transdisciplinar da Escola Vila. Fortaleza: Editora da Vila, 2015. Disponível em:<http://www.escolavila.com.br>
A presente obra “Pedagogia ecossistêmica: educação transdisciplinar da Escola Vila”
retrata uma reforma do pensamento a partir do diálogo entre o saber pedagógico, práticas, experiências docentes, gestão democrática e participativa da escola criativa e a educação complexa transdisciplinar. O principal objetivo da Escola Vila é trabalhar com os alunos os Valores Humanos, a Cultura de Paz, a Consciência Ecológica e a Cidadania, tornando-o consciente da responsabilidade de suas atitudes para com o Planeta e comprometido com a busca de alternativas para a melhoria da qualidade da vida na Terra. (p.139)
“A Educação atual permanece intacta no tempo, imobilizada e inerte às mudanças da
contemporaneidade. Para ela, o tempo parou. Mudar exigiria muito desta instituição enraizada ao longo da Modernidade”. (p.29) De certo modo as autoras referem que há algo desequilibrado nas instituições escolares que vão além dos problemas sociais e econômicos. Esse desequilíbrio tem origem em um sistema de pensamentos e comportamentos manifestados no interior e através dos indivíduos. Esse sistema de pensamentos e comportamentos é perpetuado através da formação que os indivíduos recebem, utilizando-se para isso, inclusive, das instituições escolares. Essas instituições, por sua vez, são regidas por uma cultura dominante, “eleita”, e que tem como base, um paradigma. (p.39)
Pensar na educação como forma de controle e utilizar o racionalismo como aparelho
para o livre-arbítrio: Um dos principais problemas paradigmáticos que residem na base do pensamento moderno está na ideia do racionalismo como instrumento para liberdade e, com isso, nasce formas de controle buscando que a razão possa exercer seu papel soberano. Esse controle se dá não apenas em relação aos comportamentos dos indivíduos, mas também nos seus modos de ser, de viver e de pensar. A disciplina, enquanto imposição de normas e de ordem atua diretamente sobre os comportamentos e nas mentalidades dos indivíduos. (p.45)
Eis que surge a transdisciplinaridade que extrapola o domínio das disciplinas,
alcançando as artes, as tradições, as relações sociais, as relações com a natureza e a relação do ser humano consigo próprio. (p.53) Em 1981 foi fundada a Escola Vila na cidade de Fortaleza. Originada a partir da iniciativa de diferentes famílias preocupadas com uma educação mais criativa e integral coordenada pela fundadora, Fátima Limaverde, a Escola Vila assentou sua prática pedagógica em uma Teia Curricular, nos atos de currículo e cenários de aprendizagem inter/transdisciplinares. A metodologia de trabalho da Escola Vila Os alunos da Escola VILA estão sempre organizados em grupos. A disposição das mesas e cadeiras na sala de aula já facilita essa organização e as orientações dos trabalhos desenvolvidos na sala de aula ou nos demais cenários de aprendizagem da escola também têm como foco a aprendizagem colaborativa. A definição dos grupos é semanal e proposta pelo professor da turma. As atividades propostas por ele são desenvolvidas nesses grupos, promovendo um espaço legítimo na sala de aula para o desenvolvimento de importantes habilidades de convivência: respeito e valorização à diversidade de opiniões; espírito de equipe; aprendizagem colaborativa; distribuição de tarefas; autorregulação do grupo; mediação de conflitos. O Currículo Ecossistêmico da Escola Vila é disposto em forma de Teia, facilitando a interligação dos conteúdos com diferentes áreas do conhecimento em contextos de atos do currículo e cenários de aprendizagem. O “pano de fundo” de todos os trabalhos, na Vila, são os projetos que cada turma desenvolve a partir de temáticas comuns a todas elas. Assim, cada turma desenvolve seu projeto a partir das demandas e interesses particulares, mas, ao mesmo tempo, em diálogo com todas as outras turmas que também desenvolvem seus projetos com uma temática comum. Visando oferecer um recurso pedagógico que facilitasse os processos de Trabalho com Projetos Inter/transdisciplinares, foram desenvolvidos diversos materiais didáticos que possuem um caráter aberto, participativo e provocador. Tais materiais são coleções de livros que interligam conhecimentos de diferentes áreas em uma mesma atividade, permitindo ainda a conexão com os contextos dos projetos. O material didático da Escola Vila facilita ainda o trabalho em grupo, pesquisas e a construção ou apropriação dos saberes. A maioria dos cenários de aprendizagem da Escola Vila transcende o espaço físico da sala de aula. Todos os dias os alunos trabalham em pelo menos um laboratório e realizam no mínimo uma aula integrativa. Os laboratórios retomam o sentido original da palavra Laboratorium, do latim, que significa “lugar de trabalho”. Os oito laboratórios da Escola Vila são cenários de aprendizagem, onde os professores e os alunos trabalham juntos, com um objetivo comum, envolvendo conhecimentos de diferentes áreas. São eles: Horta, Farmácia Viva, Pomar, Jardim, Fauna, Manutenção, Tecnologias Alternativas e Saúde e Alimentação. Todos esses ambientes são organizados de forma a conter ferramentas, utensílios e outros instrumentos que permitem a exploração e elaboração de produtos do trabalho. Durante o desenvolvimento dessas atividades práticas nos laboratórios são realizadas, também, pesquisas que visam complementar os saberes necessários à sua execução, permitindo aí um espaço não somente da aplicação dos conteúdos disciplinares, mas também de interligação desses conteúdos com os desejos dos atores, alunos e professores, com os contextos culturais e as questões sociais e ambientais do entorno. As aulas integrativas diárias, por sua vez, legitimam um espaço exclusivamente voltado à expressão criativa, ao autoconhecimento e desenvolvimento de habilidades manuais. As Aulas Integrativas também possuem espaços próprios como o Ateliê de Artes, Ateliê de Artesanato, Estúdio de Música, Salão de Teatro e de Corpo. Professores específicos dessas áreas trabalham orientando as atividades desenvolvidas nesses cenários de aprendizagem. Outro ponto chave dentro do esquema curricular da escola é a formação dos professores. Os professores da Escola Vila participam de uma formação continuada que envolve um sistema intensivo de oficinas, três semanas no ano, além de um sábado por mês e encontros quinzenais de planejamento e avaliação de projetos. A formação continuada é essencial para que os professores se empoderem de uma prática pedagógica significativa tanto para os alunos quanto os próprios docentes. Além disso, devido às particularidades da Pedagogia Ecossistêmica da Escola Vila, com trabalhos em grupos, projetos inter/transdisciplinares e diferentes cenários de aprendizagem, sem uma formação substancial não seria possível a plena execução de todas as atividades. O trabalho da Escola Vila é foco de estudo e pesquisas de diferentes universidades do Brasil e outros países. O alcance de sua prática pedagógica, para além da formação significativa e cidadã dos alunos, mobiliza mudança de atitudes e condutas na vida de professores e familiares dos alunos. A Escola Vila tem como slogan uma frase que pode traduzir um dos principais objetivos de sua ação pedagógica e que vem se efetivando durante as mais de três décadas de trabalho: “Construindo um Mundo Melhor.” Deste modo observamos que a preocupação com a educação tem mobilizado pesquisadores, professores, os quais vêm procurando fundamentar e intervir nessas práticas educativas. As propostas citadas pela autora refletem atuações (práticas educativas) baseadas nas necessidades psicológicas dos alunos ou em suas necessidades e problemas ambientais, comunitários e sociais. Quando discutidos em sala de aula, notamos que para que estas propostas sejam implantadas é necessário que haja um compromisso maior dos educadores envolvidos no processo. Bem como não podemos nos esquecer que a família tem um papel importante neste movimento. Também notamos que há necessidade de autonomia do professor que na maioria das vezes não tem devido há vários fatores intervenientes como a própria gestão escolar enraizada nos modelos tradicionais. A trajetória inovadora da Escola Vila pode servir de referência para outras escolas atingirem desejadas melhorias nos projetos e práticas educativas, nos valores e relações humanas. A obra nos permite entender mais sobre o funcionamento da instituição, suas dificuldades e as formas de superá-las é a porta de entrada para pensarmos em propostas plurais que valorizem a diversidade, o multiculturalismo e potencial humano. E se fossemos pensar em multiculturalismo podemos introduzir as ideias de Canclini (2013) que faz crítica aos movimentos sociais que permanecem usando formas tradicionais de comunicação (orais, de produção artesanal ou em textos escritos que circulam de mão em mão) refere que as novas tecnologias trazem à tona novas ferramentas de produção e novos espaços de leitura de textos que diminuem as distâncias e que revelam a multiculturalidade. Também critica a educação escolar que segue mantendo-se estagnada, na qual alguns educadores ainda pensam na televisão como a grande inimiga da escola. Se formos aprofundar um pouco mais sobre a modernidade que Canclini relata na América Latina, observamos que ela vai de encontro com o que Morin (1987) afirma sobre a expansão do poder industrial que trouxe à sociedade moderna, avanços além de tecnológicos e científicos. Trouxe consigo um novo modo de pensar, uma nova cultura pautada na obtenção de riquezas, a partir dos lucros e necessidade de crescimento pessoal através do consumo. Tanto Canclini quanto Morin fazem uma crítica aos sistemas políticos vigentes e sobre como eles afetam a comunicação e principalmente a educação das populações. Desta maneira podemos pontuar as discussões realizadas em sala sobre as demandas que surgem desse panorama de crise que a sociedade atual vive e que apresenta uma fase de transição de paradigma, questionando o paradigma dominante, e buscando compreender melhor as complexidades da vida humana, a possibilidade de um novo paradigma, que se apresenta como emergente. A autora refere que a educação transdisciplinar procura, através da convivência com as diferenças, desenvolver a capacidade da mudança de pontos de vista e do respeito às divergências. Do mesmo modo como há diferentes realidades produzidas por diferentes percepções do mundo, há diferentes verdades relacionadas a um mesmo fato. E todas elas compõem um único mosaico, estruturando uma realidade social comum, embora não consensual. No ato de conviver, não só percebemos que o outro pode ser diferente como também acabamos por assumir a responsabilidade de sermos diferentes também, em relação ao outro. Ao propor uma ideia, o aluno desenvolve a capacidade de argumentar, mesmo sabendo que os outros têm o direito de divergir e, quando a divergência ocorre, o aluno deve aprender a refletir sobre ela, não se limitando apenas a refutá-la. Assim a transdisciplinaridade parte da perspectiva de trabalhar a ligação existente entre diversos tipos de conhecimento por meio de projetos que conseguem conectar os conhecimentos já institucionalizados com os encontrados na própria vida. Transdisciplinar é o que está além, entre as disciplinas e, portanto, o que está entre as descobertas a serem feitas pelas ciências são as demandas que a escola criativa contribui para perceber. Podemos pensar nessa definição de trabalho educativo transdisciplinar como um princípio de humanização dos indivíduos, ou seja, é a formação como seres humanos conectados com seu ambiente. É uma proposta muito esperançosa, mas isso requer que haja uma mudança na humanidade já existente, que tem sido produzida historicamente e que se encontra em uma cultura que ainda, pode se dizer, que relutam certas mudanças. Na atualidade, muitos são os desafios que uma instituição de ensino necessita romper diante das inúmeras transformações, propiciar a participação ativa dos alunos nas atividades educativas em geral, potencializar, nos educandos, sujeitos protagonistas de sua formação. No aspecto da formação continuada de professores, estimular uma construção coletiva, a partir das necessidades dos docentes. Refletir sobre educação criativa e no que ela proporciona é algo esplêndido, pois conforme Limaverde (2015) as escolas criativas criam novas realidades educacionais, valorizam os educandos, docentes, comunidade, conhecimento e a vida. As transformações nos processos de ensino e aprendizagem, relações interpessoais e nas relações com o conhecimento possibilitam o desenvolvimento dos potenciais criativos e inovadores da instituição, das aprendizagens, ampliação da consciência e do nível de percepção dos sujeitos. Outras Bibliografias: CANCLINI, N. G. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 2013.
MORIN, E. Cultura de Massas no século XX: o espírito do tempo, neurose. São