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ENTREVISTA

Como Deus aparece na política e nas preferências do eleitor brasileiro


José Roberto Castro 18 Mar 2018 (atualizado 21/Mar 15h38)

Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2018/03/18/Como-Deus-aparece-na-


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Pesquisa CNI/Ibope mostra que quatro em cada cinco pessoas acha importante que um candidato à
Presidência acredite em Deus

Para presidir a República a partir de 1º de janeiro de 2019, o brasileiro quer um político honesto, corajoso e
que transmita confiança. Mas para quase quatro de cada cinco eleitores, é importante também que o
candidato acredite em Deus. Não precisa ser necessariamente da mesma religião que o eleitor, mas é
importante ter fé.

A conclusão é da pesquisa “Perspectivas para as eleições 2018”, feita pelo Ibope a pedido da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), e divulgada na terça-feira (13). O instituto ouviu 2.000 pessoas, em
127 municípios, no mês de dezembro de 2017.

Quando questionados sobre a importância de o candidato acreditar em Deus, 79% responderam


afirmativamente - 67% concordaram totalmente e 12% concordaram parcialmente.

O percentual é ainda maior em alguns nichos. Aumenta à medida que diminui a escolaridade, a renda e o
tamanho do município. É maior também entre os mais velhos. Não há, porém, grande diferença entre
gêneros.
Quando a pesquisa questionou que características pessoais eram importantes em um candidato à Presidência,
a alternativa menos citada foi "ser da sua religião", com 29%. Os grupos em que a citação foi maior foram
nordestinos (37%), quem estudou até a 4ª série (44%), tem entre 45 e 54 anos (37%) e quem tem renda de
até um salário mínimo (41%).
As características pessoais mais desejadas foram ser honesto (87%), não ter se envolvido em corrupção
(84%) e transmitir confiança (82%). Mas a maioria do eleitorado gosta também de candidatos que falem
bem em público (57%), tenham "uma família bem estruturada" (62%) e sejam "gente como a gente" (72%).

Sobre os resultados da pesquisa, o impacto da fé em Deus e da religiosidade na escolha política e o histórico


do envolvimento das religiões em período eleitoral, o Nexo conversou com Ronaldo Almeida. Ele é
professor de antropologia da Unicamp e estuda religiões.

A pesquisa da CNI mostra que a maioria dos eleitores acha importante que o candidato à Presidência
acredite em Deus (79%). Como interpretar esse dado?

RONALDO ALMEIDA A pesquisa tem um outro dado que precisa ser lido junto com este. Poucas pessoas
acham que os políticos precisam ser da sua religião para votar neles.

Combinados, os dois dados não surpreendem, desde que a gente entenda que há um sentido bastante amplo
de Deus e como os políticos vão valendo-se dele de maneiras diferentes.

Ouço muito, quando eu faço entrevistas, as pessoas dizerem que “não têm religião mas tem fé em Deus”.
“Uma coisa é religião, outra é fé em Deus”. É como se tivéssemos um teísmo cristão de fundo.

Lembremos da votação do impeachment na Câmara dos Deputados [em abril de 2016], foram excessivas as
falas sobre Deus. Em alguma medida os políticos sabem por onde passa o seu eleitorado, não por acaso
foram evocadas as palavras “Deus”, “família” e “nação”.
Agora, mais do que dizer que acredita em Deus, o que não dá é para se declarar ateu, sobretudo em uma
eleição majoritária. Lembremos de Fernando Henrique Cardoso, em 1985, quando concorreu à Prefeitura de
São Paulo. Não dá para afirmar que ele perdeu a eleição por causa disso, mas causou-lhe desgaste. Tanto
que, quando concorreu à Presidência em 1994, ele elaborou um discurso afirmando alguma transcendência,
ele teve que prestar contas.

Vale lembrar também de outros episódios. Marina Silva [candidata à Presidência em 2010 e 2014] foi
acusada de criacionista e deu uma ótima resposta. Ela citou uma pesquisa do Datafolha que dizia que cerca
de 95% dos brasileiros acreditam que Deus criou o mundo. E acrescentou que a crítica estaria certa se ela
falasse em introduzir o criacionismo no ensino público.

Ainda: no último debate do primeiro turno em 2002, Anthony Garotinho [candidato à Presidência],
evangélico, não falou nada de Deus porque sabia que seria criticado. Lula, por sua vez, terminou o debate
agradecendo a São Francisco de Assis e ninguém falou nada no dia seguinte. É como se o catolicismo
fizesse parte da paisagem cultural brasileira. A novidade é que o crescente pluralismo tem como efeito
tornar o catolicismo menos invisível, menos naturalizado.

Na pesquisa, “ser da minha religião” é característica menos citada entre as desejáveis, mas qualidades
morais estão no topo. Acha que o eleitor associa a crença em Deus a essas qualidades?

RONALDO ALMEIDA Volto à votação do impeachment. Não foi à toa que as pessoas recorreram àquilo
que simboliza uma pessoa confiável: ter fé em Deus e ter família. Os políticos sabem com quem estão
falando, conhecem os eleitores, o que vai mobilizá-los. Então Deus, família e nação foi uma âncora moral
contra para neutralizar o clima anti-corrupção.

E como esse campo religioso vem se movimentando?

RONALDO ALMEIDA Há um processo crescente de pluralização em que o campo religioso ficou mais
competitivo. A Igreja Católica, que gozava de uma invisibilidade na cultura brasileira, fica mais visível
quando o contraponto aparece. É um efeito do pluralismo. Mas, diga-se, é um pluralismo
predominantemente cristão - católico e evangélico. A pergunta é como cada um comparece.

Existe uma diversidade no interior do cristianismo. E existe um vetor de segmentos evangélicos que partem
para uma competição mais aguerrida, menos de composição. Isso é uma característica mais recente da
religião na esfera pública.

Está bem desenhado no Congresso, uma postura beligerante de uma bancada, a exemplo da condução que o
evangélico [Eduardo] Cunha teve. Mas é fundamental dizer que os evangélicos que se encontram em casa
são menos conservadores e truculentos do que aqueles que se encontram no Congresso. O meio evangélico é
diverso, embora o conservadorismo seja mais hegemônico.

Há hoje alguma religião que seja protagonista no universo da política? Como isso se traduz
concretamente?

RONALDO ALMEIDA Considero uma cilada falar que os protagonistas são os evangélicos, eles são fáceis
de identificar na política. Estão no Congresso, compõem uma bancada. Agora, eu pergunto por onde passam
os interesses católicos, quais são suas digitais no sistema político?

Eles estão também no Congresso, mas para uma compreensão mais precisa, é necessário direcionar o olhar
para o Judiciário e suas cortes superiores. Veja o que foi a decisão do STF em aceitar o ensino religioso
confessional. Isso foi antes de tudo uma ação da Igreja Católica.

Não é comum encontrarmos evangélicos nessas posições que exigem trajetórias próprias de quem teve
melhores condições de vida, capital social e capital cultural. Como os evangélicos encontram-se
demograficamente nas camadas médias e populares, a ascensão no poder Judiciário é menor. No Legislativo
e no Executivo é diferente porque as eleições permitem furar certas barreiras impostas pelo seu
pertencimento de classe.

É possível vencer uma eleição presidencial hoje sem dialogar diretamente com líderes religiosos, em
especial no setor evangélico, que é mais atuante e engajado?

RONALDO ALMEIDA A aliança dos evangélicos com esses setores de centro e à direita se dá como um
deslizamento mais azeitado, mas há também experiências à esquerda.

Antes de mais nada, o meio evangélico é diverso. Nas últimas eleições, uma parte foi com a Dilma e outra
com o Aécio. Os governos petistas fizeram uma aliança com a Igreja Universal em 2002 que durou até a
poucas semanas do impeachment em 2016. Mas o mais significativo foi a ressonância entre a política
econômica baseada no aumento do consumo das camadas populares e o que a Igreja Universal pregava
como teologia da prosperidade. Eram afinidades que se retroalimentavam.

De qualquer forma, vejo uma dificuldade dos setores à esquerda em lidar com os evangélicos. Na eleição no
Rio de Janeiro de 2016, Freixo e o PSOL cometeram alguns erros. Freixo tentou colocar a pecha de
intolerante em Crivella, mas foi tão incisivo na crítica que acabou o segundo turno parecendo um intolerante
religioso.

A pergunta que a esquerda tem que fazer é como dialogar com essa população, não precisa ser com toda ela,
mas identificar nela segmentos progressistas que estão invisibilizados pela predominância de figuras como
Malafaia, Feliciano ou Macedo. Acho que os setores à esquerda podem equilibrar mais essa balança,
neutralizar o prejuízo.

A religião vai impactar as eleições de 2018? De que forma?

RONALDO ALMEIDA Em relação às eleições majoritárias, sempre quando há um candidato evangélico à


Presidência, a discussão sobre religião fica mais acirrada. Isto ocorreu em 2002 com Garotinho e em 2010 e
2014 com a Marina. Não dá debate só católicos como em 2006. Novamente teremos Marina no páreo pela
terceira vez, mas não sei qual o efeito de acusá-la novamente de religiosa demais.

Acho que devemos ficar de olho nas eleições proporcionais. E uma questão a se pensar é o efeito da
mudança da legislação que torna as campanhas mais baratas. De modo geral, os candidatos oficiais das
igrejas evangélicas precisam de menos dinheiro para se eleger do que a média dos eleitos. Isso porque há
uma base de religiosos que contribuem com votos e militância. É errado dizer que todos os evangélicos
votam em candidatos evangélicos, mas em alguma proporção isso acontece. E não basta que o candidato
declare-se evangélico e que acredita em Deus. É preciso ser um candidato oficial das igrejas. A meu ver,
apenas acreditar em Deus não dá voto, mas dizer o contrário acaba tirando.

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