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5/8/2018 Federalismo e competências tributárias, uma geografia dos impostos

Confins
Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia

32 | 2017 :
Número 32

Federalismo e competências
tributárias, uma geografia dos
impostos
Fédéralisme et compétence fiscales des pouvoirs, une géographie des impôts
Federalism and tax powers, a geography of taxes

F G ,R S M D

Résumés
Português Français English
O processo de evolução do federalismo brasileiro (resultado, dentre outros aspectos, dos diferentes
textos constitucionais elaborados e das políticas de arrecadação de impostos) aponta uma das formas
de se compreender a complexidade do território nacional. No país, a arquitetura fiscal do federalismo
se realiza por meio da imposição de normas que geram e regulam tensões entre os entes, sendo que os
mecanismos de distribuição e de redistribuição de recursos entre os entes federados adquirem grande
importância por permitirem uma maior ou menor autonomia na administração pública. Sendo os
entes federados portadores de poder legislativo, estes estão em constante tensão, fato que acarreta,
sempre, na ocorrência de novos arranjos políticos, considerando-se que os orçamentos municipais e
estaduais são limitados (principalmente nos pequenos Municípios e nos Estados mais pobres),
tornando-os dependentes das transferências de outros entes, principalmente da União. A sequência de
mapas que se segue traz um panorama da distribuição e transferências de alguns impostos e fundos na
composição das receitas correntes dos entes que compõem a federação brasileira.

Analyser le processus d'évolution du fédéralisme brésilien(résultat, entre autres choses, des différentes
Constitutions et des politiques de recouvrement des impôts) est une des façons de comprendre la
complexité du territoire national. Dans ce pays, l'architecture fiscale du fédéralisme passe par
l'imposition de règles qui engendrent et régulent des tensions entre les entités, et les mécanismes de
distribution et de redistribution des ressources entre les organismes fédéraux acquièrent donc une
grande importance pour permettre une autonomie plus ou moins grande de l'administration publique.
Comme les organismes fédéraux ont le pouvoir de légiférer, ils sont en constante tension, ce qui
implique toujours l'apparition de nouveaux arrangements politiques, étant donné que les budgets
municipaux et des États sont limités (en particulier pour les petites municipalités et les États les plus
pauvres) ce qui les rend dépendants des transferts en provenance d'autres entités, en particulier de
l'Union. La séquence de cartes qui suit donne un aperçu sur la distribution et le transfert des taxes et
impôts dans la composition des recettes courantes des entités qui composent la fédération brésilienne.

Analysing the evolution process of Brazilian federalism (result, among other things, of different
Constitutions and tax collection policies) is one way to understand the complexity of the national
territory. In this country, the fiscal architecture of federalism requires the imposition of rules that
create and regulate tensions between the entities, and distribution mechanisms and redistribution of
resources between federal agencies therefore become very important to allow more or less autonomy to
public administration. As federal agencies have the power to legislate, they are in constant tension,

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which always implies the emergence of new political arrangements, given that municipal and State
budgets are limited (especially for small municipalities and poor States) which makes them dependent
on transfers from other entities, in particular of the Union. The following sequence of maps outlines
the distribution and transfer of taxes in the composition of current revenues of the entities that make
up the Brazilian federation.

Entrées d’index
Index de mots-clés : fédération brésilienne, transferts fiscaux, inégalités socio-spatiales, territoire
national
Index by keywords : Brazilian federation, fiscal transfers, socio-spatial inequalities, national territory
Índice de palavras-chaves : federação brasileira, transferências tributárias, desigualdade
sócioespacial, território nacional.

Texte intégral

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Crédits : Hervé Théry 2009
1 No Texto Constitucional brasileiro de 19881, em seu artigo 18 pode ser lido que “a
organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos [...]”. Partindo da premissa
de que a natureza federativa pressupõe o princípio da isonomia entre seus entes, é possível
afirmar que o último texto constitucional brasileiro assegurou municípios uma autonomia
até então nunca experimentada por esses entes subnacionais, tendo em vista a possibilidade
conferida de organizarem suas Leis Orgânicas e de terem competências tributárias
exclusivas.
2 Entender as implicações geográficas da estruturação do Estado no Brasil confirma a
importância que Sanguin (1977, p. 85) destina à geografia política quando aponta que a
relevância das mudanças administrativas no centro de um Estado nacional não deve ser
perdida de vista, sobretudo na medida em que a divisão do poder político-administrativo
geraria consequências que são, também, territoriais.
3 É no ponto que diz respeito às competências tributárias que chamamos atenção neste
trabalho. Muito autores assinalam o Texto de 1988 como o mais completo no que tange à
disciplina das regras tributárias na federação brasileira e que, conforme Oliveira (1995, p.
119), trouxe um importante ganho para o federalismo brasileiro: “é o que proíbe a União de
instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios’”. Com essa proibição da invasão das áreas de competência, retirou-se um
mecanismo do autoritarismo do período militar brasileiro (ditadura que vigorou de 1964 a
1985) e retribuiu às esferas subnacionais maior autonomia na administração de seus
tributos.
4 Desta forma, a Constituição Federal de 1988 assegurou uma maior autonomia tributária
aos entes e inseriu um aprimoramento nos mecanismos de transferências
intergovernamentais (através do predomínio de regras e metodologias de arrecadação e
distribuição definidas constitucionalmente e legalmente), sendo que esta peculiaridade
permitiu e garantiu à União, aos Estados e Distrito Federal e aos Municípios maior
previsibilidade e estabilidade dos fluxos de recursos (Autor).
5 Assim, o texto da Constituição de 1988 confirma a consolidação da tendência à
descentralização fiscal que surgiu em fins da década de 1970, como resposta à excessiva
concentração de recursos fiscais na esfera federal, no entanto as crises econômicas que se
desenvolveram no final da década de 1970 e que se prolongaram nos anos 1980 levaram a
economia brasileira a um processo de desequilíbrio fiscal. Tal fato, conforme a análise de
Leite (2005) fez com que os governantes, para obter financiamentos, recorressem a diversos
mecanismos estatais, tais como: emissão de títulos, de Antecipações de Receitas
Orçamentárias (ARO‘s), de precatórios etc., ou seja, o que se tinha era um conjunto de
mecanismos estatais de socorro monetário e financeiro que, por fim, incentivavam os
governantes a realizarem essas práticas à vontade. Desta forma, os prefeitos e governadores
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podiam se financiar sem a preocupação com a sustentabilidade temporal daquele


endividamento.
6 No entanto, a estabilidade econômica alcançada a partir de meados da década de 1990
expôs as más administrações públicas dos entes da federação, ao mesmo tempo que a
política macroeconômica de juros altos da União levou os entes subnacionais que haviam
contraído dívidas a uma situação significativamente difícil. Assim, Estados e Municípios
tiveram de aceitar a renegociação de suas dívidas com a União, por meio do Programa de
Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal (PAF), o que comprometeu boa parte de suas
receitas. Assim, é possível afirmar que esse engessamento dos orçamentos subnacionais foi,
em verdade, planejado pela esfera federal para limitar o poder de ação dos outros entes
(Autor). Tanto o é, que à negociação das dívidas estaduais seguiu-se a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF)2, proposta pelo Executivo Federal em 1999 e votada pelo
Congresso em 2000.
7 Alencar e Gobetti (2008, p. 8) sugerem que do ponto de vista técnico e institucional, o
bom funcionamento de um regime fiscal federativo dependeria da resolução de quatro
problemas básicos: a) estrutura de competências tributárias – quem arrecada e legisla sobre
os impostos; b) sistema de partilha de recursos – como a carga tributária é distribuída entre
os níveis de governo por meio de transferências intergovernamentais; c) mecanismos de
equalização – como a Federação atua para reduzir as disparidades em capacidade de gasto
fiscal entre governos; d) capacidade de indução e articulação – como a Federação reserva ao
governo central algum poder de orientar a atuação dos governos subnacionais. Por isso, na
análise de Prado et al. (2003) os autores apontam que ao se considerar a existência de vários
níveis de governo em países de organização política federativa, um sistema de gestão fiscal
eficiente deve atender algumas exigências, dentre as quais: a) estruturar um sistema de
competências tributárias; b) formatar um sistema de transferências intergovernamentais e
c) atribuir, de forma equilibrada, os encargos entre os níveis de governo.
8 O quadro 1 apresenta como está estruturada a competência de arrecadação de tributos no
Brasil, vigente desde a promulgação da Constituição Federal de 1988.

Quadro 1 Brasil: competência de arrecadação de tributos na Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988

União Estados Municípios

Imposto sobre
importação; Imposto sobre a
Imposto sobre propriedade predial e
Imposto sobre transmissão de
exportação; territorial urbana;
propriedade “causa
Imposto de renda; mortis”; Imposto sobre serviços
de qualquer natureza;
Imposto sobre produtos Imposto sobre
industrializados; circulação de Imposto sobre
mercadorias e serviços transmissão de
Imposto sobre propriedade imobiliária
operações financeiras; de transporte e
comunicação; “inter vivos”;
Imposto territorial rural3; Imposto sobre vendas a
Imposto sobre
Imposto sobre grandes varejo de combustíveis
propriedade de
fortunas (previsto na líquidos e gasosos
veículos automotores;
Constituição, mas ainda (exceto óleo diesel);
Taxas;
não instituído); Taxas;
Taxas; Contribuições de
melhoria Contribuições de
Contribuições de melhoria
melhoria

Fonte: Autores
9 O texto da Constituição de 1988 também garante que alguns tributos arrecadados
exclusivamente pela União e pelos Estados têm que retornar aos Municípios – integralmente
ou parcialmente (pelo sistema de cotas-parte e devolução tributária), ou seja, a base de
arrecadação pode ser estadual ou federal, todavia, parte desses recursos pertence aos
Municípios (este modelo tributário constitui o “sistema de transferências
intergovernamentais” e é relevante no processo de equalização do federalismo fiscal nacional
e na busca da redução das desigualdades territoriais).
10 Na literatura econômica que trata do federalismo fiscal praticamente há unanimidade na
tese de que em sistemas federalistas a equalização fiscal é o mecanismo que reduz as

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desigualdades regionais4.Tenta-se atingir tal objetivo mediante transferências de recursos


de uma esfera de governo para outra (transferências verticais) ou entre unidades de governo
semelhantes (transferências horizontais) e, para isso, são utilizadas nessa política a partilha
de impostos e as transferências gerais ou incondicionais.
11 No Brasil, depois de 1988 os debates sobre a equalização fiscal no federalismo nacional
ganharam mais corpo e as discussões acerca da temática “transferências
intergovernamentais” passam a se destacar e avolumar. Desta forma, torna-se relevante
verificar como a Controladoria-Geral da União (CGU) – órgão legal que regula e coordena o
sistema de transferências – define tais mecanismos. Assim, a CGU (2005) denomina a atual
estrutura brasileira de transferências intergovernamentais de recursos como:
12 a) Transferências Constitucionais e Legais: previstas na Constituição Federal e em leis
específicas, são transferências de parcelas das receitas arrecadadas pela União que devem
ser repassadas aos governos subnacionais, e de parcelas de receitas estaduais que devem ser
repassadas aos Municípios. A Constituição Federal e as leis determinam a forma de
transferência, a aplicação dos recursos e como deverá ocorrer a respectiva prestação de
contas;
13 b) Transferências Voluntárias: são os recursos financeiros repassados pela União aos
Estados e Municípios em decorrência da celebração de Convênios, acordos, ajustes ou outros
instrumentos similares e que não decorram de determinação constitucional ou legal. São
consideradas transferências voluntárias: i) os Convênios: mecanismos que disciplinam a
transferência de recursos públicos e tem como partícipe o órgão da administração pública
federal direta, visando à execução de programas de trabalho, projeto, atividade ou evento de
interesse recíproco com duração certa, em regime de mútua cooperação, ou seja, com
contrapartida do município, sendo ele também responsável pela aplicação e pela fiscalização
dos recursos e; ii) Contratos de Repasse: instrumentos utilizados para repasse de recursos
da União para Estados, Distrito Federal e Municípios, por intermédio de instituições ou
agências financeiras oficiais federais (Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil etc.),
destinados à execução de programas governamentais.
14 O próximo quadro (2) indica as transferências constitucionais e legais previstas pela
União aos Municípios brasileiros.

Quadro 2 - Transferências Constitucionais e Legais da União para os Municípios

Objeto de transferência Origem dos Recursos Amparo legal

Cota-parte de 70% do IOF sobre o ouro


IOF-Ouro (quando definido como ativo financeiro Lei nº 7.766/1989
ou instrumento cambial)

Cota-parte de 50% ou 100% do Imposto


ITR CF art. 158, II.
Territorial Rural

Imposto de Renda retido na fonte


100% do retido na fonte CF art. 158, I.
(servidor público municipal)

CF art. 212 § 5º e
Cota-parte municipal de 2/3 da
leis nº 9.424/96,
arrecadação da contribuição (distribuído
9.766/98,
Salário-Educação entre Estados e Municípios conforme o
11.457/2007 e
número de matrículas no ensino infantil e
Decreto nº
ensino fundamental I)
6003/2006

Royalties Lei nº 9.478/1997


Cota-parte municipal na participação da
(Compensações financeiras pela (alterada pelas
exploração, embarque e desembarque
exploração de recursos naturais) leis nº 9.648/1998
de petróleo e derivados
e nº 9.993/2000)

Lei nº 9.478/1997
Cota-parte municipal de participação no (alterada pelas
FEP (Fundo Especial de Petróleo) leis nº 9.648/1998
e nº 9.993/2000)

Cota-parte municipal de participação no


resultado da produção de energia Lei 8.001/1990
elétrica

Cota-parte municipal de participação no Lei 8.001/1990

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resultado da exploração de recursos
minerais

Cota-parte de 25% do destinado pela


FEx – Fomento para exportações União como auxílio para fomento às Lei nº 11.131/2005
exportações

Cota-parte municipal de 25% do que o


Compensação da isenção do ICMS Leis nº 87/1996 e
estado deixou de arrecadar no município
aos Estados exportadores nº 115/2003
por isentar os exportadores

Cota-parte municipal do FPM


CF art. 159, I, b) e
FPM (composto por 23,5% da arrecadação d)
líquida – da União – de IR + IPI)

Complementação ao FUNDEB –
Distribuição realizada com base no Emenda
haverá o aporte de recursos
número de alunos matriculados no Constitucional nº
federais aos Municípios sem
ensino infantil e fundamental I da 53/2006 e Lei nº
recursos para garantir o valor
educação básica pública 11.494/2007
mínimo nacional por aluno ao ano

Fonte: Autores
15 A estrutura, assim como a legislação que ampara as devoluções tributárias dos Estados
para os Municípios, podem ser apreciadas no quadro 3.

Quadro 3 - Transferências Constitucionais e Legais (devolução tributária) dos Estados para os


Municípios

Objeto de Amparo
Origem dos Recursos
transferência legal

Cota-parte de 25% dentro dos 10% do IPI distribuído pela União CF art. 159,
IPI-
entre os Estados proporcionalmente ao valor das respectivas III, § 3º e lei
Exportação
exportações de produtos industrializados nº 61/1989

Cota-parte de 50% do Imposto sobre propriedade de veículos CF, art. 158,


IPVA
automotores III

Cota-parte de 25% da arrecadação do Imposto sobre circulação de CF, art. 158,


ICMS
mercadorias e serviços IV

CIDE – Cota-parte municipal de 25% (dentro dos 29% do que é arrecadado CF art. 159,
Combustíveis pela União e que é distribuído entre os Estados) III, § 4º

Fonte: Autores

16 Na concepção de Arrais (2008, p. 215) as transferências de recursos (tanto federais quanto


estaduais) pode ser consideradas

"um elemento chave na arena política nacional, produto de acordos que vão além,
frequentemente, dos aspectos legais. Assim, é importante mapear e compreender
essa distribuição dos recursos como um componente do poder".

17 Apesar de sua análise empírica enfocar as transferências de recursos às municipalidades


do estado de Goiás, Arrais (2008, p. 216) chama atenção para o fato de que o debate acerca
das transferências é, antes de mais nada, federativo, pois seria preciso compreender quais
são os limites, dentro da federação brasileira, da ação municipal. Isso se torna relevante pelo
fato de a escala municipal ser, por excelência, o foco das demandas por infraestrutura, servi-
ços públicos e investimento de diversas ordens.
18 Por não possuírem um dinamismo econômico acentuado, os Municípios com pequena
base de geração de tributos próprios (baixos IPTU e ISSQN) e pequena devolução tributária
estadual (do IPVA e do ICMS), têm orçamento municipal pouco significativo para o custeio
administrativo e, principalmente, para investimentos infraestruturais. Desta forma, cresce
atualmente a importância das transferências de recursos (de todas as naturezas) entre os
entes federados, especialmente para os pequenos Municípios.
19 A figura 1 nos traz o panorama da distribuição de alguns tributos (FPM, ITR, ICMS e
IPVA) na composição das receitas correntes dos Municípios brasileiros.

Figura 1 - Distribuição do FPM, ITR, ICMS e IPVA na composição das receitas correntes dos
Municípios brasileiros

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20 No que diz respeito à porcentagem do FPM na composição da receita corrente municipal


fica evidente a maior relevância dos Municípios localizados numa grande mancha que
engloba os Estados da região Nordeste do Brasil, e os Estados de Tocantins e Minas Gerais.
Esta característica – dependência excessiva do FPM – aponta a baixa capacidade de geração
própria de recursos, assim como uma baixa participação na partilha do ICMS. Tal
perspectiva anuncia uma significativa dependência dos repasses oriundos da União.
21 Já a porcentagem do ITR na composição das receitas correntes municipais mostra uma
participação nos Municípios localizados nas áreas de desenvolvimento da pecuária extensiva
e da agricultura de commodities, isto é expansão da agricultura de exportação de soja, milho,
cana-de-açúcar, algodão e café (são as áreas localizadas na região Centro-Oeste, cerrados
nordestinos, porção oeste de Minas Gerais e interior dos Estados de São Paulo, Paraná e Rio
Grande do Sul).
22 Quando a referência é a participação do ICMS chama atenção a baixa participação deste
imposto na composição das contas públicas nos Municípios nordestinos. Como os
Municípios recebem uma cota do tributo arrecadado pelo estado, há que se considerar que i)
a maior parte deste tributo não fica com o ente municipal e ii) parte significativa da
atividade industrial e produtiva, se localiza nas capitais dos Estados do Nordeste, assim os
Municípios interioranos têm baixa participação na repartição deste tributo.
23 Ao observarmos a porcentagem do IPVA na composição das receitas correntes nota-se a
concentração em partes das regiões Sul e Sudeste, mas fica clara a grande participação deste
tributo nas contas públicas dos Municípios paulistas – sobretudo na grande mancha que
envolve as Regiões Metropolitanas de São Paulo e de Campinas até Ribeirão Preto –, ou seja,
onde há maior densidade demográfica e, consequentemente, grande concentração de
veículos.
24 A figura 2 nos apresenta, no âmbito das receitas correntes municipais, a distribuição das
receitas predominantes nos Municípios brasileiros.

Figura 2 - Distribuição das receitas predominantes nos Municípios brasileiros

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25 Pode-se notar uma concentração regionalizada de alguns grupos de receitas: i) o Fundo de


Participação dos Municípios (FPM) é a receita predominante em significativa parte dos
Municípios da região Nordeste. Tal fato aponta a dependência desses Municípios de repasses
que têm origem na escala federal dado o baixo dinamismo econômico em seus territórios
que, consequentemente, gera pouca devolução tributária do ICMS e baixo ISSQN; ii) no
estado de São Paulo, a mancha formada pela porção com maior densidade técnica do
território nacional (mancha que abrange a capital paulista, a região de Campinas até
Ribeirão Preto) se destaca pela significativa participação do IPTU, ITBI e ISSQN nas receitas
municipais. Isso se deve ao dinamismo econômico desta porção do estado, associado ao
grande número de construções (que viabilizam a arrecadação do IPTU e ITBI); iii) os
Municípios da região central do Brasil se destacam pela participação predominante do ITR,
ITBI e ICMS em suas receitas orçamentárias.
26 Acerca das transferências realizadas pelos Estados aos municípios, pode-se dizer que
todos os Estados brasileiros realizam tais transferências (conforme pode ser notado na
figura 3), porém com um grande diferencial de valor absoluto e também em termos
percentuais. Estas transferências representam até 14% das suas receitas orçamentárias, e
três Estados apresentam os maiores valores absolutos e percentuais em relação ao restante
do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Espirito Santo. Nos outros Estados tais transferências
são bem menos importantes.

Figura 3 – Transferências dos Estados aos Municípios

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27 Analisar as finanças dos municípios é uma maneira de medir sua independência. O que,
infelizmente, não é verificada para a maioria dos municípios brasileiros: eles dependem do
recebimento de recursos federais para o seu desenvolvimento, ou mesmo, sua sobrevivência.
Vale explicitar de onde vêm estes recursos.
28 Somando todos os recursos enviados aos Estados, a figura 4 destaca as maiores
transferências para São Paulo e Bahia, os outros Estados recebem entre R$ 1,2 bilhões e R$
2,5 bilhões. Quando se faz a relação per capita, são os Estados criados por último (Amapá,
Acre, Roraima e Tocantins) os beneficiados, contrariamente aos estados do Centro Sul, que
recebem os menores valores per capita. Ainda pode-se perceber na mesma figura que em
relação aos royalties do petróleo, Amazonas, Rio Grande do Norte, Bahia e Espírito Santo
são os Estados que se destacam pelos maiores valores recebidos. Já a espacialização da
compensação da isenção do ICMS aos Estados exportadores também tem uma expressão
espacial estrita, que exclui os Estados nordestinos e do oeste da Amazônia. Os valores
absolutos atingem apenas 10% da totalidade das transferências. Contudo, a mais desigual
das transferências é a compensação financeira pela exploração de recursos minerais:
somente os Estados do Pará e Minas Gerais têm um retorno da União, e reclamam da
insuficiência das transferências.

Figura 4 – Algumas transferências federais aos Municípios brasileiros

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29 O segundo tipo de transferências federais analisado são aquelas pertinentes à educação. O


responsável pela execução das políticas públicas educacionais é o FNDE – Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação, cujo principal objetivo é a educação de qualidade para
todos. Os mecanismos foram criados por meio de Emendas Constitucionais, já que é
também a Constituição quem determina os percentuais mínimos de investimento no setor. O
FNDE redistribui os recursos constitucionais, automáticos e voluntários, por meio de
convênios com todos os Estados e municípios. Neste sentido, as transferências envolvem o
Fundeb, PNAE (Programa de Alimentação Escolar) e salário educação e o Fundeb permite
unir recursos oriundos de vários impostos que contribuem para compor a arrecadação total
do Fundo, sendo os mais conhecidos o FPE, FPM, ICMS, IPI, IPVA e ITR. Estes recursos são
a soma das verbas federais e dos recursos tanto Estados como Municípios. São distribuídos
desde creches à pré-escola, educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio até Educação de
Jovens e Adultos. Criado em 2007 (Emenda Constitucional 53) está programado para se
estender até 2020, substituiu o Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério - Emenda Constitucional n° 14 e
disponível por 10 anos, entre 1996 e 2006) e objetiva garantir o investimento mínimo para
cada aluno, parametrado por um fator de ponderação de acordo com o nível e a modalidade
de ensino. Assim, a distribuição leva em conta o tamanho das redes de ensino e a demanda
dos alunos. Do ponto de vista orçamentário, o Fundeb é composto por 27 fundos – um para
cada Estado e o Distrito federal, cada ente federado deve depositar 20% dessa arrecadação
em uma conta especifica do fundo e o complemento que a União faz é somente se não se
atingiu o valor mínimo para cada estudante. O número de alunos pode ser ampliado, assim
como o montante de recursos e sua abrangência.
30 Portanto, mesmo sendo um dos ordenamentos mais democrático por atingir todos os
municípios e Estados, ao ponderar pela população estudantil, refletira o peso dos mesmos
em relação aos seus vizinhos. A figura 5, feita com a técnica de anamorfose, mostra que os
Estados mais “inchados” são aqueles que recebem parcelas maiores de recursos e estão no
Nordeste e no Sul e, quando estes valores são divididos por aluno, sobressaem os Estados de
Amapá e Roraima.

Figura 5 – Transferências federais pertinentes à educação

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Bibliographie
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PRADO, Sérgio Roberto Rios do. Distribuição intergovernamental de recursos na federação brasileira.
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Collection dirigée par Pierre George.
THÉRY, Hervé ; DE MELLO, Neli. Atlas do Brasil: Disparidades e dinâmicas do território.
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VARSANO, Ricardo. A evolução do sistema tributário brasileiro ao longo do século: anotações e
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Notes
1 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm acesso em 15
de novembro de 2015.
2 LRF - Lei de Responsabilidade Fiscal: Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.
3 Segundo a Lei nº 11.250, de 27 de dezembro de 2005, a União, por intermédio da Secretaria da
Receita Federal do Brasil - RFB, sem prejuízo da sua competência supletiva, poderá celebrar convênios
com o Distrito Federal e os Municípios que assim optarem, para delegação das atribuições de
fiscalização, inclusive a de lançamento dos créditos tributários, e de cobrança do ITR.
4 Cossío (1998), Mendes et al. (2008), Prado et al. (2003), Prado (2003), Rezende (1995), Affonso
(2003), Musgrave e Musgrave (1980, 1995), Oates (1972, 1999), Varsano (1996) entre outros.

Table des illustrations

Titre Figura 1 - Distribuição do FPM, ITR, ICMS e IPVA na composição das receitas
correntes dos Municípios brasileiros
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Titre Figura 2 - Distribuição das receitas predominantes nos Municípios brasileiros

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5/8/2018 Federalismo e competências tributárias, uma geografia dos impostos

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Titre Figura 3 – Transferências dos Estados aos Municípios


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Titre Figura 4 – Algumas transferências federais aos Municípios brasileiros


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Titre Figura 5 – Transferências federais pertinentes à educação


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Pour citer cet article


Référence électronique
Fabricio Gallo, René Somain et Martine Droulers, « Federalismo e competências tributárias, uma
geografia dos impostos », Confins [En ligne], 32 | 2017, mis en ligne le 21 septembre 2017, consulté
le 08 mai 2018. URL : http://journals.openedition.org/confins/12227 ; DOI : 10.4000/confins.12227

Auteurs
Fabricio Gallo
Professor no DEPLAN/IGCE/UNESP - Câmpus de Rio Claro, fgallo@rc.unesp.br

René Somain
Géographe, rene.somain@yahoo.com.br

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Martine Droulers
Géographe. Directrice de recherche émérite au CNRS, martine.droulers@gmail.com

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https://journals.openedition.org/confins/12227#text 12/13
5/8/2018 Federalismo e competências tributárias, uma geografia dos impostos
Paru dans Confins, 4 | 2008

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