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O modelo ideal

Os ajustamentos secundários integram recursos como: os “esconderijos” portáteis ou fixos (usados


para esconder bens adquiridos legitimamente nos ajustamentos primários); o “sistema de transportes”
(transporte dos bens para o esconderijo); e o “sistema de comunicação” (circulação de mensagens e
expressões faciais a partir das interações face a face e via sistema oficial de informação). O sistema de
ajustamentos secundários configura-se por meio de uma “estrutura social” da instituição. Regularmente, a
condição social pela qual um indivíduo incorpora o esforço do “outro” para aumentar a amplitude de seus
ajustamentos secundários baseia-se: na força não racionalizada de “coerção particular” (o coagido obedece
involuntariamente); por meio de “intercâmbio social” (o outro contribui em troca de bens materiais e afetivos);
ou pelo “gesto cerimonial” (através de relações particulares extraoficiais e de relações de proteção oficiais). Em
todo estabelecimento social existem expectativas quanto à adequação do participante. Segundo o autor,
entretanto, verifica-se que os participantes se recusam, de alguma forma, a aceitar a interpretação oficial
quanto ao tipo de selfe de mundo que eles têm de si mesmo. “Sempre que se impõem mundos, se criam
submundos” (p. 246). O estudo da vida íntima em instituições totais restritivas tem uma característica
específica. Quando a existência é reduzida a um mínimo, compreende-se o que os indivíduos fazem com os
aspectos mais importantes de sua vida. Esconderijos, meios de transporte, locais livres, territórios, bens para
intercâmbio social e econômico – essas são algumas das exigências mínimas para a construção de uma vida.
Comumente, tais coisas são aceitas sem discussão como parte do ajustamento primário de qualquer indivíduo,
mas, se essas mesmas coisas são retiradas da vida oficial, consequentemente, surgirá tentativas para
ressignificá-las. O estudo das instituições totais também sugere que as organizações formais instrumentais
dispõem de locais padronizados de vulnerabilidade, por exemplo, depósitos, cozinhas, enfermarias, ou seja, os
cenários onde surgem os ajustamentos secundários.

O hospital psiquiátrico constitui um caso específico de estabelecimentos em que a vida íntima


prolifera-se. Os doentes mentais são indivíduos que, no mundo externo, transgrediram a ordem cerimonial e
por isso foram submetidas à ação psiquiátrica. Muitas vezes, o pré-paciente “transgrediu” as propriedades
situacionais de um ambiente, e essa má-conduta se traduz em uma rejeição moral da sociedade mais ampla.
Tanto a estigmatização do doente mental quanto a hospitalização involuntária são os meios pelos quais a
sociedade moderna responde a essas ofensas contra a adequação “regular” do comportamento. Do ponto de
vista do paciente, ao recusar-se a seguir as regras da instituição, o internado, consequentemente, discorda da
interpretação que a instituição dá de quem ele é. Mas, de acordo com a equipe dirigente, isso é expressão de
alienação, um tipo de sintomatologia que a instituição deve tratar como “psicose”. Em resumo, a hospitalização
cerceia todas as manobras do paciente de expressar sua recusa à adequação institucional (p. 247). Entre os
diferentes tipos de ajustamento secundário, destacam-se as “atividades de evasão”, pois permite ao indivíduo
esquecer-se de si mesmo, desligar-se da “realidade” hospitalar, e assim “fugir” para outro mundo (p. 250).
Grosso modo, a vida íntima de um hospital público apresenta-se como um “submundo” do mundo oficial da
instituição – “mundos” com múltiplas realidades paralelas. Esse submundo tem sua própria estrutura social,
seus artefatos, cenários e regras. É do sistema de enfermarias que vem o substrato fulcral não apenas do
“mundo”, mas do “submundo” ilícito da instituição. E assim, um dia depois do outro, estratégia seguida de
estratégia, o internado aprende a se orientar entre os dois mundos.

O modelo médico e a hospitalização de doentes mentais

Em toda sociedade, existem maneiras específicas pelas quais dois indivíduos se relacionam. Cada
um desses esquemas de “contato” serve como uma fonte de identidade, um guia para conduta ideal e como
uma base para solidariedade e separação. Cada esquema inclui um conjunto de suposições interdependentes
que se ajustam para formar um modelo. Na sociedade ocidental, uma forma importante de interação entre dois
indivíduos é a relação “servidor” e “servido”. Ao examinar as suposições, modelos e ideais supostos nessa
relação ocupacional, “penso que podemos compreender alguns dos problemas da hospitalização psiquiátrica”
(p. 264). Geralmente, as tarefas ocupacionais especializadas distribuem-se em duas categorias: uma em que
profissional “encontra o público” por meio de seu trabalho, e outra em que isso não se repete e o trabalho
serve apenas para os participantes de sua organização de trabalho. Entre as tarefas que exigem que o
profissional encontre o público, dois tipos se diferenciam: um em que o público é uma sequência de
indivíduos, e outro em que o público consiste em uma sequência de audiências. Em todos os casos, as
tarefas que exigem que o profissional encontre o público variam quanto ao grau em que tais serviços são
apresentados ao público como um “serviço pessoal”, isto é, como uma assistência desejada por quem recebe.
Idealmente, uma “profissão de serviço pessoal” é definida como uma atividade em que o profissional realiza
um serviço pessoal e especializado para um conjunto de indivíduos, cujo serviço exige comunicação direta e
pessoal (p. 264). Uma forma tradicional de classificar as profissões de serviço pessoal é pelo “sistema de
honrarias”. No “topo” estão aqueles que têm uma especialização que inclui uma competência racional e
demonstrável, e que não pode ser adquirida pelo indivíduo que é “servido” (cliente).

Neste artigo, Goffman pretende “considerar [quais são] as suposições sociais e morais subjacentes
ao trabalho do serviço especializado” (p. 265). Em nossa sociedade, os ideais subjacentes ao serviço
especializado estão enraizados no fato de que o “servidor” tem um complexo sistema físico a ser consertado,
construído ou “remendado” – e esse sistema físico é o objeto ou o bem pessoal do “cliente”, ou seja, do
servido (p. 265). Lidamos com um triângulo – profissional, objeto, proprietário – e um triângulo que
desempenhou um papel histórico na sociedade ocidental. Toda sociedade tem servidores especializados, mas
nenhuma deu a esse serviço tanto peso quanto a nossa – “vivemos em uma sociedade de serviços”. O tipo de
relação social que interessa ao autor é aquele em que os indivíduos (clientes) se colocam nas mãos de outros
indivíduos (servidores). Idealmente, o cliente traz para essa relação um respeito pela competência técnica do
servidor, traz também gratidão e um honorário. Por sua vez, o servidor traz uma competência esotérica e
empiricamente eficiente, bem como disposição para colocá-la ao dispor do cliente, com discrição profissional e
seriedade voluntária, além de um desinteresse disciplinado pelos outros problemas do cliente, tratando-o com
civilidade não servil. Enfim, esse conjunto todo constitui o serviço de reparação (p. 266). Os serviços de
reparação, ou de conserto, têm sua própria configuração social. O servidor tem uma concepção de si mesmo
como um especialista desinteressado, como um “servidor da humanidade”, crente em sua competência
racional, empírica e mecanicista. Portanto, o cliente é “recompensado” por confiar em um servidor
especializado, técnico e autônomo em relação ao seu trabalho. Por conseguinte, a interação entre o servido e
o servidor é bem-estabelecida, com componentes técnicos, contratuais e sociais. O ciclo de “reparação”,
baseado no modelo histórico da “oficina de consertos”, estrutura-se assim: o servido define o bem ou objeto
para o servidor repará-lo; o servidor então inicia o processo de observação, diagnose, receita e tratamento; e
encerra-se quando o bem ou objeto está “como novo”. Gradualmente, a relação entre servido e servidor
transformou-se em uma tríade social mais complexa – cliente, servidor e comunidade – e essa “trinca” tornou-
se a base da noção de serviço.

O autor assim avança para a “versão médica” do modelo de serviços de consertos (pp. 277-310). O
ato de entregar o corpo para o servidor médico e ao seu tratamento racional e empírico é um dos pontos mais
complexos do serviço. Se o gradual estabelecimento do corpo como um “bem” que pode ser “consertado” –
um tipo de máquina físico-química – é muitas vezes citado como um triunfo do “espirito científico secular”, em
contrapartida, tal triunfo é causa e efeito da crescente demanda por todos os tipos de serviço especializado. O
principal problema de submeter à medicina ao esquema de serviço é que, mesmo com os esforços das
associações médicas, a prática médica afastou-se do ideal clínico, com clientela não organizada, para
transformar-se em uma repartição burocrática de serviços. Em seguida, o autor estende o problema da
aplicação do modelo de serviço especializado, em sua versão médica, à psiquiatria institucional. Quando o
pré-paciente chega para sua primeira entrevista de admissão, os médicos aplicam imediatamente o modelo se
serviço médico. Quaisquer que sejam as condições sociais do indivíduo, independente do caráter específico de
sua “perturbação”, ele pode ser tratado nesse ambiente como alguém cujo problema pode ser enfrentado,
ainda que “não tratado”, pela aplicação de uma única interpretação psiquiátrica técnica. Um dos problemas na
aplicabilidade do modelo de serviço à medicina está no fato de que parte do mandato oficial do hospital
psiquiátrico público é “proteger” a comunidade do perigo e dos aborrecimentos de certos tipos de má-conduta.
Entretanto, cada vez que o hospital psiquiátrico atua como “albergue provisório”, destinado a lidar com
indivíduos que não podem ficar na comunidade externa, o modelo de serviço é desmentido.

Outro problema do modelo de serviço refere-se ao caráter, sobretudo involuntário, da admissão em


um hospital psiquiátrico. Tal como ocorre com a atenção médica exigida pelos muitos jovens ou pelos muitos
velhos, existe um esforço para empregar o principio do “tutor” e assimilar a ação tomada pela pessoa mais
próxima à ação tomada pelo paciente. Embora alguns pacientes involuntários reconheçam o erro de sua
resistência à hospitalização, de modo geral, o paciente ressente-se com aqueles entes mais próximos. Mas,
comumente, uma primeira entrevista com o servidor (médico) basta para afirmar a crença do indivíduo na
“racionalidade” e na “boa-vontade” da sociedade em que vive. Como resposta à estigmatização e à privação
social da hospitalização, o internado frequentemente desenvolve certa alienação em relação à sociedade civil.
Comumente, a “patologia” que chama a atenção para a condição de “doente mental”, a principio, é o
comportamento dito como “inadequado” em uma dada situação. Contudo, o julgamento de determinado ato
como apropriado ou inapropriado é frequentemente leigo, porque não existe um “mapeamento técnico” que
defina todos os padrões de comportamento de uma sociedade. Consequentemente, o julgamento torna-se
etnocêntrico, pois o servidor julga o comportamento de indivíduos segundo o seu ponto de vista cultural e seus
interesses políticos. Na psiquiatria, existe um esforço formal para agir como se o problema fosse de
tratamento, não de julgamento moral, mas isso não é mantido de forma coerente. É difícil manter a
neutralidade ética na prática da psiquiatria, pois a perturbação do paciente está intrinsicamente ligada a uma
forma de agir que ofende as “testemunhas”. Em “nossa sociedade”, a maneira padronizada de tratar tais
ofensas é castigar o “transgressor”, negativa e corretivamente. Portanto, a sociedade atua com essa suposição
em todos os itens, em todas as minúcias da vida. Sem algum equivalente funcional, seria impossível a
manutenção da ordem social (p. 296).

Então, o psiquiatra e o paciente estão condenados pelo contexto institucional, a uma relação falsa e
contraditória, pois os hospitais psiquiátricos institucionalizaram uma espécie de farsa da relação de serviço
especializado (p. 299). Na maioria das vezes, a ação médica é apresentada ao paciente como um “serviço
individual”, mas é a instituição que recebe o serviço, visto que a especificidade da ação se ajusta àquilo que
favorece o controle administrativo. Em suma, sob o “disfarce” do modelo de serviço médico, a ação de um
hospital psiquiátrico sob os pacientes é legitimada. Do ponto de vista da instituição, o psiquiatra deve oferecer
seus serviços porque o doente mental “clama”, voluntária ou involuntariamente, pelo “tratamento”. Os
ajustamentos do paciente em relação à instituição são apenas os “sintomas” da sua enfermidade. O
“tratamento”, prescrito sob a forma de “arregimentação” (dormitório, cela de isolamento, remédios, terapias,
atividades institucionais), serve como um “mecanismo de reparo” do doente. Esses aspectos da profissão do
médico psiquiatra orientam-se pela “ideologia institucional”. O que a sociedade vê como mau comportamento,
o médico tem que classificar como “patologia”. Essa mesma patologia requer tratamento, pois significa a
“incapacidade” do paciente para viver em sociedade. O sucesso da “cura” é resultado de um trabalho “eficaz”
do hospital, mas o fracasso refere-se à perturbação da doença do paciente. Enfim, para sair do hospital ou
para manter-se “bem” na instituição, os doentes mentais têm de demonstrar que aceitam o lugar que lhes foi
atribuído, apoiando o papel profissional daqueles que os mantêm em tais condições. Essa “servidão moral
auto-alienadora”, que talvez justifique porque os internados tornam-se mentalmente confusos, é auferida
graças à tradição da relação de serviço especializado, principalmente em sua versão médica. No final das
contas, “os doentes mentais são esmagados pelo peso de um ideal de serviço que torna a vida mais fácil para
a sociedade” (pp. 310-312). Seguindo as pistas dadas pelo o autor, a “ordem social” forma-se a partir da
interação entre os indivíduos de uma mesma sociedade. Cada um desses “esquemas de contato” serve como
uma fonte de identidade, um guia para conduta ideal, padrões de comportamento, e também como uma base
para solidariedade ou para exclusão. Cada esquema contém um conjunto de suposições interdependentes que
se ajustam e tornam-se “modelos” (p. 263). Cada modelo contém um sistema de tipificações automáticas que
orientará a vida, sobretudo “cotidiana”, dos indivíduos. Na sociedade ocidental, esses esquemas diferenciam-
se pela institucionalização do conhecimento dito “especializado”, entre servidor (especialista) e servido (não
especialista). O contato entre esses dois “mundos” baseia-se em uma lógica arbitrária, ainda que legítima,
pois o servido é apenas um “cliente” da relação de serviço ou, às vezes, é apenas um mero “objeto” do
servidor.

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