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Odontologia

pré-clínica em
oclusão e
dentística
Odontologia pré-clínica
em oclusão e dentística

Andréa Anido de Carvalho


Vani Teixeira Moura
© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo
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Editorial
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Lidiane Cristina Vivaldini Olo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Carvalho, Andréa Anido de


C331o Odontologia pré-clínica em oclusão e dentística / Andréa
Anido de Carvalho, Vani Teixeira Moura. – Londrina : Editora
e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
320 p.

ISBN 978-85-5220-246-2

1. Oclusão (Odontologia). 2. Restauração (Odontologia).


3. Odontologia – Aspectos estéticos. I. Moura, Vani Teixeira.
II. Título.
CDD 617. 643

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 1 | Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 7

Seção 1.1 - Nomenclatura e classificação das cavidades dentárias.


Instrumentos operatórios manuais e rotatórios em dentística 9
Seção 1.2 - Princípios gerais e biológicos dos preparos cavitários 26
Seção 1.3 - Preparos cavitários para amálgama de prata 42
Seção 1.4 - Preparos cavitários em dentística: classe II 56

Unidade 2 | Conceitos básicos da oclusão e dentística 71

Seção 2.1 - Princípios básicos de oclusão e sua aplicabilidade na


dentística restauradora 74
Seção 2.2 -Enceramento diagnóstico em oclusão e dentística 90
Seção 2.3 - Procedimentos para restauração de cavidades para
amálgama em manequim 101
Seção 2.4 - Restauração provisória: conceituação, finalidade
restauradora, materiais e indicações 115

Unidade 3 | Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e


restaurações em amálgama de Prata 135

Seção 3.1 - Proteção do complexo dentino-pulpar: biomateriais, técnica


de manipulação e indicações. Isolamento do campo operatório 137
Seção 3.2 - Ligas de amálgama de prata para uso odontológico 155
Seção 3.3 - Restaurações em amálgama de prata 174
Seção 3.4 - Protocolos de proteção pulpar e restaurações de amálgama
de prata 191

Unidade 4 | Análise oclusal 215

Seção 4.1 - Métodos clínicos para registro em relação cêntrica e


regulagem em articulador semiajustável 217
Seção 4.2 - Montagem em ASA dos modelos superior e inferior e
regulagem do articulador 239
Seção 4.3 - Análise oclusal: dentística restauradora x oclusão funcional 263
Seção 4.4 - Protocolo de confecção de preparos cavitários em dentística:
Classe II, Classe II “tipo slot”, de proteção do complexo dentino-pulpar e
restaurações em amálgama de prata 289
Palavras do autor
Caro aluno, vamos iniciar o estudo deste conteúdo tão importante
para nossa vida profissional. Antes, porém, gostaria de tecer algumas
considerações acerca deste livro didático.
A busca pela excelência profissional se reflete na tentativa de
encontrarmos soluções clínicas com qualidade técnica, otimização
estética e longevidade para os tratamentos realizados. Antes de escrever
este livro, foi necessário refletir sobre o quanto o ensino da Odontologia
havia mudado e de que forma poderíamos contribuir para a construção
do conhecimento, integrando os conteúdos e provocando você para que
busque o saber e as soluções para os problemas. Abordar os conteúdos da
Oclusão e da Dentística exige do mediador do ensino aliar conhecimento
e objetividade, coerência e espírito inovador!
Estávamos acostumados a um ensino disciplinar e é fato que as
disciplinas de toda ordem ajudaram o avanço do conhecimento, mas se
faz necessário agora enxergar as conexões entre as disciplinas, ter uma
visão que possa situar o conjunto e mediar o saber do aluno, preparando-o
para o exercício profissional de uma forma prática e eficaz.
Procuramos focar os aspectos mais importantes e apresentar
de maneira clara os princípios básicos dos preparos cavitários para
reconstrução de um dente acometido pela cárie e para um tratamento
restaurador multidisciplinar, vinculado ao respeito relacionado aos
princípios oclusais.
Na primeira unidade estudaremos sobre nomenclatura e classificação
das cavidades e preparos cavitários para restaurações de amálgama de
prata. Na Unidade 2 iremos aprender a respeito dos princípios básicos de
oclusão e sua aplicabilidade na dentística, bem como sobre moldagens
e montagem em articulador. Na Unidade 3 abordaremos o conteúdo
relacionado aos biomateriais para proteção do complexo dentino pulpar.
E, por fim, na Unidade 4 falaremos sobre regulagem do articulador e análise
oclusal para diagnóstico de possíveis desordens temporomandibulares.
Ao final dessa diversidade de informações, você será capaz de tomar
decisões e ter atitudes corretas, desenvolver competências e atingir seus
objetivos para restaurar os dentes, identificar alguma interferência oclusal
que possa gerar alterações no sistema mastigatório, e será capaz de ajustá-
la, comprometido com a promoção à saúde do paciente.
Vamos lá?
Unidade 1

Preparos cavitários para


restaurações de amálgama de
prata
Convite ao estudo
Bem-vindo!

A configuração cavitária e a sequência de procedimentos para a


realização de um preparo cavitário foram idealizadas pela primeira
vez por Greene Vardiman Black, em 1908, considerado o pai da
dentística, pois seus ensinamentos são aplicados até hoje, com as
adaptações decorrentes da evolução da ciência e da tecnologia dos
materiais e dos instrumentos aplicados à odontologia.

É importante ressaltar que naquela época o único material


restaurador disponível para as restaurações diretas em dentes
posteriores era o amálgama e que esses mais de cem anos de
evolução dos preparos cavitários para amálgama atestam sua
eficiência para restaurações. Tal é o sucesso de sua aplicação clínica
que encontramos restaurações com amálgama de prata com 10,
20, 30 anos ou mais, funcionando adequadamente em muitos
pacientes.

Competência geral

Conhecer as técnicas de confecção de preparos cavitários para


amálgama de prata, instrumentais, técnicas de aplicação de cimentos
odontológicos para proteção do complexo dentino-pulpar; os
princípios básicos da oclusão, das relações maxilomandibulares
e o uso dos articuladores semiajustáveis (ASA) no diagnóstico das
disfunções temporomandibulares, análise oclusal funcional.

Competência técnica

Conhecer e identificar a nomenclatura e a classificação das


cavidades operatórias de acordo com a forma, extensão e faces
envolvidas, a realização de preparos cavitários e os instrumentos
operatórios manuais e rotatórios utilizados nos procedimentos da
dentística restauradora, aplicando-os em atividade pré-clínica.

Objetivos

O estudante de Odontologia será capacitado para avaliar um


paciente através dos itens: classificação das cavidades dentárias,
identificação dos instrumentos operatórios manuais e rotatórios e sua
aplicabilidade para a realização de preparos cavitários em dentística.

Na Seção 1.1 teremos enfoque na nomenclatura e classificação


das cavidades dentárias e instrumentos operatórios manuais e
rotatórios em dentística. Na Seção 1.2 vamos aprender os princípios
gerais e biológicos dos preparos cavitários, na Seção 1.3 seguimos
com preparos cavitários para amálgama de prata e na Seção 1.4
aplicaremos os preparos cavitários em dentística: classe II.

Para auxiliar nesse processo de conhecimento, será apresentada


uma situação de realidade profissional que visa aproximar os
conteúdos teóricos da prática. Leia com atenção!

A Clínica Odontológica da Universidade, assim como as clínicas


particulares ou consultórios odontológicos, recebe inúmeros
pacientes com diferentes necessidades, com relatos de dor ou não,
que devem ser examinados e direcionados para diferentes tipos de
tratamentos. Nos dentes posteriores, dependendo da extensão da
lesão de cárie, da sua localização e de outros fatores relacionados
ao paciente, será adotado um protocolo de preparo cavitário, de
proteção do remanescente dentário e, finalmente, de restauração,
tendo o amálgama de prata como uma alternativa de tratamento
restaurador. Os estudantes do terceiro semestre de Odontologia
acompanharão a rotina clínica de exame clínico, identificando as
necessidades de tratamento dos pacientes durante a triagem e
encaminhando os pacientes para as diferentes especialidades.

Agora que já identificamos nosso desafio, que tal estudarmos


para conseguirmos auxiliar no direcionamento dos pacientes
recebidos na Clínica Odontológica?

Vamos às atividades!

8 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Seção 1.1
Nomenclatura e classificação das cavidades
dentárias. Instrumentos operatórios manuais e
rotatórios em dentística

Diálogo aberto
Caro aluno, vamos estudar a partir de agora a nomenclatura e a
classificação das cavidades dentárias e dos instrumentos operatórios
manuais e rotatórios em dentística. Assim, vamos relembrar a situação
baseada na realidade, destacada no Convite ao estudo, sobre a Clínica
Odontológica da Universidade que, assim como as clínicas particulares
ou consultórios odontológicos, recebe inúmeros pacientes com
diferentes necessidades, com relatos de dor ou não, que devem ser
examinados e direcionados para diferentes tipos de tratamentos. Nos
dentes posteriores, dependendo da extensão da lesão de cárie, da sua
localização e de outros fatores relacionados ao paciente, será adotado
um protocolo de preparo cavitário, de proteção do remanescente
dentário e, finalmente, de restauração, tendo o amálgama de prata
como uma alternativa de tratamento restaurador. Os estudantes do
terceiro semestre de Odontologia acompanharão a rotina clínica
de exame clínico, identificando as necessidades de tratamento dos
pacientes durante a triagem e encaminhando os pacientes para as
diferentes especialidades.
O acadêmico Claudio, durante a avaliação inicial, verificou que o
paciente J.C.S. apresenta uma lesão de cárie que acomete o sulco
central e se estende para o sulco ocluso-vestibular do segundo molar
inferior do lado direito. Assim, necessita relatar essa informação, de
modo claro, objetivo, e que seja de fácil identificação, ao especialista
em dentística, permitindo o reconhecimento do elemento dental,
o correto diagnóstico da cárie, a remoção da dentina infectada e o
preparo do dente para receber uma restauração. Como ele pode
descrever o elemento dental de forma gráfica? Como se classifica
essa lesão de cárie? De quais instrumentos manuais e rotatórios o
especialista deverá dispor para realizar o atendimento?

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 9


Para facilitar a comunicação entre profissionais da mesma área de
atuação e de especialidades afins, é necessário utilizar um conjunto de
termos específicos de uma ciência pelos quais seus profissionais sejam
capazes de entender-se mutuamente, denominado nomenclatura. Da
mesma forma, é necessário utilizar uma classificação das cavidades,
quer sejam elas decorrentes da lesão de cárie, de fraturas, de preparos
cavitários ou de preparos com finalidade protética. Para a execução
dos preparos cavitários para restaurações de amálgama é importante
que o estudante conheça os instrumentos disponíveis.

Não pode faltar


Para auxiliar o acadêmico Claudio, é importante ressaltar que
existem diferentes formas de determinar os elementos dentais:

No Sistema universal, a dentição decídua nas crianças recebe seu


nome por meio das letras de A a T. Já à dentição permanente, dos
jovens, adultos e idosos, atribui-se a numeração de 1 a 32. Iniciando
na arcada superior, lado direito do paciente, com o número 1 até o
terceiro molar do lado esquerdo – 16; seguindo do número 17 no
terceiro molar inferior, lado esquerdo do paciente, até o número 32,
correspondendo ao terceiro molar inferior direito do paciente.

No Sistema Zsigmondy/Palmer também são utilizados números e


letras, mas de uma forma diferente:
Quadro 1.1 | Sistema Zsigmondy/Palmer

Dentição permanente Dentição decídua

Fonte: elaborado pelo autor.

No Sistema de dois dígitos recomendado pela Federação Dentária


Internacional (FDI), o mais utilizado atualmente, a maxila e a mandíbula
são divididas em quadrantes e o primeiro número diz respeito ao
quadrante (Quadrante 1 = dentes da maxila, lado direito do paciente;
Quadrante 2 = maxila, lado esquerdo; Quadrante 3 = mandíbula,
lado esquerdo; e Quadrante 4 = mandíbula, lado direito) e o segundo

10 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


número, ao dente. Para a dentição permanente utilizam-se os números
de 1 a 4 para identificar os quadrantes e para a dentição decídua os
números de 5 a 8. Para identificar os dentes, equivalentes ao segundo
número, utilizam-se os números de 1 a 8 na dentição permanente, que
apresenta 32 dentes no total; na dentição decídua, os números que
indicam os dentes são os de 1 a 5.
Quadro 1.2 | Sistema de dois dígitos

Dentição permanente Dentição decídua


Maxila Maxila
D 18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28 E D 55 54 53 52 51 61 62 63 64 65 E
48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38 85 84 83 82 81 71 72 73 74 75
Mandíbula Mandíbula

Fonte: elaborado pelo autor.

Nomenclatura das cavidades

Quando precisamos reconhecer as cavidades, a nomenclatura


varia de acordo com:

1. Número de faces envolvidas:

• Simples: envolve uma face (Fig. 1.1 – A).

• Composta: envolve duas faces (Fig. 1.1 – B).

• Complexa: atinge três ou mais faces (Fig. 1.1 – C).


Figura 1.1 | Classificação das cavidades de acordo com o número de faces envolvidas

Figura A Figura B Figura C


Fonte: elaborada pelo autor.

2. De acordo com as faces envolvidas:

• Cavidade oclusal (O).

• Cavidade mesial (M).

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 11


• Cavidade distal (D).

• Cavidade mésio-oclusal (M.O.): cavidade que se estende da face


oclusal à face distal.

• Cavidade ocluso-distal (O.D.).

• Cavidade mésio-ocluso-distal (M.O.D.): cavidade que se estende


às faces mesial, oclusal e distal.

3. De acordo com a forma e extensão:

• Intracoronárias (Inlay).

• Extracoronárias (Onlay).

• Extracoronárias totais (Overlay).

Vocabulário
Inlay: Cavidade confinada no interior da estrutura dentária, sem proteção
de cúspide.

Onlay: Cavidade que apresenta cobertura de cúspide e/ou outras faces


do dente.

Overlay: Todas as faces axiais e oclusais ou incisais do dente são recobertas


pelo material restaurador.

Componentes das cavidades

1. Paredes

• Circundantes: limites internos da cavidade que recebem o nome da


face mais próxima. Exemplos: mesial, distal, vestibular, lingual ou palatina.

• De fundo: correspondem ao assoalho da cavidade que recebem o


nome: axial, pulpar.

2. Ângulos diedros

Formados pela união de duas paredes, são denominados pela


combinação de seus respectivos nomes.

• Primeiro grupo: formados pela junção de paredes circundantes.

12 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


• Segundo grupo: formados pela união de uma parede circundante
com a parede de fundo.

• Terceiro grupo: formados pela união das paredes de fundo da


cavidade.
Figura 1.2 | Ângulos Figura 1.3 | Paredes

Fonte: elaborada pelo autor.

3. Ângulos triedros

Formados pelo encontro de três paredes, recebendo o nome de


acordo com os nomes das respectivas paredes que o formam.

Figura 1.4 | Ângulos diedros

Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 13


Classificação das cavidades

• Terapêuticas: cavidades decorrentes de preparos cavitários ou


de adequações cavitárias para a remoção de lesões de cárie, fraturas,
abrasão, erosão e abfração.

• Protéticas: cavidades resultantes de preparos protéticos.

Reflita
É muito importante rever o conteúdo de Ciências Morfofuncionais,
principalmente as características anatômicas dos dentes.

Classificação de Black

1. Baseada nas áreas susceptíveis à cárie:

• Cavidades de cicatrículas e fissuras.

• Cavidades de superfícies lisas.

2. Classificação de acordo com a técnica de instrumentação e


restauração:

Classe I

Cavidades preparadas em regiões de má coalescência de esmalte


– cicatrículas e fissuras, nas faces oclusal de pré-molares e molares,
cíngulos dos dentes anteriores, no tubérculo de Carabelli e nos 2/3
oclusais das faces vestibulares ou linguais de todos os dentes.

Figura 1.5 | Esquemas de áreas dos dentes com cáries de Classe I (A) e cavidade
preparada na oclusal de um molar (B)

Fonte: elaborada pelo autor.

14 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Classe II

Cavidades preparadas nas superfícies lisas que se iniciam nas faces


proximais de molares e pré-molares.

Figura 1.6 | Esquemas de áreas dos dentes com cáries e preparos cavitários de Classe II

Fonte: elaborada pelo autor.

Classe III

Cavidades preparadas nas faces proximais dos incisivos e caninos,


sem remoção do ângulo incisal.

Figura 1.7 | Esquemas de áreas dos dentes com cáries e preparos cavitários de Classe III

Fonte: elaborada pelo autor.

Classe IV

Cavidades preparadas nas faces proximais dos incisivos e caninos,


com remoção e restauração do ângulo incisal.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 15


Figura 1.8 | Esquemas de áreas dos dentes com cáries e preparos cavitários de Classe IV

Fonte: elaborada pelo autor.

Classe V

Cavidades preparadas no terço gengival, não de cicatrículas, que


envolvem as faces vestibular e lingual de todos os dentes.

Figura 1.9 | Esquemas de áreas dos dentes com cáries e preparos cavitários de
Classe V

Fonte: elaborada pelo autor.

Pesquise mais
Assista a este vídeo e procure mais conhecimentos sobre a nomenclatura
e classificação das cavidades. Disponível em: <https://youtu.be/
JQTSWRAiiLM>. Acesso em: 6 jun. 2016.

Na década de 1970 surgiram outras propostas de cavidades


incluindo áreas que não foram descritas por Black:

Classe VI

Classificação feita por Howard e Simon: cavidades preparadas nas


bordas incisais e nas pontas de cúspides.

16 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Figura 1.10 | Esquemas de áreas dos dentes com cáries de Classe VI de Howard e Simon

Fonte: elaborada pelo autor.

Classe I em ponto de Sockwell

Classificação feita por Sockwell para cavidades preparadas em


lesões incipientes em cicatrículas e fissuras com característica “de
ponto” na face vestibular dos dentes anteriores.

Figura 1.11 | Esquemas de áreas dos dentes com cáries de Classe I de Sockwell

Fonte: elaborada pelo autor.

Exemplificando
Como podemos nomear esta cavidade?

a) Levando em consideração o número de faces envolvidas?

R: Cavidade simples.

b) Levando em consideração as faces envolvidas?

R: Cavidade oclusal.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 17


c) Levando em consideração a Classificação de Black?

R: Classe I.

Figura 1.12 | Cavidade terapêutica

Fonte: <http://143.107.206.201/restauradora/dentistica/temas/amalgama/amalgama_03/amalgama_03_
arquivos/image004.jpg>. Acesso em: 6 jun. 2016.

Instrumentos operatórios

Após o reconhecimento das cavidades dentárias, é de suma


importância conhecer detalhadamente os instrumentos que o
cirurgião-dentista utiliza para realizar os procedimentos terapêuticos,
a fim de reduzir os esforços e o tempo de trabalho, devido à infinidade
de instrumentos que estão à disposição dos profissionais.

Assimile
Cavidades terapêuticas são decorrentes de preparos cavitários ou de
adequações cavitárias, para a remoção de lesões de cárie, fraturas,
abrasão, erosão e abfração.

Os instrumentos operatórios para o preparo cavitário podem ser


agrupados nas seguintes categorias:

• Instrumentos cortantes manuais.

• Instrumentos rotatórios.

• Laser.

18 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


• Sistemas sônicos e ultrassônicos.

• Abrasão a ar.

As três últimas categorias são instrumentos alternativos aos


rotatórios, com grande enfoque para abordagens de lesões cariosas
e não cariosas, permitindo uma configuração cavitária especialmente
adequada aos sistemas restauradores adesivos. Como esses materiais
restauradores adesivos não são nosso objeto de estudo, vamos nos
deter aos instrumentos utilizados para os preparos e para as restaurações
em amálgama, ou seja, os instrumentos cortantes manuais e rotatórios.

Instrumentos operatórios cortantes

Podem ser divididos em: manuais e rotatórios.

Instrumentos cortantes manuais


Figura 1.13 | Partes do instrumento cortante manual

Fonte: adaptada de <http://www.sswhite.com.br/site_sswhite/>. Acesso em: 14 set. 2016.

Os instrumentos são compostos de três partes: lâmina ou ponta ativa


(A), intermediário (B) e cabo (C). A parte principal é a ponta ativa, que tem
extremidade brilhante, sua extremidade cortante é bissetada e o seu formato
determina a função e o nome que irá receber. A parte intermediária faz a
união do cabo com a ponta ativa e pode possuir uma ou mais angulações
que facilitam o uso do instrumento. O cabo normalmente possui algumas
estrias ou texturização para melhorar a empunhadura, deixando liso
apenas o centro para identificação do fabricante e do instrumento, que
normalmente se caracteriza por números (Figura 1.13). O cabo pode
apresentar uma ou duas extremidades ativas, sendo denominado de
simples ou duplo. Os cortantes manuais são utilizados durante o preparo

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 19


cavitário no acabamento da cavidade, cortando em fatias e planificando as
paredes ou complementando a ação dos instrumentos rotatórios.

Instrumentos cortantes manuais

Utilizados para planificar as paredes da cavidade, cortar a dentina e


clivar o esmalte, complementando a ação dos instrumentos rotatórios.
Segundo Mondelli (1972), quando se utilizam esses instrumentos para o
acabamento do preparo cavitário, observa-se a diminuição da infiltração
marginal e a instalação de cárie secundária.

1. Cinzéis: têm intermediário e lâmina retos, com um ou dois ângulos


no intermediário. São usados para clivar e planificar o esmalte. Podem ser
retos, monoangulados e biangulados. Nesse grupo também temos o cinzel
de Wedelstaedt, que tem o intermediário e a lâmina ligeiramente curvos e
é muito versátil, pois pode ser utilizado para diversos tipos de acabamento.

2. Enxadas: semelhante aos cinzéis, com um ângulo de até 20° na


lâmina. São usadas para alisar e planificar as paredes da cavidade.

3. Machados: lâmina paralela ao eixo longitudinal; machados para


esmalte: para clivar e aplainar esmalte e planificar as paredes do preparo;
machados para dentina: para fazer retenções.

4. Recortadores de margem gengival: possuem lâminas curvas e


anguladas para utilização do lado direito e esquerdo. São usados para
planificar o ângulo cavo-superficial e arredondar o ângulo áxio-pulpar.

5. Formadores de ângulo: a extremidade da lâmina forma ângulo


agudo com seu eixo longitudinal. Usados para acentuar ângulos diedros e
triedros e determinar retenção ao preparo cavitário.

6. Colher, cureta ou escavador de dentina: possui lâmina ligeiramente


curva e com extremidade arredondada, por isso o nome de colher de
dentina, ou com extremidade em forma de disco. É utilizado para a
remoção do tecido cariado.

Instrumentos rotatórios

Os instrumentos rotatórios são utilizados para remover tecidos como


osso, esmalte, dentina e cemento ou para realizar preparos cavitários ou
o desgaste de materiais restauradores. São acoplados aos equipamentos
odontológicos de baixa e alta velocidade.

20 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Os instrumentos rotatórios podem ser classificados segundo seu
modo de ação: por corte (brocas) ou por desgaste (pontas diamantadas,
pedras ou pontas montadas de material abrasivo). As partes constituintes
dos instrumentos rotatórios são: a haste, parte que se adapta no interior da
peça de mão, ao contra-ângulo ou à alta rotação; intermediário, que une a
haste à ponta ativa que realiza o corte ou o desgaste. Tanto a haste quanto
o intermediário podem possuir diferentes comprimentos.
Figura 1.14 | I – Broca carbide (A – ponta ativa; B – intermediário; C – haste) II –
Pontas diamantadas (esférica; cilíndrica; forma de roda; forma de chama)

Fonte: <https://d1fzrfeqgmqjkr.cloudfront.net/assets/39158/produtos/3150/microdont-15636.jpg> e <https://tse3.mm.bing.


net/th?id=OIP.M4dbd4b172d88735b1b2438d0b1f53b40o0&pid=15.1&P=0&w=210&h=167>. Acesso em: 13 set. 2016.

Estes instrumentos possuem como partes constituintes: haste,


intermediário e ponta ativa. (Figura 1.14-I). A haste é a porção que
conecta o instrumento equipamentos como a turbina de alta-rotação,
o contra-ângulo ou como a peça de mão da baixa rotação (Figura
1.15). O intermediário une a ponta ativa à haste. A haste determina
para qual tipo de equipamento o instrumento é indicado. Hastes de
extremidades lisas e arredondadas são indicadas para as canetas de
alta rotação (Figura 1.14-II). As que possuem um encaixe semilunar na
extremidade são indicadas para as canetas de baixa rotação (Figura
1.14-I). A ponta ativa é a parte de trabalho do instrumento. A forma e o
material utilizado para sua confecção determinam sua ação.
Figura 1.15 | Conjunto de equipamentos: A – peça de mão; B – caneta de alta-
rotação; C – Contra-ângulo; D – Micromotor de baixa-rotação.

Fonte: <https://wwws.kavo.com.br/mesdodentista/files/produtos/max/max_1_kitacademico3nsturbinas.jpg>. Acesso


em: 14 set. 2016.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 21


• Instrumentos rotatórios de corte – brocas

Fabricadas em aço, em carboneto de tungstênio (“carbide”).

• Instrumentos rotatórios de desgaste

Instrumentos abrasivos aglutinados: confeccionados de


pequenas partículas abrasivas fixadas por uma substância aglutinante
à haste. Representados pelas pontas diamantadas, pedras e pontas
de carborundum, de óxido de alumínio, de carboneto de silício ou de
abrasivo impregnado em borracha.

Instrumentos abrasivos de revestimento: fina camada de abrasivo


cimentada em base flexível. Representados pelos discos.

As formas básicas das pontas ativas são:

• Esféricas: em aço, utilizadas principalmente para a remoção de


tecido cariado.

• Cilíndricas: usadas para confeccionar paredes circundantes.

• Tronco-cônicas: utilizadas para dar forma e contorno às cavidades.

• Cone invertido: utilizadas especialmente para fazer retenções


adicionais, planificar as paredes pulpares e avivar ângulos.

• Roda: para realizar retenções.

Atenção
Para diferenciar as brocas das pontas, basta analisar a ponta ativa do
instrumento: se ela possuir lâminas dispostas em diagonal, trata-se de
uma broca; caso ela possua grânulos de abrasivos depositados, trata-se
de uma ponta.

Sem medo de errar


O acadêmico Claudio, durante a avaliação inicial, verifica que o
paciente J.C.S. apresenta uma lesão de cárie que acomete o sulco
central e se estende para o sulco ocluso-vestibular do segundo molar
inferior do lado direito. Assim, necessita relatar essa informação, de
modo claro, objetivo e que seja de fácil identificação, ao especialista

22 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


em dentística, permitindo o reconhecimento do elemento dental,
o correto diagnóstico da cárie, a remoção da dentina infectada e o
preparo do dente para receber a restauração.

Pesquise mais
Acesse o artigo indicado a seguir e procure mais conhecimentos sobre a
importância da nomenclatura e sobre a classificação das cavidades.

Disponível em: <http://143.107.206.201/restauradora/dentistica/temas/


amalgama/amalgama_01/amalgama_01.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2016.

Existem diferentes formas gráficas de descrever o elemento dental


apresentado nessa situação clínica. Podemos usar o sistema de dois
dígitos, recomendado pela FDI, em que este elemento é o 47. Já no
Zsigmondy/Palmer, este dente é o 7 . Essa lesão de cárie, segundo
a classificação de Black, resultará em cavidade classe I composta por
ocluso-lingual (OV), podendo ser caracterizada como uma cavidade
composta, pois envolve duas faces do dente. Os instrumentos
necessários para a realização do preparo cavitário serão as canetas de
alta e baixa rotação, as brocas de diferentes tamanhos e formatos da
parte ativa, os recortadores de margem gengival, a enxada, os cinzéis e
as curetas, ou escavadores de dentina.

Assim, após a compreensão do conteúdo, é possível fazer o


encaminhamento do paciente da seguinte forma:

Ao especialista em dentística

Encaminho o paciente J. C. S. para a realização de uma restauração de


Classe I (OV) do elemento 47.

Grato,

Acd. Claudio Santos

Atenção
Como você pôde observar, existem diferentes formas de nomear os
elementos dentais e também as cavidades. Revise o conteúdo e procure
assimilar as formas comumente mais utilizadas pelos cirurgiões-dentistas.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 23


Avançando na prática
Acidente ciclístico

Descrição da situação-problema

A recepcionista da Clínica Odontológica da Universidade recebeu


uma ligação da equipe do SAMU que está socorrendo a paciente A.L.C.,
16 anos, vítima de um acidente ciclístico, com fratura dos seguintes
elementos dentais: 11, 21 e 22, com comprometimento das faces
proximais e do ângulo incisal, presença dos fragmentos dos dentes 11
e 21. Para o atendimento da paciente, o cirurgião-dentista deve realizar
a restauração da morfologia, função e estética dos dentes. Qual
especialidade da odontologia melhor poderá prestar o atendimento
nesse caso? Quais dentes foram acometidos no acidente? Quais
cavidades serão encontradas pelo cirurgião-dentista?

Lembre-se
Nomenclatura dos dois dígitos (FDI).

Classificação de cavidades de Black.

Resolução da situação-problema

A recepcionista deve procurar um especialista em dentística para o


atendimento da paciente. Os dentes envolvidos no acidente foram o
incisivo central superior direito, o incisivo central superior esquerdo e
o incisivo lateral superior esquerdo. As cavidades encontradas são de
classe IV.

Faça você mesmo


Você precisa organizar a sua bancada de acordo com o procedimento a
ser realizado e sua sequência de atendimento. Aproveite esse momento
e tente reconhecer os seus instrumentos, separando-os em cortantes
manuais, cortantes rotatórios e classificando-os de acordo com as suas
pontas ativas, em relação ao material com o qual foi confeccionado e
também em relação à forma da sua ponta ativa.

24 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Faça valer a pena
1. No Sistema Zsigmondy/Palmer, a correta forma de nomenclatura do
incisivo central superior direito é:
a) 11.
b) 21.
c) 1|.
d) |1.
e) A.

2. No Sistema universal, a correta forma de nomenclatura do incisivo


central superior direito permanente é:
a) 11.
b) 21.
c) 1|.
d) |1.
e) A.

3. No sistema de Dois dígitos, a correta forma de nomenclatura do primeiro


pré-molar inferior. lado esquerdo permanente é:
a) 34.
b) 21.
c) 1|.
d) 74.
e) A.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 25


Seção 1.2
Princípios gerais e biológicos dos preparos cavitários
Diálogo aberto
Olá, aluno! Seja bem-vindo a mais uma seção de estudos deste livro
didático!

Nesta seção estudaremos os fatores biológicos associados à


configuração cavitária e à sequência lógica, inicialmente proposta por
Black, de procedimentos para a realização de preparos cavitários. É
importante ressaltar que o preparo da cavidade e sua forma dependem
da extensão da lesão de cárie e do material que será utilizado para a
sua restauração.

Preparo cavitário é o tratamento biomecânico da cárie e de


outras lesões dos tecidos duros do dente, a fim de que as estruturas
remanescentes possam receber restaurações que as protejam, sejam
resistentes e previnam a reincidência de cárie, devolvendo a forma,
função e estética.

Vamos relembrar nossa situação da realidade profissional: a


recepção da Clínica Odontológica da Universidade, assim como as
clínicas particulares ou consultórios odontológicos, recebe inúmeros
pacientes com diferentes necessidades, com relatos de dor ou não, que
devem ser avaliados e direcionados para diferentes tipos de tratamentos
restauradores. Nos dentes posteriores, dependendo da extensão da
lesão de cárie, da sua localização e de outros fatores relacionados ao
paciente, será adotado um protocolo de preparo cavitário, de proteção
do remanescente dentário e, finalmente, de restauração em amálgama.
Os estudantes do terceiro semestre de Odontologia acompanharão
a rotina clínica de exame clínico, identificando as necessidades de
tratamento dos pacientes, durante a triagem na clínica e encaminhando
os pacientes para as diferentes especialidades.

O estudante B.D.A., durante a avaliação inicial, verificou que o


paciente, J.C.S., de 16 anos, apresenta lesão de cárie no sulco oclusal do
dente 26. O paciente relata sensibilidade ao ingerir alimentos doces, frios
ou líquidos gelados. O acadêmico fez todos os questionamentos de

26 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


um bom exame clínico, realizou uma radiografia, verificou que as faces
proximais estavam íntegras e fez o planejamento para o preparo cavitário
para a restauração em amálgama de prata.

Como ele pode prever o pós-operatório para esse paciente? Como


se classifica essa lesão de cárie? Quais os cuidados que ele deve tomar
para não agravar o quadro de sensibilidade descrito pelo paciente?
Quais as características do preparo cavitário para receber a restauração
em amálgama?

Não pode faltar


Para responder a todos esses questionamentos, é muito importante
rever os conteúdos já estudados durante as disciplinas básicas. Dentre
eles, vamos ressaltar alguns assuntos.

Considerações biológicas

É importante ressaltar que todo procedimento de preparo do dente


para receber uma restauração, quer seja pela incidência de cárie,
presença de fratura, lesões não cariosas, tais como erosão, abrasão,
abfração, ou por necessidades protéticas, será realizado na estrutura
dentária que apresenta vitalidade, possui características relacionadas
com a idade do paciente, com os hábitos funcionais e parafuncionais.

Dente: é uma estrutura viva composta por tecidos de características


diferentes: esmalte, dentina, polpa, cemento e áreas de proteção e
suporte, além da sua interação com o sistema estomatognático. Vamos
relembrar algumas características desses tecidos que influenciarão a
conduta do cirurgião-dentista durante o preparo cavitário.
Figura 1.16 | Estrutura dental

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Dente>. Acesso em: 15 jun. 2016.


Esquema de um dente: 1. Esmalte; 2. Dentina; 3. Polpa; 4. Gengiva; 5. Cemento; 6. Osso alveolar; 7. Vaso sanguíneo; 8.
Nervo. A – Coroa; B – Raiz.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 27


Esmalte

O esmalte é um tecido de origem ameloblástica, composto de


96% de sais minerais, fosfato de cálcio, cristais de hidroxiapatita, que ao
entrar em contato com o flúor dá origem à fluorapatita, sendo que esta
apresenta maior resistência à cárie.

Assimile
A associação do flúor à hidroxiapatita, formando a fluorapatita, o seu
mecanismo de ação na prevenção da cárie dental e o entendimento
do processo DES-RE (desmineralização-remineralização) são assuntos
muito valiosos para retomarmos a fim de entender o processo de
instalação da cárie.

O esmalte se apresenta contínuo desde o limite amelodentinário


(LAD), apresenta maior espessura na face oclusal e menor espessura
na região cervical. É um tecido de alta dureza, portanto friável,
que necessita de suporte dentinário para que não frature durante
os movimentos maxilomandibulares e mastigatórios (proteção
do remanescente). Em corte histológico, o esmalte apresenta
característica prismática, pela qual podemos observar o formato
de “buraco de fechadura”, com identificação da cabeça e cauda
dos prismas de esmalte contornados pela bainha. Os prismas
apresentam distribuição radiada na coroa dental, fator importante
de ser relembrado no momento do preparo cavitário. Nas cavidades
proximais (M ou D) ou de faces lisas (V ou L), a parede cervical ou
gengival, em esmalte, será estabelecida de acordo com a orientação
dos prismas de esmalte, para que sempre seja mantido o suporte
dentinário, evitando a fratura desses prismas e, posteriormente, a
falha da restauração. Nas pontas de cúspides encontramos o esmalte
nodoso de característica aprismática, com maior dureza devido ao
enovelamento dos prismas que busca proteger o remanescente
dental contra as exigências mecânicas da região. No terço cervical
dos dentes a camada de esmalte é aprismática, com prismas de
esmalte desordenados. Dessa forma, as lesões de cárie nessa região
são mais extensas do que profundas.

28 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Figura 1.17 | Estrutura prismática do esmalte, formato de buraco de fechadura

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 1.18 | Microscopia (5.000x) do esmalte, prismas em formato de buraco de


fechadura

Cortes transversais dos prismas de esmalte humano. Note que as orientações dos cristais são diferentes nos corpos (B) do
que nas caudas (T) enquanto que a estrutura lembra o formato de buraco de fechadura.
Fonte: adaptada de Meckel; Griebstein e Neal (1965, p. 775).

Complexo dentino-pulpar

A dentina e a polpa dentária são estruturas que apresentam inter-


relação estrutural e funcional durante toda a vida do órgão dental. As
células da polpa, denominadas odontoblastos, depositam o tecido
dentinário enquanto o dente apresentar vitalidade, e permanecem
com seus prolongamentos citoplasmáticos no interior dos túbulos
dentinários. Assim, quaisquer estímulos recebidos pelo dente resultam
em mecanismos de resposta tecidual que ocorrem de forma integrada,
o que determina que a dentina e a polpa sejam parte de um mesmo

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 29


complexo, por isso o nome complexo dentino-pulpar. A dentina é um
tecido parcialmente mineralizado, formado por cristais de hidroxiapatita
em meio à matriz de colágeno. Sua composição, em volume, é de
aproximadamente 55% de minerais, 30% de material orgânico e 15% de
fluido dentinário.

Tipos de dentina

1. Dentina fisiológica ou normodentina

Dentina primária – Formada desde a odontogênese, processo de


formação do dente até a sua erupção e completa formação do ápice
radicular, depositada rapidamente pelos odontoblastos primários.

Dentina secundária – Elaborada durante toda a vida do dente, após


a sua erupção, lentamente. Responsável pela diminuição fisiológica da
câmara pulpar e do canal radicular.

Nesses dois tipos de dentina o prolongamento dos odontoblastos


está presente, portanto, apresentam característica tubular.

O túbulo dentinário, da polpa até o esmalte, tem 2/3 de prolongamentos


odontoblásticos, depois apenas fluido dentinário. É revestido internamente
por uma dentina chamada peritubular e, por fora, por uma dentina
chamada intertubular. Os túbulos e canalículos dentinários constituem
a massa dentinária. Os canalículos promovem a comunicação entre os
túbulos dentinários. O número de canalículos e túbulos dentinários varia
de acordo com a proximidade com o tecido pulpar:

- Junto à polpa: 65000/mm2.

- Parte central: 35000/mm2.

- Periferia: 15000/mm2.

Portanto, quanto maior a profundidade dos preparos cavitários em


dentina, maior a permeabilidade e maior o risco de contaminação e
alteração pulpar.

2. Dentina patológica

Dentina reacional – Formada pelos odontoblastos quando o dente


sofre ação de agentes patológicos ou anormais, como a cárie e o bruxismo.

30 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Dentina esclerosada – Dentina formada frente a um estímulo de baixa
intensidade e longa duração. Há tempo para a deposição de minerais
e para a formação de uma dentina esclerosada e resistente que veda
os túbulos dentinários e aumenta a defesa contra o avanço da cárie. A
dentina esclerosada é caracterizada por intensa calcificação e ausência
de fluido, por isso o relato de dor é menor ou até mesmo ausente.

Dentina osteoide – Dentina formada frente a um estímulo de alta


intensidade e baixa duração. Não há tempo para a formação de uma
dentina de qualidade. A dentina formada é irregular e com muitas lacunas,
lembrando o aspecto de um osso, por isso é chamada de osteoide.

Dentina reparativa – A última tentativa de evitar que a cárie atinja a


polpa. Dentina formada dentro da câmara pulpar, na direção do estímulo
agressor, responsável pela atresia pulpar. Os casos de abrasão intensa
também levam à deposição de dentina reparativa.

Teoria hidrodinâmica de Brännström

É a teoria mais aceita entre os pesquisadores para explicar o fenômeno


da dor ou sensibilidade. Relaciona a dor à movimentação de fluidos no
interior dos túbulos dentinários, para fora e para dentro, estimulando
as terminações nervosas no interior dos canalículos por diferença de
pressão. Essa teoria é válida quando existir pelo menos 0,5 mm de
dentina. O fluido dentinário sempre tem sentido de dentro para fora,
somente as bactérias e toxinas são capazes de contrapor essa direção.
Todo e qualquer estímulo, como calor, frio, pressão, toxinas bacterianas,
corte e desidratação, aplicado à dentina, é transmitido à polpa.

Durante o preparo cavitário são considerados como agentes agressores:

• Uso de broca e pontas diamantadas desgastadas (gera calor).

• Preparo cavitário sem refrigeração.

• Pressão excessiva.

• Frequência dos movimentos.

• Condição de assepsia.

• Uso de ponta diamantada em dentina.

• Jato de ar para secar a dentina (desidratação).


U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 31
Reflita
Preparo cavitário – é considerado um estímulo positivo que pode provocar
a dor, dependendo da intensidade, do estado de vitalidade pulpar e do
limiar de dor do paciente. A agressão e a alteração pulpar manifestada
por meio da dor, decorrente de um preparo cavitário, nunca tem causa
isolada, embora possa haver um agente agressor desencadeador de
maior intensidade.

Jato de ar – estímulo negativo em que o fluido tenta sair, causando a dor.

Açúcar – estímulo iônico negativo (atrai água).

Condensação do amálgama – estímulo positivo (pressão).

Durante a realização dos preparos cavitários, a dentina é manipulada


por diferentes instrumentos cortantes rotatórios e manuais, que realizam
seu corte e desgaste, depositando sobre sua superfície os resíduos
desses procedimentos. Forma-se uma camada de material amorfo, de
conteúdo orgânico e inorgânico, resultante da ação de instrumentos de
corte e abrasivos sobre os tecidos dentais, mais gordura e microrganismos
presentes no meio bucal, denominada smear layer. Esta estrutura pode
se depositar na superfície da dentina, recobrindo-a, dando origem ao
smear superficial ou, ainda, se depositar no interior do túbulo dentinário,
obliterando sua entrada, sendo ele por isso denominado smear plug.

Esmalte – desgaste – ponta diamantada – maior produção de


smear layer.

Dentina – corte – broca – menor produção de smear layer.

Cortantes manuais – pequena produção de smear layer.

Clivagem – não produz smear layer.

Vocabulário
Smear layer: “Toda vez que se abrasiona ou se corta a estrutura dentária,
forma-se, na superfície, uma camada denominada por Boyde et al. (1963)
de ‘smear layer’. A camada de lama dentinária compreende componentes
orgânicos e inorgânicos dos tecidos dentários, microorganismos,
saliva etc. Essa camada está presente em maior ou menor quantidade,
dependendo do tipo de instrumental utilizado.”

Fonte: <http://ref.scielo.org/mggyjs>. Acesso em: 15 jun. 2016.

32 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Cemento

Estrutura de origem mesenquimal, recobre a superfície radicular


(dentina radicular) e é menos mineralizado que a dentina. O cemento
celular é depositado próximo ao ápice, enquanto próximo ao colo
encontramos o cemento acelular; estes dois não se diferenciam.

Relação cemento / preparo cavitário

As cáries de cemento são sempre profundas e hipersensíveis. Essa


região apresenta grande permeabilidade devido à fina espessura de
cemento recobrindo a dentina radicular ou devido à exposição de
dentina pela perda de cemento acelular.
Figura 1.19 | Caso clínico de cárie de cemento e restauração em compósito

Fonte: elaborada pelo autor.

É importante relembrar as relações entre as estruturas do complexo


dentino-pulpar cemento/dentina/esmalte: cemento e esmalte
contínuos, o que é mais comum de se observar (Figura 1.20-1);
cemento recobre o esmalte (Figura 1.20-2); esmalte recobre o cemento
(Figura 1.20-3); dentina descoberta, situação em que o paciente relata
sensibilidade (Figura 1.20-4).
Figura 1.20 | Relações entre esmalte, dentina e cemento

Fonte: <http://www.hs-menezes.com.br/images/relaccemesmpng.PNG>. Acesso em: 15 jun. 2016.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 33


Além dessas considerações, precisamos nos atentar ao fato de que
cerca de 30 a 40% da população mundial apresenta a incidência de
lesões na cervical dos dentes que não têm origem microbiana, ou seja,
não cariosas, desafiando o cirurgião-dentista a estabelecer um correto
diagnóstico e plano de tratamento.

Exemplificando
Desgaste geométrico na região cervical, geralmente seguido de grande
sensibilidade em função da exposição das estruturas internas, causado por
fatores como: maloclusão, bruxismo e hábitos parafuncionais. O estresse
gerado na região oclusal leva à distribuição das forças, culminando na
fragmentação dos prismas na área de maior fragilidade (na região cervical
o esmalte é muito fino), no seu deslocamento e no aparecimento de uma
lesão cervical não cariosa (LCNC) denominada abfração.
Figura 1.21 | Lesão cervical não cariosa

Fonte: elaborada pelo autor.

Polpa

Tecido de origem mesenquimal, responsável pela elaboração das


diferentes dentinas ao longo da vida do dente, pela sua nutrição, pela
defesa e reparação tecidual. Paciente jovem apresenta a câmara pulpar
maior (cuidado com o preparo, especialmente nas regiões de cúspides
devido à presença dos cornos pulpares). Já nos pacientes idosos, a
polpa é menor.

Princípios biológicos do preparo cavitário

Durante o preparo cavitário é importante lembrar que estamos


atuando em estruturas vivas e dotadas de sensibilidade, portanto é

34 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


muito importante preservar o remanescente dentário, tomando alguns
cuidados como observar a refrigeração com água das canetas de alta
e baixa rotação; utilizar as pontas diamantadas para esmalte e brocas
em dentina, sempre de boa qualidade e novas, com boa capacidade
de desgaste ou corte, para não aquecer o remanescente; realizar
movimentos intermitentes para evitar o aquecimento; promover o
mínimo desgaste com preparos conservadores; cuidado ao utilizar o
jato de ar para não desidratar a dentina e promover a movimentação
do fluido dentinário, causando sensibilidade pós-operatória.

Princípios gerais para a realização do preparo cavitário

Como visto anteriormente, Black, em 1908, após realizar


a classificação das cavidades, estabeleceu uma sequência de
procedimentos para realizar um preparo cavitário. É importante ressaltar
que essa ordem não é rígida, podendo ser alterada de acordo com a
situação clínica. Atualmente esses procedimentos passaram a ser mais
conservadores, mas ainda são aplicados para orientar os preparos.

1. Abertura da cavidade: visa a remoção do esmalte sem apoio


dentinário para expor a lesão de cárie, facilitar sua visualização e permitir
a realização das fases seguintes. Depende da extensão da lesão de
cárie, do dente a ser preparado e do material restaurador.

2. Forma de contorno: é a etapa que determina o formato da


cavidade, depende da superfície acometida pela cárie, da anatomia
do dente, da oclusão com o dente antagonista, do risco de cárie
apresentado pelo paciente e da escolha do material restaurador.
Atualmente, restringe-se a englobar a cárie e varia de acordo com a
localização da cavidade:

a) Cavidades de cicatrículas e fissuras: se a cárie acometer a


fóssula central com pequena extensão M-D até a região de istmo,
as paredes circundantes mesial (M) e distal (D) podem ficar paralelas
entre si; quando ultrapassar a região do istmo, serão convergentes
e quando a cárie atingir em extensão as fóssulas M e D, as paredes
circundantes M e D devem estar ligeiramente expulsivas – 10° a 15°
(essas diferenças devem ser consideradas para acompanhar os prismas
de esmalte nessas regiões); paredes circundantes vestibular (V) e
lingual (L) podem ser paralelas entre si ou ligeiramente convergentes
para oclusal, dependendo da largura V-L da lesão de cárie; devemos

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 35


preservar as cristas marginais, as vertentes das cúspides e pontes de
esmalte (presente nos dentes 34, 44, 16 e 26) respeitando a necessidade
de manutenção de remanescente com espessura que determine a
resistência da dentina e esmalte para suportar a técnica restauradora
(ao menos 1 mm de esmalte e dentina na ponte de esmalte). As
margens da cavidade não devem ficar na área de contato oclusal com
o dente antagonista, evitando a oclusão na interface dente-material
restaurador.

b) Cavidades de superfícies lisas: nesses casos a propagação da


cárie se dá como dois cones superpostos “ápice contra a base” na
junção amelodentinária, assim, geralmente, a cárie é mais extensa
do que profunda. Quando a cárie se estende para as faces proximais
é necessária uma extensão para a gengival da parede cervical que
permita a separação proximal com o dente vizinho.

3. Remoção da dentina cariada: atualmente o preparo cavitário


visa remover o mínimo de estrutura sadia, envolvendo somente a
dentina infectada e desorganizada, preservando a dentina passível de
remineralização. Geralmente, ao se estabelecer a forma de contorno e
resistência, remove-se a dentina cariada. Caso permaneça uma lesão
em ponto, devem ser utilizadas as curetas para dentina compatíveis
com o tamanho da lesão, para remoção manual da dentina amolecida;
em seguida, utilizam-se as brocas carbide de tamanho compatível com
a lesão, escolhendo o maior tamanho que couber na cárie em ponto.
Repete-se a utilização das curetas para verificar a qualidade da dentina
e presença/ausência de cárie. Caso necessário, repete-se o protocolo
para remoção da dentina cariada.

4. Forma de resistência: forma dada à cavidade para permitir que o


remanescente resista às forças mastigatórias e alterações volumétricas
decorrentes das variações térmicas e da reação de presa de alguns
materiais. Inclui algumas manobras: abertura vestíbulo-lingual não
superior a 1/4 da distância intercuspídica; paredes circundantes
ligeiramente convergentes para oclusal, dependendo da inclinação das
vertentes circundantes, o preparo para amálgama pode ser configurado
com paredes circundantes com maior ou menor convergência para
a oclusal, com o objetivo de possibilitar um ângulo cavo-superficial
entre 105° e 115° e ângulo da margem de amálgama entre 70° e 90°;
parede pulpar e cervical planas, paralelas entre si e perpendiculares ao

36 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


longo eixo do dente, assim promovem uma distribuição das forças
que incidem sobre os dentes; ângulo áxio-pulpar arredondado; ângulo
cavo superficial formando um ângulo de 90° com a superfície externa;
paredes vestibular e lingual nas caixas proximais formando um ângulo
de 90° com a face externa do dente, acompanhando a distribuição
radial dos prismas de esmalte (curva reversa de Hollemback) e
convergentes para a oclusal para preservar a crista marginal.

5. Forma de retenção: forma responsável pela manutenção da


restauração em posição na cavidade, evitando seu deslocamento
quando submetida a cargas durante a mastigação, tração por alimentos
pegajosos, por diferença do coeficiente de expansão térmico
linear (CETL) entre material restaurador e remanescente dentário. A
profundidade deve ser igual ou maior do que a largura vestíbulo-lingual
(V-L). Caso a extensão V-L seja maior do que a profundidade, devemos
realizar as retenções adicionais através de sulcos, orifícios ou canaletas
quando o dente for receber uma restauração em amálgama de prata.
Restaurações em compósito dispensam esse recurso, pois, graças aos
sistemas de união, ficam retidas nas cavidades pela hibridização do
remanescente dentário.

6. Forma de conveniência: visa possibilitar o acesso e facilitar a


instrumentação adequada do remanescente, lesão de cárie e a inserção
dos materiais na etapa restauradora. Atualmente, quando a lesão de
cárie se situa abaixo da relação de contato nas faces proximais, indica-
se a preservação da crista marginal utilizando o acesso vestibular (slot
horizontal). Caso a lesão de cárie seja restritamente proximal, indica-
se o acesso pela oclusal, realizando uma cavidade em forma de túnel
ou através da crista marginal (slot vertical). Algumas manobras, como
o isolamento do campo operatório, afastamento dos dentes com
elásticos e uso de matriz de aço protegendo o dente vizinho, auxiliam
na forma de conveniência.

7. Acabamento das paredes em esmalte: procedimentos que


visam melhorar a adaptação do material restaurador às paredes da
cavidade, melhorar o vedamento marginal e diminuir a infiltração
marginal. Para isso, nos preparos para amálgama não devemos deixar
esmalte sem suporte dentinário; quando necessário, vamos utilizar o
cimento de ionômero de vidro e resina composta para reproduzir o
efeito amortecedor da dentina sob o esmalte; as paredes em esmalte

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 37


e o ângulo cavo-superficial devem estar lisos; nas paredes cervicais
de preparos proximais o esmalte deve ser aplainado de acordo com a
orientação dos prismas de esmalte.

8. Limpeza da cavidade: visa remover resíduos de esmalte, dentina


e outros detritos das paredes cavitárias, a fim de melhorar o contato
com o material de proteção-pulpar e com o material restaurador. A
escolha do material para limpeza da cavidade depende do material
eleito para realizar a restauração. Em casos de dentes que receberão
o amálgama, a limpeza da cavidade pode ser realizada com água de
hidróxido de cálcio ou com clorexidina a 0,2%. Nos casos que receberão
resina composta, os agentes de condicionamento ou tratamento do
remanescente realizam a limpeza da cavidade em cavidades mais
conservadoras; em cavidades profundas, a água de hidróxido de cálcio
deve ser utilizada para a limpeza destas.

Ao longo do tempo os preparos cavitários para amálgama de


prata foram modificados e, atualmente, devem ser conservadores,
economizando ao máximo a remoção de dentina, tanto em extensão
quanto em profundidade.

Pesquise mais
Pesquise mais sobre preparo cavitário: <http://pt.slideshare.net/profcelsoklein/
principios-gerais-do-preparo-cavitrio>. Acesso em: 3 jul. 2016.

Sem medo de errar


Após a compreensão dos princípios biológicos e gerais dos preparos
cavitários torna-se mais fácil a resolução de nossa situação-problema:

O estudante B. D. A., durante a avaliação inicial, verificou que o paciente


J. C. S., de 16 anos, apresenta lesão de cárie no sulco oclusal do dente 26.
O paciente relata sensibilidade ao ingerir alimentos doces, frios ou líquidos
gelados. O acadêmico fez todos os questionamentos de um bom exame
clínico, realizou uma radiografia, verificou que as faces proximais estavam
íntegras e fez o planejamento para o preparo cavitário e restauração em
amálgama de prata.

Como ele pode prever o pós-operatório para esse paciente? Como


se classifica essa lesão de cárie? Quais os cuidados que ele deve tomar
para não agravar o quadro de sensibilidade descrito pelo paciente? Quais

38 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


as características do preparo cavitário para receber a restauração em
amálgama?

Considerando que é observada a presença de cárie oclusal, classificada


por Black como Classe I, e a sensibilidade com alimentos doces, frios ou
gelados, é possível que, após a intervenção do cirurgião-dentista, remoção
de cárie e selamento da cavidade, essa sensibilidade desapareça. Para
que ele tenha um pós-operatório sem dor, considerando que o próprio
procedimento operatório pode ser um agente agressor à polpa, o
cirurgião-dentista deve seguir os cuidados de observar a refrigeração com
água das canetas de alta e baixa rotação; utilizar as pontas diamantadas
para esmalte e brocas em dentina, sempre de boa qualidade e novas, com
boa capacidade de desgaste ou corte, para não aquecer o remanescente;
realizar movimentos intermitentes para não aquecer o remanescente
dentário, promover o mínimo desgaste com preparos conservadores;
cuidado ao utilizar o jato de ar para não desidratar a dentina e promover
a movimentação do fluido dentinário causando sensibilidade pós-
operatória. O preparo cavitário oclusal deve ser realizado removendo o
mínimo de estrutura dental sadia, ter as paredes circundantes ligeiramente
convergentes para oclusal, mínima extensão V-L envolvendo apenas 1/3
da distância intercuspídica e com profundidade maior do que a largura.
A forma de conveniência se dá pela própria lesão de cárie oclusal, e a
remoção somente da dentina cariada, inicialmente com curetas de
tamanho compatível com a lesão e brocas carbide com boa capacidade
de corte, em baixa rotação, com refrigeração constante, movimentos
intermitentes evitando o aquecimento do remanescente.

Atenção
É muito importante fazer o correto diagnóstico da cárie dental, realizar
adequadamente a remoção da dentina desorganizada irreversivelmente
comprometida. Ao fazê-lo, deve-se tomar todos os cuidados para não
agregar mais agressão ao dente que já recebe estímulo dos procedimentos
do preparo cavitário.

Avançando na prática
Fratura de cúspide mésio-vestibular do dente 46 sem
sensibilidade dolorosa

Descrição da situação-problema

Paciente jovem, de 20 anos, apresenta-se à Clínica Odontológica

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 39


com fratura da cúspide mésio-vestibular (MV) do dente 46, relatando que
este apresentava uma lesão de cárie há anos, que não há sensibilidade
dolorosa e pretensão de restaurar o dente. O acadêmico do terceiro
semestre ficou intrigado com o fato de que mesmo frente a uma fratura
o paciente não relata dor.

Lembre-se
Tipos de dentina fisiológicas e patológicas.

Tipos de cárie: crônica e aguda.

Resolução da situação-problema

Considerando as informações relatadas pelo paciente, torna-


se claro estarmos frente a uma lesão de cárie crônica, ou seja, de
baixa intensidade e longa duração e, ao removermos a dentina
comprometida pela lesão, vamos encontrá-la com intensa calcificação
e ausência de fluido, por isso o relato de dor é menor ou até mesmo
ausente, característica da dentina esclerosada.

Faça você mesmo


Você está acompanhando o atendimento de um paciente na Clínica
Odontológica que necessita da substituição de uma restauração de
amálgama por recidiva de cárie e com relato de dor ao ingerir alimentos
doces. Após a remoção do amálgama, o cirurgião-dentista observa que a
dentina formada é irregular e com muitas lacunas, lembrando o aspecto
de um osso. Baseado nesses dados, como você classificaria essa lesão
de cárie?

Faça valer a pena


1. A dentina formada desde a odontogênese até a erupção e completa
formação do ápice radicular do dente é denominada:
a) Dentina primária.
b) Dentina secundária.
c) Dentina patológica.
d) Dentina osteoide.
e) Dentina reparativa.

40 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


2. A dentina elaborada lentamente durante toda a vida do dente, após a sua
erupção, é denominada:
a) Dentina primária.
b) Dentina secundária.
c) Dentina patológica.
d) Dentina osteoide.
e) Dentina reparativa.

3. A dentina formada frente a um estímulo de baixa intensidade e longa


duração é caracterizada por intensa calcificação e ausência de fluido, por isso
o relato de dor é menor ou até mesmo ausente. Essa dentina é chamada de:
a) Dentina esclerosada.
b) Dentina secundária.
c) Dentina patológica.
d) Dentina osteoide.
e) Dentina reparativa.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 41


Seção 1.3
Preparos cavitários para amálgama de prata

Diálogo aberto

Olá, aluno! Seja bem-vindo a mais uma seção de estudos deste livro
didático!

Nesta seção estudaremos os procedimentos para a realização dos


preparos cavitários para amálgama de prata. Vamos relembrar nossa
situação da realidade profissional: a recepção da Clínica Odontológica
da Universidade, assim como as clínicas particulares ou consultórios
odontológicos, recebe inúmeros pacientes com diferentes necessidades,
com relatos de dor ou não, que devem ser avaliados e direcionados para
diferentes tipos de tratamentos restauradores. Nos dentes posteriores,
dependendo da extensão da lesão de cárie, da sua localização e de
outros fatores relacionados ao paciente, será adotado um protocolo de
preparo cavitário, de proteção do remanescente dentário e, finalmente,
de restauração em amálgama. Os estudantes do terceiro semestre
de Odontologia acompanharão a rotina clínica de exame clínico,
identificando as necessidades de tratamento dos pacientes, durante a
triagem e encaminhando os pacientes para as diferentes especialidades.

Um paciente jovem, de 20 anos, durante a avaliação inicial apresentou


os sulcos principais do dente 37 pigmentados. O acadêmico do 3º
semestre do Curso de Odontologia realizou uma radiografia periapical
do dente e observou que a lesão de cárie estava restrita à face oclusal
desse dente e que as proximais estavam íntegras. Observou que a
câmara pulpar estava distante da lesão de cárie. O paciente não referia
sensibilidade nesse dente. Ao exame clínico, observou-se uma deficiência
na técnica de higienização dos dentes do paciente e a presença de
outras lesões de cárie incipientes. De que dente estamos tratando? O
fato do paciente não relatar dor tem algum significado importante nessa
fase do diagnóstico? Como esse dente deve ser preparado para receber
uma restauração em amálgama, visto que o paciente ainda precisa de
orientações para possibilitar uma higienização mais eficiente?

42 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Não pode faltar

Considerações sobre a evolução dos preparos cavitários

É importante ressaltar que os preparos cavitários foram idealizados


quando o amálgama de prata era o único material restaurador direto
para dentes posteriores, em 1908. Desde então muita coisa mudou
em relação à doença cárie, aos materiais disponíveis para restaurações
dentárias e aos instrumentos disponíveis para a realização dos reparos,
mas uma coisa ainda permanece: o amálgama de prata como um
material restaurador importante, de sucesso, pois é utilizado há mais
de cem anos, produzindo restaurações que podem durar 10, 20, 30
anos ou mais.

Depois de conhecermos os princípios biológicos e gerais que regem


a confecção desses preparos, vamos utilizá-los para confeccionar uma
cavidade que:

• Remova o tecido cariado com o máximo de cuidado, mantendo a


dentina para uma possível remineralização.

• Permita a inserção do material restaurador.

• Possibilite a retenção e a estabilidade da restauração.

• Favoreça e permita a dissipação de cargas, minimizando a


concentração de tensão ao longo da interface dente/material
restaurador em virtude de ângulos agudos ou das diferenças nas
propriedades mecânicas entre os materiais, prolongando a vida útil da
restauração e que previna fraturas no dente ou material restaurador.

Além desses cuidados com o preparo das cavidades, como já


citamos anteriormente, devemos considerar a idade e o risco de cárie
do paciente. Mais recentemente, a aplicação de um Protocolo Básico
de Atendimento permite que a cárie dental e a doença periodontal
sejam controladas e que a sua prevenção seja efetiva. Assim, hoje
podemos realizar preparos cavitários reduzidos baseados no conceito
de máxima prevenção e mínimo desgaste, chegando até a 1/9 da
distância intercuspídica.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 43


Assimile
Protocolo Básico de Atendimento: índice de placa bacteriana (IPB), índice
de sangramento gengival (ISG) e de sacarose (IS) obtido a partir de um
inquérito da dieta do paciente, auxilia na avaliação individual do risco de
cárie do paciente, análise e controle dos fatores etiológicos, decisões sobre
medidas preventivas e sobre o plano de tratamento de cada paciente.

Extensão do preparo cavitário

Os fatores que determinam a extensão do preparo cavitário são:

• Extensão da cárie em esmalte e dentina.

• Relação oclusal com o dente antagonista.

• Tipo de material restaurador (amálgama de prata).

• Acesso à lesão de cárie.

Pesquise mais
Leia este capítulo de livro:

AMORE, R. et al. Preparo cavitário para restaurações diretas: novas


perspectivas. In: PEREIRA, J. C.; ANAUATE-NETTO, C.; GONÇALVES, S. A.
(Org.) Dentística: uma abordagem multidisciplinar. São Paulo: Artes Médicas,
2014. p. 129-148. Esta leitura vai ajudar na compreensão desse tema.

Instrumental necessário para a execução do preparo cavitário

Exame clínico: bandeja clínica; pinça clínica; explorador nº 5;


espelho plano; curetas caneta de baixa-rotação.

Profilaxia: escovas de Robinson, pedra pomes, pote Dappen.

Brocas de aço carbide 329, 330, 331.

Brocas de aço carbide esféricas para remoção de cárie 3, 4, 6 para


contra-ângulo.

Pontas diamantadas 1011, 1014, 1090, 1091.

Instrumentos cortantes manuais: enxada, machado, recortadores


de margem gengival.

44 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Exemplificando
Antes de iniciar qualquer tipo de preparo, deve-se realizar a profilaxia com
uma pasta de pedra pomes/água e escova de Robinson.

Também é necessário avaliar a relação oclusal com o dente antagonista


por meio de carbono para articulação.

Cavidades classe I
Reflita
Cavidades classe I são preparadas em regiões de má coalescência
de esmalte – cicatrículas e fissuras, nas faces oclusal de pré-molares e
molares, cíngulos dos dentes anteriores, no tubérculo de Carabelli e nos
2/3 oclusais das faces vestibulares ou linguais de todos os dentes.

Figura 1.22 | Cavidades classe I

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 1.23 | Manequim com simulação de cárie no dente 36

Fonte: elaborada pelo autor.

1. Abertura da cavidade: quando o sulco oclusal se apresentar


pigmentado sem cavitação, utilizar uma ponta diamantada esférica n°
1011 ou 1014 para realizar a abertura em esmalte. Caso o sulco oclusal
se apresente cavitado, o acesso deve ser realizado com brocas 329,
330 ou 331.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 45


• Parede pulpar em dentina abaixo do limite amelodentinário
(LAD). A espessura mínima para o amálgama de prata resistir às cargas
mecânicas funcionais é de 1,5 a 2 mm.

2. Forma de contorno: define a área a ser incluída no preparo.


Realizada com brocas 329, 330 ou 331 em movimentos intermitentes
de mesial para distal acompanhando o sulco oclusal.

• Paredes circundantes mesial (M) e distal (D): se a cárie acometer


a fóssula central com pequena extensão M-D até a região de istmo, as
paredes M e D podem ficar paralelas entre si para acompanhar os prismas
de esmalte nessa região. Quando a cárie atingir em extensão as fóssulas
M e D, as paredes circundantes devem estar ligeiramente expulsivas (10°
a 15°) para acompanhar os prismas de esmalte nessa região.

• Paredes circundantes vestibular (V) e lingual (L) podem ser paralelas


entre si ou ligeiramente convergentes para oclusal, dependendo da
largura V-L da lesão de cárie e da inclinação das vertentes triturantes
das cúspides, como descreveremos a seguir na forma de resistência.

Figura 1.24 | Imagem ilustrativa mostrando o posicionamento da broca com


inclinação de 10° a 15° ou paralela

Fonte: elaborado pelo autor.

3. Remoção do tecido cariado: em lesões de cárie iniciais, incipientes,


durante a abertura da cavidade e forma de contorno, o tecido cariado
é removido. Quando a extensão da lesão é maior, após a abertura e
forma de contorno estabelecendo a parede pulpar abaixo do LAD, pode
permanecer uma lesão de cárie em ponto, como representado na
Figura 1.25. Nesses casos, realizaremos a remoção do tecido cariado da
seguinte forma:

46 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Figura 1.25 | Simulação de cárie em ponto na parede pulpar

Fonte: adaptado de Santos (1979, p. 48).

• Iniciar a remoção da cárie em ponto com curetas de tamanho


compatível com a lesão, com movimentos da periferia para o centro,
removendo a dentina menos resistente, comprometida pela cárie.

• Seguir com broca esférica carbide de tamanho compatível com a


lesão de cárie em ponto (nº 6, 4, 3), em baixa rotação, sob refrigeração,
movimentos intermitentes (para evitar o aquecimento).

• Reutilizar as curetas para verificar a qualidade e a resistência da dentina.


Caso a dentina ainda se apresente comprometida pela cárie, repetir a
utilização das brocas esféricas e a verificação com curetas.

4. Forma de resistência: permite que o remanescente resista às forças


mastigatórias e às alterações volumétricas decorrentes das variações
térmicas e da reação de presa de alguns materiais.

• Abertura vestíbulo-lingual não superior a 1/4 da distância intercuspídica.

• Paredes circundantes ligeiramente convergentes para oclusal.

• Inclinação das vertentes triturantes das cúspides interfere na


inclinação das paredes circundantes: com faces oclusais mais rasas,
com menor inclinação das vertentes triturantes, as paredes circundantes
podem ficar menos retentivas (Figura 1.25-B). Mas se houver cúspides
mais altas e sulcos oclusais mais profundos, com maior inclinação das
vertentes triturantes, mais retentivas poderão ficar as paredes circundantes
(Figura 1.25-C). Seguindo essa configuração, os prismas de esmalte ficam
paralelos à parede da cavidade.

• Ângulo cavo superficial: 105° a 115° e ângulo da margem de amálgama


entre 70° e 90°.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 47


• Ângulos internos arredondados: favorecem a dissipação das tensões
sem comprometer a retenção do material restaurador.
Figura 1.26 | Lesão de cárie oclusal, diferentes inclinações das vertentes triturantes,
paredes circundantes com menor ou maior convergência para oclusal

Fonte: elaborada pelo autor.

5. Forma de retenção: responsável pela manutenção da restauração


em posição na cavidade.

• A profundidade deve ser igual ou maior do que a largura vestíbulo-


lingual (V-L).

• Caso a extensão V-L seja maior do que a largura, devemos realizar


as retenções adicionais através de sulcos, orifícios ou canaletas quando
o dente for receber uma restauração em amálgama de prata.

• Paredes circundantes convergentes para a oclusal também


favorecem a retenção (Figura 1.27).

Figura 1.27 | Molar seccionado no sentido V-L mostrando o posicionamento da


broca 329 ou 330

Fonte: elaborada pelo autor.

6. Forma de conveniência: o acesso é através da lesão no sulco


oclusal, facilita a instrumentação do remanescente e da lesão de cárie.

7. Acabamento das paredes em esmalte: não deixar esmalte


sem suporte dentinário; cavo superficial regularizado visa melhorar a

48 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


adaptação do material restaurador às paredes da cavidade; melhorar o
vedamento marginal e diminuir a infiltração marginal.

8. Limpeza da cavidade: remover resíduos de esmalte, dentina e


outros detritos das paredes cavitárias, a fim de melhorar o contato com
o material de proteção pulpar e amálgama de prata. Pode ser realizada
com a água de hidróxido de cálcio ou com clorexidina a 0,2%.

Assimile
Características finais do preparo cavitário classe I

• Parede pulpar ligeiramente abaixo do limite amelodentinário.

• Paredes circundantes convergentes para oclusal (dependendo da


inclinação das vertentes triturantes).

• Ângulos internos arredondados.

• Ângulo cavo superficial entre 105° a 115°.

Cavidades classe I composta (CL I OL)


Figura 1.28 | Lesão de cárie classe I composta OL

Fonte: elaborada pelo autor.

A extensão lingual do preparo sempre será realizada quando a cárie


seguir pelo sulco secundário ocluso-lingual/palatino ou se a cárie estiver
apenas no final do sulco lingual, terço médio do dente, sem se comunicar
com a oclusal e não houver um remanescente de esmalte suportado
por uma dentina sadia de ao menos 1 mm para resistir às cargas oclusais.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 49


O preparo da caixa oclusal será o mesmo descrito nos itens 1 a 8 do
preparo cavitário classe I simples (O).

O preparo da caixa lingual será realizado com as brocas 329, 330 ou


331 ou com auxílio da ponta diamantada 1090 ou 1091 quando estiver
em esmalte, seguindo a inclinação do sulco secundário ocluso-lingual
OL. As paredes laterais, mesial e distal, ligeiramente convergentes para
oclusal, acompanharão a inclinação do sulco secundário.

Parede pulpar e cervical planas, paralelas entre si e perpendiculares


ao longo do eixo do dente; essas características promovem uma
distribuição das forças que incidem sobre os dentes, auxiliando na forma
de resistência também.

A parede de fundo, axial, em dentina, convergente para oclusal,


seguindo a inclinação externa da face lingual ou vestibular (Figura 1.28).

Diedro áxio-pular arredondado.

Esmalte cervical: reto se a parede cervical estiver no terço médio


do dente, e aplainado se a parede cervical estiver mais próxima da
margem gengival.

Ângulos internos arredondados.


Figura 1.29 | Imagem ilustrativa de um molar seccionado representando a confecção da
caixa L ou V, observe a inclinação da broca e da parede axial convergentes para oclusal

Fonte: adaptado de Santos (1979, p. 60).

50 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Atenção
Arredondamento do diedro áxio-pulpar para evitar a concentração de
esforços que cria efeito de cunha e leva à fratura da restauração. Essa
manobra também aumenta a espessura de amálgama nessa região (forma
de resistência). Utilizar os instrumentos cortantes manuais: recortadores
de margem gengival.

Figura 1.30| Imagem ilustrativa do arredondamento do diedro áxio-pulpar

Fonte: adaptado de Santos (1979, p. 63).

Lembre-se
Acabamento das paredes em esmalte

Aplainamento: remoção do esmalte sem suporte dentinário,


especificamente na parede cervical. A inclinação da parede cervical em
esmalte vai depender da altura em que termina a lesão de cárie e da
inclinação dos prismas de esmalte nessa região.

Características finais da caixa palatina/lingual

• Paredes laterais, mesial e distal, ligeiramente convergentes para


oclusal e seguindo a inclinação do sulco palatino.

• Parede axial convergente para oclusal, seguindo a inclinação externa


da face palatina.

• Diedro áxio-pulpar arredondado.

• Acabamento do esmalte cervical: plano ou aplainado.

• Ângulos internos arredondados.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 51


Sem medo de errar
Após rever a Classificação das Cavidades e aprender sobre os
diferentes tipos de preparos cavitários, podemos resolver nossa situação-
problema:

Um paciente jovem, de 20 anos, durante a avaliação inicial apresentou


os sulcos principais do dente 37 pigmentados. O acadêmico do 4º
Semestre do Curso de Odontologia realizou uma radiografia periapical
do dente e observou que a lesão de cárie estava restrita à face oclusal do
dente e que as proximais estavam íntegras. Observou que a câmara pulpar
estava distante da lesão de cárie. O paciente não referia sensibilidade
nesse dente. Ao exame clínico, observou-se uma deficiência na técnica
de higienização dos dentes do paciente e a presença de outras lesões de
cárie incipientes. De que dente estamos tratando? O fato do paciente não
relatar dor tem algum significado importante nessa fase do diagnóstico?
Como esse dente deve ser preparado para receber uma restauração
em amálgama, visto que o paciente ainda precisa de orientações para
possibilitar uma higienização mais eficiente?

O dente que apresenta a lesão de cárie é o segundo molar inferior


do lado esquerdo. O fato de o paciente não apresentar dor é importante
nessa fase do diagnóstico para a avaliação do tipo e extensão de lesão
de cárie, associado à imagem radiográfica e, posteriormente, ao exame
táctil da dentina, durante o preparo cavitário. Para o preparo cavitário e
posterior restauração com amálgama de prata, o cirurgião-dentista deve
estar atento aos princípios biológicos associados à realização do preparo
para evitar que nesse momento o dente seja ainda mais agredido, ou
seja: observar a refrigeração com água das canetas de alta e baixa
rotação; utilizar as pontas diamantadas para esmalte e brocas em dentina,
sempre de boa qualidade, com boa capacidade de desgaste ou corte;
realizar movimentos intermitentes para não aquecer o remanescente
dentário; promover o mínimo desgaste com preparo conservador;
ter cuidado ao utilizar o jato de ar para não desidratar a dentina e
promover a movimentação do fluido dentinário, causando sensibilidade
pós-operatória. O preparo deve ter as seguintes características finais:
parede pulpar ligeiramente abaixo do limite amelodentinário; paredes
circundantes convergentes para oclusal (dependendo da inclinação
das vertentes triturantes); ângulos internos arredondados; ângulo cavo
superficial regularizado.

52 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Atenção
É muito importante rever o conteúdo da fisiologia da dentina, as
características da dentina patológica e o diagnóstico do tipo de lesão de
cárie para o correto planejamento do preparo cavitário e para a escolha
do material restaurador. Nesse caso o paciente não relata dor; se ao
realizar a remoção da dentina esta se apresentar resistente à curetagem,
com intensa calcificação e ausência de fluido, que explica a ausência
de dor, provavelmente estaremos frente à uma cárie crônica e à uma
dentina esclerosada.

Avançando na prática

Um paciente com relato de sensibilidade

Descrição da situação-problema

Um paciente chega à clínica odontológica com relato de sensibilidade


no dente 16, com presença de lesão de cárie, como pode ser visto na
Figura 1.30:
Figura 1.31 | Dente 16 apresentando lesão de cárie

Fonte: elaborada pelo autor.

Quando o estudante analisa a radiografia, observa que no sulco


mesial há uma cárie extensa próxima à polpa e que a face mesial está
íntegra. Qual será o preparo indicado nesse caso? O que haverá de
diferente nesse preparo, comparado ao anterior?

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 53


Lembre-se
Os princípios biológicos dos preparos cavitários sempre devem ser
considerados durante o preparo dos dentes, em qualquer técnica
restauradora.Os princípios biológicos dos preparos cavitários sempre
devem ser considerados durante o preparo dos dentes, em qualquer
técnica restauradora.

Resolução da situação-problema

Considerando as informações descritas e a Figura 1.30, o preparo


a ser realizado será de uma cavidade classe I composta, pois o sulco
ocluso-lingual está cariado. A cavidade oclusal seguirá as mesmas
orientações do preparo anterior, mas, durante a forma de contorno
e remoção do tecido cariado da fóssula mesial, o dentista vai avaliar a
ponte de esmalte. Se não houver cárie nessa região, a ponte de esmalte
poderá ser preservada, mas para isso é necessário que exista 1 mm ou
mais de dentina e esmalte íntegros. A diferença entre esse preparo e o
descrito anteriormente será a confecção da caixa lingual, que deverá ter
as seguintes características: paredes laterais, mesial e distal, ligeiramente
convergentes para oclusal e seguindo a inclinação do sulco palatino;
parede axial convergente para oclusal, seguindo a inclinação externa da
face palatina; diedro áxio-pulpar arredondado; esmalte cervical aplainado,
dependendo da extensão da cárie; ângulos internos arredondados.

Faça você mesmo


Ao término da remoção da cárie no sulco ocluso-lingual, a parede cervical
está no terço médio do dente. Como você prepararia essa parede?

Faça valer a pena

1. Quais os princípios que regem os preparos cavitários atualmente?


a) Preparo conservador, que permita a inserção, a retenção do material
restaurador e a dissipação de cargas para prolongar a vida útil da restauração.
b) Preparo com extensão para áreas de relativa imunidade à cárie,
favorecendo a durabilidade da restauração.
c) Preparos pequenos sem preocupação com o índice de cárie do paciente,
favorecendo a preservação das estruturas remanescentes.
d) Preparos conservadores que possam receber a restauração com qualquer
tipo de material.

54 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


e) Preparos extensos para evitar recidiva de cárie, favorecendo a durabilidade
da restauração.

2. Após o exame clínico cuidadoso e o correto diagnóstico de cárie, qual o


primeiro passo na execução de um preparo cavitário?
a) Abertura da cavidade.
b) Forma de contorno.
c) Forma de conveniência.
d) Profilaxia.
e) Forma de retenção.

3. Quando, no sulco oclusal, a cárie apresenta cavitação expondo a dentina


cariada, qual passo do preparo não vamos ter que realizar?
a) Abertura da cavidade.
b) Forma de contorno.
c) Forma de conveniência.
d) Profilaxia.
e) Forma de retenção.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 55


Seção 1.4
Preparos cavitários em dentística: classe II

Diálogo aberto
Olá, aluno! Seja bem-vindo a mais uma seção de estudos deste livro
didático!

Dando sequência aos preparos cavitários para amálgama de prata,


nesta seção estudaremos os procedimentos para a realização dos
preparos cavitários de classe II.

Vamos relembrar nossa situação da realidade profissional: a Clínica


Odontológica da Universidade, assim como as clínicas particulares ou
como os consultórios odontológicos, recebe inúmeros pacientes com
diferentes necessidades, com relatos de dor ou não, que devem ser
examinados e direcionados para diferentes tipos de tratamentos. Nos
dentes posteriores, dependendo da extensão da lesão de cárie, de sua
localização e de outros fatores relacionados ao paciente, será adotado
um protocolo de preparo cavitário, de proteção do remanescente
dentário e, finalmente, de restauração, tendo o amálgama de prata como
uma alternativa de tratamento restaurador. Os estudantes do terceiro
semestre de Odontologia acompanharão a rotina clínica de exame
clínico, identificando as necessidades de tratamento dos pacientes,
durante a triagem, e encaminhando os pacientes para as diferentes
especialidades.

Um paciente chegou na Clínica da Universidade se queixando de


dificuldade para passar fio dental entre os molares inferiores do lado
esquerdo, o primeiro e o segundo: o fio desfia e, muitas vezes, fica preso.
Durante o exame clínico, constatou-se a presença de pigmentação no
sulco oclusal e na fóssula distal do primeiro molar, e no segundo molar
inferior esquerdo não foi possível observar cárie. A papila gengival entre
esses dentes apresenta-se avermelhada e com aumento de volume. Após
a radiografia, o acadêmico observou a presença de cárie nas faces mesial
e distal do primeiro molar que se estendiam para a dentina e também na
mesial do segundo molar, embora esta fosse uma lesão menor. Qual é

56 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


uma possível representação gráfica dos dentes acometidos pelas lesões
de cárie? Qual a possível causa da alteração da papila gengival na região?
Como esses dentes devem ser preparados para receber restaurações
em amálgama?

Após o conteúdo desta seção e de toda a unidade, você será capaz


de avaliar um paciente por meio da classificação das cavidades dentais,
identificar os instrumentos operatórios manuais e rotatórios utilizados
em dentística, e pensar o preparo cavitário em dentística.

Não pode faltar


Para solucionar essa situação clínica, precisaremos de alguns
conhecimentos adquiridos nas seções anteriores:

Assimile
A extensão do preparo cavitário é determinada por:

• Extensão da cárie em esmalte e dentina.

• Relação oclusal com o dente antagonista.

• Tipo de material restaurador (amálgama de prata).

• Acesso à lesão de cárie.

Antes de iniciar qualquer tipo de preparo, é preciso realizar a


profilaxia com uma pasta de pedra-pomes/água e escova de Robinson.
Também é necessário avaliar a relação oclusal com o dente antagonista
por meio de carbono para articulação.

Cavidades classe II (MO/OD ou MOD)

Assimile
Cavidades preparadas nas superfícies lisas que se iniciam nas faces
proximais de molares e pré-molares.

Quando, durante o exame clínico, associado à imagem radiográfica,


é observada a presença de cárie na face proximal de dentes posteriores
que se comunica com a face oclusal, o preparo da caixa oclusal se
estenderá para a face proximal.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 57


Figura 1.32 | Dentes com lesões de cárie nas faces proximais

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 1.33 | Imagem ilustrativa de cárie proximal com manutenção de dentina e


esmalte na crista marginal. Dente com preparo tipo túnel na face mesial do 25 e slot
horizontal na distal

Fonte: elaborada pelo autor.

Reflita
O preparo da caixa oclusal será o mesmo descrito nos itens 1 a 8 do
preparo cavitário classe I simples (O), para cavidades Cl I composta e
classe II (MO, OD ou MOD)

Vamos relembrar:

1. Abertura da cavidade: quando o sulco oclusal se apresentar


pigmentado sem cavitação, utilizar uma ponta diamantada esférica nº
1011 ou 1014 para realizar a abertura em esmalte. Caso o sulco oclusal
se apresente cavitado, o acesso deve ser realizado com brocas 329,
330 ou 331.

2. Forma de contorno: define a área a ser incluída no preparo.


Realizada com brocas 329, 330 ou 331 em movimentos intermitentes
de mesial para distal, acompanhando o sulco oclusal.

58 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Na caixa oclusal:

• Paredes circundantes vestibular (V) e lingual (L) podem ser paralelas


entre si ou ligeiramente convergentes para oclusal, dependendo da
largura V-L da lesão de cárie e da inclinação das vertentes triturantes
das cúspides, como descreveremos a seguir na forma de resistência.

Em continuidade à abertura da caixa oclusal, o preparo avançará


até a crista marginal da face, ou faces, envolvida pela cárie proximal.
Sem terminar de remover o esmalte da crista marginal externa, inicia-se
a confecção da caixa proximal, aprofundando-se a broca até a altura
da cárie proximal, com movimentos pendulares. O esmalte proximal
ficará sem suporte dentinário e deverá ser removido com instrumentos
cortantes manuais: enxada ou machado.

Na caixa proximal:

• Paredes laterais, vestibular e lingual, convergentes para oclusal.

• Parede axial em dentina e convergente para oclusal.

• Diedro áxio-pulpar arredondado.

• Parede cervical:

A localização será definida pela extensão da cárie: devemos


observar a altura em que se encontra a dentina hígida. Se esse limite for
na altura do ponto de contato, a dentina e o esmalte na parede cervical
devem ficar no mesmo plano. Caso a cárie se estenda para a cervical,
o esmalte da parede cervical deve ser aplainado para acompanhar a
orientação dos prismas de esmalte.

Quando o paciente apresenta dificuldades para a higienização,


devemos estender a parede cervical até liberar o contato com o dente
vizinho – “forma de conveniência”;

Supragengival (Figura 1.34).

• Aplainamento da parede cervical em esmalte: realizado quando a


parede cervical estiver mais próxima da margem gengival.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 59


Figura 1.34 | Imagem ilustrativa de um molar seccionado no sentido mésio-distal

Fonte: elaborada pelo autor.

Observa-se um preparo cavitário MOD (mésio-ocluso-distal)


com parede cervical mesial posicionada no terço gengival. Dessa
forma, devemos realizar o aplainamento do esmalte acompanhando
a orientação dos prismas de esmalte. Na distal, a parede cervical foi
posicionada na altura do terço médio, na mesma orientação dos
prismas de esmalte (não requer aplainamento).

Atenção
Quando a caixa proximal é confeccionada, o diedro áxio-pulpar fica em
ângulo reto e cria um efeito de cunha que leva à fratura da restauração.
Para evitar a concentração de esforços, faz-se o arredondamento do
diedro áxio-pulpar (Forma de Resistência). Utilizar os instrumentos
cortantes manuais: recortadores de margem gengival.

• Paredes vestibular e lingual nas caixas proximais formando


um ângulo de 90° com a face externa do dente, acompanhando a
distribuição radial dos prismas de esmalte (Curva reversa de Hollemback
– Figura 1.35) e convergentes para a oclusal para preservar a crista
marginal “Forma de Resistência”.
Figura 1.35 | Curva reversa de Hollemback

Fonte: elaborada pelo autor.

60 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


3. Remoção do tecido cariado

Assim como descrito anteriormente, se, após realizar a forma de


contorno, permanecer lesão de cárie em ponto na parede pulpar ou
na parede axial, faremos a remoção apenas da dentina comprometida.
Figura 1.36 | Simulação de cárie em ponto na parede pulpar

Fonte: adaptado de Santos (1979, p. 48).

• Iniciar a remoção da cárie em ponto com curetas de tamanho


compatível com a lesão, com movimentos da periferia para o centro,
removendo a dentina menos resistente, comprometida pela cárie.

• Seguir com broca esférica carbide, em baixa rotação, sob refrigeração,


movimentos intermitentes (para evitar o aquecimento).

• Reutilizar as curetas para verificar a qualidade e a resistência da dentina.

4. Forma de resistência: permite que o remanescente resista às forças


mastigatórias e a alterações volumétricas decorrentes das variações
térmicas e da reação de presa de alguns materiais.

• Abertura vestíbulo-lingual não superior a 1/4 da distância intercuspídica.

• Paredes circundantes ligeiramente convergentes para oclusal.

• Inclinação das vertentes triturantes das cúspides interfere na inclinação


das paredes circundantes: em faces oclusais mais rasas, com menor
inclinação das vertentes triturantes, as paredes circundantes podem ficar
menos retentivas (Figura 1.36-B); em cúspides mais altas e sulcos oclusais
mais profundos, com maior inclinação das vertentes triturantes, as paredes
circundantes poderão ficar mais retentivas (Figura 1.36-C). Seguindo essa
configuração, os prismas de esmalte ficam paralelos à parede da cavidade.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 61


• Parede pulpar e cervical planas, paralelas entre si e perpendiculares ao
longo do eixo do dente; essas características promovem uma distribuição
das forças que incidem sobre os dentes.

• Ângulo cavo superficial: 105° a 115° e ângulo da margem de amálgama


entre 70° e 90°.

• Ângulos internos arredondados: favorecem a dissipação das tensões


sem comprometer a retenção do material restaurador.
Figura 1.37 | Lesão de cárie oclusal, com diferentes inclinações das vertentes triturantes

Fonte: elaborada pelo autor

5. Forma de retenção: responsável pela manutenção da restauração


em posição na cavidade.

• A profundidade deve ser igual ou maior do que a largura vestíbulo-


lingual (V-L).

• Caso a extensão V-L seja maior do que a largura, devemos realizar


as retenções adicionais através de sulcos, orifícios ou canaletas quando
o dente for receber uma restauração em amálgama de prata.

• Paredes circundantes convergentes para a oclusal também


favorecem a retenção (Figura 1.38).
Figura 1.38 | Molar seccionado no sentido V-L mostrando o posicionamento da broca
329 ou 330

Fonte: elaborada pelo autor.

62 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


6. Forma de conveniência: nos casos em que existe comunicação
da cárie proximal com lesão na oclusal, o acesso é através da lesão
no sulco oclusal, pois facilita a instrumentação do remanescente e da
lesão de cárie.

7. Acabamento das paredes em esmalte: não deixar esmalte


sem suporte dentinário; cavo superficial regularizado visa melhorar a
adaptação do material restaurador às paredes da cavidade; melhorar o
vedamento marginal e diminuir a infiltração marginal.

Reflita
Os preparos cavitários podem ser finalizados com a utilização de
instrumentos cortantes manuais e quando este cuidado é tomado as
restaurações mostram-se mais duradouras minimizando a recidiva de cárie.

Figura 1.39 | Imagem ilustrativa do aplainamento da parede de esmalte proximal


com recortadores de margem gengival

Fonte: adaptada de Santos (1979, p. 63).

Lembre-se
Acabamento das paredes em esmalte

Aplainamento: remoção do esmalte sem suporte dentinário


especificamente na parede cervical. Se este passo for negligenciado,
o esmalte sem suporte irá fraturar com o tempo, cria-se uma área de
retenção de placa bacteriana e recidiva de cárie. A inclinação da parede
cervical em esmalte vai depender da altura em que termina a lesão de
cárie e da inclinação dos prismas de esmalte nessa região.

8. Limpeza da cavidade: remover resíduos de esmalte, dentina e


outros detritos das paredes cavitárias, a fim de melhorar o contato com
o material de proteção-pulpar e amálgama de prata. Pode ser realizada
com a água de hidróxido de cálcio ou com clorexidina a 0,2%.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 63


Características finais da caixa oclusal Características finais das caixas prox-
imais
• Parede pulpar ligeiramente abaixo do • Paredes laterais convergentes para
limite amelodentinário. oclusal, formando um ângulo reto com
• Paredes circundantes convergentes a superfície externa.
para oclusal (dependendo da inclinação • Parede axial em dentina e convergente
das vertentes triturantes). para oclusal.
• Ângulos internos arredondados. • Diedro áxio-pulpar arredondado.
• Ângulo cavo superficial entre 105° a • Acabamento no esmalte: reto ou
115°. aplainado.
• Ângulos internos arredondados.

Cavidades classe II do tipo slot

A partir de estudos de Almiquist, Cowan e Lambert, em 1973, as lesões


de cárie estritamente proximais passaram a ser removidas em preparos
conservadores, através de acesso pela crista marginal, denominado slot
vertical. Para realizar esse preparo são utilizadas as brocas 329 ou 330, as
paredes laterais V e L serão ligeiramente convergentes para oclusal, com
pequena largura, sem romper o contato com o dente vizinho. Quem
determina a extensão do preparo é a lesão de cárie e para a confecção
do limite cervical devemos observar a altura em que se encontra a
dentina hígida. Se esse limite for na altura do ponto de contato, a dentina
e o esmalte na parede cervical devem ficar no mesmo plano. Caso a
cárie se estenda para a cervical, o esmalte da parede cervical deve ser
aplainado para acompanhar a orientação dos prismas de esmalte.

Exemplificando

Figura 1.40 | Simulação de um slot vertical na mesial de um segundo pré-molar,


conservador, com limite cervical na altura do ponto de contato com o dente vizinho

Fonte: elaborada pelo autor.

Em 1982, Roggenkamp e colaboradores propuseram um tratamento


ainda mais conservador para as lesões de cárie estritamente proximais,
sem envolvimento da crista marginal, com dentina íntegra para manter

64 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


o esmalte, chamado de slot horizontal. O acesso à lesão é pela face
palatina, entre os pré-molares e molares superiores, ponto em que
existe um maior espaço para facilitar o procedimento.

Exemplificando

Figura 1.41 | Simulação de uma cárie proximal, sem envolvimento da crista marginal
e slot vertical na mesial de um segundo pré-molar, com acesso por palatina

Fonte: elaborada pelo autor.

Não existe um único desenho cavitário que atenda às diferentes


situações clínicas que vamos encontrar ao longo do exercício
profissional, também não existe a possibilidade de pensarmos em um
único material para realizar as restaurações de dentes posteriores. Os
compósitos odontológicos são uma alternativa muito importante para
o tratamento dos dentes, principalmente por permitirem uma estética
bastante favorável e a interação com o substrato dentário através dos
sistemas de união. Mas não podemos nos esquecer que o amálgama
de prata é um material que apresenta mais de cem anos de sucesso e
que em algumas situações clínicas deve ser o material de eleição para a
restauração de dentes posteriores com qualidade e durabilidade, ainda
que a estética seja comprometida.

Pesquise mais
Estude mais sobre o assunto em MASOTTI, A. S.; Conceição E. N.
Restaurações de amálgama. In: Ewerton Nocchi Conceição. Dentística:
Saúde e Estética. 2. ed. Porto Alegre: Artmed., 2007, 584 p. Neste
capítulo os autores abordam as restaurações de amálgama descrevendo
características dos preparos cavitários e preparos mais extensos, protocolo
de restauração e dicas clínicas!

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 65


Sem medo de errar

Após rever a classificação das cavidades e aprender sobre os


diferentes tipos de preparos cavitários, podemos resolver a situação-
problema:

Um paciente chega à Clínica da Universidade se queixando de


dificuldade para passar fio dental entre os molares inferiores do lado
esquerdo, o primeiro e o segundo: o fio desfia e, muitas vezes, fica preso.
Durante o exame clínico, constatou-se a presença de pigmentação no
sulco oclusal e na fóssula distal do primeiro molar, e no segundo molar
inferior esquerdo não foi possível observar cárie. A papila gengival
entre esses dentes apresenta-se avermelhada e com aumento de
volume. Após a radiografia, o acadêmico observou presença de cárie
nas faces mesial e distal do primeiro molar que se estendiam para a
dentina e também na mesial do segundo molar, embora esta fosse
uma lesão menor. Qual é uma possível representação gráfica dos
dentes acometidos pelas lesões de cárie? Qual a possível causa da
alteração da papila gengival na região? Como esses dentes devem ser
preparados para receber restaurações em amálgama?

Atenção
Para a resolução desse caso foi importante o auxílio do exame radiográfico,
pois nos dois dentes não era possível verificar a presença de cárie nas
proximais durante o exame clínico.

Uma representação gráfica dos dentes envolvidos pelas lesões da


cárie é: primeiro molar inferior esquerdo 36 e segundo molar inferior
esquerdo 37. A alteração da papila gengival na região pode ser causada
por erro na utilização do fio dental, pois o paciente relatou dificuldade
para passar o fio e isso pode estar causando um trauma no tecido
gengival. A presença de cárie nas faces proximais pode estar associada
à deficiência de higienização nessa área, manutenção de placa
bacteriana, que também pode ser o agente etiológico da alteração
gengival. No dente 36, vamos realizar um preparo cavitário de classe II
MOD com as seguintes características: na caixa oclusal, parede pulpar
ligeiramente abaixo do limite amelodentinário; paredes circundantes
convergentes para oclusal (dependendo da inclinação das vertentes

66 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


triturantes); ângulos internos arredondados; ângulo cavo superficial
entre 105° a 115°. Na caixa proximal, paredes laterais convergentes
para oclusal, formando um ângulo reto com a superfície externa;
parede axial em dentina e convergente para oclusal; diedro áxio-pulpar
arredondado; acabamento no esmalte cervical: reto ou aplainado;
ângulos internos arredondados.

Lembre-se
Os princípios biológicos dos preparos cavitários sempre devem ser
considerados durante o preparo dos dentes, em qualquer técnica
restauradora.

Avançando na prática

Fratura

Descrição da situação-problema

Um paciente, que já recebeu tratamento de canal, se apresenta na


Clínica da Universidade com relato de fratura do dente 25, e com queixa
de sensibilidade no dente 26. Ao exame clínico, observa-se a perda da
porção coronária do dente 25 e lesão de cárie na mesial do dente 26,
na altura do ponto de contato com manutenção da crista marginal
íntegra. Sabendo que o paciente será encaminhado para a reabilitação
por prótese do dente 25, como podemos resolver a sensibilidade no
dente 26?

Resolução da situação-problema

O acadêmico deverá realizar a radiografia dos dentes para correto


diagnóstico. Para resolver a sensibilidade do dente 26, o cirurgião-
dentista deve realizar um preparo cavitário classe II do tipo slot horizontal,
acessando diretamente a lesão na mesial do dente.

Faça você mesmo


Quais as características de um preparo cavitário classe II – slot horizontal?

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 67


Faça valer a pena
1. Qual o princípio que define a área de superfície do preparo cavitário?
a) Forma de abertura.
b) Forma de contorno.
c) Forma de retenção.
d) Forma de resistência.
e) Acabamento das paredes em esmalte.

2. Após o exame clínico cuidadoso, correto diagnóstico de cárie e realização


da profilaxia do dente, qual o próximo passo de um preparo cavitário?
a) Abertura da cavidade.
b) Forma de contorno.
c) Forma de conveniência.
d) Acabamento do esmalte.
e) Verificação do contato oclusal.

3. Como é determinado o acesso à lesão nas cavidades classe II?


a) Localização e extensão da lesão.
b) Forma de contorno.
c) Forma de resistência.
d) Profilaxia.
e) Forma de retenção.

68 U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata


Referências
ALMIQUIST, T. C.; COWAN, R. D.; LAMBERT, R. L. Conservative amalgam restorations.
Journal Prosthetic Dentistry, São Paulo, v. 29, n. 5, p. 524-8, 1973.

AMORE, R. et al. Preparo cavitário para restaurações diretas: novas perspectivas. In:
PEREIRA, J. C.; ANAUATE-NETTO, C.; GONÇALVES, S. A. (Org.) Dentística: uma abordagem
multidisciplinar. São Paulo: Artes Médicas, 2014. p. 129-148.

BARATIERI, L. N. Dentística: procedimentos preventivos e restauradores. São Paulo: Editora


Santos, 2002.

BLACK, G. V. A work of operative dentistry. Chicago: Medico-Dental Publishing, 1908.

BUSATO, Adair Luis S. (Coord.) Dentística: filosofia, conceitos e prática clínica. GBPD: Porto
Alegre: Artes Médicas, 2006.

GBPD. Princípios gerais do preparo cavitário. 2005. Disponível em: <http://pt.slideshare.


net/profcelsoklein/principios-gerais-do-preparo-cavitrio>. Acesso em: 8 set. 2016.

MASOTTI, A. S.; CONCEIÇÃO, E. N. Restaurações de amálgama. In: Ewerton Nocchi


Conceição (Corrd.). Dentística: saúde e estética. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007, 584 p.

MECKEL, A. H.; GRIEBSTEIN, W. J.; NEAL, R. J. Structure of mature human dental enamel
as observed by electron microscopy. Archives of Oral Biology, São Paulo, v. 10, n. 5, p.
775-782, set./out. 1965.

MONDELLI, J. Técnica de instrumentação de cavidades modernas de classe II para


amálgama. Estomato Cult., n. 8, p. 184-92, 1972.

MONDELLI, J. et al. Dentística: procedimentos pré-clínicos. São Paulo: Editorial Premier,


1998, 260 p.

PEREIRA, J. C.; ANAUATE-NETTO, C.; GONÇALVES, S. A. (Org.) Dentística: uma abordagem


multidisciplinar. Grupo Brasileiro de Professores de Dentística. São Paulo: Artes Médicas,
2013, 324 p.

PORTO, C. L. A.; PEREIRA, J. C.; ANAUATE-NETTO, C. Cariologia: grupo brasileiro de


professores de dentística. São Paulo: Artes médicas, 2008, 240 p.

ROGGENKAMP C. L., COCHRAN, M. A., LUND, M. R. The facial slot preparation: a


nonocclusal option for Class 2 carious lesions. Operative Dentistry, São Paulo, v. 7, n. 3, p.
102-6, 1982.

SANTOS, W. Dentística operatória: preparos cavitários e restaurações. São Paulo: Meddens,


1979.

U1 - Preparos cavitários para restaurações de amálgama de prata 69


Unidade 2

Conceitos básicos da oclusão


e dentística
Convite ao estudo
Caro aluno, chegamos à Unidade 2, mas antes de abordamos
os conteúdos desta, vamos relembrar que, na unidade anterior,
aprendemos a realizar alguns preparos cavitários para restaurações
diretas, como a classe I e a classe II tipo slot horizontal. Com esse
aprendizado, vamos restaurá-los agora? Isto é, vamos inserir o
material na cavidade? Sim, mas vamos com calma! Antes disso,
vamos atentar para um importante aspecto que facilitará a execução
e melhorará os resultados: a oclusão. Você já ouviu frases, como “a
restauração está alta” ou “esse dente está tocando mais forte”? Pois
é, nesses casos, o dentista acaba tendo que usar brocas, desgastar
parte da restauração e desfazer toda aquela escultura no material,
no qual havia “caprichado tanto” quando estava esculpindo. Isso é
algo comum de acontecer. Mas com você pode ser diferente se
aplicar alguns conhecimentos de oclusão dental. Seus pacientes
ficarão mais satisfeitos com os resultados, e seu trabalho será mais
eficaz, sem ter de gastar muito tempo refazendo ou corrigindo
a escultura. Nesta seção, veremos importantes conceitos de
oclusão aplicados à dentística. Acredite, se você colocar em prática
os conhecimentos toda vez que for fazer uma restauração, seu
trabalho se tornará mais fácil. Mas isso é só o início, em outras
unidades, você verá ainda mais sobre oclusão.

As competências gerais e específicas desta tão importante


disciplina são: conhecer e aplicar os princípios básicos de oclusão
dental e relações maxilomandibulares à dentística restauradora, por
meio de atividades em laboratório pré-clínico; conhecer, identificar
e aplicar as relações oclusais entre dentes e arcos dentários às
técnicas restauradoras em manequins, sendo nosso objetivo
principal de aprendizagem: compreender e identificar o padrão de
oclusão ideal e as variações de normalidade.
Nesta seção, você, aluno, tem como objetivo específico
compreender e identificar o padrão de oclusão ideal e as variações
de normalidade.

Para iniciar nossos estudos, apresentamos uma situação


hipotética, vivenciada por Luiz e Bruna, que pode ocorrer a
qualquer momento com você durante a prática clínica. O paciente
Lucas, 15 anos, compareceu à clínica de odontologia da faculdade
para tratamento dentário. Ao realizar o exame físico intrabucal
dos tecidos (duros e moles) e o exame radiográfico interproximal,
os alunos diagnosticaram: cálculo, gengivite, lesão de cárie nas
faces mesial e oclusal do elemento 15 e área radiopaca, sugestiva
de cárie, restrita à face distal no elemento 14. No elemento 15, a
lesão era visível clinicamente, mas no 14 só foi possível identificá-
la após o exame radiográfico. Em ambos os casos, as lesões de
cárie apresentavam-se aquém da metade da espessura de dentina,
entre a junção amelodentinária e a câmara pulpar. A mãe de Lucas
diz que seu filho se queixa de dor nessa região após se alimentar,
especialmente com doces, mas não chegou a dar nenhum
analgésico ao garoto, porque “depois de um tempo a dor passa”. Ela
o “manda logo escovar os dentes depois de comer, para não ficar
ouvindo reclamação de dor”. Após remoção de todo o cálculo, Luiz
anestesiou, realizou o isolamento absoluto do campo operatório
e fez um slot horizontal para amálgama, na distal do elemento 14.
Bruna aproveitou a situação e fez a outra restauração classe II na
mesial do elemento 15, com amálgama. Bruna esculpiu sulcos e
crista marginal bem pronunciadas, como aquelas do elemento 25,
criando um efetivo ponto de contato interproximal com o dente
ao lado, já restaurado por seu parceiro Luiz. A dupla trabalhou
bastante e já estavam todos cansados, incluindo o paciente. Então,
com Lucas ainda deitado na cadeira, Bruna colocou um pedaço
de papel carbono e deu logo o comando: “morda e veja se está
alto”. Lucas, balançando a cabeça, manifestou que não estava. Luiz
foi logo marcando o retorno para dispensar o paciente e poder
lavar os instrumentais. Quando voltou, após dois dias, Lucas disse
que estava sentindo dor naqueles dentes, só que agora era uma
dor contínua, e parecia “sentir seu coração batendo no dente” e
“não conseguia encostá-los”. Os dentes inferiores também estavam

72 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


sensíveis e, dessa vez, Lucas está tomando analgésico para aliviar a
dor. Qual será o problema dessa vez? Os dentes inferiores também
teriam cárie? Alguma alteração na polpa? Seria uma reação adversa
ao amálgama? Falta de adaptação ou retenção do amálgama
às paredes do preparo? No decorrer desta seção, veremos que
a aplicação de conhecimentos básicos em oclusão pode, já na
anamnese, prevenir situações indesejadas como essa que foi
descrita. Atenção, pois você também deverá relembrar e retomar
temas anteriores, como anatomofisiologia humana, princípios
gerais do preparo cavitário, exame complementar radiográfico
e nomenclatura das cavidades, para melhor entendimento. Na
Seção 2.2, vamos aprender como se faz uma boa escultura para,
na Seção 2.3, restaurar os preparos cavitários para amálgama que
aprendemos na unidade anterior. Nesse ponto estaremos aptos a
discutir sobre restaurações provisórias na Seção 2.4.

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 73


Seção 2.1
Princípios básicos de oclusão e sua aplicabilidade
na dentística restauradora

Diálogo aberto
Olá, alunos! Vamos relembrar a situação hipotética que
apresentamos no Convite ao estudo, na qual Luiz e Bruna atenderam o
paciente Lucas, de 15 anos, que compareceu à clínica de odontologia
da faculdade para tratamento dentário. Durante os exames, os alunos
diagnosticaram: cálculo, gengivite e lesão de cárie nas faces mesial e
oclusal do elemento 15 e área radiopaca, sugestiva de cárie, restrita à
face distal no elemento 14. Em ambos os elementos dentários (14 e 15),
as lesões de cárie apresentavam-se aquém da metade da espessura
de dentina, entre a junção amelodentinária e a câmara pulpar. Luiz
removeu todo o cálculo, anestesiou, realizou o isolamento absoluto
do campo operatório e fez um slot horizontal para amálgama, na
distal do elemento 14. Bruna também ajudou e fez a outra restauração
classe II na mesial do elemento 15, com amálgama, usando como
modelo o elemento 25, Bruna esculpiu sulcos e crista marginal bem
pronunciadas, criando um efetivo ponto de contato interproximal
com o dente ao lado, já restaurado por seu parceiro Luiz. Dois dias
depois, Lucas retornou dizendo estar sentindo dor contínua naqueles
dentes, e seus dentes inferiores também estavam sensíveis, sendo
necessário analgésico para aliviar a dor. O que aconteceu para que
Lucas sinta dor? Podemos pensar em várias perguntas, como: será
que os dentes inferiores também teriam cárie? Ou alguma alteração
na polpa? Seria uma reação adversa ao amálgama? Falta de adaptação
ou retenção do amálgama às paredes do preparo? Para que você
consiga ajudar Luiz e Bruna a resolverem o caso de Lucas, fique
atento, precisa aprender sobre os princípios básicos da oclusão, das
relações maxilomandibulares, as posições e movimentos, a análise
oclusal funcional, bem como a aplicabilidade clínica da oclusão em
dentística restauradora.

74 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Não pode faltar
O exame clínico oclusal do paciente deve ser feito já na
anamnese, ou fase interrogatória, em que o paciente relata
seus sintomas detalhadamente, incômodos, hábitos, profissão e
expectativas com relação ao tratamento odontológico. No exame
físico, ou fase objetiva, o dentista deverá avaliar as condições
clínicas intrabucais (mucosas, lábios, língua, orofaringe e dentes)
ou extrabucais (como região das têmporas, face, ouvido, região
massetérica e cervical) e pesquisar os sinais e sintomas relatados
pelo paciente. É importante também avaliar a simetria facial, os
movimentos mandibulares e as relações de contatos entre dentes.
Oclusão significa fechamento, assim, no fechamento completo
da boca, idealmente espera-se que exista toque equilibrado
(uniforme) entre todos os dentes posteriores inferiores contra os
superiores, e que esse contato ocorra sob a forma de pontos, entre
as cúspides vestibulares dos dentes inferiores e o fundo das fossas
(ou cristas marginais) dos dentes superiores. Idealmente, espera-
se que, em cada um desses contatos, apenas as vertentes das
cúspides se toquem, em três pontos distintos no mesmo dente,
sem que a ponta da cúspide propriamente dita alcance o fundo
da fóssula do dente antagonista (tripodismo). Nesse momento, os
dentes anteriores (caninos e incisivos) devem estar na iminência de
contato (isto é, muito próximos de constituir efetivo contato com
seus antagonistas). De acordo com a localização dos pontos de
contato nos dentes, suas cúspides são designadas como “cúspides
de trabalho” ou “cúspides de balanceio” (ou “não trabalho”).
Idealmente, as cúspides vestibulares nos inferiores ou paliativas
dos superiores devem ser cúspides de trabalho, e as linguais dos
inferiores e vestibulares dos superiores devem ser cúspides de
balanceio. Se essa relação não for observada (ou respeitada no
momento de realizar uma restauração), podemos estar diante de
uma patologia oclusal. Outra característica importante é a linha
média da face (ou do corpo) coincidir com a mesial dos dentes
anteriores superiores e inferiores, favorecendo a simetria facial,
que é mais agradável esteticamente.
Reflita
Linha média da face e linha média do arco dentário: você já sabe que a
linha média da face, determinada pelo plano sagital, divide o corpo em

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 75


duas metades iguais. Entretanto, muitas vezes, essa linha não coincide
com aquela que divide os arcos dentários (superior e inferior).

Figura 2.1 | Linha média da face (tracejada) e linha média do arco dentário superior
e inferior, no detalhe

Fonte: acervo do autor.

Num primeiro momento, a mandíbula parece ter uma articulação


simples, como uma dobradiça, que só faz movimentos simples de
abrir e fechar. Entretanto, durante a mastigação e a fala, a mandíbula
se movimenta nos planos sagital, frontal e transversal, coordenados
por uma das mais complexas articulações do esqueleto humano,
a articulação temporomandibular (ATM), que apresenta quatro
superfícies ósseas (côndilo e cavidade glenoide do osso temporal,
direita e esquerda), recobertas por tecido cartilaginoso, onde há
interposição de um disco articular, banhado por líquido sinovial,
envolto por uma cápsula fibrosa, conectada por três ligamentos que
limitam os movimentos (esfenomandibular; temporomandibular;
estilomandibular). Por sua vez, esses movimentos ocorrem pela
contração e pelo relaxamento simultâneos de potentes músculos
para abaixar a mandíbula (digástrico, milo-hióideo, gênio-hióideo,
pterigóideo lateral), para fechá-la (masseter, pterigóideo medial,
porção anterior do temporal), movimentá-la para frente (pterigóídeos
laterais, fibras superficiais do masseter, fibras anteriores do temporal),
trazê-la para trás (fibras profundas do masseter, fibras posteriores do
temporal) ou movimentá-la para os lados (pterigóideo lateral do lado
oposto ao movimento).
Exemplificando
Caro aluno, vamos conhecer mais sobre movimentos mandibulares?
Acesse o link e veja alguns dos movimentos mandibulares. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=4CF8-xqvxg8>. Acesso em:
10 jun. 2017.

76 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Assimile
Assim como os ligamentos, os dentes também podem limitar em parte
esses movimentos mandibulares. Isso é muito importante para todo
cirurgião-dentista, uma vez que irá atuar diretamente sobre os dentes de
seus pacientes. Desse raciocínio, podemos extrair alguns parâmetros das
relações maxilomandibulares que nos podem ser úteis:

1 - Relação cêntrica (RC).

2 - Máxima intercuspidação habitual (MIH).

3 - Relação de oclusão cêntrica (ROC).

4 – Dimensão vertical de oclusão (DVO).

5 – Espaço funcional livre (EFL).

A relação cêntrica (RC) é um parâmetro exclusivamente


relacionado à posição dos côndilos mandibulares e respectivas
cavidades glenoides. Em outras palavras, refere-se à posição em
que os dois côndilos estão no “pico mais alto” da cavidade glenoide
(posição mais posterior e superior da cavidade), conhecida como
eminência articular, independentemente da relação entre os dentes.
Mas então qual é a importância dessa posição? Simples: é uma posição
“confortável” para a articulação (côndilo, cavidade glenoide, disco
articular, cápsula, ligamentos), para os músculos e a propriocepção
(localização espacial do corpo, identificada pelo próprio cérebro).
Essa posição, por exemplo, é a utilizada como referência para o
cirurgião-dentista confeccionar uma prótese total.
A máxima intercuspidação habitual (MIH) é outra posição
mandibular, agora relacionada exclusivamente aos dentes posteriores,
sem qualquer referência à posição dos côndilos, e trata-se da posição
em que há o maior número de contatos entre dentes superiores versus
inferiores, bilateralmente. Pode-se ainda extrair outras correlações
intermaxilares de interesse: o trespasse horizontal (também
conhecido como overjet) e o trespasse vertical (ou overbite).

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 77


Figura 2.2 | Representação esquemática do trespasse horizontal e vertical de
incisivos centrais, em oclusão

Fonte: acervo do autor.

Essas características estão relacionadas à distância entre os incisivos


(maxilares e mandibulares), quando avaliados no sentido vertical e
horizontal. Essas medidas permitem distinguir alguns tipos frequentes
de más oclusões, como “mordida aberta anterior”, quando os incisivos
apresentam valores negativos de trespasse vertical, e “mordida topo a
topo”, quando o trespasse vertical e horizontal for igual a zero, isto é,
as bordas incisais se tocam ao ocluir (MIH). Se compararmos a relação
maxilomandibular a “uma caixa com tampa”, a tampa (ou “arco dental
superior”) precisa ser um pouco maior que a caixa (“arco dental inferior”)
para poder fechá-la. Existem ainda patologias, como “mordida cruzada”
(anterior ou posterior), em que acontece justamente o contrário, isto é,
parte da arcada dentária superior (maxila) encaixa “por trás da arcada
inferior” (mandíbula). Compare, a seguir, as imagens em 2.3 e observe
as diferenças entre a relação dos dentes superiores e inferiores desses
três pacientes em MIH.
Se o trespasse vertical for acentuado, isto é, se o dente superior
recobrir o dente inferior por mais de 3 ou 4 mm, teremos outra má
oclusão, chamada “sobremordida” (ou “mordida profunda”). Em
situações extremas, os dentes inferiores podem chegar a tocar a
mucosa alveolar superior.
Figura 2.3 | Exemplos de relações entre os dentes nos arcos quando em oclusão

Fonte: acervo do autor.

78 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


A relação de oclusão cêntrica (ROC) é uma situação em que a
RC coincide com a MIH. Ou seja, é uma posição em que o paciente
tem máxima intercuspidação entre os dentes posteriores e, ao mesmo
tempo, seus côndilos estão em eminência articular. A essa relação
maxilomandibular, ainda que incomum de ser encontrada, é atribuída
maior harmonia oclusal, com menores desgastes dentários fisiológicos
(com a idade) e equilíbrio funcional como um todo. É natural que, com
o passar da idade, os dentes sofram desgaste em função da atrição com
os dentes antagonistas e o bolo alimentar, reduzindo-lhes o tamanho de
suas coroas. Evidentemente, esse desgaste, assim como restaurações
insatisfatórias, também terão reflexos na amplitude dos movimentos
mandibulares. Outro importante parâmetro a ser considerado é a
dimensão vertical de oclusão (DVO). É fácil compreendermos esse
aspecto se comparamos um paciente completamente edêntulo
quando está com as próteses ou quando está sem elas, ocluindo os
arcos (Figura 2.4), ou observando a superfície oclusal de um paciente
com idade avançada, ou má oclusão (Figura 2.5), com diferentes níveis
de perda da dimensão vertical de oclusão (DVO).
Figura 2.4 | Paciente com (esquerda) e sem suas próteses totais (direta) – Observe
a amplitude do movimento de fechamento bucal aumentada à direta

Fonte: acervo do autor.

Figura 2.5 | Paciente com má oclusão e acentuado desgaste na superfície oclusal


de molares e pré-molares – Note os “pontos” de contato, que se desgastaram e
formaram superfícies planas, com aspecto vítreo

Fonte: acervo do autor.

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 79


A dimensão vertical de oclusão (DVO) é definida como a posição
vertical da mandíbula, em relação à maxila, medida entre dois pontos,
na posição de fechamento máximo. Usualmente, a distância entre a
base do nariz e o mento é utiliza para medir a DVO (com auxílio do
compasso de Willis), mas outros pontos de referência na face, como
a distância entre a asa do nariz e o canto externo dos olhos também
podem ser utilizados. É natural que, com o passar da idade, todos nós
tenhamos discreta redução da DVO, mesmo na presença de todos os
dentes em função da cavidade oral. Entretanto, a extração de vários
dentes posteriores, por exemplo, leva à acentuada diminuição da DVO,
exacerbando os sulcos faciais (como nasolabial), mudando o perfil do
paciente, ou ainda provocando disfunções na ATM, o que só poderá ser
retificado com adequado tratamento reabilitador (próteses). É comum
ouvir de paciente nessa situação que, após reabilitação, “parece ter feito
uma cirurgia-plástica”, tamanha a importância da DVO.
Outro parâmetro, medido da mesma forma que a DVO, é o espaço
funcional livre (EFL), ou espaço interoclusal, que representa a dimensão
vertical quando o paciente está em repouso, isto é, sem ocluir os
dentes. Com a mandíbula em repouso postural, a diferença entre a MIH
é de, aproximadamente, 2 a 4 mm. Essa é a média da distância entre
os arcos com a qual permanecemos quando em repouso. Isso é útil
quando realizada uma reabilitação oclusal, por exemplo, para melhor
harmonização, conforto e fonação dos pacientes.
Além desses parâmetros, alguns movimentos também são
importantes para a avaliação oclusal e atuação do cirurgião-dentista:

1 - Protrusão (guia anterior).


2 - Lateralidade (trabalho e balanceio).
3 - Guia canina.
4 - Oclusão mutuamente protegida.

Como pudemos assistir no vídeo em “Exemplificando”, a mandíbula


apresenta diversos movimentos durante a fala e a mastigação, que
podem ser limitados pelos dentes, pela contração dos músculos,
tendões e pela própria ATM. Dessa forma, o cirurgião-dentista (generalista
ou especialista) precisa ter conhecimentos básicos em oclusão para
poder intervir na cavidade oral, sem interferir negativamente nesses

80 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


movimentos, os quais podemos dividir em:
Protrusão: imagine a situação: buscando melhoria estética no
sorriso, o paciente vai ao dentista para fazer facetas de porcelana (ou
“lentes de contato”) nos incisivos superiores. Dias depois da instalação,
retorna à clínica feliz com o resultado estético, mas diz que está sentindo
“diferenças ao falar”, especialmente quando pronuncia palavras como
“xícara” e “chá” (sons “fricativos”, representados por /S/). A pronúncia
desses fonemas leva a mandíbula a realizar movimento para frente, e
a restauração desses dentes como facetas, por exemplo, pode alterar
o trespasse e o espaço funcional livre (EFL), causando desconfortos ao
paciente e criando uma interferência oclusal ou “contato prematuro”.
Além da fala, esse movimento também acontece durante a
mastigação (ao partir os alimentos, por exemplo) e numa oclusão
ideal; durante a protrusão, só há contato entre os incisivos.
Lateralidade: como o nome já diz, a mandíbula movimenta-se para
os lados (horizontalmente), e é fácil visualizarmos esse movimento
se prestarmos atenção em uma pessoa que estiver mascando um
chiclete, por exemplo. É repetitivo durante a mastigação e, para melhor
compreensão, o distinguimos de acordo com os lados e toques
ocorridos da seguinte forma:
- Lado de trabalho: se o paciente movimenta sua mandíbula para a
direita, por exemplo, só devem ocorrer contatos nesse mesmo lado,
nos dentes posteriores. Dessa forma, do mesmo lado do movimento,
os dentes INFERIORES devem “esfregar” suas vertentes de cúspides
vestibulares (lisa) nas vertentes de cúspide vestibulares dos dentes
SUPERIORES (“triturantes” ou “de trabalho”).
- Lado de balanceio: corresponde ao lado oposto ao qual a mandíbula
se movimenta. É também conhecido por “lado de não trabalho” ou
“contralateral”. Neste lado, idealmente, não deve haver nenhum tipo de
contato durante o movimento, pois irá interferir no movimento. Se isso
for observado, teremos pontos de contato que são definidos como
uma interferência oclusal ou também “contato prematuro”.

Pesquise mais
Acesse o link e veja mais sobre alguns dos movimentos mandibulares.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bPniWWXOuR4>.
Acesso em: 15 jun. 2017.

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 81


Guia canina: durante os movimentos de lateralidade, o canino
inferior desliza na concavidade palatina do canino superior e,
idealmente, deve tirar o contato de todos os demais dentes do arco.
Função em grupo: a desoclusão, neste caso, é realizada “em grupo”,
isto é, não só pelos caninos, mas por todos os molares, pré-molares e o
canino, durante os movimentos de lateralidade.
Dessa forma, de acordo com o tratamento a ser realizado
pelo cirurgião-dentista, os movimentos mandibulares devem ser
norteados por dois tipos de oclusão: oclusão mutuamente protegida
(ou orgânica) e oclusão balanceada bilateral. No primeiro tipo, os
tratamentos restauradores procuram estabelecer a guia canina e/ou
função em grupo como meta a ser atingida. É importante ressaltar
que não é incomum encontrarmos pacientes que apresentam guia
canina de um lado e função em grupo do outro lado da arcada. Em
todo caso, esses são padrões aceitos como fisiológicos e que poderão
proporcionar desgastes dentários mais uniformes, com consequência
do avanço da idade do paciente, disfunções articulares ou musculares.
Já a oclusão balanceada bilateral é o tipo de oclusão em que serão
admitidos toques bilaterais simultâneos (lado de trabalho e lado de
balanceio) durante a lateralidade. Entretanto, esse padrão de oclusão é
restrito a pacientes reabilitados com prótese total superior e inferior, por
oferecer maior estabilidade às próteses mucossuportadas.
Em uma oclusão normal, cada um dos dentes superiores deverá
se opor contra dois dentes inferiores (independentemente de contato).
Isso acontece porque os dentes superiores são naturalmente maiores
que os dentes inferiores e o crescimento da maxila, ainda nos estágios
embrionários, que ocorre mais rapidamente, com padrão de ossificação
diferenciado.
Idealmente, para que o papel carbono utilizado para registrar os
pontos de contato entre os dentes não interfira no exato local de toque,
o papel teve ser o mais fino possível. Estudos apontam que o ideal seja
menor ou igual a 20 µm (micras: milésima parte do milímetro, pelo
Sistema Internacional de Unidades - SI), posicionado sobre a superfície
dos dentes onde ocorre o toque, que devem estar bem secas por um
vigoroso jato de ar da seringa tríplice. Isso deve ser feito com auxílio
de uma pinça Miller (específica para essa finalidade), que garante que
o papel carbono não se dobre durante o fechamento da boca. O
paciente deverá estar sentado na cadeira odontológica, com a cabeça

82 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


ereta. Uma das faces do papel carbono marca na cor preta, enquanto
a outra face, na cor vermelha. Esse detalhe pode ser útil para distinguir
diferentes marcações, como no exemplo da Figura 2.6.
Pesquise mais
Caro aluno, assista ao vídeo para saber mais sobre oclusão
aplicada à dentística. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=gow0GOg2Y2g> Acesso em: 10 jun. 2017.

Figura 2.6 | Detalhe de marcações com papel carbono em MIH (preto) e guia no
lado de trabalho (vermelho)

Fonte: acervo do autor.

A correlação dos dentes no mesmo arco também é um importante


parâmetro a ser observado. Idealmente, os dentes devem estar dispostos
de forma a se definir um plano oclusal. Essa linha imaginária é traçada
do ponto de contato entre os últimos molares do arco até a borda
incisal do incisivo inferior. Existem pequenas diferenças nos padrões
assumidos para traçar esse plano (exemplo: padrão USP ou Steiner),
entretanto esse é um aspecto mais relevante na Ortodontia. De todo
modo, se traçarmos uma linha entre as pontas de cúspide vestibulares
dos molares até a borda incisal dos incisivos, observaremos uma linha
ligeiramente curva. Essa curva será côncava, nos dentes inferiores
(com ponto mais acentuado na cúspide mesiovestibular dos molares
inferiores), e convexa, nos dentes superiores. Essa linha, chamada de
curva de Spee (descrita por Von Spee), deve colaborar em manter a
harmonia dos movimentos protrusivos e de lateralidade.

Exemplificando
Caro aluno, assista ao vídeo para que você entenda na prática como
ocorrem esses movimentos. Você pode assistir ao vídeo todo, mas a
parte mais importante é do início até 1:25. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=utyIp01Q6Nc>. Acesso em: 15 jun. 2017.

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 83


Figura 2.7 | Observe os modelos de gesso superior (direta) e inferior (esquerda)
quando colocados contra um espelho reto, evidenciando a curva de Spee
(tracejado vermelho)

Fonte: acervo do autor.

De modo geral, no momento de realizar qualquer tipo de restauração,


é importante ter em mente que a ausência de contatos antagonistas
entre dentes posteriores, ou contatos prematuros (exagerado ou mal
localizado), sempre acarretará em más consequências ao sistema
estomatognático. É responsabilidade de todo cirurgião-dentista saber
avaliar o padrão oclusal de seus pacientes, identificar as más oclusões,
propor tratamentos ou direcionar seus pacientes a um profissional
especializado, a fim de se evitar problemas, como: desgastes
patológicos, trincas, mobilidade, problemas periodontais, pulpites ou
necroses pulpares, desordens da ATM, problemas de mastigação,
deglutição, dor ou alterações fonéticas. Essa responsabilidade torna-
se ainda mais eminente se a causa for decorrente de um tratamento
odontológico, como uma restauração ou uma prótese que negligencie
conhecimentos básicos de oclusão. Pense nisso!

Sem medo de errar


Você se lembra do caso do paciente Lucas, atendido na clínica da
faculdade, pelos acadêmicos Luiz e Bruna? Vamos pensar a respeito?
Lucas apresentava cavidades cariosas de profundidade rasa nos
elementos 14 e 25. Eram dentes que apresentavam sinais clínicos de
vitalidade pulpar, pois não foram observadas anormalidades no exame
físico intrabucal dos tecidos moles (tais como abscessos ou fístulas).
O paciente não relata dor espontânea, mas sim dor provocada (após
comer alimentos doces), de curta duração (a dor passa), e não precisou
tomar analgésicos (em casos mais severos de agressão pulpar, o uso
de analgésicos é ineficaz). Além disso, o exame radiográfico oferece
maior precisão a respeito da profundidade das lesões, em relação
à polpa (aquém da metade da espessura de dentina, entre a junção
amelodentinária e a câmara pulpar). Este último dado auxiliará na
avaliação da necessidade ou não do material para proteção do

84 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


complexo dentinopulpar, bem como sua escolha. No caso de Lucas,
tratam-se de cavidades rasas e, assim, podem ser restauradas sem a
necessidade de qualquer outro material de proteção pulpar, além do
verniz cavitário para amálgama. O tratamento proposto por Luiz e Bruna
foi iniciado corretamente pela raspagem periodontal, pois a presença de
cálculo poderia atrapalhar a etapa restauradora (visualização da lesão,
dos términos do preparo cavitário, além do isolamento absoluto, que
veremos em outros momentos). A restauração teve correto ponto de
contato interproximal, importante para o conforto do paciente (e para
que ele não se queixe no futuro que “para alimento entre os dentes”) e
manutenção correta das papilas gengivais interdentais (permitir correto
escoamento do bolo alimentar, evitando impactação). Talvez você
não se lembrasse muito bem da anatomia dos pré-molares superiores,
mas Bruna ainda foi esperta e observou os detalhes anatômicos
do mesmo dente do lado oposto, e viu o quão acentuado eram os
sulcos e cristas marginais para procurar reproduzi-los. Tudo certo até
agora! Mas quando a dupla de alunos tirou o isolamento e checou os
contatos oclusais em máxima intercuspidação habitual, com Lucas
ainda deitado na cadeira, naturalmente a mandíbula estaria deslocada
para trás enquanto deitado (por ação da gravidade e pelo tempo que
Lucas ficou de boca aberta, seus músculos estavam relaxados). Dessa
forma, os contatos oclusais marcados pelo papel carbono foram mais
próximos aos contatos cêntricos do que da MIH. Normalmente, nos
alimentamos sempre sentados, e quando Lucas voltou a se alimentar
(entenda-se: MIH), a recém executada restauração passou a se
comportar como um contato prematuro que, por sua vez, provocou
um quadro inflamatório agudo dos tecidos ao redor do ápice radicular
dos dentes. Definido como pericementite apical aguda, esse quadro
inflamatório descrito pode ser facilmente identificado, tratado e evitado.
Pelos aspectos discutidos anteriormente, ainda no início do tratamento,
foi possível concluir que os dentes 14 e 15 têm vitalidade pulpar. Assim,
após correto tratamento restaurador, valendo-se de todo cuidado para
a proteção do complexo dentinopulpar, solucionaria a manifestação
dos sintomas relatados. Entretanto, o quadro pós-operatório foi de dor
intensa na região. Os contatos oclusais foram conferidos às pressas, já
no final da clínica, com Lucas deitado na cadeira, com papel carbono
espesso. Vimos, nesta unidade, como deve ser feito o registro oclusal
em MIH e sua importância. O contato prematuro de Lucas está na face
oclusal do elemento 15, uma vez que no 14 foi feito um slot horizontal

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 85


(sem envolver, assim, a face oclusal). O tratamento do sintoma é
simples: após cuidadoso registro oclusal em MIH, deve-se remover o
excesso de material da restauração, nos pontos de contato marcados
pelos dentes antagonistas. Pode-se ainda prescrever um analgésico,
por curto período de uso, sempre acompanhando o desaparecimento
da dor relatada por Lucas.
Todo esse desconforto poderia ser evitado se Luiz e Bruna tivessem
feito correta conferência dos contatos oclusais em MIH, com papel
carbono fino, ao término da restauração, posicionando o encosto da
cadeira odontológica com Lucas sentado. Outro cuidado que também
poderia reduzir a chance de erro é checar os contatos oclusais antes
mesmo de realizar o isolamento absoluto e o preparo cavitário. Dessa
forma, os pontos de contato em MIH já estariam determinados nos
dentes 14 e 15 de Lucas, e Luiz e Bruna poderiam se precaver. Se, por
algum motivo, houvesse a necessidade de remover o tecido dental
sob esses pontos, estariam atentos com os contatos antagonistas no
momento de inserir o material restaurador, tomando cuidado para não
recobri-los e não interferir na oclusão.
O amálgama de prata tem mais de 200 anos de história como
material restaurador, com bastante segurança no emprego, usado
corretamente, sem relatos de injúrias pulpares provocadas pelo
material. Deficiências em sua adaptação tornariam mais susceptível
a sintomas, como dor ao mastigar, em função da movimentação de
fluidos no interior dos túbulos dentinários (teoria hidrodinâmica da dor),
ou ao deslocamento do material restaurador do interior da cavidade,
no caso de falta de retenção.

Avançando na prática
Paciente difícil: a restauração para ele está sempre alta! – Parte 1
Descrição da situação-problema
Vamos avaliar outro caso? Paciente de 29 anos apresenta lesão de
cárie envolvendo as faces oclusal e distal do 45, comprometendo crista
marginal. O elemento 46, segundo o paciente, foi extraído quando
ainda tinha uns 17 anos. Ao finalizar a restauração classe II ocluso-
distal do 45 e conferir o equilíbrio dos contatos oclusais em MIH, o
profissional precisou desgastar muito do amálgama recém-brunido,
removendo toda sua escultura. Parecia que a coroa do elemento 16
“estava maior”, com a cúspide mesioplatina tocando intensamente

86 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


a restauração do 45. Será que a escultura feita no amálgama estava
errada? Seria a presença de contato prematuro no lado de balanceio?
O que fazer? Qual é a possível explicação para essa situação clínica?

Resolução da situação-problema
A avaliação dos contatos oclusais e da posição dos dentes no
arco, antes de iniciar o procedimento restaurador, poderia ter evitado
essa situação. A ausência de qualquer elemento dental do arco faz
com que a relação dos contatos, de alguma forma, se altere. Assim, a
ausência do 46 e a própria lesão na distal do 45 podem ter favorecido
a movimentação do elemento 16, que, dessa forma, acabou invadindo
o espaço criado pela própria lesão cariosa, “não sobrando espaço para
o material restaurador”. As cúspides palatinas de molares e pré-molares
superiores são cúspides de trabalho, onde é esperado contato efetivo
em MIH, entretanto eles devem ser equilibrados, isto é, devem dividir
a força entre os dentes, o que não aconteceu após a realização da
restauração. Em situações como a apresentada, após criteriosa avaliação
clínica e radiográfica do elemento 16, pode ser aceitável a realização de
ajuste oclusal por meio do desgaste seletivo (onde ocorre o contato)
do elemento como forma de corrigir ou contornar o posicionamento
inadequado. É importante polir também o esmalte que foi desgastado,
após o ajuste (ameloplastia). Nesses casos, a espessura de tecido a ser
desgastada é sempre uma limitação, podendo, em casos acentuados,
ser indicados movimentação ortodôntica, tratamento endodôntico e
posterior desgaste, ou mesmo a exodontia, de acordo com cada caso.

Faça você mesmo


Vamos fazer uma “autoavaliação”? É simples e dá para fazer agora
mesmo. Então, concentre-se: feche seus lábios, sem tocar os dentes,
respirando pelo nariz, e relaxe. Se pudesse medir a distância entre
o mento e a base de seu nariz, essa medida (cm) seria sua dimensão
vertical de repouso (DVR). Agora, encoste os dentes (“morda”), ou seja,
leve os dentes em MIH. Mantenha essa posição e meça novamente a
distância entre os mesmos pontos (mento/base do nariz). Esse resultado
é sua dimensão vertical de oclusão (DVO). Se subtrairmos as medidas
(DVR – DVO), teremos um valor aproximado de 2 mm, que é o espaço
funcional livre (EFL). Experimente!

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 87


Faça valer a pena
1. Ana Paula, 20 anos, foi ao seu consultório para fazer um clareamento.
Terminado o tratamento, a paciente pergunta se “a mordida dela é perfeita”.
Você fez avaliação oclusal, observou as características a seguir e concluiu
que a paciente apresenta interferências oclusais.
Analise as características oclusais descritas nas afirmativas e assinale aquela
que representa uma característica ideal.
a) Todos os dentes da maxila ocluindo individualmente contra os dentes
homólogos na mandíbula.
b) Contatos antagonistas em protrusão somente entre incisivos laterais.
c) Contato antagonista entre todos os molares, pré-molares e caninos em
MIH.
d) Trespasse horizontal e vertical igual a zero.
e) Desoclusão em grupo, sem contato no lado oposto ao movimento.

2. A cirurgiã-dentista Carolina fez várias restaurações em seu paciente, em


uma mesma sessão de tratamento, em dentes anteriores e posteriores, e
está tendo dificuldade em checar os pontos de contato oclusais antes de
liberá-lo.
Assinale a alternativa que, na ordem, indica a melhor forma de solucionar
o problema da Dra. Carolina:
a) Observar os contatos em MIH nos dentes que foram restaurados e iniciar
a remoção dos contatos que indicam contatos maiores e, em seguida, os
contatos em protrusão e lateralidade; remover todos os contatos no lado
de não trabalho.
b) Aguardar o efeito anestésico passar e realizar os ajustes oclusais
necessários, em uma próxima sessão, quando realizar o acabamento e o
polimento das restaurações.
c) Remover os contatos em superfícies lisas e em dentes anteriores quando
em MIH e, durante os movimentos de lateralidade, remover os contatos no
lado de balanceio.
d) Observar os contatos em MIH de todos os dentes; verificar se há
equilíbrio na intensidade dos contatos ou se apenas dentes restaurados
marcam; só desgastar os pontos marcados sobre restaurações, seguindo
o que seria ideal, sem removê-los completamente.
e) Remover todos os contatos em lateralidade, exceto as marcações nos
caninos; remover contatos em cúspides de trabalho; remover todos os
contatos marcados sobre a superfície da restauração.

3. Marcos, 53 anos de idade, paciente na clínica da faculdade, apresenta


edentulismo inferior de molares e pré-molares, bilateralmente. Ele não

88 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


usa prótese inferior e se queixa do tamanho dos dentes inferiores, por
apresentar coroas curtas, com redução de, aproximadamente, 2 mm nas
bordas incisais.
Aplicando os conhecimentos em oclusão, assinale a alternativa que indica
a sequência correta de tratamento para Marcos:
a) Restauração dos incisivos, avaliação trespasse horizontal e vertical e
confecção de prótese fixa sobre implante.
b) Avaliação do espaço funcional livre, confecção de prótese parcial
removível e restauração dos incisivos.
c) Restauração dos incisivos, avaliação do movimento protrusivo, trespasse
horizontal, vertical e guia canina.
d) Avaliação da dimensão vertical de oclusão, confecção de prótese parcial
removível e restauração dos incisivos.
e) Restauração dos incisivos, avaliação da dimensão vertical de oclusão,
protrusão, máxima intercuspidação habitual, trespasse horizontal, vertical
e guia canina.

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 89


Seção 2.2
Enceramento diagnóstico em oclusão e dentística

Diálogo aberto
Caro aluno! Chegamos a uma seção que, talvez, seja uma das mais
representativa do velho jargão “Odontologia, ciência e arte”. Agora,
iremos adquirir mais habilidade manual, praticando um pouco mais
de escultura, mas de uma maneira diferente daquela que fizemos
anteriormente em Odontologia Morfofuncional, pois, neste momento
após o conhecimento dos princípios básicos de oclusão em dentística
na primeira seção, iremos poder aplicar todo esse conhecimento ao
esculpir, aprimorando nossa competência profissional. Os elementos
da “odontologia-arte” precisam invariavelmente ser atrelados aos
elementos vinculados à “odontologia-ciência”, para sustentar o
prestígio da profissão. As competências gerais e específicas dessa
importante disciplina são: conhecer a técnica do enceramento
progressivo e aplicar os princípios básicos da oclusão dental e das
relações maxilomandibulares à dentística restauradora, por meio
de atividades em laboratório pré-clínico. Claro, se você se dedicar,
conhecimento somado à habilidade fará de você um “doutor e artista”
de sucesso. Vamos lá?
Na situação apresentada nesta Seção 2.2, Daniela está tendo
muita dificuldade em realizar restaurações diretas no seu manequim,
no laboratório de pré-clínica. Está certa de que não gosta de fazer
esculturas, que não tem nenhum “dom” artístico, que detesta lidar com
aquele manequim “cheio de dentes” e que, quando formada, iria se
especializar em cirurgia bucomaxilofacial. No laboratório, o Professor
Hércules, que ministra a disciplina, notou que Daniela era muito
inteligente, tinha boas notas na teoria, mas tinha mesmo dificuldade
nas tarefas que exigiam habilidade manual, e foi lhe oferecer ajuda:
levou uns modelos de estudo (feitos em gesso), alguns poucos
instrumentais, uma lamparina e disse: “vamos fazer essa escultura
usando "mais a cabeça"? Daniela ouviu as palavras do professor
como se ele a estivesse desafiando, mas ainda sem entender direito,
e o professor continuou: “você é uma aluna inteligente e sabe que o

90 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


cérebro coordena sua habilidade manual. Depois da seção anterior,
todos vocês já estão aptos a fazer uma boa escultura”. E o professor
Hércules completa: ”vamos colocar isso em prática?”.
Qual seria essa solução? Algum conhecimento novo? Como
poderia aplicar os conhecimentos de oclusão para esculpir um
dente? No decorrer desta seção, veremos que isso é possível e que
a habilidade manual em esculpir é facilmente conquistada se você
já souber oclusão. Então, atenção: você deverá relembrar e retomar
temas anteriores, como princípios básicos da oclusão dental, relações
maxilomandibulares, análise oclusal funcional e a aplicabilidade na
dentística restauradora. Na Seção 2.3, vamos aplicar essa habilidade
para restaurar os preparos cavitários para amálgama e, em seguida, na
Seção 2.4, vamos discutir sobre restaurações provisórias.

Não pode faltar


Para o sucesso de um tratamento restaurador ou reabilitador,
além das habilidades técnicas do profissional, é importante conhecer
a harmonia da forma e da posição dos dentes no arco e sua função
específica. Para isso, nesta seção, iremos aprender como se faz
enceramento diagnóstico progressivo, correlacionando a anatomia
dental e sua função no padrão ideal de oclusão. Os termos desordem
e colapso oclusal também serão apresentados brevemente em um
treino de habilidade em escultura progressiva de molar e pré-molar
inferior. A superfície oclusal de um molar, por exemplo, deve ser capaz
de “segurar” e triturar os alimentos, direcionando a força no longo
eixo do dente, sem causar nenhuma interferência ao periodonto, na
relação com os demais dentes (oclusão), de modo confortável ao
paciente. Para isso, esses dentes são dotados de uma anatomia que
os permite alcançar essas funções: pontas de cúspides, vertentes de
cúspide triturantes ou lisas, arestas, sulcos, fossas e cristas marginais.
Mas será que você conhece cada um desses detalhes anatômicos?

Exemplificando
Caro aluno, assista ao vídeo para distinguir esses detalhes anatômicos
na prática, sem ter que decorar. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=lrIU7LUEKfM>. Acesso em: 20 jun. 2017.

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 91


Você sabia que, antigamente, os moinhos utilizavam grandes e
pesadas pedras para moer o trigo e obter farinha? Essas pedras eram
chamadas de “mós” (que tritura e mói os grãos), e daí se originaram
as palavras “molar” e “pré-molar” (ou seja, aqueles que “estão antes
dos molares”). Já sabemos que o relacionamento ideal desse grupo
de dentes é de nunca se tocar durante os movimentos mandibulares,
pois será prejudicial aos dentes posteriores e periodonto. Então,
eles devem ser capazes de direcionar as forças em seu longo eixo,
e não nos sentidos vestibular-lingual ou mesial-distal. Idealmente,
para que isso ocorra, quando uma cúspide vai em direção à fossa de
seu antagonista, deve formar três pontos de contato (próximos um
do outro), os quais, como já vimos na seção anterior, se chamam
tripoidismo. O contato em três pontos determinará um plano de
atuação, aumentando a eficiência de corte, com fácil desoclusão,
fazendo com que as restaurações e os dentes se desgastem menos
com o passar do tempo e da idade.
Nenhuma restauração deve “ser lembrada” pelo paciente durante
a mastigação, isto é, não se deve ter consciência ou desconforto ao
mastigar. Assim, todos os pontos de contato devem estar em harmonia
com os movimentos, não induzindo estresse ou interferências aos
músculos. Dessa forma, fazer uma “restauraçãozinha” pode não ser
tão simples assim, concorda?
Assimile
A superfície oclusal deve:

1. Segurar e triturar alimentos.

2. Estar em harmonia com os tecidos adjacentes.

3. Direcionar as forças no longo eixo do dente.

4. Promover conforto com ausência de interferência oclusal.

Os dentes posteriores não devem se tocar nos movimentos mandibulares.


Esses contatos só devem ocorrer no início e no final do movimento (isto
é, quando ocluindo).

O contato entre duas superfícies desgastadas pode gerar forças


laterais, as quais acentuarão ainda mais o estrago. Observe a Figura
2.8.

92 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Figura 2.8 | Sequência de imagens de paciente em colapso oclusal: instabilidade
oclusal (a cada abertura e fechamento, os contatos são em pontos diferentes),
desgaste dental acentuado, extrusões dentárias, dor, desconforto, impacção
alimentar, perda de dimensão vertical de oclusão, problemas de deglutição e
fonação, entre outros

Fonte: acervo do autor.

O termo “desoclusão” significa separação dos dentes posteriores


durante a abertura mandibular, que, na oclusão ideal, se inicia com
toque entre os dentes anteriores (superfícies palatinas contra bordas
incisais) e termina quando os dentes posteriores se tocam. Qualquer
contato durante esse ciclo mastigatório é chamado de interferência
oclusal. Para assimilar melhor esses fundamentos, vamos fazer um
exercício? Trata-se de uma técnica laboratorial, utilizada para auxílio
no diagnóstico, chamada enceramento progressivo. É simples: faz-
se uma cópia dos arcos dentários superiores e inferiores, valendo-
se de um tipo de material odontológico chamado material de
moldagem. Existem vários materiais nesse “grande grupo” dos
materiais de moldagem, mas para nosso exercício utilizaremos o
material conhecido como alginato (ou tecnicamente chamado de
hidrocoloide irreversível). Esse material praticamente não apresenta
restrições e com ele é possível moldar qualquer tipo de paciente
(com ou sem dentes, manequins odontológicos ou até mesmo
pacientes que fazem uso de aparelho ortodôntico fixo). O alginato é
comercializado na forma de um pó, o qual deve ser misturado com
água no momento de se utilizar, formando uma massa homogênea
que irá copiar os arcos dentários. Terminada essa cópia negativa dos
dentes, que agora chamaremos de MOLDE, iremos manipular outro
material odontológico: GESSO (como aquele utilizado por médicos
ortopedistas para dar suporte durante o reparo de ossos humanos
fraturados). Existem alguns diferentes tipos de gesso odontológico,
em função de sua dureza final e finalidade de uso, mas nessa atividade
utilizaremos gesso tipo II ou tipo III. Esse material também é vendido
na forma de um pó, ao qual deve ser adicionada uma quantidade de
água (na proporção indicada pelo fabricante) até se criar uma massa
homogênea, para ser “cautelosamente derramada” ou “vertida” dentro
do molde. Mas sem deixar criar bolhas de ar, para não originar artefatos!

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 93


É comum o dentista se referir a essa fase como “vazar o gesso”, e isso
não é gíria, não! Cuidado! Para vazar o gesso, podemos utilizar um
aparelho, que funciona como uma “mesinha vibratória”, chamado de
vibrador de gesso. Ele ajuda a massa do gesso ainda fluida a escoar em
todos os detalhes do molde. Pronto! Terminada essa fase, devemos
aguardar a cristalização do gesso (seu endurecimento). Isso leva em
torno de 40 minutos, e você irá perceber que, com o tempo, o gesso
irá perder brilho e, quando estiver quase duro, ficará quente (é uma
reação exotérmica = que libera calor). Agora é hora de remover o
gesso do MOLDE de alginato e, por fim, obter um MODELO (cópia
dos arcos dentários). Para essa aula, podemos fazer cópias de um par
de “modelos padrão” ou do manequim odontológico. O importante
é que, com o par de modelos de gesso nas mãos, estamos prontos
para nossa tarefa! Agora, vamos fazer a escultura.

Pesquise mais
Este livro (disponível na biblioteca virtual Kroton) aborda aspectos
importantes sobre o tema de forma didática e eficiente. Leia o Capítulo 10:

FERNANDES NETO, A. J.; NEVES, F. D. das; SIMAMOTO JUNIOR,


P. C. Oclusão. São Paulo: Artes Médicas, 2013. 160p. (Série Abeno:
Odontologia Essencial - Parte Clínica).

Existem diferentes técnicas para realizar o enceramento


diagnóstico, mas só para você compreender melhor o nome das
técnicas, existe uma, chamada REGRESSIVA, em que iniciamos o
trabalho de escultura em um bloquinho maciço de cera e vamos
removendo (cortando) a cera até esculpir um dente (como um artesão
esculpe uma imagem em uma madeira). Entretanto na nossa aula,
utilizaremos a técnica conhecida como PROGRESSIVA, que tem esse
nome porque iremos iniciar a escultura adicionando (acrescentando)
cera sobre o modelo de gesso e avançando (progredindo) com a
escultura dos dentes que estão sem suas superfícies oclusais (segundo
pré-molar e primeiro molar inferiores). Essa técnica será muito boa
para desenvolvermos nossa habilidade manual, da forma como iremos
realizar as restaurações no laboratório e, depois, em clínica. Assim,
vamos antes “treinar nossos olhos” e perceber alguns importantes
detalhes do 2º molar e 1º pré-molar inferiores: na superfície vestibular,
os pontos mais proeminentes (“para fora”) estão situados no terço

94 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


cervical. Já na face lingual, essas proeminências estão localizadas nos
terços médio, estabelecendo o que chamamos de contorno axial.
Os contatos proximais dos dentes posteriores se localizam no terço
oclusal da coroa, ligeiramente desviados para a vestibular, e esses
contatos não devem ocupar o espaço da papila gengival, portanto,
atenção! Os contatos proximais são responsáveis pela continuidade
do arco dental e por evitarem a movimentação dos dentes no arco.
Durante a função, sempre há um pequeno movimento dos dentes,
afinal essa é uma articulação do tipo gonfose, porém deve favorecer a
estabilidade dos dentes e a proteção da papila interdental, desviando
o bolo alimentar para vestibular ou lingual. Agora, vamos lá: acenda
sua lamparina e use-a (com cuidado) para aquecer o instrumento
gotejador. Nos laboratórios de prótese, é comum ter um gotejador
elétrico (instrumento cuja ponta aquece com energia elétrica), bico
de bunsen (a gás) ou indutores eletromagnéticos (campo magnético),
para substituir o uso da lamparina. Veja a Figura 2.9.
Figura 2.9 | Exemplos de substitutos para a lamparina a álcool: gotejador elétrico,
bico de Bunsen e aquecedor por indução (da esquerda para direta)

Fonte: <goo.gl/P1YCsL.>; <goo.gl/9G2yqd>; <goo.gl/6Srkz5>. Acesso em: 22 jul. 2017.

Depois de aquecer o instrumento na lamparina, leve-o em contato


com a cera de escultura (que está na latinha) e encoste a parte convexa
do instrumento na cera. Isso fará com que se forme uma gota de cera,
que irá se acumular no gotejador. Com cuidado, agora leve essa cera
fluida com o gotejador sobre os dentes no modelo de gesso que estão
sem a superfície oclusal (2º molar e 1º pré-molar inferior), dentes que
estamos esculpindo, e vamos criar pequenos cones de cera, sobre a
porção onde serão as futuras bases das cúspides em cera. Devemos
recriar, com a cera, um espaço de, aproximadamente, 2 mm o qual
está sem nada entre os modelos de gesso (superior e inferior) em
oclusão. A cúspide deve ser a porção “mais alta” do nosso dente, e
a fossa, a “mais baixa”. A crista marginal deve unir duas cúspides, e
os sulcos de desenvolvimento vestibulares e linguais devem terminar

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 95


em um nível abaixo do que o das cristas marginais. Os contatos
funcionais (vestibulares inferiores e palatinas superiores) devem fazer
marcações com o modelo antagonista, delimitados com o grafite. Os
cones vestibulares devem ser levantados com o gotejador aquecido,
direcionando-o para o fundo de fossa antagonista (superior). É normal
que os cones disto-vestibulares do molar tenham uma inclinação
para distal mais acentuada que as demais, para estabelecer uma boa
relação com seu antagonista. Após o levantamento de todos os cones
vestibulares, verifique se eles não irão interferir nos movimentos de
lateralidade. Lembre-se de que só o canino poderá estar tocando na
lateralidade (guia canina). Já no movimento protrusivo (“para a frente
e para trás”), a desoclusão acontece pelo contato entre os dentes
anteriores. Dessa forma, na boca do paciente real, estes são os únicos
que devem se tocar e separar os posteriores cerca de 0,5 mm a 1,0
mm, em função da curva de Spee.
Agora, vamos levantar os cones linguais. As cúspides do 2º pré-
molar são mais altas do que as do 1º pré-molar e menores do que as
dos molares. Os cones para as cúspides linguais do 1º molar inferior são
colocados, com espaço entre eles e as pontas de cúspides palatinas
superiores, durante os movimentos de protrusão e lateralidade.
As arestas longitudinais determinarão a superfície mastigatória de
cada dente, com atenção para não modificar o formato dos cones.
Em seguida, devemos confeccionar as vertentes lisas linguais das
cúspides, depositando cera sobre a superfície lingual dos cones,
fazendo-as sempre menores que as vertentes triturantes, mas com
ameias proximais mais amplas. Atenção, novamente, ao contorno
externo.

Assimile
1. As pontas de cúspides são os pontos mais altos.
2. As pontas de cúspides funcionais são projetadas para a fossa do
antagonista.
3. As pontas de cúspide funcionais não tocam o fundo da fossa
(tripoidismo).
4. As cúspides linguais são menores do que as vestibulares.
5. Todas as estruturas posteriores devem desocluir nos movimentos
mandibulares.

96 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Terminada a escultura, observe todos os contatos em máxima
intercuspidação habitual (MIH), lateralidade e protrusão. Limpe
toda a superfície esculpida com a escova de dentes e, depois, com
delicadeza, para não deformar sua escultura, faça um polimento com
um pedaço de meia de seda. Pronto! Viu só como é fácil e prazeroso
fazer “arte e ciência”?
Reflita
Caro aluno! Você já viu essas definições em Odontologia Morfofuncional.
Agora, vamos refletir sobre as definições de:

- Ponta de cúspide.

- Vertente de cúspide triturante.

- Vertente de cúspide lisa.

- Aresta.

- Sulco.

- Fossa.

- Crista marginal.

Sem medo de errar


Lembra que Daniela está tendo muita dificuldade em realizar
restaurações diretas no seu manequim? Disse que não gosta de fazer
esculturas, que não tem nenhum “dom” artístico, mas o Professor
Hércules tentou ajudá-la e propôs fazer a escultura “usando mais a
cabeça”. Depois de ter realizado o exercício de escultura progressiva,
certamente, Daniela ganhou mais habilidade manual e, sem dúvida
alguma, suas restaurações no manequim odontológico, assim
como aquelas que ela fará na clínica, estão muito mais equilibradas
funcional e esteticamente. Pode-se confiar que, se um determinado
tratamento restaurador tem perfeita função (isto é, dentes com
perfeita morfologia, posição, oclusão etc.), certamente também terá
uma estética satisfatória. Algumas filosofias de trabalho em dentística
restauradora são fundamentadas na natureza indissociável dessas duas
grandezas: estética e função. Assim, se Daniela se dedicou, aprendeu
a colocar em prática os princípios de oclusão e da Odontologia

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 97


Morfofuncional, possivelmente, será capaz de realizar restaurações
estéticas, com belas esculturas, mesmo ainda não tendo adquirido
tanta habilidade manual, como de um profissional com muitos anos
em atuação. Acredite! Você também irá conseguir fazer!

Avançando na prática
Paciente difícil: a restauração para ele está sempre alta! (Parte 2)
Descrição da situação-problema
Durante o exame clínico de seu paciente, ao avaliar o tecido
gengival ao redor dos dentes com coroas totais “mal esculpidas”,
foi possível identificar que todos apresentavam inflamação gengival
e perda óssea. Nos dentes naturais, ou com coroas totais “bem
esculpidas”, esses problemas não eram observados. Com base nos
conhecimentos de anatomia dental, oclusão e escultura dental, a
quais fatores você poderia atribuir essa diferença observada
Isso mesmo! Você se lembra da situação apresentada na
primeira seção desta unidade? Vamos recordar: paciente de 29
anos apresenta lesão de cárie envolvendo as faces oclusal e distal
do 45, comprometendo crista marginal. O elemento 46, segundo o
paciente, foi extraído quando ainda tinha uns 17 anos. Ao finalizar a
restauração classe II ocluso-distal do 45 e conferir o equilíbrio dos
contatos oclusais em MIH, o profissional precisou desgastar muito do
amálgama recém-brunido, removendo toda sua escultura. Parecia que
a coroa do elemento 16 “estava maior”, com a cúspide mesioplatina
tocando intensamente a restauração do 45. Será que a escultura feita
no amálgama estava errada? Seria a presença de contato prematuro
no lado de balanceio? O que fazer? Qual é a possível explicação para
essa situação clínica?

Resolução da situação-problema
A avaliação dos contatos oclusais e da posição dos dentes no arco,
antes de iniciar o procedimento restaurador, poderia ter evitado essa
situação. Mas, nesse momento, depois de já ter feito o enceramento
diagnóstico, podemos pensar em usá-lo neste caso. A ausência dental
poderia ser resolvida realizando-se um enceramento desse elemento
46. Por sua vez, isso ajudaria no planejamento de uma prótese (seja

98 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


ela fixa sobre dentes, sobre um implante ou removível). Feito isso, já
seria possível identificar a desarmonia dos contatos com o elemento
16, que sofreu extrusão dental (isto é, em função da ausência de
contato antagonista, “saiu um pouco do alvéolo”) e também acabou
invadindo o espaço da lesão cariosa OD no elemento 45. Assim,
se já na primeira consulta do paciente, após anamnese, exame
clínico e radiográfico, tivesse sido feito um simples modelo de
estudo, poderíamos ter identificado essa desarmonia oclusal com o
enceramento diagnóstico, de tal forma que, no retorno do paciente
(segunda visita), poderíamos apresentar um plano de tratamento mais
sensato, com a realização de um ajuste oclusal e restauração, sem a
necessidade de refazer procedimentos, ou seja, seríamos profissionais
com maior produtividade.

Faça valer a pena


1. A superfície oclusal de um molar deve ser capaz de apreender e triturar
os alimentos, direcionando a força no ___________, sem causar nenhuma
interferência ao periodonto, na relação com os demais dentes (oclusão),
de modo _______________.
Assinale a alternativa que completa as lacunas no texto:
a) centro da coroa do dente; equilibrado.
b) longo eixo do dente; simétrico.
c) centro da coroa do dente; suave.
d) longo eixo do dente; confortável ao paciente.
e) centro da coroa do dente; fácil de se esculpir.

2. Os dentes posteriores apresentam uma série de detalhes anatômicos,


para permitir que esses dentes executem a função de apreender e triturar
os alimentos, acrescentando saliva e criando o bolo alimentar a ser
deglutido, e seguir em direção ao trato digestivo. Assim, um bolo alimentar
“mal triturado” dificulta o processo de deglutição, podendo prejudicar a
absorção dos nutrientes ou reduzindo a mobilidade de todo trato digestivo.
Os detalhes anatômicos a que o texto se refere são:
a) Cíngulo, cúspides (pontas, vertentes triturantes e lisas), arestas, sulcos,
fossas e cristas marginais.
b) Cúspides (pontas, vertentes triturantes e lisas), arestas, sulcos, fossas e
cristas marginais.
c) Cíngulo, ponta de cúspide, vertentes de cúspide triturantes e lisas,
arestas, sulcos e fossas.

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 99


d) Base de cúspide, ponta de cúspide, vertentes de cúspide (triturantes e
lisas), arestas, sulcos e cristas marginais.
e) Cúspides (pontas, vertentes triturantes e lisas), arestas, cíngulos, sulcos,
fossas e cristas marginais.

3. Durante os movimentos mandibulares não deve haver toque entre os


dentes posteriores, pois, do contrário, haverá prejuízos às estruturas do
próprio dente e seu_______. Esses dentes devem ser capazes de direcionar
as forças em seu longo eixo, e não nos sentidos vestibular-lingual ou
mesial-distal. Idealmente, para que isso ocorra, quando uma cúspide vai
em direção à fossa de seu antagonista, deve formar três pontos de contato
(próximos um do outro), que, como já vimos na seção anterior, chama-se
____________.
Assinale a alternativa que completa as lacunas no texto:
a) feixe vásculo-nervoso; mútua proteção.
b) periodonto; equilíbrio oclusal.
c) feixe vásculo-nervoso; tripoidismo.
d) limiar de dor; equilíbrio oclusal.
e) periodonto; tripoidismo.

100 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Seção 2.3
Procedimentos para restauração de cavidades
para amálgama em manequim
Diálogo aberto
Caro aluno, agora vamos restaurar! Já discutimos como deve ser
feito o preparo cavitário para amálgama, compreendemos algumas
de suas propriedades físico-químicas, bem como noções básicas de
oclusão, e treinamos como fazer uma boa escultura. Agora, nesta
seção, vamos colocar tudo isso em prática? Vamos nos organizar,
montar a mesa de trabalho no laboratório pré-clínico e restaurar as
cavidades classe I oclusal e classe II, tipo slot, todas em manequim.
Em seguida, vamos aprender sobre acabamento e polimento de
restaurações em amálgama, competências gerais e específicas
desta disciplina. Para iniciar nossos estudos, apresentamos uma
situação hipotética, vivenciada por Antônio, que pode ocorrer a
qualquer momento com você durante a prática clínica. Antônio
era um excelente aluno na faculdade, mas não gostava muito de
dentística ou qualquer outra especialidade que envolvesse estética.
Antônio simplesmente desprezava isso e dizia que gostava mesmo
de estudar patologia ou cirurgia e que, no futuro, iria descobrir “a cura
da doença cárie”. Sabendo do interesse de Antônio por patologia, seu
professor pediu que ele atendesse o paciente André, de 59 anos, que
apresentava várias restaurações em amálgama e uma pequena lesão
na boca. Antônio ficou empolgado, pois essa seria a primeira doença
para a qual ele mesmo poderia fazer o diagnóstico! Então, preencheu
todo o prontuário e fez anamnese e odontograma do paciente.
Observou a presença de uma pequena lesão na borda da língua,
com, aproximadamente, 2 mm de diâmetro, de cor esbranquiçada
e centro amarelado, bordas avermelhadas (eritematosas), muito
dolorosa. Observou também que as restaurações de André estavam
todas “crescidas”, muito escuras e como se estivessem com uma
“tumefação” nas margens, parecidas com alguns carcinomas que
já tinha estudado. O paciente disse que fez aquelas restaurações
quando ainda era criança, mas que aquele “machucadinho” na língua

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 101


apareceu no último final de semana, depois do futebol. Antônio
desconfiou que a oxidação do amálgama teria criado aquela lesão e
foi logo chamar o professor para avaliar. Então, o experiente professor
examinou André e disse: “Antônio, vamos acompanhar essa lesão
na língua do Sr. André e verificar se regride até a próxima semana.
Entretanto, faça um exame minucioso nos dentes e veja se há outras
lesões em função dessas restaurações”. E agora? Quais seriam
as possíveis lesões que poderiam estar presentes numa situação
como essa? Antônio é craque em patologia e não poderia deixar de
identificar uma lesão na boca de seu paciente! No decorrer desta
seção, veremos que conhecer as características e as propriedades
dos materiais utilizados (independentemente de seu emprego:
restauração, moldagem, endodôntico, cirúrgico etc.) é muito útil
para a obtenção dos melhores resultados clínicos. Veremos também
que não existem aspectos ou conteúdos “específicos de uma ou de
outra disciplina”, e que, da mesma forma, os nossos pacientes não
apresentam problemas “desta ou daquela especialidade”, mas devem
ser sempre avaliados como um todo. Na Seção 2.3, vamos aprender
como se faz e como se conclui uma restauração em amálgama, para,
na Seção 2.4, estarmos aptos a discutir sobre restaurações provisórias.

Não pode faltar


O que significa “ter sucesso em uma restauração”? Na maioria
das vezes em que ocorre falha em uma restauração de amálgama,
é possível identificar a causa como um erro do operador (cirurgião-
dentista), e não do material propriamente dito. Dessa forma, vamos
compreender qual é a função específica de cada um dos passos da
confecção de uma restauração em amálgama, para aumentarmos
nossos índices de sucesso com nossos pacientes.
A cavidade oral é um ambiente extremamente desafiador,
do ponto de vista físico-químico, para todo e qualquer material
restaurador, pois estará constantemente banhado por um líquido
(saliva), sofrendo altas e rápidas variações de temperatura (os
alimentos podem variar de menos de 0oC a mais de 60oC), variações
de pH (alimentos e pH bacteriano) e sob constante ação de forças,
em diversas direções e intensidades (basta recordar os movimentos
mandibulares apresentados na Seção 2.1). Vale antecipar que,
como será visto detalhadamente na Unidade 3, quando refletimos
sobre biocompatibilidade, é importante analisar se o material

102 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


apresenta habilidade de ser compatível com tecidos vivos, em uma
função específica a que é destinado. Ou seja, se for aplicado para
outra finalidade, ou se for usado de outra forma, poderá não mais
exibir biocompatibilidade. Porém, quando pensamos em estética,
é fundamental considerarmos aspectos culturais e temporais.
Certamente, você já viu, por exemplo, fotos antigas de algum parente
e criticou as roupas que se usavam na época. Ou ainda, já viu fotos de
pessoas ou costumes de povos de outras partes do mundo que você
achou “estranhos”, mas que são apreciados por eles. Isso se repete
nos valores que atribuímos, por exemplo, com relação ao material
restaurador utilizado. Imagine se a top model Gisele Bündchen tivesse
uma restauração de amálgama na superfície oclusal de seu segundo
molar superior direito. Ela seria “menos bonita”? Você já pensou nisso?
Dessa forma, a cultura e os valores de uma civilização mudam
com o tempo, e por falar em tempo, esse é um dos principais
aspectos que se tem a favor no uso do amálgama (de prata) como
material restaurador. São mais de 200 anos em uso que garantem sua
biocompatibilidade como material restaurador, com inúmeros relatos
clínicos e pesquisas científicas confirmando esses detalhes. Nossos
pacientes terão acesso a vários posts na internet que condenam
o amálgama, pelo fato de conter mercúrio. Entretanto, cabe ao
cirurgião-dentista o conhecimento do material e a correta orientação
a respeito, sem sensacionalismo sobre esse tema.

Exemplificando
Caro aluno, leia esta matéria sobre o papel do cirurgião-dentista de
difundir corretamente as informações. Disponível em: <http://www.cro-
pe.org.br/noticia.php?idNot=935>. Acesso em: 22 jul. 2017.

Para que o amálgama tenha boas características mecânicas


(como dureza, por exemplo), é importante que seja corretamente
manipulado, isto é, depende muito de nós. Para facilitar o processo,
recomenda-se que o cirurgião-dentista organize sua mesa de
trabalho antes de iniciar a restauração, pois é preciso respeitar o
tempo de trabalho do material. Assim, é importante conferir todos os
instrumentais necessários.
Pronto! Agora podemos restaurar. A primeira etapa é chamada
de TRITURAÇÃO, a qual compreende a ativação da cápsula que
contém a liga (limalha de prata e mercúrio, separados por uma fina

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 103


membrana, que é rompida na ativação da cápsula) e a ativação do
amalgamador (equipamento capaz de “agitar” velozmente a cápsula,
em movimentos de “vai e vem”, e misturar o mercúrio líquido à limalha
em pó, formando uma massa plástica). Na segunda etapa, chamada
INSERÇÃO, o profissional abrirá a cápsula (separando-a manualmente
em duas partes) e irá despejar o conteúdo (massa ou liga) no
pote Dappen, para que então seja apanhado com a pinça porta-
amálgama e levado à cavidade preparada. Na terceira etapa, chamada
CONDENSAÇÃO, o profissional deverá usar os condensadores
(instrumentais) para comprimir a massa contra as paredes do preparo
cavitário, garantindo uma boa adaptação entre o material restaurador
e as paredes. Lembre-se de “pensar microscopicamente”, recordando
que os produtos da oxidação na superfície do amálgama poderão
contribuir para o vedamento das margens da restauração e reduzir os
índices de infiltração marginal.
Pesquise mais
Este texto apresenta detalhes sobre as diferentes ligas de amálgama. Leia:

MANDARINO, F. et al. Ligas para restaurações de amálgama. 2007.


Disponível em: <http://143.107.206.201/restauradora/dentistica/temas/
amalgama/amalgama_04/amalgama_04.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2017.

É recomendado que a condensação seja iniciada sempre com


os instrumentais (condensadores) menores, nas porções de acesso
mais difícil do preparo (por exemplo: caixas proximais de um preparo
MOD ou áreas de retenção), passando-se gradativamente aos
instrumentais de maior diâmetro. É recomendado também que o
profissional faça a condensação de forma vigorosa (dica: em clínica,
avise isso ao seu paciente, para ele não achar que você “tem mãos
pesadas”). Em seguida, iniciaremos a escultura propriamente dita.
Para essa finalidade, existe uma série de instrumentais que podem
ser utilizados. Não há “obrigatoriedade” em usar todos de sua lista de
instrumentais. Experimente todos, mas sua habilidade manual e seu
“dom artístico” (lembre-se do que foi discutido na Seção 2.2) vão dizer
qual é o melhor instrumental para você. É importante estar atento ao
tipo de liga de amálgama utilizado, pois isso irá determinar o tempo
disponível, dentro do tempo de reação de cristalização do material,
para fazer a escultura. Classicamente, temos uma orientação, de
natureza clínica, para distinguir o final desse tempo, isto é, quando já

104 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


se tornou difícil esculpir (em função do avanço da reação que iniciou
na trituração), pois o material oferece resistência maior à escultura:
é possível identificar um barulhinho conhecido como “gripo do
amálgama” e já deve ser brunido. Alguns autores sugerem que,
antes da escultura, seja incluída a etapa de PRÉ-BRUNIDURA, para
melhorar a adaptação do amálgama, especialmente nas margens
do preparo cavitário. Entretanto, o emprego dessa etapa não é
uma recomendação unânime entre os pesquisadores e professores
de dentística. O próximo passo, depois da escultura, é realizar a
BRUNIDURA propriamente dita. Essa fase tem o objetivo de “alisar” a
superfície, ainda antes da completa cristalização do material. É mais
simples compreendermos essas etapas se imaginarmos uma bolinha
de papel alumínio, como aquela de uso doméstico, após “apertada”
e, em seguida, friccionada com um instrumento metálico qualquer.
Veja a Figura 2.10.
Figura 2.10 | Folha de papel alumínio condensada e brunida

Fonte: acervo do autor.

Observe que o material se tornou mais denso após ser condensado


(bolinha amassada), mas a superfície não está lisa. Após sua brunidura,
a superfície tornou-se um pouco mais lisa e também ajudou a
condensar (apertar) ainda mais o material. Essa mesma lógica é
aplicada no momento de se realizar uma restauração de amálgama.
Evidentemente, em restaurações classe I oclusal, o próprio formato
da cavidade favorece a etapa restauradora, pelo fato de ser como
“uma caixinha”, não tendo por onde o material escapar durante sua
condensação. Entretanto, em restaurações mais extensas, nas quais
não temos uma das paredes circundantes (por exemplo: cavidade
classe II mésio-oclusal, ou cavidade classe I oclusopalatina em 1º
molar superior), a etapa restauradora merece ainda mais atenção.
Nesse momento, teremos que “substituir provisoriamente” essas
paredes faltantes para ter condições de condensar adequadamente o
material, pois, do contrário, este não vai ganhar resistência (se tornará
quebradiço, frágil) ou vai causar prejuízos ao tecido periodontal que
está ao redor, se extravasar ou deixar a restauração com excessos

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 105


(sobrecontorno). Nesses casos, deveremos utilizar tiras metálicas,
chamadas de “matriz”. Essas tiras podem ser comercializadas em
diversos formatos, visando facilitar sua adaptação ao redor do dente
a ser restaurado. Veja na Figura 2.11 alguns exemplos dessas formas.
Figura 2.11 | Matrizes metálicas retas ou pré-formatadas

Fontes: <http://www.kerrdental.com>; acervo do autor.

A maneira mais comumente utilizada para fixar essas matrizes é por


meio do uso de um instrumento chamado “porta-matriz”. Com mais
de 200 anos em uso, também já foram criados alguns modelos desse
instrumento com o mesmo objetivo: “substituir provisoriamente”
as paredes faltantes. Veja na Figura 2.12 alguns exemplos de porta-
matrizes que levam o nome de seus inventores.

Figura 2.12 | Porta-matrizes: Siqveland, Ivory no 8 e Tofflemire (da esquerda para


direita)

Fontes: <http://www.dentalcremer.com.br>; acervo do autor.

Uma vez que a condensação deve ser feita de forma vigorosa, e


para evitar que a tira de matriz se movimente, é preciso utilizar também
“pedacinhos de madeira ou plástico”, chamados “cunhas”, que irão
preencher as ameias interdentais e imobilizar a matriz, mantendo-a
em íntimo contato com todo o ângulo cavo-superficial das caixas
proximais, podendo-se utilizar uma ou duas cunhas de madeira para
isso. Veja na Figura 2.13 alguns exemplos de forma e apresentação
comercial.
Figura 2.13 | Cunhas interproximais: formatos e formas de apresentação comercial,
e composição (madeira ou plástico)

Fontes: <http://www.dentalcremer.com.br>; acervo do autor.

106 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


A partir da Figura 2.13 é fácil compreender também que o uso
de matriz e cunha ajuda na obtenção de efetivos pontos de contato
proximal com os dentes adjacentes. Além disso, as cunhas também
ajudam a criar uma suave separação dental (lembre-se de que
estamos diante de uma articulação do tipo gonfose, entre as fibras do
ligamento periodontal, osso alveolar e raízes dos dentes, que permite
movimentação de décimos de milímetro).
Pesquise mais
Veja exemplos da importância da separação dental e cunhas
interproximais nos vídeos a seguir:

Afastamento interdental. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=XUgrObb91IM>. Acesso em: 2 jul. 2017.

Ronaldo Hirata: tips 18 – odontologia estética (esthetic dentistry): dicas


de cunha para posteriores. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=JDAAviqOrMs>. Acesso em: 2 jul. 2017.

Da mesma forma, a matriz metálica também deve ser usada para


proteger o dente que está ao lado do preparo cavitário, que está sendo
feito com uso de brocas ou pontas diamantadas. Sempre corremos
o risco de tocar a superfície do dente ao lado com brocas durante o
preparo, mesmo o profissional mais experiente. Assim, se colocarmos
uma matriz metálica no dente ao lado, protegemos esse dente de
um desgaste indesejável. Veja na Figura 2.14, mais adiante. Existem
ainda matrizes que podem ser feitas exclusivamente para o dente em
questão, como um “anel” (ou melhor, um cilindro), em que as hastes
da tira de matriz metálica são soldadas (com um aparelho específico
para isso: solda ponto) ou arrebitadas manualmente, com uso de um
alicate próprio para essa finalidade (alicate 121 e 141). Pesquise mais
sobre isso!
Pesquise mais
Este artigo detalha como isso é feito e mostra ainda outros exemplos.
Leia:

MANDARINO, F. et al. Matrizes e cunhas para restaurações de amálgama.


Disponível em: <http://143.107.206.201/restauradora/dentistica/temas/
amalgama/amalgama_09/amalgama_09.html>. Acesso em: 19 jul. 2017.

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 107


Figura 2.14 | Uso da matriz metálica e porta-matriz

Fonte: acervo do autor.

Observe, na Figura 2.14, na primeira imagem à esquerda, a matriz


metálica sendo utilizada como anteparo de proteção, no momento
do preparo cavitário. Nas outras duas imagens, observe que, ao
término da escultura, a restauração apresenta o mesmo contorno
determinado pela matriz metálica, posicionada no dente restaurado
(detalhe: linhas vermelhas). Assim, é importante termos atenção aos
contatos proximais no momento de adaptar a matriz ao dente a ser
restaurado.
Assimile
Vamos lembrar das fases do procedimento restaurador, pois irá ajudar
com a organização da mesa:
1. Mesa clínica:
- Pote Dappen de vidro.
- Matriz metálica.
- Porta-matriz.
- Cunhas de madeira.
- Pinça porta-amálgama.
- Condensadores.
- Esculpidores.
- Brunidores.
- Pinça Miller.
- Papel carbono fino.
2. Trituração (ativação da cápsula de amálgama).
3. Inserção: levar o material na cavidade.
4. Condensação: “apertar” o material contra as paredes do preparo
cavitário.
5. Escultura: reproduzir os detalhes anatômicos, lembrando-se da
oclusão.
6. Brunidura: “alisar” a superfície e melhorar a condensação.

108 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


7. Oclusão: é preciso checar os pontos de contato antagonista e
proximal.
8. No dia seguinte (24 horas): acabamento e polimento para refinar o
trabalho.
Caro aluno, assista ao vídeo para visualizar a etapa restauradora:
Materiais dentários – FOUSP: Amálgama. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=tOrAbZdEbGo>. Acesso em: 1 jul. 2017.

Observe agora a Figura 2.15, que evidencia a importância do uso


das cunhas interproximais.
Figura 2.15 | Uso da matriz metálica e porta-matriz

Fonte: acervo do autor.

Observe, na Figura 2.15, a falta de adaptação da matriz metálica


antes (setas vermelhas) e após a colocação de cunhas de madeira.

Pesquise mais
Veja também outros exemplos nos vídeos a seguir:

Utilização do porta-matriz universal. Disponível em: <https://www.


youtube.com/watch?v=o5-RTsIvY6g>. Acesso em: 1 jul. 2017.

Matrizes pré-contornadas. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=p2q4n9-a0ok>. Acesso em: 1 jul. 2017.

Matriz individual soldada. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=Y3KjhCsy7VQ>. Acesso em: 2 jul. 2017.

Nas caixas proximais, a certeza de que a matriz esteja bem adaptada


ao ângulo cavo superficial do preparo reduz significativamente o risco
de se terminar a restauração com excessos nessas áreas, o que facilita

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 109


o trabalho, pois o acesso a essa área é restrito e é difícil a remoção de
eventuais excessos de material.
Reflita
Caro aluno! Matriz e cunha são usadas somente para restaurações em
amálgama? E em cavidade classe V, em superfície lisa de um dente,
como adaptar cunha e matriz? Pense nessas situações.

Tenha em mente que o amálgama só vai apresentar boas


características se for adequadamente condensado, sob adequadas
condições de controle da umidade. Você poderá ouvir frases,
como “amálgama funciona bem até debaixo d’água”. Entretanto,
conhecidas as propriedades físicas, a composição e a reação
química de cristalização do material, podemos afirmar que é um
material restaurador “menos sensível” a erros de técnica operatória,
se comparado aos sistemas adesivos e às resinas compostas, por
exemplo (veja Seção 2.4). A contaminação da massa com água
(sangue ou saliva) no momento da inserção do material, ocasionada
por um isolamento absoluto deficiente, provocará um efeito deletério
ao material, mas que só será possível ser identificado clinicamente
meses após a realização da restauração (algo em torno de seis meses).
Esse fenômeno, conhecido como expansão tardia, compromete
a estabilidade dimensional do material e prejudica a adaptação
marginal da restauração (especialmente com maior concentração de
zinco). Efeito semelhante à expansão tardia também pode acontecer
em função dos contatos oclusais antagonistas. Esse fenômeno,
conhecido como creep ou escoamento, representa uma deformação
permanente do material, em restaurações há muito tempo em função,
o que também pode gerar desadaptação nos limites da restauração.
Para compreender creep, observe a Figura 2.16.

Figura 2.16 | Creep

Fontes: (esquerda) acervo do autor; (direita): <http://www.gazetadopovo.com.br/vidae-cidadania/colunistas/


entrelinhas/viva-a-xv-ed033hedpzum2k4ukfnk91t8u>. Acesso em: 22 jul. 2017.

110 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Observe a desadaptação do amálgama (seta vermelha) na
porção logo abaixo do ponto de contato da restauração (área de
concentração de forças), na crista marginal. Esse mesmo tipo de
deformação permanente você, certamente, já viu no asfalto das
ruas de sua cidade, em área de muito fluxo de carros e ônibus
(concentração de forças). Fácil assimilar, concorda?

Sem medo de errar


Vamos ajudar Antônio? Nosso craque em patologia achou que
“restauração” era algo que “só tem a ver com dentística e estética”,
mas acabou deixando de identificar um aspecto que poderia estar
favorecendo André a ter novas lesões de cárie. Antônio identificou
que as antigas restaurações estavam “crescidas”, muito escuras,
como se tivessem sofrido uma “tumefação”, mas não observou se
havia desadaptação nas margens das restaurações que poderia
favorecer o acúmulo de placa bacteriana e, consequentemente,
favorecer recidivas de lesões de cárie. Essa era a proposta de seu
professor: fazer Antônio pensar a respeito. A averiguação da qualidade
de adaptação marginal das restaurações deve ser feita não só de
forma VISUAL, mas também TÁTIL (isto é, com uso de uma sonda
exploradora no 5), valendo-se de exames radiográficos (interproximal,
também conhecida por bite wing, em que é possível observar a
coroa dos dentes superiores e inferiores em uma mesma radiografia)
para complementar a avaliação. O fato de André apresentar uma
lesão na língua, compatível com uma afta de origem traumática
(que você verá em detalhes quando estudar patologia), tirou o foco
de Antônio, fazendo-o negligenciar um exame clínico bem feito. Se
um dia Antônio quiser descobrir “a cura da doença cárie”, é preciso
antes saber identificar os inúmeros fatores que a podem predispor. A
oxidação do amálgama, como observado por Antônio, não pode ser
atribuída como causa da lesão na língua de André. Exatamente por
saber disso, o esperto professor instigou Antônio a fazer um exame
minucioso nos dentes para identificar a possível presença de lesões
de cárie nas margens das restaurações, sem “desvendar a charada”
de imediato. O professor queria que Antônio fosse ativo em seu
aprendizado, vivenciando e aprendendo nas situações clínicas que
durante o exame clínico não existem aspectos específicos de uma
especialidade odontológica. TODOS os pacientes (sem exceção)
devem ser sempre avaliados com critério, na integralidade (isto é:

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 111


língua, lábios, dentes, periodonto, condição sistema etc.). Porém,
não vamos fazer disso só “um discurso”, mas colocar em prática!
Na Seção 2.4, vamos tratar sobre restaurações provisórias, quando
encerraremos a Unidade 2. Em seguida, iniciaremos a Unidade
3, que abordará o tema biomateriais para proteção do complexo
dentinopulpar e restaurações em amálgama de prata.

Avançando na prática
Paciente difícil: a restauração para ele está sempre alta! (Parte 3)
Descrição da situação-problema
Duas semanas após a realização de uma restauração de amálgama,
classe I oclusal, seu paciente retornou à clínica se queixando de dor
ao mastigar. Após exame clínico, você identificou que o material
restaurador se fraturou. O preparo cavitário era restrito à superfície
oclusal, tinha profundidade média de mais de 1 mm, e as paredes
circundantes eram paralelas ou ligeiramente convergentes para
oclusal (isto é, retentivas). Com base nos conhecimentos de anatomia
dental, oclusão e escultura dental, a quais fatores você poderia atribuir
à(s) causa(s) de insucesso da restauração?
Você se lembra da situação apresentada na primeira seção
desta unidade? Isso mesmo! Vamos recordar: paciente de 29 anos
apresenta lesão de cárie envolvendo as faces oclusal e distal do
45, comprometendo crista marginal. O elemento 46, segundo o
paciente, foi extraído quando ainda tinha uns 17 anos. Ao finalizar a
restauração classe II ocluso-distal do 45 e conferir o equilíbrio dos
contatos oclusais em MIH, o profissional precisou desgastar muito
do amálgama recém-brunido, removendo toda sua escultura.
Após ajuste oclusal, à custa de desgaste do dente antagonista, a
restauração foi refeita. Entretanto, lembre-se de que o elemento
45 não apresentava contato interproximal distal, uma vez que o
elemento 46 estava ausente. E agora? Como fazer para adaptar
matriz e cunha sem o dente adjacente (“do lado”)?

Resolução da situação-problema
Situações como essa são comuns de se enfrentar no dia a dia
em clínica. A primeira tentativa deverá ser adaptar a matriz metálica
sobre o dente a ser restaurado, fixando-a com auxílio de um porta-

112 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


matriz, e verificar se a parede circundante gengival está em íntimo
contato com a matriz. Pode-se, até mesmo, checar esse contato
com o uso de uma sonda exploradora, para facilitar a “observação”
(tátil) desse contato com a matriz, fazendo-se movimentos no
sentido de separá-la, como forma de se certificar de que a matriz
não irá se afastar durante a condensação e permitir o “escape” do
material restaurador da cavidade. Outra forma adicional de se obter
estabilidade da matriz, em casos como o apresentado, é valer-se
do uso de um bastão de godiva de baixa fusão (um material de
moldagem anelástico, isto é, rígido, que se torna maleável quando
aquecido, mas que retoma a rigidez após resfriar-se), que pode
ser adaptado ao redor da matriz após aquecida, colocada na
porção distal do exemplo apresentado, acompanhando a matriz
e “abraçando” o dente. Espera-se a godiva resfriar, até endurecer,
quando, então, se pode inserir e condensar o amálgama. O uso de
godiva também pode ser interessante no momento da restauração
da superfície palatina de molares superiores, para melhorar a
adaptação da matriz na caixa palatina do preparo, ou ainda no
próprio isolamento absoluto, que antecede a restauração, para
estabilizar grampos, como será abordado na Unidade 3.

Faça valer a pena


1. O amálgama de mercúrio é um material restaurador utilizado há mais
de 200 anos em odontologia e ainda apresenta bons resultados em termos
de durabilidade.
Assinale a alternativa que apresenta um dos motivos desse sucesso:
a) Alta friabilidade.
b) Alto coeficiente de expansão térmico-linear.
c) Presença Hg em sua composição.
d) Corrosão sofrida no ambiente oral.
e) Adesão ao substrato, esmalte e dentina.

2. Os dentes posteriores estão submetidos aos maiores vetores de força


durante a mastigação do bolo alimentar, no sentido vertical, durante
a trituração dos alimentos. Assim, nessas áreas, suportar os esforços
mastigatórios, no longo prazo, representa um dos maiores desafios aos
materiais restauradores, para manutenção de sua integridade marginal.
Com base no exposto no texto, assinale a alternativa que apresenta uma
correlação direta do amálgama de prata, quando utilizado como material

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 113


restaurador direto:
a) Lisura superficial duradoura, em função de adequada brunidura,
acabamento e polimento finais.
b) Expansão tardia, em função da formação de átomos de hidrogênio no
interior da massa.
c) Creep nas margens da restauração, que permite alívio dos contatos
oclusais antagonistas.
d) Capacidade de melhoria do vedamento marginal por meio do
preenchimento dos gaps, pela deposição dos produtos da oxidação do
material.
e) Dureza maior que 310 Mpa após completa cristalização (especificação
nº 1 da American Dental Association - ADA).

3. O uso de matrizes e cunhas é fundamental na etapa restauradora,


independentemente do material restaurador direto a ser utilizado.
Assinale a alternativa que apresenta uma situação em que o uso de matrizes
e cunhas para restauração em amálgama é indispensável:
a) Classe V cervical vestibular do elemento 25.
b) Classe I oclusal no elemento 36.
c) Classe I palatina na região de cíngulo do 12.
d) Classe III mesiopalatina no elemento 23.
e) Classe I oclusopalatina no elemento 16.

114 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Seção 2.4
Restauração provisória: conceituação, finalidade
restauradora, materiais e indicações
Diálogo aberto
Caro aluno! Já aprendemos como deve ser feita uma restauração
de amálgama. Discutimos como deve ser feito o preparo cavitário e
a restauração para amálgama. Compreendemos que o sucesso da
restauração é dependente também da forma como o cirurgião-dentista
manipula o material e realiza cada uma das etapas restauradoras. Além
disso, vimos que cada uma dessas etapas demanda tempo e atenção
ao passo a passo. Agora, nesta seção, vamos conhecer restaurações
e materiais que têm o objetivo de restaurar provisoriamente, até o
dentista ter condições (tempo) de restaurá-las com “capricho”, ou
propositadamente, para “dar tempo ao paciente” de melhorar seus
hábitos de higienização e estar apto a receber material estético, por
exemplo. Para iniciar nossos estudos, apresentamos uma, baseada em
fatos reais, vivenciada pela paciente Laura, de 16 anos de idade, que
vive com sete irmãos em uma família de classe média baixa, em uma
grande cidade do país. Laura e seus irmãos estudam em uma escola
pública que conta com uma antiga cadeira odontológica, ao lado da
secretaria, mas que está há muitos anos sem um cirurgião-dentista
atendendo ali. Entretanto, a diretora da escola, D. Mara, conseguiu
que um amigo cirurgião-dentista viesse voluntariamente atender uma
vez por semana no antigo consultório e “fazer algo” pelo pequeno
número de alunos da escola. Então, o jovem dentista Marcos chegou
à escola acompanhado de mais quatro estudantes de Odontologia
para ajudá-lo e pensou: “Por onde vamos começar?”. Marcos
organizou para que todos os alunos da escola passassem por um
rápido exame, o qual iria atribuir um grau de complexidade aos casos,
para assim estabelecer uma ordem de tratamento ou, eventualmente,
se não tivesse condições de atender ali na escola, indicar o paciente
para tratamento em uma Unidade de Saúde Pública. Foi então
que Laura foi examinada por Marcos, que identificou várias lesões
de cárie em todos os seus dentes permanentes e atribuiu máxima

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 115


prioridade de tratamento (alto risco e vulnerabilidade). Terminada a
triagem, os alunos de Odontologia passaram a realizar orientação
de higienização oral em um escovódromo improvisado, e Marcos
iniciou o atendimento àqueles casos mais graves. Laura estava nessa
lista e, quando chegou sua vez, Marcos novamente se perguntou:
“Por onde vamos começar?” Eram muitas lesões! Por ter outros
compromissos, Marcos só poderia atender uma vez na semana nessa
escola. Se ele fosse realizar todas as restaurações que Laura precisava,
não teria condições de atender a nenhum outro aluno da escola até
o final do período letivo. Os irmãos de Laura também precisavam de
atendimento e já tinham até procurado D. Mara para saber “porque só
a irmã tinha sido chamada ao dentista”. E agora? Não existe nenhum
material que seja mais fácil para realizar essas restaurações? Não tem
nada que possa ser utilizado, como um curativo, até que se tenha
condições de realizar o tratamento? E os alunos que tiveram menor
prioridade de tratamento na lista de Marcos, será que até o próximo
período letivo não teriam seu problema agravado? Ou até mesmo
ter de fazer tratamento endodôntico, ou extrair dentes que poderiam
ter sido restaurados antes das férias? Vamos finalizar esta unidade
demonstrando que os materiais podem apresentar limitação de uso,
mas a atuação do profissional não deve ser limitada pelo material. Ao
final da seção – bem como da unidade –, você, aluno, conhecerá e
compreenderá os conceitos básicos de oclusão e dentística.

Não pode faltar


Em todo tratamento de saúde, muitas vezes, é difícil definirmos
o aspecto TEMPO: durabilidade, manutenção ou previsibilidade dos
resultados. Evidentemente, por não ser uma ciência exata, a saúde
está sujeita também a fatores não controlados. Por exemplo: mesmo
que uma restauração tenha sido perfeitamente executada pelo
dentista, com material de excelente qualidade, não é possível atribuir
seu tempo de duração, pois a restauração na boca estará submetida
aos cuidados com a higienização, a um padrão oclusal e a hábitos
alimentares e funcionais que variam de paciente para paciente. É
evidente que o material restaurador tem um papel limitante em cada
caso (em função de suas propriedades e características). Entretanto,
é função do cirurgião-dentista avaliar cada caso, ponderar os diversos
aspectos clínicos, raciocinar e julgar qual é o melhor material para
aquela situação. Você quer ser um “tapador de buracos” ou um

116 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


cirurgião-dentista? Então, vamos pensar! Do aspecto “TEMPO”,
devemos extrair a “FINALIDADE” do tratamento, seja ele qual for (uma
restauração, uma prótese ou uma cirurgia, por exemplo). Nos dias
atuais, em que tudo precisa ser muito rápido (com internet, telefone
etc.), “tempo” ganhou outro significado. Mas será que alguém
(profissional ou paciente) ficaria feliz ou satisfeito se tivesse que
REFAZER um procedimento (uma restauração, uma prótese ou uma
cirurgia) uma vez por ano? Uma vez por semestre? Uma vez por mês?
Mas você verá que, dependendo da FINALIDADE do tratamento, em
alguns casos, será aceitável ouvir de seu paciente: “Toda semana essa
prótese cai, doutor”. Assim, precisamos ter bem claros e definidos
alguns adjetivos, como: provisório, definitivo, permanente, final,
entre outros, para “falarmos todos a mesma língua”. Em dentística,
podemos chamar de restauração provisória aquela que tem função
de dar condições à manutenção da homeostasia gengival do dente
restaurado, auxílio diagnóstico (no caso da avaliação da retenção
e da geometria dos preparos para restaurações indiretas), evitar
movimentações dentais durante o tratamento, proteger o tecido
pulpar e o remanescente dental, devolvendo estética e função, ainda
que parcialmente e por um período curto de tempo, até que seja
possível substituí-la por outra restauração com melhores propriedades
e durabilidade. Por muito tempo, o amálgama, como visto na Seção
2.3, era a única opção de material restaurador, mas, hoje, uma
importante parcela das restaurações é feita com resinas compostas,
material que já foi considerado “semipermanente”.
Uma restauração pode ser considerada PROVISÓRIA,
independentemente do material empregado, pois é assim classificada
em função de sua finalidade, ou seja, a que se destina no plano
de tratamento. Assim, podemos realizar restaurações provisórias
com diversos materiais, como: cimentos à base de óxido de zinco
e eugenol, cimentos de ionômero de vidro (convencional ou
modificados por resina), resinas (acrílica, bisacrílica ou composta),
ou ainda ligas metálicas, comercializadas sob a forma de coroas pré-
fabricadas, indicadas em odontopediatria, que são cimentadas em
dentes decíduos com grandes destruições coronárias. Os cimentos
à base de óxido de zinco e eugenol, vulgarmente conhecidos
pelas iniciais OZE, ou por populares marcas comerciais, como
“IRM” ou “Coltosol”, podem ser vendidos na forma de “pó+líquido”,
“pasta+pasta”, ou ainda na forma de uma massa plástica, pronta

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 117


para uso, que não requer nenhum tipo de manipulação antes de
ser inserido na cavidade e ganha dureza ao entrar em contato com
a saliva. São cimentos considerados capazes de acalmar ou fazer
cessar a dor (anódino), proporcionar vedamento contra infiltração
biológica e térmica e ter efeito antibacteriano. Porém, possuem
propriedades mecânicas e estéticas insatisfatórias. Esse material tem
grande utilidade para adequação do meio bucal, como forma de
reduzir os focos de infecção e os níveis de contaminação, adequando
os hábitos de higiene oral do paciente antes de se iniciar o tratamento
restaurador propriamente dito (veja Figura 2.17).
Exemplificando
Caro aluno, você já sabe como manipular material restaurador? Assista
o vídeo e aprenda mais!

Restauração provisória de longa duração: classe I. Disponível em: <http://


eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=3213>. Acesso em: 9 jul. 2017.

Esse material apresenta baixo custo e, antigamente, era utilizado


como material de proteção pulpar (liner cavitário). Entretanto,
atualmente, é indicado exclusivamente para uso como material
restaurador provisório ou como agente de cimentação de
restaurações provisórias de restaurações indiretas (inlays, onlays,
overlays ou preparos de coroas totais), que varia em função de sua
fluidez e escoamento. O eugenol, um dos componentes desses
cimentos, interfere negativamente na polimerização dos materiais
poliméricos (como resinas compostas ou cimentos resinosos,
que serão abordados nas próximas unidades), por esse motivo, o
material pode ser substituído pelo cimento de hidróxido de cálcio na
cimentação desse tipo de restauração.
Figura 2.17 | Cimento de óxido de zinco e eugenol: vários focos de infecção –
em detalhe, início da substituição das restaurações dos elementos 24 e 25, após
adequação do meio bucal

Fonte: acervo do autor.

118 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Outro material que também pode ser utilizado como material
restaurador provisório são os cimentos de ionômero de vidro (ou
simplesmente “CIV”). Esses materiais foram, inicialmente, descritos
no início da década de 1970, mas ainda apresentam fantásticas
características e versatilidade de uso. Essencialmente, são compostos
por um pó (sílica, alumina e fluoreto de cálcio) e um líquido (ácido
polialcenoicos e tartárico). Após inúmeras pesquisas e modificações
nessa composição básica, chegou-se à formulação de uma nova
categoria desses cimentos, conhecidos como cimentos de ionômero
de vidro modificados por resina (ou simplesmente “CIVMR”), muitas
vezes descrito simplesmente como “ionômero fotopolimerizável”,
ainda que tecnicamente sejam “duais”, ou seja, polimerizam mesmo
sem uso de luz. Os CIVMR são mais caros que os CIV convencionais.
No passado, existiram também ionômeros modificados por metais
(limalha de amálgama), apelidados de “mistura milagrosa”, mas
não estão mais disponíveis no mercado, por não apresentarem
as características desejáveis. Todo ionômero é muito sensível à
manipulação do profissional e à sua proporção “pó:líquido”. Além
da composição básica, o material também pode ser classificado
de diversas outras formas, com indicações de uso (ou fluidez):
ortodôntico, forramento, cimentação, restauração, selamento de
cicatrículas e fissuras ou cimento endodôntico. Ou ainda, de acordo
com sua apresentação comercial: encapsulado ou espatulável.
Assimile
Muitas vezes, faz-se uma grande confusão a respeito disso. Assimile e não
confunda as classificações do cimento de ionômero de vidro utilizadas:

1. Composição: convencional (CIV) ou modificado por resina (CIVMR).

2. Indicação de uso: ortodôntico, forramento (ou liner), cimentação,


restauração ou selamento de cicatrículas e fissuras, cimento endodôntico.

3. Forma de apresentação comercial: encapsulados (pré-dosados) ou


espatulável.

4. Tipos: I (cimentação), II (restauração), III (forramento e selamento) e IV


(fotoativados), de acordo com os autores Tay e Lynch (1989).

Ambos os cimentos (CIV ou CIVMR) têm a capacidade de


liberação de íons flúor na cavidade bucal. São materiais inteligente

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 119


pois, à medida que [conforme] perdem constantemente íons flúor
para a saliva, sem comprometer as características físicas do material,
tornam-se capazes de se reabastecer quando entram em contato
com o flúor, por exemplo, quando o paciente escova os dentes
com um creme dental fluoretado. Assim, o material funciona como
um “reservatório de flúor”, que lhe confere a capacidade de liberar
flúor por longo período de tempo, com ação anticariogênica (sobre
as bactérias bucais) e remineralizadora sobre os tecidos duros que
sofrerem perda mineral. O CIV é um material inteligente também
por apresentar adesão química aos substratos dentais (esmalte e
dentina), sem a necessidade da aplicação prévia de nenhum tipo de
adesivo, fechando os túbulos dentinários e ainda atuando como um
importante isolante térmico, com boa biocompatibilidade quando
aplicado sobre a dentina ou em contato com os tecidos periodontais.
Outra importante característica física é que seu coeficiente de
expansão térmico linear se assemelha àquele da dentina. Em outras
palavras, à medida que acontecem variações de temperatura no
ambiente bucal, o CIV se dilata e se contrai de forma parecida
com o que acontece com a dentina, que naturalmente também
se dilata e se contrai.

Pesquise mais
Este texto aprofunda um pouco mais sobre o tema. Leia:

MANDARINO, F. Cimentos de ionômero de vidro – introdução.


Disponível em: <http://143.107.206.201/restauradora/dentistica/temas/
cim_ion_vid/cim_ion_vid.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2017.

Você também pode acessar este interessante vídeo sobre o tema:

CIV – Cimentos de ionômero de vidro modificados por resina. Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=laUnHGK22Mg>. Acesso em:
9 jul. 2017.

Os CIV convencionais podem ser utilizados como material


restaurador provisório, especialmente por apresentar baixo custo
(especialmente se comparado aos CIVMR), ser de fácil aplicação e
fácil remoção, apresentar bom vedamento marginal e liberar flúor
(especialmente importante na adequação do meio bucal). O CIV
convencional pode também ser utilizado como material cimentante

120 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


provisório de restaurações indiretas, entretanto, em função de sua
adesão química aos substratos dentais, bem como aos metais, pode
dificultar o momento da remoção da restauração provisória.
Exemplificando
Por que o CIV tem esse nome? Como esse material reage e ganha
dureza? Por que libera flúor?

Caro aluno, assista aos 7 primeiros minutos do vídeo. Há mais


informações sobre a reação de presa do CIV no vídeo a seguir:

CIV – Cimento de ionômero de vidro convencional (parte 1). Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=kPJEBNxyQI0>. Acesso em:
9 jul. 2017.

Figura 2.18 | Cimento de ionômero de vidro utilizado para restauração provisória


em cavidade profunda, em elemento com vitalidade pulpar: avaliação clínica e
radiográfica

Fonte: acervo do autor.

O cimento de ionômero de vidro é um material tão especial que


inúmeras pesquisas demonstram que pode ser utilizado não somente
como um material restaurador provisório mas também como um
material restaurador final. Isto é, em algumas situações, a substituição
desse material restaurador tido como provisório não é necessária, senão
por um aspecto estético. Estudos demonstram que o ionômero pode
ser também uma alternativa às abordagens restauradoras tradicionais da
cárie, especialmente em âmbito epidemiológico. Assim, foi desenvolvida
uma nova alternativa de tratamento, conhecida internacionalmente
como ART (do inglês Atraumatic Restorative Treatment). Foi criada em
uma parceria, na década de 1980, por uma Universidade Holandesa em
atuação numa população na Tanzânia, que apresentava altos índices
de cárie e que só tinha a exodontia como forma de tratamento. Essa
estratégia se vale dos cimentos de ionômero de vidro como material
restaurador e os instrumentos cortantes manuais (curetas ou colheres
de dentina) para remoção parcial das lesões de cárie, matriz, espátula
no 24, placa de vidro e roletes de algodão para isolamento relativo do
campo operatório.

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 121


Pesquise mais
Caro aluno, aprenda mais sobre ART no texto a seguir:

MASSARA, M. L. A.; WAMBIER, D.; IMPARATO, J. C. P. Tratamento


restaurador atraumático (ART). Manual de Referência ABO-
Odontopediatria. Disponível em: <http://www.abodontopediatria.org.
br/manual1/Capitulo-18-Tratamento-Restaurador-Atraumatico-_ART_.
pdf>. Acesso em: 9 jul. 2017.

O ART mostrou ser uma importante alternativa de tratamento (não


provisório), por exemplo, também em pacientes com necessidades
especiais ou acamados. Mais uma vez o termo “restauração
provisória” pode ser repensado, concorda? Provisório (ou seja, que
não é permanente), para uns, pode ser a melhor opção definitiva para
outros pacientes.
Outro material que também pode ser utilizado como forma de
se restaurar provisoriamente são as resinas: acrílica e bisacrílica (ou
mesmo a resina composta). O primeiro tipo de resina é constituído
de um líquido (metacrilato de metila e inibidores de polimerização),
chamado de monômero, e um pó (polimetracrilato de metila,
peróxido de beonzoíla e pigmentos), que quando misturados reagem
quimicamente, passando por várias fases (arenosa, fibrosa, plástica,
borrachoide e rígida) até formar um polímero rígido, numa reação
exotérmica (ou seja, que aquece e libera calor). Esse material é utilizado
para confecção de próteses totais (PT) – dentaduras – e próteses
parciais removíveis (PPR), mas também são úteis para confecção de
próteses e restaurações provisórias indiretas. Existem várias técnicas
que podem ser empregadas para confecção de uma restauração
provisória com resina acrílica, e o profissional deverá escolher aquela
que melhor se adapta.
Reflita
Vamos refletir sobre uma situação comum na clínica. Atenção!

Você fez uma restauração provisória em resina acrílica no seu manequim


odontológico, mas a anatomia não ficou boa. Como se deve fazer a
restauração provisória sem perder a anatomia do dente? Assista ao vídeo
para resolver essa dificuldade com a restauração provisória:

122 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Provisório técnica da bola. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=UJ77dGzxXqE>. Acesso em: 9 jul. 2017.

A cimentação desse tipo de restauração provisória deve


acompanhar o uso de um agente cimentante, como cimento à base
de óxido de zinco (com ou sem eugenol), cimento de hidróxido
de cálcio, ou mesmo o CIV convencional (que irá oferecer maior
dificuldade para posterior remoção).
Figura 2.19 | Da direta para esquerda: restauração de resina composta; preparo
cavitário; restauração provisória em resina acrílica (fixa com cimento de hidróxido
de cálcio); fragmento cerâmico (inlay); restauração final

Fonte: acervo do autor.

Outro material que também pode ser empregado é a resina


bisacrílica, para confecção de restaurações provisórias, com a
vantagem de apresentar boa estabilidade de cor, menor deformação,
pouco ou nenhum odor, baixa liberação de calor durante a reação
de polimerização, boa resistência e um padrão de lisura superficial
e estética melhor e mais fácil de se obter do que as resinas acrílicas.
A diferença entre essas resinas é a composição: ao contrário das
resinas acrílicas, a resina bisacrílica possui cargas inorgânicas e uma
matriz orgânica, semelhantes às resinas compostas, e oferecem,
em média, maior duração e estabilidade de cor no ambiente bucal.
A reação de polimerização desse material apresenta três fases:
transição de uma pasta de escoamento livre para uma consistência
mais elástica; polimerização reticulada entre os monômeros do
material; e polimerização final, atingindo os maiores valores de
dureza final. Atualmente, é comercializada na forma de tubo de cano
duplo (catalisador e a pasta base), que é dispensado por uma ponta
descartável de automistura.
Pesquise mais
Caro aluno, assista ao vídeo para visualizar a confecção de uma
restauração provisória com resina bisacrílica:

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 123


Coroa provisória em resina bisacrílica. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=Vy0zItnOc4M>. Acesso em: 9 jul. 2017.

Após a mistura, o material é utilizado de maneira semelhante


às resinas acrílicas, mas não permite o reembasamento.
Comparativamente, apresenta custo maior que o das resinas acrílicas,
e, de toda forma, a cimentação desse tipo de restauração provisória
pode ser acompanhada do uso de um agente cimentante, como um
cimento a base de óxido de zinco (com ou sem eugenol), cimento de
hidróxido de cálcio, CIV ou similar.
Figura 2.20 | Planejamento restaurador com restaurações provisórias em resina
bisacrílica

Fonte: acervo do autor.

Da mesma forma, pode-se realizar restaurações provisórias com


resina composta (material que será explorado nas próximas unidades)
para realização de restaurações provisórias, para avaliação da estética
(vide Figura 2.21). Esse material pode ser utilizado para confecção
de restaurações finais ou provisórias, de confecção direta (sobre os
dentes, com uso de um sistema adesivo) ou indiretas (confeccionadas
sobre um modelo de gesso que reproduz o preparo cavitário, para
então ser levada à boca e cimentada sobre o dente a ser restaurado).
Figura 2.21 | Planejamento restaurador com resina composta

Fonte: acervo do autor.

Pode ser utilizado ainda por motivos terapêuticos ou protéticos,


como para realização de esplintagem (ou ferulização), feita quando
os dentes estão com uma mobilidade excessiva, principalmente por
problemas periodontias, ou para fixação de restaurações provisórias,
como na Figura 2.22, em que dentes ausentes são substituídos por
coroas fixadas com resina composta, aos dentes adjacentes, na face
palatina e/ou ameias interproximais.

124 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Figura 2.22 | Coroa provisória de resina composta do elemento 21 (ausente), fixa
com o mesmo material nos elementos 11 e 22, logo após remoção de aparelho
ortodôntico fixo, que sustentava coroa provisória

Fonte: acervo do autor.

Por fim, podemos concluir que a escolha do material restaurador


provisório depende do perfil do paciente e da situação clínica em
questão. Aspectos funcionais, estéticos e perfil do paciente com
relação ao risco da doença cárie também devem ser ponderados
para adequada escolha do material. É preciso estudar bastante para
ser um bom dentista, concorda?

Sem medo de errar


Vamos ajudar o Dr. Marcos no trabalho na escola, com a paciente
Laura e seus irmão? De fato, ele fez bem em organizar seu trabalho por
uma ordem de prioridade, usando um critério de risco e vulnerabilidade
à doença. A colaboração dos voluntários, alunos de Odontologia,
também foi fundamental para que a nobre atitude do Dr. Marcos se
torne uma atuação eficaz, não somente curativa (intervencionista), mas
também preventiva, que tenha efetivo significado na vida dos alunos.
Agora, por onde começar com o atendimento clínico de Laura? As
várias lesões de cárie, em todos os seus dentes permanentes, de fato
representam prioridade de tratamento, em função de representar
um alto risco à doença cárie e alta vulnerabilidade. Essa constatação
representa que Laura não tem adequados hábitos de higienização
oral, associada ou não a uma dieta cariogênica e alta vulnerabilidade
ao agravo dessas lesões (necrose pulpar, abscessos, perdas dentárias,
etc.). A atuação simultânea do trabalho realizado pelos alunos de
Odontologia é que dá efetivo significado a qualquer que seja o
tratamento que o Dr. Marcos vier a realizar, uma vez que somente a
mudança dos hábitos de Laura é que poderão permitir que ela não
apresente problemas futuros (novas cáries, doença periodontal, etc.).
Como Laura tem várias lesões e Marcos só tem condições de atender
nessa escola uma vez na semana, ele precisa realizar a adequação
do meio bucal, de modo a reduzir ou eliminar todos os focos de
infecção. Isso pode ser feito rapidamente, em todas as lesões, sem

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 125


uso de anestesia, sob isolamento relativo, com o uso de instrumentos
manuais e restauração provisória com cimento de ionômero de vidro.
O Dr. Marcos não conta com uma auxiliar de consultório na escola,
mas poderia pedir para um dos alunos que o ajudasse no controle
da umidade (isolamento relativo) e no momento da espatulação do
ionômero, visto que é um material que requer atenção (proporção
pó:líquido, tempo de trabalho, controle da umidade e inserção
do material). Ainda que Marcos possa não obter uma restauração
esteticamente perfeita com o CIV, isto é, uma reprodução perfeita
da anatomia dental, máxima lisura superficial, brilho, cor e textura,
o material, se bem manipulado e aplicado, permitirá que os tecidos
afetados (esmalte e dentina) estejam aptos a sofrer remineralização,
reduzindo assim o comprometimento tecidual (amolecido), que
seria removido se fosse feita a restauração final (em resina composta,
amálgama ou porcelana) já naquele momento. Essa sequência de
tratamento (prevista no plano de tratamento: adequação do meio)
também daria condição para que Laura tivesse meios e tempo para
mudar seus hábitos (higienização oral e dieta), antes de concluir o
tratamento, com as restaurações finais, garantindo assim a sobrevida
e o bom prognóstico do tratamento. Dessa forma, mantendo essa
logística de trabalho, Dr. Marcos terá condições de atender a todos
os alunos da escola, sem criar demandas à D. Mara e sem impor
limitações a sua atuação, em função do material disponível.

Avançando na prática
Após finalizada a adequação do meio bucal de todos os alunos
da escola, Dr. Marcos percebeu que todos os irmãos de Laura
apresentavam lesões cariosas extensas e profundas, exceto o mais
novo, com 5 anos, com dentição decídua, que ficava durante a
semana na casa de uma de suas tias, solteira, que poderia dar mais
atenção ao pequeno garoto e tê-lo como companhia em casa. Sua
mãe não queria deixá-lo sozinho com os irmãos mais velhos enquanto
trabalhava fora de casa. Com base nos conhecimentos sobre cárie
dental, identifique os possíveis fatores que você atribuiria à(s) causa(s)
de os irmãos de Laura também apresentarem muitas lesões de cárie,
com exceção do irmão mais novo.

126 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


Paciente difícil: a restauração está sempre alta! (Parte 4)

Você se lembra da situação apresentada na primeira seção


desta unidade? Isso mesmo! Vamos recordar: paciente de 29
anos apresenta lesão de cárie envolvendo as faces oclusal e
distal do 45, comprometendo crista marginal. O elemento 46,
segundo o paciente, foi extraído quando ainda tinha uns 17 anos.
Ao finalizar a restauração classe II oclusodistal do 45 e conferir o
equilíbrio dos contatos oclusais em MIH, o profissional precisou
desgastar muito o amálgama recém-brunido, removendo toda
sua escultura. Após ajuste oclusal, à custa de desgaste do dente
antagonista, a restauração foi refeita. Entretanto, se não houvesse
tempo suficiente para refazer essa restauração na mesma sessão,
deveria ser feita uma restauração provisória, para proteger o dente
e o paciente não ter dor. Mas com qual material poderia ser feita
essa restauração provisória? Lembre-se de que o elemento 45 não
apresentava contato interproximal distal, uma vez que o elemento
46 estava ausente, por isso o material provisório tinha que ter
condições de se manter na cavidade (retenção) até a próxima
sessão (quando então seria refeita a restauração em amálgama). E
agora? Quais materiais podem ser utilizados?

Resolução da situação-problema
Situações como esta são comuns de se enfrentar no dia a dia
na clínica. Sabendo-se de antemão que a restauração final será
confeccionada em amálgama, e não com material polimérico
(resina composta), podemos incluir o uso de cimentos a base de
óxido de zinco e eugenol para fazer essa restauração provisória. É
um material de baixo custo, que pode ser vendido pronto para uso
(sem a necessidade de nenhum tipo de manipulação antes de ser
inserido na cavidade) e é capaz de acalmar ou fazer cessar a dor,
proporcionando vedamento contra infiltração biológica e térmica
e com efeito antibacteriano. Ainda que não possua propriedades
mecânicas e estéticas satisfatórias, no caso apresentado não há
grandes envolvimentos estéticos, uma vez que a cavidade é na distal
do elemento 45, face que normalmente não aparece no sorriso.
As propriedades mecânicas desse material talvez pudesse ser um
inconveniente. Entretanto, como essa restauração na situação

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 127


apresentada tem “data e hora marcadas” para ser substituída,
esse aspecto talvez possa ser desprezado, pois isso facilitará sua
remoção num futuro breve e não é esperada a movimentação
(ou extrusão) do elemento antagonista na presença de um
contato oclusal, ainda que leve, em um curto intervalo de tempo.
Poderíamos pensar em utilizar o CIV ou CIVMR, o que não seria
absolutamente um erro. Entretanto, além do custo desses materiais
serem mais elevados, eles têm adesão química aos substratos
dentais (esmalte e dentina), o que poderia ser uma desvantagem
no caso apresentado, uma vez que se prevê a remoção do material
restaurador provisório, num intervalo de uma semana (na próxima
consulta) e restauração final com amálgama, em uma cavidade
que já foi preparada adequadamente para esse fim. Assim,
especialmente áreas retentivas do preparo para amálgama (como
sulcos ou canaletas) ou o próprio ângulo cavossuperficial bem
definido correriam o risco de ser “danificados” durante a remoção
do material provisório com brocas ou pontas diamantadas. Seria
um retrabalho redefini-los, concorda?
Por fim, o uso de resinas (acrílica, bisacrílica ou composta),
no caso apresentado, não é indicado, pois o planejamento do
trabalho final é de uma restauração em amálgama, com cavidade
que apresenta retenção mecânica. Assim, restaurações provisórias
não devem ser feitas com esse tipo de material, em função da
rigidez deste e da técnica de confecção, como apresentada nos
vídeos, texto e imagens desta seção. Nem sempre o material mais
caro é o melhor. Pense nisso!

Faça valer a pena


1. Paciente G. G. A., 18 anos, apresenta cálculo, inflamação gengival,
lesões de cárie nos elementos 11, 12, 16, 21, 22, 25, 26, 36, 47 e as raízes
residuais (mesial e distal) do elemento 46.
Com base no texto apresentado, assinale a alternativa que apresenta
a ordem correta dos procedimentos a serem realizados no plano de
tratamento de G. G. A.:
a) Orientação de higienização oral; remoção de cálculo periodontal
(boca toda); restauração provisória das lesões cariosas; exodontia das
raízes residuais; substituição das restaurações provisórias; acabamento e
polimento das restaurações; proservação.
b) Avaliação da dieta por meio de um diário; evidenciação de placa;

128 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


exodontia das raízes residuais; raspagem periodontal; restauração das
lesões cariosas; acabamento e polimento das restaurações; proservação.
c) Raspagem periodontal (boca toda); restauração provisória das lesões
cariosas; exodontia das raízes residuais; substituição das restaurações
provisórias; acabamento e polimento das restaurações; confecção de
prótese; proservação.
d) Orientação de higienização oral; remoção do cálculo periodontal
(boca toda); restauração provisória das lesões cariosas; exodontia das
raízes residuais; substituição das restaurações provisórias; acabamento e
polimento das restaurações; confecção de prótese (elementos ausentes);
proservação.
e) Orientação de higienização oral; avaliação da dieta; aplicação tópica de
flúor; raspagem periodontal; restauração provisória das lesões cariosas;
substituição das restaurações provisórias; acabamento e polimento das
restaurações; proservação.

2. Uma das funções das restaurações provisórias é a de proteger o


elemento dental de injúrias à polpa dental.
Com base ao exposto no texto, assinale a alternativa que apresenta as
outras funções das restaurações provisórias:
a) Restabelecer a estética e a função, auxílio diagnóstico, evitar
movimentações dentais, proteger o remanescente dental e a vitalidade
pulpar.
b) Dar condições à manutenção da homeostasia gengival, restabelecer
parcialmente a estética e a função, auxiliar no diagnóstico, evitar
movimentações dentais, proteger o remanescente dental.
c) Auxílio no diagnóstico do preparo de restaurações indiretas, dar
condições à manutenção da homeostasia gengival, melhorar a estética e
a função, evitar movimentações dentais, proteger o remanescente dental.
d) Recuperar o estado de normalidade do tecido gengival, restabelecer a
estética e a função, evitar movimentações dentais, proteger o remanescente
dental.
e) Manter a homeostasia gengival, restabelecer a função e a estética,
auxiliar no diagnóstico, permitir movimentações dentais, proteger o
remanescente dental.

3. Determinados tipos de materiais utilizados para proteção do complexo


dentinopulpar também podem ser utilizados como material restaurador
provisório, em função de algumas de suas características físicas e forma
de manipulação.
Assinale a alternativa que apresenta todas as opções disponíveis atualmente
para a realização de restaurações provisórias:

U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 129


a) Cimento a base de óxido de zinco e eugenol, cimentos ionoméricos e
resinas bisacrílicas.
b) Cimento de ionômero de vidro modificado por resina e óxido de zinco
e eugenol.
c) Cimento a base de óxido de zinco e eugenol, cimentos ionoméricos e
resinas acrílicas.
d) Cimento de ionômero de vidro convencional e óxido de zinco e eugenol.
e) Cimento a base de óxido de zinco e eugenol, cimentos ionoméricos e
resinas.

130 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


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132 U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística


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U2 - Conceitos básicos da oclusão e dentística 133


Unidade 3

Biomateriais para proteção


do complexo dentino-pulpar
e restaurações em amálgama
de prata
Convite ao estudo
Bem-vindo!

Quando falamos em proteção do complexo dentino-pulpar,


não podemos abordar apenas os produtos ou materiais que
devem ser colocados nas cavidades preparadas após a remoção
da cárie e antes da inserção do material restaurador. É muito
importante lembrar das estruturas que, podem, de alguma forma,
ter sido agredidas pela instalação e pela progressão de uma cárie,
por uma fratura, por lesões não cariosas ou por preparos com
finalidades protéticas. Precisamos considerar, principalmente, os
procedimentos e cuidados operatórios que devem ser observados
durante os preparos cavitários para a remoção da cárie e a influência
desses processos no restabelecimento da forma e da função do
dente com a realização de uma restauração de boa qualidade.

Competência geral

Conhecer as técnicas de confecção de preparos cavitários para


amálgama de prata, os instrumentais e as técnicas de aplicação
de cimentos odontológicos para proteção do complexo dentino-
pulpar; conhecer e aplicar os princípios básicos da oclusão e das
relações maxilomandibulares e o uso dos articuladores semiajustáveis
(ASA) no diagnóstico das disfunções temporomandibulares a partir
da análise oclusal funcional.

Competência técnica

Conhecer e aplicar as características, propriedades e formas de


apresentação dos cimentos para proteção do complexo dentino-
pulpar (cimento de ionômero de vidro, de hidróxido de cálcio, de
óxido de zinco com eugenol e sem eugenol), em atividades pré-
clínicas, anteriores ao uso do amálgama de prata.

Objetivos

Capacitar o estudante de Odontologia para: a correta indicação


de cimentos odontológicos por meio do conhecimento da
composição, das propriedades e das técnicas de manipulação e
inserção; identificar o protocolo de proteção do complexo dentino-
pulpar em diferentes simulações de preparos cavitários por meio de
atividades pré-clínicas (cimentos de ionômero de vidro, de hidróxido
de cálcio, de óxido de zinco com ou sem eugenol).

Na Seção 3.1, teremos o enfoque na proteção do complexo


dentino-pulpar: biomateriais, técnicas de manipulação e isolamento
do campo operatório; na Seção 3.2, vamos aprender sobre ligas
de amálgama de prata para uso odontológico; na Seção 3.3,
seguimos com restaurações em amálgama de prata; e na Seção
3.4, aplicaremos os protocolos de proteção pulpar às restaurações
de amálgama de prata.

Para auxiliar nesse processo de conhecimento, apresentaremos


uma situação de realidade profissional que visa aproximar os
conteúdos teóricos da prática. Leia com atenção!

A Clínica Odontológica da Universidade, assim como as clínicas


particulares ou consultórios odontológicos, recebe inúmeros
pacientes com diferentes necessidades que apresentam lesões
de cárie nos dentes posteriores, com relatos de dor ou não.
Dependendo da extensão da lesão de cárie, da sua localização, da
idade do paciente e do estado de vitalidade pulpar, o desafio é a
escolha da proteção do remanescente dentário mais indicado para
conservar a vitalidade pulpar, reverter os possíveis estágios iniciais de
agressões à polpa e, finalmente, restaurar o dente, tendo o amálgama
de prata como uma alternativa de tratamento restaurador.

Agora que já identificamos nosso desafio, que tal estudarmos


para conseguirmos vencer mais essa etapa?

Vamos às atividades!
Seção 3.1
Proteção do complexo dentino-pulpar:
biomateriais, técnica de manipulação e isolamento
do campo operatório

Diálogo aberto
Caro aluno, vamos estudar, a partir de agora, a proteção do
complexo-dentino pulpar: biomateriais, técnicas de manipulação e
isolamento do campo operatório. Assim, vamos relembrar a situação
baseada na realidade destacada no Convite ao estudo sobre a Clínica
Odontológica da Universidade? Assim como as clínicas particulares ou
consultórios odontológicos, essa clínica recebe inúmeros pacientes
com diferentes necessidades, que apresentam lesões de cárie, com
relatos de dor ou não. Dependendo da extensão da lesão de cárie, de
sua localização, da idade do paciente e do estado de vitalidade pulpar,
o nosso desafio é a escolha da proteção do remanescente dentário
mais indicada para conservar a vitalidade pulpar, reverter os possíveis
estágios iniciais de agressões à polpa e, finalmente, restaurar o dente,
tendo o amálgama de prata como uma alternativa de tratamento
restaurador.

Durante a avaliação inicial, o paciente C.F.S., de 20 anos, apresentou


uma lesão de cárie que acometia o sulco central do primeiro molar
inferior do lado direito, com relato de dor após a ingestão de alimentos
doces, que desaparecia logo após a escovação dos dentes. O estudante
realizou uma radiografia periapical e verificou que a lesão de cárie
próxima ao LAD é extensa e que, em profundidade, compromete metade
da espessura da dentina, embora não existam alterações nas estruturas
periapicais. Durante o exame clínico, observou-se a presença de placa
bacteriana na cervical de vários dentes, papilas gengivais avermelhadas e
restaurações em outros três dentes posteriores.

Como o acadêmico pode representar o elemento dental? Como


se classifica essa lesão de cárie? Como podemos avaliar a condição
pulpar com base nas informações disponíveis? Quais os materiais mais
indicados para a proteção do complexo dentino-pulpar?

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 137


Não pode faltar

Reflita
Quando falamos em condição pulpar, devemos rever o conteúdo
abordado sobre as estruturas que compõem o dente, com especial
atenção à estrutura da dentina, suas características, os tipos de dentina e
sua inter-relação com o tecido pulpar.

Devemos abrir um parêntese para lembrarmos da Teoria


Hidrodinâmica de Brännström, que, na década de 1960, foi
consagrada por afirmar, entre outras coisas, que somente bactérias
e toxinas bacterianas poderiam caminhar no contrafluxo do fluido
dentinário, ou seja, da polpa para o meio externo, e relaciona a
dor à movimentação do fluido dentinário no interior dos túbulos
para fora e para dentro, estimulando, por diferença de pressão, as
terminações nervosas no interior dos túbulos.

Na prática, esse fenômeno ocorre toda vez que estímulos, como


jato de ar (extravasamento do fluido dentinário), calor (evaporação do
fluido), pressão (movimentação do fluido) e produtos hipertônicos,
como açúcar (deslocamento do fluido) são aplicados sobre a
superfície dentinária.

Dessa maneira, podemos concluir que, quanto menor for a


camada de dentina remanescente, ou seja, quanto maior e mais
profundo o preparo, maior será a chance de uma contaminação
bacteriana. Isso se deve ao fato de que a quantidade e o diâmetro
dos túbulos dentinários aumentam conforme a profundidade da
lesão de cárie e do preparo cavitário, a saber:

a) Junção amelodentinária: 15.000/mm2 – 0,63 µm.

b) Dentina intermediária: 35.000/mm2 – 1,4 µm.

c) Junto à polpa: 65.000/mm2 – 2,37 µm.

138 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Figura 3.1 | Representação da relação profundidade cavitária X densidade tubular

Fonte: Pereira et al. (2005, p. 166).

Fatores que orientam a proteção do complexo dentino-pulpar

Para a escolha do protocolo e do material de proteção mais indicado,


alguns fatores podem nos orientar:

• Condição pulpar.

• Profundidade cavitária e características da dentina remanescente:


normodentina ou esclerosada. No segundo caso, apresenta-se “vedada”
naturalmente pela deposição de minerais na luz dos túbulos dentinários,
tornando-se impermeável.

• Idade do paciente: interferirá no diagnóstico da condição pulpar


e na profundidade cavitária, pois indica o volume pulpar o calibre dos
túbulos.

• Material restaurador: a escolha do material que será utilizado para


a restauração: amálgama de prata, compósitos de resina, cimento de
ionômero de vidro, porcelanas, ligas metálicas etc.

Diagnóstico da condição pulpar

Nesse estágio é que começamos efetivamente a proteção


do complexo dentina/polpa, pois precisamos obter o máximo de
informações possíveis sobre o dente a ser tratado. Devemos extrair
do paciente relatos sobre a sintomatologia apresentada, o que ele faz
para que essa dor seja mitigada (analgésicos, bochechos com água fria,
bochechos com água quente etc.) e a frequência e a intensidade com
que a sintomatologia se apresenta. De qualquer forma, devemos sempre
lembrar que esse órgão dental vem sofrendo agressões contínuas que

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 139


podem ainda não ter ultrapassado o limiar de tolerância da polpa.
Assim, precisamos atentar para a técnica operatória adequada e para
a oportunidade de restauração para que não corramos o risco de,
com a nossa intervenção, ultrapassarmos o limiar de reação do órgão
pulpar, já que preparos cavitários e restaurações também constituem
agressões pulpares.

Para ter um tratamento de sucesso, a análise da condição pulpar se


baseia nas características clínicas de diagnóstico, compostas por:

1. Anamnese:

• Características do paciente: idade, condição geral de saúde e risco


de cárie.

• Características clínicas da dor: verificar a localização, a frequência,


a intensidade e a duração. A dor de origem dentinária é, geralmente,
aguda, lancinante e localizada, provocada por estímulos específicos,
como toque, frio, ácido, doce ou desidratação; a dor desaparece assim
que o agente agressor é removido. A dor de origem pular, que pode ser
provocada ou espontânea, é de evolução lenta, pulsátil e pode aumentar
quando o paciente está deitado, sendo de difícil localização, pois é difusa.

2. Exame clínico:

• Condições clínicas do dente: inspeção e exploração (verificar a


presença de lesão), palpação, percussão horizontal e vertical (dor).

• Características da cárie: crônica ou aguda.

• Período de exposição de remanescente dentário: por lesão não


cariosa, por cárie ou fratura.

• História de trauma dentário.

3. Testes objetivos de sensibilidade pulpar:

Podemos dizer que a dor é a única manifestação da polpa frente às


alterações estruturais e, embora diga pouco sobre a real existência ou
extensão do processo patológico, colabora para o diagnóstico.

• Térmicos: calor – bastão de guta percha; frio – gás refrigerante ou


bastão de gelo.

140 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


• Teste elétrico: só avalia sensibilidade.

Pesquise mais
Acesse este link e procure mais conhecimentos sobre diagnóstico das
patologias da polpa dentária. Disponível em: <http://143.107.206.201/
restauradora/polpa.htm>. Acesso em: 24 mar. 2017.

4. Exame radiográfico – radiografias periapicais:

• Avaliar a qualidade da imagem radiográfica, presença de distorções


em virtude de falha na técnica de obtenção da radiografia.

Com esses procedimentos, podemos detectar agressões ao órgão


pulpar, como lesões cariosas e traumas oclusais, que devem ser
tratados de formas diferentes. O grau de comprometimento pulpar
dependerá de características inerentes ao paciente e à lesão, pois cada
organismo pode reagir de maneira diferente frente ao mesmo tipo de
agressão e o grau de comprometimento da vitalidade pulpar é muito
difícil de ser precisado.

Assim, cabe a nós, cirurgiões-dentistas, começarmos a proteção


do complexo dentino-pulpar após um correto diagnóstico do estado
pulpar, minimizarmos o trauma causado pelo preparo cavitário
utilizando instrumentos rotatórios novos, refrigeração abundante com
água, pouca pressão e intermitência no momento do desgaste/corte,
lavagem constante da cavidade para evitarmos a geração excessiva
de calor, limpar a cavidade com a solução mais adequada e, por fim,
porém de extrema importância, evitar a secagem excessiva da dentina
com jatos de ar.

É importante lembrarmos que quanto menor a quantidade de


dentina remanescente, maior pode ser o calor transmitido ao órgão
pulpar além da evaporação do fluido dentinário, podendo levar à morte
dos odontoblastos, limitando o potencial reparador desse órgão pulpar.

Do ponto de vista de agressões por traumas oclusais, devemos


lembrar que estes, normalmente, são gerados por contatos prematuros
que transferem toda a carga mastigatória para um determinado ponto
de uma restauração, estimulando de maneira agressiva o periodonto e
a pressão intrapulpar. Esse aumento de pressão intrapulpar pode tornar

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 141


o dente mais sensível às variações térmicas. Segundo Brännström, se
a dentina sofrer pressão suficiente para que haja sua deflexão, haverá
sensibilidade dolorosa, ou seja, se a força for tal que ultrapasse o
módulo de elasticidade da dentina, haverá pressão nas terminações
nervosas ocasionando o fenômeno da dor.

Assimile
Deflexão: deformação de uma estrutura em função de uma carga
aplicada.

Módulo de elasticidade: é o quociente entre a tensão aplicada e a


deformação elástica resultante. Está relacionado diretamente com as
forças das ligações interatômicas. Quanto maior o módulo de elasticidade,
mais rígido é o material ou menor é a sua deformação elástica quando
aplicada uma dada tensão.

Agora que conhecemos a condição pulpar, qual a melhor forma


de manter essa condição?

Devemos preservar a condição de vitalidade pulpar, preservar os


tecidos passíveis de remineralização, impedir o processo de cárie
realizando a remoção da dentina cariada e afetada irreversivelmente.

Atenção
Mede-se o preparo cavitário, não pelo tamanho da cavidade gerada, mas
sim pelo que restou de dentina, separando a polpa do meio externo.

Profundidade cavitária

É determinada pela espessura de dentina remanescente entre a


parede de fundo da cavidade e o teto da câmara pulpar (Figuras 3.2
e 3.3).

• Cavidade rasa: > 2,5 mm.

• Cavidade média: 1,6 a 2,5 mm.

• Profunda: 0,7 a 1,6 mm.

• Muito profunda ou bastante profunda: 0,5 a 0,7 mm.

142 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


• Muito profunda com exposição pulpar: remanescente menor
do que 0,5 mm, em que se observa solução de continuidade com
o tecido pulpar pela coloração rósea ou presença de sangramento.

Entretanto, determinar a espessura remanescente da dentina é


um passo difícil, assim, podemos aplicar os parâmetros referidos por
Mondelli (1998):

• Cavidade superficial: cavidade aquém, ao nível ou que ultrapassa


ligeiramente a junção amelodentinária (JAD).

• Cavidade rasa: cavidade 0,5 a 1,0 mm além da JAD.

• Cavidade média: cavidade 1,0 a 2,0 mm além da JAD.

• Cavidade profunda: ultrapassa metade da espessura da dentina,


mantendo ainda 0,5 mm de dentina remanescente.

• Bastante profunda: cavidade cujo remanescente dentinário é


menor que 0,5 mm, permitindo a visualização da coloração rósea
da polpa.

Figura 3.2 | Representações das diferentes profundidades cavitárias

Fonte: adaptado de Pereira et al. (2005, p. 165).

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 143


Figura 3.3 | Representação de uma cavidade bastante profunda com exposição pulpar

Fonte: adaptado de Pereira et al. (2005, p. 165).

Atenção
Devemos manter a maior quantidade de dentina durante o preparo
cavitário, por isso removemos a cárie em ponto, tentando preservar a
parede de fundo o máximo possível.

Idade do paciente

Após a erupção do dente, com o decorrer dos anos, há o processo


de formação fisiológica de dentina, em resposta a estímulos de baixa
intensidade (formando a dentina secundária), que irá levar à diminuição
progressiva da câmara pulpar. Assim, cavidades que aparentam ter
profundidades semelhantes podem, em virtude da idade do paciente e
do volume da câmara pulpar, ter profundidade diferentes.

Agora que conhecemos a condição pulpar, profundidade da


cavidade e idade do paciente, qual a melhor forma de realizar a
proteção do complexo dentino-pulpar?

Com a preocupação em preservar a condição de vitalidade


pulpar, removemos a cárie e mantivemos os tecidos passíveis de
remineralização. Agora o ideal seria aplicar um material capaz de
promover a esclerose dentinária, estimular a formação de dentina
reacional, afastando da polpa as injúrias, e promover a remineralização
da dentina afetada, que ainda possui as características de organização
da dentina normal, localizada na parede de fundo do preparo cavitário.

Quais materiais são mais indicados para a proteção pulpar?

Isso vai depender da condição pulpar, da profundidade do preparo


cavitário, da idade do paciente, fatores já citados, e das características
químicas e biomecânicas dos materiais disponíveis.

144 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Quando falamos em materiais para a proteção do complexo
dentino-pulpar, precisamos ter em mente os requisitos que esses
materiais devem possuir:

• Atividade antimicrobiana: para agir na dentina afetada que será


mantida na cavidade, a fim de que ela possa ser remineralizada.

• Biocompatibilidade.

• Bioatividade: promove e auxilia a regeneração tecidual.

• Adesão.

• Isolamento térmico e elétrico.

• Capacidade de promover vedamento (marginal e tubular): impedir


a entrada de microrganismos na interface dente/material de proteção.

• Resistência mecânica adequada.

• CETL semelhante ao da dentina.

• Módulo de elasticidade semelhante ao da dentina.

• Compatibilidade com o material restaurador e, se possível,


estabelecer união com este.

• Insolubilidade.

Mas não existe, até o momento, um material para a proteção


dentino-pulpar que preencha todos esses requisitos. O que devemos
fazer é uma correta e minuciosa análise para que possamos aproveitar
as melhores propriedades de cada um deles conforme a situação clínica
apresentada. Em última análise, devemos conhecer as propriedades
de cada material disponível para que, de posse das observações feitas
em cada cavidade a ser restaurada, sejamos capazes de relacioná-los,
a fim de que possamos decidir qual material indicar e como utilizá-
lo corretamente. Atualmente, podemos lançar mão dos seguintes
protetores pulpares:

a) Verniz cavitário: solução de resinas em solvente orgânico. O


solvente evapora deixando uma fina película de resina. Tem ação
bacteriostática, compatibilidade biológica, vedamento temporário,

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 145


isolamento elétrico e alta solubilidade. Não deve ser utilizado
anteriormente à colocação de materiais liberadores de íons favoráveis
(ex.: cimento de ionômero de vidro). Atualmente, é pouco utilizado,
exceto quando não existir a possibilidade de utilizar um material mais
eficiente, como os sistemas adesivos. Manipulação: depende da
apresentação comercial, geralmente vem em frasco único. Inserção
na cavidade: aplicador descartável do tipo pincel ou escova.

b) Cimento de hidróxido de cálcio (Ca(OH)2): produto com pH


alcalino (12,5), portanto altamente bactericida e bacteriostático, estimula
ação reparadora da polpa, apresenta alta solubilidade e baixa resistência.
Utilizado nas regiões de maior profundidade nas quais se observa a polpa
por transparência. Seu pH alcalino fornece condições para que a polpa
forme dentina, já que no organismo só é possível a produção de osso
e dentina em meio de alta alcalinidade. Pode se apresentar em forma
de pó – pró-análise (PA) -, que pode ser aplicado diretamente, ou em
forma de pasta com água destilada; na forma de cimento de ativação
química; ou na forma de cimentos resinosos fotoativados. Sua ação é
por contato. Em casos de exposição pulpar, é aplicado na forma de
uma pasta de pó PA com água destilada ou diretamente sobre a polpa,
promove necrose por coagulação superficial, estimula a formação
de carbonato de cálcio que se organiza em núcleos de calcificação
distrófica, estimulando a diferenciação das células e culminando com
a formação de barreira mineralizada (dentina reparadora, mais densa).
Para isso, é necessário o contato estrito com o tecido pulpar exposto,
em condições adequadas. No caso da aplicação do hidróxido de cálcio
PA ou na forma de pasta de PA com água destilada, promovemos o
contato efetivo com o tecido pulpar; eles são rapidamente absorvidos,
e a área de necrose e substituição por tecido mineralizado é maior.
Já a formulação caracterizada na forma de cimentos é tecnicamente
mais difícil de ser aplicada. Devido à umidade característica da área
de exposição, o cimento pode se deslocar, mas a área de necrose e
substituição por tecido mineralizado é mais delgada, o que pode ser
uma vantagem. Técnica de manipulação: mistura simples. Inserção na
cavidade: utilizar o aplicador de hidróxido de cálcio.

c) Sistemas adesivos: têm em suas composições monômeros


resinosos hidrofílicos, solventes orgânicos (acetona ou etanol) e
água. São materiais utilizados previamente às restaurações de resina
composta, como agente de ligação. Contudo, quando pensamos em

146 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


proteção dentino-pulpar, o enfoque que se dá a esses materiais é por
causa de seu caráter de agente de vedamento tubular e canalicular. A
aplicação de sistemas adesivos sobre a dentina faz o vedamento dos
túbulos dentinários por meio da formação de uma “camada híbrida”, ou
hibridização, que nada mais é do que uma região composta de colágeno,
polímeros e resíduos de mineral. Existem duas formas de promover a
hibridização da dentina: utilizando sistemas adesivos convencionais,
que utilizam o condicionamento ácido do remanescente dentário
previamente à aplicação dos monômeros resinosos; ou utilizando
sistemas adesivos autocondicionantes que utilizam monômeros com
características ácidas para modificar a camada de smear layer, que faz
parte da camada híbrida nesses materiais. Técnica de manipulação:
depende da apresentação comercial, geralmente em frascos
independentes, pode ser necessária a mistura de componentes, seguir
a indicação do fabricante. Inserção na cavidade: utilizar o aplicador
descartável do tipo escova ou pincel.

d) Cimentos de ionômero de vidro: possuem como propriedades


principais a adesividade relativa ao remanescente, a liberação de flúor,
CETL semelhante ao da dentina, resiliência, resistência mecânica e
menor potencial de irritação do complexo-pulpar. Utilizamos esse
material quando temos a necessidade principal de repor a estrutura
dentinária perdida, já que o cimento de ionômero de vidro é o material
que possui as características mais semelhantes às da dentina. Como
apresenta o CETL mais próximo ao da dentina, esse se comporta
contraindo e expandindo praticamente igual à dentina, dificultando
a formação de fendas interfaciais que poderiam facilitar o trânsito
bacteriano nas paredes laterais entre o dente e o cimento de ionômero
de vidro. Podem ser encontrados na apresentação de pó e líquido
quimicamente ativados, pó e líquido fotoativados e na formulação
com adição de componentes resinosos e fotoativados (compômeros)
e forma de cápsulas. Na composição, o pó contém sílica, alumina
e fluoreto de cálcio, e o líquido é uma solução aquosa de ácidos
polialcenoicos e aceleradores de presa. Requer a limpeza da cavidade
com ácidos fracos (ácido poliacrílico a 10% por 10 s, por exemplo)
seguida de lavagem, e a superfície deve ser seca com cuidado para não
desidratar. Técnica de manipulação: utilizar a proporção indicada pelo
fabricante, aglutinação com espátula rígida e bloco de espatulação
ou espátula plástica e placa de vidro. Inserção na cavidade: pode ser

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 147


injetado na cavidade com seringa apropriada (Centrix) para facilitar a
aplicação, ou utilizar espátula plástica de inserção.

e) Agregado de trióxido mineral (MTA): é um material biocompatível,


que favorece a formação de barreira mineralizada ou dentina
reparadora, como o hidróxido de cálcio, possui elevada resistência
mecânica e pode ser utilizado em superfícies úmidas, diferentemente
dos cimentos de hidróxido de cálcio. Seu inconveniente é o alto custo.
As partículas hidrofílicas de fosfato de cálcio e óxido de cálcio, em
presença de água, transformam-se em hidróxido de cálcio e interagem
com o tecido pulpar e com o dióxido de carbono dos fluidos bucais,
transformando-se em carbonato de cálcio e estimulando a fibronectina
que media a diferenciação das células pulpares em odontoblastos,
como acontece com o hidróxido de cálcio. Técnica de manipulação:
utilizar a proporção indicada pelo fabricante, aglutinação do MTA
com água destilada disponível no material, com espátula. Inserção na
cavidade: espátula de inserção ou aplicador de hidróxido de cálcio.

f) Cimento de óxido de zinco e eugenol: sua biocompatibilidade


pode ser atribuída à prevenção de infiltração causada pela excelente
habilidade de selamento marginal e pH em torno de 7. Possui também
qualidades terapêuticas que, pelo efeito do eugenol, fornecem um
efeito bactericida e analgésico. Contudo, não possui propriedade
adesiva e não pode ser utilizado antes ou sob restaurações de resinas
compostas, pois o eugenol interfere na adição dos metacrilatos,
impedindo a correta polimerização dos materiais subsequentes. Depois
do advento dos cimentos de ionômero de vidro, esse material é mais
indicado como material temporário, para aguardar a oportunidade
de restauração em dentes que apresentam sintomatologia dolorosa
intensa e cujo diagnóstico de condição pulpar ficou dúbio.

g) Cimento de óxido de zinco sem eugenol: cimentos de óxido de


zinco com ácidos carboxílicos substituindo o eugenol. Indicados para
selar temporariamente cavidades.

Pesquise mais
Essa breve apresentação não tem como objetivo abordar todos os
conhecimentos sobre esses materiais, é necessário que se complemente
o conteúdo com o livro Phillips materiais dentários.

148 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


ANUSAVICE, K. J.; SHEN, C.; RAWLS, H. R. Phillips materiais dentários.
Tradução de Roberto Braga [et al.]. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

Acesse os links indicados a seguir para mais conhecimentos sobre


proteção do complexo dentino-pulpar. Disponível em: <http://
periodicos.ufes.br/RBPS/article/viewFile/3002/2376> e <http://files.bvs.br/
upload/S/0104-7914/2010/v19n48/a0001.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2017.

A proteção do complexo dentino-pulpar é um tema extensamente


investigado, com o desenvolvimento de novos protocolos de aplicação
e com o avanço no desenvolvimento dos biomateriais, com o intuito
de impedir a atividade de microrganismos ligados à instalação e
progressão da cárie, favorecer a remineralização da dentina afetada,
hipermineralizar a dentina sadia e estimular a formação de dentina
reacional ou reparadora. Indicaremos, a seguir, algumas opções de
aplicações dos materiais mais utilizados atualmente, baseadas em
uma revisão da literatura e na experiência clínica de profissionais e
pesquisadores nessa área, alertando você para o fato de que o estudo
incessante desse assunto será fundamental para que obtenha sucesso
nos seus tratamentos restauradores e a satisfação dos pacientes.

Quadro 3.1 | Materiais indicados para a proteção do complexo dentino-pulpar sob


restaurações em amálgama de prata

Profundidade Primeira opção Segunda opção Terceira opção


Rasa ou média Nenhum material Sistema adesivo Sistema adesivo
CIV + Sistema
Profunda CIV CIV + Sistema adesivo
adesivo
Cimento de hidróxido
Cimento de hidróxi- MTA + CIV até 2
de cálcio autoativado
do de cálcio autoati- mm de distância
Muito profunda + CIV até 2 mm de
vado + CIV até 2 mm da JAD + Sistema
distância da JAD +
de distância da JAD adesivo
Sistema adesivo
Hidróxido de cálcio
Hidróxido de cálcio
PA ou MTA+ CIV até 2
Muito profunda (PA ou pasta de PA
Pasta de PA + água mm de distância
com exposição + água destilada)
destilada) + CIV até 2 da JAD + Sistema
pulpar + CIV até 2 mm de
mm de distância da adesivo
distância da JAD
JAD + Sistema adesivo

CIV – Cimento de ionômero de vidro; JAD – Junção amelodentinária.


Fonte: adaptado de Pereira et al. (2005, p. 169).

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 149


Tratamento expectante

Pode ser indicado em pacientes jovens (relatos na literatura de


sucesso em pacientes entre 15 e 35 anos), em cavidades muito
profundas, com presença de dentina afetada, amolecida, cuja remoção
levaria à exposição pulpar, desde que sejam observadas condições
favoráveis de isolamento absoluto, controle de contaminação e
presença de tecido dentinário passível de remineralização. Será realizada
a aplicação do hidróxido de cálcio (PA ou pasta de PA + água destilada +
aplicação de cimento de hidróxido de cálcio) e restauração temporária
com CIV. Aguardar por tempo que pode variar de 45 a 90 dias,
realizar controle radiográfico, testes de condição pulpar para detectar a
presença de dentina reparativa e, então, remover todos os materiais de
proteção e inspecionar diretamente a parede pulpar antes de proceder
à restauração definitiva (PEREIRA; BERBERT; SEGALA, 1997; FRANCO;
FREITAS; D’ALPINO, 2000).

Isolamento do campo operatório

Conjunto de manobras de importância crucial para a obtenção


da excelência em procedimentos de proteção do complexo dentino-
pulpar e para a realização de restaurações, já que estaremos trabalhando
diretamente na dentina (estrutura altamente permeável), em meio bucal
naturalmente úmido e rico em microrganismos. Não obstante, os
materiais protetores e restauradores utilizados têm natureza hidrofóbica,
portanto requerem campo isolado, seco e limpo. Por outro lado,
devemos estar atentos também ao fato de que esse procedimento
diminui a chances de contaminação do profissional a partir do contato
com o paciente em torno de 80% (biossegurança).

• Método mecânico: consiste na utilização de materiais, dispositivos


e instrumentos apropriados para a realização de isolamento relativo ou
isolamento absoluto do campo operatório. São os mais utilizados pelos
cirurgiões-dentistas na rotina clínica para diversos tipos de tratamentos.

• Método químico: utilização de drogas que, temporariamente,


diminuem a função secretora das glândulas – Ex.: atropina e
escopolamina. Pode ser utilizado como forma auxiliar, com o uso de
drogas sialopressoras que atuam sobre o sistema parassimpático,
diminuindo o fluxo salivar. Podem aparecer efeitos colaterais, como
taquicardia, retenção urinária e dilatação da pupila.

150 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Escolha do material restaurador

No que diz respeito aos procedimentos restauradores, podemos


dividi-los de duas formas:

a) Oportunidade de restauração.

b) Técnica restauradora.

Quando falamos de oportunidade de restauração, estamos nos


referindo à sintomatologia existente nesse momento. Se o dente
apresenta sintomatologia dolorosa intensa, é prudente que façamos
a remoção do agente agressor, dando condições para que o órgão
pulpar se restabeleça e, somente com a regressão da sintomatologia,
realizaremos a restauração propriamente dita.

Quando falamos de técnicas restauradoras, é muito importante a


escolha do material restaurador mais adequado para cada situação
clínica. Cada material restaurador requer uma técnica específica e possui
características químicas e físico-mecânicas particulares que são de
extrema importância para sua correta indicação. Não podemos esquecer
que estamos na Era da Adesão e que, para fazermos procedimentos
restauradores adesivos, com a escolha da resina composta (que é a
preferida pelos pacientes), necessitamos de substâncias ácidas que
removam ou tratem a camada de smear layer, e que podem abrir e
alargar a entrada dos túbulos dentinários. Logo, se não tomarmos os
devidos cuidados, os túbulos podem passar a ser mais um fator de
agressão ao remanescente, tornando-se vias de acesso direto em direção
à polpa de bactérias e toxinas bacterianas. Na escolha pelo amálgama
de prata, extensamente utilizado como material restaurador em dentes
posteriores, há mais de cem anos, existem os requisitos e princípios para
a execução do preparo cavitário, como já estudamos.

Exemplificando
Observe as cavidades a seguir, nos dentes 25 e 26. No dente 25, foi
realizado um preparo cavitário no qual a parede de fundo se localiza
abaixo do JAD cerca de 0,5 a 1,0 mm; e no dente 26, ultrapassa metade da
espessura da dentina, mantendo ainda 0,5 mm de dentina remanescente,
que está levemente escurecida e resistente às curetas.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 151


Figura 3.4 | Cavidades terapêuticas

Fonte: adaptado de Pereira et al. (2005, p. 166).

a) Como se caracteriza a cavidade no dente 25?


R: Cavidade rasa.
b) Como se caracteriza a cavidade e a dentina no dente 26?
R: Cavidade profunda com presença de dentina esclerosada.

Sem medo de errar


Durante a avaliação inicial, o paciente C.F.S., de 20 anos, apresenta
uma lesão de cárie que acomete o sulco central do primeiro molar
inferior do lado direito, com relato de dor por causa de alimentos
doces, que desaparece logo após escovar os dentes. O estudante
realiza uma radiografia periapical e verifica que a lesão de cárie próximo
ao LAD é extensa e que, em profundidade, compromete metade da
espessura de dentina, e não existe alteração nas estruturas periapicais.
Durante o exame clínico, observa-se a presença de placa bacteriana na
cervical de vários dentes, papilas gengivais avermelhadas, restaurações
em outros três dentes posteriores.

Como o acadêmico pode representar o elemento dental? Como se


classifica essa lesão de cárie? Como podemos avaliar a condição pulpar
com base nas informações disponíveis? Quais os materiais mais indicados
para a proteção do complexo dentino-pulpar?

Lembre-se
Classificação das cavidades pela profundidade da parede de fundo do
preparo cavitário, sugerida por Mondelli, em 1998.

152 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


O elemento dental em questão é o 46. A lesão de cárie é Classe
I de Black, cavidade simples, pois envolve apenas uma face do dente.
Baseado nas informações disponíveis, podemos classificar a condição
pulpar de vitalidade e potencialmente reversível. Os materiais mais
indicados para a proteção pulpar serão a limpeza da cavidade com água
de cal, seguida da aplicação de cimento de ionômero de vidro se, ao final
da remoção do tecido cariado, houver um remanescente de dentina
de 1,6 a 2,5 mm, caracterizando uma cavidade de profundidade média.
Em seguida, aplicar um sistema adesivo como material para selamento
tubular e canalicular e restaurar esse dente com amálgama de prata
devido à presença de várias outras restaurações em dentes posteriores
e de uma higienização deficiente. Logo depois, aplicar um protocolo de
higienização adequado e motivar o paciente para sua realização.

Avançando na prática
Tenho um dente que brilha e dói quando mastigo

Descrição da situação-problema

Um paciente chega ao seu consultório repetindo a frase acima. Ao


examiná-lo, você observa a seguinte imagem:
Figura 3.5 | Falha em restauração de amálgama

Fonte: elaborada pelo autor.

Em sua opinião, qual é a provável causa da dor?

Resolução da situação-problema

Baseado no relato do paciente, a provável causa da dor é o contato


prematuro, caracterizado pela presença de um ponto de alteração
na superfície da restauração em amálgama de prata, com brilho
característico de contato repetitivo e intenso.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 153


Faça você mesmo
Após realizar o preparo cavitário e remover o tecido comprometido pela
cárie, seguindo os princípios biológicos, você se depara com a parede
pulpar com a visualização de coloração rósea da polpa. Como você
classifica essa cavidade de acordo com a profundidade?

Faça valer a pena


1. Como você classificaria, quanto à profundidade, uma cavidade cuja
parede de fundo estivesse aquém, ao nível, ou que ultrapassasse ligeiramente
a junção amelodentinária (JAD)?
a) Cavidade rasa.
b) Cavidade média.
c) Cavidade profunda.
d) Cavidade superficial.
e) Cavidade muito profunda.

2. Como você classificaria, quanto à profundidade, uma cavidade cuja


parede de fundo ultrapassa a metade da espessura da dentina mantendo,
ainda, 0,5 mm de dentina remanescente?
a) Cavidade rasa.
b) Cavidade média.
c) Cavidade profunda.
d) Cavidade superficial.
e) Cavidade muito profunda.

3. Como você classificaria, quanto à profundidade, uma cavidade


cujo remanescente dentinário é menor do que 0,5 mm e que permite a
visualização rósea da polpa?
a) Cavidade rasa.
b) Cavidade média.
c) Cavidade profunda.
d) Cavidade superficial.
e) Cavidade bastante profunda.

154 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Seção 3.2
Ligas de amálgama de prata para uso odontológico
Diálogo aberto
Olá, aluno! Seja bem-vindo a mais uma seção de estudos deste livro
didático!

Dando sequência ao conteúdo, nesta seção, estudaremos as ligas


de amálgama de prata, a partir da composição, da classificação e das
propriedades físicas e mecânicas do material.

Vamos relembrar nossa situação da realidade profissional: a Clínica


Odontológica da Universidade, assim como as clínicas particulares ou
consultórios odontológicos, recebe inúmeros pacientes com diferentes
necessidades, que apresentam lesões de cárie, com relatos de dor ou
não. Dependendo da extensão da lesão de cárie, de sua localização,
da idade do paciente e do estado de vitalidade pulpar, o desafio é a
escolha da proteção do remanescente dentário mais indicado para
conservar a vitalidade pulpar, reverter os possíveis estágios iniciais de
agressões à polpa e, finalmente, restaurar o dente, tendo o amálgama
de prata como uma alternativa de tratamento restaurador.

Um paciente chega à Clínica da Universidade com uma lesão


de cárie no dente 37, já dizendo ao estudante responsável por seu
exame clínico que não quer receber aquela restauração “cinza”, pois
ouviu dizer que ela tem mercúrio, que pode causar problemas para
a saúde. Durante o exame clínico se constatou a presença de placa
bacteriana na região cervical de muitos dentes, as papilas gengivais dos
dentes posteriores se apresentavam avermelhadas e com aumento de
volume. Após a radiografia do dente, o estudante observou a presença
de cárie nas faces mesial e distal com limite cervical subgengival. Qual
o dente comprometido e qual a classificação da cavidade que será
realizada para a remoção da cárie? Qual o material mais indicado para
essa situação clínica? Como orientar esse paciente sobre as vantagens
e desvantagens das restaurações em amálgama de prata? Quais
informações devem ser abordadas sobre a toxicidade do mercúrio?

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 155


Atenção
Lesão subgengival: lesão de cárie, cuja margem cervical se localiza abaixo
do limite gengival.

Não pode faltar


O amálgama é uma liga que contém mercúrio como um dos seus
componentes. Apesar dos primeiros relatos sobre o amálgama de
prata datarem de quatro séculos, seu uso como material restaurador
começou por volta de 1819, quando foi introduzido na Inglaterra
por Joseph Bell e, posteriormente, nos Estados Unidos, pelos irmãos
Crawcour, em 1833.

O amálgama era produzido pela manipulação de restos de moedas


de prata misturados ao mercúrio, resultando em um material que
demonstrava altas taxas de corrosão e expansão. Depois de muitos
anos e extensas pesquisas, Black, em 1895, formulou uma composição
básica de prata-estanho e as técnicas adequadas para a utilização do
amálgama dental, fato que resultou em restaurações mais satisfatórias,
que superaram muitas das deficiências originais.

Assimile
Baixo custo, autosselamento, longevidade, facilidade de manipulação,
desempenho clínico satisfatório, além do comportamento inerte frente
aos tecidos bucais, fizeram do amálgama o material mais utilizado no
mundo para restaurações diretas durante muitos anos.

Entretanto, como todos os materiais, o amálgama apresenta


desvantagens que limitam sua aplicação, especialmente para grandes
reconstruções, como falta de adesividade, pouca resiliência (portanto,
requer proteção adicional do remanescente dental), cor incompatível
com a do órgão dental, baixa resistência à tração, associação ao
mercúrio, entre outras. A despeito de sua aparência, o amálgama de
prata possui longevidade clínica mais do que comprovada, a ponto de
pesquisadores como Brown (1996) afirmarem que o ouro é o único
material que poderia substituí-lo com eficiência.

156 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Indicações

Pelo seu baixo índice de desgaste (1 a 2 µm/ano) e sua capacidade


autosselante (deposição de óxidos), podemos notar que esse material é
mais indicado para cavidades de classes I e II de molares e pré-molares.
Entretanto, em cavidades de classe V em que a estética não seja um
fator principal (ex.: terço cervical da face vestibular do 2° molar superior),
podemos indicar o amálgama de prata, pois este apresentará melhor
lisura de superfície, dificultando a retenção de placa bacteriana.

Propriedades

O desempenho clínico do amálgama de prata está vinculado às suas


propriedades, à composição e manipulação profissional, sendo que as
propriedades de maior relevância do ponto de vista clínico são:

• Tempo clínico e facilidade de técnica: um amálgama de prata


triturado adequadamente apresenta um tempo de trabalho em torno
de quatorze minutos e a técnica de confecção pode ser considerada
simples.

• Baixo custo: comparado com os outros materiais restauradores


diretos, é o que apresenta menor custo.

• Baixo índice de desgaste: o índice de desgaste do amálgama é em


torno de 2 a 3 µm/ano. Como comparativo, podemos citar a resina
composta, que tem um desgaste médio anual em torno de 10 µm/ano.

• Estabilidade dimensional: após a trituração da limalha com mercúrio,


há algumas alterações volumétricas. Contudo, ligas de composição
bem balanceadas oferecem como resultado final um material estável,
colaborando para a manutenção da integridade marginal.

• Autosselamento: com o passar do tempo, há uma corrosão do


material. Essa corrosão libera óxidos metálicos que se depositam na
interface dente/restauração promovendo um selamento mediato.

• Resistência à compressão: um amálgama condensado


adequadamente confere uma resistência à compressão na ordem de 50
a 80 mil libras/polegada quadrada, sendo suficiente para resistir às cargas
mastigatórias.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 157


• Longevidade clínica: é o material restaurador direto que apresenta o
maior tempo de longevidade clínica (± 12 anos), sendo que encontramos
relatos de restaurações que permanecem satisfatórias após 30 anos.

A frase de Markley (1951), “uma restauração de amálgama sempre


aparenta pior do que é, contrariamente a uma restauração metálica
fundida que sempre se apresenta melhor do que a realidade”, junto às
características descritas anteriormente, justificam a preferência de muitos
autores pelo amálgama como material de eleição para restaurações
extensas.

Entretanto, como a odontologia ainda carece de um material


“perfeito”, o amálgama de prata apresenta algumas desvantagens, a
saber:

• Falta de adesão: é um material que é contido na cavidade por meio


de princípios mecânicos. Por outro lado, se apresentasse propriedades
adesivas, poderíamos economizar estrutura dental no momento do
preparo cavitário, removendo somente tecido cariado.

• Cor: comparado com as resinas compostas, não possui nenhuma


qualidade estética.

• Escoamento (creep): é a deformação produzida por uma tensão


aplicada em função do tempo. Pode levar uma restauração de amálgama
a se estender para fora do preparo cavitário, aumentando a probabilidade
de fratura das margens e degradação marginal.

• Baixa resistência à tração: como não é um material adesivo, fica


evidente que não possua resistência à tração.

• Toxicidade do mercúrio: as taxas consideradas aceitáveis de


mercúrio no ar, urina e sangue são, respectivamente, 25 µg/m3, 75 µg/l
e 10 ng/ml (SMITH et al, 1970; LANGWORTH et al, 1991; JOKSTAD et
al, 1992). Para que essas taxas sejam mantidas, recomenda-se que a
remoção dos resíduos desse material, bem como das restaurações das
cavidades, seja realizada de forma criteriosa, pois é o vapor de mercúrio
que apresenta comprovada toxicidade. Assim, é conveniente que os
resíduos sejam depositados em potes com água tampados e que a
remoção dos amálgamas antigos seja feita sob intensa refrigeração.
Segundo Berglund (1996), a cada ano, cerca de dez mil toneladas de

158 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


mercúrio são utilizadas, e a maior parte, cerca de 70%, é utilizada na
mineração; cerca de 20% nas indústrias bélicas, de medicamentos e
cosméticos. Apenas 3% desse montante é utilizado na odontologia.

Como já foi citado anteriormente, o amálgama de prata possui


como uma de suas características principais a longevidade clínica,
inclusive em restaurações extensas com correta indicação e seguindo o
protocolo de preparo e restauração (AMORE; ANIDO-ANIDO; PAGANI,
2001), Comparando com os outros materiais, ele só leva desvantagem
em relação ao ouro, cuja longevidade clínica pode ultrapassar os vinte
anos. Materiais, como resinas compostas e cimentos de ionômero de
vidro, apresentam longevidade clínica praticamente igual à metade da
longevidade do amálgama.

Composição

Em 1896, Black recomendou uma composição básica para o


amálgama, apresentada na Figura 3.6.

Vocabulário
Amalgamação: processo de mistura do mercúrio líquido com um ou mais
metais ou ligas para formar um amálgama.

Figura 3.6 | Composição básica das ligas de amálgama de prata

Fonte: elaborada pelo autor.

Por mais de 70 anos, muitas alterações na composição do


amálgama de prata foram propostas, contudo, somente em 1970
a associação dentária americana, por meio da especificação n.
1, passou a padronizar a composição das ligas convencionais de

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 159


amálgama, que deveriam conter 65% de prata, no mínimo; 29%
de estanho, no máximo; 6% de cobre, no máximo; e 2% de zinco,
no máximo. Com a revisão da especificação n.1, em setembro de
1977, a composição química passou a consistir essencialmente de
prata e estanho. Cobre, zinco, índio, ouro e/ou mercúrio podem
estar presentes, porém em quantidades menores que as de prata
e estanho.

A prata, geralmente entre 65% e 74%, é responsável pelo


aumento das propriedades mecânicas e pela diminuição do
escoamento da massa. O estanho, geralmente entre 24% e 29%,
facilita a amalgamação, aumenta a taxa de escoamento, diminui a
velocidade de cristalização, além de ser o maior responsável pela
corrosão do amálgama. O cobre (até 29%) aumenta a resistência
à compressão, determina maior lisura superficial, menor alteração
dimensional, menor degradação marginal, menor corrosão, menor
corrente galvânica e menor “creep” ou escoamento. O zinco,
quando presente até 2%, diminui a corrosão da liga, aumenta a
plasticidade durante a trituração, aumenta a durabilidade da
restauração, melhora a adaptação marginal, mas seu contato
com a umidade antes da cristalização do material pode provocar
expansão tardia e falha na restauração.

Vocabulário
Trituração: processo de mistura das partículas da liga com o mercúrio em
um equipamento chamado amalgamador.

Para a produção do amálgama dental, o mercúrio é misturado com


o pó da liga para amálgama. O pó pode ser produzido pela moagem em
um torno mecânico de um lingote fundido de uma liga para amálgama,
originando partículas de formato irregular. Outra forma de obter o pó é
pela atomização do líquido da liga, produzindo partículas esféricas ou,
ainda, em forma mais alongada, dependendo das técnicas de atomização
e solidificação utilizadas no preparo da liga. A liga também pode ser uma
mistura de limalha e partículas esféricas (Figura 3.7).

160 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Figura 3.7 | Ligas de amálgama de prata

A B C

A – Partículas de liga convencional de limalha (X100); B – Partículas esféricas para amálgama odontológico (X500); C –
Pós de liga típica de fase dispersa com alto teor de cobre mostrando as partículas de prata-estanho em forma de limalha
e as partículas de prata-cobre esféricas (X500).

Fonte: Anusavice, Shen e Rawls (2013 p. 341).

As ligas de amálgama, associadas ao mercúrio, passam por algumas


fases metalúrgicas que são nomeadas por letras gregas e variam de
acordo com a composição das ligas (Quadro 3.2). As propriedades
físicas do amálgama dependem da porcentagem relativa dessas fases
e das microestruturas.
Quadro 3.2 | Símbolos, estequiometria e denominação das fases que estão
envolvidas na presa dos amálgamas dentais

Fases nas ligas de amálgama e Fórmula estequi-


Denominação
nos amálgamas cristalizados ométrica
γ Ag3Sn Gama
γ1 Ag2Hg3 Gama 1
γ2 Sn7-8Hg Gama 2
ξ Cu3Sn Épsilon
η Cu6Sn5 Eta
Eutético prata-cobre Ag-Cu Eutético prata-cobre
Fonte: Anusavice, Shen e Rawls (2005, p. 472).

Classificação das ligas

1. Quanto ao conteúdo de cobre: baixo conteúdo de cobre e alto


conteúdo de cobre.

• Baixo conteúdo de cobre: (0 a 6%).

Partículas usinadas; formato afilado e desigual; maior superfície de


contato; necessita de maior quantidade de mercúrio.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 161


A liga para amálgama é misturada ao mercúrio, procedimento
chamado trituração, o mercúrio dissolve a superfície das partículas da
liga e algumas fases são formadas, consumindo o mercúrio líquido.

Quanto mais partículas de Ag3Sn (fase γ) não consumidas e retidas


na estrutura, maior a resistência do amálgama. A fase γ2 (Sn7-8Hg) é a
mais fraca, menos estável com baixa resistência à corrosão.

Ao mesmo tempo, o mercúrio líquido se difunde para o interior das


partículas da liga. Quando a solubilidade do mercúrio é ultrapassada,
cristais de dois compostos metálicos binários se precipitam: Ag2Hg3
(fase γ1) e composto hexagonal Sn7-8Hg (fase γ2). À medida que o
mercúrio dissolve as partículas da liga, esses dois cristais crescem, o
mercúrio vai desaparecendo e o amálgama se cristaliza.
Figura 3.8 | Reação de cristalização do amálgama de baixo conteúdo de cobre

Ag3Sn + Hg → Ag2Hg3 + Sn8 Hg + Ag3Sn


γ + Hg → γ 1 + γ2 + γ

Fonte: elaborada pelo autor.

• Alto conteúdo de cobre (12 a 30%).

É o amálgama mais utilizado atualmente, com características


mecânicas melhoradas, maior resistência à corrosão, aumenta a dureza
e a integridade marginal, elimina a formação da fase γ2. Há dois tipos
de pó de liga de alto conteúdo de cobre: fase dispersa e um pó de liga
de composição única. Há um aumento das partículas de liga residuais
e redução da matriz. As partículas de prata-cobre, bem como as de
prata-estanho, têm função de agente de carga resistentes, resultando
em um aumento da resistência do material com menor degradação
marginal da restauração. Durante as reações de cristalização, a fase γ2
é praticamente eliminada.

• Alto conteúdo de cobre – Fase dispersa

A composição é a mistura de partículas atomizadas, esféricas da liga


eutética de prata-cobre (71,95% de prata e 28,1% de cobre em peso) e
partículas usinadas de limalha com baixo conteúdo de cobre.

Quando o mercúrio reage com o pó, a prata proveniente da

162 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


partícula prata-cobre se dissolve no mercúrio. Da mesma forma, a prata
e o estanho provenientes das partículas prata-estanho se dissolvem
no mercúrio. O estanho em solução se difunde para a superfície das
partículas prata-cobre da liga e reage com o cobre para formar a fase η
(Cu6Sn5): forma-se uma camada desses cristais ao redor das partículas
prata-cobre não consumidas. Essa camada contém alguns cristais de γ1
que se formam simultaneamente com a fase η, circundam as partículas
fase η e de limalha prata-k na reação apresentada na Figura 3.9.
Figura 3.9 | Reação da liga de fase dispersa

(Ag3Sn + Ag-Cu) Ag2Hg3 + Cu6Sn5


+ → +
Hg (Ag3Sn + Ag-Cu)

(γ + Eutético) γ1 + η
+ → +
Hg (γ + Eutético)

Fonte: elaborada pelo autor.

Observe que não se forma a fase γ2 pois ela foi substituída pela fase
η. A eficácia das partículas ricas em cobre em prevenir a formação de
fase γ depende da sua porcentagem na mistura.

• Alto conteúdo de cobre – Composição única

Cada partícula da liga apresenta uma única composição (60% prata,


27% de estanho e 13% de cobre em peso). Atualmente, pequenas
quantidades de índio ou paládio também são encontradas nessas ligas.

Quando triturados com o mercúrio, a prata e o estanho das fases


Ag-Sn se dissolvem, pouco cobre é dissolvido. Os cristais γ1 crescem,
formando uma matriz que une todas as partículas parcialmente
dissolvidas da liga. Os cristais η são maiores e formam uma rede
de cristais em forma de bastão na superfície das partículas da liga e
dispersos na matriz.

(Ag3Sn / Cu3Sn) + Hg → Ag2Hg3 + Cu6Sn5 + Ag3Sn

( γ / ξ) + Hg → γ1 + η + γ

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 163


Observe que a fase γ2 não se forma nessa reação, embora em
algumas ligas pouca quantidade dessa fase indesejável possa aparecer.

2. Quanto ao conteúdo de zinco:

• Ligas contendo zinco (mais de 0,1%).

• Ligas sem zinco (menos de 0,01%).

O produto da mistura da liga com o mercúrio, nas diferentes


composições, é uma massa plástica que será inserida no preparo
cavitário com o auxílio do porta-amálgama (Figura 3.11) e será
condensada através dos condensadores contra as paredes do preparo,
de acordo com a liga de amálgama selecionada (Figura 3.12).
Figura 3.11 | Porta-amálgama

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 3.12 | Condensadores para amálgama (A) e parte ativa de condensadores em


diferentes tamanhos (B e C)

Fonte: elaborada pelo autor.

A técnica restauradora será tema de outra seção, mas é importante


abordar alguns erros que podem acontecer durante o preparo da liga,
que levam às falhas da restauração.

O ideal seria que a cristalização (reação de presa) do amálgama


ocorresse sem causar alterações dimensionais e que ele permanecesse
estável por muito anos, mas alguns fatores influenciam as dimensões

164 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


iniciais durante a cristalização e a estabilidade dimensional ao longo do
tempo.

Fatores que podem causar alterações dimensionais

Os amálgamas mais modernos, bem manipulados em equipamentos


adequados, apresentam maior estabilidade dimensional pois, logo que se
mistura a liga ao mercúrio, se inicia a dissolução: as partículas se tornam
menores e surge uma contração inicial do material. Em seguida, há o
crescimento da fase γ1, esses cristais aumentam de tamanho e começam
a colidir entre eles, produzindo uma pressão que tende a se opor à
contração. Após 24h, esse material exibe pouca alteração dimensional.
Entretanto, se na composição de um amálgama houver zinco e este
for contaminado por umidade durante a trituração ou condensação,
pode acontecer uma grande expansão após 3-5 dias da confecção da
restauração, fenômeno conhecido como expansão tardia ou expansão
secundária. Quando a água e o zinco reagem, produzem hidrogênio,
que fica preso no interior da restauração, podendo chegar a níveis tão
elevados que causam o creep do amálgama. Assim, é importante manter
o campo operatório seco e evitar o contato do amálgama com as mãos
do cirurgião-dentista ou com saliva durante a trituração e condensação.
Após o término da técnica restauradora, o contato com a saliva não irá
produzir a expansão tardia.

Reflita
A expansão tardia do amálgama é responsável por, aproximadamente, 17%
das falhas nas restaurações de amálgama e pode ser evitada realizando
uma trituração adequada, evitando a contaminação com água ou saliva
de amálgamas que contêm zinco.

Fatores que podem comprometer a resistência

A resistência do amálgama se dá em função do volume das frações


de partículas não consumidas da liga e das fases que contêm mercúrio.
É maior nas ligas com alto conteúdo de cobre.

Trituração

Falhas na trituração devido à subtrituração ou à sobretrituração


comprometem as propriedades mecânicas do amálgama e diminuem
sua resistência.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 165


Conteúdo de mercúrio

Cada partícula de liga deve ser envolvida pelo mercúrio, a falta de


mercúrio irá produzir uma mistura seca e granulosa, produzindo uma
superfície de restauração rugosa e porosa, o que estimula a corrosão.
O excesso de mercúrio produzirá uma redução acentuada da sua
resistência.

Condensação

Falhas na condensação produzem uma queda na resistência.


O tipo de liga está diretamente relacionado com a condensação. A
condensação no interior da cavidade promove uma boa adaptação
do material às paredes do preparo, reduz as porosidades no interior
da massa do amálgama e também a eliminação do mercúrio, o que
favorece uma menor fração da formação em volume das fases da matriz.
As ligas do tipo limalha requerem uma condensação mais vigorosa
que produz elevados valores de resistência à compressão, iniciando
por condensadores com porção ativa menor contra os ângulos da
cavidade, passando para condensadores maiores à medida em que
a cavidade for sendo preenchida; já as ligas de partículas esféricas
necessitam de uma pressão mais suave durante a condensação, além
da utilização de condensadores de porção ativa maiores, para produzir
boa resistência à restauração.

Velocidade da cristalização do amálgama

A amalgamação continua enquanto a massa vai sendo condensada


na cavidade e pode persistir por alguns dias, mas em uma hora ela adquire
resistência suficiente para suportar cargas moderadas. Após 8h, uma boa
liga de amálgama de cristalização rápida vai ter alcançado apenas 70%
de sua resistência. É importante orientar o paciente a não submeter a
restauração a altas cargas até 8 horas após seu término. Além disso,
algumas restaurações podem ter sua resistência aumentada após um
período de seis meses, sugerindo que as reações entre as fases da matriz
e as partículas podem continuar.

Porosidade

A presença de porosidades está relacionada à plasticidade da


mistura, que diminui após o término da trituração até a condensação,

166 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


que não deve ser tardia. A subtrituração da liga também pode levar
à presença de porosidades que vão comprometer a resistência do
amálgama. A presença de porosidades pode ser observada em ligas
com baixo teor de cobre, amálgama de fase dispersa e de composição
única. A condensação vigorosa, com condensadores adequados para
cada tipo de liga, é uma excelente forma de reduzir os espaços vazios
na restauração e melhorar a adaptação nas margens da cavidade. Nas
ligas esféricas, a condensação é facilitada, pressões mais suaves são
suficientes e a presença de porosidades não é um problema para esses
materiais.

Escoamento / Creep

Quanto maior for o escoamento da liga, maior será a taxa de


fraturas marginais nas restaurações. Devemos selecionar ligas que
apresentem escoamento de no máximo 3%, segundo a especificação
n. 1 ANSI/ADA. É influenciado pelas fases da microestrutura do
amálgama. A fase γ1 tem influência fundamental no escoamento
do amálgama; a fase γ funciona como um agente de carga, diminui
o escoamento; a presença da fase γ2 está relacionada a taxas mais
altas de escoamento. Além da ausência da fase γ2, as ligas com alto
teor de cobre de composição única exibem baixos valores de creep,
provavelmente devido aos bastões de η que funcionam como uma
barreira à deformação da fase γ1. Outro fator importante nas taxas é
a manipulação da liga, procurando diminuir as proporções mercúrio/
liga, triturar adequadamente e aumentar a pressão de condensação. A
correta manipulação do amálgama aumenta sua resistência e diminui
as taxas de escoamento.
Quadro 3.3 | Propriedades das diferentes ligas de amálgama dentais
Resistência à compressão Resistência à
(MPa) Escoamento (%) tração – 24h
1h 7 dias (MPa)

Baixo conteúdo de cobre 145 343 2.0 60


Fase dispersa 137 431 0.4 48
Composição única 262 510 0.13 64

Fonte: Anusavice, Shen e Rawls (2005, p. 484).

Longevidade clínica das restaurações de amálgama

O amálgama de prata é indiscutivelmente o material mais indicado


para produzir restaurações diretas mais duradouras, menos sensíveis

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 167


à técnica, que apresenta melhor radiopacidade, aparência bastante
distinta da estrutura dental e com capacidade de selar a interface
dente/material restaurador ao longo do tempo.

As restaurações de amálgama, com o passar do tempo, perdem seu


brilho e apresentam manchas, que dependem da composição da liga,
do tipo de alimentação do paciente, da presença de placa bacteriana e
dos componentes da saliva (água, oxigênio e íons cloreto).

A corrosão ocorre na superfície e na interface entre o material


restaurador e o dente, seus produtos (óxidos e cloreto de estanho)
se depositam nessa interface, favorecendo o autosselamento e a
diminuição da microinfiltração. As ligas com alto conteúdo de cobre
apresentam uma corrosão limitada, pois a fase η é menos susceptível
à corrosão do que a γ2 das ligas convencionais. Assim, é importante
produzir uma restauração com a superfície homogênea e lisa para
minimizar as manchas e a corrosão em qualquer liga.

Outra preocupação é analisar clinicamente a presença de outras


restaurações metálicas, como as em ouro, que, quando em contato
com uma restauração de amálgama, podem sofrer aceleração do
processo de corrosão, em virtude da liberação de mercúrio livre,
que pode contaminar e enfraquecer a restauração de ouro. Além
disso, pode ocorrer o galvanismo, efeito biológico que consiste na
geração de corrente elétrica desenvolvida pelas ações químicas ou
pelo contato de dois metais diferentes, com um líquido interposto;
portanto, essa situação clínica deve ser evitada, pois causa dor.

Com relação ao mercúrio, é importante sua pureza com menos


de 0,02% de resíduos não voláteis, seguindo a Especificação n. 6 da
ANSI/ADA. A proporção entre liga/mercúrio varia de acordo com a
composição da liga, tamanho e forma de partículas e tratamento
térmico utilizado em sua fabricação. A proporção mais recomendada
para as ligas tipo limalha são da ordem de 1/1, ou seja, uma parte de
liga para uma parte de mercúrio, ou 50% de mercúrio. Para as ligas
esféricas, a proporção é de 42% de mercúrio. Atualmente, os fabricantes
procuram utilizar a proporção mínima de mercúrio/liga.

O amálgama pode ser encontrado na forma de pó da liga, que


deve ser manipulada com o mercúrio, o que requer uma técnica
de proporcionamento precisa. Pode ser encontrado na forma de

168 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


comprimidos, de pastilhas pré-proporcionadas ou de cápsulas
descartáveis com quantidades pré-proporcionadas de liga e mercúrio,
que são as mais utilizadas atualmente.

Inicialmente, para obter o amálgama, o pó da liga e o mercúrio eram


proporcionados e misturados manualmente pelo cirurgião-dentista.
Atualmente, a amalgamação mecânica otimiza a padronização do
procedimento, principalmente quando se opta pelas cápsulas pré-
proporcionadas, que contêm a proporção correta mercúrio/pó da liga
e são adaptadas ao amalgamador mecânico, equipamento que permite
selecionar velocidade e tempo da mistura, descartando as cápsulas
ao final. O tempo e a velocidade de trituração mais adequados são
informados pelo fabricante para cada tipo de liga.

A consistência ideal da mistura para a inserção na cavidade é mais


um ponto crítico. O cirurgião-dentista deve observar uma massa
plástica, brilhante e homogênea. Durante a condensação, quando o
material perde o brilho, ficando opaco e com aparência granulosa,
este deve ser descartado adequadamente e substituído por uma nova
mistura.

Lembre-se
Para realizar uma boa restauração de amálgama, é importante a realização
de um preparo cavitário adequado, seguindo os princípios para sua
confecção, a partir da escolha da liga mais indicada de acordo com o
protocolo restaurador, que você irá conhecer e aplicar em outras seções.

É importante salientar que as restaurações de amálgama se


apresentam como uma excelente alternativa, principalmente nas
restaurações Classe II, em que a estética não é o fator primordial, pois
esse é um material menos sensível à técnica restauradora, mais durável,
mais resistente ao desgaste e que apresenta um autosselamento,
protegendo contra a microinfiltração, além de apresentar clínico
menor para sua realização e custo menor quando comparado às
resinas compostas ou restaurações cerâmicas.

Exemplificando
Um paciente se apresenta no consultório com lesão de cárie no dente
46 Classe II MOD (complexa, segundo o número de faces) e na mesial

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 169


do dente 47, que já possuía uma restauração de amálgama. Percebe-se
no exame clínico que esse paciente possui várias restaurações e também
novas lesões de cárie e higiene deficiente. O cirurgião-dentista optou por
aplicar um protocolo de atendimento em que irá realizar a restauração
desse dente com amálgama de prata, de preferência de liga esférica,
visando obter uma superfície altamente polida para que o paciente consiga
realizar a higienização da forma correta; ele irá orientar a higienização e
também o controle da dieta para que o paciente não apresente novas
lesões de cárie.

Pesquise mais
Acesse o link indicado a seguir e encontre mais informações sobre
o amálgama de prata. Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/
document/?code=vtls000220573>. Acesso em: 24 mar. 2017.

Sem medo de errar


Um paciente chega à Clínica da Universidade com uma lesão
de cárie no dente 37, já dizendo ao estudante responsável por seu
exame clínico que não quer receber aquela restauração “cinza”, pois
ouviu dizer que ela tem mercúrio, que pode causar problemas para a
saúde. Durante o exame clínico, constatou-se, também, a presença de
placa bacteriana na cervical de muitos dentes, as papilas gengivais dos
dentes posteriores se apresentam avermelhadas e com aumento de
volume. Após a radiografia do dente, o estudante observou a presença
de cárie nas faces mesial e distal com limite cervical subgengival. Qual
o dente comprometido e qual a classificação da cavidade que será
realizada para a remoção da cárie? Qual o material mais indicado para
essa situação clínica? Como orientar esse paciente sobre as vantagens
e desvantagens das restaurações em amálgama de prata? Quais
informações devem ser abordadas sobre a toxicidade do mercúrio?

Atenção
A composição do amálgama de prata, suas propriedades e tipos diferentes
de ligas são informações muito importantes para solucionar diversos
casos clínicos de dentes que necessitam de restauração!

170 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


O dente comprometido pela cárie é o segundo molar inferior do
lado esquerdo e a cavidade finalizada será de Classe II. Com base nas
informações coletadas durante o exame clínico, é possível verificar
que esse paciente apresenta deficiência na higienização e necessita
de uma restauração que proporcione superfície lisa, para reter menor
quantidade de placa bacteriana; as margens proximais, mesial e
distal, estão subgengivais, o que é um fator limitante para obter uma
restauração em compósito de resina ou em cimento de ionômero
de vidro com qualidade. Observando os princípios dos preparos
cavitários, o amálgama de prata é o material mais indicado para a
realização dessa restauração. Nas orientações, é importante ressaltar
que o amálgama de prata apresenta limitação estética, que nesse caso
não se apresentará como um problema, pois o dente 37 se localiza
mais posteriormente; é importante salientar que esse dente é muito
requisitado na trituração dos alimentos, outro fator que favorece a
utilização do amálgama, que apresenta resistência mecânica melhor
quando comparado aos outros materiais restauradores diretos. Com
relação ao mercúrio, é importante destacar que a forma mais tóxica é
o mercúrio de metila, que é proveniente do consumo de peixes, como
atum e peixe-espada, e não dos amálgamas de prata restauradores;
se um paciente tivesse todos os 32 dentes da boca restaurados em
todas as suas faces, ainda assim não existiria possibilidade de encontrar
níveis nocivos de mercúrio; não existem estudos epidemiológicos
conclusivos comprovando uma relação direta entre doenças
sistêmicas e a presença de restaurações em amálgama; a odontologia
é responsável pelo consumo de apenas 3% de todo o mercúrio
utilizado a cada ano; e a alergia ao mercúrio é muito rara, sendo que
menos do que 2% dos pacientes têm demonstrado alguma reação;
apenas 41 casos de alergia ao amálgama foram publicados, dos quais
37 eram alergia ao mercúrio, dois à prata e dois ao cobre, e somente
17 desses pacientes apresentaram manifestações bucais. Além disso,
as restaurações em amálgama de prata, quando executadas seguindo
suas normas, não causam nenhum problema gengival e podem ser
consideradas biocompatíveis, tanto aos tecidos moles da boca como
ao complexo dentino-pulpar.

Avançando na prática
Lesão de cárie com ausência de esmalte no cavo-superficial

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 171


Lembre-se
Os princípios biológicos dos preparos cavitários sempre devem ser
considerados durante o preparo dos dentes em qualquer técnica
restauradora.

Paciente se apresenta com uma lesão de cárie que acomete a face


oclusal e distal do dente 46, com acúmulo de placa nas faces proximais
dos dentes posteriores. Após a radiografia, observa-se a face mesial
íntegra, a cárie na distal e na oclusal, em que se observa proximidade
ao tecido pulpar. Após a remoção da cárie, você constata que, na face
distal, essa cárie se estende para o limite gengival e a parede gengival
não apresenta esmalte em todo o cavo-superficial; na face oclusal, você
encontra uma cavidade profunda, mas com todo o cavo-superficial
suportado por dentina. De que dente estamos tratando? Classifique a
cavidade e descreva uma opção de proteção dentino-pulpar com base
nas informações e selecione a liga de amálgama de prata para realizar
essa restauração.

Resolução da situação-problema

Nesse caso, estamos tratando do primeiro molar inferior do lado


direito em uma cavidade Classe II OD, cavidade composta. Uma
opção para a proteção dentino-pulpar é a aplicação de cimento de
ionômero de vidro na parede pulpar até que haja uma distância do
limite amelodentinário de 2 mm para criar uma espessura adequada
de amálgama. A liga de amálgama deve ser de alto teor de cobre
de composição única, em que há um aumento das partículas de
liga residuais e redução da matriz. As partículas de prata-cobre,
bem como as de prata-estanho, têm função de agente de carga
resistentes, resultando em um aumento da resistência do material com
menor degradação marginal da restauração; durante as reações de
cristalização, fase γ2 é praticamente eliminada.

Faça você mesmo


Como você selecionaria uma liga de amálgama de prata para um paciente
com múltiplas lesões de cárie e com deficiência na higienização por ter
dificuldades motoras?

172 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Faça valer a pena
1. Baixo custo, autosselamento, longevidade, facilidade de manipulação,
desempenho clínico satisfatório, além do comportamento inerte frente aos
tecidos bucais, fizeram do amálgama o material mais utilizado no mundo
para restaurações diretas durante muitos anos.
São características do amálgama de prata:
a) Alta resistência à compressão e alta resistência à tração.
b) Alta resistência à compressão e baixa resistência à tração.
c) Baixa resistência à compressão e baixa resistência à tração.
d) Baixa resistência à compressão e alta resistência à tração.
e) Baixa resistência à compressão e alta resistência ao cisalhamento.

2. Corrosão é um processo químico ou eletroquímico no qual o metal é


atacado pelo agente do meio, resultando na dissolução parcial ou completa
do sólido. O amálgama de prata apresenta, com o passar do tempo, a
corrosão.
O material que está na composição do amálgama, responsável por esse
processo químico, é o:
a) Cobre.
b) Prata.
c) Níquel.
d) Estanho.
e) Zinco.

3. A primeira liga de amálgama de prata apresentou alta corrosão e alterações.


A composição do amálgama foi modificada e alguns componentes foram
adicionados para minimizar a corrosão dimensional.
Os componentes que modificaram as taxas de corrosão nas ligas de
amálgama de prata foram:
a) Cobre e prata.
b) Cobre e níquel.
c) Cobre e zinco.
d) Estanho e zinco.
e) Índio e cobre.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 173


Seção 3.3
Restaurações em amálgama de prata
Diálogo aberto

Olá, aluno! Seja bem-vindo a mais uma seção de estudos deste


livro didático!

Dando sequência ao conteúdo, nesta seção, estudaremos


as manobras técnicas para a confecção das restaurações em
amálgama de prata.

Vamos relembrar nossa situação da realidade profissional: a


Clínica Odontológica da Universidade, assim como as clínicas
particulares ou consultórios odontológicos, recebe inúmeros
pacientes com diferentes necessidades, que apresentam lesões
de cárie, com relatos de dor ou não. Dependendo da extensão
da lesão de cárie, de sua localização, da idade do paciente e do
estado de vitalidade pulpar, o desafio é a escolha da proteção do
remanescente dentário mais indicado para conservar a vitalidade
pulpar, reverter os possíveis estágios iniciais de agressões à polpa
e, finalmente, restaurar o dente, tendo o amálgama de prata como
uma alternativa de tratamento restaurador.

O paciente R.J.D., 40 anos, chega à Clínica da Universidade


com uma lesão de cárie extensa no sulco oclusal do dente 46.
Ao examinar o paciente, o acadêmico observa que há várias
restaurações em amálgama de prata em outros dentes, inclusive no
17 e no 16, além de desgaste acentuado nos dentes e deficiência na
escovação. Foi realizada uma radiografia que evidenciou a extensão
da lesão de cárie para a mesial e distal do dente 46, sem evidência
radiográfica de cárie no dente 47. A base da lesão de cárie oclusal
está ligeiramente abaixo do limite amelodentinário, e nas proximais
a lesão se estende até a papila gengival. Com a avaliação detalhada
da condição pulpar, observou-se a manutenção da vitalidade desse
dente. Como o acadêmico deve realizar o preparo cavitário do
dente com vistas a proteger sua vitalidade? Cite uma alternativa para

174 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


realizar a proteção do complexo dentino-pulpar. Qual o material
restaurador mais adequado para essa situação clínica? Como
deve ser realizada a restauração, já que as faces proximais estão
comprometidas pela cárie?

Atenção
Para realizar uma boa restauração em amálgama de prata, é importante
que você tenha realizado um preparo cavitário adequado.

Não pode faltar

Tenha em mente a sequência operatória: isolamento absoluto do


campo operatório; proteção do complexo dentino-pulpar; instalação
de matriz e cunha; seleção da liga de amálgama de prata; proporção
de liga e mercúrio; trituração; inserção; condensação; brunidura pré-
escultura; escultura; brunidura pós-escultura ou alisamento; verificação
dos contatos oclusais; acabamento e polimento.

A técnica restauradora para cavidade Classe I, oclusal, simples,


não apresenta um alto grau de dificuldade. Assim, vamos descrever a
técnica para restauração de uma cavidade Classe II MOD, que requer
uma metodologia mais detalhada e que fornecerá conhecimentos
para que você esteja habilitado para a restauração em amálgama em
diversas situações clínicas.

Isolamento absoluto do campo operatório

Como já foi tratado anteriormente, o amálgama não pode ser


contaminado com umidade, portanto, não devemos expor o material
ao contato com os fluidos da cavidade oral. Por isso, utilizaremos o
isolamento absoluto do campo operatório, exceto nos casos em que
as condições clínicas não permitam.

Matriz

Um dos problemas enfrentados para a realização de restaurações em


amálgama de prata nas cavidades que comprometem a face vestibular
ou lingual (Classe I composta), uma ou mais faces proximais (Classe II
composta, complexa ou Slot), será a necessidade de reestabelecer o
contorno nessas faces. Para isso se utiliza a matriz, dispositivo metálico
que substitui as paredes ausentes.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 175


Funções: devolve o contorno anatômico, mantém o espaço
interproximal, impede o contato do material restaurador com o dente
vizinho nas cavidades Classe II, facilita a condensação do amálgama,
evita excesso de material, protegendo o periodonto.

Requisitos: deve ter pequena espessura, para não causar a falta


de contato com o dente adjacente; ser flexível o suficiente para
adequar-se ao contorno do dente; ter rigidez para permitir a inserção
e condensação do material sem deformar; ter altura compatível com a
altura do preparo cavitário, devendo ficar de 1 a 2 mm acima do cavo-
superficial; e deve ser descartada após sua utilização.

As matrizes universais são apresentadas comercialmente na forma


de tiras de aço flexíveis de 5 e de 7 mm, ou as pré-fabricadas em
formato que favorece o contorno cervical dos dentes (Figura 3.13 A).
Sempre devem ser preparadas adequadamente para a situação clínica
(Figura 3.13 B) e necessitam de um dispositivo porta-matriz (Figura 3.14).
Podemos utilizar ainda as matrizes individuais (rebitadas e soldadas,
matriz de Barton, matriz em “T” e automatriz).

Assimile
Sempre que o preparo cavitário envolver a perda de uma face e, portanto,
do contorno da cavidade, você terá que utilizar uma matriz para possibilitar
a condensação do amálgama e auxiliar na reconstrução do contorno
anatômico.

Figura 3.13 | Matrizes de aço

A – matrizes convencionais em tira; matriz tipo bumerangue; B – matriz com extensão para as faces proximais sendo
preparada pelo brunidor; C – arredondamento da face proximal.
Fonte: elaborada pelo autor.

Porta-matriz

Equipamento utilizado para manter as matrizes ajustadas à coroa do


dente que receberá a restauração (Figura 3.14).

176 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Figura 3.14 | Porta-matriz Tofflemire e tira matriz

Fonte: elaborada pelo autor.

Pesquise mais
Foram desenvolvidos vários tipos de matrizes individuais para utilizar em
cavidades compostas e complexas. Pesquise sobre alguns tipos: Matriz de
Hollemback; Matriz soldada; Matriz rebitada; Matriz em “T” e automatriz.
Disponível em: <http://143.107.206.201/restauradora/dentistica/temas/
amalgama/amalgama_09/amalgama_09.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2017.

Encunhamento

Utilizar as cunhas, dispositivos auxiliares, posicionadas na


região de ameia, geralmente pela lingual, entre a matriz de aço e o
dente adjacente, colocando a matriz junto ao término cervical do
preparo cavitário.

Funções: fixar o conjunto porta-matriz/matriz; afastar


ligeiramente os dentes; evitar o extravasamento do amálgama; e
auxiliar no restabelecimento do ponto de contato.

Requisitos: podem ser de madeira (as mais utilizadas), plásticas


e elásticas, e estão disponíveis em diversos tamanhos. As cunhas
de madeira têm formato de pirâmide triangular, devem ser
ajustadas com o auxílio de lâminas de bisturi ou discos de lixa,
para melhor adaptação no espaço interdental. Geralmente, são
inseridas no espaço interdental de lingual para vestibular, devido a
maior amplitude da ameia lingual.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 177


Figura 3.15 | Exemplo de simulação de preparo cavitário MOD em manequim (A);
sistema de matriz e cunhas instaladas com erro na seleção do tamanho da cunha,
mantendo espaço entre parede cervical e matriz por mesial (B) e correta seleção da
cunha na mesma face mesial (C)

Fonte: elaborada pelo autor.

Atenção
Observe que as cunhas são importantes para manter a tira de matriz bem
adaptada à parede cervical do preparo cavitário. Caso você não tenha esse
cuidado, certamente, a restauração apresentará excesso cervical.

Seleção da liga

Lembre-se
Utilize seu conhecimento a respeito das ligas para selecionar o material
mais adequado para cada situação clínica.

Considerar fatores, como o tempo de presa, tamanho e formato das


partículas. Sempre que possível, optar pelas ligas com alto conteúdo de
cobre, apresentadas na forma de cápsulas pré-dosadas, o que garante a
menor e mais adequada proporção de mercúrio/liga, além de assegurar
que não ocorra o início da amalgamação durante o armazenamento,
oferece menor risco de acidentes com vazamento de mercúrio durante
o proporcionamento e formação de vapor de mercúrio no ambiente de
trabalho. Esse material requer a trituração mecânica em equipamento
adequado (Figura 3.16), seguindo as recomendações de tempo/
velocidade de trituração sugeridos pelo fabricante.

Trituração

Um amálgama bem triturado deve apresentar uma massa homogênea


de liga e mercúrio. Uma massa subtriturada se apresentará opaca e não
terá a coesão necessária para uma boa restauração. Por outro lado, a
sobretrituração provocará um aumento no creep, levando, portanto,
à expansão tardia e a fraturas nas margens da restauração, acelerando

178 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


a cristalização e diminuindo o tempo de trabalho. Após a trituração, o
amálgama é colocado em pote apropriado ou pote Dappen.

Vocabulário
Creep ou escoamento: deformação produzida por tensões no interior do
amálgama que pode causar a expansão tardia e fraturas da margem da
restauração.

Trituração ou amalgamação: processo de mistura das partículas da liga


com o mercúrio, podendo ser manual ou em um equipamento chamado
amalgamador.

Figura 3.16 | Aparelhos trituradores mecânicos

Fonte: elaborada pelo autor.

Inserção e condensação

Devido ao mercúrio em sua composição e à sensibilidade do


material à umidade, não devemos tocar o amálgama com as mãos:
ele deve ser inserido ou depositado na cavidade, em pequenas
quantidades, usando o porta-amálgama (Figura 3.17; Figura 3.18 A) e
condensado usando os condensadores apropriados (Figura 3.18 B).
Figura 3.17 | Porta-amálgama e suas partes constituintes

Fonte: elaborada pelo autor.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 179


A inserção do amálgama em cavidades compostas ou complexas
deve iniciar pelas caixas. Nesse caso de cavidade MOD, iniciar pelas
caixas proximais. Com o auxílio do porta-amálgama, apreender uma
pequena quantidade de amálgama, depositar junto à parede cervical.

Funções: depositar o amálgama na cavidade.

A condensação será realizada com condensador de Ward (ou o que


o cirurgião-dentista tiver à disposição e se adaptar), do maior tamanho,
que possa alcançar o fundo da cavidade proximal sem interferência
nas suas paredes ou na matriz. Condensar contra os ângulos do
preparo cavitário e contra as paredes circundantes. A pressão durante
a condensação está relacionada ao tipo de liga selecionada. As ligas do
tipo limalha ou de fase dispersa devem ser vigorosas, contra os ângulos
da cavidade para boa adaptação e ausência de porosidades, e se
houver excesso de mercúrio, este aflora na superfície da massa e deve
ser removido com auxílio do próprio condensador. Para a liga esférica
será necessária menor pressão para sua acomodação na cavidade.

Quando o amálgama chegar até a parede pulpar, a cavidade proximal


oposta passa a ser preenchida da mesma forma, até chegar na altura da
parede pulpar (Figura 3.19 A).

Figura 3.18 | Inserção e início de condensação

Fonte: elaborada pelo autor.

Nesse momento, a cavidade complexa se transforma em uma


cavidade simples (Figura 3.19 A). Como se fosse uma cavidade oclusal,
pequenas quantidades de amálgama inserido devem ser condensadas
contra os ângulos diedros, evitando a formação de porosidades e falhas
na adaptação. Os condensadores de Ward maiores serão utilizados,
completando a cavidade, em movimentos contra as margens do
preparo, até que haja um excesso de 1 mm acima do cavo-superficial.
Após o término da trituração, você terá de 3 a 4 minutos para terminar
a condensação.

180 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Funções: preencher a cavidade com o amálgama, adaptá-lo
às paredes cavitárias e compactá-lo adequadamente, para evitar a
formação de porosidades.
Figura 3.19 | Condensação nas caixas proximais e na caixa oclusal

Fonte: elaborada pelo autor.

Brunidura pré-escultura

Deve ser realizada com brunidor 29 (Figura 3.20 B) ou o número 33


de Bennett em direção às margens do preparo, ou com o condensador
n. 6 de Hollemback, muito usado como brunidor e para dar as primeiras
formas à restauração por ter ponta ativa afilada.
Figura 3.20 | Cavidade preenchida com amálgama de prata em excesso e início da
brunidura

Fonte: elaborada pelo autor.

É realizada em movimentos de vai e vem, com pressão para que o


mercúrio aflore, fique na porção superficial da massa e seja removido
durante a escultura. Tem como função melhorar a adaptação do
material às margens da cavidade, mantendo o excesso para a escultura.

Funções: aumentar a lisura superficial, reduzir o conteúdo de mercúrio


na superfície, melhorar a integridade marginal, diminuir a corrosão do
amálgama, aumentar a resistência à fraturar e facilitar o polimento.

Escultura

Nesse passo, os instrumentos utilizados serão os que o cirurgião-


dentista preferir. A escultura será iniciada pela face oclusal, com a porção

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 181


mais externa do explorador n. 5 apoiada na união entre amálgama e
matriz, com movimento de vestibular para lingual, esboçando a vertente
externa da crista marginal (Figura 3.21 A). Em seguida, inicia-se a escultura
das vertentes triturantes das cúspides e conformação das fóssulas e
sulco central, que pode ser realizada com o esculpidor de Hollemback n.
3 e 3S, de Frahn, discoide e cleoide, sempre apoiados no remanescente
dentário para evitar a formação de fenda entre material restaurador e
margens do preparo.

Funções: devolver a forma e a função do dente.

Atenção
A velocidade de cristalização do amálgama é informada pelo fabricante:

Rápida: 3 a 6 minutos.

Regular: 6 a 10 minutos.

Lenta: 10 a 15 minutos.

Para iniciar a escultura, o material deve oferecer resistência à ação


do esculpidor.
Figura 3.21 | Início da escultura

Fonte: elaborada pelo autor.

Dando sequência, continuar a escultura com diferentes


esculpidores, sempre apoiados no remanescente, reproduzindo as
vertentes triturantes das cúspides.
Figura 3.22 | Escultura

Fonte: elaborada pelo autor.

182 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Após o término da escultura, remover o excesso de amálgama na
interface entre amálgama e a tira de matriz utilizando o explorador n.
5. Desparafusar o porta-matriz, apoiar a tira de matriz, mantendo em
posição, remover o porta-matriz, remover as cunhas (Figura 3.23).
Figura 3.23 | Escultura

Fonte: elaborada pelo autor.

A técnica de remoção da matriz depende do tipo de matriz utilizada.


Nesse caso utilizamos a matriz convencional, então devemos iniciar a
remoção da tira de matriz por mesial com um movimento em direção
à lingual, nunca puxar a matriz no sentido oclusal; em seguida, por
distal, com cuidado para não fraturar a restauração.
Figura 3.24 | Remoção de excessos proximais

Fonte: elaborada pelo autor.

Remover os excessos proximais de amálgama com auxílio do


esculpidor de Hollemback ou explorador n. 5, com o cuidado de apoiar o
instrumento no remanescente para não causar falha na interface dente/
material restaurador. Utilizar o fio dental para remover excessos cervicais
e alisar a restauração com cuidado para não romper o contato proximal.

Brunidura pós-escultura ou alisamento

Utilizar os brunidores com leve pressão sobre o material restaurador,


com movimentos do centro da restauração para as margens.

Funções: aumentar a adaptação marginal, aumentar a lisura e diminuir


as porosidades da superfície do amálgama, melhorar o selamento e o
desempenho clínico da restauração.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 183


Figura 3.25 | Alisamento ou brunidura pós-escultura

Fonte: elaborada pelo autor.

Remoção do isolamento absoluto e verificação da oclusão

A remoção do isolamento absoluto deve ser cuidadosa. Remover


as amarrias com o explorador, remover o grampo com auxílio da pinça
Palmer, cortar o lençol de borracha entre os furos, remover o arco e o
lençol de borracha.

Durante a atividade clínica, nesse momento, o cirurgião-dentista


deve verificar os contatos oclusais utilizando um carbono interoclusal
e fazer as adequações necessárias na escultura.

Reflita
Para reduzir os riscos de contaminação do profissional e do paciente com o
mercúrio, é importante seguir algumas recomendações: utilizar equipamento
de proteção individual (máscara, óculos de proteção, luvas, gorro e vestir
avental), utilizar isolamento absoluto do campo operatório durante a
restauração e a remoção de restaurações, descartar todos os resíduos de
amálgama em um recipiente inquebrável que tenha fecho hermético, sob
um filme de água ou solução fixadora de radiologia. As cápsulas abertas
devem ser descartadas da mesma forma, pois contêm resíduos de mercúrio.
Estes resíduos devem ser encaminhados posteriormente para empresas
que fazem a recuperação desse material. O ambiente de trabalho deve ser
cuidadosamente projetado para evitar a retenção de resíduos e ventilado para
evitar a formação de vapor de mercúrio.

Acabamento e polimento das restaurações de amálgama

É uma etapa muito importante do procedimento restaurador e


tem como objetivo proporcionar contorno adequado, o mais próximo
possível da anatomia fisiológica, impedindo ou dificultado o acúmulo
de placa bacteriana nas margens e superfícies das restaurações.

184 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Acabamento: procedimento que visa ao refinamento anatômico
da restauração, remoção de excessos, retificar e definir melhor os
detalhes anatômicos inerentes a cada dente, modificar inclinações,
curvas ou depressões realizadas incorretamente durante a confecção
da restauração.

• Materiais empregados: brocas multilaminadas (12 a 16 lâminas),


tiras de lixa de aço (granulação grossa e média).

Polimento: visa dar textura final a uma restauração para que esta
apresente uma superfície o mais lisa possível e semelhante à superfície
do esmalte natural, portanto, sem presença de riscos e excessos de
material.

• Materiais empregados: nessa fase, o poder de corte ou


desgaste diminui – rodas de feltro associadas a pastas abrasivas de
granulação fina e ultrafina para resinas compostas, pastas de polimento
associadas a pontas montadas em forma de pincel com cerdas macias
para amálgama.

Vantagens de realizar o acabamento e polimento

Proporciona superfície regular e lisa, facilita a higienização, diminui


a quantidade de placa bacteriana aderida à superfície da restauração
e a agressão aos tecidos periodontais, diminui degradação marginal,
a infiltração marginal, a recidiva de cárie, diminui a corrosão do
amálgama, diminui a ocorrência de fraturas marginais, e assim aumenta
a durabilidade clínica das restaurações.

Cuidados

Utilizar uma técnica simplificada, brocas, pontas e lixas limpas,


esterilizadas e com máximo poder de corte ou desgaste. Evitar
o aquecimento utilizando sempre a refrigeração, motor de baixa
velocidade, movimentos suaves e intermitentes. Evitar o contato dos
materiais com o tecido periodontal e, ao remover excessos proximais,
manter o contato para evitar a impacção alimentar.

Quando polir?

Amálgamas convencionais – 48h após a conclusão da restauração.

Amálgamas de fase dispersa – 24h.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 185


Amálgama alto teor de cobre – imediato (15-30-60 min após a
trituração).

Sistemática de trabalho: realizar ordenadamente – dos dentes


posteriores para anteriores e faces O-V-L-P; usar instrumentos
cortantes antes dos abrasivos; abrasivos em ordem decrescente;
refrigeração (álcool, água, pastas, gel lubrificante); após cada abrasivo,
lavar intensamente; pressão leve; movimentos intermitentes.

Acabamento

a) Acabamento imediato (mesma sessão): contorno anatômico;


remoção de excessos cervicais, proximais (limas, lixas metálicas) e
oclusais; ajuste da oclusão.

b) Acabamento mediato (após a cristalização): regularização


das cristas marginais – discos de lixa; regularização das superfícies
proximais – discos de lixa quando o acesso é possível e tiras de lixa
metálicas; refinar a escultura e corrigir a oclusão quando necessário –
brocas multilaminadas.

Podemos realizar o acabamento e polimento a cada dente


restaurado ou no final de todo o tratamento restaurador, por meio das
seguintes técnicas:

1. Borrachas abrasivas: baixa rotação; refrigerada (com água,


com álcool, pastas abrasivas, gel lubrificante); forma de taça ou chama;
abrasividade decrescente: marrom, verde e azul.

2. Pós-abrasivos: baixa rotação; em forma de pasta (com água ou


álcool); auxílio de escova Robinson ou taça de borracha; abrasividade
decrescente: pedra pomes, branco de Espanha e óxidos metálicos –
Amalgloss.

3. Pastas abrasivas: baixa rotação; óxido de alumínio; auxílio de


discos de feltro; abrasividade decrescente: Poli I, Poli II, Metalux (brilho).

4. Mista: por meio de pastas abrasivas associadas a taças de


borracha e escovas.

186 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Exemplificando
Um paciente se apresenta no consultório com lesão de cárie no dente
47 Classe II MO (composta, segundo o número de faces), que é o último
dente na mandíbula do lado esquerdo do paciente. O cirurgião-dentista
deve instalar o isolamento absoluto para realizar a restauração desse
dente e o grampo deverá ser colocado nesse mesmo dente. Qual o tipo
de matriz mais indicado para esse caso?

Como o grampo será colocado nesse dente, a matriz individual é a mais


indicada, podendo ser a matriz rebitada, por exemplo.

Sem medo de errar


O paciente R.J.D., 40 anos, chega à Clínica da Universidade
com uma lesão de cárie extensa no sulco oclusal do dente 46. Ao
examinar o paciente, o acadêmico observa que há várias restaurações
em amálgama de prata em outros dentes, inclusive no 17 e 16, além
de desgaste acentuado nos dentes e deficiência na escovação. Foi
realizada uma radiografia que evidenciou extensão da lesão de cárie
para a mesial e distal do dente 46, sem evidência radiográfica de cárie
no dente 47. A base da lesão de cárie oclusal está ligeiramente abaixo
do limite amelodentinário e nas proximais a lesão se estende até a papila
gengival. Com a avaliação detalhada da condição pulpar, observou-se
a manutenção da vitalidade desse dente. Como o acadêmico deve
realizar o preparo cavitário desse dente com vistas a proteger sua
vitalidade? Cite uma possibilidade para realizar a proteção do complexo
dentino-pulpar. Qual o material restaurador mais adequado para essa
situação clínica? Como deve ser realizada a restauração, já que as faces
proximais estão comprometidas pela cárie?

Atenção
Essa cárie resultará em uma cavidade terapêutica complexa por envolver
as faces mesial, oclusal e distal do primeiro molar inferior do lado direito.

Para manter a vitalidade pulpar desse dente, o acadêmico deve


seguir os princípios biológicos dos preparos cavitários: observar a
refrigeração com água das canetas de alta e baixa rotação; utilizar as
pontas diamantadas para esmalte e brocas em dentina, sempre de boa
qualidade e novas, com boa capacidade de desgaste ou corte, para

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 187


não aquecer o remanescente; realizar movimentos intermitentes para
evitar o aquecimento; promover o mínimo desgaste, com preparos
conservadores; cuidado ao utilizar o jato de ar para não desidratar a
dentina e promover a movimentação do fluido dentinário, causando
sensibilidade pós-operatória. Na situação apresentada, a lesão de
cárie nas imediações do limite amelodentinário deve resultar em
uma cavidade rasa. Uma vez que será mantida uma boa quantidade
de dentina íntegra, separando a restauração do tecido pulpar, uma
alternativa para realizar a restauração é aplicar o amálgama diretamente
na cavidade, já que ele não transmitirá estímulos ao tecido pulpar.
O material adequado para restauração desse dente é o amálgama
de prata por alguns fatores: na caixa proximal, a cárie está próximo
à margem gengival; deficiência de higienização; existência de outras
restaurações em amálgama nos dentes antagonistas; desgastes
acentuados nos dentes; além disso, a propriedade do amálgama de
prata de apresentar autosselamento, será favorável nessa situação. As
faces proximais comprometidas pela cárie exigem a utilização de um
sistema matriz e cunha para assegurar a possibilidade de reconstruir a
anatomia das faces proximais.

Avançando na prática
Slot vertical distal

Paciente se apresenta com sensibilidade no dente 35 ao comer


alimentos doces. Durante o exame clínico, o cirurgião-dentista não
observa lesão clinicamente aparente, embora seja visível o acúmulo
de placa na cervical dos dentes posteriores e várias restaurações em
amálgama nos dentes posteriores. Após a realização da radiografia, foi
possível observar a presença de lesão de cárie estritamente proximal
que compromete esmalte e dentina e a crista marginal na face distal. O
cirurgião-dentista optou por realizar essa restauração em amálgama de
prata: explique os motivos que justificam essa escolha. Quais serão os
componentes dessa cavidade após a remoção da cárie? Como deve
ser realizada a condensação do amálgama se a liga escolhida for de
fase dispersa?

Resolução da situação-problema

Devido ao alto índice de cárie e deficiência na higienização, o


material indicado para realizar essa restauração é o amálgama de

188 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


prata. Os componentes dessa cavidade após a remoção da cárie são:
parede axial (parede de fundo), parede gengival, parede vestibular e
lingual; ângulos diedros: vestíbulo-axial, áxio-lingual, cérvico-axial;
ângulos triedros; áxio-vestíbulo-cervical e áxio-línguo-cervical. Após
o isolamento absoluto do campo operatório, deve ser instalado o
sistema de matriz e cunha para restabelecer a face distal. A matriz deve
ser brunida contra a face mesial do dente 36 para garantir o contato
proximal. A condensação do amálgama de prata de fase dispersa
deve ser em pequenas quantidades, com condensador compatível
com o tamanho da cavidade, com pressão, contra os ângulos para
evitar a formação de porosidades; seguir com um condensador maior
preenchendo a cavidade até que um excesso de 1 mm acima do cavo-
superficial seja estabelecido.

Faça você mesmo


Como você deve iniciar a escultura de uma cavidade oclusal de molar
inferior após a condensação do amálgama com excesso?

Faça valer a pena


1. Amálgama que contém zinco na sua composição, se contaminado
por umidade durante a trituração ou condensação, pode apresentar uma
grande expansão após 3-5 dias da confecção da restauração, fenômeno
conhecido como expansão tardia ou expansão secundária. Quando a
água e o zinco reagem, produzem hidrogênio, que fica preso no interior
da restauração, podendo chegar a níveis tão elevados que causa o creep
do amálgama. Assim, é importante manter o campo operatório seco, evitar
o contato do amálgama com as mãos do cirurgião-dentista ou com saliva,
durante a trituração e durante a condensação. Após o término da técnica
restauradora, o contato com a saliva não irá produzir a expansão tardia.
Quais as manobras para evitar a contaminação com umidade do amálgama
de prata?
a) Isolamento relativo do campo operatório; utilização de aplicador de
amálgama de prata.
b) Isolamento relativo do campo operatório; uso de luvas para inserção do
amálgama de prata.
c) Isolamento absoluto do campo operatório; utilização de aplicador de
amálgama de prata.
d) Sugador plástico; utilização de aplicador de amálgama de prata.
e) Uso de luvas; utilização de aplicador de amálgama de prata.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 189


2. A inserção do amálgama deve ser realizada em pequenas porções, com
auxílio do porta-amálgama. A condensação visa preencher a cavidade com
o amálgama, adaptá-lo às paredes cavitárias e compactá-lo, reduzindo a
ocorrência de porosidades.
Em uma cavidade Classe I simples, a inserção e condensação do amálgama
devem ser realizadas:
a) Em pequenas porções, iniciando contra os ângulos da cavidade.
b) Em pequenas porções, iniciando contra as paredes circundantes.
c) Em porção única, iniciando contra as paredes circundantes.
d) Em porção única, iniciando contra os ângulos da cavidade.
e) Em pequenas porções, iniciando contra a parede de fundo.

3. O preparo cavitário e a técnica restauradora serão realizados de acordo


com as faces envolvidas pela lesão de cárie, assim, a inserção do amálgama
também deve considerar a extensão da lesão.
Em uma cavidade Classe II composta ou complexa, a inserção e condensação
do amálgama deve ser realizada:
a) Em pequenas porções, iniciando contra os ângulos da cavidade oclusal.
b) Em pequenas porções, iniciando contra as paredes circundantes da
cavidade oclusal.
c) Em porção única, iniciando contra as paredes circundantes da caixa
proximal.
d) Em pequenas porções, iniciando contra os ângulos da cavidade proximal.
e) Em pequenas porções, iniciando contra a parede de fundo da caixa
proximal.

190 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Seção 3.1
Protocolos de proteção pulpar e restaurações de
amálgama de prata
Diálogo aberto
Olá, aluno! Seja bem-vindo a mais uma seção de estudos deste livro
didático!

Dando sequência ao conteúdo, nesta seção, estudaremos as


diferentes situações em que o cirurgião-dentista, frente a dentes com
lesões de cárie, precisa utilizar seus conhecimentos de diagnóstico
de condição pulpar e dos biomateriais que podem ser utilizados para
proteção do complexo dentino-pulpar com o objetivo de manter e até
restaurar a vitalidade pulpar.

Vamos relembrar nossa situação da realidade profissional: a Clínica


Odontológica da Universidade, assim como as clínicas particulares ou
consultórios odontológicos, recebe inúmeros pacientes com diferentes
necessidades, que apresentam lesões de cárie, com relatos de dor ou
não. Dependendo da extensão da lesão de cárie, de sua localização,
da idade do paciente e do estado de vitalidade pulpar, o desafio é a
escolha da proteção do remanescente dentário mais indicado para
conservar a vitalidade pulpar, reverter os possíveis estágios iniciais de
agressões à polpa e, finalmente, restaurar o dente, tendo o amálgama
de prata como uma alternativa de tratamento restaurador.

O paciente J.D.S., 25 anos, se apresentou na Clínica da Universidade


com uma lesão de cárie extensa no sulco oclusal do dente 36 e no dente
27, sulco pigmentando na oclusal que se estende para lingual, sem
presença de dor. Após o exame clínico completo, o acadêmico realizou
radiografias dos dois dentes. Com o auxílio do exame, ele observou que
os dentes apresentavam faces proximais, mesial e distal íntegras. Ao
realizar o exame da condição pulpar, observou que a vitalidade dos dois
dentes estava preservada. Com relação à higienização, constatou que
esse paciente tem dificuldade para remover a placa bacteriana e que
novas lesões de cárie estão aparecendo, embora tenha sido realizado

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 191


um protocolo de atendimento com o objetivo de melhorar a eficácia
da técnica de higienização. Após a realização do preparo cavitário do
dente 36, detectou a presença de cárie em ponto no centro da parede
pulpar, voltou a examinar a radiografia periapical e observou que a
lesão de cárie comprometia mais da metade da espessura de dentina.
De que forma o cirurgião-dentista deve realizar a remoção do tecido
cariado? Após a remoção da cárie, ele observa que a cavidade se
tornou bastante profunda: qual a melhor forma de realizar a proteção
do complexo dentino-pulpar para manter a vitalidade desse elemento
após a redução ou eliminação do agente agressor?

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de indicar corretamente


cimentos odontológicos por meio do conhecimento da composição,
das propriedades e técnicas de manipulação e inserção; identificar o
protocolo de proteção do complexo dentino-pulpar em diferentes
simulações de preparos cavitários por meio de atividades pré-clínicas
utilizando hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), cimentos de ionômero de
vidro (CIV), de óxido de zinco com e sem eugenol), agregado de
trióxido mineral (MTA).

Atenção
É muito interessante relembrar que podem existir algumas alternativas
para a realização de protocolos conservadores da vitalidade pulpar para
uma mesma situação clínica. Muitos fatores vão colaborar para a escolha
entre esses protocolos.

Não pode faltar


No momento em que existe o acesso à lesão de cárie, é muito
importante verificar a textura e coloração da dentina comprometida
pela cárie para o correto diagnóstico da lesão e da escolha da conduta
mais indicada para recuperar ou manter a saúde pulpar. Nesse
momento é necessário o cuidado especial para manter o campo
operatório limpo e seco.

Na situação clínica descrita, no momento em que o cirurgião-


dentista observa o tecido cariado, sugestivo de cavidade profunda, ou
muito profunda, ele deve se preocupar em minimizar a contaminação
no campo operatório, realizando a limpeza adequada do preparo. A
forma mais segura de realizar a remoção do tecido cariado é seguindo

192 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


a técnica apropriada, que vamos relembrar mais adiante, com o campo
devidamente limpo, isolado e seco. Além disso, o isolamento absoluto
do campo deve ser utilizado para obter as melhores propriedades
dos materiais para proteção do complexo dentino-pulpar. Todos
os materiais restauradores requerem campo limpo, isolado e seco
para a restauração. Vamos agora conhecer mais detalhes sobre esse
procedimento.

Atenção
Você lembra como é feito o diagnóstico diferencial entre cárie aguda e
cárie crônica? Quais são as características da dentina patológica nesses
tipos de cárie? Procure relembrar esses conceitos!

Isolamento do campo operatório

Conjunto de normas e procedimentos que visa diminuir a umidade


e manter o campo operatório asséptico. Pode ser realizado por dois
métodos, mecânico ou químico, para controlar a umidade proveniente
de fluidos do sulco gengival, saliva e sangramento gengival durante os
procedimentos clínicos. Facilita os procedimentos, pois pode retrair
a gengiva e as estruturas adjacentes, facilitando o acesso. Promove a
proteção do paciente, evitando danos acidentais aos tecidos moles,
a aspiração de pequenos resíduos ou produtos dos procedimentos
terapêuticos, além de diminuir a contaminação do campo e também
do operador.

Métodos

• Método químico: utilização de drogas sialopressoras que


atuam sobre o sistema parassimpático, diminuindo temporariamente
a função secretora das glândulas e, por consequência, o fluxo salivar.
Ex.: atropina e escopolamina. Efeitos colaterais: taquicardia, retenção
urinária, dilatação da pupila.

• Método mecânico: consiste na utilização de materiais e


técnicas apropriadas.

Método de isolamento relativo

Deve ser utilizado quando o isolamento absoluto não puder ser


instalado, ou em casos de procedimentos de curta duração, como

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 193


exame clínico, aplicação tópica de flúor, restaurações provisórias,
polimento de restaurações e cimentações de provisórias. Apresenta
vantagens, como maior aceitação do paciente, menor custo, área
isolada em pouco tempo, praticidade para a realização de pequenos
procedimentos etc. Como desvantagens, permite a contaminação
do material restaurador, a possibilidade de deglutição de pequenos
instrumentos e restos de material restaurador, danos acidentais aos
tecidos moles e dificuldade de controle efetivo do campo.

Materiais

Exame clínico completo: espelho, pinça clínica; explorador; espátula


n. 1 (espátula de inserção), dispositivo para fixação do rolete de algodão
(opcional); roletes de algodão; sugador descartável.

Técnica de execução

• Secagem da mucosa.

• Colocação dos roletes de algodão nas regiões dos ductos


excretores.

• Colocação do sugador.

Técnica de remoção

• Umedecer o rolete de algodão para não injuriar a mucosa que


está desidratada.

• Utilizar a pinça clínica para a remoção do rolete.


Figura 3.26 | Isolamento relativo do campo operatório

Fonte: <http://static4.ident.com.br/public-img/user/1/75/75829/content/28442/3357266400L.jpg>. Acesso em:


24 mar. 2017.

194 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Método de isolamento absoluto

É utilizado para isolar um ou mais dentes, mantendo o campo


operatório limpo e seco; permite a máxima visibilidade da área a ser
tratada, protege os lábios, a língua e as bochechas do paciente. É ideal
para a realização de restaurações. Vantagens: permite a retração e
proteção dos tecidos moles; acesso e visibilidade; propriedades dos
materiais dentários preservadas; proteção do paciente e do operador;
maior eficiência operatória e restauradora.

Materiais

Exame clínico completo: espelho, pinça clínica; explorador;


espátula n. 1 (espátula de inserção); lençol de borracha; arco de Ostby;
perfurador de Ainsworth; tesoura; pinça de Palmer; grampos; fio dental.

Técnica de execução

• Anestesiar.

• Preparar o lençol de borracha.

• Adaptar o lençol de borracha ao arco.

• Verificar os contatos proximais com fio dental para conferir se


não há interferência para a passagem do fio.

• Selecionar e testar o grampo apropriado.

• Lubrificar lábios e comissura labial com manteiga de cacau,


para evitar irritação (opcional).

• Demarcar e perfurar o lençol de acordo com os dentes


selecionados.

• Lubrificar o lençol de borracha na região dos furos (opcional).

• Promover a assepsia da parte interna do lençol com clorexidina.

• Colocação do isolamento: há algumas técnicas para a


colocação do dique de borracha na boca:

• Técnica de Ingraham – grampo no dente com o dique de


borracha no dente e, em seguida, adapta-se o arco.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 195


• Dique de borracha com o arco no dente e, em seguida, insere-
se o grampo.

• Conjunto grampo com arco e com o dique de borracha (é a


técnica mais utilizada): adaptar grampo + arco + lençol ao dente com
o auxílio da pinça de Palmer - verificar adaptação na área retentiva da
coroa, solta-se a pinça e, com uma leve pressão sobre o grampo, leva-
se este à região cervical.

• Encaixar os furos do lençol – dentes selecionados.

• Desprender o lençol da aleta do grampo – espátula de inserção.

• Com o fio dental, passar o lençol pelo ponto de contato e


adaptá-lo à região cervical.

• Realizar amarrias nos dentes, quando necessário.

• Cortar uma pequena ponta do lençol de borracha e encaixar


no primeiro dente do isolamento – “stop”.

Atenção
Em dentística, devemos incluir no isolamento absoluto, no mínimo, o dente
que receberá o procedimento, um dente anterior e um dente posterior.

Remoção

• Remover as amarrias com o explorador.

• Remover o grampo com auxílio da pinça de Palmer.

• Cortar o lençol de borracha entre os furos.

• Retirar o sugador.

Principais dificuldades para sua realização: por razões psicológicas,


o paciente se sente ansioso; pacientes asmáticos; dentes pouco
erupcionados ou mal posicionados; para aplicação tópica de flúor,
ele impede o acesso à região cervical do gel; cimentação de prótese
em dente com preparo no limite gengival ou subgengival dificulta o
correto posicionamento do lençol.

196 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Reflita
É importante ressaltar que a qualidade da dentina remanescente é um
fator de suma importância para a escolha do protocolo de proteção
pulpar mais adequado. No caso clínico apresentado, vamos considerar
que a dentina remanescente, após a remoção da cárie, está com textura
resistente à cureta e com coloração clara, indicativos de dentina saudável.

Relembrando:

Tipos de dentina

1. Dentina fisiológica ou normodentina

Dentina primária – Formada desde a odontogênese (processo de


formação do dente até a sua erupção e completa formação do ápice
radicular), depositada rapidamente pelos odontoblastos primários.

Dentina secundária – Elaborada durante toda a vida do dente, após


a sua erupção, lentamente. Responsável pela diminuição fisiológica da
câmara pulpar e do canal radicular.

Nesses dois tipos de dentina o prolongamento dos odontoblastos está


presente, portanto, apresentam característica tubular.

2. Dentina patológica

Dentina reacional – Formada pelos odontoblastos quando o dente


sofre ação de agentes patológicos ou anormais, como a cárie e o bruxismo.

Dentina esclerosada – Dentina formada frente a um estímulo de baixa


intensidade e longa duração. Há tempo para a deposição de minerais e
formação de uma dentina esclerosada e resistente que veda os túbulos
dentinários e aumenta a defesa contra o avanço da cárie. A dentina
esclerosada é caracterizada por intensa calcificação e ausência de fluido,
por isso o relato de dor é menor ou até mesmo ausente.

Dentina osteoide – Dentina formada frente a um estímulo de alta


intensidade e baixa duração. Não há tempo para a formação de uma
dentina de qualidade. A dentina formada é irregular e com muitas lacunas,
lembrando o aspecto de um osso, por isso é chamada de osteoide.

Dentina reparativa – A última tentativa de evitar que a cárie atinja a


polpa. Dentina formada dentro da câmara pulpar, na direção do estímulo

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 197


agressor, responsável pela atresia pulpar. Os casos de abrasão intensa
também levam à deposição de dentina reparativa.

Exemplificando
Se após o acesso e definida a forma de contorno do preparo cavitário,
o cirurgião-dentista encontra na parede pulpar dentina resistente,
mineralizada, com ausência de fluido e resistente à remoção com cureta,
mesmo que de coloração escurecida, não deverá removê-la, mas sim
preservá-la, pois é uma barreira natural de proteção do tecido pulpar.

Figura 3.27 | Sequência de execução do isolamento absoluto

Fonte: elaborada pelo autor.

198 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Pesquise mais
É muito importante sempre estar atualizado a respeito do
desenvolvimento dos biomateriais de aplicação odontológica, novos
protocolos de proteção são constantemente estudados e é fundamental
conhecer novas alternativas. Leia este capítulo de livro: WANG, L. et
al. Tratamentos conservadores da polpa dentária. In: PEREIRA, J.
C.; ANAUATE-NETTO, C.; GONÇALVES, S. A. (Org.) Dentística: uma
abordagem multidisciplinar. São Paulo: Artes Médicas, 2014. p. 43-71.
Essa leitura ajudará na compreensão desse tema.

Sem medo de errar


Relembrando nossa situação clínica, o paciente J.D.S., 25 anos,
chega à Clínica da Universidade com uma lesão de cárie extensa
no sulco oclusal do dente 36 e no dente 27, sulco pigmentando
na oclusal que se estende para lingual, sem presença de dor. Após
o exame clínico completo, o acadêmico realizou radiografias dos
dois dentes. Com o auxílio do exame, ele observou que os dentes
apresentavam faces proximais, mesial e distal íntegras. Ao realizar
o exame da condição pulpar, observou que a vitalidade dos dois
dentes estava preservada. Com relação à higienização, constatou
que o paciente tem dificuldade para remover a placa bacteriana
e que novas lesões de cárie estão aparecendo, embora tenha
sido realizado um protocolo de atendimento com o objetivo de
melhorar a eficácia da técnica de higienização. Após a realização
do preparo cavitário do dente 36, detectou a presença de cárie em
ponto no centro da parede pulpar, voltou a examinar a radiografia
periapical e observou que a lesão de cárie comprometia mais da
metade da espessura de dentina. De que forma o cirurgião-dentista
deve realizar a remoção do tecido cariado? Após a remoção da
cárie, ele observou que a cavidade se tornou bastante profunda:
qual a melhor forma de realizar a proteção do complexo dentino-
pulpar para manter a vitalidade desse elemento, após a redução ou
eliminação do agente agressor?

Após a instalação do isolamento absoluto do campo operatório,


devemos realizar a remoção da dentina cariada na parede pulpar.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 199


Atenção
A forma correta de realizar a remoção do tecido cariado em dentina, após
o início do preparo cavitário, é iniciar o procedimento com curetas de
tamanho compatível com a lesão (sempre a maior que couber na cavidade),
em movimentos da periferia para o centro da lesão, removendo a dentina
desorganizada; seguir utilizando broca carbide de tamanho compatível
com a lesão (sempre escolhendo a maior que couber na cavidade), em
baixa rotação, com movimentos intermitentes, sob refrigeração; reutilizar as
curetas e, caso ainda encontre dentina pouco resistente, repetir a operação.

Considerando que após a remoção da dentina cariada, infectada, o


cirurgião-dentista se encontra frente a uma cavidade bastante profunda,
nosso próximo desafio será realizar a proteção do complexo dentino-
pulpar para manter a vitalidade desse dente.

Limpeza da cavidade

Para obtermos o melhor desempenho dos materiais destinados


à proteção do complexo dentino-pulpar em cavidades profundas,
bastante profundas ou na iminência de exposição do tecido pulpar,
é importante realizar a limpeza da cavidade, que pode ser executada
com solução de hidróxido de cálcio ou com outras soluções para a
diminuição da contaminação bacteriana.

Protocolos de proteção pulpar

De acordo com o que já estudamos anteriormente, existem


algumas possibilidades para a proteção pulpar para uma situação
clínica semelhante à proposta.

Frente a uma cavidade bastante profunda, em que existe uma


camada delgada de dentina remanescente separando o tecido pulpar
do meio externo, em um dente com vitalidade pulpar preservada
e que receberá o amálgama de prata como material restaurador,
devemos escolher um material que seja capaz de estimular a ação
reparadora da polpa.

O hidróxido de cálcio é um produto com pH alcalino, portanto,


biocompatível, altamente bactericida e bacteriostático, que bloqueia
estímulos térmicos e elétricos e estimula ação reparadora da polpa.
Como desvantagens, esse material apresenta alta solubilidade e baixa
resistência mecânica. Utilizado nas regiões de maior profundidade,

200 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


fornece condições para que a polpa forme dentina reparadora, já
que no organismo só é possível a produção de osso e dentina em
meio de alta alcalinidade. Existem diversas apresentações comerciais
do hidróxido de cálcio, nesse caso ele deve ser aplicado na forma de
cimento, uma vez que não há exposição do tecido pulpar.

Manipulação: esse material deve ser dispensado em porções


iguais da pasta base e pasta catalisadora sobre uma folha de bloco de
espatulação não absorvente, ou sobre uma placa de vidro. Deve ser
manipulado por meio de mistura simples, com auxílio da espátula n.
13, e precisa ser inserido na cavidade através do aplicador de hidróxido
de cálcio que possui uma pequena esfera em suas extremidades ativas,
em uma fina camada, como material forrador no ponto de maior
profundidade.

Como o hidróxido de cálcio apresenta alta solubilidade, requer um


material que o proteja da umidade nos procedimentos de proteção
ou restauração, além disso, por ter baixa resistência mecânica, deve
ser aplicado em uma fina camada e com um material que o proteja da
força que será utilizada para a condensação do amálgama.

Assim, em seguida, as paredes de dentina socavadas pela remoção


da cárie em ponto devem receber um material que sirva como base e
que devolva a resistência à dentina. O material que pode ser utilizado
com essas funções é o cimento de ionômero de vidro, que possui
como propriedades principais a adesividade relativa ao remanescente,
liberação de flúor, CETL semelhante ao da dentina, resiliência,
resistência mecânica e menor potencial de irritação do complexo
dentino-pulpar. Nesse caso, ele irá repor a estrutura dentinária perdida,
já que o cimento de ionômero de vidro é o material que possui as
características mecânicas mais semelhantes às da dentina; como
apresenta CETL próximo ao da dentina, esse se comporta contraindo
e expandindo praticamente igual a ela, dificultando a formação de
fendas interfaciais que poderiam facilitar o trânsito bacteriano nas
paredes laterais entre o dente e o cimento de ionômero de vidro.
Existem diversas apresentações comerciais, vamos utilizar, nesse caso,
o cimento de ionômero de vidro convencional, que é apresentado
na forma de um pó de vidro de flúor alumínio silicato e um líquido,
que é solução aquosa de ácido poliacrílico, tartárico e itacônico.
A reação de presa dessa modalidade de cimento de ionômero de

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 201


vidro é uma reação do tipo ácido-base que leva até 8 minutos para
adquirir resistência adequada a fim de receber o amálgama. Ocorre
uma adesão química devido aos íons cálcio dos tecidos dentários
unidos aos ânions carboxilatos do material. Um dos subprodutos da
reação de presa é a liberação de íons fluoreto, que determina uma
ação anticariogênica. A reação de presa final ocorre em 24h. Para a
obter as melhores propriedades desse material, este deve ser aplicado
sobre a cavidade adequadamente limpa com a aplicação de um ácido
poliacrílico a 10% por 10 a 15 segundos para a remoção da smear
layer, lavagem abundante e secagem sem desidratar excessivamente
a dentina, com papel absorvente.

Manipulação: a proporção pó/líquido recomendada pelo


fabricante deve ser seguida, e precisa ser dispensada no momento
em que for realizada a manipulação em placa de vidro ou em bloco
de espatulação não absorvente, que muitas vezes pode ser oferecido
pelo fabricante do material. A colher dosadora de pó deve ser aquela
fornecida pelo fabricante. Agite o frasco que contém o pó, colete
o pó do frasco, sem excesso. O líquido deve ser dispensado com o
frasco na posição vertical para evitar a incorporação de bolhas de ar,
alterando a correta proporção, afetando as propriedades do material.
O pó deve ser incorporado gradativamente, por aglutinação do pó
ao líquido, para que o ácido poliacrílico atue sobre as partículas do
pó; escolha uma espátula plástica, preferencialmente, para evitar
que as partículas de vidro do material arranhem a espátula metálica,
alterando a composição final. Utilize uma pequena extensão do bloco,
para usar toda a quantidade do líquido, sem prejuízos. Ele estará
adequado para inserir na cavidade quando o material apresentar brilho
superficial e se desprender, formando um fio quando a espátula com
o material for afastada do bloco. O instrumento mais indicado para a
inserção homogênea sem bolhas é a seringa Centrix®, com a ponta
agulhada (cavidades com acesso limitado) ou com a ponta mediana,
que comporta maior quantidade de material. Recolhe-se o material,
carrega-se a ponta, fecha-se a ponta com o êmbolo indicado para cada
uma das pontas. Aguarda-se a presa inicial em torno de 8 minutos,
de acordo com o cimento, com o cuidado de que o material fique
contido na cavidade em ponto, regularizando a parede pulpar.

Utilizando o hidróxido de cálcio seguido do cimento de ionômero


de vidro para regularizar a parede pulpar, que muitas vezes está rasa

202 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


ou média, o dente pode ser restaurado com amálgama de prata.
Durante muito tempo, o verniz cavitário era utilizado nesse momento
para prevenir manchas do remanescente dentário. Atualmente, não há
necessidade dessa aplicação, pois as ligas de amálgama de alto teor de
cobre têm baixa corrosão e fornecem a camada de autosselamento,
que torna o uso do verniz desnecessário.

Atenção
Existem outras apresentações comerciais dos cimentos de ionômero de
vidro, como os cimentos de ionômeros de vidro modificados por resina e
os reforçados por amálgama de prata.

Restauração em amálgama de prata

Devemos seguir os passos já estudados para a realização da


restauração:

Seleção da liga

Considerar fatores como o tempo de presa, tamanho e formato das


partículas. Sempre que possível optar pelas ligas com alto conteúdo de
cobre, apresentadas na forma de cápsulas pré-dosadas, o que garante
a menor e mais adequada proporção de mercúrio/liga. Para essa
restauração, vamos selecionar uma liga de alto teor de cobre com
partículas esféricas.

Trituração

Vamos realizar em um amalgamador mecânico, seguindo as


recomendações de velocidade/tempo indicadas pelo fabricante da
liga para obter um amálgama bem triturado, devendo apresentar uma
massa homogênea de liga e mercúrio. Após a trituração, o amálgama
é colocado em pote Dappen.

Inserção e condensação

Devido ao mercúrio em sua composição e à sensibilidade do


material à umidade, não devemos tocar o amálgama com as mãos,
portanto, devemos inserir ou depositar na cavidade, em pequenas
quantidades, usando o porta-amálgama, e condensar usando os
condensadores apropriados.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 203


Atenção
Se o amálgama é condensado de forma adequada, a infiltração diminui
conforme a restauração vai envelhecendo na boca. Isso se deve aos
produtos de corrosão que se formam na interface dente/restauração.
Mesmo as ligas mais modernas de alto teor de cobre apresentam
habilidade para o selamento contra microinfiltração, embora o acúmulo
de produtos da corrosão seja mais lento para essas ligas.

Em uma cavidade Classe I simples, como a de nossa simulação,


a inserção do amálgama deve iniciar em pequena quantidade,
depositando-o junto aos ângulos internos da cavidade. Iniciar com
condensador de Ward, o maior que possa alcançar o fundo da cavidade
sem interferência nas suas paredes. Condensar contra os ângulos do
preparo cavitário e contra as paredes circundantes. Para a liga esférica
é necessária menor pressão para sua acomodação na cavidade. Os
condensadores de Ward maiores serão utilizados, completando a
cavidade, em movimentos contra as margens do preparo, até que haja
um excesso de 1 mm acima do cavo-superficial.

Brunidura

Deve ser realizada com brunidor 29 (Figura 3.20 B) ou o número 33


de Bennett em direção às margens do preparo, ou com o condensador
n. 6 de Hollemback. É realizada em movimentos de vaivém, com
pressão para que o mercúrio aflore, fique na porção superficial da massa
e seja removido durante a escultura. Tem como função melhorar a
adaptação do material às margens da cavidade, mantendo o excesso
para a escultura.

Funções: lisura superficial, reduz o conteúdo de mercúrio na


superfície, melhora a integridade marginal, diminui a corrosão do
amálgama, maior resistência à fratura, facilita o polimento.

Escultura

Nesse passo, os instrumentos utilizados serão aqueles que o


cirurgião-dentista preferir. A escultura será iniciada pela face oclusal, com
o explorador n. 5 esboçando o sulco central e os sulcos secundários.
Em seguida, inicia-se a escultura das vertentes triturantes das cúspides e
conformação das fóssulas e sulco central, que pode ser realizada com
o esculpidor de Hollemback n. 3 e 3S, de Frahm, discoide e cleoide,

204 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


sempre apoiados no remanescente dentário para evitar a formação de
fenda entre material restaurador e margens do preparo.

Funções: devolver a forma e a função do dente.

Atenção
Para iniciar a escultura, o material deve oferecer resistência à ação do
esculpidor. A velocidade de cristalização do amálgama é informada pelo
fabricante: Rápida: 3 a 6 minutos; Regular: 6 a 10 minutos; Lenta: 10 a
15 minutos.

Brunidura pós-escultura ou alisamento

Utilizar os brunidores com leve pressão sobre o material restaurador.

Funções: aumentar a adaptação marginal, aumentar a lisura e


diminuir as porosidades da superfície do amálgama.

Remoção do isolamento absoluto e verificação da oclusão

Em atividade clínica, nesse momento, o cirurgião-dentista deve


verificar os contatos oclusais utilizando um carbono interoclusal e
fazer as adequações necessárias na escultura.

Atenção
Vamos apresentar, adiante, outras situações para que outros protocolos
possam ser aplicados. Caso, ao remover a dentina cariada, haja o risco de
exposição do tecido pulpar, optamos por realizar a terapia pulpar indireta,
por meio do tratamento expectante que possibilita, em uma segunda
sessão, com resultados de condição de vitalidade pulpar preservada, a
remoção da dentina infectada e nova avaliação da proteção pulpar. A
presença de dentina esclerosada, mais mineralizada, menos permeável,
pode alterar a conduta para a mesma cavidade bastante profunda na
medida em que o hidróxido de cálcio não seria capaz de induzir os tecidos
pulpares à formação de dentina reacional.

Avançando na prática

Cavidade Classe I Composta ocluso-lingual

O nosso paciente J.D.S., 25 anos, chegou à Clínica da Universidade

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 205


com uma lesão de cárie extensa no sulco oclusal do dente 36 e no
dente 27, sulco pigmentando na oclusal e se estende para lingual, sem
presença de dor. Após o exame clínico completo, o acadêmico realizou
radiografias dos dois dentes. Com o auxílio do exame, ele observou
que os dentes apresentavam faces proximais, mesial e distal íntegras.
Ao realizar o exame da condição pulpar, observou que a vitalidade dos
dois dentes estava preservada. Com relação à higienização, constatou
que esse paciente tem dificuldade de remover a placa bacteriana e que
novas lesões de cárie estão aparecendo, embora tenha sido realizado
um protocolo de atendimento com o objetivo de melhorar a eficácia
da técnica de higienização. Após a realização da restauração do dente
36, o paciente retornou para o tratamento do dente 27. Depois do
preparo cavitário do dente 27, o cirurgião-dentista detectou a presença
de cárie em ponto no centro da parede pulpar, voltou a examinar a
radiografia periapical e observou que a lesão de cárie nesse dente se
situava aquém da metade de espessura de dentina. Após a remoção da
cárie, ele observou que a cavidade em ponto se tornara profunda. Qual
a melhor forma de realizar a proteção do complexo dentino-pulpar
para manter a vitalidade desse elemento após a redução ou eliminação
do agente agressor?

Atenção
Após a remoção da cárie, as diferenças entre o dente 27 e o 36 são: a
cavidade agora é profunda e o dente perdeu a continuidade de uma das
paredes circundantes (lingual), o que implica a necessidade de utilização
de uma matriz.

Resolução da situação-problema

Após a realização do preparo cavitário, vamos à instalação do


isolamento absoluto do campo operatório.

Protocolo de proteção pulpar

Frente a uma cavidade profunda em ponto, na qual existe uma


camada mais espessa de dentina remanescente separando o
tecido pulpar do meio externo, em um dente com vitalidade pulpar
preservada e que receberá o amálgama de prata como material
restaurador, devemos escolher um material que seja capaz de
devolver as características mecânicas da dentina perdida. Assim, em

206 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


seguida, as paredes de dentina socavadas pela remoção da cárie em
ponto devem receber o cimento de ionômero de vidro, que possui
como propriedades principais a adesividade química ao remanescente,
liberação de flúor, CETL semelhante ao da dentina, resiliência e
resistência mecânica. Aplicar o cimento de ionômero de vidro até que
se regularize a parede de fundo pulpar.

Em seguida, prosseguir com a técnica restauradora com amálgama


de prata.

Assimile
Toda vez que o preparo cavitário apresentar perda de continuidade das
paredes circundantes será necessária a utilização de uma matriz.

Instalação do sistema de matriz

Para essa situação de uma Classe I Composta OL, vamos utilizar a


matriz individual de Barton, como apresentada esquematicamente na
Figura 3.28.
Figura 3.28 | Corte esquemático de matriz de Barton

Fonte: adaptado de Mondelli et al. (1998, p. 77).

Figura 3.29 | Caso clínico exemplificando a aplicação de matriz de Barton

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 207


Com um pedaço de uma fita matriz de aço circunda-se o dente;
com um porta-agulhas, fazemos a preensão da matriz (Figura 3.29
A), soldamos em pontos, leva-se ao dente um segundo pedaço de
matriz no formato trapezoidal (Figura 3.29 B) que é colocado entre
o dente e a matriz; com um brunidor em “T” ou um condensador
Hollemback brunimos a matriz para que se adapte à face lingual do
preparo, introduzimos um cunha de madeira envolvida em godiva de
baixa fusão plastificada, que servirá também para dar mais estabilidade
ao conjunto se for adaptada ao redor deste (Figura 3.29 C, D).

Faça você mesmo


Outra opção de matriz para esse tipo de preparo cavitário é a matriz em
“T”, que você pode fazer com um procedimento simples.

A partir desse momento, damos sequência à restauração em


amálgama seguindo os passos operatórios descritos anteriormente:

Seleção da liga

Vamos, sempre que possível, optar pelas ligas de alto teor de cobre,
embaladas em cápsulas. Nesse caso, vamos supor que a escolha tenha
sido pela fase dispersa, com partículas em forma de limalha e partículas
esféricas.

Trituração da liga

Inserção e condensação: nesse caso, a inserção deve iniciar-se pela


caixa lingual, contra os ângulos da cavidade, com condensadores de
tamanho compatível com a cavidade, começando com os menores,
preenchendo a cavidade lingual até que alcance a parede pulpar. A partir
de então, vamos passar para condensadores maiores; considerando
como uma cavidade oclusal, seguir depositando pequenas porções de
amálgama que serão condensadas contra os ângulos internos. Com
pressão adequada, para evitar a formação de bolhas ou falhas, depositar
material e condensar até que a cavidade esteja repleta de amálgama e
com um excesso de 1 mm de material acima do cavo-superficial.

Brunidura

É realizada em movimentos de vaivém, com pressão para que o


mercúrio aflore, fique na porção superficial da massa e seja removido

208 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


durante a escultura. Tem como função melhorar a adaptação do
material às margens da cavidade, reduz o conteúdo de mercúrio na
superfície, mantendo o excesso para a escultura, maior lisura superficial,
resistência à fratura e facilita o polimento.

Escultura

Nesse caso, inicia-se a escultura com o auxílio de um explorador n.


5 para definir o sulco central, o sulco ocluso-lingual e para auxiliar na
remoção do excesso de amálgama na face lingual, dando o formato
da inclinação da face lingual. Em seguida, inicia-se a escultura das
vertentes triturantes das cúspides e conformação das fóssulas e sulco
central, que pode ser realizada com o esculpidor de Hollemback n. 3 e
3S, de Frahm, discoide e cleoide, sempre apoiados no remanescente
dentário para evitar a formação de fenda entre material restaurador e
margens do preparo.

Brunidura pós-escultura ou alisamento

Realizada sem pressão, para aumentar a adaptação marginal, a


lisura e diminuir as porosidades da superfície do amálgama.

Remoção do conjunto matriz e cunha

Remover a barreira de godiva de baixa fusão, remover a cunha e,


em seguida, a matriz soldada.

Remoção do isolamento absoluto e verificação da oclusão

Atenção
É muito importante tomar cuidado na manipulação do amálgama de
prata, sempre fazendo uso de EPI (equipamento de proteção individual),
realizar a restauração com isolamento absoluto do campo operatório.
Após a inserção e preenchimento da cavidade, os materiais que sobraram
da trituração devem ser descartados em frasco de vidro ou de plástico
duro com tampa hermética e sob selo de água, solução de fixação de
radiografias ou glicerina. Os resíduos da escultura devem ser coletados
do campo e descartados da mesma forma e as cápsulas devem ser
descartadas em lixo de resíduos contaminados. O frasco de resíduos de
amálgama deve ser encaminhado de tempos em tempos para empresas
que fazem a recuperação desses resíduos.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 209


Faça valer a pena
1. O isolamento relativo do campo operatório é uma manobra importante
em diversas especialidades da Odontologia.
Quais são as principais vantagens do isolamento relativo do campo?
a) Assegura um campo seco e limpo; aceitação do paciente; menor custo;
área isolada em pouco tempo; praticidade para a realização de pequenos
procedimentos.
b) Aceitação do paciente; área isolada em pouco tempo; praticidade para a
realização de pequenos procedimentos.
c) Aceitação do paciente; menor custo; área isolada em pouco tempo;
praticidade para a realização de procedimentos complexos.
d) Aceitação do paciente; menor custo; área isolada em pouco tempo;
praticidade para a realização de pequenos procedimentos.
e) Aceitação do paciente; menor custo; grande área isolada, com
segurança, em pouco tempo; praticidade para a realização de pequenos
procedimentos.

2. O isolamento do campo operatório é um procedimento muito importante


para a execução de diversos procedimentos clínicos, com segurança para
o paciente e para o cirurgião-dentista, visando obter as propriedades dos
materiais em situações de realização de restaurações, cimentações e
colagens.
Quais as desvantagens em realizar o isolamento relativo do campo
operatório?
a) Impede a contaminação do material restaurador, possibilidade de
deglutição de pequenos instrumentos e restos de material restaurador;
danos acidentais aos tecidos moles; dificulta o controle efetivo do campo.
b) Permite a contaminação do material restaurador, possibilidade de
deglutição de pequenos instrumentos e restos de material restaurador;
danos acidentais aos tecidos moles; dificulta o controle efetivo do campo.
c) Permite a contaminação do material restaurador, reduz a possibilidade de
deglutição de pequenos instrumentos e restos de material restaurador; evita
danos acidentais aos tecidos moles; dificulta o controle efetivo do campo.
d) Minimiza a contaminação do material restaurador, possibilidade de
deglutição de pequenos instrumentos e restos de material restaurador;
danos acidentais aos tecidos moles; dificulta o controle efetivo do campo.
e) Permite o controle efetivo do campo; a contaminação do material
restaurador, possibilidade de deglutição de pequenos instrumentos e restos
de material restaurador; danos acidentais aos tecidos moles.

210 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


3. O isolamento absoluto do campo operatório é um procedimento que
facilita e determina maior eficiência operatória e restauradora.
Quais são as outras vantagens de utilizar esse método de isolamento do
campo?
a) Permite a retração e proteção dos tecidos moles; acesso e visibilidade;
propriedades dos materiais dentários preservadas; parcial proteção do
paciente e do operador.
b) Permite a retração e proteção dos tecidos moles; parcial acesso e
visibilidade; propriedades dos materiais dentários preservadas; proteção do
paciente e do operador.
c) Parcial retração e proteção dos tecidos moles; acesso e visibilidade;
propriedades dos materiais dentários preservadas; proteção do paciente e
do operador.
d) Parcial retração e proteção dos tecidos moles; acesso e visibilidade;
propriedades dos materiais dentários preservadas; parcial proteção do
paciente e do operador.
e) Permite a retração e proteção dos tecidos moles; acesso e visibilidade;
propriedades dos materiais dentários preservadas; proteção do paciente e
do operador.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 211


Referências
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U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 213


Unidade 4

Análise oclusal

Convite ao estudo

Seja bem-vindo!

Antes de iniciarmos nossa busca pelo conhecimento, vamos


relembrar os conteúdos apresentados na terceira unidade de
ensino?

Você pode observar os biomateriais que devem ser utilizados


para a proteção do complexo dentino-pulpar, o isolamento do
campo operatório e as restaurações de amálgama de prata como
alternativa para a reconstrução oclusal de dentes destruídos pela
cárie.

Nesta unidade, vamos investigar a possível existência de


alterações oclusais e suas correlações com as desordens
temporomandibulares. Na Seção 4.1, você verá métodos clínicos
para registro em relação cêntrica e aprenderá como regular o
articulador a fim de permitir a realização de trabalhos próximos do
equilíbrio funcional; na Seção 4.2, poderá praticar a montagem e a
regulagem em ASA; na Seção 4.3, a análise oclusal: restaurações de
amálgama com relação à oclusão funcional; por fim, na Seção 4.4,
poderápraticar as restaurações classe I e II, tentando reconstruir as
superfícies dentárias integrando funcionalidade e saúde ao sistema
estomatognático.

Para entender melhor esta unidade, vamos apresentar uma


situação próxima à realidade profissional: um novo paciente, triado
no serviço de disfunção temporomandibular, apresentou uma queixa
que deixou nosso aluno intrigado: quando ele fazia um movimento
de lateralidade direita, sentia que seu dente do lado esquerdo se
movimentava. Durante a anamnese, percebeu-se que o paciente
apresentava uma restauração MOD em amálgama extensa no
dente 26, e uma restauração indireta tipo onlay, com recobrimento
de cúspide, no dente 36. O aluno pediu ao paciente para fazer
um deslocamento mandibular para a direita e, simultaneamente,
colocou seu dedo indicador paralelo às superfícies vestibulares dos
dentes do lado oposto, verificando a mobilidade, principalmente no
26. Interpretou que seria uma interferência oclusal no movimento
mandibular excursivo de balanceio, mas precisava avaliar melhor,
articulando os modelos em articulador e fazendo uma análise
oclusal funcional.

Lembre-se de que todos os procedimentos são baseados em


anatomofisiologia humana, por isso seus conhecimentos prévios
sobre músculos e anatomia dentária irão embasar os temas
abordados ao longo desta unidade curricular.

Bons estudos!

216 U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata


Seção 4.1
Métodos clínicos para registro em relação cêntrica
e regulagem em articulador semiajustável
Diálogo aberto
Caro aluno!

Vamos prosseguir com nossos estudos?

Naquele serviço de disfunções temporomandibulares, ligado ao


curso de especialização em prótese dentária, como vimos na Seção 2.1,
o aluno acompanhava um paciente e observou que devido a um molar
inferior restaurado com amálgama que ficou com contato prematuro,
o paciente, tempos depois, apresentou um desvio mandibular e dores
musculares, próximos à região temporal. Na Seção 2.2 conhecemos
outro paciente, quando desordens oclusais posteriores influenciaram
na fratura da restauração prévia, devido à falta de proteção mútua entre
os dentes posteriores e anteriores, sendo que o paciente também
apresentou dores musculares.

Com a orientação do professor, foi realizada a moldagem anatômica,


a obtenção dos modelos de estudo, e a montagem dos modelos em
Articulador Semiajustável (ASA) para estudar melhor os fatores oclusais
responsáveis pelas desarmonias no sistema estomatognático. Além da
visualização da morfologia oclusal, do plano oclusal do paciente e da
presença de desarmonias oclusais, orientou-se a realização de uma
palpação muscular e a anotação na ficha de anamnese dos músculos
com resposta positiva para dor, pontuando esquematicamente de
acordo com a origem, trajetória e inserção muscular.

Nesta seção você poderá aprender técnicas para obter a posição


e o registro da Relação Cêntrica (RC), reconhecer desprogramadores
oclusais, regular; regular e ajustar as guais condilares e laterais do
articulador (inclinação da caixa condilar e ângulo de Bennett), além
dos fatores musculares envolvidos nas disfunções, que poderão ser
diagnosticadas através da palpação muscular.

U3 - Biomateriais para proteção do complexo dentino-pulpar e restaurações em amálgama de Prata 217


Com os modelos de estudo, corretamente montados e com suas
guias condilares e laterais, ajustadas, podemos fazer um estudo mais
preciso sobre a oclusão do paciente, para entender as disfunções e
planejar o tratamento mais adequado.

Não pode faltar


Devido aos sintomas musculares, às vezes se torna difícil
clinicamente conduzir o paciente à posição de relação cêntrica.
Nesta seção, você aprenderá técnicas de manipulação dos pacientes
em RC bem como a utilização de desprogramadores oclusais, a fim
de obter um registro correto.

Vamos entrar em contato com o conhecimento técnico para


conseguirmos resolver a situação-problema apresentada, e outros
casos que necessitem de uma montagem dos modelos de estudo
e regulagem do articulador, ajustando as guias laterais e condilares
mais próximas possíveis da situação clínica real do paciente, para
podermos estabelecer planos de tratamento adequados e prevenir
o aparecimento de desordens temporomandibulares.

Procure pensar também em experiências particulares, facilitando


assim a percepção da importância desse conteúdo no cotidiano. A
alta frequência de pacientes com desordens mastigatórias justifica a
necessidade de montar seus modelos, ajustar e regular o articulador
com medidas compatíveis à oclusão do paciente e estabelecer
medidas curativas e preventivas na reabilitação dos pacientes.

1. Métodos clínicos para registro da relação cêntrica

Conforme visto na Seção 2.3, o passo fundamental na


montagem do modelo de estudo inferior, para pacientes com
disfunção temporomandibular, consiste na obtenção e registro
da oclusão com a mandíbula na posição de RC. Entretanto, o
reposicionamento mandibular em relação cêntrica (RC), através da
manipulação mandibular, muitas vezes é dificultado em pacientes
que apresentam disfunção temporomandibular. Só haverá conforto
neuromuscular quando a mandíbula estiver estável em relação de
oclusão cêntrica (ROC), ou seja, quando coincidir a posição dentária
de máxima intercuspidação (MIH) com a estabilidade dos côndilos
na fossa mandibular do osso temporal em RC.

218 U4 - Análise oclusal


Na presença de algum distúrbio oclusal, por exemplo, um
contato prematuro por excesso oclusal de uma restauração,
haverá desestabilização dos côndilos; nesse caso, eles devem ser
reposicionados para que seja possível detectar os possíveis distúrbios
oclusais e seus efeitos.

Para facilitar o reposicionamento mandibular, deve-se


confeccionar um dispositivo denominado JIG (Jaw Interference
Guide, ou guia de interferência mandibular), descrito por Lucia
(1964). Tal dispositivo tem como funções: inibir os contatos
dentários posteriores, desprogramar a memória proprioceptiva do
ligamento periodontal e promover o relaxamento dos músculos
da mastigação, principalmente o pterigoideo lateral, permitindo
a acomodação estável do côndilo na fossa mandibular do osso
temporal, em uma posição reproduzível.

Outros dispositivos, tais como rolo de algodão, dispositivo leaf


gage de Long etc., podem ser utilizados com o mesmo fim, porém,
o JIG oferece maior segurança.

Exemplificando
Outros dispositivos, tais como rolo de algodão, dispositivo leaf gage de
Long etc., podem ser utilizados com o mesmo fim, porém, o JIG oferece
maior segurança.

1.2 Métodos para confecção do JIG

Adaptar a lâmina de papel alumínio sobre os incisivos centrais


superiores a fim de isolar os espaços interdentais do contato com
a resina, ou vaselinar os dentes (Figura 4.1A). Manipular o pó e
líquido da resina acrílica quimicamente ativada, tipo duralay®, em
pote dappen. Na fase plástica da resina, modelá-la em forma de
cilindro e adaptá-la sobre o papel alumínio, na região dos incisivos,
estendendo de vestibular para palatina, em forma de cunha.
Quando a resina começar a aquecer, devido à reação exotérmica
de presa, deve-se removê-la da boca do paciente e deixar que
conclua a polimerização em água fria, mergulhando-a num gral
de borracha com água. Após a presa final, lavá-la, secá-la, remover
o papel alumínio e reposicioná-la sobre os dentes para conferir a
adaptação e a retenção. Em seguida, pedir ao paciente para fechar a

U4 - Análise oclusal 219


boca e verificar se há somente um incisivo inferior em contato com
o vértice da cunha palatina do JIG, proporcionando desoclusão
máxima de um milímetro entre os dentes posteriores.
Figura 4.1a | Confecção do JIG: lâmina de papel alumínio/vaselina/duralay®

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Figura 4.1b | Confecção do JIG em duralay®/papel carbono marcando o ponto cêntrico

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Figura 4.2 | Ponto cêntrico na duralay®/preparo da cera/desoclusão posterior de


1 mm

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Caso isso não ocorra, utilizar a broca maxicut para eliminar o


excesso de resina, de maneira que o JIG apresente em sua face
palatina dois planos inclinados, um para direita e outro para a
esquerda, formando um vértice, inclinado de incisal para palatina
(Figura 4.2). Nesse vértice ocorre o contato do incisivo inferior,
promovendo a desoclusão mínima de aproximadamente 1 mm entre

220 U4 - Análise oclusal


os dentes posteriores. O paciente usará o JIG por aproximadamente
cinco minutos, com isso, ocorre a perda da memória proprioceptiva
dos dentes interferentes, promovendo o relaxamento muscular e
facilitando a manipulação.

Após o uso, o JIG deve ser guardado em recipiente com água,


para ser novamente utilizado durante a montagem dos modelos
de estudo do paciente, em articulador semiajustável (ASA), com o
objetivo de realizar a análise oclusal.

Na Seção 2.3, foram mencionadas duas técnicas de manipulação


mandibular para obtenção da RC: técnica frontal e técnica bilateral.
O profissional deve optar pela técnica que domina, e que consiga
reproduzir com precisão, marcando repetidas vezes o ponto de
contato do incisivo inferior sobre o JIG com um papel carbono.
Qualquer que seja a técnica de manipulação utilizada, esta deverá
ser executada com delicadeza para estimular o relaxamento
neuromuscular e verificar a manutenção do conjunto côndilo-disco
na posição obtida. Na técnica frontal, o paciente deve estar sentado
com o encosto da cadeira bem inclinado e o mento dirigido para
cima, o que evita a protrusão da mandíbula. Com o JIG posicionado
na boca, apoia-se o dedo polegar frontalmente e cervicalmente na
vestibular anterior da mandíbula, próximo à gengiva inserida, e o
indicador sob o mento. Peça para o paciente relaxar a mandíbula,
levantar a língua contra a parte posterior do palato, guiando sua
mandíbula para trás e para cima várias vezes, até que os côndilos
se assentem na posição de RC. Outra opção é a técnica bimanual,
ilustrada na Figura 4.3.
Figura 4.3 | Técnica bimanual de Dawson

Fonte: Fernandes Neto (2006, p. 79).

U4 - Análise oclusal 221


Na técnica bimanual de Dawson, o operador apoia os quatro
dedos de cada mão sob a borda inferior da mandíbula; os dedos
mínimos ficam sobre o ângulo da mandíbula e os polegares
na sínfise mandibular, sem exercer pressão. Em seguida, deve
guiar a mandíbula fazendo movimentos repetitivos de abertura e
fechamento. Normalmente, a mandíbula desliza automaticamente
para cima até a RC, se nenhuma pressão for aplicada.

Assimile
Os músculos contraídos são estirados pela pressão e respondem com
maior contração muscular (reação reflexa de estiramento). Deve-se,
portanto, trabalhar com movimentos lentos de abertura e fechamento,
pois qualquer pressão ou movimento rápido pode estimular os músculos
posicionadores a se contraírem, dificultando o posicionamento dos
côndilos em RC.

Lembre-se: esse procedimento visa desativar os músculos e direcionar os


côndilos para o ponto em que fisiologicamente eles devem estar: estáveis
e assentados em suas fossas!

Ao manipular a mandíbula, um arco de abertura de 1 a 2


mm é o suficiente e não deve haver contato dos dentes. Se o
paciente resistir à manipulação suave, segurando a mandíbula em
protrusão, posicionar as mãos delicadamente e pedir para que ele
abra e feche. No ponto em que a ação de fechamento começar a
ocorrer, a mandíbula, em geral, retrairá automaticamente.

Quando o operador sentir a mandíbula movimentando


livremente e os côndilos parecerem estar completamente
assentados em suas fossas mandibulares, significa que a mandíbula
estará em RC. Esta posição deve sempre ser verificada pela sua
reprodutividade.

Depois de obtida a posição de RC, coloca-se uma porção de


resina acrílica, pela técnica de nylon sobre a marca deixada pelo
contato do papel carbono. A seguir, guia-se a mandíbula para
ocluir sobre a marca, fazendo uma edentação na face palatina do
JIG e garantindo a precisão do registro.

222 U4 - Análise oclusal


Figura 4.4 | Ponto cêntrico em duralay®/fechamento da mandíbula em RC

Fonte: Fernandes Neto (2006, p. 80).

Reflita
Caro aluno, reflita sobre a situação-problema apresentada nas seções de
oclusão anteriores: "pacientes com discrepâncias oclusais posteriores
influenciando na fratura de restaurações anteriores". Como meio de
diagnóstico podemos fazer um JIG: deixe o paciente utilizando por
cerca de cinco minutos. Remova o JIG e observe se há ou não presença
de contato prematuro, que impeça o correto e estável fechamento da
mandíbula em ROC, ou contato deflectivo, que deslize a mandíbula de
seu fechamento estável em ROC. Se observar esses contatos ou qualquer
outra interferência oclusal, faça uma palpação muscular e verifique se há
músculos em disfunção.

A palpação muscular é uma importante etapa no diagnóstico


diferencial das disfunções temporomandibulares. Essa manobra
detecta os músculos em disfunção, o que permitirá apontar e
distinguir o desconforto provocado nos pacientes pelos distúrbios
oclusais e diferenciá-los de outras patologias, como nevralgia do
trigêmeo, neoplasias e outros.

Para observar todos os dados oferecidos pela palpação muscular,


é fundamental que o profissional tenha pleno conhecimento dos
músculos quanto à sua origem, inserção, trajetória e função, e
faça uma palpação adequada e uma correlação clínica criteriosa.
Deve ser feita uma palpação da ATM e dos músculos do sistema
estomatognático, na origem, trajetória e inserção: temporal,
masseter, pterigoideo medial e lateral, supra e infra-hioideo,
esternocleidomastoideo e posteriores do pescoço.

É necessário entender que existe uma correlação entre todos


os componentes do sistema estomatognático e que os fatores
etiológicos das desordens são multifatoriais. Pacientes com

U4 - Análise oclusal 223


desordem muscular, poderão apresentar dores nos músculos
elevadores, resultando em espasmo, que levará ao aumento da
pressão interarticular. Associado à hiperatividade do feixe superior
do músculo pterigoideo lateral, poderá ainda levar à desordem no
disco articular. De maneira semelhante, pacientes com interferência
no disco articular, além da dor, podem ter contratura muscular
na tentativa de prevenir os movimentos dolorosos. Se esta se
prolongar, pode resultar em espasmo. Assim, teremos a desordem
de interferência do disco ocasionando a desordem muscular.

O diagnóstico diferencial das disfunções neuromusculares


relacionadas às desordens oclusais é estabelecido após a execução
clínica da manobra de reposicionamento mandibular, palpação dos
músculos mastigatórios e uso de desprogramadores oclusais.

Figura 4.5a | Representação esquemática de contato prematuro deflectivo durante


o fechamento da mandíbula, entre a aresta longitudinal distal da cúspide vestíbulo
distal do 46 X e a aresta longitudinal mesial da cúspide vestíbulo distal do 16, que
provocará deslize mandibular para anterior. Esse contato pode, por exemplo, ser
ocasionado por uma restauração em amálgama incorreta. Observe o envolvimento
dos músculos temporal e masseter

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 76).

224 U4 - Análise oclusal


Figura 4.5b | Representação esquemática do deslize da mandíbula para anterior e o
comprometimento muscular

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 76).

Figura 4.6a | Representação de contato prematuro deflectivo no fechamento


mandibular, entre vertente triturante de uma cúspide funcional X e vertente lisa
de uma cúspide não funcional, que provocará deslize mandibular em direção à
linha média

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 76).

U4 - Análise oclusal 225


Figura 4.6b | Representação do deslize mandibular em direção à linha média, que
posicionará o côndilo do lado de contato na posição de balanceio, o côndilo do
lado oposto na posição de trabalho e induzirá a hiperatividade muscular

Fonte:Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 76).

Figura 4.7a | A representação de contato prematuro deflectivo no fechamento


mandibular, entre a vertente triturante de uma cúspide funcional X e a vertente
triturante de outra cúspide funcional, que provocará deslize mandibular em direção
contrária à linha media

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 76).

226 U4 - Análise oclusal


Figura 4.7b | Representação do deslize mandibular em direção contrária à linha
média, que reposicionará o côndilo do lado de contato na posição de trabalho, o
côndilo do lado oposto na posição de balanceio e induzirá hiperatividade muscular

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 76).

Pesquise mais
Releia as situações-problemas apresentadas nas seções anteriores
e observe as coincidências: na Seção 2.1 nosso aluno observou que a
restauração do molar inferior do paciente ficou com contato prematuro,
o que ocasionou desvio na mandíbula e dor no feixe anterior do temporal!
Na Seção 2.2, o paciente apresentava ausências dos 16 e 47, extrusão do
46 e a restauração do 21 fraturada - essa desarmonia oclusal também
desenvolveu dores no temporal. Nesta seção, você pode notar que
a dificuldade de manipular o paciente para RC pode representar uma
patologia oclusal e a palpação muscular ajuda no diagnóstico diferencial.

Leia: FERNANDES NETO, A. J.; NEVES, F. D. das; SIMAMOTO JUNIOR, P.


C. Oclusão. São Paulo: Artes Médicas, 2013.

2. Palpação muscular

2.1 Músculo temporal

É um músculo elevador da mandíbula por excelência e é o músculo


mais sensível às interferências oclusais. Possui três feixes de fibras:

U4 - Análise oclusal 227


anterior, quase verticais; médio, oblíquas; e posterior, quase horizontais.
Possui origem na fossa temporal, aponeurose temporal, e inserção na
apófise coronoide e borda anterior do ramo da mandíbula. A função das
fibras anteriores está relacionada ao fechamento e à protrusão: eleva a
mandíbula verticalmente e impede o deslocamento do côndilo da fossa
articular, atua na deglutição e na posição de repouso. As fibras médias
se relacionam aos movimentos laterais e ao fechamento, ao movimento
de protrusão e à retrusão da mandíbula, à trituração e à mastigação dos
alimentos próximos a OC. As fibras posteriores atuam no fechamento
tanto em RC como em OC e na retrusão mandibular (RAMFJORD,
1987; SANTOS JR., 1988; MOLINA, 1989; MOHL, 1989; OKESON, 1992;
FERNANDES NETO; NEVES; SIMAMOTO, 2013).

A palpação do temporal é extra-oral, feita em três regiões de cada


lado: temporal anterior, médio e posterior. Deve-se dar atenção à dor
referida, principalmente no feixe anterior.
Figura 4.8 | Representação dos músculos temporal e masseter

Fonte: <https://ericasitta.files.wordpress.com/2012/02/atm1.jpg>. Acesso em: 11 abr. 2017.

Figura 4.9 | Representação da palpação do temporal

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 81).

228 U4 - Análise oclusal


2.2 Músculo masseter

É um músculo elevador da mandíbula; apresenta duas porções


bem definidas: superficial e profunda. Possui a origem da porção
superficial nos dois terços anteriores do bordo inferior do arco
zigomático, bordo inferior do osso malar, anterior à sutura temporal-
zigomática.

Quando o músculo é bem desenvolvido, a inserção se dá à frente


do segundo molar, dando à borda anterior uma superfície côncava
na perspectiva sagital; a maioria das fibras passa ao redor da borda
inferior e ganha a inserção abaixo do ramo mandibular, pela qual
se junta ao músculo pterigoideo medial. A porção profunda possui
origem na superfície interna do arco zigomático, tendo a porção
anterior da camada profunda fusionada à superficial e à inserção
no ramo da mandíbula, em cima da base do processo coronoide. A
função da porção superficial é: triturar e mastigar, próximo à posição
de OC, e está em estado de tensão na posição de RC; controlar a
anteriorização e a centralização da mandíbula; auxiliar na protusão
da mandíbula e ser ativa nos movimentos mandibulares laterais
extremos. A porção profunda ajuda a retrair a mandíbula e, quando
a mandíbula protui, as fibras profundas estabilizam o côndilo contra
a eminência articular. A palpação deve ser bilateral, exercendo
a mesma pressão em três regiões de cada lado (OKESON,1992;
SANTOS JR.,1988; MACIEL,1998; FERNANDES NETO; NEVES;
SIMAMOTO, 2013).
Figura 4.10 | A palpação do masseter deve ser feita extra-oral e intraoral

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 81).

2.3 Músculo pterigoideo medial

Possui sua origem na superfície interna da crista externa


da apófise pterigoidea; processo piramidal do osso palatino;

U4 - Análise oclusal 229


tuberosidade maxilar e a inserção na parte posterior e inferior da
superfície interna do ramo e do ângulo mandibular. Quanto à função,
age sinergicamente com o masseter, formando um suspensório
mandibular, e atua na protrusão e elevação da mandíbula. Quando
o músculo se contrai em sinergismo com as fibras do masseter e
temporal, atua no fechamento mandibular, e quando se contrai com
as fibras do pterigoideo lateral do mesmo lado e com as fibras do
masseter e médias do temporal do lado oposto, atua na lateralidade.
Tem predominante ação vertical, sem qualquer movimento
excêntrico. Quando ambos os feixes desse músculo se contraem
junto com as fibras anteriores bilaterais do temporal, as fibras do
masseter e pterigoideo bilateral atuam na protrusão (SANTOS
JR.,1988; RAMFJORD 1987; MOLINA 1989; OKESON, 1992).
Figura 4.11 | A palpação do pterigoideo medial (A), pterigoideo lateral (B) deve ser
feita intraoral

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 81).

2.4 Músculo pterigoideo lateral

Possui origem na superfície infratemporal da asa maior do


esfenoide, através de fibras colágenas finas na porção anterior do
disco articular, internamente, na região lateral da asa maior do osso
esfenoide e na crista infratemporal. Insere-se na superfície lateral da
asa menor da apófise pterigoide e externamente em uma depressão
conhecida como fóvea pterigoidea da região anterior do côndilo.
A função do feixe superior é determinar a posição e a função do
disco articular, junto às fibras elásticas posteriores, e atua na fase
inicial da abertura mandibular; atua na lateralidade juntamente com
o masseter, pterigoideo medial e porção anterior e posterior dos
músculos temporais. Com relação à função do feixe inferior, este
atua como posicionador do côndilo, age sinergicamente com o

230 U4 - Análise oclusal


grupo dos músculos elevadores durante o fechamento mandibular,
atua na projeção e na abertura da mandíbula (MOLINA, 1989;
OKESON, 1992).
Figura 4.12 | Músculo pterigoideo medial (esq.) e lateral (dir.): feixe superior e inferior

Fonte: Maciel, (1998).

3. Princípios básicos para ajuste ou regulagem do articulador


semiajustável (ASA)

Os registros interoclusais nos permitem relacionar as duas


arcadas dentárias, possibilitando montar os respectivos modelos
anatômicos no ASA e realizar os estudos e ajustes necessários. O
paciente com disfunção temporomandibular deve ter seu modelo
inferior montado em relação cêntrica, uma posição fisiológica que
independe da presença dos dentes e estabiliza os côndilos com
a fossa mandibular do osso temporal. Para ajustar o articulador,
precisamos dos registros interoclusais em protrusão e das
lateralidades, direita e esquerda, e então ajustamos o trajeto sagital
e horizontal dos côndilos, por meio dos registros da guia condilar
e do ângulo de Bennett, nas posições excêntricas.

Para regular o articulador, necessitamos de quatro registros


interoclusais: um registro na posição de RC, que será utilizado
junto com o JIG previamente confeccionado; um registro em
protrusão, com o qual ajustaremos a caixa condilar; e dois registros
em lateralidade: com o registro de lateralidade direita, ajustaremos
o ângulo de Bennett esquerdo, e vice-versa.

3.1 Registro interoclusal em RC

A posição de RC foi determinada previamente com a


confecção do JIG. Uma cera, deve ser dobrada sobre o modelo,
no formato da arcada e a sua porção anterior deve ser recortada

U4 - Análise oclusal 231


em forma de "V", para dar espaço ao JIG quando a placa de cera
for inserida na boca. O JIG deve ser posicionado sobre os incisivos
superiores; a cera deve ser plastificada e pressionada sobre os
dentes superiores. Manipule a mandíbula, fechando-a, até que o
incisivo inferior contate com o JIG no ponto de registro da RC. Os
molares inferiores devem deixar registradas as marcas das pontas
de cúspides no registro em cera. Após a remoção do registro, este
deve ser manuseado com cuidado para evitar distorções.

3.2 Registro interoclusal de lateralidade

Para registrar a posição de trabalho do lado esquerdo e a


trajetória do côndilo de balanceio do lado direito, coloca-se a
placa de cera, recortada anteriormente sobre o modelo de estudo
e ligeiramente aquecida, sobre os dentes superiores do paciente.
Peça ao paciente para guiar a mandíbula para a esquerda e fechá-
la na posição de topo a topo dos caninos. Se houver dificuldade
para executar esse movimento, coloque o dedo na face vestibular
do canino superior e peça para que ele tente mordê-lo. Resfrie o
registro e o remova da boca. Repita os mesmos passos para o lado
oposto.

3.3 Registro interoclusal em protrusão

Posiciona-se a placa de cera recortada e ligeiramente aquecida


sobre os dentes superiores, sem o JIG. Nesse registro, o próprio
paciente executa o movimento sem ser guiado pelo operador.
Para auxiliar o paciente na execução do movimento, coloque o
dedo sobre a vestibular dos incisivos centrais superiores e peça
para que ele tente mordê-lo.

Assimile
A espessura da cera deve ser calculada e compensada no pino guia
incisal para que os dentes não fiquem "desocluídos”, quando observarmos
a montagem em ASA, alterando a DVO do paciente. A técnica para
compensar o pino guia será descrita no roteiro prático na Seção 4.2 desta
unidade de ensino.

232 U4 - Análise oclusal


Figura 4.13 | Registro interoclusal em lateralidade esquerda, direita e protrusiva

Fonte: arquivo pessoal da autora.

4. Ajuste ou regulagem das guias do ASA

4.1 Guias condilares

A configuração da ATM tem grande influência nos movimentos


mandibulares. A morfologia oclusal de qualquer restauração
dentária deve estar em harmonia com os movimentos da mandíbula
para evitar desarmonia oclusal, trauma ou disfunções. Para tirar
o máximo rendimento do articulador, suas guias condilares
têm que se aproximar dos limites anatômicos das articulações
temporomandibulares. Isso facilitará a confecção de restaurações
com alto grau de precisão reduzindo o tempo gasto nos ajustes
intrabucais. Com a finalidade de ajustar as guias condilares é que
são feitos os registros das posições excêntricas de protrusão e
lateralidade.

Para registrar as guias condilares é necessário que os modelos


de estudo, superior e inferior, já estejam montados no ASA. Na
pré-individualização do articulador, durante a montagem, as guias
condilares foram colocadas na média de valores, ou seja, em 30º, e
as guias dos movimentos laterais, ângulos de Bennett, em 15º. Nesse
momento, coloque as guias condilares em zero (0) e os controles
de lateralidade em sua posição mais aberta (45º). Libere o pino guia
da mesa incisal para prevenir qualquer interferência.

Com o ramo superior e seu respectivo modelo invertido, coloca-


se o registro de cera em protrusão sobre os dentes do modelo
superior. Ocluir com cuidado os dentes do modelo inferior nas
marcas do registro em cera e observar o distanciamento para baixo
dos côndilos do articulador da parede superior da guia condilar.
Proceder então o ajuste da inclinação da parede superior da guia
condilar do articulador, afrouxando os parafusos de fixação e

U4 - Análise oclusal 233


girando as guias condilares para baixo, fazendo com que a parede
superior da guia condilar toque o elemento condilar de cada lado
do articulador. Coloca-se uma tira de papel celofane, ou tiras de
poliéster, sobre o côndilo, tracionando-a até verificar contato entre
este e a parede superior da guia condilar, bilateralmente. Nesse
momento, aperte os parafusos de fixação das guias condilares.
Verifique o valor obtido e marque com um lápis sobre o modelo.

4.2 Guias laterais ou ângulo de Bennett


O ângulo de Bennett corresponde ao ângulo formado pelo
plano sagital e a trajetória do côndilo de balanceio durante o
movimento lateral, visto do plano horizontal. O côndilo de balanceio
se movimenta anterior, medial e inferiormente, e sua trajetória é
mostrada nos planos sagital, horizontal e frontal.

Sobre o modelo de estudo fixado no ramo superior e invertido,


adapta-se o registro em cera, na posição de lateralidade direita,
sobre os dentes do modelo superior, ocluindo o modelo inferior
sobre o registro. Solte, do lado oposto, o parafuso de fixação da guia
lateral (ângulo de Bennett) e gire a guia até que toque a superfície
medial do côndilo. Observe a existência do toque com o uso da
fita de papel celofane, ou das tiras de poliéster, e aperte o parafuso
de fixação para registrar o ângulo de Bennett esquerdo. Anote a
medida. Com o registro de lateralidade esquerda, ajuste o ângulo de
Bennett direito, seguindo os mesmos passos anteriores.
Figura 4.14 | Registro interoclusal em protrusiva, lateralidade esquerda e direita

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Figura 4.15 | Regulagem no ASA em protrusiva – ajuste da caixa

Fonte: arquivo pessoal da autora.

234 U4 - Análise oclusal


Figura 4.16 | Regulagem no ASA em lateralidade esquerda – ajuste do ângulo de
Bennett direito

Fonte:arquivo pessoal da autora.

Figura 4.17 | Regulagem no ASA em lateralidade esquerda – ajuste do ângulo de


Bennett direito

Fonte:arquivo pessoal da autora.

Figura 4.18 | Verificação de contatos prematuros em abertura e fechamento

Fonte:arquivo pessoal da autora.

Figura 4.19 | Verificação de contatos prematuros em abertura e fechamento

Fonte:arquivo pessoal da autora.

Reflita
Com os modelos de estudo corretamente montados e com as guias
condilares e laterais ajustadas, podemos fazer um estudo mais preciso
sobre a oclusão do paciente, entender as disfunções e planejar o
tratamento mais adequado.

U4 - Análise oclusal 235


Sem medo de errar
Como vimos na Seção 2.1, o aluno do curso de especialização em
prótese observou que um paciente restaurou um molar inferior com
amálgama, o qual ficou com contato prematuro. Tempos depois,
apresentou desvio mandibular e dores musculares. Na Seção 2.2,
ele acompanhou outro paciente e percebeu que desordens oclusais
posteriores influenciaram na fratura da restauração prévia, devido à
falta de proteção mútua entre os dentes posteriores e anteriores, e
também apresentou dores musculares.

Orientado pelo professor, ele fez a moldagem de estudo e


a obtenção dos modelos de diagnóstico, e agora pode montar
os modelos em ASA para estudar melhor os fatores oclusais
responsáveis pelas desarmonias no sistema estomatognático.
Clinicamente, também pode observar que o primeiro paciente, que
ficou com contato prematuro no molar restaurado, desenvolveu
dores na região do temporal, especialmente no feixe anterior. Agora,
é necessário fazer uma palpação muscular e anotar na ficha de
anamnese os músculos com resposta positiva para dor, pontuando
esquematicamente, de acordo com a origem, trajetória e inserção
muscular. O aluno está muito curioso para fazer o diagnóstico
muscular e estabelecer o plano de tratamento para o paciente.

Atenção
Foi possível observar melhor nos modelos montados em ASA a morfologia
oclusal, os tipos de contatos oclusais e as interferências oclusais.
Observamos as queixas de dores musculares referidas pelos pacientes
e notamos que os modelos daquele paciente com contato prematuro
no molar apresentavam contato no molar do lado oposto, quando fazia
movimento de lateralidade. Como o aluno deve proceder diante dessa
interferência em lateralidade?

Avançando na prática
Caso clínico de dentística e oclusão

Descrição da situação-problema

Um novo paciente no departamento de disfunção do curso

236 U4 - Análise oclusal


de especialização foi triado e detectou-se contato prematuro
deflectivo no fechamento mandibular, entre a vertente triturante de
uma cúspide funcional versus a vertente lisa de uma cúspide não
funcional, que provocará deslize mandibular em direção à linha
média. Essa situação induzirá à hiperatividade muscular. O que
fazer?

Resolução da situação-problema

Durante o movimento de lateralidade, o lado de trabalho (LT) é


o lado do movimento. Podemos ter neste lado: guia canina, parcial
ou total de grupo anterior, e parcial ou total de grupo posterior. Em
uma oclusão mutuamente protegida, ou oclusão orgânica, durante
o movimento de lateralidade, no lado oposto, chamado de lado de
balanceio (LB), deve haver desoclusão total dos dentes posteriores.
Contatos dos dentes posteriores no LB aumentam a atividade
muscular na região; são danosos ao sistema mastigatório devido
à quantidade e ao direcionamento das forças por eles geradas. Os
contatos no LB eliminam a guia lateral aumentando temporariamente
a dimensão vertical do LT, o que induz a um estiramento do masseter
e temporal, provocando uma supercontração reflexa. Portanto,
os contatos de LB devem ser eliminados após análise oclusal e
montagem em articulador.

Faça valer a pena


1. Como desprogramadores oclusais, para tomada do registro da relação
cêntrica do paciente, não podemos usar:
a) Espaçadores de leaf gauge.
b) JIG de Lucia.
c) Roletes de algodão.
d) Espátulas de madeira.
e) Placa parcial posterior.

2. Após a montagem do modelo inferior em ASA, fazemos o ajuste ou a


regulagem do articulador. São ajustadas durante a regulagem do ASA,
exceto:
a) Guias laterais.
b) Guias protrusivas.
c) Guias retrusivas.
d) Ângulo de Bennett.
e) Caixa condilar.

U4 - Análise oclusal 237


3. Durante a pré-regulagem do ASA, antes da montagem do modelo
superior, devemos regular o ângulo de Bennett em:
a) 15 graus.
b) 30 graus.
c) 45 graus.
d) 25 graus.
e) 35 graus.

238 U4 - Análise oclusal


Seção 4.2
Montagem em ASA dos modelos superior e inferior
e regulagem do articulador
Diálogo aberto
Caro aluno, vamos prosseguir com nossos estudos?

Há uma alta frequência de pacientes com problemas oclusais


no serviço de disfunções temporomandibulares. Um paciente
apresentou fraturas coronárias múltiplas nos dentes anteriores,
com queixas estéticas, dores próximas à região temporal e cansaço
muscular na direção do masseter. Durante a anamnese, comentou
que sofreu um acidente ciclístico; o aluno verificou fraturas incisais
múltiplas nos dentes 11, 12, 21 e 22, e algumas restaurações
insatisfatórias nos dentes posteriores, sem contato oclusal adequado
e uma coroa acrílica provisória no molar inferior esquerdo, que
está em infraoclusão. Seguindo o protocolo de atendimento, o
aluno obteve os modelos anatômicos e montou no articulador
semiajustável. Além disso, fez a palpação muscular, anotando os
músculos com resposta positiva à dor.

A morfologia oclusal de qualquer restauração colocada na boca


deve estar em harmonia com os movimentos da mandíbula para
evitar o início de uma desordem temporomandibular ou trauma.
Além disso, os dentes anteriores devem proteger os posteriores em
movimentos excêntricos mandibulares e vice-versa. Nesta seção,
você poderá aprender e praticar os procedimentos de montagem do
modelo superior, obter o registro em relação cêntrica utilizando os
espaçadores de Long, montar o modelo inferior, obter os registros
em lateralidade e protrusão e fazer os ajustes das guias condilares
e laterais. Verá também que a guia anterior, proporcionada pelos
incisivos e caninos, durante os movimentos mandibulares, pode ser
transferida à mesa incisal do articulador, favorecendo a reconstrução
dos dentes anteriores com contornos palatinos e comprimento
adequados à oclusão.

U4 - Análise oclusal 239


Considerando que esse paciente fraturou todos os seus
dentes anteriores, houve, sem dúvida, uma "desarmonia da guia
anterior"; sabendo que a guia anterior pode ser transferida ao
articulador para reconstruções anatômicas mais compatíveis
ao sistema estomatognático do paciente, vamos atentar
para o conteúdo a fim de tentar solucionar o problema?

Bons estudos!

Não pode faltar

Em casos de desarmonias oclusais, é importante investigar


uma possível existência de alterações oclusais e sua correlação
com as desordens temporomandibulares, para planejar um
tratamento que permita reconstruir a anatomia oclusal de modo
a preservar o sistema mastigatório. A fratura nos dentes anteriores
compromete a guia anterior, que deve ter concordância com a
dimensão vertical de oclusão dos posteriores e ser harmoniosa
nos movimentos excêntricos mandibulares, em um esquema de
mútua proteção.

É importante transferir ao articulador a guia anterior do


paciente, assim como as guias laterais e condilares, com valores
o mais aproximados possível dos valores dele, para servirem
de parâmetro para a reconstrução anatômica de qualquer
reabilitação desse paciente. Esses valores devem ser anotados na
ficha do paciente e nos modelos, para futuras reconstruções, se
necessárias.

A montagem dos modelos de estudo em articulador


semiajustável (ASA) é de importância fundamental para o diagnóstico
clínico de pacientes com disfunções temporomandibulares,
pois permite uma visão das inter-relações estáticas e funcionais
dos dentes, além de possibilitar o exame lingual da oclusão do
paciente. É indicada também como meio auxiliar no diagnóstico
de várias situações clínicas; no enceramento diagnóstico, para
reabilitações oclusais ou estéticas, mockup para facetas estéticas
ou fragmentos de porcelana, com alta frequência de uso nos dias
atuais. Além disso, constitui um importante meio de diagnóstico
para ajuste oclusal, por desgaste seletivo ou acréscimo, e para

240 U4 - Análise oclusal


o planejamento para tratamento em reabilitações protéticas,
cirúrgicas e ortodônticas.

Os procedimentos de montagem em ASA se dividem em


duas fases, uma clínica e outra laboratorial. Na fase clínica,
determinamos a distância intercondilar, com auxílio do arco
facial, e fazemos as tomadas das relações interoclusais, para
a montagem do modelo inferior e para os procedimentos
de ajuste do articulador. Para montagem do modelo inferior,
dependendo da situação clínica, podemos fazer o registro em
máxima intercuspidação habitual (MIH), simplesmente pedindo
ao paciente para ocluir seus dentes na posição de oclusão
máxima; há situações, no entanto, em que a posição dentária não
oferece uma referência segura, por isso, através de métodos de
manipulação ou uso de desprogramadores musculares, podemos
fazer a tomada da posição em relação cêntrica, a qual independe
da posição dentária, é reproduzível e fisiológica.

Importante observar que a eleição do tipo de registro para


montagem do modelo inferior deve considerar alguns aspectos:
primeiro, se a montagem é para estudo, de diagnóstico ou se a
é para trabalho, ou seja, para realização do tratamento protético
reabilitador; o segundo aspecto é verificar se faremos a montagem
em máxima intercuspidação ou oclusão cêntrica (OC), em relação
cêntrica (RC) ou em relação de oclusão cêntrica (ROC).

Pesquise mais
MIH ou OC: é uma posição de acomodamento da mandíbula, na qual
ocorre o maior número de contatos dentários.

RC: é uma posição crânio-mandibular na qual o conjunto côndilo-disco


está posicionado ântero-superiormente em relação à parede posterior da
eminência articular, com o disco articular perfeitamente interposto.

ROC: é uma posição maxilomandibular na qual são coincidentes a


posição dentária de máxima intercuspidação e o crânio mandibular de
relação cêntrica.

Livro: OKESON J. P. Tratamento das desordens temporomandibulares e


oclusão. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

U4 - Análise oclusal 241


Figura 4.20 | Posição condilar para montagem dos modelos em ASA

Fazer a montagem em RC:


Para montagem dos Pacientes com
partindo da RC podemos observar
modelos de estudo disfunção
as discrepâncias até chegar na MIH
temporomandibular

Montagem em Pacientes com ausência de sinais e


MIH ou OC sintomas de oclusão traumática

Para montagem dos


modelos de trabalho
Montagem em Pacientes com sinais e sintomas
ROC de oclusão traumática

Fonte:arquivo pessoal da autora.

O exame oclusal do paciente deve ser criterioso, sobretudo


quando há fortes indícios clínicos de que a oclusão possa estar
contribuindo para a desordem temporomandibular ou quando
a condição dos dentes sugere a necessidade de terapia oclusal.
Nesse caso, os modelos de estudo devem ser montados em relação
cêntrica, de forma que todos os movimentos bordejantes possam
ser avaliados. Se eles forem montados na posição de máxima
intercuspidação (MIH) e o paciente apresentar um deslize de RC
a MIH, a posição mais superoposterior dos côndilos não poderá
ser localizada no articulador e as condições oclusais nessa posição
não poderão ser avaliadas apropriadamente (OKESON, 2013;
FERNANDES NETO; NEVES; SIMAMOTO JUNIOR, 2013).

No articulador os movimentos mandibulares do paciente e os


contatos oclusais podem ser observados sem a influência do sistema
neuromuscular. Geralmente, quando examinamos clinicamente um
paciente, os reflexos neuromusculares protetores evitam contatos
deletérios, ocultando algumas interferências; no articulador esses
contatos são evidenciados.

O plano de tratamento deve focar dois aspectos: eliminar os


fatores etiológicos das desarmonias oclusais existentes, e prever
o possível aparecimento de disfunções. Nesse caso, vale lembrar
que às vezes é difícil determinar o resultado de um tratamento
específico, portanto é válido que o profissional possa visualizar o
resultado final antes do tratamento ser realizado. No articulador é
possível fazer um desgaste seletivo previamente à boca e avaliar os
resultados, a fim de evitar desgastes excessivos que possam obrigar

242 U4 - Análise oclusal


o paciente a fazer restaurações desnecessárias ou reabilitações com
coroas protéticas, que onerariam mais o tratamento. Da mesma
forma, o enceramento diagnóstico permite planejar as restaurações
de forma a cumprir os objetivos do tratamento.

Assimile
O exame oclusal isolado não serve como diagnóstico de uma desordem!

É necessário associá-lo ao exame muscular, articular (ATM) e cinemática


do sistema mastigatório, avaliando sinais e sintomas do paciente. Para
melhor diagnóstico, é preciso fazer a montagem dos modelos em ASA e
ajustar as guias em valores próximos ao sistema mastigatório do paciente.

1. Montagem dos modelos de estudo em ASA

A montagem em ASA inicia-se pelo modelo superior, com o auxílio


do arco facial, o qual permite uma montagem individualizada dos
modelos dentro de uma relação espacial, transferindo com relativa
precisão o arco de fechamento do paciente, ou seja, a distância entre
o eixo terminal de rotação e os dentes. Além disso, permite registrar a
distância intercondilar do paciente.

1.1 Montagem do modelo superior: etapa clínica

O primeiro passo para montagem consiste em obter o registro


no garfo do arco facial. Para esse procedimento, necessitamos dos
seguintes materiais: modelo de estudo superior, previamente obtido e
adequadamente recortado; articulador semiajustável; arco facial com
garfo de mordida e relator do násio; chaves de manuseio do articulador;
lamparina a álcool; godiva verde de baixa fusão; cabo de bisturi com
lâmina; vaselina em pasta.

1.1.1 Obtenção dos registros no garfo

Aquecer a godiva verde de baixa fusão na lamparina, recobrir


o garfo em três pontos: um anterior, correspondente à região de
incisivos centrais, e dois posteriores, correspondentes aos primeiros
molares, um de cada lado. Plastificar a godiva e aplicá-la na face
superior do garfo, nos pontos previamente determinados, cuidando
para que o volume em altura da godiva em anterior fique mais alta que

U4 - Análise oclusal 243


nos pontos posteriores. Posicionar o garfo com a godiva plastificada
na boca do paciente, afastando a bochecha esquerda com o garfo
e a direita com o dedo indicador com o espelho clínico, mantendo
o paciente confortavelmente posicionado na cadeira odontológica e
a cabeça ligeiramente inclinada para cima. Centralizar o cabo com a
linha média da face do paciente. Em seguida, pressioná-lo contra os
dentes superiores vaselinados, a fim de obter o registro das pontas de
cúspides e da borda incisal anterior até o resfriamento do material.

Remover o garfo da boca do paciente, verificar a precisão do


registro e a estabilidade do modelo. Se houver excessos de godiva,
dando interferência com os tecidos moles, báscula ou toque de dentes
na parte metálica do garfo, o registro deve ser corrigido por meio de
reembasamento, ou repetido, dependendo do grau das deformações.

1.1.2 Instalação do arco facial no paciente

Pegar o arco facial, limpar com uma gaze embebida em álcool os


suportes auriculares plásticos localizados nas extremidades do arco
facial. Primeiramente, adaptar o arco facial através do seu dispositivo
de articulação ao cabo do garfo; a seguir, posicioná-lo nos condutos
auditivos externos do paciente, informando-o que esses suportes
ampliarão os ruídos causados pelos ajustes do arco facial. Pedir
ao paciente que segure com firmeza, com os polegares no garfo,
estender a mão, e com os dedos indicadores e médio, manter o arco
posicionado para dentro e para frente, aproximando ao máximo o
suporte auricular plástico da ATM.

Nessa operação, é preciso certificar-se de que a presilha fique por


cima do cabo do garfo, de tal forma que os parafusos de ajuste, quando
existirem, fiquem para baixo, e o conjunto posicionado do lado direito
do paciente. Apertar os parafusos eles forem montados na posição de
máxima intercuspidação (MIH) e o paciente apresentar um deslize de
RC a MIH, a posição mais superoposterior dos côndilos não poderá ser
localizada no articulador e as condições oclusais nessa posição não
poderão ser avaliadas apropriadamente (OKESON, 2013; FERNANDES
NETO; NEVES; SIMAMOTO JUNIOR, 2013).

No articulador os movimentos mandibulares do paciente e os


contatos oclusais podem ser observados sem a influência do sistema
neuromuscular. Geralmente, quando examinamos clinicamente um

244 U4 - Análise oclusal


paciente, os reflexos neuromusculares protetores evitam contatos
deletérios, ocultando algumas interferências; no articulador esses
contatos são evidenciados.

O plano de tratamento deve focar dois aspectos: eliminar os


fatores etiológicos das desarmonias oclusais existentes, e prever o
possível aparecimento de disfunções. Nesse caso, vale lembrar que
às vezes é difícil determinar o resultado de um tratamento específico,
portanto é válido que o profissional possa visualizar o resultado final
antes do tratamento ser realizado. No articulador é possível fazer um
desgaste seletivo previamente à boca e avaliar os resultados, a fim de
evitar desgastes excessivos que possam obrigar o paciente a fazer
restaurações desnecessárias ou reabilitações com coroas protéticas,
que onerariam mais o tratamento. Da mesma forma, o enceramento
diagnóstico permite planejar as restaurações de forma a cumprir os
objetivos do tratamento.

Assimile
O exame oclusal isolado não serve como diagnóstico de uma desordem!

É necessário associá-lo ao exame muscular, articular (ATM) e cinemática


do sistema mastigatório, avaliando sinais e sintomas do paciente. Para
melhor diagnóstico, é preciso fazer a montagem dos modelos em ASA e
ajustar as guias em valores próximos ao sistema mastigatório do paciente.

1. Montagem dos modelos de estudo em ASA

A montagem em ASA inicia-se pelo modelo superior, com o


auxílio do arco facial, o qual permite uma montagem individualizada
dos modelos dentro de uma relação espacial, transferindo com
relativa precisão o arco de fechamento do paciente, ou seja, a
distância entre o eixo terminal de rotação e os dentes. Além disso,
permite registrar a distância intercondilar do paciente.

1.1 Montagem do modelo superior: etapa clínica

O primeiro passo para montagem consiste em obter o registro


no garfo do arco facial. Para esse procedimento, necessitamos dos
seguintes materiais: modelo de estudo superior, previamente obtido
e adequadamente recortado; articulador semiajustável; arco facial

U4 - Análise oclusal 245


com garfo de mordida e relator do násio; chaves de manuseio do
articulador; lamparina a álcool; godiva verde de baixa fusão; cabo de
bisturi com lâmina; vaselina em pasta.

1.1.1 Obtenção dos registros no garfo

Aquecer a godiva verde de baixa fusão na lamparina, recobrir


o garfo em três pontos: um anterior, correspondente à região de
incisivos centrais, e dois posteriores, correspondentes aos primeiros
molares, um de cada lado. Plastificar a godiva e aplicá-la na face
superior do garfo, nos pontos previamente determinados, cuidando
para que o volume em altura da godiva em anterior fique mais alta que
nos pontos posteriores. Posicionar o garfo com a godiva plastificada
na boca do paciente, afastando a bochecha esquerda com o garfo
e a direita com o dedo indicador com o espelho clínico, mantendo
o paciente confortavelmente posicionado na cadeira odontológica
e a cabeça ligeiramente inclinada para cima. Centralizar o cabo
com a linha média da face do paciente. Em seguida, pressioná-lo
contra os dentes superiores vaselinados, a fim de obter o registro
das pontas de cúspides e da borda incisal anterior até o resfriamento
do material.

Remover o garfo da boca do paciente, verificar a precisão do


registro e a estabilidade do modelo. Se houver excessos de godiva,
dando interferência com os tecidos moles, báscula ou toque de
dentes na parte metálica do garfo, o registro deve ser corrigido por
meio de reembasamento, ou repetido, dependendo do grau das
deformações.

1.1.2 Instalação do arco facial no paciente

Pegar o arco facial, limpar com uma gaze embebida em álcool


os suportes auriculares plásticos localizados nas extremidades do
arco facial. Primeiramente, adaptar o arco facial através do seu
dispositivo de articulação ao cabo do garfo; a seguir, posicioná-lo
nos condutos auditivos externos do paciente, informando-o que
esses suportes ampliarão os ruídos causados pelos ajustes do arco
facial. Pedir ao paciente que segure com firmeza, com os polegares
no garfo, estender a mão, e com os dedos indicadores e médio,
manter o arco posicionado para dentro e para frente, aproximando
ao máximo o suporte auricular plástico da ATM.

246 U4 - Análise oclusal


Nessa operação, é preciso certificar-se de que a presilha fique
por cima do cabo do garfo, de tal forma que os parafusos de ajuste,
quando existirem, fiquem para baixo, e o conjunto posicionado do
lado direito do paciente. Apertar os parafusos central e laterais da haste
transversal do arco facial e fazer a leitura da distância intercondilar
do paciente (P, M ou G). Posicionar o ponto násio à haste transversal
do arco facial, apertando o parafuso correspondente, e alojá-lo
na depressão nasal. Essa manobra é feita subindo ou baixando o
arco facial na sua haste vertical, evitando torções e desconforto
ao paciente. Apertar os dois parafusos que fixam o garfo ao arco
facial, com a chave sextavada ou presilha correspondente. Pedir ao
paciente para que remova a mão e verificar a estabilidade. Anotar
a distância intercondilar obtida para proceder às manobras de pré-
individualização dos ramos superior e inferior do articulador.

1.1.3 Remoção do arco facial do paciente

Para remoção do arco facial do paciente, desapertar o parafuso


de fixação e retirar o relator do násio. Em seguida, afrouxar somente
o parafuso central da parte superior do arco facial, dando 1/4 de
volta. Os dois parafusos laterais, se afrouxados, podem dar báscula
ao garfo. Solicitar ao paciente que abra lentamente a boca e remover
cuidadosamente o arco.
Figura 4.21 | Registro das edentações das pontas de cúspide nas regiões de molares
e incisal dos anteriores; verificação de básculo no modelo de estudo

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Figura 4.22 | Pontos de referência para montagem do arco facial: meato acústico
externo, násio, distância intercondilar P, M ou G

Fonte: arquivo pessoal da autora.

U4 - Análise oclusal 247


Figura 4.23 | Determinar a distância intercondilar: P (1), M (2), G (3)

Fonte: arquivo pessoal da autora.

1.2 Montagem do modelo superior: etapa laboratorial

O primeiro passo para montagem no ASA é transferir a distância


intercondilar, preestabelecida pelo arco facial, ao articulador, pré-
individualizando o ramo superior e o inferior de acordo com as
distâncias obtidas: pequena (P, S, 1), média (M, 2) ou grande (G, L, 3). Essa
distância deve ser registrada no prontuário do paciente, para sucessivas
montagens necessárias. Se o registro da distância intercondilar no arco
facial coincidir com a linha demarcatória entre duas distâncias, deve-se
ajustar o articulador sempre na distância menor, o que resultará em
cúspides mais baixas, havendo menor possibilidade de interferências.

Antes de realizar a montagem dos modelos, deve-se fazer a pré-


individualização dos ramos superior e inferior. O ramo inferior do ASA
possui três orifícios que correspondem às distâncias intercondilares P,
M ou G. Cada um dos postes condilares deverá ser fixado num desses
orifícios, em correspondência com a distância intercondilar do paciente,
conforme registrado no arco facial, e bem ajustados. Em seguida,
ajuste as guias condilares no ramo superior do articulador na mesma
distância. Para ajustar a distância intercondilar Grande, colocam-se
dois espaçadores de cada lado, para a média um espaçador, e para a
pequena nenhum espaçador. A face chanfrada deve ficar voltada para
a aleta que regula o ângulo de Bennett. Há modelos de articuladores
nos quais não há espaçadores, e sim um parafuso expansor; outros
articuladores possuem a distância intercondilar fixa em 110 mm, por
exemplo: modelo Arcon 2000 e 5000, EVA Fix e EVA Plus Não Arcon
Bio-Art (MEZZOMO et al., 2006).

O próximo passo é pré-individualizar o ângulo de Bennett em 15°


e a inclinação da caixa condilar em 30°. Remover o pino incisal, fixar a
placa de montagem no ramo superior, isolar com pequena quantidade
de vaselina. Adaptar o conjunto arco facial e garfo no ramo superior,

248 U4 - Análise oclusal


posicionando as ogivas, através dos seus respectivos orifícios, nos
pinos horizontais externos às guias condilares. A seguir, apertar os três
parafusos da haste transversal do arco facial e assentar o ramo superior
do articulador sobre a haste transversal do arco facial.

Posicionar o conjunto ramo superior, arco facial e garfo sobre o


ramo inferior. Para essa manobra existe um acessório, chamado
suporte do garfo, que impede o contato do conjunto arco facial e garfo
com a mesa incisal do articulador. Esse acessório deve ser colocado
no parafuso de fixação da placa de montagem inferior. Caso não se
disponha desse acessório, posicionar um rolete de cera rosa n.º 7 para
sustentar o garfo, evitando báscula deste no momento da fixação do
modelo superior ao ramo inferior do articulador.

Ajustar o suporte do garfo, posicionar o modelo superior sobre o


garfo e verificar estabilidade e presença de espaço entre a base do
modelo e a placa de montagem. Preparar gesso tipo IV, aplicar sobre
o modelo com ranhuras e previamente hidratado. Fechar o ramo
superior, aguardar o tempo de presa do gesso. Remover o arco facial e
colocar o pino incisal em zero, com a parte arredondada voltada para
a mesa incisal.
Figura 4.24 | Apertar os dois parafusos que fixam o arco facial ao garfo com a chave
hexagonal

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Figura 4.25 | Pré-individualização do ASA: caixa condilar em 30°, ângulo de Bennett


em 15°, distância intercondilar no ramo superior, com a parte chanfrada do espaçador
voltada para a aleta do ângulo de Bennett e poste condilar no ramo inferior

Fonte: arquivo pessoal da autora.

U4 - Análise oclusal 249


Figura 4.26 | Parafuso expansor regulando a DIC no ramo superior; encaixe do arco
facial; adaptação da placa de montagem

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Figura 4.27 | Suporte do garfo parafusado no orifício da placa de montagem; rolete


de cera sustentando o garfo; arco facial adaptado no ASA, verificando espaço para
colocação do gesso

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Figura 4.28 | Montagem do modelo superior em ASA: fixando o modelo na base com gesso

Fonte: arquivo pessoal da autora.

1.3 Montagem do modelo inferior: etapa laboratorial

Para fazermos a montagem do modelo de estudo inferior,


inicialmente temos que obter o registro interoclusal em RC.
Para facilitar a obtenção desse registro, deve-se confeccionar
um dispositivo sobre os incisivos centrais superiores em RAAQ,
denominado JIG de Lucia. Este dispositivo visa inibir os contatos
dentários posteriores, desprogramar a memória proprioceptiva do
ligamento periodontal e promover o relaxamento dos músculos
da mastigação, principalmente o pterigoideo lateral, permitindo

250 U4 - Análise oclusal


acomodação estável do côndilo na fossa mandibular do osso
temporal, em uma posição reproduzível.

O registro em RC é feito com os dentes ligeiramente afastados,


imediatamente antes do primeiro contato. As técnicas que usam
dispositivos desprogramadores são mais flexíveis e mais fáceis de
serem executadas pois podem ser adaptadas a várias situações
clínicas, na presença de dentes anteriores. As técnicas de confecção
já foram apresentadas nas Seções 2.3 e 4.1.

1.3.1 Registro em RC com lâminas de Long

O dispositivo original preconizado por Long consiste em dez


lâminas de acetato ou qualquer outro material plástico, com
espessura de 0,01 de polegada (0,254 mm), largura de 0,5 polegada
(11,20 mm) e duas polegadas (50,8 mm) de comprimento. Outra
maneira de fazer o registro é utilizar lâminas de radiografias cortadas
com 1 cm de largura e 5 cm de comprimento, unidas em sua
extremidade por um rebite metálico. As tiras, como o JIG, têm a
função de criar um anteparo anterior que impede o contato dos
dentes posteriores.

• Avaliar o espaço livre entre os dentes anteriores ao obter o


primeiro toque nos molares, pela manipulação em RC.

• Definir o número aproximado de tiras para impedir o contato


dentário.

• Posicionar as tiras e manipular o paciente para RC; se houver


contato dentário, acrescentar lâminas até obter ausência de contato
em posterior.

• Remover uma lâmina e o contato deve reaparecer. Recolocar a


lâmina retirada e o contato deve desaparecer. Assim, conseguimos
um contato mínimo entre os dentes.

• Preparar a lâmina de cera com um recorte em anterior, a fim de


dar espaço às lâminas para o registro.

• Colocar as lâminas entre os incisivos. Aquecer a cera, posicionar


e manipular a mandíbula em RC, fechando até que os incisivos

U4 - Análise oclusal 251


inferiores pressionem as tiras de Long contra os superiores, e os
posteriores criem edentações na cera.

• Remover a cera da boca e avaliar se há perfurações; se houver,


repetir o registro.

• Avaliar a estabilidade dos modelos superior e inferior com o


registro interposto no articulador.

Figura 4.29 | Registro interoclusal em RC, com tiras de Long e com JIG de
Lucia posicionados

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 135).

1.3.2 Montagem do modelo inferior

O registro em cera obtido possui uma espessura que altera a


DVO do paciente nos modelos. Se não fizermos uma compensação
dessa espessura, quando tirarmos a cera após a montagem do
modelo inferior, poderemos ter o erro de "mordida aberta" na
montagem. Para compensar essa espessura, e compensá-la no
pino guia, devemos articular manualmente os modelos em MIH:
com um lápis de ponta fina, marque no incisivo central inferior
o trespasse vertical do incisivo central superior sobre a sua face
vestibular. A seguir, posicione o registro em cera da RC no modelo
superior, articule manualmente os modelos e marque com um lápis
o novo trespasse vertical anterior. Depois, meça a diferença entre
as duas marcas. Sabendo que a relação na abertura bucal entre o
último molar e os incisivos é de 1:3, quando a diferença entre as
duas marcações obtidas for de 2 mm, por exemplo, significa que a
distância interoclusal dos últimos molares é três vezes menor, ou
seja, aproximadamente de 0,7 mm. Considerando que a relação de
abertura entre os incisivos e o pino guia do articulador é, em média,
de 1:1,5, a diferença de 2 mm multiplicada por 1,5 será igual a 3
mm, valor este que deve ser aumentado na dimensão vertical do
articulador através do pino guia. Isso é possível erguendo-se o ramo
superior 3 mm em relação à marca zero do pino guia (FERNANDES

252 U4 - Análise oclusal


NETO; NEVES; SIMAMOTO JUNIOR, 2013). Ajusta-se a mesa incisal
com o pino guia apoiado em seu centro.

Figura 4.30 | Registro da dimensão vertical em MIH; registro da dimensão vertical


em RC; medida entre a diferença da marcação em MIH e RC

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 135).

Figura 4.31 | Ajuste do pino guia compensando espessura da cera e ajuste do pino
guia e mesa incisal

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 135).

Coloque o ramo superior do articulador na posição invertida,


com o respectivo modelo já montado. Faça ranhuras na base
do modelo inferior e hidrate-o. Com o registro interoclusal em
RC, relacione-o com o modelo superior; prenda-o com cera
pegajosa, cola ou palito de madeira. Umedeça a base do modelo
inferior e o fixe ao articulador, com a porção de gesso necessária,
sem excessos. Posicione o ramo inferior do articulador também
invertido, colocando os côndilos em sua posição de retrusão
nas guias condilares. Feche o ramo inferior contra o gesso de
consistência adequada, até que o pino guia toque a mesa incisal.
Mantenha o modelo nessa posição até a presa do gesso.

Remova o registro de RC, retorne o pino guia em zero,


obtendo o paralelismo entre os ramos superior e inferior do ASA.
Observe se há discrepância oclusal entre a RC e a MIH na DVO
dos modelos. Essa discrepância deve coincidir com a situação
clínica do paciente.

U4 - Análise oclusal 253


Figura 4.32 | Registro cêntrico; fixação do modelo superior e inferior, montagem do
modelo inferior em ASA

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Reflita
De que maneira você pode avaliar a precisão da montagem?

Manipular o paciente em RC, treinar a posição; aquecer uma lâmina de cera


e imprimir esse registro nos dentes em que ocorreu o primeiro toque, até
perfurar a cera. Posicionar essa mesma cera nos modelos articulados. O
primeiro contato deverá coincidir exatamente com a área de cera perfurada.

1.4 Ajuste do articulador e sua influência na morfologia oclusal

Na Seção 4.1 você pode ver como são realizados os registros em


cera nos movimentos excêntricos de lateralidade, direita e esquerda,
para regular os ângulos de Bennett; e também o registro em protrusiva,
para ajustar a caixa condilar. Nesta seção, vamos comentar a influência
da inclinação condilar, do ângulo de Bennett e da distância intercondilar
na morfologia oclusal.

1.4.1 Inclinação da guia condilar

O ângulo no qual os côndilos descem ao longo da eminência


articular no plano sagital influencia na profundidade da fossa e na altura
das cúspides dos dentes posteriores. Com um ASA, essa angulação é
alterada para duplicar o ângulo presente em um paciente específico.
Sendo assim, uma restauração pode ser fabricada com a profundidade
da fossa adequada e a altura da cúspide em harmonia com a condição
oclusal do paciente (OKESON, 2013).

1.4.2 Ângulo de Bennett

O ângulo de Bennett é determinado pelo desalojamento do côndilo


de balanceio quando relacionado a uma trajetória ântero-posterior-

254 U4 - Análise oclusal


medial, observado num plano horizontal. No movimento de lateralidade,
o ângulo no qual o côndilo de balanceio se move para dentro, observado
no plano horizontal, influencia na largura da fossa central dos dentes
posteriores e na direção dos sulcos vestibulares e linguais. Quanto maior
for o ângulo de Bennett, mais para mesial será o sulco de balanceio nos
dentes inferiores e mais para distal nos dentes superiores, e maior será
concavidade palatina dos dentes anteriores superiores. A abertura do
ângulo de Bennett é, em média, de 15°, e influencia na direção dos sulcos
de desenvolvimento nos posteriores e na concavidade palatina dos
anteriores. Seus ajustes corretos permitem confeccionar restaurações
em concordância com a oclusão do paciente.

1.4.3 Distância intercondilar

A distância intercondilar exerce influência na altura das cúspides:


quanto maior a distância intercondilar, mais baixas serão as cúspides; e
na direção dos sulcos vestibulares dos dentes posteriores: quanto maior
a distância intercondilar, menor será o ângulo formado pelo sulco de
trabalho e o balanceio nos dentes posteriores.

1.5. Ajuste e regulagem do ASA

Para obter o máximo de rendimento de um articulador, suas guias


têm que se aproximar dos limites anatômicos da ATM, assegurando
um ajuste menor na boca do paciente. No entanto, alguns autores,
como Mezzomo et al., (2006) e Cardoso (2005), afirmaram que a
individualização dos ângulos de Bennett e a inclinação da eminência
articular são possíveis no ASA, porém têm valor clínico questionável.
Mostraram que as necessidades de ajustes clínicos em restaurações
executadas sobre modelos montados em articuladores com guias
personalizadas ou com a regulagem padrão, preconizada pelo fabricante,
parecem não diferir significativamente. Sendo assim, preferem trabalhar
com a média de medidas: ângulo de Bennett em 15° e inclinação da caixa
condilar em 30°. Outros autores, como Shillingburg, Hobo e Whitsett
(1983), afirmaram que a morfologia oclusal de qualquer restauração
colocada na boca deve estar em harmonia com os movimentos da
mandíbula para evitar o início de uma desarmonia oclusal e trauma.
Weinberg (1960) afirmou que a localização das cúspides, sua altura, a
direção dos sulcos e a profundidade das fossas são determinadas pela
configuração da ATM, e que, para tirar o máximo proveito do articulador,

U4 - Análise oclusal 255


suas guias condilares têm que se aproximar dos limites anatômicos das
articulações temporomandibulares, o que facilitaria a confecção de
restaurações com alto grau de precisão, reduzindo o tempo gasto nos
ajustes intraorais.

1.5.1 Obtenção dos registros laterais

Conduzir o paciente ao fechamento mais retrusivo e pedir que


deslize sua mandíbula 5 mm para um lado e depois para o outro, com
deslocamentos laterais. O operador deve apoiar a mão no mento do
paciente e pedir para que ele abra lentamente a boca, guiar a mandíbula
aproximadamente 5 mm para esquerda e pedir para que feche até os
dentes se tocarem levemente. Explicar que o procedimento será repetido
com uma cera interposta entre os dentes, e que ele deverá fechar
suavemente. A cera deve ser pré-adaptada no modelo, recortando-se os
excessos. Para o registro da lateralidade esquerda, compensar a altura da
cera, no lado direito, acrescentando uma porção de cera dobrada sobre
a oclusal dos dentes posteriores, compensando a desoclusão dos dentes
no lado de balanceio. O mesmo se faz para o registro do lado direito, ou
seja, compensar a altura da cera no lado de balanceio esquerdo. Com a
cera ligeiramente aquecida, guiar o paciente para lateralidade e imprimir
os toques dentários, aprofundando aproximadamente 1 mm. Resfriar a
cera, remover com cuidado e guardar num gral com água fria. Repetir o
registro para a lateralidade oposta.

1.5.2 Obtenção do registro protrusivo

Para o registro em protrusiva, a cera deve ser previamente adaptada


sobre o modelo, apertando-a contra o palato e recortando os excessos
laterais, podendo descobrir as cúspides vestibulares; a espessura deve
ser compensada nos dois lados, sobre a região dos dentes posteriores.
Com o registro em protrusão, ajustaremos as caixas condilares. Pedir
ao paciente para que feche na posição mais retruída e guiá-lo para
frente, até tocar topo a topo. Pedir para que ele feche até aprofundar
aproximadamente 1 mm na cera.

1.5.3 Ajuste das guias condilares e laterais do ASA

Desapertar o par de parafusos mediais da parte posterior do ramo


superior do articulador. Ajustar os dois guias condilares em 0°. Afrouxar
os guias laterais à sua posição mais aberta: 45°. Levantar o pino guia

256 U4 - Análise oclusal


incisal de modo que não toque na mesa incisal. Inverter o ramo superior
do articulador, com o modelo montado, e adaptar o registro em cera
da lateralidade esquerda, verificando se os dentes do modelo estão
coincidindo com as impressões em cera. Segurar o ramo superior
com a mão esquerda e colocar o côndilo esquerdo na guia condilar
correspondente. Adaptar os dentes do modelo inferior cuidadosamente.
Manter o articulador nessa posição segurando seu lado esquerdo com
uma mão. Observar que o côndilo direito se movimentou para frente,
para baixo e para o meio, sem tocar a guia condilar em nenhum ponto.
Afrouxar o parafuso de fixação da guia condilar direita e ajustar sua
inclinação; girar a guia para baixo até tocar a parede superior no côndilo
novamente, e apertar o parafuso de fixação. Ajustar a guia lateral direita
(ângulo de Bennett), afrouxando o parafuso de fixação lateral e girando a
guia de desvio lateral até tocar na superfície medial do côndilo, e reapertar
o parafuso de fixação. Com o registro de lateralidade direita, repetir todo
o procedimento e ajustar as guias: condilar e lateral esquerda. Anotar os
registros na ficha do paciente e nos modelos montados no articulador;
por exemplo, uma inclinação condilar de 42° e um desvio lateral de 22°
devem ser registrados: 42/22.

Caso o paciente necessite de alguma outra restauração futura,


não será necessário ajustar novamente, basta regular o articulador nas
medidas preestabelecidas.

1.5.4 Ajuste da guia anterior

Schuyler (1963) observou a influência dos dentes anteriores nos


movimentos excursivos e a importância de transferir a guia anterior
para o articulador. Shillingburg, Hobo e Whitsett (1983) citaram que
o guia incisal registrado no articulador favorece a reconstrução dos
dentes anteriores com contornos palatinos e comprimento adequados
à oclusão. O guia proporcionado pelos incisivos e caninos durante
os movimentos mandibulares pode ser transferido à mesa incisal do
articulador. Essa manobra deve ser feita levantando-se o pino guia incisal,
com a extremidade arredondada para baixo, afastando-o da mesa incisal
em aproximadamente 1 mm em todos os movimentos. Coloque uma
ou duas gotas de monômero sobre o guia incisal plástico. Manipule
a resina acrílica e leve à mesa incisal na fase fluida; acrescente resina
até 6 mm, aproximadamente, de espessura; lubrifique a extremidade
arredondada do pino e as superfícies funcionais dos dentes anteriores.

U4 - Análise oclusal 257


Feche o articulador até o pino incisal penetrar no acrílico; movimente
várias vezes o articulador em todos os movimentos mandibulares,
certificando-se do contato dos dentes anteriores durante os movimentos,
até a polimerização da resina e a formação do registro da guia anterior.
Recorte os excessos. Dessa forma, será possível transferir a influência da
guia anterior em qualquer procedimento de reconstrução dos dentes
anteriores.

Exemplificando
Caro aluno, após leitura do assunto abordado nesta unidade, para ampliar
e reforçar o aprendizado sobre o passo a passo da montagem e ajuste do
articulador semi ajustável, assista ao vídeo disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=7M-zlySQdks>. Acesso em: 17 mar. 2017. Além
disso, assista à Webaula da Seção 4.2, e leia também o Manual de instruções
técnicas, disponível em: <http://www.bioart.com.br/manuais/7_port/
manual.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2017, e o artigo Montagem de modelos
de próteses removíveis em articulador semiajustável, disponível em:
<http://www.revodontolunesp.com.br/files/v41n3/v41n3a11.pdf>. Acesso
em: 17 mar. 2017.

Sem medo de errar


Aquele aluno que acompanhava o paciente no serviço de disfunção
temporomandibular estava muito interessado em entender como
as fraturas incisais estariam causando dor na região do temporal e
cansaço na região de masseter. Seguindo orientação do professor,
ele fez a moldagem de estudo e obteve os modelos de diagnóstico;
assim, pode observar melhor que na região dos molares o plano
oclusal estava alterado, inclusive, o molar inferior esquerdo estava
em infraoclusão. Relembrando os princípios de oclusão aplicados
à dentição natural, na dentística restauradora ou na prótese fixa, ou
seja, uma oclusão mutuamente protegida, lembrou da importância
do direcionamento axial das cargas oclusais, da coincidência da RC
com a MIH em uma relação de oclusão cêntrica; da relação oclusal
do tipo cúspide/fossa; da guia anterior definida; dos contatos
bilaterais efetivos nos posteriores em ROC e dos menos intensos
nos dentes anteriores. Relembrou também que para tirar o máximo
proveito do articulador, seus guias condilares têm que se aproximar
dos limites anatômicos das articulações temporomandibulares, e

258 U4 - Análise oclusal


que a guia anterior deve ser transferida para o articulador, pois isso
facilita a confecção de restaurações com alto grau de precisão.
O aluno entendeu que as restaurações com desgastes
oclusais daquele paciente, e a coroa inadequada em infraoclusão,
precisariam ser reconstruídas, restabelecendo o plano oclusal tipo
cúspide/fossa, direcionando a carga oclusal ao longo do eixo dos
dentes e estabelecendo contatos efetivos nos posteriores; mas
estava intrigado com uma coisa: como transferir a guia anterior ao
articulador se os dentes estavam fraturados na incisal?
Orientado pelo professor, ele adequou a guia anterior, fazendo
um enceramento diagnóstico nos dentes anteriores fraturados,
acrescentando cera para escultura nos modelos montados no
articulador, e esculpiu tentando devolver a anatomia aos dentes
anteriores do modo mais fiel possível. A seguir, levantou o pino incisal
do ASA, desencostando cerca de 1 mm da mesa incisal em todos
os movimentos. Gotejou duas gotas de monômero na mesa incisal
plástica e acrescentou resina acrílica quimicamente ativada, na fase
fluida, com 6 mm de espessura, aproximadamente. Lubrificou o
pino incisal e a superfície funcional dos dentes encerados e fechou
o articulador até o pino adentrar na resina. A seguir, fez movimentos
repetidos de lateralidade e protrusão, certificando-se que os dentes
anteriores mantinham o contato, até a polimerização da resina;
dessa forma, o pino funcionou como um estilete na formação do
registro da guia anterior, tornando possível reproduzir a influência
dos dentes anteriores sobre os movimentos dos modelos, mesmo
na presença de fratura dos dentes anteriores.
Esteja atento: antes de transferir a guia anterior ao articulador,
certifique-se de que está adequada. Se a guia anterior estiver alterada
por desgastes dentários, fraturas, bruxismo ou ausências dentárias,
restaure com cera, fazendo um enceramento diagnóstico.

Avançando na prática
Paciente com interferência oclusal no movimento protrusivo

Descrição da situação-problema

Um outro paciente triado no serviço de disfunção


temporomandibular apresentou queixa de contato proximal aberto

U4 - Análise oclusal 259


na mesial do segundo molar superior, sangramento gengival e dor ao
mastigar. Relatou que sente como se seu segundo molar estivesse
distalizando, e isso começou depois que ele fez uma restauração
em amálgama no dente 17 e uma incrustação metálica MOD onlay
no 47. No exame clínico, foi possível verificar uma prematuridade
cêntrica entre os segundos molares, superior e inferior; observou
que se o paciente apertar com força, sua mandíbula se desloca
para frente. No exame radiográfico, constatou perda óssea na
mesial do 17, distal do 47 e, à sondagem, observou presença de
bolsa periodontal. O aluno ficou perplexo com a informação do
paciente e propôs aos outros alunos, mediados pelo professor,
que também tentassem apresentar a solução para esse problema.

Lembre-se
Quais seriam as consequências se um paciente exercesse pressões de
apertamento sobre um contato prematuro em cêntrica?

Resolução da situação-problema

O paciente apresenta um contato prematuro cêntrico nos


segundos molares direitos, superior e inferior. Se o paciente apertar
os dentes em uma máxima intercuspidação forçada, sua mandíbula
será deslocada para anterior. Durante o fechamento mandibular,
os músculos elevadores da mandíbula (masseter, temporal, que se
insere no processo coronoide; pterigoideo medial e lateral) exercerão
uma força de fechamento. A prematuridade leva à hiperatividade
nesses músculos; podendo desenvolver sintomatologia muscular.
As forças de mordida elevadas podem levar ao efeito de fulcro ao
redor do contato prematuro cêntrico, o que tende a deslocar o
côndilo da fossa articular. A relação dos planos inclinados distais das
cúspides dos dentes superiores e os planos inclinados mesiais das
cúspides dos dentes inferiores, alterada pelo contato prematuro,
tende a deslocar o segundo molar superior para distal, abrindo o
contato proximal mesial. Esse fato pode gerar impacção alimentar,
sangramento gengival, cárie interproximal e bolsa periodontal.
As prematuridades que produzem deslocamento anterior da
mandíbula são mais patogênicas sobre os dentes posicionados
mais distalmente na arcada, quando comparadas às prematuridades
em dentes mais anteriores do arco dentário. Em face a todos esses

260 U4 - Análise oclusal


meios de diagnóstico, a solução para o caso compreende, além
de um tratamento periodontal, eliminar o contato prematuro, por
técnicas de ajuste oclusal ou, dependendo do desgaste necessário,
fazer a substituição das restaurações, garantindo um ponto de
contato adequado e um ajuste oclusal em concordância e harmonia
ao sistema mastigatório.

Faça você mesmo


Sugiro que o aluno corte os incisais dos modelos anatômicos,
montados no articulador, reconstrua com cera, devolvendo a anatomia
morfofuncional dos dentes anteriores, e transfira a trajetória da guia
anterior, individualizando-a na mesa incisal. Esse treinamento prático
poderá enriquecer sua compreensão do conteúdo apresentado nesta
seção de estudo.

Faça valer a pena


1. O exame oclusal do paciente deve ser criterioso, sobretudo quando há
fortes indícios clínicos de que a oclusão possa estar contribuindo para a
desordem temporomandibular ou quando a condição dos dentes sugere a
necessidade de terapia oclusal. Nesse caso, os modelos de estudo devem
ser montados em:
a) Oclusão cêntrica.
b) Máxima intercuspidação habitual.
c) Relação cêntrica.
d) Posição de intercuspidação máxima.
e) Cêntrica longa.

2. Durante a montagem do modelo superior no ASA, precisamos do


auxílio de um componente que "permita uma montagem individualizada
dos modelos dentro de uma relação espacial, transferindo com relativa
precisão o arco de fechamento do paciente, ou seja, a distância entre o eixo
terminal de rotação e os dentes. Além disso, que permita registrar a distância
intercondilar do paciente".
Esse componente se refere ao:
a) Ramo superior do articulador.
b) Ramo inferior do articulador.
c) Base de fixação dos modelos.
d) Arco facial.
e) Ponto nasion.

U4 - Análise oclusal 261


3. Antes de fazer a montagem dos modelos em ASA, deve-se fazer a pré-
individualização dos ramos superior e inferior. O ramo inferior do ASA possui
três orifícios que correspondem às distâncias intercondilares P, M ou G.
Cada um dos postes condilares deverá ser fixado num desses orifícios, em
correspondência à distância intercondilar do paciente. Em seguida, deve-
se ajustar as guias condilares no ramo superior do articulador na mesma
distância, através dos espaçadores, e pré-individualizar a caixa condilar
e o ângulo de Bennett, em medidas médias. Essas medidas devem ser,
respectivamente:
a) 30° e 15°.
b) 15° e 30°.
c) 45° e 0°.
d) 0° e 45°.
e) 30° e 45°.

262 U4 - Análise oclusal


Seção 4.3
Análise oclusal: dentística restauradora x oclusão
funcional
Diálogo aberto

Olá, aluno! Seja bem-vindo!

Finalizando nossos estudos de oclusão, gostaríamos de focar sua


atenção nas situações discutidas nas seções anteriores. Naquele curso
de especialização em prótese dentária, especificamente no serviço
de tratamento das disfunções temporomandibulares, os alunos que
acompanharam o professor na triagem e no plano de tratamento
durante meses puderam observar várias situações clínicas responsáveis
pelo desenvolvimento de desconforto no sistema mastigatório.

Constataram que desordens articulares e dores musculares


provinham de alterações oclusais diversificadas; um dos pacientes
recebeu uma restauração em amálgama no molar inferior, a qual
ocasionou uma interferência oclusal no plano vertical, gerando novo
padrão de oclusão para "fugir" da interferência; como consequência,
teve um desvio mandibular, o qual desencadeou uma disfunção. Outro
paciente recebeu uma restauração estética no dente anterior, a qual
fraturou; ele apresentava ausência de molares e plano oclusal posterior
alterado por extrusões dentárias, apresentando interferências oclusais
no plano horizontal, as quais dificultavam excursionar livremente para
RC. Essa desarmonia posterior, em discordância com a guia anterior
do paciente e associada ao desvio mandibular laterotrusivo, foi fator
causal da fratura da restauração.

Nosso aluno teve a oportunidade de avaliar outro paciente com


situação clínica similar: por estar insatisfeito com a coloração de seus
dentes anteriores, procurou um dentista que, a fim de satisfazer a
estética, sugeriu seis preparos ultraconservadores e a instalação de
facetas laminadas de porcelana de canino a canino superior. A queixa
do paciente se relacionava à frequência constante com que essas
facetas se soltavam. No exame clínico, o aluno diagnosticou alteração

U4 - Análise oclusal 263


no plano oclusal posterior, devido à extração precoce dos dentes 36
e 46, que não foram recolocados, causando migração mesial dos
últimos molares, bilateralmente. Além disso, o paciente apresentava
interferência no movimento de protrusão e contato interferente no
lado de balanceio.

Vimos também que a oclusão é definida como a relação dos


dentes superiores e inferiores quando em contato funcional durante as
atividades mandibulares. Mas a questão é: qual será a melhor relação
funcional dos dentes? Ou qual a relação funcional ideal? Conceitos
atuais consideram a saúde e o funcionamento do sistema mastigatório,
e não configurações geométricas oclusais específicas (RAMFJORD;
ASH, 1984; OKESON, 2013). Ou seja, se as estruturas do sistema
estomatognático estão funcionando eficientemente e sem patologia,
a configuração oclusal é considerada fisiológica e aceitável, ainda que
os contatos dentários possam ter algum desajuste.

O desafio clínico consiste em discernir se o paciente apresenta sinais


e sintomas de patologia temporomandibular e, se possuir alterações
oclusais, quando e como intervir com o tratamento. Nesta seção você
poderá visualizar características anatômicas e fisiológicas do sistema
mastigatório, que caracterizam uma oclusão funcional ideal, a fim de
poder determinar quais condições oclusais teriam menores chances
de desenvolver patologias no sistema mastigatório.

Não pode faltar

Vamos entrar em contato com o conhecimento técnico que


nos permitirá resolver os problemas de pacientes com disfunções
temporomandibulares? É importante notar que, para visualizarmos
as características oclusais dos pacientes, é necessário que suas
estruturas anatômicas tenham sido fielmente reproduzidas por
moldagens e que seus modelos estejam montados no articulador
para facilitar a visualização e possibilitar uma análise oclusal.

Devemos colher todos os "sinais oclusais", avaliando as


características anatômicas e funcionais dos dentes, e os associarmos
aos "sintomas oclusais", como algias musculares, cefaleias, alterações
ou limitação de movimentos. Precisamos diagnosticar a oclusão
funcional ideal para cada paciente, uma vez que a ausência dessas

264 U4 - Análise oclusal


características oclusais, por si só, não determina se o paciente é
saudável ou não!

Procure pensar que as referidas características oclusais


representam as metas de tratamento para o profissional que
pretende alterar a oclusão do paciente, com intuito de eliminar uma
desordem temporomandibular relacionada à oclusão.

Reflita
Você seria capaz de assegurar ao paciente que recimentar os fragmentos
de porcelana nos dentes anteriores garantiria longevidade? Por que será
que essas facetas têm soltado frequentemente? Terão os dentes ausentes,
36 e 46, e as interferências em protrusiva e no lado de balanceio alguma
relação com o fato das facetas soltarem?

Essas e outras respostas você só terá após estudar a oclusão do paciente.


Para isso, precisa aprender os critérios da oclusão funcional ideal.

1. Critérios para uma oclusão funcional ideal

O sistema estomatognático é bastante complexo e composto por


estruturas que se inter-relacionam: dentes, músculos, ossos, ligamentos
e sistema nervoso central. A mandíbula se une ao crânio pelos
ligamentos e músculos. Quando os músculos elevadores (masseter,
temporal e pterigoideo medial) se contraem, a mandíbula se eleva, e
tanto os dentes quanto as superfícies articulares da ATM entram em
contato. Inúmeros estudos longitudinais comprovam que a posição
mais estável da ATM com relação ao crânio é a posição de relação
cêntrica, graças à sua reprodutibilidade associada à função muscular.
Estudos eletromiográficos sugerem que os músculos da mastigação
funcionam harmoniosamente e com menor intensidade quando os
côndilos estão em RC ao mesmo tempo em que os dentes estão na
máxima intercuspidação, ou seja, relação de oclusão cêntrica (ROC).

1.1 Estabilidade posicional da ATM

A estabilidade posicional da ATM é proporcionada pelos músculos


que exercem forças de tração através da articulação e previnem o
deslocamento das superfícies articulares, estabilizando as articulações.
Na posição postural, sem influência da condição oclusal, os côndilos
são estabilizados pelo tônus muscular dos elevadores e feixe inferior

U4 - Análise oclusal 265


dos músculos pterigoide lateral. A direção da força aplicada nos
côndilos pelo masseter e pelos pterigoideos mediais é anterossuperior;
os músculos temporais direcionam os côndilos superiormente nas
fossas articulares; os feixes inferiores do pterigoideo lateral direcionam
o côndilo anteriormente contra a vertente posterior da eminência
articular. Isso resulta numa posição mais anterossuperior, como
a posição articular estável, e com o disco articular perfeitamente
interposto entre os côndilos e as fossas articulares. É a posição
musculoesquelética mais estável da mandíbula.

1.2 Contatos dentários funcionais ideais

Outro importante critério refere-se aos contatos dentários


funcionais ideais. O padrão de contato oclusal influencia no controle
muscular de uma posição mandibular. Quando o fechamento da
mandíbula na posição musculoesquelética é estável, cria-se uma
condição oclusal instável, o sistema neuromuscular busca uma nova
posição de fechamento; isso mostra que a posição dentária pode
influenciar na estabilidade da posição condilar. A condição oclusal
estável deveria permitir o funcionamento efetivo enquanto minimiza
danos aos componentes do sistema mastigatório, ou seja, que possa
receber forças intensas com a menor possibilidade de dano (OKESON,
2000). Estudos comprovam que, durante o fechamento mandibular,
os contatos devem ser uniformes e distribuídos homogeneamente
entre os dentes, enquanto os côndilos permanecem posicionados
anterossuperiormente, apoiados contra as vertentes posteriores das
eminências articulares, e os discos perfeitamente interpostos, ou seja,
dentes na máxima intercuspidação ao mesmo tempo em que os
côndilos estão em relação cêntrica (RC).
Figura 4.33 | Dentes em posição de máxima intercuspidação, ao mesmo tempo em
que o côndilo está na posição de relação cêntrica

Fonte: Mezzomo et al. (2006, p. 151).

266 U4 - Análise oclusal


1.3 Direção das forças

A direção das forças aplicadas sobre os dentes também é um


fator de importância relevante. A viscoelasticidade do ligamento
periodontal, aliada às suas características histológicas, confere uma
resistência adequada às forças verticais incididas sobre os dentes,
mas forças horizontais não podem ser dissipadas com eficácia.
Essas forças podem gerar efeitos deletérios ao osso, ou evocar
atividade neuromuscular reflexa numa tentativa de evitar contatos
entre vertentes. As forças oclusais direcionadas ao longo eixo dos
dentes são conhecidas por carga axial, que pode ser alcançada
pelo contato dentário em pontas de cúspide ou em superfícies
relativamente planas, como borda das cristas marginais ou fundo
das fossas, as quais são perpendiculares ao longo eixo do dente.
Outra maneira requer que cada cúspide, ao contatar com a
superfície oposta, estabeleça três contatos ao redor da ponta da
cúspide, conhecido por tripodismo.
Figura 4.34 | Uma carga mastigatória axial ao longo eixo do dente pode ser
conseguida por (A) contatos da ponta da cúspide com uma superfície plana ou (B)
contatos recíprocos das vertentes (tripodismo)

Fonte: Okeson, (2013, p. 80).

1.4 Quantidade de força

A quantidade de força aplicada sobre os dentes também deve


ser considerada. Nos movimentos excêntricos da mandíbula é
importante que um dente anterior, ou um grupo de dentes anteriores,
proteja os dentes posteriores de contatos. Por estarem mais
distantes da ATM, as forças horizontais prejudiciais dos movimentos
excêntricos devem ser direcionadas para os dentes anteriores,
minimizando as possibilidades de danos ao sistema. Os dentes
caninos, devido ao comprimento radicular, proporção coroa/raiz
e área de compactação óssea ao redor, toleram melhor as forças
horizontais do que os posteriores, envoltos por osso medular. Outra

U4 - Análise oclusal 267


vantagem da guia canina reside no fato de que menos músculos
são ativados durante a excursão dos caninos; níveis inferiores de
atividade muscular implicam diminuição das forças sobre os dentes
e articulação, minimizando os danos patológicos. Outra guia a ser
considerada é a função em grupo, apresentada na Seção 2.1; o
importante é que as guias anteriores devem propiciar a desoclusão
dos dentes posteriores do lado oposto (lado de balanceio ou
mediotrusivo), pois esses contatos são altamente destrutivos para o
sistema mastigatório. No movimento protrusivo, os dentes anteriores
devem ficar em contato, desarticulando os dentes posteriores
bilateralmente. Na máxima intercuspidação os dentes posteriores
devem ter um contato ligeiramente mais forte que os anteriores,
oferecendo uma condição de proteção mútua.

2. Etiologia das disfunções temporomandibulares

A etiologia das disfunções temporomandibulares é multifatorial, e


seu entendimento é necessário para se estabelecer um diagnóstico
preciso e um plano de tratamento adequado. Segundo Conceição et
al. (2007), a ATM se comporta mecanicamente como qualquer outra
articulação do corpo; uma alteração óssea, congênita ou adquirida,
pode levar os músculos esqueléticos a trabalharem em hiperatividade
para compensar a condição ósseo-esquelética alterada. Da mesma
forma, uma condição oclusal alterada por uma interferência pode
causar desordens temporomandibulares. Com muita frequência, os
pacientes apresentam uma relação cêntrica não coincidente com
a oclusão cêntrica devido à presença de distúrbios oclusais que
impedem o fechamento fisiológico da mandíbula em relação de
oclusão cêntrica (ROC). Isso pode causar instabilidade, deslizando a
mandíbula para protrusão ou lateroprotrusão, criando uma máxima
intercuspidação habitual (MIH), a qual é adquirida (FERNANDES
NETO; NEVES; SIMAMOTO JUNIOR, 2013). Um contato prematuro
em fechamento pode causar desvio de linha média e afetar os
componentes do sistema mastigatório. O masseter e o temporal, do
mesmo lado do contato, ambos os pterigoideos e os ligamentos do
lado oposto podem ser afetados; o côndilo do mesmo lado pode
ir mais para a parte anterior do que a posição normal, enquanto
o côndilo do lado oposto se direciona mais para a lateral. Essas
alterações posturais criam hiperatividade, podendo se manifestar
clinicamente como algias musculares ou inclusive serem precursoras

268 U4 - Análise oclusal


de parafunções como bruxismo ou apertamento. Segundo Maciel
(2003), uma desordem articular pode ter como etiologia: doenças
degenerativas, traumáticas, desordens oclusais, musculares,
cervicais e/ou posturais. Vários estudos mostram que, com relação
aos problemas da ATM, as alterações funcionais se relacionam aos
deslocamentos condilares determinados mecanicamente.

Pesquise mais
O desenvolvimento da patologia articular vai depender também de fatores
individuais, como a tolerância às discrepâncias apresentadas, e fatores
psíquicos do paciente (CONCEIÇÃO et al., 2007; OKESON, 2013).

A desarmonia oclusal pode ser um fator predisponente e a desarmonia


psíquica um fator desencadeante, sobretudo ao se considerar o estresse
tão comum aos pacientes nos dias atuais. A tensão emocional pode se
apresentar em diferentes intensidades, e a tensão muscular é aumentada,
podendo desencadear o apertamento ou bruxismo (CONCEIÇÃO et al.,
2007).

2.1 Diagnóstico das disfunções temporomandibulares

O conhecimento básico dos fatores etiológicos é de


fundamental importância nas interpretações diagnósticas, pois
em algumas situações clínicas determinados fatores são causas
essenciais, outros são causas secundárias, podendo ser o inverso
em diferentes situações. A análise de fatores (locais e sistêmicos,
objetivos e subjetivos, predisponentes e desencadeadores, principais
e secundários, agravantes ou perpetuantes) determina dificuldades
na interpretação dos achados clínicos e complementares, e seus
reais valores e grau de importância em um caso específico (MACIEL,
2003). Por outro lado, a presença de harmonia nos espaços
biológicos articulares, sua relação com a posição cêntrica condilar
e a proteção mecânica dos tecidos em todo o perímetro condilar,
por meio da oclusão dentária, pode ser um meio de diagnóstico, pois
esses tecidos não sofrem compressão nem tração nas articulações
saudáveis.

Os deslocamentos condilares transversos, determinados


mecanicamente devido à perda de estabilidade craniomandibular,
também podem atuar como meio de diagnóstico. Contatos

U4 - Análise oclusal 269


prematuros em fechamento mandibular, discrepâncias
maxilomandibulares, mordidas cruzadas ou desordens posturais
podem atuar como fatores determinantes desses deslocamentos.
A Figura 4.35 mostra o diagrama de RC condilar (primeiro quadro) e
dos principais deslocamentos dessa posição ideal.
Figura 4.35 | Diagrama da RC condilar e dos principais deslocamentos dessa posição ideal

Fonte: Maciel, (2003, p. 174).

Segundo, Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior


(2013), um dos principais fatores etiológicos das desordens
temporomandibulares são as alterações da oclusão dentária,
os distúrbios oclusais, que podem ocasionar alterações no
periodonto de sustentação, abrasão oclusal acentuada, bruxismo
e alterações no mecanismo neuromuscular e das articulações
temporomandibulares.

2.2 Distúrbios oclusais

Os distúrbios oclusais se apresentam de quatro maneiras


principais: trauma oclusal, contato oclusal prematuro ou deflectivo
(cêntrico), interferência oclusal (excursivo), ausência de estabilidade
oclusal e/ou de guia anterior e alteração da dimensão vertical.

2.2.1 Trauma de oclusão

O trauma de oclusão pode ser desenvolvido a partir de uma


carga oclusal fisiológica ou excessiva, caracterizando um contato
prematuro, por exemplo, após uma restauração ou reconstrução

270 U4 - Análise oclusal


protética. Corresponde à lesão no periodonto de sustentação e/
ou outros componentes do aparelho estomatognático, causada
por forças oclusais que excedem a capacidade de adaptação
do paciente. O trauma de oclusão pode ser classificado como
primário ou secundário (FERNANDES NETO; NEVES; SIMAMOTO
JUNIOR, 2013).

Os contatos prematuros cêntricos se caracterizam pelos


primeiros contatos entre os dentes antagonistas, superiores e
inferiores, durante o fechamento da mandíbula. Após esse contato
inicial, normalmente entre duas superfícies convexas antagonistas,
a mandíbula é desviada do seu eixo de movimento vertical até
o fechamento máximo, resultando no seu deslocamento. Esses
deslocamentos, quando transversos, são visualizados sutilmente
no plano frontal.

Segundo Maciel (2003), os contatos prematuros podem ocorrer


nas "vertentes internas das cúspides vestibulares superiores" contra
as "vertentes externas das cúspides vestibulares inferiores" e nas
“vertentes internas das cúspides palatinas" contra as "vertentes
internas das cúspides linguais". Os deslocamentos podem se dar
para o lado direito ou esquerdo, com relação à linha média.

Figura 4.36 | Esquema representando os contatos cêntricos entre as vertentes oclusais


no plano transversal ou frontal (1. Vertentes externas vestibulares; 2. Vertentes internas
vestibulares; 3. Vertentes internas palatinas/linguais; 4. Vertentes externas palatinas/
linguais)

Fonte: Maciel, (2003, p. 175).

U4 - Análise oclusal 271


Figura 4.37 | Esquema mostrando contatos prematuros cêntricos provocando
deslocamentos transversos (A. Os côndilos desviam da RC na mesma direção e intensidade
que o desvio dentário; B e C. Situação clínica antes e depois do contato posterior – os tecidos
nos espaços articulares estão sujeitos às forças de tração, compressão e microtraumas)

Fonte: Maciel, (2003, p. 175).

A capacidade adaptativa do paciente é individual e dentro de certos limites


é possível que haja uma adaptação fisiológica. Porém, há casos em que
pode ocorrer lesão no periodonto de sustentação, tornando fundamental,
no tratamento oclusal, o equilíbrio dessa força e a verificação da ausência
de interferência dentro dos limites dos movimentos mandibulares. A não
observância desse aspecto pode levar ao aparecimento de iatrogenias.

Trauma de oclusão primário: é o que provoca lesão por forças


oclusais excessivas, sobre o periodonto de sustentação ou de inserção
íntegro, ainda não comprometido pela doença periodontal inflamatória
(FERNANDES NETO; NEVES; SIMAMOTO JUNIOR, 2013). Nesse tipo de
lesão não ocorre perda de inserção e a lesão é reversível, e geralmente
pode ser corrigida pela eliminação da causa, a força oclusal excessiva, por
exemplo, gerada pelo contorno inadequado da restauração na superfície
oclusal do dente.

Trauma de oclusão secundário: ocorre quando o periodonto de


sustentação ou de inserção do dente está comprometido por doença
periodontal e tecido inflamatório, e recebe forças oclusais fisiológicas ou
excessivas, provocando lesão sobre o periodonto. É comum em pacientes
que apresentam periodontites avançadas, com dentes com inserções
reduzidas.
Figura 4.38 | Lado esquerdo – trauma oclusal primário (observe a integridade
das estruturas periodontais). Lado direito – trauma oclusal secundário (observe o
comprometimento das estruturas periodontais)

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 63).

272 U4 - Análise oclusal


2.2.2 Contatos oclusais

O termo contato oclusal define o contato que ocorre entre as


superfícies oclusais dos dentes antagonistas ao final do movimento
de fechamento da mandíbula, podendo ser: contato oclusal
cêntrico, contato oclusal prematuro e contato oclusal deflectivo.

O contato oclusal cêntrico é conceituado como o contato


oclusal fisiológico que estabiliza a mandíbula durante o fechamento
em relação de oclusão cêntrica (ROC). O contato oclusal prematuro,
ou não fisiológico, dificulta ou impede o fechamento total da
mandíbula em ROC, sem causar desvio, porém desestabilizando
a mandíbula. Ocorre quando houver contato oclusal prematuro
entre cúspide e fossa ou entre cúspide e crista marginal de dentes
antagonistas; pode estar relacionado às desordens de posição ou às
reconstruções dentárias iatrogênicas.
Figura 4.39 | Contato oclusal prematuro – desestabiliza a mandíbula sem provocar
desvios, promove a instabilidade nos côndilos, hiperatividade muscular e estresse
no periodonto (A. cúspide x crista marginal; B. cúspide x fossa)

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 64).

O contato oclusal deflectivo refere-se ao contato oclusal


não fisiológico, que dificulta ou impede o completo fechamento
mandibular em ROC, desviando a mandíbula de sua trajetória
normal, gerando, então, o deslize em direção anterior, à linha média
da face ou contrária à linha média.

2.2.3 Deslize mandibular

O deslize mandibular para a frente ocorre quando houver um


contato oclusal deflectivo entre a estrutura oclusal mesial (aresta

U4 - Análise oclusal 273


longitudinal, vertente triturante ou crista marginal) do dente
superior e a estrutura oclusal distal do dente inferior. Tal contato
promove o deslize dos côndilos para anterior, em posição de
protrusão em relação à fossa mandibular, causando hiperatividade
muscular e relação de forças laterais entre os dentes antagonistas,
comprometendo a guia anterior.
Figura 4.40 | Contato entre a superfície mesial do dente superior e distal do dente
inferior, quando a mandíbula desliza para anterior. Esses contatos induzem o deslize
mandibular em direção anterior

Fonte: Fernandes Neto et al., (2006, p. 64).

O deslize mandibular em direção à linha média ocorre quando


há um contato oclusal deflectivo entre a vertente lisa de uma
cúspide funcional (palatina superior e vestibular inferior) e a vertente
triturante de uma cúspide não funcional (vestibular superior e lingual
inferior). Esse tipo de contato promove o deslize do côndilo do lado
do contato para a posição de balanceio e do côndilo do lado oposto
para a posição de trabalho, resultando em hiperatividade muscular
e relação de forças laterais entre os dentes antagonistas, que pode
comprometer a harmonia da guia canina ou da função em grupo.
Figura 4.41 | Contato oclusal deflectivo entre a vertente lisa de uma cúspide
funcional (palatina superior) e a vertente triturante de uma cúspide não funcional
(lingual inferior), causando desvio em direção à linha média

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 65).

274 U4 - Análise oclusal


2.2.4 Interferência oclusal

Interferência oclusal corresponde ao contato oclusal não fisiológico


que ocorre entre as superfícies oclusais antagonistas, dificultando ou
impedindo os movimentos mandibulares excêntricos, ou seja, movimentos
excursivos de protrusão, lado de trabalho e lado de balanceio.

Interferência oclusal no movimento de protrusão: acontece quando


ocorre interferência entre a estrutura oclusal mesial (aresta longitudinal,
vertente triturante ou crista marginal) do dente inferior e a estrutura oclusal
distal do dente superior. Tal contato promove instabilidade condilar,
hiperatividade muscular, relação de forças laterais entre os dentes
antagonistas e ausência da guia anterior.
Figura 4.43 | Contato oclusal esquemático da interferência no movimento de protrusão
entre a estrutura oclusal mesial do dente inferior e a estrutura oclusal distal do dente superior

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 65).

Interferência oclusal no movimento de trabalho: esse tipo de


interferência oclusal ocorre quando há uma interferência oclusal entre
a vertente lisa de uma cúspide funcional (palatina superior e vestibular
inferior VIPS) e a vertente triturante de uma cúspide não funcional
(vestibular superior e lingual inferior). Isso promove instabilidade
condilar, hiperatividade muscular, relação de forças laterais entre os
dentes antagonistas e ausência da guia canina ou da função em grupo.
Figura 4.44 | Contato oclusal esquemático de uma interferência no movimento de
trabalho entre a vertente lisa de uma cúspide funcional e a vertente triturante de
uma cúspide não funcional

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 65).

U4 - Análise oclusal 275


Interferência oclusal no movimento de balanceio: esta interferência
é muito danosa ao sistema estomatognático. Ocorre quando há uma
interferência oclusal entre as vertentes triturantes de duas cúspides
funcionais (palatina superior e vestibular inferior). Tal contato promove
instabilidade condilar, hiperatividade muscular, relação de forças laterais
entre os dentes antagonistas e ausência da guia canina ou da função
em grupo do lado de trabalho. Os distúrbios oclusais frequentemente
são causados por migrações dentárias, restaurações dentárias com
contatos oclusais não fisiológicos ou ausentes e ausência de dentes
(anteriores e/ou posteriores, superiores e/ou inferiores, uni ou bilateral).
Figura 4.45 | Contato oclusal com interferência no movimento de balanceio entre as
vertentes triturantes de duas cúspides funcionais (palatina superior e vestibular inferior)

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 65).

2.2.4.1 Possíveis distúrbios oclusais e suas consequências no arco


dentário

Uma situação clínica bastante comum pode surgir quando um paciente


possui um dente com lesão de cárie e, consequentemente, destruição
anatômica: haverá extrusão do antagonista, devido à instabilidade oclusal,
isto é, numa tentativa de "manter o contato oclusal", o dente migra em
direção ao seu oponente. Da mesma forma, em uma restauração em
amálgama (ou resina), o contorno oclusal incorreto, por falta de material
restaurador, pode determinar a mesma sucessão de eventos.
Figura 4.46 | Duas restaurações dentárias em oclusão, em que as forças oclusais se
dissipam paralelas ao longo eixo médio dos dentes, não caracterizando distúrbio oclusal

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 51).

276 U4 - Análise oclusal


Figura 4.47 | A. Molar superior com lesão de cárie; B. Molar restaurado, porém a
restauração está sem contatos oclusais, ficando estes nos planos inclinados das cúspides,
o que direciona as forças oclusais obliquamente em relação ao longo eixo médio dos
dentes, caracterizando distúrbio oclusal

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 51).

Figura 4.48 | 3A/4A. Relacionamento oclusal estável entre dentes antagonistas


íntegros; 3B/4B. Restaurações com contatos oclusais instáveis, deslizantes; 3C/4C.
Restaurações com contatos oclusais estáveis

3 4
Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 51).

Uma restauração esculpida sem o contato oclusal pode ocasionar


extrusão do antagonista devido à instabilidade oclusal. A migração
dentária também pode ocorrer quando um dente com destruição
coronária por cárie fica certo tempo sem ser reconstruído, causando
a extrusão do dente antagonista. Nessa situação, é necessário fazer
um ajuste oclusal, eliminando a extrusão e restabelecendo o plano
oclusal adequado antes de fazer a restauração, caso contrário
se perpetuará a instabilidade oclusal, podendo gerar desordem
temporomandibular.

U4 - Análise oclusal 277


Figura 4.49 | A. Molar superior com lesão de cárie; B. Restauração sem contato
oclusal; C. Migração do antagonista em razão da ausência de estabilidade oclusal

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 51).

Figura 4.50 | A. Molar inferior com lesão de cárie e o antagonista com extrusão; B.
Demarcação da extrusão a ser eliminada; C. Extrusão eliminada e molar inferior
corretamente restaurado

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 51).

Figura 4.51 | A. Molar inferior com lesão de cárie e antagonista com extrusão;
B. Molar inferior restaurado sem a prévia eliminação da extrusão do superior; C.
Interferência oclusal no movimento de balanceio gerado pela restauração sem a
eliminação da extrusão do antagonista, causando distúrbio oclusal interferente

Fonte: Fernandes Neto et al. (2006, p. 51).

278 U4 - Análise oclusal


Da mesma forma, uma restauração esculpida com "excesso
oclusal", causando um contato prematuro cêntrico durante o
fechamento mandibular, ou uma interferência nos movimentos
excêntricos, no lado de trabalho ou no lado de balanceio, pode
gerar uma DTM.

Assimile
Caro aluno, a situação-problema apresentada na Seção 2.1 mostra
exatamente essa situação! Volte à seção e relembre o que aconteceu
com o paciente que ficou com uma restauração em amálgama alta.

Leia o capítulo 4 dos livros:

CONCEIÇÃO, E. N. et al. Dentística: saúde e estética. 2. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2007, 584p. Leia o capítulo 4.

FERNANDES NETO, A. J.; NEVES, F. D.; SIMAMOTO JUNIOR, P. C.


Odontologia essencial: parte clínica, oclusão. São Paulo: Artes Médicas,
2013 (Série Abeno).

Outro fator desencadeante de distúrbio oclusal refere-se


aos terceiros molares. Alterações morfológicas, posicionais ou
a ausência dos antagonistas podem gerar extrusões dentárias e
desarmonias oclusais subsequentes, com possíveis deslocamentos
condilares, como ilustrado na Figura 4.35 desta seção.

Figura 4.52 | Extrusão de um terceiro molar inferior sem antagonista, gerando uma
interferência oclusal no movimento de protrusão que leva instabilidade às ATMs e
ausência de guia anterior, causando distúrbio oclusal

Fonte: Fernandes Neto et al. ( 2006, p. 51).

U4 - Análise oclusal 279


3. Tratamento dos distúrbios oclusais

Devido à propriocepção do ligamento periodontal, e sua integração


ao sistema nervoso central, uma reação motora determina hiperatividade
dos agentes de defesa do organismo gerando disfunções no aparelho
estomatognático. Mudanças adaptativas induzidas pelas forças que
tendem a deslocar o côndilo de sua fossa ou sobrecarregar os dentes
podem ocasionar contração crônica da porção superior do músculo
pterigoideo lateral, o qual puxa o disco articular para frente, deslocando
o côndilo para baixo. Isso estabelece um suporte condilar para prevenir
uma sobrecarga nos dentes (FERNANDES NETO; NEVES; SIMAMOTO
JUNIOR, 2013; OKESON, 2013). As forças que tendem a deslocar o
côndilo de sua fossa podem induzir uma resposta recíproca do feixe
médio do músculo temporal que contrai cronicamente para evitar
o deslocamento do côndilo direito. Nessa situação, dois músculos
potentes nos lados opostos da cabeça estão funcionando em tensão
dinâmica, fulcrando a mandíbula sobre o segundo molar, por isso, o
paciente pode apresentar sintomas como dores de cabeça na região
temporal. Radiograficamente podemos evidenciar a posição óssea no
côndilo e/ou fossa, osteite condensante da fossa, hipercementose,
exostose do osso alveolar e espessamento da lâmina dura e do ligamento
periodontal. As mudanças patológicas ou degenerativas induzidas no
aparelho estomatognático pelos distúrbios oclusais são reconhecidas
como desordens oclusais ou parafunções (Figura 4.53). Podem incluir
dores de cabeça, desordens na ATM, como perfuração do menisco,
desgastes dentários, fraturas de cúspide, pulpites, dor facial, dor no
pescoço e ombro, reabsorção do osso alveolar, reabsorção do rebordo
sob a prótese e desarranjo periodontal.

Para o tratamento dos distúrbios oclusais, as desordens oclusais devem


ser removidas, restabelecendo um plano oclusal correto e devolvendo a
guia lateral do paciente; dessa forma, o côndilo do paciente assenta-se
em sua fossa, ao invés de sofrer deslocamento. As tensões induzidas no
músculo temporal serão aliviadas à medida que sua função não mais
será necessária para manter o côndilo em posição. O ajuste oclusal pode
redirecionar o grau e a direção das forças aplicadas por meio da mudança
da localização dos contatos dentários em várias posições mandibulares.
Essa redução do estresse pode interceptar o apertamento dentário e
a duração da aplicação das forças será reduzida, aliviando o estresse
sobre os tecidos do aparelho mastigatório. Os contatos prematuros que

280 U4 - Análise oclusal


produzem deslocamento anterior da mandíbula são mais patogênicos
sobre os dentes posteriores do arco do que nos anteriores, considerando
que haja contato entre todos os dentes na máxima intercuspidação.

Figura 4.53 | A sobrecarga do sistema mastigatório pode afetar várias estruturas,


gerando sintomas e/ou colapso de estruturas (A. Desgaste dentário; B. Pulpite; C.
Mobilidade dentária; D. Dor na musculatura mastigatória; E. Dor na ATM; F. Dor de
ouvido; G. Dor de cabeça)

Fonte: Okeson (2013, p. 103).

Após um diagnóstico desses distúrbios oclusais, uma anamnese


precisa do paciente ajudará na definição do tratamento apropriado.
Considerando o limiar de tolerância e a suscetibilidade dos
pacientes, as disfunções temporomandibulares geradas ao aparelho
estomatognático se manifestam em distintos grupos de pacientes,
tais como:

• Grupo I: Disfunção neuromuscular DNM (síndrome da dor-


disfunção-miofascial).

• Grupo II: Disfunção temporomandibular (DTM).

• Grupo III: Disfunção dentária (lesões não cariosas das estruturas


dentárias).

• Grupo IV: Disfunção periodontal (mobilidade dental ou


migração patológica dos dentes).

• Grupo V: Ausência de disfunção (acomodação).

U4 - Análise oclusal 281


Durante o exame oclusal, o profissional deve observar a presença
de desvio mandibular no fechamento em RC e determinar quais
dentes estão envolvidos no contato prematuro; pacientes com
apertamento dentário podem apresentar sintomas de distúrbio
oclusal nos dentes e periodonto. Dentre os sintomas mais comuns,
podemos citar: dor ou desconforto periodontal, mudança na posição
dos dentes, sensação de mudança na mordida, hipersensibilidade
dentária, dores musculares, mobilidade dental, impacção alimentar,
apertamento noturno e dor ou travamento na ATM. A observação
da presença desses sinais e sintomas de distúrbios oclusais
durante a anamnese fornece importantes meios para se chegar
a um diagnóstico adequado e estabelecer o plano de tratamento
apropriado. O Quadro 4.1 ilustra as características diferenciais de um
paciente com função normal ou parafunção (não fisiológica).
Quadro 4.1 | Comparativo das características dos pacientes em função e parafunção

Fonte: Fernandes Neto, Neves e Simamoto Junior (2013, p. 59).

Atenção
Esses sinais e sintomas de distúrbios oclusais devem ser avaliados
clinicamente e complementados pelo exame radiográfico. Normalmente
os sinais nas radiografias periapicais envolvem a lâmina dura e o espaço
da membrana periodontal; às vezes apresentam hipercementose,
aumento da densidade óssea alveolar, calcificação pulpar e fratura
coronário/radicular. Ainda como exames complementares, podemos
solicitar: radiografia panorâmica, transcraniana, planigrafia, tomografia
computadorizada, artrografia e ressonância magnética, conforme a
necessidade do caso clínico.

282 U4 - Análise oclusal


Apesar da grande prevalência das disfunções temporomandibulares
(DTMs) na população de um modo geral, muitos profissionais associam
esse termo às patologias que acometem apenas a ATM. A disfunção
inclui qualquer desarmonia que ocorra nas relações funcionais dos
dentes e suas estruturas de suporte, das maxilas, das ATMs, dos
músculos mastigatórios e dos suprimentos vascular e nervoso desses
tecidos. A DTM possui etiologia multifatorial, o que torna tanto o seu
diagnóstico quanto o seu tratamento mais difíceis. Existe, na literatura,
muita controvérsia no que diz respeito ao papel da oclusão como
fator etiológico nas DTMs. Barbosa et al. (2003) afirmaram que as
DTMs possuem uma etiologia multifatorial, na qual fatores oclusais
estão envolvidos; porém deve-se considerar os fatores genéticos,
psicológicos, traumáticos, patológicos, ambientais, comportamentais,
neuromusculares e oclusais. Afirmaram ainda que interferências no lado
de balanceio, grandes discrepâncias entre máxima intercuspidação
habitual (MIH) e relação cêntrica (RC), trespasse vertical e horizontal
profundos e ausência da estabilidade oclusal causada pela perda dos
dentes posteriores são fatores oclusais relacionados com os sinais e
sintomas das DTMs. Citaram também que os sintomas musculares
estão associados com distúrbios oclusais e que, devido à etiologia
multifatorial das DTMs, um tratamento multidisciplinar deve ser
proposto, envolvendo as seguintes áreas: odontologia, fisioterapia,
psicologia, fonoaudiologia, nutrição e medicina.

Okeson (2013) afirmou que os fatores etiológicos associados às


DTMs são: condição oclusal, trauma, estresse emocional, fontes de
estímulo de dor profunda e atividades parafuncionais; e que esses
fatores podem variar em importância de um paciente para outro. O
fator oclusal, portanto, não é o único fator etiológico das DTMs, ele
pode desempenhar um papel na etiologia. Quando estiver envolvido,
deve ser abordado corretamente, e cabe ao dentista corrigir as
discrepâncias oclusais após o entendimento da etiologia da DTM do
paciente. É importante lembrar que o padrão de contato oclusal deve
ser examinado na dinâmica oclusal: posição de RC, MIH, protrusão e
lateralidades direita e esquerda.

Concluído o diagnóstico, o plano de tratamento deve obedecer


fases criteriosamente adotadas. Após a moldagem e a obtenção dos
modelos anatômicos, estes devem ser montados em articulador
semiajustável para uma análise funcional da oclusão. Durante essa

U4 - Análise oclusal 283


análise, vamos detectar possíveis prematuridades em relação cêntrica e
desvio mandibular para MIH. Devemos nos certificar de que a montagem
no ASA coincida com os contatos que vemos na boca do paciente.
Dependendo do caso, podemos sugerir a terapia com placas oclusais,
ou seja, dispositivos interoclusais removíveis, feitos em resina acrílica e
que recobrem as superfícies oclusais e incisais dos dentes, alterando
a oclusão do paciente e criando contatos adequados, estabilizando a
relação maxilomandibular. Essas placas reduzem a atividade muscular
anormal, protegendo os dentes de sobrecarga, e permitem uma
posição articular mais estável e funcional. A placa pode servir como
meio de diagnóstico quando o paciente apresentar desordens
musculares e dores; ela representa um método eficaz contra algias
musculares devido ao relaxamento muscular que produz. No entanto,
o método de tratamento com placas interoclusais é considerado
reversível; o paciente apresentará remissão da sintomatologia, porém
poderá retornar à condição prévia após a sua remoção. Há casos em
que a placa atua como paliativo, sendo recomendados tratamentos
irreversíveis, como o ajuste oclusal por decréscimo ou acréscimo na
superfície oclusal, reabilitação protética ou tratamento ortodôntico.
O importante é que o clínico esteja certo no relacionamento
causa/efeito das DTMs e determine o tratamento mais indicado.

Exemplificando
Caro aluno, muitos indivíduos são capazes de se adaptarem às
discrepâncias oclusais dentro de limites toleráveis sem a emersão de sinais
e sintomas mastigatórios. A oclusão pode ser de importância secundária
e exacerbar sintomas após o avanço da DTM originada por outros fatores.

Leitura sugerida:

BARBOSA, G. A. S. et al. Distúrbios oclusais: associação com a etiologia


ou uma consequência das disfunções temporomandibulares? Jornal
Brasileiro de Oclusão, ATM e Dor Orofacial, Curitiba, v. 3, n. 10, p. 158-
163, abr./jun. 2003.

Sem medo de errar


O aluno que acompanhava os pacientes no serviço de diagnóstico
e tratamento das disfunções temporomandibulares estava muito

284 U4 - Análise oclusal


interessado em entender a complexidade das DTMs e de que maneira
poderia ajudar seus pacientes, minimizando suas dores.

Ele recebeu um paciente que, no exame clínico, apresentava


uma prematuridade cêntrica sobre os segundos molares direitos.
Conseguiu manipular o paciente para RC, mas observou que se
o paciente apertasse os dentes, a mandíbula se deslocava para
anterior. Quais são as possíveis consequências se as pressões de
apertamento forem aplicadas sobre uma prematuridade cêntrica?
O músculo temporal tem sua inserção no processo coronoide;
assim, avaliando todas as ações das forças musculares agindo
sobre a mandíbula (incluindo masseter, pterigoideo lateral e medial,
bucinador) e representando-as por um vetor de força simples, ele
será provavelmente posicionado na área entre o segundo pré-
molar e primeiro molar. Pesquisas odontológicas mostram que
as maiores forças de mordida podem ser efetuadas nessa mesma
área (FERNANDES NETO; NEVES; SIMAMOTO JUNIOR, 2013) e
a aplicação de força nessa área poderia resultar em um efeito de
fulcro ao redor da prematuridade cêntrica, tendendo a deslocar o
côndilo de sua fossa. Observe que, nesse caso, temos um distúrbio
oclusal causando um deslocamento condilar. Além disso, o contato
inclinado sobre o segundo molar inferior tenderia a deslocar o
segundo molar superior, quando o paciente fechasse a boca,
distalmente abrindo o contato proximal mesial, podendo ocasionar
impacção alimentar, cárie, sangramento gengival, bolsa periodontal,
desgaste prematuro dos dentes, fratura de cúspides e pulpite.

Avançando na prática
Caso clínico envolvendo dentística e oclusão

Descrição da situação-problema

Um segundo paciente se apresentou no serviço de disfunção com


queixa de dores na ATM (região temporal) e dificuldades de abrir a boca;
sente muito cansaço muscular, acorda com muita dor, a qual vai se
amenizando com o decorrer do dia. No exame clínico foi observada a
ausência do 16 e 36, com extrusão dos seus respectivos antagonistas e
migrações dentárias. O professor propôs aos alunos que se reunissem e,
baseados nos estudos apresentados, discutissem em seminário a solução
para o problema. As fotos do caso clínico estão apresentadas a seguir:

U4 - Análise oclusal 285


Figura 4.54 | Imagens do caso clínico

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Paciente P.T.O., 32 anos, sexo feminino, apresenta dores


articulares e limitação de movimentos mandibulares. Apresenta
ausências 16 e 26 e migrações dos antagonistas, causando
interferências de RC para MIH, e interferências excêntricas no lado
de balanceio.

Lembre-se
Para resolver esse problema, você deve rever os conteúdos apresentados
na seção Análise oclusal: dentística restauradora x oclusão funcional.

Sugestão de leitura:

FERNANDES NETO, A. J.; NEVES, F. D.; SIMAMOTO JUNIOR, P. C.


Odontologia essencial: parte clínica, oclusão. São Paulo: Artes Médicas,
2013 (Série ABENO).

OKESON, J. P. Tratamento das desordens temporomandibulares e


oclusão. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

Resolução da situação-problema

Diagnóstico: a alteração do plano oclusal, devido às ausências


dentárias 16 e 36, a migração do antagonista e a migração proximal
dos dentes ao lado da área edêntula geraram um distúrbio oclusal
devido aos contatos oclusais instáveis. Essa alteração oclusal
gerou interferências nos movimentos excêntricos no lado de
balanceio e desvio mandibular em direção anterior (de RC para
MIH); radiograficamente se observa um deslocamento condilar e
assimetria na ATM. A palpação muscular revela dores no masseter,
temporal e pterigoideo medial e lateral. A solução reside em fazer
a montagem dos modelos de estudo em articulador semiajustável,
análise oclusal e terapia com placa interoclusal miorrelaxante.
Cessada a sintomatologia e melhorado o grau de abertura bucal,

286 U4 - Análise oclusal


o que pode levar alguns meses, planejar e sugerir uma terapia
com reconstrução oclusal irreversível, através de ortodontia ou
reconstrução protética.

Faça você mesmo


Considere a situação-problema a seguir e tente responder à questão:

Nesta unidade, vimos que distúrbios oclusais podem gerar DTMs.


Sabemos que a maioria dos pacientes podem ter restaurações com
anatomia inadequada, por excesso oclusal ou por falta de material.
Como proceder clinicamente?

Para finalizar nossos estudos de oclusão e dentística, e entender


melhor o que acontece com esses pacientes, sugiro que você acesse
novamente todo material disponibilizado, assim como as webaulas,
fazendo a leitura dos conteúdos das seções. Bons estudos!

Faça valer a pena

1. O sistema estomatognático é bastante complexo e composto por estruturas


que se inter-relacionam: dentes, músculos, ossos, ligamentos e sistema
nervoso central.
A mandíbula se une ao crânio pelos ligamentos e músculos. Quando os
músculos elevadores (masseter, temporal e pterigoideo medial) se contraem, a
mandíbula se eleva, e tanto os dentes quanto as superfícies articulares da ATM
entram em contato. Considerando os critérios para uma oclusão funcional
ideal, assinale a alternativa correta:
a) Na posição postural, sem influência da condição oclusal, os côndilos são
estabilizados pelo tônus muscular dos músculos abaixadores da mandíbula e
feixe inferior dos pterigoideos laterais.
b) A estabilidade posicional da ATM independe da ação muscular, apenas os
ligamentos exercem forças de tração através da articulação e previnem o
deslocamento das superfícies articulares.
c) A posição mais anterossuperior é a posição articular mais estável, com o
disco articular perfeitamente interposto entre os côndilos e as fossas articulares.
d) Quando o fechamento da mandíbula na posição musculoesquelética estável,
com o côndilo na posição mais retrusiva possível, cria uma condição oclusal
instável, o sistema neuromuscular busca uma nova posição de fechamento.
e) Durante o fechamento mandibular os contatos devem ser uniformes
e distribuídos homogeneamente entre os dentes, enquanto os côndilos
permanecem posicionados o mais posterior possível.

U4 - Análise oclusal 287


2. A direção das forças aplicadas sobre os dentes é um fator de importância
relevante. A viscoelasticidade do ligamento periodontal, aliada a suas
características histológicas, confere uma resistência adequada à determinada
força incidida sobre os dentes, mas não dissipa adequadamente outros tipos
de forças. Algumas forças podem gerar efeitos deletérios ao osso, ou evocar
atividade neuromuscular reflexa numa tentativa de evitar contatos entre
vertentes. Com relação à direção das forças oclusais, assinale a alternativa
correta:
a) O periodonto confere uma resistência adequada às forças verticais incididas
sobre os dentes.
b) O periodonto confere uma resistência adequada às forças axiais incididas
sobre os dentes.
c) O periodonto não confere uma resistência adequada às forças laterais
incididas sobre os dentes.
d) O periodonto confere uma resistência adequada às forças paralelas ao longo
eixo dos dentes.
e) Todas as alternativas estão corretas.

3. A etiologia das disfunções temporomandibulares é multifatorial, e seu


entendimento é necessário para estabelecer um diagnóstico preciso e um plano
de tratamento adequado. Uma condição oclusal alterada por uma interferência
pode causar desordens temporomandibulares. Um contato prematuro em
fechamento pode causar desvio de linha média e afetar os componentes do
sistema mastigatório. Com relação aos fatores etiológicos das DTMs, assinale a
alternativa correta:
a) Doenças degenerativas.
b) Doenças traumáticas.
c) Desordens oclusais.
d) Desordens musculares.
e) Todas as alternativas anteriores estão corretas.

288 U4 - Análise oclusal


Seção 4.4
Protocolo de confecção de preparos cavitários
em dentística: Classe II, Classe II “tipo slot”,
de proteção do complexo dentino-pulpar e
restaurações em amálgama de prata
Diálogo aberto
Olá, aluno! Seja bem-vindo a mais uma seção de estudos deste livro
didático!

Dando sequência ao conteúdo, nesta seção estudaremos as


diferentes situações em que o cirurgião-dentista, frente a dentes com
lesões de cárie, precisa utilizar seus conhecimentos de diagnóstico
de condição pulpar e de biomateriais que podem ser utilizados para
proteção do complexo dentino-pulpar com o objetivo de manter e até
restabelecer a vitalidade pulpar.

Vamos relembrar nossa situação da realidade profissional: um


novo paciente triado no serviço de disfunção temporomandibular
apresentou uma queixa que deixou o aluno intrigado: quando ele fazia
um movimento de lateralidade direita, sentia que seu dente do lado
esquerdo se movimentava. Durante a anamnese, o aluno percebeu
que no dente 26 havia uma restauração MOD em amálgama extensa,
e no dente 36 uma restauração indireta tipo onlay, com recobrimento
de cúspide. O aluno pediu ao paciente para fazer um deslocamento
mandibular para a direita, e simultaneamente colocou seu dedo
indicador paralelo às superfícies vestibulares dos dentes do lado oposto,
verificando a mobilidade, principalmente no 26. Interpretou que seria
uma interferência oclusal no movimento mandibular excursivo de
balanceio, mas precisava avaliar melhor, articulando os modelos em
articulador e fazendo uma análise oclusal funcional. Enquanto o aluno
procurava solução para a queixa principal do paciente, durante o exame
clínico e físico, pôde observar os demais elementos dentais, o tecido
periodontal e outras estruturas de interesse para a saúde oral.

U4 - Análise oclusal 289


O paciente G.A.L., 23 anos, chegou à Clínica da Universidade
com relato de dor espontânea no dente 37. Durante o exame clínico,
verificou-se que o dente apresenta uma lesão de cárie extensa com
grande comprometimento da dentina, que se apresenta com aspecto
de textura amolecida, úmida e com coloração escurecida.

No dente 25, observou-se a oclusal pigmentada e um halo


acinzentado na face distal, sem cavitação aparente ao exame clínico da
face proximal. Foram realizadas duas radiografias periapicais para avaliar
os dois dentes. O dente 35 apresentava uma lesão cariosa da face distal,
que se estendia além do limite amelo-dentinário (LAD) em direção à
câmara pulpar, e na face oclusal apresentava desmineralização abaixo
do limite amelo-dentinário (LAD). O dente 37 exibia uma lesão de cárie
bastante extensa na face oclusal, muito próxima à câmara pulpar. Não
era possível detectar alteração nos tecidos periapicais dos dentes em
questão. O acadêmico observou, que em termos de higiene, o paciente
demonstrava grande dificuldade na remoção da placa bacteriana nas
faces oclusais dos dentes posteriores, inclusive com alguns dentes já
restaurados,. Ao realizar o exame da condição pulpar, foi observado que
no dente 37 a polpa estava em estágio inflamatório, potencialmente
reversível, e que a vitalidade do 25 estava preservada. Após a realização
do preparo cavitário do dente 37, que envolveu grande perda de
dentina nas paredes circundantes, detectou-se a presença de cárie em
ponto no centro da parede pulpar. Como o acadêmico deve realizar
a remoção de cárie nessas situações? Após iniciar a remoção da cárie
em ponto, ele observa que a cavidade se tornou bastante profunda,
com risco de exposição do tecido pulpar. Qual a melhor forma de
recuperar, ou manter, a vitalidade desses elementos? Será conveniente
remover todo o tecido cariado?

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de indicar corretamente


os cimentos odontológicos em diferentes situações clínicas, através do
conhecimento da composição, propriedades, técnicas de manipulação
e inserção; identificar o protocolo de proteção do complexo dentino-
pulpar em outras simulações de lesões de cárie, por meio de atividades
pré-clínicas, utilizando hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), cimentos de
ionômero de vidro (CIV), de óxido de zinco com eugenol (OZE) e sem
eugenol, agregado de trióxido mineral (MTA), realizar restaurações em
amálgama de prata Classe II e Classe II tipo slot e realizar o acabamento
e polimento das restaurações.

290 U4 - Análise oclusal


Lembre-se sempre de que a composição, propriedades e técnica
de manipulação dos biomateriais odontológicos são informações
relevantes para a correta indicação e utilização desses materiais na
proteção do complexo dentino-pulpar.

Não pode faltar

Os biomateriais odontológicos podem ser indicados como


forradores ou como base para restaurações. Os forradores são
materiais que proporcionarão proteção química e que devem
ser aplicados em camadas, em torno de 0,5 mm. Já as bases são
indicadas para proporcionar proteção química, térmica e elétrica, ou
para substituir a dentina. São aplicadas em camadas maiores do que
0,75 mm. Alguns desses materiais são indicados como cimento, ou
seja, material viscoso inserido entre duas superfícies com objetivo
de mantê-las unidas, conectadas.

A atualização sobre o desenvolvimento de novos protocolos e


novos materiais para proteção do complexo dentino-pulpar é muito
importante para seu desenvolvimento profissional e para manter
dentes com vitalidade ou para a recuperação biológica da polpa.

Reflita
Todos os procedimentos de proteção dentino-pulpar que visam a
preservar a integridade ou recuperar a saúde da polpa são considerados
tratamentos conservadores da vitalidade pulpar.

Os protocolos já estudados em cavidades profundas e muito


profundas devem ser assimilados e aplicados em novas situações
clínicas. Agora, vamos aprender a agir nos casos em que a lesão de
cárie aguda está tão avançada e tão próxima do tecido pulpar que
sua remoção completa fatalmente causaria a exposição do tecido
pulpar. Associados a essas características, outros aspectos devem
ser considerados: condição pulpar (vitalidade pulpar preservada
ou polpa em estágio reversível de comprometimento); volume da
polpa (polpa volumosa indica a presença de um grande contingente
de células de reposição que favoreçam a recuperação da polpa); e
idade do paciente. Essas informações podem predizer a capacidade
de resposta do tecido pulpar frente ao tratamento conservador.

U4 - Análise oclusal 291


Terapia pulpar indireta (TPI), tratamento expectante ou
capeamento pulpar indireto

Indicações: essa técnica é especialmente indicada para


pacientes jovens, com dente acometido por lesão de cárie aguda,
de rápida progressão, com polpa volumosa, fatores positivos para a
recuperação da polpa.

Técnica: comumente é executada em duas sessões. Inicialmente,


a terapia é aplicada e, após o período de espera, seu resultado pode
ser observado por meio de imagens radiográficas e em análise clínica
da dentina remanescente e da formação da barreira de dentina.

Terapia pulpar indireta – primeira sessão

Profilaxia: realizar a profilaxia do campo operatório, do dente a


ser tratado e dos dentes adjacentes, a fim de reduzir a possibilidade
de contaminação.

Avaliação da condição pulpar: realizar a avaliação da condição


pulpar, baseada em uma anamnese completa, exame clínico,
executando os testes objetivos de sensibilidade pulpar, e exame
radiográfico.

Isolamento absoluto do campo operatório: realizar o isolamento


do campo operatório, dando preferência ao isolamento absoluto.
Caso este não possa ser realizado, utilizar o isolamento relativo, com
o cuidado de reduzir ao máximo a possibilidade de contaminação
adicional do campo.

Acesso à lesão: caso a lesão de cárie esteja recoberta por esmalte,


realizar o acesso à lesão com alta-rotação e pontas diamantadas.

Assimile
Para a correta aplicação dessa técnica, é importante reconhecer a dentina
afetada (cariada profunda) e a dentina cariada superficial, infectada, que
é insensível.

Remoção da dentina cariada infectada: para facilitar o diagnóstico


e reconhecimento da dentina infectada e afetada, o acesso à lesão e
a remoção da dentina infectada devem ser realizados sem anestesia.

292 U4 - Análise oclusal


Para quem estiver iniciando nas atividades clínicas, será muito
importante saber o momento em que deve parar com a remoção
da dentina infectada. Assim, durante a remoção da dentina cariada
infectada com curetas e com brocas carbide em baixa rotação,
quando o paciente referir sensibilidade, deve-se parar a remoção,
pois estaremos frente à dentina mais profunda, afetada, passível de
remineralização e que, portanto, deve ser preservada para evitar a
exposição do tecido pulpar.

Limpeza da cavidade com solução de hidróxido de cálcio:


nesse momento, vamos realizar a limpeza da cavidade de forma que
possamos diminuir a contaminação desse tecido e reduzir a acidez
em virtude dos produtos da degradação bacteriana da dentina.
Nessa etapa começa a proteção do complexo dentino-pulpar, ou o
tratamento conservador da polpa.

Assim, para o preparo da Solução de hidróxido de cálcio utilize:


de 10 a 20 g de hidróxido de cálcio pró-análise em 200 ml de água
destilada ou soro fisiológico. Após realizar a mistura, deixar em um
recipiente com tampa. O hidróxido de cálcio ficará depositado no
fundo do frasco (você poderá utilizá-lo para aplicar na cavidade, como
pasta para a proteção pulpar), e a solução na parte superior (solução
alcalina na concentração de 0,2%) você utilizará com pequenas
bolinhas de algodão para a limpeza de cavidades. Além da limpeza
que proporciona, sua alcalinidade neutraliza a acidez da cavidade,
atua como agente bacteriostático, estimula a calcificação dentinária,
é hemostático nos casos de exposições pulpares, possui ação
antibacteriana e não produz reações antagônicas com a aplicação
dos biomateriais indicados nas terapias pulpares.

Secagem da cavidade: a secagem da cavidade, na etapa de


proteção do complexo dentino-pulpar, deve ser realizada com
bolinhas de algodão estéreis ou papel absorvente estéril, com suave
pressão nas paredes do preparo cavitário. Não utilize jatos de ar sobre
a área da dentina profunda, muito profunda ou sobre exposições
pulpares.

Escolha do agente terapêutico: na situação clínica proposta,


podemos indicar o hidróxido de cálcio, que apresentou resultados
positivos em diversos estudos clínicos, inclusive com avaliação

U4 - Análise oclusal 293


histológica demonstrando a formação de barreira mineralizada (ponte
de dentina, ou dentina terciária), ou o agregado de trióxido mineral
(MTA), que vem apresentando resultados promissores na formação
de barreira mineralizada, porém com efeito antibacteriano limitado.
Por isso, o material de escolha será o hidróxido de cálcio.

Como você já estudou, o hidróxido de cálcio está disponível em


algumas apresentações como pó e como cimento quimicamente
ativado ou fotoativado. Vamos aprender a fazer a aplicação do
hidróxido de cálcio PA formando uma pasta com água destilada
ou soro fisiológico, o que vai permitir maior difusão dos íons cálcio
através da dentina amolecida. Alguns profissionais aplicam, sobre essa
pasta, uma fina camada de cimento de hidróxido de cálcio, química
ou fisicamente ativado, apenas para manter a pasta em posição.

Figura 4. 55 | Aplicação de pasta de hidróxido de cálcio em ponto, em cavidade


bastante profunda

Fonte: <http://www.ortoblog.com/wp-content/uploads/2016/07/CD1.jpg>. Acesso em: 21 out. 2016.

Figura 4.56 | Aplicação de uma fina camada de cimento de hidróxido de cálcio na


parede pulpar no ponto de maior profundidade

Fonte: Wang (2014, p. 63).

294 U4 - Análise oclusal


Restauração temporária: em seguida, realiza-se a restauração
temporária, que deve permanecer por um período de 60 a 90 dias.

O material de eleição para a restauração temporária é o cimento de


ionômero de vidro, por suas características químicas e mecânicas, além
de vedar as margens da cavidade, liberar flúor e por sua adesividade. O
óxido de zinco eugenol modificado (IRM) também pode ser utilizado
como material restaurador temporário, desde que a restauração
definitiva seja realizada com amálgama de prata, pois esse material
interfere na correta polimerização de materiais resinosos.

Por que utilizamos o hidróxido de cálcio? Com seu poder


bactericida e bacteriostático, o hidróxido de cálcio vai promover a
descontaminação da cavidade. Ao entrar em contato com a polpa, ele
encontrará um tecido inflamatório, rico em neutrófilos, como células de
resposta imunológica, que liberam citocinas e processam a fagocitose.
Então, três tipos de reação de defesa podem acontecer: reparo, com
ou sem a formação de ponte dentinária; fibrose; ou necrose do tecido
pulpar. Quando em contato com o tecido pulpar, o hidróxido de cálcio
libera íons na forma de carbonato de cálcio, que atuam como núcleos
de calcificação. Inicialmente acontece uma necrose por coagulação
superficial, por seu elevado pH, que também favorece a homeostasia e
dá início à formação de barreira mineralizada. Uma vantagem de utilizar
o hidróxido de cálcio é que ele favorece a aderência e a conexão de
células recrutadas para a área do complexo de fibras colágenas recém-
formadas, que se tornam a estrutura para a reorganização tecidual.
Além disso, permite a atração de fatores de crescimento (TGF-B),
fibronectina e tenascina, que ajustam a diferenciação das células
odontoblastoides e a consequente formação da ponte de dentina.

Se todo esse processo obtiver êxito, será possível observar a


formação da ponte de dentina. Para isso, aguarda-se de 60 a 90 dias a
fim de obter uma resposta tecidual mais completa.

Vocabulário
Homeostasia: habilidade de manter o meio interno em um equilíbrio
quase constante, independentemente das alterações que ocorram no
ambiente externo.

U4 - Análise oclusal 295


Terapia pulpar indireta – segunda sessão

Após o período de 60 a 90 dias, realizar nova avaliação da


condição pulpar, complementado com exame radiográfico. Se
a avaliação pulpar indicar que houve a recuperação da polpa e a
radiografia apresentar a formação de barreira mineralizada, devemos
dar sequência à terapia.

Isolamento absoluto do campo operatório: instalar o isolamento


absoluto do campo operatório, remover toda a restauração
temporária e do material de proteção pulpar. Avaliar a textura e
resistência da dentina que estava afetada, remover com cuidado a
dentina amolecida, seguindo a técnica já estudada, permanecendo
no assoalho da cavidade a dentina mais resistente.

Proteção do complexo dentino-pulpar: não podemos esquecer


que estaremos frente a uma cavidade muito profunda e devemos
executar o protocolo de proteção mais indicado, levando em
consideração, nesse momento, o material restaurador que será
utilizado.

Verificação e ajuste da oclusão: remover o isolamento absoluto


e verificar a oclusão e a necessidade de realizar ajustes.

Exemplificando
Se, durante o preparo cavitário desse dente, a polpa fosse exposta
acidentalmente, seria indicada a proteção pulpar direta ou capeamento
pulpar direto, aplicando-se um material terapêutico ativo (hidróxido de
cálcio, MTA) em contato direto com a polpa. O mesmo se aplica para
dentes fraturados. Todos os pré-requisitos descritos para a terapia pulpar
indireta ou o tratamento expectante, relatados acima, se aplicam para as
exposições pulpares. Nesse caso é importante verificar a condição em
que a polpa foi exposta. Se exposta no momento em que se removia
dentina sadia, aplica-se o capeamento pulpar. Se exposta durante a
remoção de dentina cariada, devemos concluir a remoção da dentina
cariada e depois realizar o capeamento. O hidróxido de cálcio é o material
mais utilizado para esse fim. Ele deve ser depositado diretamente sobre
o tecido pulpar exposto (comumente aplicado na apresentação em pó),
recoberto pelo cimento de hidróxido de cálcio e seguido de material
restaurador provisório. Aguardar por 90 dias para executar o exame
clínico, radiográfico e avaliar a condição pulpar. Se a polpa responder

296 U4 - Análise oclusal


como uma polpa sadia, todo o material é removido, inspeciona-se a área
da exposição delicadamente e, se a dentina apresentar uma resistência
adequada, confirmando a formação da barreira de dentina, realizamos a
proteção pulpar e a restauração definitiva.

Pesquise mais
Cimentos de ionômero de vidro modificados por resina. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103

-06631997000200002>. Acesso em: 21 out. 2016.

Sem medo de errar


Vamos relembrar nossa situação clínica: o paciente G.A.L.,
23 anos, chega à Clínica da Universidade com relato de dor
espontânea no dente 37. Durante o exame clínico, verifica-se
que o dente apresenta uma lesão de cárie extensa com grande
comprometimento da dentina, que se apresenta com aspecto de
textura amolecida, úmida e com coloração escurecida. No dente 25,
observou-se a oclusal pigmentada e um halo acinzentado na face
distal, sem cavitação aparente ao exame clínico da face proximal.
Inicialmente, vamos nos preocupar com o tratamento do dente 37,
que se torna prioridade por apresentar lesão extensa e presença de
dor. Na radiografia, o dente 37 exibia uma lesão de cárie bastante
extensa na face oclusal, muito próxima à câmara pulpar, e não era
possível detectar alteração nos tecidos periapicais. Em termos de
higiene, o paciente demonstrava grande dificuldade para a remoção
da placa bacteriana nas faces oclusais dos dentes posteriores,
inclusive com alguns dentes já restaurados. Ao realizar o exame da
condição pulpar, observou-se que no dente 37 a polpa estava em
estágio inflamatório, potencialmente reversível. Após a realização
do preparo cavitário do dente 37, que envolveu grande perda de
dentina nas paredes circundantes, detectou-se a presença de cárie
em ponto no centro da parede pulpar. Como deve ser realizada a
remoção de cárie nessa situação? Após iniciar a remoção da cárie
em ponto, observa-se que a cavidade se tornou bastante profunda,
com risco de exposição do tecido pulpar. Qual a melhor forma
recuperar a vitalidade desse dente? Será conveniente remover todo
o tecido cariado?

U4 - Análise oclusal 297


Em uma situação como a descrita em nosso caso clínico,
temos dois dentes em situações diferentes com relação à extensão
do dano causado pela lesão de cárie. Vale ressaltar que no dente 37,
clinicamente, verificou-se uma lesão extensa de cárie em dentina,
com características de cárie aguda por ter aspecto de textura
amolecida, úmida e com coloração escurecida, com presença
de dor e com estreita relação com o tecido pulpar, ou seja, na
iminência de exposição pulpar. Ao realizar o exame da condição
pulpar, observou-se que a polpa do dente 37 estava em estágio
inflamatório, potencialmente reversível. Perguntamos: como deve
ser realizada a remoção de cárie nessa situação? Quando a cárie
está exposta temos acesso direto à lesão, então devemos seguir
o protocolo já descrito. Qual a melhor forma de recuperar a
vitalidade desse elemento? A melhor forma de recuperar a polpa
do estágio inflamatório é a remoção do agente agressor, com a
descontaminação da cavidade e a aplicação de um material que
impeça a atividade bacteriana e a infiltração bacteriana. Será
conveniente remover todo o tecido cariado? Nesse caso, não é
conveniente a remoção total do tecido cariado, e sim do tecido
infectado, desmineralizado, permitindo que a dentina afetada, mais
profunda, seja preservada, o que evitará a exposição do tecido
pulpar, utilizando materiais que permitam a recuperação da saúde
pulpar.

Nesse caso, podemos indicar a terapia pulpar indireta (TPI),


ou tratamento expectante, ou capeamento pulpar indireto, que é
indicada para aguardar que a polpa possa responder ao tratamento
com reversão do quadro de estágio inflamatório e restabelecimento
da saúde pulpar.

Vamos aplicar a terapia pulpar indireta (TPI), tratamento


expectante, ou capeamento pulpar indireto?

Protocolo de proteção pulpar: a terapia pulpar indireta (TPI) é


indicada pois o paciente é jovem, com lesão de cárie aguda, de
rápida progressão, com polpa em grande volume e, provavelmente,
um grande contingente de células de reposição que favoreçam a
recuperação da polpa.

298 U4 - Análise oclusal


Técnica

Terapia pulpar indireta – primeira sessão

Realizar a profilaxia do dente a ser tratado e dos dentes


adjacentes. No nosso caso, iremos realizar a profilaxia dos dentes
36, 37 e 38, no mínimo. Instalar o isolamento absoluto do campo
operatório com a adaptação do grampo no dente 38, que é o dente
localizado mais à distal.

Para facilitar o diagnóstico e o reconhecimento da dentina


infectada, vamos realizar o acesso à lesão com pontas diamantadas,
em alta velocidade, sob refrigeração abundante, em seguida a
remoção da dentina infectada. Nesse caso, com a lesão já exposta,
a remoção da cárie deve ser realizada inicialmente com curetas
pelas paredes circundantes, removendo a dentina amolecida,
infectada, que não refere sensibilidade dolorosa. Seguir com brocas
de aço esféricas, em baixa rotação, do maior tamanho que couber
na cavidade, refrigeração com água da cavidade para reduzir a
produção de calor, complementar com a utilização, novamente,
das curetas; quando o paciente relatar sensibilidade, parar e avaliar
a textura e resistência da dentina. Com esses cuidados será possível
remover a dentina sem levar à exposição pulpar. Ao final, devemos
observar a presença de dentina afetada, amolecida, sensível, próxima
à polpa.

Realizar a limpeza da cavidade com solução de hidróxido de


cálcio, utilizando bolinhas de algodão estéreis.

A secagem da cavidade deve ser realizada com bolinhas de


algodão estéreis ou papel absorvente estéril com suave pressão nas
paredes do preparo cavitário. Não utilize jatos de ar sobre a área da
dentina profunda, muito profunda ou sobre exposições pulpares.

Nesse momento, vamos escolher o agente terapêutico. Na


situação clínica proposta, podemos indicar o hidróxido de cálcio
por suas propriedades biológicas e pelo comprovado desempenho
em pesquisas clínicas. Lembre-se de que podemos aplicá-lo na
forma de pasta de hidróxido de cálcio pró-análise (PA) com água
destilada e, em seguida, recobrir essa pasta com o cimento de
hidróxido de cálcio, que a manterá sobre a dentina afetada. Dessa

U4 - Análise oclusal 299


forma, a difusão do material pela dentina afetada, muito próxima da
polpa e com alta permeabilidade, será maior. Outra opção possível
é aplicar somente o cimento de hidróxido de cálcio sobre a dentina
afetada.

Em seguida, realiza-se a restauração temporária, que deve


permanecer por um período de 60 a 90 dias. O material de eleição
para a restauração temporária, nesse caso, será o cimento de
ionômero de vidro, por suas características químicas e mecânicas,
além de vedar as margens da cavidade, liberar flúor e por sua
adesividade.

Terapia pulpar indireta – segunda sessão


Após esse período, realizar nova avaliação da condição pulpar
complementada com exame radiográfico. Se a avaliação pulpar
indicar recuperação da polpa e a radiografia apresentar a formação
de barreira mineralizada, devemos instalar o isolamento absoluto
do campo operatório e remover toda a restauração temporária
e do material de proteção pulpar. Avaliar a textura e a resistência
da dentina afetada, remover com cuidado a dentina amolecida,
seguindo a técnica já estudada, permanecendo no assoalho da
cavidade a dentina mais resistente.

Nesse caso clínico, um paciente jovem com dente que já


apresentou lesão de cárie aguda e recebeu tratamento expectante
com resposta positiva, vamos realizar a proteção pulpar para
cavidade bastante profunda. É possível fazê-lo aplicando o cimento
de hidróxido de cálcio em uma fina camada somente na região
de maior profundidade, seguido do cimento de ionômero de vidro
modificado por resina, como mais uma alternativa de protocolo de
proteção pulpar.

Cimentos de ionômero de vidro modificados por resina


São CIVs em que monômeros metacrilatos solúveis em água são
utilizados para substituir parte do líquido do CIV convencional. Podem
ser polimerizados quimicamente, fotoativados ou ambos, mas a
reação ácido-base característica do CIV ocorre concomitantemente.
Os valores de resistência de união são maiores para esses materiais,
porém apresentam contração durante a polimerização e, quando

300 U4 - Análise oclusal


comparados aos CIVs convencionais, apresentam maior chance de
microinfiltração.

Manipulação: os CIVs modificados por resina podem ser


apresentados na forma de pó e líquido, cápsulas que são trituradas
e sistema de pasta-pasta com a mistura através de uma seringa que
dispensa a pasta base e catalisadora, ao mesmo tempo em que a
mistura é realizada por meio da ponta misturadora com espiras, que
reduz o tempo e a quantidade de porosidades na mistura.

Inserção: é necessário o condicionamento da cavidade com


uma solução ácida fraca para o bom desempenho desse material.
Se a mistura for manual, o ideal é inserir o material na cavidade com
a seringa Centrix®; os demais sistemas já acompanham a ponta
para inserção.

Após a aplicação do CIV, como base, restabelecendo a dentina


perdida, passamos à restauração da cavidade.

Restauração em amálgama de prata

Devemos seguir os passos já estudados para a realização da


restauração.

Seleção da liga: considerar fatores como o tempo de presa,


tamanho e formato das partículas. Sempre que possível, optar
pelas ligas com alto conteúdo de cobre, apresentadas na forma de
cápsulas pré-dosadas, o que garante uma menor e mais adequada
proporção de mercúrio/liga. Para essa restauração, selecionamos
uma liga de alto teor de cobre com partículas esféricas.

Trituração: vamos realizá-la em um amalgamador mecânico,


seguindo as recomendações de velocidade/tempo indicadas pelo
fabricante da liga para obter um amálgama bem triturado, que
deve apresentar uma massa homogênea de liga e mercúrio. Após a
trituração, o amálgama é colocado em pote Dappen.

Matriz e cunha: nessa simulação, em que houve a perda da


continuidade das paredes circundantes, vamos instalar a matriz com
auxílio do porta matriz, e para mantê-la na posição vamos utilizar as
cunhas.

U4 - Análise oclusal 301


Inserção e condensação: em nossa situação clínica, de uma
cavidade Classe II MOD, complexa, devemos iniciar pelas caixas
proximais; com o auxílio do porta amálgama, apreender uma
pequena quantidade de amálgama e depositá-la junto à parede
cervical.

Condensação: será realizada com condensador de Ward (ou o


que o cirurgião-dentista tiver à disposição e se adaptar), do maior
tamanho que possa alcançar o fundo da cavidade proximal, sem
interferência nas suas paredes ou na matriz. Condensar contra os
ângulos do preparo cavitário e contra as paredes circundantes. A
pressão durante a condensação está relacionada ao tipo de liga
selecionada. Nas ligas do tipo limalha ou de fase dispersa, deve
ser vigorosa, contra os ângulos da cavidade para boa adaptação e
ausência de porosidades e, se houver excesso de mercúrio, este irá
aflorar na superfície da massa e deverá ser removido com auxílio
do próprio condensador. Para a liga esférica será necessária menor
pressão para sua acomodação na cavidade. Quando o amálgama
chegar até a parede pulpar, a cavidade proximal oposta passa a ser
preenchida da mesma forma, até chegar à altura da parede pulpar.
Nesse momento a cavidade complexa transforma-se em uma
cavidade simples. Como se fosse uma cavidade oclusal, pequenas
quantidades de amálgama inserido devem ser condensadas contra
os ângulos diedros, evitando a formação de porosidades e falhas
na adaptação. Os condensadores de Ward maiores serão utilizados
completando a cavidade, em movimentos contra as margens do
preparo, até que haja um excesso de 1 mm acima do cavo-superficial.

Brunidura: deve ser realizada com brunidor n.º 29 ou n.º 33 de


Bennett em direção às margens do preparo, ou com o condensador
n.º 6 de Hollemback. É realizada em movimentos de vai e vem, com
pressão para que o mercúrio aflore, fique na porção superficial
da massa e seja removido durante a escultura. Tem como função
melhorar a adaptação do material às margens da cavidade, mantendo
o excesso para a escultura. Dá lisura superficial, reduz o conteúdo
de mercúrio na superfície, melhora a integridade marginal, diminui a
corrosão do amálgama, confere maior resistência à fratura, e facilita
o polimento.

302 U4 - Análise oclusal


Escultura: nesse passo, os instrumentos utilizados serão os de
preferência do cirurgião-dentista. A escultura será iniciada pela
face oclusal, com o explorador n.º 5 esboçando o sulco central e
sulcos secundários. Em seguida, inicia-se a escultura das vertentes
triturantes das cúspides e conformação das fóssulas e sulco central,
que pode ser realizada com o esculpidor de Hollemback n.º 3 e 3S,
de Frahm, discoide e cleoide, sempre apoiados no remanescente
dentário para evitar a formação de fenda entre material restaurador
e margens do preparo. Devolver a forma e a função do dente.

Para iniciar a escultura, o material deve oferecer resistência à


ação do esculpidor e o tempo para a cristalização varia de acordo
com a liga, você deve consultar a bula do material.

Brunidura pós-escultura ou alisamento: utilizar os brunidores


com leve pressão sobre o material restaurador, para aumentar a
adaptação marginal, aumentar a lisura e diminuir as porosidades da
superfície do amálgama.

Remoção do isolamento absoluto e verificação da oclusão: em


atividade clínica, nesse momento o cirurgião-dentista deve verificar
os contatos oclusais utilizando um carbono interoclusal e fazer as
adequações necessárias na escultura. É de suma importância que
esse ajuste seja bem realizado, pois um contato prematuro pode
comprometer todo o sucesso da terapia conservadora que foi realizada.

Pesquise mais
Leia este capítulo de livro para ajudar na compreensão do tema:

CORTES, D. F. et al. Remoção parcial da dentina cariada: odontologia


atual baseada em evidências. In: PEREIRA, J. C.; ANAUATE-NETTO, C.;
GONÇALVES, S. A. (Orgs.) Dentística: uma abordagem multidisciplinar.
São Paulo: Artes Médicas, 2014. p. 115.

Avançando na prática
Cavidade classe II OD

Descrição da situação-problema

O paciente G.A.L., 23 anos, chegou à Clínica da Universidade e já


recebeu o tratamento conservador da vitalidade pulpar no dente 37.

U4 - Análise oclusal 303


Vamos agora realizar o tratamento do dente 25. Neste dente, observou-se
a oclusal pigmentada e um halo acinzentado na face distal, sem cavitação
aparente da face proximal, ao exame clínico. Na radiografia, o dente 25
apresentava uma lesão cariosa da face distal, que se estendia além do
limite amelo-dentinário (LAD) em direção à câmara pulpar; a face oclusal
apresentava desmineralização abaixo do LAD, não era possível detectar
alteração nos tecidos periapicais. Em termos de higiene, o paciente
demonstrava grande dificuldade na remoção da placa bacteriana das
faces oclusais dos dentes posteriores, inclusive com alguns dentes já
restaurados. Ao realizar o exame da condição pulpar, observou-se que
a vitalidade do dente 25 estava preservada. Como deve ser realizada a
remoção de cárie nessa situação? Será conveniente remover todo o
tecido cariado? Após iniciar a remoção da cárie em ponto, observa-se
que a cavidade se tornou profunda na parede de fundo axial, mantendo
uma camada de dentina separando a polpa do meio externo. Qual a
melhor forma de manter a vitalidade desse elemento?

Resolução da situação-problema

Realizar profilaxia do dente a ser preparado e dos dentes contíguos


24, 25 e 26, no mínimo. O preparo cavitário deve ser iniciado pela face
oclusal, uma vez que é possível verificar na radiografia que existe lesão
abaixo do LAD, já que não há evidência de cavitação pela face distal,
onde a perda dentinária vista na radiografia é maior. À medida que o
preparo cavitário é estendido para a distal, muito provavelmente será
observada a lesão de cárie, caracterizando uma cavidade de Classe II
OD. Perguntamos: como deve ser realizada a remoção de cárie nessa
situação? Será conveniente remover todo o tecido cariado? Após o
acesso à lesão e a forma de contorno, deve ser realizada a instalação
do isolamento absoluto do campo operatório, com a colocação do
grampo no dente mais distal do campo (dente 26), em seguida devemos
realizar a remoção da dentina cariada na parede axial. A remoção de
cárie deve ser realizada de acordo com as seguintes orientações: iniciar
com curetas de tamanho compatível com a lesão (sempre a maior que
couber na cavidade), em movimentos da periferia para o centro da lesão,
removendo a dentina desorganizada; seguir utilizando broca carbide
de tamanho compatível com a lesão (sempre escolhendo a maior que
couber na cavidade), em baixa rotação, com movimentos intermitentes
e sob refrigeração; reutilizar as curetas e, caso ainda encontre dentina
pouco resistente, repetir a operação, pois na radiografia é possível

304 U4 - Análise oclusal


verificar uma camada de dentina íntegra separando a polpa do meio
externo, ou seja, nesse caso vamos remover toda a dentina cariada.

Considerando que, após a remoção da dentina cariada, o cirurgião-


dentista pode encontrar uma cavidade profunda na parede axial, que
ficou socavada pela cárie, nosso próximo desafio será realizar a proteção
do complexo dentino-pulpar para manter a vitalidade desse dente.

Qual a melhor forma de manter a vitalidade desse elemento?

Para esse desafio, iniciamos a proteção pulpar no momento em que


realizamos a limpeza da cavidade de forma correta.

Limpeza da cavidade: para obtermos o melhor desempenho dos


biomateriais destinados à proteção do complexo dentino-pulpar em
cavidades profundas, bastante profundas ou na iminência de exposição
do tecido pulpar, é importante realizar a limpeza da cavidade, na qual
podemos utilizar uma solução de hidróxido de cálcio com o auxílio de
bolinhas de algodão.

Secagem da cavidade: realiza-se a secagem da cavidade com a


utilização de pedaços de papel absorvente estéril ou com pequenas
bolinhas de algodão estéril.

Protocolos de proteção pulpar: de acordo com o que já estudamos


anteriormente, existem algumas possibilidades para proteção pulpar em
uma situação clínica semelhante à proposta.

Frente a uma cavidade profunda, com perda dentinária na parede


de fundo axial, onde existe uma camada de dentina remanescente
separando o tecido pulpar do meio externo, em um dente com vitalidade
pulpar preservada e que receberá o amálgama de prata como material
restaurador, devemos escolher um material que seja capaz de proteger
a polpa de estímulos advindos do material restaurador, servindo como
base, que devolva a resistência à dentina e, se possível, que apresente
características semelhantes a esta. O material que pode ser utilizado
com essas funções é o cimento de ionômero de vidro, que possui
como propriedades principais a adesividade relativa ao remanescente,
liberação de flúor, CETL semelhante ao da dentina, resiliência, resistência
mecânica e menor potencial de irritação do complexo dentino-pulpar.
Nesse caso, ele irá repor a estrutura dentinária perdida, pois o cimento de

U4 - Análise oclusal 305


ionômero de vidro é o material que possui as características mecânicas
mais semelhantes às da dentina: como apresenta CETL próximo
ao da dentina, esse material se comporta contraindo e expandindo
praticamente igual a esta, dificultando a formação de fendas interfaciais
que poderiam facilitar o trânsito bacteriano nas paredes laterais entre o
dente e o cimento de ionômero de vidro.

Manipulação: a proporção pó/líquido recomendada pelo fabricante


deve ser seguida, e deve ser dispensada no momento em que for
realizada a manipulação em placa de vidro ou em bloco de espatulação
não absorvente, que muitas vezes pode ser fornecido pelo fabricante
do material. A colher dosadora de pó deve ser aquela fornecida pelo
fabricante. Agitar o frasco que contém o pó, coletar o pó do frasco,
sem excesso. O líquido deve ser dispensado com o frasco na posição
vertical para evitar a incorporação de bolhas de ar, alterando a correta
proporção e afetando as propriedades do material. O pó deve ser
incorporado gradativamente, por aglutinação do pó ao líquido, para que
o ácido poliacrílico atue sobre as partículas do pó, com o auxílio de uma
espátula plástica (preferencialmente), para evitar que as partículas de
vidro do material arranhem a espátula metálica, alterando a composição
do material. Utilize uma pequena extensão do bloco para usar toda a
quantidade do líquido, sem prejuízos. Ele estará adequado para inserir na
cavidade quando o material apresentar brilho superficial e se desprender,
formando um fio ao afastar a espátula com o material do bloco. O
instrumento mais indicado para a inserção homogênea sem bolhas
é a seringa Centrix®, com a ponta agulhada (cavidades com acesso
limitado) ou com a ponta mediana, que comporta maior quantidade de
material. Recolher o material, carregar a ponta, fechar a ponta com o
êmbolo indicado. Aguardar a presa inicial em torno de oito minutos, de
acordo com o cimento, com o cuidado de que o material fique contido
na cavidade em ponto, regularizando a parede pulpar.

A partir desse ponto, o dente pode ser restaurado diretamente com


o amálgama de prata, selecionando uma liga de fase dispersa ou de
partículas esféricas de alto teor de cobre. Caso o cirurgião-dentista tenha
à sua disposição apenas ligas em forma de limalha, fica a preocupação
de que as margens da restauração se tornem manchadas pelos produtos
da corrosão desse material. Assim, um outro cuidado pode ser tomado
nessa fase de proteção pulpar: obter o selamento das margens cavitárias
com a aplicação de um sistema adesivo. Você sabe que existem duas

306 U4 - Análise oclusal


estratégias para realizar a adesão às estruturas dentárias, portanto existem
diferentes tipos de sistemas adesivos. Uma das estratégias, utilizada
nos sistemas adesivos convencionais, é a remoção de uma camada
de resíduos decorrentes do preparo cavitário, que fica depositada na
superfície da dentina, chamada de smear layer (ou lama dentinária).
A segunda estratégia utiliza monômeros com absoluto do campo
operatório, com a colocação do grampo no dente mais distal do campo
(dente 26), em seguida devemos realizar a remoção da dentina cariada
na parede axial. A remoção de cárie deve ser realizada de acordo com
as seguintes orientações: iniciar com curetas de tamanho compatível
com a lesão (sempre a maior que couber na cavidade), em movimentos
da periferia para o centro da lesão, removendo a dentina desorganizada;
seguir utilizando broca carbide de tamanho compatível com a lesão
(sempre escolhendo a maior que couber na cavidade), em baixa rotação,
com movimentos intermitentes e sob refrigeração; reutilizar as curetas
e, caso ainda encontre dentina pouco resistente, repetir a operação,
pois na radiografia é possível verificar uma camada de dentina íntegra
separando a polpa do meio externo, ou seja, nesse caso vamos remover
toda a dentina cariada.

Considerando que, após a remoção da dentina cariada, o cirurgião-


dentista pode encontrar uma cavidade profunda na parede axial, que
ficou socavada pela cárie, nosso próximo desafio será realizar a proteção
do complexo dentino-pulpar para manter a vitalidade desse dente.

Qual a melhor forma de manter a vitalidade desse elemento?

Para esse desafio, iniciamos a proteção pulpar no momento em que


realizamos a limpeza da cavidade de forma correta.

Limpeza da cavidade: para obtermos o melhor desempenho dos


biomateriais destinados à proteção do complexo dentino-pulpar em
cavidades profundas, bastante profundas ou na iminência de exposição
do tecido pulpar, é importante realizar a limpeza da cavidade, na qual
podemos utilizar uma solução de hidróxido de cálcio com o auxílio de
bolinhas de algodão.

Secagem da cavidade: realiza-se a secagem da cavidade com a


utilização de pedaços de papel absorvente estéril ou com pequenas
bolinhas de algodão estéril.

U4 - Análise oclusal 307


Protocolos de proteção pulpar: de acordo com o que já estudamos
anteriormente, existem algumas possibilidades para proteção pulpar em
uma situação clínica semelhante à proposta.

Frente a uma cavidade profunda, com perda dentinária na parede


de fundo axial, onde existe uma camada de dentina remanescente
separando o tecido pulpar do meio externo, em um dente com vitalidade
pulpar preservada e que receberá o amálgama de prata como material
restaurador, devemos escolher um material que seja capaz de proteger
a polpa de estímulos advindos do material restaurador, servindo como
base, que devolva a resistência à dentina e, se possível, que apresente
características semelhantes a esta. O material que pode ser utilizado
com essas funções é o cimento de ionômero de vidro, que possui
como propriedades principais a adesividade relativa ao remanescente,
liberação de flúor, CETL semelhante ao da dentina, resiliência, resistência
mecânica e menor potencial de irritação do complexo dentino-pulpar.
Nesse caso, ele irá repor a estrutura dentinária perdida, pois o cimento de
ionômero de vidro é o material que possui as características mecânicas
mais semelhantes às da dentina: como apresenta CETL próximo
ao da dentina, esse material se comporta contraindo e expandindo
praticamente igual a esta, dificultando a formação de fendas interfaciais
que poderiam facilitar o trânsito bacteriano nas paredes laterais entre o
dente e o cimento de ionômero de vidro.

Manipulação: a proporção pó/líquido recomendada pelo fabricante


deve ser seguida, e deve ser dispensada no momento em que for
realizada a manipulação em placa de vidro ou em bloco de espatulação
não absorvente, que muitas vezes pode ser fornecido pelo fabricante
do material. A colher dosadora de pó deve ser aquela fornecida pelo
fabricante. Agitar o frasco que contém o pó, coletar o pó do frasco,
sem excesso. O líquido deve ser dispensado com o frasco na posição
vertical para evitar a incorporação de bolhas de ar, alterando a correta
proporção e afetando as propriedades do material. O pó deve ser
incorporado gradativamente, por aglutinação do pó ao líquido, para que
o ácido poliacrílico atue sobre as partículas do pó, com o auxílio de uma
espátula plástica (preferencialmente), para evitar que as partículas de
vidro do material arranhem a espátula metálica, alterando a composição
do material. Utilize uma pequena extensão do bloco para usar toda a
quantidade do líquido, sem prejuízos. Ele estará adequado para inserir na
cavidade quando o material apresentar brilho superficial e se desprender,

308 U4 - Análise oclusal


formando um fio ao afastar a espátula com o material do bloco. O
instrumento mais indicado para a inserção homogênea sem bolhas
é a seringa Centrix®, com a ponta agulhada (cavidades com acesso
limitado) ou com a ponta mediana, que comporta maior quantidade de
material. Recolher o material, carregar a ponta, fechar a ponta com o
êmbolo indicado. Aguardar a presa inicial em torno de oito minutos, de
acordo com o cimento, com o cuidado de que o material fique contido
na cavidade em ponto, regularizando a parede pulpar.

A partir desse ponto, o dente pode ser restaurado diretamente


com o amálgama de prata, selecionando uma liga de fase dispersa
ou de partículas esféricas de alto teor de cobre. Caso o cirurgião-
dentista tenha à sua disposição apenas ligas em forma de limalha, fica a
preocupação de que as margens da restauração se tornem manchadas
pelos produtos da corrosão desse material. Assim, um outro cuidado
pode ser tomado nessa fase de proteção pulpar: obter o selamento
das margens cavitárias com a aplicação de um sistema adesivo. Você
sabe que existem duas estratégias para realizar a adesão às estruturas
dentárias, portanto existem diferentes tipos de sistemas adesivos. Uma
das estratégias, utilizada nos sistemas adesivos convencionais, é a
remoção de uma camada de resíduos decorrentes do preparo cavitário,
que fica depositada na superfície da dentina, chamada de smear layer (ou
lama dentinária). A segunda estratégia utiliza monômeros com auxílio
do próprio condensador. Os condensadores de Ward, maiores, serão
utilizados, completando a cavidade em movimentos contra as margens
do preparo, até que haja um excesso de 1 mm acima do cavo-superficial.

Brunidura: deve ser realizada com brunidor 29 ou 33 de Bennett


em direção às margens do preparo, ou com o condensador nº 6 de
Hollemback, em movimentos de vaivém, com pressão para que o
mercúrio aflore, fique na porção superficial da massa e seja removido
durante a escultura. Tem como função melhorar a adaptação do
material às margens da cavidade, mantendo o excesso para a escultura,
proporcionando à restauração lisura superficial, reduzindo o conteúdo de
mercúrio na superfície, melhorando a integridade marginal, diminuindo a
corrosão do amálgama, aumentando a resistência à fratura e facilitando
o polimento.

Escultura: a escultura será iniciada pela crista marginal externa com


o explorador nº 5, em seguida inicia-se a escultura das vertentes internas

U4 - Análise oclusal 309


da cúspide, da crista marginal e da fóssula distal do dente, que pode ser
realizada com o esculpidor de Hollemback nº 3 e 3S, de Frahm, discoide
e cleoide.

Sempre que puder, utilize os esculpidores apoiados no remanescente


dentário para evitar a formação de fendas.

Brunidura pós-escultura ou alisamento: utilizar os brunidores com


leve pressão sobre o material restaurador, para aumentar a adaptação
marginal e a lisura, e diminuir as porosidades da superfície do amálgama.

Remoção do isolamento absoluto e verificação da oclusão: em


atividade clínica, nesse momento o cirurgião-dentista deve verificar
os contatos oclusais utilizando um carbono interoclusal e fazer as
adequações necessárias na escultura, removendo excessos de material
(acabamento imediato).

Tome os devidos cuidados, ao descartar os resíduos de amálgama


em frasco inquebrável, com um selo de água, para evitar a contaminação
do ambiente e da equipe.

Acabamento e polimento: são duas as situações para a realização do


acabamento e para o polimento das restaurações:

1. Finalização da restauração.

2. Manutenção de restaurações realizadas durante o tratamento ou


de restaurações pré-existentes, mas com degraus positivos ou oxidadas.

A técnica restauradora só pode ser considerada finalizada quando


realizamos o acabamento e polimento das restaurações, com o
objetivo de proporcionar contorno adequado, o mais próximo
possível da anatomia fisiológica, lisura de superfície, impedindo ou
dificultado o acúmulo de placa bacteriana nas margens e superfícies das
restaurações.

Em um tratamento com múltiplas restaurações, esses procedimentos


podem ser realizados ao final, desde de que tenha sido realizado o
acabamento imediato, para determinar o contorno anatômico, ao
término da restauração de cada dente; a remoção de excessos oclusais,
cervicais e proximais, com limas ou lixas metálicas; e o ajuste da oclusão.

310 U4 - Análise oclusal


Utilize o isolamento absoluto do campo operatório para evitar que
o paciente possa engolir resíduos do material, ou até mesmo a água
utilizada para a refrigeração durante o procedimento.

Sistemática de trabalho: realizar ordenadamente dos dentes


posteriores para anteriores, e faces O-V-L-P; usar instrumentos cortantes
antes dos abrasivos; abrasivos em ordem decrescente; refrigeração
(álcool, água, pastas, gel lubrificante); após cada abrasivo, lavar
intensamente; pressão leve; movimentos intermitentes.

Acabamento mediato: realizado após a cristalização completa do


amálgama de prata, de acordo com a liga utilizada. Para a regularização
das cristas marginais – discos de lixa; regularização das superfícies
proximais – discos de lixa quando o acesso é possível e tiras de lixa
metálicas; se for necessário refinar a escultura ou corrigir a oclusão,
utilizar as brocas multilaminadas.

Polimento da restauração:

Quando polir?

Amálgamas convencionais – 48h após a conclusão da restauração, já


as amálgamas de fase dispersa – 24h e as amálgama alto teor de cobre
– imediato (15-30-60min. após a trituração).

Técnica: podemos realizar o acabamento e polimento através das


seguintes técnicas:

1. Borrachas abrasivas: baixa rotação; refrigerada (com água, com


álcool, pastas abrasivas, gel lubrificante); forma de taça ou chama;
abrasividade decrescente: marrom, verde e azul.

2. Pós abrasivos: baixa rotação; em forma de pasta (com água ou


álcool); auxílio de escova Robinson ou taça de borracha; abrasividade
decrescente: pedra-pomes, branco de Espanha e óxidos metálicos –
amalglós.

3. Pastas abrasivas: baixa rotação; óxido de alumínio; auxílio de


discos de feltro; abrasividade decrescente: Poli I, Poli II, Metalux (brilho).

Mista: através de pastas abrasivas associadas a taças de borracha e


escovas Caro aluno: Sempre utilizar abrasivos ou acessórios como

U4 - Análise oclusal 311


pontas montadas e discos com abrasividade decrescente, em baixa
rotação e sob refrigeração, com água ou com gel lubrificante, para evitar
a formação de vapor de mercúrio. Entre as etapas você deve realizar a
lavagem do campo operatório para remover resíduos do procedimento.

Após a técnica de acabamento, verifique a efetividade do


procedimento com o explorador nº 5, sendo que este deve deslizar na
interface sem demonstrar obstáculos. Podemos finalizar o procedimento
com uma pasta de óxido de zinco com álcool, para dar um excelente
brilho na superfície.

Faça você mesmo


Como você realizaria a proteção do complexo dentino-pulpar do seguinte
preparo cavitário, estritamente proximal, sabendo que a parede cervical
encontra-se supragengival e que a profundidade dessa cavidade é rasa e o
material restaurador será o amálgama de prata?

Fonte: arquivo pessoal da autora.

Faça valer a pena


1. Para casos sugestivos de cavidade profunda pelo exame da radiografia,
qual o melhor momento para a instalação do isolamento absoluto?
a) O isolamento absoluto deve ser instalado no momento em que for
iniciado o preparo cavitário.
b) O isolamento absoluto deve ser instalado no momento em que for
iniciada a remoção do tecido cariado.
c) O isolamento absoluto deve ser instalado no momento em que for
iniciada a proteção do complexo dentino-pulpar.
d) O isolamento absoluto deve ser instalado no momento em que for
iniciada a restauração.
e) O isolamento absoluto deve ser instalado no momento em que houver
risco de exposição pulpar.

312 U4 - Análise oclusal


2. De que forma é possível realizar a limpeza da cavidade para executar
procedimentos de terapia pulpar, direta ou indireta?
a) Utilizando água da seringa tríplice.
b) Utilizando detergente aniônico.
c) Utilizando solução ácida fraca para remover a smear layer.
d) Utilizando ácido fosfórico a 37% para remover a smear layer.
e) Utilizando água de hidróxido de cálcio.

3. Quais os cuidados que devemos observar para a correta secagem da


cavidade?
a) Realizar a secagem com ar, mantendo distância para que a dentina não
seja ressecada.
b) Realizar a secagem com ar, com jatos intermitentes, mantendo distância
para que a dentina não seja ressecada.
c) Realizar a secagem com ar, com jatos contínuos, mantendo distância
para que a dentina não seja ressecada.
d) Realizar a secagem com bolinhas de algodão estéreis ou com papel
absorvente estéril, com suave pressão sobre as paredes da cavidade.
e) Realizar a secagem com bolinhas de algodão estéreis ou com papel
absorvente estéril, esfregando contra as paredes da cavidade.

U4 - Análise oclusal 313


Referências
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Traduzido por Milton Edson Miranda. São Paulo: Artes Médicas, 1992. 449 p.

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U4 - Análise oclusal 315


Anotações
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