, em boa par-
das suas respectivas universidades. te das universidades, as vagas desti-
Mas, embora haja essa diversidade nadas aos pretos e pardos não eram
de formas (critérios e estratégias de completamente preenchidas, por
seleção, perfil de beneficiários, per- diversas razões, dentre elas, a bai-
centual de vagas), se o leitor estiver xa demanda, deficiências e viés no
atento poderá perceber que muitas sistema de seleção, retenção no pro-

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cesso seletivo por não atingir nota cotistas e não cotistas têm grande
de corte, ou mesmo a opção pessoal probabilidade de tirar notas baixas
dos concorrentes negros pelo sis- ou até serem reprovados. Isso é par-
tema universal. Do mesmo modo, ticularmente notável em cursos da
alguns autores apresentam sérias área de Ciências Exatas, ou em dis-
preocupações com os estudantes in- ciplinas como as de Cálculo.
dígenas, especialmente no que toca Por sua vez, os analistas flagra-
a sua inserção nos cursos, apontan- ram a perseverança no comporta-
do que o sistema precisaria se aper- mento institucional dos estudantes
feiçoar para atender ao perfil desse cotistas negros. Maria Nilza da Sil-
grupo peculiar. Como os analistas va e Jairo Q. Pacheco mostram, ao
salientam, a língua oficial do Brasil analisar o caso da Universidade Es-
não é exatamente a língua materna tadual de Londrina, onde estudantes
dos descendentes dos povos nativos negros apresentaram baixo índice
de nosso país. Uma reflexão atenta de evasão, mesmo tendo maiores
para as particularidades da inserção dificuldades de aproveitamento em
indígena no sistema universitário é certos cursos. Além do mais, os
encontrada, por exemplo, no texto especialistas na análise das cotas
de Marcelo H. R. Tragtenberg, Ale- sugerem que o acompanhamento
xandra C. Boing, Antonio F. Boing e acadêmico e os auxílios financeiros,
Antonella M. I. Tassinari, que anali- bem como a assistência estudantil
sam a experiência da Universidade são medidas eficazes para reduzir
Federal de Santa Catarina. as possíveis desigualdades educa-
No caso dos estudantes negros, cionais dos estudantes oriundos de
o grau de eficiência do programa escolas públicas, como sublinham
de cotas também é ponto nevrálgi- Karl Monsma, João V. S. Souza e
co na discussão. Um dos problemas Fernanda O. da Silva ao interpreta-
principais refere-se ao volume de rem dados qualitativos referentes às
inserção desses estudantes, que, de experiências de estudantes negros
modo geral, não chega a atingir as da Universidade Federal do Rio
expectativas do programa. Dito de Grande do Sul.
outra maneira: a demanda é menor Como o leitor pode inferir, a lei-
do que as vagas ofertadas. Além dis- tura dessas duas coletâneas é obri-
so, dados de algumas universidades gatória para os jovens pesquisadores
indicam que o desempenho escolar que se interessam pelo tema das de-
(medido na maioria das vezes por sigualdades e políticas de inclusão
médias ponderadas) é menor para no ensino superior, e não apenas
negros, especialmente quando os para os historiadores. Embora fa-
cursos ou disciplinas apresentam lando do passado, nas citadas cole-
grau elevado de dificuldades para o tâneas podem ser encontradas tanto
conjunto da turma, ou seja, quando informações e análises qualificadas

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sobre processos que ainda estão a versificado de experiências. Carece-
transcorrer, como indicam novos mos, agora, de interpretações mais
problemas de investigação a exigir abrangentes que consigam oferecer
investidas mais densas. Como as um quadro analítico mais amplo,
pesquisas brasileiras sobre as ações seja em termos comparativos, ou
afirmativas têm sido geralmente fei- mesmo para explicar o significado
tas por estudos de caso, cuja genera- dessas políticas no plano nacional,
lização de resultados sempre produz levando em consideração tanto as
algum viés, a leitura dos dois livros políticas de cotas, como as demais
oferece a rica oportunidade de visua- modalidades de ações afirmativas
lizar, de uma só vez, um quadro di- adotadas no país até 2012.
Antonio Sérgio A. Guimarães
asguima@usp.br
Universidade de São Paulo
Flavia M. Rios
flaviamrios@yahoo.com.br
Universidade de São Paulo

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