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Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia
32 | 2017 :
Número 32
Federalismo e competências
tributárias, uma geografia dos
impostos
Fédéralisme et compétence fiscales des pouvoirs, une géographie des impôts
Federalism and tax powers, a geography of taxes
F G ,R S M D
Résumés
Português Français English
O processo de evolução do federalismo brasileiro (resultado, dentre outros aspectos, dos diferentes
textos constitucionais elaborados e das políticas de arrecadação de impostos) aponta uma das formas
de se compreender a complexidade do território nacional. No país, a arquitetura fiscal do federalismo
se realiza por meio da imposição de normas que geram e regulam tensões entre os entes, sendo que os
mecanismos de distribuição e de redistribuição de recursos entre os entes federados adquirem grande
importância por permitirem uma maior ou menor autonomia na administração pública. Sendo os
entes federados portadores de poder legislativo, estes estão em constante tensão, fato que acarreta,
sempre, na ocorrência de novos arranjos políticos, considerando-se que os orçamentos municipais e
estaduais são limitados (principalmente nos pequenos Municípios e nos Estados mais pobres),
tornando-os dependentes das transferências de outros entes, principalmente da União. A sequência de
mapas que se segue traz um panorama da distribuição e transferências de alguns impostos e fundos na
composição das receitas correntes dos entes que compõem a federação brasileira.
Analyser le processus d'évolution du fédéralisme brésilien(résultat, entre autres choses, des différentes
Constitutions et des politiques de recouvrement des impôts) est une des façons de comprendre la
complexité du territoire national. Dans ce pays, l'architecture fiscale du fédéralisme passe par
l'imposition de règles qui engendrent et régulent des tensions entre les entités, et les mécanismes de
distribution et de redistribution des ressources entre les organismes fédéraux acquièrent donc une
grande importance pour permettre une autonomie plus ou moins grande de l'administration publique.
Comme les organismes fédéraux ont le pouvoir de légiférer, ils sont en constante tension, ce qui
implique toujours l'apparition de nouveaux arrangements politiques, étant donné que les budgets
municipaux et des États sont limités (en particulier pour les petites municipalités et les États les plus
pauvres) ce qui les rend dépendants des transferts en provenance d'autres entités, en particulier de
l'Union. La séquence de cartes qui suit donne un aperçu sur la distribution et le transfert des taxes et
impôts dans la composition des recettes courantes des entités qui composent la fédération brésilienne.
Analysing the evolution process of Brazilian federalism (result, among other things, of different
Constitutions and tax collection policies) is one way to understand the complexity of the national
territory. In this country, the fiscal architecture of federalism requires the imposition of rules that
create and regulate tensions between the entities, and distribution mechanisms and redistribution of
resources between federal agencies therefore become very important to allow more or less autonomy to
public administration. As federal agencies have the power to legislate, they are in constant tension,
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which always implies the emergence of new political arrangements, given that municipal and State
budgets are limited (especially for small municipalities and poor States) which makes them dependent
on transfers from other entities, in particular of the Union. The following sequence of maps outlines
the distribution and transfer of taxes in the composition of current revenues of the entities that make
up the Brazilian federation.
Entrées d’index
Index de mots-clés : fédération brésilienne, transferts fiscaux, inégalités socio-spatiales, territoire
national
Index by keywords : Brazilian federation, fiscal transfers, socio-spatial inequalities, national territory
Índice de palavras-chaves : federação brasileira, transferências tributárias, desigualdade
sócioespacial, território nacional.
Texte intégral
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Crédits : Hervé Théry 2009
1 No Texto Constitucional brasileiro de 19881, em seu artigo 18 pode ser lido que “a
organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos [...]”. Partindo da premissa
de que a natureza federativa pressupõe o princípio da isonomia entre seus entes, é possível
afirmar que o último texto constitucional brasileiro assegurou municípios uma autonomia
até então nunca experimentada por esses entes subnacionais, tendo em vista a possibilidade
conferida de organizarem suas Leis Orgânicas e de terem competências tributárias
exclusivas.
2 Entender as implicações geográficas da estruturação do Estado no Brasil confirma a
importância que Sanguin (1977, p. 85) destina à geografia política quando aponta que a
relevância das mudanças administrativas no centro de um Estado nacional não deve ser
perdida de vista, sobretudo na medida em que a divisão do poder político-administrativo
geraria consequências que são, também, territoriais.
3 É no ponto que diz respeito às competências tributárias que chamamos atenção neste
trabalho. Muito autores assinalam o Texto de 1988 como o mais completo no que tange à
disciplina das regras tributárias na federação brasileira e que, conforme Oliveira (1995, p.
119), trouxe um importante ganho para o federalismo brasileiro: “é o que proíbe a União de
instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios’”. Com essa proibição da invasão das áreas de competência, retirou-se um
mecanismo do autoritarismo do período militar brasileiro (ditadura que vigorou de 1964 a
1985) e retribuiu às esferas subnacionais maior autonomia na administração de seus
tributos.
4 Desta forma, a Constituição Federal de 1988 assegurou uma maior autonomia tributária
aos entes e inseriu um aprimoramento nos mecanismos de transferências
intergovernamentais (através do predomínio de regras e metodologias de arrecadação e
distribuição definidas constitucionalmente e legalmente), sendo que esta peculiaridade
permitiu e garantiu à União, aos Estados e Distrito Federal e aos Municípios maior
previsibilidade e estabilidade dos fluxos de recursos (Autor).
5 Assim, o texto da Constituição de 1988 confirma a consolidação da tendência à
descentralização fiscal que surgiu em fins da década de 1970, como resposta à excessiva
concentração de recursos fiscais na esfera federal, no entanto as crises econômicas que se
desenvolveram no final da década de 1970 e que se prolongaram nos anos 1980 levaram a
economia brasileira a um processo de desequilíbrio fiscal. Tal fato, conforme a análise de
Leite (2005) fez com que os governantes, para obter financiamentos, recorressem a diversos
mecanismos estatais, tais como: emissão de títulos, de Antecipações de Receitas
Orçamentárias (ARO‘s), de precatórios etc., ou seja, o que se tinha era um conjunto de
mecanismos estatais de socorro monetário e financeiro que, por fim, incentivavam os
governantes a realizarem essas práticas à vontade. Desta forma, os prefeitos e governadores
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Imposto sobre
importação; Imposto sobre a
Imposto sobre propriedade predial e
Imposto sobre transmissão de
exportação; territorial urbana;
propriedade “causa
Imposto de renda; mortis”; Imposto sobre serviços
de qualquer natureza;
Imposto sobre produtos Imposto sobre
industrializados; circulação de Imposto sobre
mercadorias e serviços transmissão de
Imposto sobre propriedade imobiliária
operações financeiras; de transporte e
comunicação; “inter vivos”;
Imposto territorial rural3; Imposto sobre vendas a
Imposto sobre
Imposto sobre grandes varejo de combustíveis
propriedade de
fortunas (previsto na líquidos e gasosos
veículos automotores;
Constituição, mas ainda (exceto óleo diesel);
Taxas;
não instituído); Taxas;
Taxas; Contribuições de
melhoria Contribuições de
Contribuições de melhoria
melhoria
Fonte: Autores
9 O texto da Constituição de 1988 também garante que alguns tributos arrecadados
exclusivamente pela União e pelos Estados têm que retornar aos Municípios – integralmente
ou parcialmente (pelo sistema de cotas-parte e devolução tributária), ou seja, a base de
arrecadação pode ser estadual ou federal, todavia, parte desses recursos pertence aos
Municípios (este modelo tributário constitui o “sistema de transferências
intergovernamentais” e é relevante no processo de equalização do federalismo fiscal nacional
e na busca da redução das desigualdades territoriais).
10 Na literatura econômica que trata do federalismo fiscal praticamente há unanimidade na
tese de que em sistemas federalistas a equalização fiscal é o mecanismo que reduz as
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CF art. 212 § 5º e
Cota-parte municipal de 2/3 da
leis nº 9.424/96,
arrecadação da contribuição (distribuído
9.766/98,
Salário-Educação entre Estados e Municípios conforme o
11.457/2007 e
número de matrículas no ensino infantil e
Decreto nº
ensino fundamental I)
6003/2006
Lei nº 9.478/1997
Cota-parte municipal de participação no (alterada pelas
FEP (Fundo Especial de Petróleo) leis nº 9.648/1998
e nº 9.993/2000)
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resultado da exploração de recursos
minerais
Complementação ao FUNDEB –
Distribuição realizada com base no Emenda
haverá o aporte de recursos
número de alunos matriculados no Constitucional nº
federais aos Municípios sem
ensino infantil e fundamental I da 53/2006 e Lei nº
recursos para garantir o valor
educação básica pública 11.494/2007
mínimo nacional por aluno ao ano
Fonte: Autores
15 A estrutura, assim como a legislação que ampara as devoluções tributárias dos Estados
para os Municípios, podem ser apreciadas no quadro 3.
Objeto de Amparo
Origem dos Recursos
transferência legal
Cota-parte de 25% dentro dos 10% do IPI distribuído pela União CF art. 159,
IPI-
entre os Estados proporcionalmente ao valor das respectivas III, § 3º e lei
Exportação
exportações de produtos industrializados nº 61/1989
CIDE – Cota-parte municipal de 25% (dentro dos 29% do que é arrecadado CF art. 159,
Combustíveis pela União e que é distribuído entre os Estados) III, § 4º
Fonte: Autores
"um elemento chave na arena política nacional, produto de acordos que vão além,
frequentemente, dos aspectos legais. Assim, é importante mapear e compreender
essa distribuição dos recursos como um componente do poder".
Figura 1 - Distribuição do FPM, ITR, ICMS e IPVA na composição das receitas correntes dos
Municípios brasileiros
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27 Analisar as finanças dos municípios é uma maneira de medir sua independência. O que,
infelizmente, não é verificada para a maioria dos municípios brasileiros: eles dependem do
recebimento de recursos federais para o seu desenvolvimento, ou mesmo, sua sobrevivência.
Vale explicitar de onde vêm estes recursos.
28 Somando todos os recursos enviados aos Estados, a figura 4 destaca as maiores
transferências para São Paulo e Bahia, os outros Estados recebem entre R$ 1,2 bilhões e R$
2,5 bilhões. Quando se faz a relação per capita, são os Estados criados por último (Amapá,
Acre, Roraima e Tocantins) os beneficiados, contrariamente aos estados do Centro Sul, que
recebem os menores valores per capita. Ainda pode-se perceber na mesma figura que em
relação aos royalties do petróleo, Amazonas, Rio Grande do Norte, Bahia e Espírito Santo
são os Estados que se destacam pelos maiores valores recebidos. Já a espacialização da
compensação da isenção do ICMS aos Estados exportadores também tem uma expressão
espacial estrita, que exclui os Estados nordestinos e do oeste da Amazônia. Os valores
absolutos atingem apenas 10% da totalidade das transferências. Contudo, a mais desigual
das transferências é a compensação financeira pela exploração de recursos minerais:
somente os Estados do Pará e Minas Gerais têm um retorno da União, e reclamam da
insuficiência das transferências.
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Notes
1 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm acesso em 15
de novembro de 2015.
2 LRF - Lei de Responsabilidade Fiscal: Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.
3 Segundo a Lei nº 11.250, de 27 de dezembro de 2005, a União, por intermédio da Secretaria da
Receita Federal do Brasil - RFB, sem prejuízo da sua competência supletiva, poderá celebrar convênios
com o Distrito Federal e os Municípios que assim optarem, para delegação das atribuições de
fiscalização, inclusive a de lançamento dos créditos tributários, e de cobrança do ITR.
4 Cossío (1998), Mendes et al. (2008), Prado et al. (2003), Prado (2003), Rezende (1995), Affonso
(2003), Musgrave e Musgrave (1980, 1995), Oates (1972, 1999), Varsano (1996) entre outros.
Titre Figura 1 - Distribuição do FPM, ITR, ICMS e IPVA na composição das receitas
correntes dos Municípios brasileiros
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Titre Figura 2 - Distribuição das receitas predominantes nos Municípios brasileiros
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Auteurs
Fabricio Gallo
Professor no DEPLAN/IGCE/UNESP - Câmpus de Rio Claro, fgallo@rc.unesp.br
René Somain
Géographe, rene.somain@yahoo.com.br
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Paru dans Confins, 4 | 2008
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