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GTPE – ADUFF-SSind
Introdução
1
discursos e de textos dirigidos à formação inicial e continuada docente. Ou seja, a BNCC
impactará diretamente nos processos de formação inicial e continuada docentes, refletindo em
mudanças a serem realizadas nos cursos de graduação de formação de professores -
licenciaturas.
Discutindo as referências
Inicialmente, partamos do aspecto das formulações e das redes políticas tecidas para
a produção e circulação de discursos que viabilizam e tencionam a constituição de políticas
curriculares para a formação docente. Dias (2008) analisa as políticas de formação docente
amparada na ideia do ciclo de políticas de Ball (2001; 1998, 2006, apud DIAS, 2008),
destacando que, no Brasil, nos últimos 30 anos, as reformas curriculares sempre
potencializaram discursos em defesa de uma reforma dos currículos de formação docente.
2
professores, estejam eles atuando na condição de colaboradores ou críticos (DIAS,
2008, p. 36).
3
tradução das políticas no contexto da prática, o papel do Banco Mundial para a propagação de
políticas educacionais focadas na aprendizagem. Tais políticas repercutem,
consequentemente, na proposição de uma reforma da política de formação docente que
voltada ao atendimento dos interesses do mercado, formando alunos capazes em lidar com os
desafios impostos pelo mundo globalizado.
Tendo como cenário de análise a política local da prefeitura do Rio de Janeiro para a
sua rede de ensino, Marcondes et al. (2015) desvendam as políticas empreendidas por este
contexto de influência, revelando a posição daquela prefeitura em garantir a constituição de
uma estrutura. Justificada pelo discurso da qualidade, o controle da ação docente –
gerencialismo – dá-se por meio de diversos atores e instrumentos, tencionando garantir a
aprendizagem dos alunos por meio dos resultados das avaliações em larga escala –
performatividade, mediada pelas provas bimestrais da rede, Prova Brasil e Prova Rio.
Algumas Considerações
Lutar por uma política curricular que traga maior conhecimento ao professor, tanto
sobre sua prática profissional, como também sobre a teoria, além de conscientizá-lo de seu
papel político no processo de ensino-aprendizagem, deve ser nossa bandeira.
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Referências Bibliográficas
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação (MEC), Brasília (2015).
Disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documento/BNCC-
APRESENTACAO.pdf. Acesso em 29 dez. 2016.
DIAS, R. E. “Perfil” profissional docente nas políticas curriculares. Revista Teias (UERJ.
Online), v. 14, p. 09/39-23, 2014. Disponível em:
http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php/revistateias/article/view/1759/1325. Acesso
em 04 jan. 2017.
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Educação Pública e Estatal: tempos de resistência e luta
A atual conjuntura brasileira tem sido marcada pela intensificação dos ataques
aos direitos da classe trabalhadora, avanço do conservadorismo e criminalização das
lutas sociais, protagonizados pelo ilegítimo governo de Michel Temer, por um
parlamento predominantemente corrupto, por setores do poder judiciário e pela mídia
empresarial corporativa. Juntamente a isso, a crise do capital que, há tempos, vem
determinando um contexto de descenso das lutas dos/as trabalhadores/as, seja por meio
da repressão ou pela retirada violenta de direitos, compromete valores de solidariedade
historicamente vivenciados pela classe e adensa a agenda neoliberal. Brasil tem
demonstrado que cumpre bem essa agenda, em nome da suposta superação da crise e
combate ao déficit público.
Tais elementos conjunturais são o fermento para fascistas e para o crescimento
de pautas regressivas aos direitos, como por exemplo: Estatuto da família (PL
6583/2013), Estatuto do Nascituro, Escola sem Partido (PL 867/2015), a redução da
maioridade penal, o PL 5069/2013 (propõe modificar a lei que atende as vítimas de
violência sexual e dificulta o acesso ao aborto seguro às vítimas de estupro), Dia do
orgulho Heterossexual (PL 7382/2010), PEC 55 (aprovada em dezembro de 2016 e hoje
denominada EC 95/16), PEC 287 (Reforma da Previdência) e PL 4.302/98, aprovado
em março de 2017, que versa sobre a terceirização das atividades fins.
A aprovação da PEC 55 (hoje EC 95/16) - proposta esta elaborada inicialmente
no governo Dilma, e consolidada no governo ilegítimo do Temer- estabelece o
congelamento dos investimentos sociais por vinte anos! Em se tratando da Universidade
Pública, por exemplo, os cortes orçamentários que já estavam em curso, vão se
aprofundar cada vez mais. Como se não bastassem os retrocessos, estão em pauta no
Congresso a PEC 287/2016 e o PL 6.787/16, que versam sobre a contrarreforma da
previdência e contrarreforma trabalhista, respectivamente.
A aprovação da lei da terceirização, no final de março, significa o adensamento
das ameaças de destruição da educação pública, gratuita e estatal. Ainda em março, o
governo federal anunciou um corte de R$ 42,1 bilhões no orçamento aprovado para o
ano de 2017. O Ministério da Educação (MEC) teve um dos maiores cortes: R$ 4,3
bilhões, o que representa uma diminuição de 12% no montante anteriormente definido
em R$ 35,74 bilhões.
Sabemos o que isso representa no interior das nossas universidades: condições
de trabalho cada vez mais precarizadas; cortes no orçamento, que repercutem
diretamente na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; o acesso e
permanência não tem acompanhado a política de expansão universitária; dificuldades
com a manutenção dos laboratórios, que não têm tido reposição de insumos e material
tecnológico; cortes nos editais e bolsas da CAPES, CNPQ e órgãos de fomento estatais,
inviabilizando continuidade ou novas pesquisas. Na extensão, essa situação é mais
grave. Na UFF, nos últimos anos, é na extensão que mais cortes de bolsas tem
acontecido. O edital de bolsa para os programas e projetos para o ano de 2017 foi
publicado separando os programas e projetos novos dos antigos, onde não consta, para
as duas modalidades a opção de bolsista e o número de bolsas. Ou seja, submete-se a
editais que não têm bolsas, demonstrando a patente desvalorização da extensão.
Fica claro que a diminuição de editais, seja no ensino, na pesquisa e na extensão,
impactam diretamente no cotidiano das universidades, na produção de conhecimento, na
assistência estudantil e na permanência destes na universidade.
Os novos ataques à carreira docente e ausência de condições de permanência
para os estudantes são apenas a ponta do icerberg. A infraestrutura precária, serviços
básicos como bibliotecas e laboratórios, insuficientes ou inexistentes, contratos de
terceirização de serviços como segurança e limpeza – que colocam os trabalhadores em
situações de baixo assalariamento, restrição de direitos trabalhistas e instabilidade nos
contratos de trabalho são exemplos de que a desconstrução da universidade pública é
uma tarefa levada à sério no Brasil, não é por outra razão que a história do movimento
docente pode ser contada pelas lutas contra a fragilização e desmonte da universidade.
Vale destacar que as universidades conglomeradas do início do século XX, a
reedição deste processo na expansão universitária promovida pela autocracia burguesa,
a mercantilização do ensino superior promovida no período FHC e, por fim, a
ampliação das universidades nos governos petistas, operada a partir de diversos
mecanismos legislativos que arrefeceram as lutas e contestações nos primeiros anos dos
governos do PT, mas, que logo expressaram a direção privatizante, numa radicalização
da diluição público-privado que destinou vultosos recursos do fundo público para
empresários da educação, PROUNI e FIES, por exemplo.
A expansão das universidades públicas a partir dos anos 2000 não foge ao
roteiro da massificação do ensino superior. A incorporação de metas para ampliar o
número de jovens nas universidades e a adequação do perfil de ensino superior ofertado
nos países latino-americanos defendidas pelo Banco Mundial logo resultou num quadro
de desconstrução aos poucos avanços conquistados nas universidades públicas.
Obviamente esta conjuntura impacta o acesso dos estudantes e dificulta, ainda
mais, as condições de permanência nas universidades públicas. Sabemos que a expansão
precarizada das IES expressou um dos eixos da política de conciliação de classes levada
à cabo nos governos petistas e agudizada no governo ilegítimo do Temer.
O esgotamento desta estratégia se expressou no fim da política conciliatória e
também no esgarçamento da frágil política educacional para o ensino superior público,
sobretudo pela curta temporalidade do REUNI, programa este que articulou ações mais
massivas do governo federal. Ainda assim, de fato, apresentou aspectos muitos restritos
em relação às amplas demandas das IES, que vinham amargando um longo período de
desfinanciamento, associado ao desmonte de direitos trabalhistas dos docentes e dos
técnicos que tiveram seus salários estagnados por anos, bem como a contenção dos
direitos expressos na contrarreforma da previdência .
A proporção docentes x alunos instituída a partir do REUNI, expressa os limites
da política governamental ao considerar que a criação de vagas discentes e de novos
campi seriam os indicadores válidos para qualificar um processo de democratização das
IES, já que a alta proporção aluno/professor (Cf projeto REUNI) materializa
dificuldades para assegurar experiências pedagógicas qualificadas, especialmente, no
que refere à orientações (monografias, pesquisas), às ações extensionistas e às práticas
de ensino (como as monitorias, por exemplo).
Aqui, verificamos o entroncamento nefasto entre a precarização das condições
de trabalho e a insuficiência dos recursos que viabilizem condições de estudo.
Ao longo dos últimos anos, (período 2002-2015) foram criadas novas IES, no
entanto, o governo federal investiu ainda mais pesado nas ações privatistas (via renúncia
fiscal e política de bolsas do PROUNI) e estas iniciativas impactaram fortemente o
orçamento da educação superior, expressando assim, a direção política que travestiu
direito em 'bem público', fortalecendo desta forma as iniciativas privatistas no campo da
educação.
Já aos estudantes que acessam as vagas nas universidades federais, o quadro
encontrado é de restrição de bolsas, ínfima política de assistência estudantil, ausência
de restaurantes universitários, vagas insuficientes de moradia estudantil e outras
dificuldades, típicas do cotidiano da classe trabalhadora e que também atravessam o
cotidiano estudantil como as questões de segurança e o alto custo de vida.
Em suma, a política educacional prima pela expansão de vagas discentes, mas,
não assegura condições de permanência para os estudantes e, em grande medida, até
mesmo para os professores.
Em nossa avaliação, a democratização poderia estar sendo vislumbrada caso
tivéssemos recursos para extensão, para pesquisa, e não basear tais atividades
acadêmicas apenas no compromisso docente e nas renúncias que os estudantes são
impelidos a fazer, em função da ausência de recursos e do desfinanciamento nas IES.
A política de expansão primou pela ampliação do número de alunos – o que
pode aparentar um processo de democratização da universidade. No entanto, a ausência
de ações concomitantes e proporcionais de ampliação do corpo docente e técnico-
administrativo e a ausência de planejamento da infraestrutura para funcionamento dos
campi interiorizados demonstrou um quadro de precariedade que rapidamente
apresentou os limites da expansão.
A precarização das condições de trabalho docente nas IES não é uma novidade,
ao contrário, quando recorremos à história da educação no Brasil percebemos que os
processos de instituição do ensino superior e, sobretudo as ações voltadas para o
desenvolvimento das universidades federais, sobretudo, nos períodos privilegiados de
expansão, foram marcados por uma involução, pois estes ‘crescimentos’ eram feitos a
partir de medida autoritárias que em geral desconsideravam as demandas dos
trabalhadores, tanto os docentes e TAs, como os trabalhadores e filhos de trabalhadores
que poderiam/deveriam ser os estudantes universitários.
Entre 2012, 2015 e 2016, o ANDES-SN protagonizou três grandes greves,
longas e de fortes mobilizações, juntamente com outros sindicatos de esquerda, tanto da
educação quanto de servidores públicos federais e movimentos sociais. Ainda que não
tenhamos refreado todos os ataques à educação pública como um todo, a unidade que
vem se construindo tem demonstrado que a realidade poderia ser outra, como a de
franca falência da perspectiva de educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente
referenciada que tanto defendemos.
Estes processos são contraditórios. A ampliação de acesso à universidade
pública é uma luta histórica e o nosso ponto de crítica é justamente por identificarmos
que ampliar o acesso dos jovens pobres à universidade não é sinônimo de abertura de
vagas. Consideramos que um dos efeitos mais deletérios da política de ensino superior
dos governos petistas foi a apropriação de expressões e bandeiras historicamente
construídas pelos movimentos de resistência ao desmonte da educação pública e sua
ressignificação na perspectiva do capital. A democratização se transformou em
massificação, a autonomia universitária foi travestida em liberdade para buscar
financiamentos privados e a carreira docente foi transformada em empreendedorismo
acadêmico.
Em outubro de 2016, o movimento estudantil protagonizou, nas universidades,
resistência e luta contra a PEC 55 e Reforma da Previdência, somando forças ao
movimento estudantil secundarista, que já vinha politizando o debate e a luta. Na UFF,
por exemplo, o movimento de ocupação foi intenso, não só na sede como nos Campis
do Interior, trazendo possibilidades para um amplo debate sobre o principal objeto de
enfrentando como também permitiu a percepção do que significava a aprovação da PEC
55 (hoje EC 95/16), e suas implicações para a política de assistência estudantil, acesso e
permanência nas universidades.
A conjuntura e todos esses momentos vivenciados tão recentemente, nos
mostraram que é necessário construir estratégias de fortalecimento da luta. Neste
sentido, o segundo semestre de 2017 é importante e desafiante para nós dos movimentos
docente, estudantil e dos técnicos administrativos, somados aos demais movimentos da
classe trabalhadora, na construção dos encontros preparatórios, estaduais, regionais e
municipais, para a realização do III Encontro Nacional de Educação- em 2018, onde
poderemos vislumbrar a concretização de um projeto de educação classista e
democrático. É a perspectiva de classe que nos coloca ombro a ombro junto aos
estudantes e classe trabalhadora como um todo nas lutas em defesa da educação pública,
gratuita, de qualidade e socialmente referenciada.
Política Curricular: identidade e diversidade na construção de um
projeto de Educação classista e democrático
GTPE/ADUFPB
Introdução:
Este texto tem por finalidade apresentar uma primeira abordagem sobre a dimensão
curricular, assumida, aqui, na sua condição de Política, constituinte indispensável na
formulação de um projeto classista, dos trabalhadores, e democrático de Educação. Para
tanto, ele se encontra estruturado da seguinte forma:
-- ao elaborarmos este material, com apoio em um recorte definidor das questões aqui
abordadas, temos a clareza de sua insuficiência para a solução plena da problemática
curricular; o currículo, assim como a escola, não é problema que possa ser solucionado
por via exclusivamente interna. Assim sendo, haverá questões profundamente
importantes, mais afeitas a outros campos, que não serão abordadas neste texto, posto
que a escolha aqui feita priorizou os aspectos mais especificamente curriculares,
propriamente ditos.
A outra questão a ser mencionada é que essa própria diversidade, anteriormente referida,
ao manifestar-se sob a forma de bagagem cultural trazida por cada um dos ingressantes
no processo de escolarização, deve ser tomada como o principal alicerce da
construção curricular, por intermédio de sua valorização, o que inclui sua
problematização, no sentido da identificação de seus limites/necessidades de superação.
A prática usual de “assepsia cognitiva”, buscando, pela desqualificação de seu aporte
cultural de origem, transformar cada novo aluno em “página em branco”, completamente
permeável a prescrições curriculares arbitrárias, previamente estabelecidas, não merece
outra designação que a de um atentado com finalidade de apagamento cultural. E o
mais grave: ele é em geral, mais incisivo/agressivo e, infeliz e consequentemente, mais
bem sucedido, quando perpetrado contra os alunos oriundos das camadas menos
favorecidas da sociedade.
Ou seja, formulando esse princípio de modo resumido- ainda que abrindo mão de alguma
precisão em favor de sua visualização mais imediata-, na Educação, aqui tomada como
direito inalienável de cada um dos e de todos os integrantes do gênero humano, a todos,
tudo. Qualquer proposta de recorte que seja formulada no sentido de uma seletividade
restritiva, tendo em vista o contexto ora vivenciado em nosso país- uma globalização
capitalista, dia a dia mais radical, na qual as mediações anteriormente existentes vêm
sendo sumariamente esgarçadas, cada vez mais rapidamente-, terá como resultado, com
certeza, a supressão de direitos dos subalternos na ordem social.
Isso posto, resta-nos estabelecer, a partir da adoção dos fundamentos formulados nas
considerações acima, que base conceitual atuará como suporte para ser empreendida a
elaboração curricular e, consequentemente, realizada a prática educativa dela resultante.
É evidente que seria uma extrema e danosa ingenuidade desconhecer que essa
capacidade (inerente a todas as pessoas), na constelação histórica contemporânea- já
caracterizada, ainda que sumariamente, em trecho anterior deste texto-, tem sofrido
ataques de naturezas diversificadas, no sentido de seu embotamento, pela redução
concreta de suas potencialidades, para uma ampla parcela da espécie- aquela
despossuída de montante significativo de poder, nas variadas formas desse em presença
na atualidade-, e, consequentemente, na perspectiva de sua desqualificação. Vivemos,
hoje, num mundo em que, para a imensa maioria da humanidade, a capacidade de
realizar trabalho está liminarmente reduzida a alguma possibilidade de vender, a preços
cada vez mais aviltados, sua força de trabalho- não é outro, apesar de todos os
subterfúgios utilizados para dourar a pílula, o sentido do termo empregabilidade, de uso
tão corrente em nossos tempos.
No entanto, ainda assim, consideramos que uma atuação pedagógica- que, sem
desconhecê-la, enfrente com realismo o “status quo” dessa questão- revalorizadora
(quase, mesmo, reconstrutora) dessa dimensão ontológica dos humanos e que tenha a
clareza de perceber-se como ação a contrapelo, minoritária, no presente momento, tem
papel fundamental a jogar num projeto educacional efetivamente articulado com as
postulações dos trabalhadores. Julgamos que, com a mediação dessa atuação, será
viável, para os trabalhadores, mesmo nos limites da autonomia que ora lhes é possível,
deflagrar e intensificar um processo de autorreconhecimento e valorização de sua
identidade de classe, ingrediente indispensável, ainda que não suficiente, para a sua
atuação na luta de classes.
Este espaço final do texto será destinado a comentários que buscam esclarecer,
aprofundar e caracterizar alguns vínculos para questões mencionadas anteriormente, no
sentido de conferir, a este material, maior precisão e possibilidade de eficácia.
Num primeiro momento, gostaríamos de recuperar o comentário feito pouco após o início
da Parte I do texto, sobre a problemática questão da seleção dos conteúdos escolares,
que reaparece, mais adiante, no segmento subsequente do texto (Parte II). É preciso que
se diga, antes de mais nada, que a seleção é indispensável- frente à complexidade
instalada no mundo contemporâneo e sua vertiginosa expansão, é irrealizável a pretensão
de que a escola deva ser o único instrumento de socialização da totalidade do
conhecimento sistematizado. Além disso, a confrontação entre a necessidade de seleção
e o lema abreviadamente formulado para caracterizar a formação humana unitária- a
todos, tudo- se mal interpretada, pode resultar num falso dilema. A todos, a escola deve
propiciar os conteúdos e instrumentais de acesso ao conhecimento como um todo. E esse
é o critério central a ser utilizado na referida seleção. Ele é diametralmente oposto aos
habituais critérios de seletividade- restritivos e desqualificadores dos não-dominantes-
empregados na escolha dos conteúdos escolares. Critérios esses, muitas vezes,
puramente decorrentes de parâmetros completamente arbitrários, eleitos pelos
formuladores das políticas educacionais hegemônicas ou dos currículos delas derivados-
veja-se, por exemplo, a BNCC. O que estamos tentando expressar aqui é a necessidade
de que os critérios para a seleção do que deve ser ensinado pela escola tenham como
perspectiva a formação de um sujeito histórico autônomo- em termos de embasamento
cognitivo e de domínio metodológico-, capaz de (auto)gerir com independência a
continuidade de seu processo de aprendizagem- omnilateral, não nos esqueçamos. É
claro que essa percepção situa-se em campo diametralmente oposto à lógica dos, assim
chamados, processos de formação continuada, executados sob a égide da racionalidade
ora hegemônica.
Desse modo, ele traz em si uma imbricação dialética de singularidade e generalidade, que
pode- e deve- ser assumida como estratégia e conteúdo curricular, simultaneamente.
Estratégia, porque do estudo das relações entre particular e geral é, certamente, possível
fazer emergir o indispensável debate acerca da dinâmica dos processos de produção e
socialização do conhecimento, nos vários campos do saber, aqui percebidos como
recortes praticados a partir do mundo real e não definidos de modo completamente
arbitrário, idealisticamente. Conteúdo porque o conhecimento- interpretação e
representação- e a capacidade de discernir as universalidades e as peculiaridades em
situações concretas são, sem dúvida, um dos aprendizados a ser efetivado na Educação
Básica, também nos vários ramos do conhecimento. É claro que a escolha das situações
e dos, assim os designaremos aqui, pares geral- particular a serem priorizados no
trabalho em cada prática de ensino-aprendizagem dependerá fortemente das
características próprias da referida prática, inclusive em termos da possibilidade de
introdução de elementos “ad hoc”, que se façam originalmente ausentes do contexto
escolar vivenciado.
Isso significa, como, aliás, também é verdadeiro- não é difícil perceber- no caso discutido
logo acima, relativo à seleção dos conteúdos, que, tanto pela própria percepção aqui
adotada da ideia de construção curricular como pela finalidade do projeto em construção,
a referida ideia é indissociável da autonomia e da democracia para sua consecução.
Passando, portanto, muito ao largo do atual modelo adotado pelo(s) governo(s), de
rígidas políticas de controle curricular.
Para encerrar, ainda no campo dos vínculos, gostaríamos de pontuar- não muito mais que
isso- as consequências que essa nova percepção trazida para a concepção e a prática
curriculares acarretam para os processos de formação de professores, inicial e
permanente. Para nós, é cristalinamente evidente que os processos de formação em vigor
estão muito distantes de atuarem no sentido aqui apontado. A preparação de docentes
com condições efetivas de atuar na perspectiva delineada por estas considerações
exigirá, sem dúvida, mudança radical na sistemática de formação. Como fecho e sem a
pretensão de esgotamento da questão, elencamos a seguir, sucintamente, alguns-
poucos e, certamente, passíveis de complementação- aspectos importantes a serem
adotados por essa nova sistemática, que rompa e supere a atual, ainda que devendo ser
dela partejada:
- garantia, pela formação, de sólido domínio de conteúdo específico, que possibilite, pela
amplitude do repertório cognitivo possuído, a atuação em diversificados contextos de
ensino-aprendizagem bem como o trânsito entre eles;
Neste cenário teórico, Demo (1995, p.130) alerta que “o mero repasse
copiado não tem sentido pedagógico”, pois o contato pedagógico próprio da
educação superior é aquele mediado pela produção/reconstrução de
conhecimento. Urge então a necessidade de se romper com a pedagogia da
pura transmissão e reprodução de conhecimentos.
Por fim, cabe salientar que este texto aponta para uma proposta
metodológica diferente da tradicional, mas sem a pretensão de considerá-la
acabada ou a melhor proposta. Trata-se de uma “alternativa ainda em
construção” ao processo tradicional. Sabemos que há outros autores, cujo
trabalho aponta avanços talvez mais relevantes ao debate sobre o processo
avaliativo. Este é o nosso possível até aqui.
Referências
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1997 v.1/2 (2):5-20.
Brito, EP. Projeto pedagógico de curso. In: Coletânea Pedagógica: Caderno
temático. n.1. Universidade Federal de Pelotas. Pró-Reitoria de Graduação.
Pelotas – RS, 2008.
COMERLATTO, L. P. A gestão da educação no contexto da sociedade
capitalista: a parceria público privada. Porto Alegre, UFRGS, 2013. Tese de
Doutorado, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, 2013.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 29ª ed., 2004 (Coleção Leitura).
FREITAS, L. C. A internalização da exclusão. Em: Educ. Soc. [online]. 2002,
vol.23, n.80, pp. 299-325. ISSN 0101-7330. Disponível
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FRIZZO, G. E. F. A Organização Do Trabalho Pedagógico Da Educação Física
Na Escola Capitalista Tese, UFRGS, Porto Alegre, 2012.
e o Art. 66, que “A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível
de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado”. O Art. 61,
aponta que o conteúdo da formação de professores se pautaria na “associação entre
teorias e práticas, inclusive mediante capacitação em serviço” chamando a atenção para
a necessidade de uma política de formação continuada para os professores e mais, que
se deveria levar em consideração nos processos formativos o “aproveitamento da
formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades”.
Em 1997, atendendo ao compromisso assumido pelo Fórum Nacional em Defesa da
Escola Pública 1 e ao Art. 214 da Constituição Federal de 1988, os participantes do II
Congresso Nacional de Educação, realizado em Belo Horizonte (MG) apresentaram à
sociedade brasileira o Plano Nacional de Educação - PNE, “cujo caráter extrapola o
mero documento formal e se transforma em um referencial político de atuação, tendo
como pressupostos Educação, Democracia e Qualidade Social” (PNE da Sociedade
Brasileira, 1997) que se contrapôs ao Plano Nacional de Educação PNE - Lei nº 10.172
de 9/1/2001, do Governo FHC, do empresariado e segmentos conservadores.
No PNE, da Sociedade Brasileira, a 5ª Diretriz Geral, trata da Formação de Professores
ao “garantir a valorização dos profissionais da educação (professores, técnicos e
funcionários administrativos) em sua formação básica e continuada, carreira e salário”
(PNE da Sociedade Brasileira, p. 23). Ao tratar do Financiamento da Educação, retoma
no ítem 3.3.4 – Formação de Profissionais da Educação, ao reafirmar que “nenhum
sistema educacional pode manter ensino de qualidade social sem investir com seriedade
na formação básica e continuada dos profissionais da educação e, de forma específica na
formação do magistério” (PNE da Sociedade Brasileira, p.410).
Para o ANDES-SN, o PNE da Sociedade Brasileira continua sendo referência
estratégica na definição de políticas públicas educacionais, entre as quais a política de
formação de professores e para a construção de um projeto classista e democrático de
educação para o país. Neste sentido, reafirma que “os cursos de licenciatura e seus
currículos devem ser valorizados, enriquecendo-os de forma a proporcionar formação
ampla e crítica de educadores e profissionais” (ANDES, Cadernos 2, 2013, p.20).
Defende, como fundamental a implantação de um Plano Nacional de Capacitação
Docente, condição indispensável para consolidar e manter o princípio de
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, historicamente defendido pelo
movimento docente e constantemente ameaçado pelos defensores do modelo de
universidade que fragmenta as IFE em “centros de excelência” que envolve ensino
pesquisa e extensão e “centros de ensino”, cujo foco é o ensino e a profissionalização
1
O Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública - FNDP foi lançado em Brasília, em 9/04/1987, por
iniciativa da Campanha Nacional pela Escola Pública e Gratuita, inicialmente como Fórum da Educação
na Constituinte em Defesa do Ensino Público e Gratuito. Reunia mais de 40 entidades entre científicas,
sindicais e estudantis, de especialistas da educação, de secretários estaduais de educação e de dirigentes
municipais de educação, aglutinando coletivos socialmente organizados. Teve no ANDES-SN e na
CNTE seus principais articuladores.
precoce de conteúdo pragmático voltado às exigências do mercado. Rechaça a proposta
de uma Base Nacional Comum Curricular que estabelece um currículo único,
homogeneizador, para um país marcado pela diversidade geográfica e cultural. Em
contraposição, a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação –
ANFOPE. defende para os Cursos de Formação, uma Base Comum Nacional que
não deve ser concebida como um currículo mínimo ou um elenco de
disciplinas, e sim como uma concepção básica de formação do educador e a
definição de um corpo de conhecimento fundamental. Todas as licenciaturas
(pedagogia e demais licenciaturas) deverão ter uma base comum: são todos
professores. A docência constitui a base da identidade profissional de todo
educador. (CONARCFE, 1983, p. 4)
A Base Comum Nacional constitui-se, hoje, em instrumento de luta contra o
processo de rebaixamento da formação unitária dos educadores. Esses
princípios orientadores da Base Comum Nacional na formação dos
profissionais da educação, na perspectiva de uma compreensão sócio-
histórica da educação, constituem um sentido importante para uma política
orgânica e consistente de Formação de professores. A Anfope entende que tal
política deve enfatizar a indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão na
estruturação dos cursos de formação dos professores que atuarão desde a
Educação Infantil até a Universidade (ANFOPE, 2014, p.88-89).
A partir de 2003, no primeiro mandato do governo Lula da Silva, que não fez a ruptura
com as políticas educacionais exógenas de caráter neoliberal e neoconservador, uma
série de medidas foram adotadas para orientar as políticas educacionais ao alcance dos
objetivos do Capital que apontavam para uma educação de caráter pragmático e
utilitarista que tivesse como centralidade a preparação rápida de mão de obra para o
mercado que tiveram continuidade no segundo mandato. Atravessamos os dois
mandatos de Lula, na ofensiva com o Ministério da Educação (MEC) e com o Conselho
Nacional da Educação (CNE) para barrar o processo de Certificação Profissional do
Magistério, desencadeado em 2003; as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Pedagogia, aprovadas em 2006; Lei Nº 10.861 de 14 de abril de 2004, que Institui o
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES; a Lei Nº 10.973 de 02
de dezembro de 2004 - Inovação Tecnológica, regulamentada pelo Decreto 5.563/2004
que estabelece incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica em ambientes
produtivos, opera profunda reformulação da educação tecnológica em curso e alterações
na carreira docente e na política salarial das IFES; os Decretos 5.622/2005 e
5.800/2006, que Regulamenta a Educação a Distância - EAD e cria a Universidade
Aberta do Brasil – UAB, respectivamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
RESUMO: O presente texto se propõe a apresentar uma discussão acerca das situações que
caracterizam a condição de precarização da modalidade de EaD, focalizando o caso da EaD
pública do no Estado do Rio de Janeiro das universidades conveniadas ao consórcio CEDERJ,
bem como apresentar um breve histórico da constituição da Adopead – SSind, enquanto
movimento de organização e de luta da categoria de professores atuantes nessa modalidade
educacional, em favor de uma educação pública e de qualidade.
INTRODUÇÃO
∗
Mestre em Educação, Cultura e Comunicação, pela UERJ.
∗∗
Mestre em Políticas Públicas e Formação Humana, pela UERJ/PPFH.
∗∗∗
Mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Materna, pela UNICAMP/SP.
1 A denominação “tutor” tem sido contestada pela categoria. Diferentemente, das modalidades anteriores, a EaD
contemporânea apresenta-se fortemente marcada pelas novas tecnologias digitais inseridas no contexto da
cibercultura e, como tal, demanda desses profissionais o exercício de função mediadora pedagógica nos mesmos
moldes da atuação de qualquer professor. Nesse sentido, a proposição é a de que tal denominação “tutor” seja
substituída por “professores da EaD”.
1
DA EAD QUE TEMOS (POTENCIALIZADORA DE SUA PRÓPRIA
PRECARIZAÇÃO)
Apesar da defesa da EaD como uma das molas propulsora da democratização do ensino
e da inclusão, é preciso considerar que esta modalidade de educação apresenta problemas que
potencializam sua própria precarização. Na sequência, apresentamos algumas situações que
justificam e testemunham a precarização da modalidade da EaD em nosso país, tendo como
cenário particular a realidade vivida pela EaD pública de ensino superior fluminense.
❶ O modo como muitas propostas de EaD concebem os responsáveis pelo processo pedagógico, como é o caso do
Consórcio CEDERJ, potencializa a hierarquia e a discriminação entre eles
2São considerados “professores coordenadores” aqueles que, dentre outros atributos, possuem vínculo empregatício
sólido com a universidade por meio de aprovação em concurso público.
2
comerciais). Infelizmente, a maioria dos cursos de EaD do Consórcio Cederj apresenta conduta
semelhante: disciplinas com turmas que passam de 250 alunos matriculados para apenas dois
professores que devem conciliar o atendimento de todos esses alunos por meio de várias tarefas
(criar e mediar os fóruns; responder às dúvidas; corrigir as diferentes avaliações; em alguns casos,
editar das atividades da Sala de Aula Virtual, entre outras atividades). Muitas das vezes, frente à
incapacidade de se dar conta desse acúmulo de tarefas, recai-se no num movimento contrário, de
total apatia, muito comum em modelos de tutoria reativa (o docente só age quando é
requisitado na sala virtual de tutoria e no telefone 0800, como uma espécie de “tira dúvidas” dos
alunos, ou no plantão do polo presencial aguardando a visita de algum aluno a procura de
esclarecimentos).
Somado a tudo isso, há que se refletir, também, a respeito do necessário compromisso da
EaD pública superior brasileira com a qualidade do ensino/aprendizagem dos seus estudantes.
No modelo atual de EaD, as universidades detêm a responsabilidade pela formação dos alunos
em nível superior. Só que, na grande maioria dos casos, essa formação é precária por se realizar
apenas num dos lados do tripé que a sustenta, pois do ensino, da pesquisa e da extensão, apenas
o ensino é desenvolvido.
Nesse contexto, algumas perguntas podem ser direcionadas ao ensino superior de nossas
universidades, tanto presencial quanto a distância, dentre elas, se os cursos são capazes de mesclar
inovação (por exemplo, tecnológica) com formação; e se são iniciados ao estilo acadêmico de
pesquisa, a partir da necessária articulação ensino - pesquisa – extensão.
Foi mediante a questionamentos desta natureza e a partir de discussões a respeito da
precarização do trabalho docente em EaD do Consórcio Cederj, que buscou-se definir as
necessidades centrais dos profissionais da educação que atuam nessa modalidade educacional. A
partir de então e com o auxílio do ANDES-SN, iniciou-se um movimento em busca de
organização da categoria, o que culminou na criação da ADOPEAD - SSind/RJ, cuja
homologação foi aprovada em janeiro de 2016, no 35º congresso do Andes/SN.
Para refletir sobre esta questão, partimos do pressuposto, segundo o qual, legalmente, o
termo “vínculo empregatício” refere-se a todas as formas de configuração de trabalho que não
sejam fortuitas ou casuais, premissa essa, sustentada pelo art. 3º da CLT e onde se define o
“empregado” como: "toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência deste e mediante salário". (DECRETO-LEI Nº 5.452, de
01/05/1943). Além disso, nas relações de emprego prevista em lei, não há distinção entre
modalidades de trabalho realizadas no estabelecimento do empregador e aquelas executadas no
domicílio do empregado, desde que esteja caracterizada a relação de emprego prevista no artigo
6° da CLT: “A prestação de serviços de caráter continuado, em atividades de natureza
permanente, com subordinação, observância de horário e normas de repartição, mesmo em
grupo-tarefa, configura relação empregatícia”.
Por essa ótica, fica claro que a situação trabalhista dos professores em EaD vinculados ao
Consórcio Cederj apresenta-se mergulhada em irregularidades e contradições. Afinal, na relação
do referido Consórcio com esses profissionais, existem várias exigência e compromissos
estabelecidos documentalmente: cobrança de frequência e desconto dos não comparecimentos,
3
controle da frequência de acesso na Sala de Aula Virtual da plataforma, a existência de uma
regulamentação de expediente ou presença física, entre outros.
Assim, segundo o entendimento de autoridades jurídicas, a forma como são
desenvolvidas essas práticas de relação de trabalho, bem como as responsabilidades educacionais
assumidas e estabelecidas, caracterizam a existência de uma relação trabalhista e, portanto,
deveriam ser formalizadas legalmente do ponto de vista empregatício. E esta vem sendo a luta
mais complexa da ADOPEAD junto ao Consórcio CEDERJ, pois, no caso deste Consórcio, no
tocante ao vínculo trabalhista, tanto daqueles considerados “professores” (coordenadores de
disciplina) quanto os denominados “tutores” estão subordinados a um termo de ortoga que
delimita as funções e responsabilidades do trabalhador em EaD, e pouco garante seus direitos
trabalhistas. Sofrem, assim, processo de precarização, ou pelo vínculo precário de trabalho que
estabelecem com os cursos (no caso dos coordenadores de disciplina) ou pelo vínculo com a
própria instituição universitária (no caso dos denominados “tutores”). Isso porque ambos
(coordenadores e “tutores”) recebem, como remuneração de seu trabalho, uma espécie de Bolsa
que, além de valores muitos baixos e sem reajustes a aproximadamente 10 anos, tem tido
constantes atrasos.
É, nesse sentido, que uma das pautas de luta da ADOPEAD refere-se também à
conquista e formalização dos direitos legais trabalhistas (férias, 13º salário, licenças e outras
prerrogativas inerentes à condição de trabalhador formal).
Para combater esse modelo distorcido da prática educativa e também suas mazelas, a EaD
contemporânea precisa direcionar suas ações por uma educação que considere “o cidadão como
sujeito de produção de conhecimento e cultura, que opera no coletivo e pode colaborar para
alterar sua realidade e a de todos os outros”. (PRETTO; PICANÇO, s.d., p. 35).
Assim, em consonância com a contemporaneidade, toda e qualquer prática educativa
atual, especialmente aquelas que acontecem a distância, necessariamente devem lançar mão das
novas tecnologias digitais de comunicação, responsáveis pela nova configuração social e cultural
da sociedade. Entretanto, vale destacar que um tratamento justo a essa nova realidade social,
decorrente dessa “cultura ciber” (ou cibercultura) deverá considerar o tripé - ação humana, cultura e
tecnologia - numa relação de interdependência. Destacam-se, nesse contexto, a necessária atitude
comunicacional dos professores (SILVA 2004) - ação pedagógica sintonizada com a dinâmica
informacional das tecnologias digitais, próprias da realidade cibercultural dos dias atuais e, consequentemente,
sintonizada com o perfil comunicacional desse novo aluno com suas novas formas de aprender e a “inclusão
cibercultural” (SANTOS, 2014) - “fluência tecnológica” (ALMEIDA, 2005) que abre espaço para que o
sujeito atue como cidadão participativo em redes sociais, de modo a produzir, cocriar e compartilhar conteúdos e
informações sob os mais diversos formatos (textos, programas, sons, imagens, vídeos, gráficos, etc.) 3.
Como já declarado, temos consciência do necessário compromisso da EaD com a
qualidade da formação educativa. Desse modo, é interessante evocar a Constituição Federal de
1988 que, no artigo 214, preparando o espaço para aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da
3 Com a defesa da “inclusão cibercultural”, pretende-se posicionar contra a mera “inclusão digital”, uma vez que esta
refere-se apenas à aquisição da tecnologia enquanto mera utilização funcional das tecnologias disponíveis.
4
Educação (LDB) nº 9.394/96, disserta sobre a função da universidade pública, apontando para a
melhoria na qualidade de ensino fundamentada no tripé da pesquisa, ensino e extensão.
Com o até então exposto, queremos deixar claro que, acima de qualquer outra causa, a
luta da ADOPEAD é pela educação de qualidade. Objetivamente, na EaD em particular, nosso
Plano de Lutas tem focado as seguintes estratégias e ações, a curto, médio e longo prazos:
➡ Combater aos modelos de EaD de ensino massivo, promovendo a formação democrática e de
qualidade, por meio da reflexão e da produção de materiais diversos, focando essencialmente a
EaD que temos e a EaD que efetivamente queremos.
➡ Organizar e promover o enfrentamento do grande desafio da EaD contemporânea, que é a
sua reinvenção/inovação pela adequada incorporação das novas tecnologias no cotidiano de suas
ações pedagógicas, tendo em vista a inclusão cibercultural.
➡ Denunciar, em documentos e/ou dossiês, fatos comprovem todas as práticas de precariedade
sofridas na EaD pública fluminense (de infraestrutura física, de pessoal e/ou corpo técnico
administrativo e pedagógico).
➡ Analisar experiências legais em andamento, e que desenvolvem propostas o mais justas
possíveis de contratação/vínculo empregatício dos docentes e profissionais da EaD pública
superior, como forma de erradicar a precarização do trabalho docente, refletindo sobre as
possibilidades de adaptação dessas experiências à realidade da EaD/CEDERJ.
➡ Elaborar, com base nesse estudo, proposta(s) ou possibilidade(s) de vínculo(s) legal(is)
empregatício(s) a ser(em) apresentada(s) para as autoridades responsáveis, bem como para
divulgação nos diferentes meios de comunicação e em eventos científicos, acompanhadas de
textos de apoio.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. E. B. Letramento digital e hipertexto: contribuições à educação. In:
SCHLÜNZEN JUNIOR, Klaus, (Org.). Inclusão digital: tecendo redes afetivas/cognitivas.
Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
CASTRO, L. V. de; FREITAS, A. H. F.; SANCHES, M. M. F. Professor da EaD: refletindo
sobre sua identidade e realidade trabalhista. Plenária da ADOPEAD/RJ, 2016. mimeo.
CAMPOS, S. M.; DANTAS, R. N. S. dos. Condições de trabalho dos professores presenciais
e a distância da EaD pública do Estado do Rio de Janeiro. Plenária da ADOPEAD/RJ,
2016. mimeo.
PRETTO, N. L. de; PICANÇO, A. A. de. Reflexões sobre EAD: concepções de educação.
Disponível em: <http://www.proged.ufba.br/ead/EAD%2031-56.pdf>. Acesso em: 28 jun.
2016.
SANTOS, E. Pesquisa-formação na cibercultura. Santo Tirso: Whitebooks, 2014.
SILVA, M. Indicadores de interatividade para o professor presencial e on-line. Revista Diálogo
Educacional. Curitiba, v. 4, n.12, p.93-109, maio/ago. 2004. Disponível em:
<http://www2.pucpr.br/reol/index.php/dialogo?dd1=622&dd99=view>. Acesso em: 12 ago.
2016.
SILVA, C. E. da; VALENÇA, M. E. T. A EaD que efetivamente temos e queremos: um
olhar sobre a EaD pública do Estado do Rio de Janeiro. Plenária da ADOPEAD/RJ, 2016.
mimeo.