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Grupos Vulneráveis
Créditos
Apresentação
Antes de iniciar este curso, leia a música de Lenine “Ninguém faz idéia” ou assista ao
DVD, se desejar.
(http://zeroeum.multiply.com/video/item/38/38)
Observe que ele faz uma chamada, praticamente, a todos os grupos ou pessoas que
formam a nossa sociedade mundial. Porém, no dia-a-dia, nem sempre é assim. Há grupos na
nossa sociedade e no mundo, que para muitos são invisíveis.
Alguns desses grupos, devido a questões ligadas a gênero, idade, condição social,
deficiência e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de seus direitos, por isso
são denominados grupos vulneráveis.
Neste curso, você estudará sobre eles e também sobre a importância do profissional da
área de segurança pública ter conhecimentos básicos sobre os dispositivos legais referentes a
cada grupo.
Espera-se que as informações aqui contidas possam servir de subsídios para a prestação
de um atendimento de qualidade a esses grupos.
Importante! Aqui você irá estudar sobre todos os grupos, exceto a comunidade LGBTT e
as mulheres, pois, já existem cursos próprios para essas temáticas na Rede Nacional de Educação
a Distância/Ministério da Justiça, com os nomes: Segurança Pública sem Homofobia e Mulheres
Vítimas de Violência.
Analisar a legislação relativa à proteção dos grupos vulneráveis tanto no Brasil como no
mundo e seu enlace com a atividade policial;
Bom estudo!
Antes de buscar respostas para essas perguntas é preciso compreender alguns aspectos da
nossa sociedade.
Neste módulo, você estudará sobre os grupos vulneráveis e o papel da segurança pública
em proteger e promover os direitos humanos, em relação a esses grupos.
A busca dessas pessoas pelo reconhecimento de seus direitos é hoje um fator democrático
preponderante, pois, somente através da igualdade é que se percebe a plena democracia. Foram
muitos os movimentos sociais e conquistas no século XX, dos setores mais vitimados pelo
preconceito e a discriminação, mas, ainda hoje, a sociedade não está preparada para lidar com
essas diferenças, o que gera o preconceito e a indiferença tornando a vida dessas pessoas, ainda
mais difícil.
Os direitos humanos foram construídos através da história, na luta dos oprimidos pelo
reconhecimento como cidadãos e pela liberdade. Com já se sabe, direitos humanos são todos os
direitos que o ser humano possui (a vida, a família, filhos, trabalho, etc) e que estão listados nos
30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948, e
garantidos em nossa Constituição Federal de 1988.
A defesa dos direitos humanos proporciona a sociedade e, notadamente, a esses grupos
vulneráveis, o reconhecimento e a abertura de espaço político, para além do meramente formal,
ou seja, traz a realização concreta de seus anseios e faz cumprir efetivamente o que está escrito
nas leis e nos estatutos.
Dentro desse contexto, o policial na sua atividade cidadã e de proteção social deve
conhecer a dinâmica dos grupos humanos, ou seja, descobrir seus anseios, dificuldades,
necessidades e se engajar, no que for relativo à segurança pública, para a defesa e promoção dos
direitos desses grupos. É como afirma Balestreri (2004, p.49):
direitos humanos.
É por isso que seus operadores diretos (policiais, bombeiros, agentes penitenciários e
guardas municipais) devem considerar-se e ser considerados, cada vez mais, como promotores de
direitos. E, é claro, como tal se portarem.
Por vezes, é necessário repensar as atitudes e valores que temos confrontando-as com a
nova ordem social e política de nossa sociedade. Por exemplo, reflita sobre:
Como você agiria caso uma pessoa que usa cadeira de rodas lhe solicitasse ajuda para
descer uma escada ou sair de seu carro?
Como agiria se uma pessoa surda e muda tivesse sido vítima de agressão?
Qual seria sua atitude caso um cidadão cego lhe solicitasse ajuda ou você se deparasse
com uma ocorrência de violência doméstica contra uma mulher ou abuso sexual de crianças e
adolescentes?
Com certeza, essas seriam situações embaraçosas, por fugirem da rotina de seu trabalho,
pois você está habituado a lidar com pessoas que podem se locomover normalmente, entender o
que lhes é solicitado, enfim, que não possuem características que dificultará suas vidas em
sociedade.
No entanto, quando se depara com casos como os citados, surge a dúvida de como atuar
nessas ocasiões. Por outro lado, essas pessoas esperam ser tratadas com respeito e dignidade,
como cidadãos sujeitos de direito, como todos os demais.
A atividade de segurança pública exige profissionais que saibam lidar com as pessoas
sem discriminá-las, garantindo seus direitos e resolvendo conflitos de forma serena e igualitária.
É
imprescindível que o profissional de segurança pública conheça melhor as dificuldades
de cada grupo e como ele pode auxiliá-las, protegendo e promovendo seus direitos.
13. Apoiar programas e ações que tenham como objetivo prevenir a violência contra
grupos vulneráveis e em situação de risco.
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a todos
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
(http://www.senado.gov.br/web/relatorios/destaques/2003057RF.pdf)
(http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm)
(http://www.interlegis.gov.br/cidadania/20020108135559/20031208112349/)
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm)
Conclusão
Lembre-se de que em sua família pode haver pessoas que fazem parte desses grupos.
Aprendendo um pouco sobre eles, você também, como cidadão, estará mais bem
preparado para protegê-los e promover os seus direitos.
Introduzindo a questão
Além das telas apresentadas, o material complementar está disponível para acesso e
impressão.
Respostas:
1. São considerados grupos vulneráveis, os grupos que por causa de questões ligadas a
gênero, idade, condição social, deficiência e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à
violação de seus direitos, e que por se tratarem de uma “minoria”, são considerados diferentes.
João é deficiente.
Marcos é homossexual.
Neste módulo, você estudará a diferença entre grupos vulneráveis e minorias e poderá
responder a essa pergunta.
Aula 2 – Minorias
Grupo vulnerável é um conjunto de pessoas que por questões ligadas a gênero, idade,
condição social, deficiência e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de seus
direitos.
Mulheres;
Crianças e adolescentes;
Idosos;
População de rua;
Comunidade LGBTT.
Neste curso, você irá estudar sobre todos esses grupos em específico, excetuando apenas
a comunidade LGBTT e as mulheres, pois, já existem cursos próprios para essas temáticas na
Rede Nacional de Educação a Distância/Ministério da Justiça, com os nomes: Segurança sem
Homofobia e Mulheres Vítimas de Violência.
Aula 2 – Minorias
A Organização das Nações Unidas não instituiu um conceito universal sobre minoria. O
entendimento da Corte Internacional de Justiça é de que cada Estado tem
discricionariedade para arbitrar se o grupo possui fatores característicos distintivos e se incide no
conceito de minoria.
Resumindo, a identificação de uma minoria envolve a apreciação de critérios objetivos e
subjetivos. Em outras palavras, caberá ao Estado reconhecer determinados grupos como índios e
demarcar terras para eles, ou remanescentes de quilombos, e reconhecer aquele sítio como
histórico dando-lhes titularização coletiva das terras; ou como ciganos, etc. (id. 2001, p. 21).
Tipos de minorias
Art. 27 - Nos Estados em que existam minorias étnicas, religiosas ou lingüísticas não será
negado o direito que assiste às pessoas que pertençam a essas minorias, em conjunto com os
restantes membros do seu grupo, a ter a sua própria vida cultural, a professar e praticar a sua
própria religião e a utilizar a sua própria língua.
(http://www.cidadevirtual.pt/cpr/asilo2/2pidcp.html#a27)
Minorias étnicas
São grupos que apresentam fatores distinguíveis em termos de experiências históricas
compartilhadas e sua adesão a certas tradições e significantes tratos culturais, que são diferentes
dos apresentados pela maioria. (SABÓIA 2001, p. 23 apud POUTER, 1986, p. 2). Exemplos:
índios, comunidades negras remanescentes de quilombos, ciganos, judeus, dentre outros.
Minorias lingüísticas
São grupos que usam uma língua, quer entre os membros do grupo, quer em público, que
claramente se diferencia daquela utilizada pela maioria, bem como da adotada oficialmente pelo
Estado. Não há necessidade de ser uma língua escrita. Entretanto, meros dialetos que se desviam
ligeiramente da língua da maioria não gozam do status de língua, de um grupo minoritário.
(SABOIA 2001, p. 23 apud NOWAK, 1993, p. 491).
Minorias religiosas
São grupos que professam e praticam uma religião (não simplesmente outra crença, como
o ateísmo, e.g.) que se diferencia daquela praticada pela maioria da população. (SABOIA 2001,
p. 23 apud Dienstein,1992, p.156). No Brasil existem as seguintes minorias: budistas,
muçulmanos, espíritas, praticantes de candomblé (religião jeje-nagô ou ioruba), dentre outras.
Os grupos vulneráveis são pessoas que podem fazer parte de uma minoria étnica, mas,
dentro dessa minoria, têm uma característica que as difere das demais e as torna parte de outro
grupo.
Exemplo: Uma pessoa que faz parte de um pequeno grupo islâmico, num país católico,
pode também ser deficiente física. Ela pertence a uma minoria religiosa (islã) e integra outro
grupo vulnerável por ter deficiência física. De igual forma pode haver superposição dos tipos de
minorias: o muçulmano no Brasil será integrante tanto de minoria étnica como da religiosa e da
lingüística.
A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos étnicos, lingüísticos e
religiosos e os grupos vulneráveis, por sua vez, estão relacionados com as características
especiais que as pessoas adquirem em razão da idade, gênero, orientação sexual, deficiência
física ou sofrimento mental e condição social.
Conclusão
Muitas pessoas confundem os conceitos estudados neste curso, é comum ver pessoas
dizerem, por exemplo, que a comunidade LGBTT é minoria em nossa sociedade. Mas, agora que
você sabe a diferença entre os dois termos, procure utilizá-los corretamente e pesquise um pouco
mais sobre o assunto.
2. Faça a correspondência:
1. Minoria étnica
2. Minoria lingüística
3. Minoria religiosa
( ) São grupos que professam e praticam uma religião (não simplesmente uma outra
crença, como o ateísmo, e.g.)
( ) São grupos que usam uma língua, quer entre os membros do grupo, quer em público,
que claramente se diferencia daquela utilizada pela maioria, bem como da adotada oficialmente
pelo Estado.
( ) São grupos que apresentam fatores distinguíveis em termos de experiências históricas
compartilhadas e sua adesão a certas tradições e significantes tratos culturais, que são diferentes
dos apresentados pela maioria.
João é negro e deficiente. É possível dizer que João pertence a um grupo vulnerável?
( ) Sim, pois mesmo fazendo parte de uma minoria étnica João é deficiente.
Além das telas apresentadas, o material complementar está disponível para acesso e
impressão.
Respostas:
2.
3, 2 e 1
3. Sim, pois mesmo fazendo parte de uma minoria étnica João é deficiente.
NOSSOS VELHOS
Martha Medeiros
Pais heróis e mães heroínas do lar.
Passamos boa parte da nossa existência
cultivando esses estereótipos.
Até que um dia o pai herói começa a passar o tempo todo sentado,
resmunga baixinho e puxa uns assuntos sem pé nem cabeça.
A heroína do lar começa a ter dificuldade de concluir as frases
e dá de implicar com a empregada.
O que papai e mamãe fizeram para caducar de uma hora para outra?
Fizeram 80 anos.
Nossos pais envelhecem.
Ninguém havia nos preparado pra isso.
Um belo dia eles perdem o garbo,
ficam mais vulneráveis e adquirem umas manias bobas.
Estão cansados de cuidar dos outros e de servir de exemplo:
agora chegou a vez deles serem cuidados e mimados por nós,
nem que pra isso recorram a uma chantagenzinha emocional.
Tem muita quilometragem rodada e sabem tudo,
e o que não sabem eles inventam.
Não fazem mais planos a longo prazo,
agora dedicam-se a pequenas aventuras,
como comer escondido tudo o que o médico proibiu.
Estão com manchas na pele.
Ficam tristes de repente.
Mas não estão caducos: caducos ficam os filhos,
que relutam em aceitar o ciclo da vida.
É complicado aceitar que nossos heróis e heroínas
já não estão no controle da situação.
Estão frágeis e um pouco esquecidos, têm esse direito,
mas seguimos exigindo deles a energia de uma usina.
Não admitimos suas fraquezas, seu desânimo.
Ficamos irritados se eles se atrapalham com o celular
e ainda temos a cara-de-pau de corrigi-los quando usam expressões em desuso:
Calça de brim?
Frege?
Auto de praça?
Em vez de aceitarmos com serenidade o fato de que as pessoas
adotam um ritmo mais lento com o passar dos anos,
simplesmente ficamos irritados por eles terem traído nossa confiança,
a confiança de que seriam indestrutíveis como os super-heróis.
Provocamos discussões inúteis e os enervamos com
nossa insistência para que tudo siga como sempre foi.
Essa nossa intolerância só pode ser medo.
Medo de perdê-los, de perdermos a nós mesmos,
medo de também deixarmos de ser lúcidos e joviais.
É uma enrascada essa tal de passagem do tempo.
Nos ensinam a tirar proveito de cada etapa da vida,
mas é difícil aceitar as etapas dos outros,
ainda mais quando os outros são papai e mamãe, nossos alicerces,
aqueles para quem sempre podíamos voltar,
e que agora estão dando sinais de que um dia irão partir sem nós.
Chamar atenção para o nosso futuro é criar a possibilidade de melhorar as relações com a
terceira idade no presente.
Este módulo abordará os aspectos importantes relacionados a essa faixa etária, seus
direitos e a atuação policial frente a esse grupo.
O Estatuto do Idoso criado pela Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, define como
pessoa idosa, aquela com idade igual ou superior a 60 anos.
(http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/2003/10741.htm)
SAIBA MAIS...
Apesar dos vários episódios de violência, morte por doença ou acidentes, e abandono
material e afetivo verifica-se um crescimento significativo dessa população no Brasil. Segundo o
IBGE, a população de idosos representa um contingente de quase 15 milhões de pessoas com 60
anos ou mais de idade (8,6% da população brasileira). As mulheres são maioria. E 8,9 milhões
(62,4%) dos idosos são responsáveis pelos domicílios e têm, em média, 69 anos de idade e 3,4
anos de estudo. Com um rendimento médio de R$ 657,00, o idoso ocupa, cada vez mais, um
papel de destaque na sociedade brasileira. Ainda segundo o IBGE, nos próximos 20 anos, a
população idosa do Brasil poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas e deverá representar
quase 13% da população ao final desse período. Em 2000, segundo o Censo, a população de 60
anos ou mais de idade era de 14.536.029 de pessoas, contra 10.722.705 em 1991. O peso relativo
da população idosa no início da década representava 7,3%, enquanto, em 2000, essa proporção
atingia 8,6%.
Fonte: http://www.ibge.gov.br
Você em sua rotina operacional já deve ter se deparado com inúmeros casos de violência
praticados contra idosos, e que em muitos deles, os violadores e agressores são os próprios
parentes da vítima.
(http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-
89102000000400020&script=sci_arttext&tlng=pt) Com base nesse mesmo documento, a
violência contra idosos se manifesta sobre vários aspectos: Abuso físico, psicológico, sexual,
abandono e negligência. Some a essas formas de violência, o abuso financeiro e a
autonegligência. Cabe ressaltar que a negligência, conceituada como a recusa, omissão ou
fracasso por parte do responsável pelo idoso, é uma forma de violência presente tanto em nível
doméstico quanto institucional, levando muitas vezes ao comprometimento físico, emocional e
social, gerando, em decorrência, aumento dos índices de morbidade e mortalidade.
Cada um dos tipos de violência citados na página anterior está classificada no documento
de Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e violências do Ministério
da Saúde Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
(http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/politica_promocao.pdf)
Abandono
Uso de força física que pode produzir uma injúria, ferida, dor ou incapacidade.
Abuso sexual
Ato ou jogo sexual que ocorre em relação hetero ou homossexual que visa estimular a
vítima ou utilizá-la para obter excitação sexual e práticas eróticas e sexuais impostas por meio de
aliciamento, violência física ou ameaças.
Acidentes ampliados
Autonegligência
Conduta de pessoa idosa que ameaça sua própria saúde ou segurança, com a recusa ou o
fracasso de prover a si mesmo um cuidado adequado.
Com frequência, os idosos mais vitimados são os que possuem alguma dependência, seja
em decorrência de uma doença, deficiência física ou mental. A situação de idosos dependentes se
agrava quando seu responsável ou cuidador é usuário de drogas, alcoólatra ou possui algum
problema de saúde mental. Nesses casos, o idoso pode sofrer com a negligência e a violência
praticada por aqueles que deveriam protegê-los e garantir sua integridade física e mental.
(http://www.ite.edu.br/apostilas/O%20cuidador%20de%20idosos.doc)
Mais abrangente que a Política Nacional do Idoso – lei de 1994 que dava garantias à
terceira idade, o Estatuto institui penas severas para quem desrespeitar ou abandonar cidadãos da
terceira idade.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8842.htm)
Você irá estudar os principais pontos do Estatuto do Idoso a partir de situações práticas
relacionadas à área da saúde, transporte e família.
Saúde
1ª situação prática
Imagine que você está de serviço próximo a um hospital e que de repente uma jovem lhe
procura acompanhada do pai dela, de 79 anos de idade, e lhe diz que seu pai está muito doente, e
lhe pede ajuda, pois a fila do posto de saúde está enorme e ninguém quer ceder lugar ao pai dela.
Como você agiria? Como iria orientar a essa pessoa?
O que diz o estatuto
O artigo 15 do Estatuto do Idoso diz claramente que o idoso tem atendimento preferencial
no Sistema Único de Saúde e o artigo 114 alterou a redação do artigo 1º, da Lei 10.048, de 08 de
novembro de 2000, e passou a ter a seguinte redação:
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10048.htm)
Sugestão de atendimento
Neste caso, o pai da jovem deve ser atendido com prioridade, desde que não haja um caso
mais grave ou outra pessoa idosa na sua frente.
2ª situação prática
Uma senhora de 65 anos lhe procura e diz estar necessitando de remédios controlados
para diabetes e se você não tem uma orientação de como ela pode adquirir gratuitamente, pois
não tem como comprar. Como você poderia ajudá-la?
(http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/pr%C3%B3tese.htm)
Sugestão de atendimento
No caso citado, você deve orientá-la a procurar um órgão de saúde da prefeitura local e
fazer um cadastro para o recebimento dos remédios.
Importante!
Procure saber qual o órgão em seu município é responsável pelo cadastro e pela
distribuição de remédios gratuitamente para idosos.
Transporte
Situação prática
Você está trabalhando próximo à rodoviária e é solicitado por um senhor de 65 anos de
idade que relata que não pode viajar em um coletivo interestadual, pois a empresa não autorizou
a liberação de assento gratuito para ele. Como você agiria nesse caso?
Art. 39 Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos
transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais,
quando prestados paralelamente aos serviços regulares.
§ 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal
que faça prova de sua idade.
§ 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata esse artigo serão reservados 10%
(dez por cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado
preferencialmente para idosos.
excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários mínimos.
Sugestão de atendimento
No caso citado, se a pessoa está dentro dos requisitos exigidos por lei, a empresa de
transporte é obrigada a emitir as passagens gratuitamente com base no inciso I, do artigo 40 e
com desconto de 50% no caso do inciso II. Em caso de resistência por parte da empresa um
boletim de ocorrência deve ser lavrado.
Família
Situação prática
Uma pessoa lhe relata a seguinte situação: Uma senhora de 79 anos está sem nenhuma
assistência em casa, passando por dificuldade financeira e doente, seus filhos recebem a pensão
por ela, e gastam tudo com custos pessoais negligenciando os devidos cuidados com a mãe.
Existe também uma informação, que a senhora está sofrendo maus-tratos e violência física.
Como você, sendo um policial, agiria nessa situação?
No que se refere ao tratamento dispensado à senhora, seus filhos estão violando os artigos
4º e 99, do Estatuto do Idoso que prevê:
Art. 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação,
crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na
forma da lei.
Com relação à pensão da senhora que está sendo usada pelos filhos, constitui crime
previsto nos artigos 102 e 104, do Estatuto do Idoso:
Art. 104 Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou
pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento
ou ressarcimento de dívida:
Pena – Detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Sugestão de atendimento
No caso citado estão ocorrendo várias violações aos direitos da senhora, e todos são
crimes previstos no Estatuto do Idoso, porém, na sua atuação, você deverá tomar alguns
cuidados. Em primeiro lugar, procurar constatar a veracidade dos fatos e levantar o maior
número de informações possíveis.
Caso sejam constatadas as denúncias, uma ação conjunta se faz necessária, pois em
muitos casos, a Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
própria vítima pode querer proteger os seus filhos, negando os fatos. O Conselho
Municipal do Idoso que irá notificar o Ministério Público. Na ausência de conselho, o próprio
Ministério Público é que adotará as medidas previstas no artigo 74, do Estatuto do Idoso, no que
for pertinente. Um boletim de ocorrência deve ser lavrado e direcionado à Delegacia
Especializada de Proteção ao Idoso, caso exista na localidade, do contrário, deve ser registrado
em uma delegacia local.
Importante!
Os órgãos responsáveis pela fiscalização e proteção dos direitos do idoso são o Ministério
Público e os Conselhos Municipal, Estadual e Nacional do Idoso.
Algumas polícias, como por exemplo, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), possui
a Diretriz para Produção de Segurança Pública nº 08 (Ver anexo 1), que aborda a filosofia de
Direitos Humanos da PMMG e traz um capítulo exclusivo sobre atendimento aos grupos
vulneráveis. No caso dos idosos estão listados na próxima aula, alguns procedimentos que o
policial deve ter ao lidar com o idoso.
Dentro de uma delegacia, será convidado a assentar-se. Também será ótimo oferecer-lhe
um cafezinho e água. Com isso, o profissional promoverá um relacionamento de confiança e
respeito.
Se o idoso for suspeito, o policial deve respeitar sua idade e condições de saúde, manter
com ele prévia conversa sobre o ato cometido, para que ele comece a refletir sobre as
conseqüências e esteja preparado para assumi-las, resguardados os aspectos de segurança do
policial. Deve ser esclarecida ao idoso a ajuda jurídica que ele receberá do Estado, com outras
informações acerca do trâmite da investigação ou processo.
O idoso, sempre que possível, será acompanhado por algum membro familiar. O policial
deverá evitar agressão verbal ou física aos familiares do idoso, vítima de crime, para não causar-
lhe problemas sérios ou até complicações à saúde.
Agora que você estudou sobre as pessoas idosas, procure pesquisar mais sobre o assunto
acessando os links abaixo:
Portal do envelhecimento
(http://www.portaldoenvelhecimento.net/principal/principal.htm)
Conclusão
1. Todas as afirmativas abaixo, sobre a pessoa idosa, estão corretas, exceto: ( ) Considera-
se idosa a pessoa com 65 anos ou mais de idade.
2. Imagine que você tem que informar a uma senhora de 89 anos, que seu filho acaba de
ser preso e que se encontra a caminho de uma delegacia. Quais os cuidados você deveria ter ao
lidar com essa senhora?
3. Agora, você é acionado para atender a um caso de um senhor de 79 anos que foi
surpreendido furtando no interior de uma loja. Você percebe que ele está muito nervoso e treme
muito. Qual seria seu procedimento para com ele?
Além das telas apresentadas, o material complementar está disponível para acesso e
impressão.
Respostas:
2. Primeiro certificar-se de que essa pessoa tem algum histórico de problemas cardíacos.
Em seguida avaliar a real necessidade de informá-la o fato e se não há outra pessoa da família a
ser avisada. Em último caso, comunicar a idosa de forma tranqüila, procurando explicá-la passo
a passo o que aconteceu.
3. Nesse caso, o idoso cometeu um delito e se faz necessária sua condução. Porém,
lembre de que ele pode ter sérios problemas e vir, inclusive, a entrar em óbito. Por isso, evite
palavras ríspidas e ofensas desnecessárias, atenha-se ao problema e informe a ele seus direitos,
procure ser firme, mas educado, evite o uso desnecessário de força. O convide a acompanhá-lo
até o local onde ele será ouvido pela autoridade competente.
Anexo:
Anexo 1
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
DIRETRIZ PARA
A PRODUÇÃO DE SERVIÇOS DE
JANEIRO/2.004
CHEFE DO ESTADO-MAIOR
Cel PM Hélio dos Santos Júnior
Coordenação:
Chefe da Seção de Emprego Operacional/ PM3
Ten-Cel PM Renato
Vieira de Souza
3o Sgt PM Jo
ssessoria de Direitos
Humanos
REDAÇÃO DA DIRETRIZ:
Ten Cel PM Jovino César Cardoso
Maj PM Marcelo Vladimir Corrêa
Cap PM Marcelo Martins Resende
Cap PM Alexandre Antônio Alves
Cap PM Sílvio José de Sousa Filho
Cap PM Paulo da Costa Júnior
Cap PM Argemiro Martins de Lima
Cap PM Luiz Henrique Ribeiro Moreira
Cap PM Welerson Conceição Silva
1º Ten PM Cláudio Duani Martins
REVISÃO DA DIRETRIZ:
Ten-Cel PM Renato Vieira de Souza
Cap PM Sílvio José de Sousa Filho
Cap PM Paulo da Costa Júnior
3° Sgt PM José Geraldo dos Reis
REVISÃO ORTOGRÁFICA:
Ten Cel QOR João Bosco de Castro
INTRODUÇÃO .................................................................................................
6
1.1
Finalidade .......................................................................................................
6
1.2 Objetivos
........................................................................................................
7
2
CONCEITUAÇÕES BÁSICAS .............................................................................
8
3
PRESSUPOSTOS DA FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS NA PMMG..........
9
3.1
Filosofia institucional dos Direitos Humanos..................................................
9
3.1.1
Para quem são os Direitos Humanos? ............................................................
9
3.1.2
Quem deve proteger os Direitos Humanos? ...................................................
10
3.1.3
A validade dos Direitos Humanos no mundo ..................................................
10
3.2
Categorização dos professores de Direitos Humanos.....................................
10
3.3
Relacionamento da Polícia com as Organizações de Direitos Humanos ........
12
3.4
Treinamento Básico do Policial.......................................................................
12
3.5
Sensibilização dos Comandantes....................................................................
13
4
CONDUTA ÉTICA E LEGAL DO POLICIAL .......................................................
14
4.1 Introdução
.....................................................................................................
14
4.2
O policial no cumprimento do dever legal ......................................................
14
4.3
O policial defensor da dignidade humana ......................................................
14
4.4
O policial e o emprego da força ......................................................................
15
4.4.1
Princípios para o uso da força e da arma de fogo .........................................
15
4.4.2
O escalonamento do uso da força pelo policial ..............................................
16
4.4.3
O uso da arma de fogo pelo policial ...............................................................
16
4.5
Policial mantenedor em assuntos confidenciais ............................................
17
4.6
Policial contra a tortura e o tratamento cruel, desumano ou degradante .....
18
4.6.1
Policial inibidor da tortura ..............................................................................
18
4.6.2
A responsabilidade do policial contra a tortura .............................................
18
4.6.3
A conduta do policial contra a tortura ...........................................................
19
4.7
Policial protetor da saúde das pessoas privadas da
liberdade.........................................................................................................
19
4.8
Policial inibidor da corrupção .........................................................................
19
4.8.1
Policial inibidor dos atos de corrupção na busca de informações ..................
19
4.8.2
Policial inibidor da corrupção no desempenho da atividade operacional ......
20
4.9
Policial e o respeito à lei ................................................................................
20
4.10
O reflexo da violação dos Direitos Humanos pelo Policial..............................
21
5
DEVERES E FUNÇÕES DO POLICIAL ..............................................................
21
5.1 Introdução
......................................................................................................
21
5.2
Princípios da ação policial .............................................................................
22
5.3
Comportamento policial durante o rastreamento ..........................................
22
5.4
Presunção de inocência em relação às pessoas capturadas pela polícia .......
22
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
5.5
Deveres do policial .........................................................................................
23
5.6
Interferência policial na privatividade ...........................................................
23
5.7
Como lidar com informantes confidenciais ....................................................
24
5.8
Vítimas de crimes e abuso de poder................................................................
25
5.9
Princípios dos Direitos Humanos na captura e detenção...............................
25
5.10
Gerência, supervisão e coordenação pela Polícia Militar ...............................
26
6 PROCEDIMENTO
POLICIAL-
MILITAR.............................................................
26
6.1 Introdução
......................................................................................................
26
6.2
Detalhamento do comportamento policial......................................................
27
6.2.1
Procedimentos na intervenção policial...........................................................
28
6.2.2
Importância do conhecimento e conjugação de esforços...............................
29
6.3
Comportamento policial em face de grupos vulneráveis e minorias..............
30
6.4 Minorias
..........................................................................................................
31
6.4.1
Minorias étnicas .............................................................................................
31
6.4.2
Minorias lingüísticas .......................................................................................
31
6.4.3
Minorias religiosas .........................................................................................
31
6.4.4
Diferença entre grupos vulneráveis e minorias .............................................
31
6.5
Atuação policial em face de grupos vulneráveis ............................................
31
6.5.1 Mulheres
.........................................................................................................
31
6.5.2
Violência contra a mulher ...............................................................................
32
6.5.3
Mulher capturada ...........................................................................................
33
6.5.4
Mulher detida .................................................................................................
33
6.5.5
A Mulher vítima de criminalidade e de abuso de poder .................................
33
6.6
Crianças e adolescentes .................................................................................
34
6.6.1
Ato infracional ................................................................................................
34
6.6.2
Apreensão de adolescente infrator ................................................................
34
6.6.3
Medidas aplicadas aos adolescentes ..............................................................
35
6.7 Homossexuais
................................................................................................
35
6.7.1
Definições dos homossexuais .........................................................................
35
6.8
Pessoas com deficiência física e sofrimento mental.......................................
37
6.8.1 Deficiência
......................................................................................................
37
6.8.2 Doença
............................................................................................................
37
6.8.3 Incapacidade
..................................................................................................
37
6.8.4 Impedimento
..................................................................................................
37
6.8.5
Cuidados no trato com pessoa deficiente......................................................
37
6.9
Terceira idade .................................................................................................
41
6.10
Atuação policial em face de minorias .............................................................
42
6.10.1
Discriminação .................................................................................................
42
6.11
Ações dos Comandantes de Unidade ..............................................................
42
7
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................
42
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
8
RECOMENDAÇÕES FINAIS ..............................................................................
45
ANEXO “ÚNICO” .........................................................................................................
46
I
Instrumentos Internacionais de Direitos Humanos .......................................
46
1
Declaração Universal dos Direitos Humanos ..................................................
46
2
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos ..........................................
47
II
Instrumentos Regionais de Direitos Humanos ..............................................
51
1
Declaração Americana dos Direitos Humanos ................................................
51
III
Instrumentos Nacionais de Direitos Humanos ...............................................
52
1
Constituição da República Federativa do Brasil .............................................
52
IV
Direito Constitucional Brasileiro e Direito Internacional...............................
54
CAPÍTULO I
1.
Introdução
É fundamental para o Policial Militar, como profissional responsável pela
promoção da paz social, saber que sua profissão lhe dá condições de oferecer o melhor à
pessoa humana, para ela exercer sua cidadania - a proteção dos direitos.
Os fatos contemporâneos, vistos sob dimensão planetária, apresentam um quadro de
miséria, fome e desigualdade social, no qual a violência representa a principal preocupação na
agenda do cidadão. O resultado desses fatos é a trágica violação dos mais elementares dos
direitos humanos: o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Tais fatos refletem na paz
social e abalam a confiança que os cidadãos têm nas instituições policiais, em sua capacidade
para pacificar e resolver os conflitos do Estado Democrático de Direito.
Neste ambiente de conflito, o policial percebe, em seu dia-a-dia, como os meios de
comunicação de massa conduzem as pessoas, principalmente os jovens, ao
individualismo e à compulsão para o consumo que, muitas vezes, banalizam os
valores morais, desvalorizam o direito à vida e negligenciam a segurança pessoal.
Para compreender, de maneira bem sintética, o que leva as pessoas à
prática de atos violentos e ao cometimento do crime, é preciso analisar os aspectos
sociais, culturais, conjunturais e psicológicos que fazem parte da vida pregressa do agressor
da sociedade. Sob esse aspecto e como
integrante deste ambiente, o policial é um profissional capaz de proteger
direitos do cidadão de bem, mas também aos agressores sociais no ato da
captura. A justiça se encarregará de julgá-lo, e se considerado infrator ele tem
capacidade e direito de regenerar e reintegrar-se à sociedade.
1.1 Finalidade
Fortalecer e consolidar o comportamento de integrantes da Polícia Militar de Minas
Gerais para aplicação da filosofia dos Direitos Humanos.
1.2 Objetivos
1.2.1 Oferecer aos integrantes da Instituição os padrões necessários à promoção e difusão
dos Direitos Humanos.
1.2.2 Conhecer as conceituações necessárias à assimilação dos princípios de Direitos
Humanos.
1.2.3 Consolidar os pressupostos básicos dos Direitos Humanos para atuação da Polícia
Militar.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
2.
CONCEITUAÇÕES BÁSICAS
Autoridade – pessoa que exerce cargo, encargo ou emprego público, ou detém função
pública, de natureza civil ou militar, investida de poder em consonância com as normas legais.
Autoridade Policial – pessoa na condição de agente da administração pública que exerce
o poder de polícia.
Autoridade de Polícia Judiciária – pessoa na condição de agente da administração
pública com o poder de polícia de promover a investigação criminal e realizar a polícia
judiciária.
Autoridade Policial-Militar – pessoa na condição de agente da administração pública,
integrante da Organização Policial-Militar, com o poder de polícia de preservação da ordem
pública e defesa social, e de polícia ostensiva.
Poder de Polícia – é a capacidade legítima que o agente da administração pública,
devidamente constituída, tem para limitar direitos individuais em prol da coletividade.
Captura – ação policial consistente em privar uma pessoa de sua liberdade de
locomoção, em virtude de suspeição da prática de delito, ou de mandado de prisão.
Pessoa Detida – é aquela pessoa privada de sua liberdade, na aguarda de julgamento.
Pessoa Presa – pessoa privada de sua liberdade, como resultado da condenação pelo
cometimento de delito.
Tortura – ato de constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental, com o fim de obter informação, declaração ou
confissão da vítima ou de terceira pessoa; para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
em razão de discriminação racial ou religiosa. Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou
autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental,
como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Dignidade Humana – é valor espiritual e moral inerente à pessoa, o qual se manifesta
na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e traz consigo a pretensão ao
respeito das demais pessoas. Constitui-se um mínimo invulnerável que todo estudo jurídico deve
assegurar, de modo que, só excepcionalmente, possam ser feitas limitações do exercício dos
direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todos as
pessoas como seres humanos.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
Direitos Humanos – são títulos legais que toda pessoa tem como ser humano. São
universais e pertencem a todos. Esses direitos, embora violáveis, não podem jamais ser retirados
de alguém.
Direitos Fundamentais – são prerrogativas fundamentalmente importantes e iguais para
todos os seres humanos, cujo principal escopo é assegurar-lhes convivência social digna e livre
de privações.
Violação dos Direitos Humanos – atos e omissões imputáveis ao Estado, os quais
constituem desrespeito às leis e normas nacionais e internacionais reconhecidamente inerentes
aos direitos humanos.
Violência Policial – ato praticado por agente da administração pública, pertencente a
organização policial, que se excede no uso da força, sem observar os princípios da legalidade,
necessidade e proporcionalidade, nem os preceitos éticos que regem a atividade policial.
Vítimas – pessoas que, individual ou coletivamente, sofreram danos, inclusive
sofrimento físico, mental ou emocional, perdas econômicas ou violações substanciais de seus
direitos fundamentais, mediante atos ou omissões que constituem transgressão das leis criminais
e das que proíbem o abuso criminoso de poder.
Encarregado da Aplicação da Lei – é o agente público, civil ou militar, integrante das
instituições policiais
, nacionais ou internacionais, com poderes especiais de captura, detenção , uso de força e
investigação criminal, para servir a sociedade e protegê-la contra atos ilegais.
Equipamento de Proteção Individual – EPI – é o conjunto de equipamentos e
armamentos necessários ao policial, para proteger a si mesmo e desenvolver suas atividades com
segurança.
Ética Pessoal – é o conjunto de valores morais, questões culturais, crenças na distinção
entre o bem e o mal, o certo e o errado, relativamente ao indivíduo.
Ética – é o conjunto de princípios morais ou valores que governam uma instituição, um
grupo ou um indivíduo no grupo. São princípios axioteleológicos acerca do ser-com-o-outro ou
do ser-em-situação: indivíduo-com-outro-indivíduo, indivíduo-em-situação.
Ética de Grupo – é a Ética destinada a influenciar a conduta pessoal mediante padrão
subcultural (linguagem grupal, rituais, nós-contra-eles, costumes, tradições), em busca de
conseqüente mudança individual coerente com a cultura do grupo. Isso pode implicar aceitação
ou rejeição.
Ética Profissional – é o conjunto de normas codificadas do comportamento dos
praticantes de determinada profissão, com vistas ao melhoramento qualitativo da classe, medido
pelo índice de autenticidade (confiança e credibilidade) e legitimidade (consagração, renome,
fama, aceitação). Ética profissional é o nome popularesco da Deontologia: tratado dos direitos,
prerrogativas, atribuições, deveres, obrigações e competências do grupo profissional e da
respectiva profissão. Trata-se da codificação dos direitos e deveres, prerrogativas e necessidades
eticomorais e socioculturais de uma profissão e respectiva categoria profissional.
Ética Policial Militar – é a Ética regente da classe policial-militar, com base na
deontologia policial-militar.
Voz de Prisão em Flagrante Delito – é a ação verbal imperativa do Encarregado da
aplicação da lei que determina o momento da privação temporária da liberdade de alguém
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
que tenha cometido ato delituoso em estado de flagrância, mediante suas garantias e
direitos.
Organização Encarregada da Aplicação da Lei – para esta Diretriz, é o órgão público
civil ou militar, nacional ou internacional, responsável pela preservação da ordem pública,
exercício da polícia ostensiva, investigação criminal, exercício da polícia judiciária ou
desempenho de qualquer outra forma de poder de polícia.
Auto de Resistência – é o documento formal em que o Encarregado da aplicação da lei
narra, de forma clara e minuciosa, as circunstâncias do fato que o levaram ao emprego da força,
por ocasião de resistência à sua atuação legal.
CAPÍTULO III
3
PRESSUPOSTOS DA FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS NA PMMG
Para a melhor compreensão da filosofia dos Direitos Humanos, e para efeito de
padronização de alguns procedimentos relativos à categorização dos professores de Direitos
Humanos , relacionamento da Polícia Militar com as organizações de Direitos Humanos,
treinamento policial básico e sensibilização de comandantes, estão
estabelecidos os pressupostos que doravante farão parte da rotina administrativa e
operacional da Instituição, os quais serão implementados e difundidos nos diversos níveis da
Polícia Militar.
3.1 Filosofia Institucional dos Direitos Humanos
Para sistematização didático-pedagógica da filosofia de Direitos Humanos, foi adotada a
metodologia do TRIÂNGULO DOS DIREITOS HUMANOS. Tal metodologia estrutura-se
em duas perguntas e uma reflexão sobre Direitos Humanos, conforme sugere a figura a seguir:
DIREITOS
HUMANOS
Na verdade, as normas de Direitos Humanos foram criadas para dar garantias de direitos
a todas as pessoas. Essa resposta conduz-nos a outra pergunta: quem realmente acredita que os
Direitos Humanos foram criados para todas as pessoas? Muitos não acreditam totalmente, ou em
parte, que os Direitos Humanos foram criados para todas as pessoas. O policial é um promotor
dos Direitos Humanos e, por isso, deve acreditar, sem nenhuma sombra de dúvida, que esses
Direitos foram criados para todas as pessoas.
Direitos Humanos não são algo abstrato. São algo perceptível que está no dia-a-dia
das pessoas, como o direito à vida, à propriedade, e o de constituir uma família.
Os direitos das pessoas estão garantidos na Constituição da República Federativa do
Brasil, nos art. 5º, 6º e 7º, mais especificamente no art. 5º, o qual elenca direitos e liberdades
individuais, fundados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Os Direitos Humanos são para todos, integram o cotidiano de todos os cidadãos e
principalmente do cidadão policial, que tem a nobre missão de servir e proteger a sociedade da
qual ele faz parte.
3.1.2
Quem deve proteger os Direitos Humanos?
Se os Direitos Humanos são de todos e para todos, quem deve protegê-los? Sem
dúvida, por nossa Constituição Federal, a segurança pública é responsabilidade de todos e
dever do Estado. O policial tem papel fundamental na proteção dos Direitos Humanos , pois ele é
a autoridade mais comumente encontrada nas ruas e emblematiza o Estado. As pessoas têm o
policial como alguém em quem cofiam e trazem a perspectiva de que ele irá solucionar seus
problemas. Por isso, o policial deve estar preparado tecnicamente para agir com imparcialidade e
humanismo, em todos os seus contatos com o público.
Agora, que foram respondidas as duas perguntas, será feita uma análise
global dos Direitos Humanos. Podemos nos perguntar por que existe então tanta miséria,
fome e guerras no mundo? Por que não há uma efetividade dos Direitos Humanos no mundo?
Pode-se responder a essas perguntas, estudando-se a diversidade cultural e religiosa dos países,
suas diferenças geográficas, seus costumes e normas , suas desigualdades sociais, os governos
ditatoriais, e as conseqüências da economia globalizada, entre outros aspectos que interferem
diretamente na plenitude dos Direitos Humanos para toda a humanidade.
de cada conduta individual. Tal certeza, somada ao respeito aos Direitos Humanos, reflete
exatamente a imagem da Instituição em que serve o policial.
CAPÍTULO IV
4
CONDUTA ÉTICA E LEGAL DO POLICIAL
4.1 Introdução
A Organização Policial existe para zelar pelo cumprimento das leis que foram
instituídas a fim de efetivar a garantia dos direitos fundamentais do ser humano,
possibilitando a ele condições básicas de sobrevivência e convivência harmônica e pacífica,
imprescindíveis ao desenvolvimento do homem em relação a seu semelhante.
A polícia tem a obrigação de obedecer à lei, inclusive as leis promulgada para a
promoção e proteção dos Direitos Humanos. Agindo assim, o policial estará não somente
cumprindo seu dever legal, mas também respeitando e protegendo a dignidade da pessoa
humana, mesmo que para isso tenha de usar a coerção e empregar a força, nos casos estritamente
necessários e na medida exata, para o cumprimento do dever legal.
O uso da força policial não deve ser indiscriminado, pois, ao contrário, pode abalar as
bases da conduta ética e legal do Policial, as quais são: a obediência às leis, o respeito à
dignidade humana e a proteção dos Direitos Humanos. A legalidade, a necessidade e a
proporcionalidade, além da conveniência, devem estar internalizadas no policial, para que sua
ação não colida com os propósitos que deve defender. A comunicação deve ser a principal e a
primeira arma do policial.
O respeito à dignidade humana pelo policial conta também com sua qualificação
eticoprofissional que o capacita a manter em sigilo as informações de caráter confidencial,
manifestando-se contundentemente contrário à tortura e ao tratamento desumano, cruel ou
degradante, e cuidadoso para com a saúde das pessoas privadas da liberdade que estejam sob sua
custódia, contrapondo-se aos atos de corrupção que difamam o organismo policial e denigrem a
imagem institucional perante a sociedade.
Com suas qualidades morais, psíquicas e físicas, além do adequado treinamento, o
policial terá habilidade técnica para raciocinar e atuar acertadamente, preservando vidas e
cumprindo seu papel social.
4.2 Policial no cumprimento do dever legal
Os Direitos Humanos estão protegidos por leis internacionais e nacionais, e esses
instrumentos relacionam-se com a atividade policial, fornecendo insistente direcionamento para
o desenvolvimento de um policiamento ético e legal. Nem mesmos as normas e regulamentos
internos podem ser descumpridos, já que estão em consonância com os Direitos Humanos e as
leis internas e externas que garantem a efetividade desses direitos.
A polícia, que é o organismo social incumbido de zelar pelo cumprimento e
aplicação da lei, tem a obrigação de obedecer aos limites que ela mesma impõe, inclusive
a lei promulgada para a promoção e a proteção dos Direitos Humanos. Agindo assim, o policial
reconhece que os Direitos Humanos são invioláveis, sem desrespeitar atos das autoridades
públicas, sob pena de responsabilização administrativa, civil e criminal.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
b) a ameaça à vida à e segurança dos policiais deve ser encarada como ameaça à
estabilidade da sociedade como um todo;
c) os policiais exercem papel vital na proteção do direito à vida, à liberdade e à segurança
da pessoa, na forma garantida pela Declaração dos Direitos Humanos.
Os princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade e ética estão por trás de todas
as disposições detalhadas que regulam o uso da força pela polícia. Esses princípios exigem
respectivamente que a força somente seja usada pela polícia dentro dos parâmetros da lei,
quando estritamente necessária a seu atingimento e preservação da paz social, sendo usada de
forma proporcional, na medida exata do cumprimento da lei e restabelecimento da ordem
pública.
4.4.2 O escalonamento do uso da força pelo policial
Com a intenção de restringir o uso da força, na aplicação dos meios capazes de
causar morte ou ferimentos às pessoas, a polícia deve tornar disponível toda uma gama de
recursos para o uso diferenciado da força.
Os meios não-violentos devem ser empregados, antes do uso da força e da arma de fogo.
4.4.3 O uso da arma de fogo pelo policial
O uso da arma de fogo é permitido para autodefesa e defesa de terceiros, contra risco
iminente de morte ou ferimento grave, ou para captura de pessoa que represente esse tipo de
ameaça, quando os meios menos extremos forem insuficientes.
O uso letal intencional de armas de fogo é proibido, exceto quando estritamente
inevitável para proteger a vida.
4.4.3.1 O que o policial deve fazer antes de usar a arma
Antes de usar a arma de fogo contra pessoas, é imprescindível que o policial: a)
identifique-se como tal;
b) avise, prévia e claramente, sua intenção de usar a arma de fogo, com tempo suficiente
para que o aviso seja levado em consideração, a não ser que tal procedimento represente risco
aos policiais, ou acarrete risco de morte ou dano grave, ou seja claramente inadequado ou inútil,
dadas as circunstâncias do caso.
4.4.3.2 O que o policial deve fazer depois de usar a arma de fogo
Toda a vez que o uso legal da força ou da arma de fogo for inevitável, é
imprescindível que o policial:
a) modere o uso da força ou arma de fogo, minimizando o dano e o sofrimento,
para respeitar e preservar a vida humana;
b) assegure a assistência médica o mais cedo possível a qualquer pessoa ferida ou
atingida;
c) notifique os parentes ou amigos da pessoa ferida ou atingida.
Caso haja, por terceiros, resistência à captura, detenção ou prisão, em flagrante delito ou
por ordem judicial, os policiais poderão usar dos meios necessários para se defenderem ou para
vencer resistência, devendo lavrar um auto subscrito de tudo que ocorrer, devidamente
testemunhado por duas pessoas de maioridade e responsáveis.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
O policial que tenha de portar arma de fogo para o pleno desempenho da atividade
operacional somente estará em condições de portá-la, depois de completar o treinamento
necessário e relativo ao uso da arma que manuseará.
4.5 Policial mantenedor de sigilo em assuntos confidenciais
Os assuntos de natureza confidencial em poder do policial devem ser mantidos em sigilo,
a menos que, em razão do dever legal ou necessidade de justiça exijam atitude contrária.
Pela natureza da atividade, o policial acaba obtendo informações variadas que podem
prejudicar a reputação do acusado, o que torna necessária a devida cautela com o manuseio de
tais informações, para que elas não sejam reveladas com objetivos diferentes do cumprimento do
dever ou da necessidade de justiça.
4.6 Policial contra a tortura e o tratamento cruel, desumano ou degradante A
sociedade reconhece como inteiramente legítimo o uso da força pela polícia para manter e
defender o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Para tanto, o policial foi investido de
autoridade e poderes como o de dar buscas, deter, capturar e prender.
Quando as pessoas têm sua liberdade cerceada, elas crêem que sua integridade
física será preservada. A mesma sociedade que reconhece a necessidade do uso da força
pelo policial espera que não haja abuso praticado por ele. As pessoas capturadas, detidas ou
presas beneficiam-se de formas específicas de proteção, com base nos seguintes princípios:
a) ninguém será submetido à tortura ou a quaisquer outros maus-tratos;
b) todos os presos fazem jus a tratamento humano e respeito a sua inerente
dignidade humana;
c) todas as pessoas são presumidas inocentes, até prova contrária de acordo com a lei.
4.6.1 Policial inibidor da tortura
Não existe nenhuma situação em que a tortura possa ser infligida legalmente.
Nenhum policial, seja qual for seu posto ou graduação, tem justificativa ou defesa por ter
cometido tortura.
Em alguns casos, pode-se entender como correto e oportuno restringir alguns
direitos individuais em benefício do interesse público mais amplo para garantir outros
benefícios, tais como a ordem civil e a segurança pública. Mesmo assim, existem alguns direitos
que não são derrogáveis, e permanecem protegidos em qualquer circunstância.
Estes direitos variam ligeiramente de acordo com as disposições de cada tratado, mas
incluem sempre:
a) o direito à vida;
b) a proibição da tortura;
c) a proibição da escravidão.
A tortura foi obviamente tornada ilegal pela comunidade internacional e é definida na
Declaração sobre a proteção de todas as pessoas contra a tortura e outros tratamentos ou penas
cruéis, desumanos ou degradantes, como “forte dor ou sofrimento, seja físico ou Atuação Policial
Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
mental, infligidos a uma pessoa por um servidor público, ou através de sua instigação,
como os objetivos de obter, desta ou de outra pessoa, informações ou confissão, castigando-a por
um ato que tenha cometido ou seja suspeita de haver cometido, ou intimidando esta ou outras
pessoas”. A responsabilidade pela tortura inclui policiais de todos os níveis, que possam ser
responsabilizados por não ter conseguido preveni-la e ou reprimi-la.
4.6.2 A responsabilidade do policial contra a tortura
A convenção contra a tortura estipula que uma ordem de um policial na função de
comando não pode ser invocada como justificativa para a tortura.
Tal situação é ratificada no Código de Conduta dos Funcionários Responsáveis pela
Aplicação da Lei, no qual se afirma que “nenhum policial poderá invocar ordens superiores
como justificativa para praticar tortura”.
A obediência a ordens superiores não constituirá defesa eficaz para o policial que sabia
ser ilegal uma ordem para emprego de força ou arma de fogo, causadora de morte ou sério dano
à pessoa, tendo possibilidade razoável de desobedecer a tal ordem. Tal responsabilidade recai
também no superior que emitiu a ordem ilegal.
4.6.3 A conduta do policial contra a tortura
Os princípios para uso da força e arma de fogo afirmam que “nenhuma sanção
criminal ou disciplinar será imposta àqueles policiais que, seguindo o Código de Conduta
dos Policiais, se recusem a cumprir uma ordem para usar abusivamente força ou arma de fogo,
ou relatem que há esse costume por outros policiais”.
O policial tem enorme proteção para resistir a ordens ilegais que visem a prática de
tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. É, portanto,
definitivamente proibida ordem de policial que exerce comando sobre os demais, para
autorizar ou incitar outros policiais a realizar execuções extrajudiciais, sumárias e arbitrárias.
Nesse caso, o policial comandado terá o direito e a obrigação de desafiar tais ordens. Tal
procedimento deve ser enfatizado obrigatoriamente nos ensinamentos dos cursos e treinamentos
realizados na Corporação.
A exigência de conduta policial ética e legal significa que os policiais, como indivíduos,
devem procurar a eficácia, ao mesmo tempo respeitando a lei, a dignidade humana e os direitos
humanos.
4.7 Policial protetor da saúde das pessoas privadas da liberdade
O cuidado e a custódia de pessoas capturadas, detidas ou presas é aspecto
extremamente importante para o policial. Apesar de o tratamento dessas pessoas estar
regulamentado, tanto por leis internacionais quanto por leis nacionais, continuam a ocorrer
abusos.
O tratamento humano das pessoas privadas da liberdade não exige alto grau de habilidade
técnica policial, mas requer o respeito pela dignidade da pessoa humana e o cumprimento de
algumas regras básicas de conduta.
A maneira como uma instituição policial trata as pessoas privadas da liberdade é um
índice do profissionalismo de seus integrantes, dos padrões éticos que ela é capaz de manter e
demonstra até que ponto ela pode ser vista como um serviço para a comunidade, Atuação Policial
Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
Vale ressaltar que não é suficiente que o policial saiba que sua ação deve ser pautada na
lei e não na arbitrariedade. A ética pessoal do policial é que vai decidir o tipo de ação a ser
tomada em dada situação.
Em razão da natureza do trabalho, o policial estará atuando sempre em grupo.
Trabalhar com colegas em situações difíceis e perigosas, durante grande parte do dia,
pode levar ao surgimento de comportamentos típicos de grupos caracterizados por padrões
subculturais. O policial terá sua ética pessoal confrontada com a ética de grupo, cabendo a esse
indivíduo aceitar ou não a pressão que lhe foi imposta.
Quando nos consultamos com um médico, psicólogo ou advogado, acreditamos e
esperamos que nossa privacidade seja respeitada e nosso caso seja tratado
confidencialmente. A bem da verdade, confiamos na existência e no respeito de um
código de ética profissional, visto que a natureza da atividade possui um impacto direto na
qualidade de vida dos cidadãos como também da sociedade com um todo.
4.9 Policial no respeito à lei
Os policiais que tiverem motivos para acreditar que houve ou que está para haver
uma violação dos direitos humanos, do Código de Ética para O Encarregado da Aplicação
da Lei, ou outra lei, deverá comunicar o fato aos seus superiores e outras autoridades
competentes ou órgãos com autoridade de revisão e reparação.
O policial não sofrerá nenhuma sanção administrativa ou de qualquer outra
natureza, pelo fato de ter comunicado que houve, ou que está prestes a haver, violação da
lei.
4.10 O reflexo da violação dos Direitos Humanos pelo Policial
A atividade policial é um componente visível da prática do Estado na construção da paz
social. As ações dos policiais não são vistas nem avaliadas pela sociedade como individuais. Pelo
contrário, são vistas como indicador do comportamento da Instituição Policial como um todo. O
policial age sob a autoridade direta do Estado que lhe conferiu poderes especiais. Por esse
motivo as ações individuais do Policial, como o abuso de autoridade, o uso excessivo da força,
corrupção e tortura, podem ter um efeito devastador na imagem de toda a Instituição, gerando
traumas que nem sempre o tempo poderá superar.
As decisões e práticas tomadas pelo Policial devem ser vistas e aceitas como ações e
decisões do Estado, que é responsável em prestar contas à sociedade de seus atos. As práticas do
Policial Militar devem estar fundamentadas no respeito e obediência às leis do Estado.
Conseqüentemente, o que se espera do Policial é que ele respeite, proteja e promova os direitos
humanos de todas as pessoas sem nenhuma distinção.
O Policial Militar tem a capacidade individual e coletiva de influenciar a opinião pública.
Quando a ação do Policial Militar viola os direitos e liberdades dos cidadãos a aceitação da
autoridade do Estado é questionada e desacreditada. E sempre que o violador desses direitos não
for responsabilizado, não será somente a credibilidade do Estado, com respeito as obrigações
internacionais em direitos humanos, que estará em risco, mas o próprio conceito e qualidade dos
direitos e liberdades individuais defendidos pela Instituição Policial.
O ato individualizado do policial na violação dos direitos humanos poderá acarretar em
responsabilidades ao Estado Brasileiro perante a Comunidade Internacional.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
CAPÍTULO V
5
DEVERES E FUNÇÕES DO POLICIAL
5.1 Introdução
Em defesa de uma sociedade que adota, promove e aplica a paz social, envolvida em
aspectos de solidariedade entre as pessoas, na busca contínua de uma nova
consciência sobre o real significado de direitos humanos para os profissionais que
trabalham na esfera policial da segurança pública, deve a polícia pontuar quais sãos seus deveres
e sua função, para contribuir para o quadro social cada vez mais justo.
Dentro da esfera legal da polícia, é necessário conhecer seu exato dever que é a obrigação
ética e moral de fazer ou deixar de fazer algo, orientada e tutelada por leis, convenções
socioculturais e preceitos deontológicos.
O policial, diante da função que lhe reserva o Estado, tem o dever legal de respeito e
promoção dos direitos humanos do cidadão.
Não basta ser teórico em matéria de direitos humanos, prioritariamente na
atividade policial. É indispensável ser prático, preocupado sempre em servir e proteger a
sociedade, observados os deveres e a função atribuídos ao policial.
5.2 Princípios da ação policial
O policial deve ter sempre em mente que sua presença, principalmente de forma
ostensiva, inibe a ocorrência de infração penal. A experiência prática mostra-nos que o primeiro a
chegar ao local da ocorrência é o policial. Assim, é fundamental sua ação inicial, pois será
suporte dos passos seguintes das investigações. É imprescindível que essa providência inicial
seja conduzida de forma ética e legal.
Durante a fase de rastreamento policial no levantamento de dados, padrões
internacionais e nacionais de direitos humanos são de especial relevância.
Para que os princípios éticos sejam acatados em todos os procedimentos policiais do ciclo
completo de polícia, deve haver obediência às leis e respeito aos direitos humanos pelo policial.
Todas as informações levantadas pelo policial militar devem ser redigidas no
boletim de ocorrência, o que será útil à polícia judiciária no que tange aos aspectos
investigativos e subsidiará todo o processo desencadeado, até a esfera judiciária de julgamento e
solução.
5.3 Comportamento policial durante o rastreamento
Deve-se ressaltar que o serviço policial-militar, competente para o exercício da polícia
ostensiva e preservação da ordem pública, tem atuação eminentemente preventiva.
Uma vez rompida essa ordem, devem ser adotadas medidas que restaurem os
direitos da sociedade e socorram o cidadão. Se ocorrer a ruptura da ordem pública, a
perseguição criminal deve ser desencadeada imediatamente, com ou sem a presença da polícia
judiciária. Assim, a Polícia Militar não interrompe nem cessa o cumprimento de seu dever de
polícia administrativa em favor de outro órgão, em busca da defesa e promoção Atuação Policial
Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
foge da alçada e competência do policial, até mesmo porque tal situação ocorre de forma
secreta e pode acarretar inclusive atos de corrupção pelo policial que lida diretamente com esse
tipo de caso.
Para evitar esse caso que pode afetar a credibilidade da Instituição em decorrência de
ações isoladas, alguns procedimentos nesse tipo de relacionamento devem ser levados em
consideração, como direcionar para o mesmo policial os reiterados contatos para melhor
acompanhamento, dando-lhe a responsabilidade de conduzir a troca de informações para o
alcance da justiça. Embora seja uma premissa a ausência de identidade desses informantes, são
necessários para a segurança do próprio policial e conseqüentemente da Instituição, seus dados
em registro oficial, e que estes estejam acessíveis a uma pessoa específica na estrutura de
comando. Tais dados devem ser verdadeiros, até mesmo para a própria segurança do informante,
que deles deve ter conhecimento.
Não deve ser desprezado pelo policial o fato de o próprio informante ser o
responsável pelo planejamento das informações prestadas. Isso deve ser cautelosamente
monitorado.
O relacionamento entre a polícia e informantes transporta-nos à esfera de
corrupção. Isso implica que o controle e supervisão devem ser tratados com o mais alto
grau de profissionalismo, ética e moralidade, sem deixar que a subcultura policial permeie tais
situações. As políticas internas da Instituição, tratadas com bastante rigidez e lisura, devem
deixar claro ao policial que não é aceitável nenhum tipo de comportamento que possa contribuir
para o mínimo ato de corrupção ou desonestidade, durante o trato com as informações de caráter
confidencial.
A prevenção para não ocorrerem atos contrários aos aspectos legais, éticos e
morais tem de ser clara e constante, inclusive para não contribuir para o desrespeito aos
Direitos Humanos.
Em contrapartida, o policial que atuar por dever nos casos em que direitos foram
desrespeitados, jamais deve esquecer que, ao intervir em qualquer que seja o caso, pode, em
razão de sua conduta e atos, aumentar a lesão sofrida por aquela pessoa que foi vítima, bem
como provocar outras vítimas com sua inadequada atuação policial, desrespeitando direitos, ao
invés de garanti-los. O policial tem de pautar-se em comportamento ético, levar em consideração
os aspectos legais, respeitar e promover os direitos da pessoa humana. A vítima tem o direito de
pronta reparação dos danos que tiver sofrido. Para que tais direitos lhe sejam assegurados em
plenitude, a vítima tem de ser orientada e pelo próprio policial.
A rapidez e a cordialidade no atendimento de vítimas, a disponibilidade em ouvi-las,
deixá-las apresentar seus pontos de vista e preocupações, proteger-lhes a privacidade e garantir-
lhes a própria segurança e a de sua família e testemunhas são papéis que devem ser
desempenhados pelo policial, com vistas no bom desempenho de seu trabalho e no cumprimento
de seus deveres em prol do cidadão e da comunidade.
5.9 Princípios dos Direitos Humanos na captura e detenção
Durante a prevenção e detecção do crime, a captura e detenção exigem do policial alto
padrão de moralidade e ética. Durante os contatos policiais, fica evidente que sempre haverá
oportunidade para violação dos direitos e liberdades individuais das pessoas capturadas ou
detidas. Somente a ética e o profissionalismo impedem a transformação dessa oportunidade em
execução do mal.
Um fator indispensável para salvaguarda dos direitos das pessoas, como garantia mínima
exigida, é a atitude impecável do policial conjugada com seu comportamento e postura ética e
moral, mediante mecanismos de supervisão interna pela própria Organização.
Nos momentos de maior susceptibilidade de desrespeito aos direitos humanos das
pessoas, é que há a intervenção do policial. Uma questão importante é este profissional saber a
real dimensão de sua função aliada a seu dever de polícia. Como profissional, ele deve saber
mensurar seu valor individual e sua contribuição para os resultados individuais e coletivos, e,
conseqüentemente, para o melhoramento da imagem da Instituição.
5.10 Gerência, supervisão e coordenação pela Polícia Militar
Para a eficiência e efetividade das providências policiais, a Polícia Militar, no que tange à
proteção eficaz dos direitos humanos, precisa formular políticas e práticas, e estabelecer
minuciosos aspectos de comando: circuito gerencial e administrativo para exercício do controle
interno, e sistema de fiscalização e supervisão para prestação de contas, por ser órgão público em
estado democrático de direito.
Para o êxito da execução do policiamento com o devido respeito aos direitos humanos, é
de fundamental importância que os níveis estratégico e intermediário da Corporação estejam em
sintonia com o respeito aos mesmos direitos.
A supervisão deve ocorrer em caráter periódico e contínuo, com emissão de relatório de
conduta individual dos policiais. Tal aspecto deve ser objeto de implementação perene e pode
gerar outros prejuízos de caráter administrativo em função da atividade operacional. A qualidade
do serviço prestado pelo policial militar à comunidade é de vital importância para o Estado, no
desempenho da preservação da ordem pública e defesa social.
A supervisão e a coordenação são imprescindíveis para que a violação dos direitos não
ocorra, pois minimizam os possíveis excessos e abusos do policial. Ao mesmo tempo, deve ser
disseminada a idéia de que Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
CAPÍTULO VI
6 PROCEDIMENTO
POLICIAL-MILITAR
6.1
Introdução
A consolidação da democracia brasileira pressupõe o amplo exercício da cidadania para
todos. Nessa filosofia é que o policial deve se embasar para o trato diário com as pessoas. A
sociedade brasileira é plural, formada por diversidade de raças e credos, e por infinidade de
diferenças.
Vários procedimentos policiais devem ser feitos na chegada do policial ao local de
atendimento a uma ocorrência. Há providências deste profissional que exigem seqüência lógica
de idéias e atitudes, durante a atuação em local de infração penal.
Diante de tantas providências que o policial deve adotar na intervenção policial, vale
ressaltar que, em qualquer nível de procedimentos técnicos e táticos, os Direitos Humanos
devem permear todas as ações e atitudes policiais.
Assim, antes, durante e depois da atuação propriamente dita, o policial deve levar em
consideração a prioridade de segurança na intervenção, observando esta ordem de importância:
primeira, a segurança do público; segunda, a segurança dos policiais; terceira, a segurança do
cidadão infrator ou suspeito.
Todos esses cuidados são recomendados, a fim de que o público, no geral, não
seja exposto a riscos, pois nós, como profissionais que somos, devemos tecnicamente
tratar dos fatos, servindo e protegendo a comunidade.
É de fundamental importância que possamos embasar todos os procedimentos em
documentos nacionais e internacionais relativos aos direitos humanos de todas as pessoas
com as quais trabalhamos em nosso dia-a-dia.
O policial deve, no uso de suas atribuições legais, respeitar, garantir, preservar e proteger
os direitos humanos de todos os cidadãos, como veículo pleno de promoção desses direitos, no
momento em que o policial atua no atendimento a ocorrências nas ruas ou qualquer outro lugar,
quando e onde o cidadão lesado encontra-se mais vulnerável.
Nesse instante, é que atua o policial, que tem de pautar seu trabalho na legalidade,
necessidade, proporcionalidade e postura ética, sem nenhuma violação dos direitos humanos.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
6.2.1.2 Auto-identificação
A auto-identificação deve ser feita, de modo que o policial sempre esteja
praticando procedimentos de auto-salvaguarda, auto-defesa e auto-segurança, quando se
identificar a si mesmo como policial ao cidadão. Demonstrar clareza, falando seu nome e posto
ou graduação, não obscurecerá, em momento algum, sua autoridade de policial, mas enfatizará
sua postura ética e humana. Cabe ao policial saber que sua identidade profissional deve ser
pública diante de sua função revestida pelo Estado, e não pode confundir-se com sua identidade
pessoal, cujos registros não podem ser expostos aleatória e indiscriminadamente.
6.2.1.3 Tratamento da pessoa pelo nome
Tratar a pessoa pelo nome demonstra respeito e automaticamente possibilita o surgimento
de empatia entre as partes. Essa conduta humana, ética e respeitadora gera reciprocidade.
6.2.1.4 Tratamento respeitoso para com as pessoas
O policial deve tratar as pessoas, com respeito e cordialidade. O discernimento aliado ao
tirocínio deve ser inerente ao policial, especialmente para utilização de técnicas e Atuação
Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
policial tem o dever de assegurar a todos o direito de não se exporem à câmera, nem à
maquina de fotografia, nem ao assédio ou interrogatório por repórteres, sem ferir a integridade
física ou moral dos profissionais da imprensa. O policial não pode desrespeitar direitos de
pessoas em nenhuma hipótese, nem em razão do direito de outras. Ele deve oferecer tratamento
polido, ético e profissional a ambas as partes.
6.2.1.10 Esclarecimento sobre os motivos de uma abordagem
O policial deve esclarecer seus atos às partes interessadas e envolvidas, e expor-lhes o
porquê da abordagem, como forma de respeitar o direito de saberem o motivo da intervenção
policial e seu possível desdobramento. Desta forma, o policial está, mais uma vez, criando clima
de respeito, cortesia e credibilidade, para aumentar às pessoas a sensação de segurança, seja o
atendimento originado pela Central de Operações, por solicitantes durante o radiopatrulhamento
ou por iniciativa do próprio policial.
6.2.2 Importância do conhecimento e conjugação de esforços
Quando o policial aborda uma pessoa, tudo pode acontecer. Por isso, ele deve
conhecer e saber utilizar o uso progressivo da força, que é a seleção adequada de opções
de força em resposta ao nível de reação do indivíduo suspeito ou infrator a ser controlado.
A progressão do nível de força deve ser ajustada à resistência enfrentada pelo policial e
adequada ao tipo de ação do suspeito. Se um nível falha ou a reação aumenta ou diminui, o
policial adota outra ação proporcional, necessária e conveniente a cada reação, tudo de acordo
com a lei.
6.4 Minorias
6.4.1 Minorias
étnicas
“São grupos que apresentam fatores distinguíveis em termos de experiências
históricas compartilhadas e sua adesão a certas tradições e significantes tratos culturais,
que são diferentes dos apresentados pela maioria” ( Pouter, 1986, sic).
6.4.2 Minorias lingüísticas
“São grupos que usam uma língua, quer entre os membros do grupo, quer em
público, que claramente se diferencia daquela utilizada pela maioria, bem como da
adotada oficialmente pelo Estado. Não há necessidade de ser uma língua escrita.
Entretanto, meros dialetos que se desviam ligeiramente da língua da maioria não gozam
do mesmo modo que religião, e, a seguir, etnia, precisam ser definidas,o mesmo se dá com a
expressão língua, e minorias lingüísticas. Língua é utilizada como sinônimo de linguagem,
querendo significar ‘método humano e não instintivo de comunicar idéias, sentimentos e desejos,
por meio de um sistema de sons e símbolos sonoros’” (Hornby, 1974, sic).
6.4.3 Minorias
religiosas
“São grupos que professam e praticam uma religião (não simplesmente uma
outra crença, como o ateísmo, e.g.) Dienstein (1992:156) que se diferencia daquela
praticada pela maioria da população”. Esse é outro aspecto de relevo, a conceituação de religião,
para fins de proteção. Walker aponta que “ religião envolve crença em, e conciliação de, poderes
considerados superiores ao homem os quais são acreditados como reguladores e controladores do
curso da natureza, e da vida humana. Envolve elementos de crença, um corpo de dogma, atos de
profissão de fé, e ritual” (Dinstein, Yoram e M.Tobory, 1992).
No Brasil, existem as seguintes minorias: judeus, budistas, muçulmanos,
espíritas, praticantes de candomblé (religião jeje-nagô ou ioruba), entre outras.
6.4.4 Diferença entre grupos vulneráveis e minorias
Os Grupos Vulneráveis são pessoas que podem fazer parte de uma minoria
étnica, mas, dentro dessa minoria, têm uma característica que as difere das demais e as
torna parte de um outro grupo. Por exemplo: uma pessoa que faz parte de um pequeno grupo
islâmico, num país católico, e também portadora de deficiência física. Ela pertence a uma
minoria religiosa (islã) e integra outro grupo vulnerável por ter deficiência física.
A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos étnicos,
lingüísticos e religiosos. Os grupos vulneráveis estão relacionados com as características
especiais que as pessoas adquirem em razão de tenra idade, gênero, idade avançada, orientação
sexual e deficiência física ou sofrimento mental.
6.5 Atuação policial relativa aos grupos vulneráveis
6.5.1
Mulheres
A igualdade é a essência de toda a sociedade democrática comprometida com a
justiça e os direitos humanos. Em praticamente todas as atividades e esferas sociais, a
mulher é alvo de desigualdades, por lei e de fato. Essa situação é causada e agravada pela
existência de discriminação na família, na comunidade e no local de trabalho. A discriminação
contra a mulher mantém-se na sobrevivência de estereótipos (do homem e da mulher), de
culturas tradicionais e crenças prejudiciais às mulheres.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
particular com a situação das mulheres vítimas de violência nas mãos dos policiais e
funcionários do Estado − vítimas que incluem as mulheres que sofrem agressões enquanto
capturadas. É nítido o dever das organizações de aplicação da lei de se assegurarem de que
qualquer alegação de violência desse tipo tenha sido imediatamente levada à presença da
autoridade policial , a assistência médica, aconselhamento e outro serviço de apoio tenham sido
oferecidos às vítimas, a quem a implementação do direito à compensação tem de ser facilitado.
6.6
Crianças e adolescentes
Crianças e adolescentes têm direitos próprios que estão previstos em diversos
instrumentos internacionais e na legislação brasileira. A Constituição Federal relaciona em seu
art. 227 direitos destinados a garantir às crianças e adolescentes absoluta prioridade no
atendimento ao direito à vida, saúde, educação, convivência familiar e comunitária, lazer,
profissionalização, liberdade e integridade. Além disso, é dever de todos (Estado, família e
sociedade) livrar a criança e adolescente de toda a forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. Crianças e adolescentes têm primazia em receber
proteção e socorro em quaisquer circunstâncias, precedência no atendimento por serviços
públicos ou de relevância pública, destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
relacionadas com a proteção à infância e juventude, programas de prevenção e atendimento
especializado aos jovens dependentes de entorpecentes e drogas afins.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece um rol de direitos
exclusivos dessas pessoas, bem como regras especiais para o adolescente infrator.
Considera-se criança a pessoa de até doze anos de idade, e adolescente aquela de entre
doze e dezoito anos. O ECA também regula casos excepcionais de jovens que receberam
medidas que se esgotarão até depois dos dezoito anos, como no caso do prolongamento da
medida de internação e no caso de assistência judicial.
6.6.1 Ato infracional
Ato infracional é a ação tipificada como contrária à lei que tenha sido praticada pela
criança ou adolescente. São inimputáveis todos os menores de dezoito anos e não poderão ser
condenados a nenhuma pena. Recebem, portanto, tratamento legal diferente dos réus imputáveis
(maiores de dezoito anos) a quem cabe a penalização.
A criança acusada de crime deverá ser encaminhada à presença do Conselho
Tutelar ou Juiz da Infância e da Juventude. Se efetivamente praticou ato infracional, ser-
lhe-á aplicada medida especial de proteção como orientação, apoio e acompanhamento
temporário, freqüência obrigatória a ensino fundamental, requisição de tratamento médico e
psicológico, entre outras medidas.
Adolescente em caso de flagrância de ato infracional será levado à autoridade policial
especializada. Os adolescentes não são igualados a réus ou indiciados nem são condenados a
nenhuma pena (reclusão e detenção), como ocorre com os maiores de dezoito anos. Recebem
medidas socioeducativas, sem caráter de apenação. É ilegal a apreensão do adolescente para
averiguação. Fica apreendido, e não preso. A apreensão somente ocorrerá, quando for em
flagrância ou por ordem judicial, e, em qualquer das hipóteses, esta apreensão será comunicada,
de imediato, ao juiz competente, bem como à família do adolescente.
6.6.2 Apreensão do adolescente infrator
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
g) quando estiver em contato social ou trabalhando com pessoas com deficiência visual,
não pense que a cegueira possa vir a ser problema. Por isso, nunca as exclua de participar
plenamente nem procure minimizar tal participação. Deixe que decidam como participar.
Proporcione à pessoa cega a chance de ter sucesso e de falhar, tal como qualquer outra pessoa;
h) quando são pessoas com visão subnormal (alguém com sérias dificuldades
visuais), proceda com o mesmo respeito, perguntando-lhes se precisam de ajuda, quando
notar que elas estão em dificuldade;
i) quando se tratar de pessoa suspeita, deverão ser seguidos todos os
procedimentos acima, e efetuada a busca pessoal , tomando-se cuidado de avisar ao
suspeito que será procedida uma busca por outro policial, e que ele fique calmo.
6.8.5.4 Pessoa com deficiência auditiva
a) fale claramente, distinguindo palavra por palavra, mas não exagere. Fale com
velocidade normal, salvo quando lhe for pedido para falar mais devagar;
b) cuide para que o (a) surdo(a) enxergue sua boca. A leitura dos lábios fica impossível,
se você gesticula, segura alguma coisa na frente de seus próprios lábios, ou fica contra a luz;
c) fale com tom normal de voz, a não ser que lhe peçam para levantar a voz;
d) gritar nunca adianta;
e) seja expressivo. Como os surdos não podem ouvir as mudanças sutis do tom de sua
voz, indicando sarcasmo ou seriedade, a maioria deles(as) lerá suas expressões faciais, seus
gestos ou os movimentos de corpo, para entender o que você quer comunicar; f) se você quer
falar com uma pessoa surda, chame a atenção dela, sinalizando com a mão ou tocando em seu
braço. Enquanto estiverem conversando, mantenha contato visual. Se você olhar para outro lado,
enquanto está conversando, o(a) surdo(a) pode pensar que a conversa terminou;
g) se você tiver dificuldades para entender o que uma pessoa surda está falando, sinta-se à
vontade para pedir que ela repita o que falou. Se você ainda não entender, peçalhe para escrever.
O que interessa é comunicar-se com a pessoa surda. O método não é o que importa;
h) se o(a) surdo(a) está acompanhado(a) por um intérprete, fale diretamente à pessoa
surda, não ao intérprete;
i) ao planejar um encontro, lembre-se de que os avisos visuais são úteis aos
participantes surdos. Se estiver previsto um filme, providencie uma narração por escrito,
ou um resumo do conteúdo do filme, se não houver legenda;
j) quando se tratar de pessoa suspeita, deverão ser seguidos todos os
procedimentos acima, e efetuada a busca pessoal.
6.8.5.5 Pessoa com paralisia cerebral
a) a pessoa com paralisia cerebral anda com dificuldade ou não anda, podendo ter
problemas de fala. Seus movimentos podem ser estranhos ou descontrolados. Ela pode,
involuntariamente, apresentar gestos faciais incomuns, sob a forma de caretas.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
Geralmente, porém, trata-se de pessoa inteligente e sempre muito sensível – ela sabe e
compreende que não é como os outros;
b) para ajudá-la, não a trate bruscamente. Adapte-se a seu ritmo. Se não
compreende o que ela diz, peça-lhe que repita: ELA O COMPREENDERÁ. Não se deixe
impressionar por seu aspecto. Aja de forma natural... sorria...é uma pessoa igual a você.
6.8.5.6 Pessoa com deficiência mental
a) cumprimente a pessoa com deficiência mental de maneira normal e respeitosa, não se
esquecendo de fazer a mesma coisa, ao despedir-se. A pessoa com deficiência mental é, no geral,
bem disposta, carinhosa e gosta de comunicar-se;
b) dê-lhe atenção, dirigindo-lhe palavras como: "que bom que você veio",
"gostamos quando você vem nos visitar", tentando manter a conversa até quando for
possível;
c) seja natural. Evite a superproteção. A pessoa com deficiência mental deve fazer
sozinha tudo o que puder. Ajude-a, quando realmente for necessário;
d) deficiência mental pode ser conseqüência de uma doença, mas não é uma
doença. É uma "condição de ser". Nunca use a expressão "doentinho(a)" ou "bobinho(a)"
,quando se dirigir ou referir a uma pessoa com deficiência mental;
e) deficiência mental não é doença mental;
f) pessoa portadora de deficiência mental é, em primeiro lugar, uma pessoa;
g) enquanto for criança, trate-a como criança. Quando for adolescente ou adulto, trate-a
como tal.
6.8.5.7 Deficiência mental severa
Existem deficiências mais graves; como o Autismo e outras , em que o indivíduo não
interage com o mundo de forma adequada, apresenta sinais de agitação, não consegue
comunicar-se, não tem noção de perigo e, apesar de ser dócil, é arredio e reage com
agressividade em situações adversas.
a) o policial não poderá subestimar tais indivíduos e deverá ter total atenção na condução
deles , para evitar que se machuquem ou causem acidente;
b) ao conduzir essas pessoas a pé, o policial deve ter cuidados, ao atravessar ruas, pois
elas poderão lançar-se na frente de veículos em movimento;
c) essas pessoas deverão ser conduzidas a um centro neuropsiquiátrico, até que seus
parentes sejam encontrados.
6.9 Terceira Idade
Uma das principais causas que levam as pessoas da terceira idade ao
abandono ou descrédito é a situação de relaxamento e falta de execução de
normas. Assim, o afastamento da família, o internamento dessas pessoas em
locais inadequados a seu completo restabelecimento, manutenção de seu estado
físico e mental, o abandono pela sociedade, a começar pela própria família, caracterizam
situação que coloca em risco sua garantia e proteção integral, nos termos da Constituição,
desprezando, desta forma, todos aqueles que deram Atuação Policial Frente aos Grupos
Vulneráveis – Módulo 3
sua vida em prol de nossa nação e aqueles que lutam para vencer o preconceito e ser
integrados à sociedade.
A pessoa idosa deve ter tratamento que lhe garanta o direito à vida e participação na
comunidade, como defesa de sua dignidade e bem-estar. É bom deixar claro que na Lei Magna é
declarado que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar os idosos.
É necessário o engajamento de todos nessa causa, para que esse fundamento seja
implementado e torne-se realidade.
O policial deve estar ciente dessas premissas, quando, em sua rotina operacional, deparar
com situação que envolva pessoa de terceira idade. Na atuação do policial em relação à pessoa
idosa, ele, sempre que possível, tomará os seguintes cuidados: a) o idoso deve ter tratamento
especial. Dentro de uma delegacia, será
convidado a assentar-se;
b) também será ótimo oferecer-lhe um cafezinho e água. Com isso, o
policial estabelecerá clima de confiança e respeito;
c) se o idoso for suspeito, o policial deve respeitar sua idade e
condições de saúde, e manter com ele prévia conversa sobre o ato cometido, para
que ele comece a refletir sobre as conseqüências e esteja preparado para assumi-las,
resguardados os aspectos de segurança do policial;
d) será esclarecida ao idoso a ajuda jurídica que ele receberá do Estado, com outras
informações acerca da trâmite da investigação ou processo;
e) o idoso, sempre que possível, será acompanhado por algum membro
familiar; f) o policial deverá evitar agressão verbal ou física aos familiares do idoso,
vítima de crime, para não causar-lhe problemas sérios ou até complicações à saúde.
6.10 Atuação policial diante das minorias
6.10.1 Discriminação
Discriminação é a política que objetiva separar ou isolar no seio de uma sociedade as
minorias raciais, sociais, religiosas, culturais e ideológicas.
O racismo e a segregação social existem em nossa sociedade. A todo o momento,
deparamos com fatos que revelam a triste face do preconceito.
O policial deve pautar seu desempenho sempre nos princípios do bom- senso e
profissionalismo, ao lidar com situações nas quais uma pessoa se sinta discriminada por
sua cor, religião, etnia, língua ou procedência nacional, demonstrar sempre respeito pela crença e
cultura das pessoas envolvidas e deixar de lado suas convicções culturais e religiosas, em busca
da melhor solução do problema.
A lei nº 9.459,de 13/05/1997, tipifica o crime de racismo, com três importantes verbos:
obstar, recusar e impedir alguém de exercer seus direitos previstos pela lei: em decorrência de
sua cor, religião, etnia, língua ou procedência nacional. O cuidado que o policial deve ter é de
não enquadrar incorretamente uma pessoa no crime de racismo, pois algumas condutas estão
tipificadas como crime de injúria e não de racismo. Apesar de as duas condutas serem crime, a
diferença é que a primeira, o crime de racismo é inafiançável.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
Condição social ou étnica não se confunde com índole criminosa. Pessoas que se trajam
bem também podem ser suspeitas de algum crime. Não se pode suspeitar das pessoas, somente
porque são negras ou pobres.
Em ocorrências que envolvam pessoas de cor negra, o policial deve, resguardados os
aspectos de fundada suspeita e segurança, agir da seguinte forma:
a) não considerar de antemão que os negros são suspeitos (preconceito);
b) não tratar os cidadãos negros, mesmo em caso suspeito, por apelidos ofensivos à
pertinência racial. O descumprimento da lei não é uma característica de nenhuma raça ou etnia;
c) quando houver negros e não-negros; nunca revistar apenas os primeiros;
d) não agir preconceituosamente contra jovens vestidos de acordo com seu grupo cultural
(calças largas, bonés, cabelos descoloridos ou pintados, tranças, “rastafari”...) Em toda a
abordagem, considerar que todos os cidadãos têm seus direitos assegurados por lei.
6.11 Ações dos Comandantes de Unidade
Os Comandantes de Unidade deverão, nas respectivas áreas de atuação:
a) realizar capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo
de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais co-participem pessoas dotadas de deficiência
e sofrimento mental;
b) realizar capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo
de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais se envolvam minorias; c) interagir com os
conselhos tutelares e com eles manter um intercâmbio de
informações e apoio;
d) realizar capacitação periódica sobre o direito da criança e do adolescente para
policiais, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo de otimizar o atendimento de
ocorrências nas quais se envolvam crianças e adolescentes;
e) realizar capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo
de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais se envolvam pessoas de terceira idade;
f) realizar capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo
de otimizar o atendimento de ocorrências nas quais se envolvam homossexuais; g) realizar
capacitação periódica, mediante cursos, seminários e palestras, com o objetivo de otimizar o
atendimento de ocorrências nas quais se envolvam mulheres.
7 CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O papel da Polícia Militar de Minas Gerais na defesa social consiste em preservar a
ordem pública, por meio da prevenção e inibição dos atos anti-sociais. O policial militar atua,
preventiva e repressivamente, para promover a paz social por meio de procedimentos policiais de
proteção e socorro comunitário. Preventivamente, atua na defesa comunitária, executando o
policiamento, mediante presença ostensiva, principalmente em locais de risco, a qualquer hora,
inibindo ações delituosas dos que optaram por viver à margem da Atuação Policial Frente aos
Grupos Vulneráveis – Módulo 3
lei. Para o atingimento desse papel social, é necessário que os policiais militares sejam
capacitados e treinados para lidar com as mais diversas situações adversas, em ocorrências
policiais deparadas no dia-a-dia.
Haverá um lugar para o policial profissional que busca atualizar-se e aperfeiçoar-se nas
mais modernas técnicas e táticas policiais. Cabe à Instituição proporcionar treinamento de
qualidade e adequado ao policial voltado às novas realidades do ambiente no qual ele trabalha
em seu dia-a-dia, promovendo a proteção e a segurança das pessoas.
Ao policial cabe garantir aos cidadãos as liberdades asseguradas na Constituição Federal
e evitar o cometimento de crime. Na captura e detenção do agressor da sociedade, agir sem
violência nem abuso de poder. Impor sua autoridade, pelo exemplo moral.
Cumprir seu dever legal, de forma honesta e extensiva a todos. Usar sua arma, nos casos
de legalidade, necessidade, proporcionalidade e conveniência. Promover os direitos humanos.
É importante que o policial cumpra e faça cumprir o conjunto dos direitos que os
cidadãos têm assegurados na Constituição Federal, especialmente em seu art. 5º, como também
em outras legislações especiais, a exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Contra a
Tortura e Lei nº 4.898 (que regula a responsabilidade nos casos de abuso de autoridade).
O art. 5o da Constituição Federal apresenta setenta e sete direitos e liberdades individuais
os quais o policial deverá garantir em seu contato com o civil, durante o empenho nas mais
diversas ações e operações policiais-militares. Dentre esses direitos, como são em grande
número, abordaremos apenas alguns que consideramos essenciais ao cotidiano do policial em
contato com os cidadãos, exatamente os setenta e sete mais sujeitos a ser desrespeitados ou
violados.
1) Todos são iguais perante a lei
Significa que ninguém poderá sofrer nenhum tipo de discriminação em razão do
sexo, raça, cor, por ser pobre, pelas preferências sexuais ou crenças religiosas.
2) Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude da lei
Isto significa que as pessoas somente estão obrigadas a fazer ou deixar de fazer aquilo
que a lei determinar.
3) Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento humano
degradante
A tortura praticada pelo policial é crime, considerado, inclusive, hediondo, dos mais
cruéis. As pessoas capturadas ou detidas não podem ser submetidas a tortura nem a nenhum
outro tratamento desumano ou cruel.
4) São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação
Esse direito não pode ser violado. A intimidade da pessoa é o direito relativo às questões
da vida privada de cada cidadão. O direito à honra é o sentimento da própria dignidade e
reputação. A ofensa à honra das pessoas é crime, que pode resultar em condenação a quem
ofende, além de indenização por danos materiais ou morais. O direito Atuação Policial Frente aos
Grupos Vulneráveis – Módulo 3
8 RECOMENDAÇÕES FINAIS
Esta Diretriz será desdobrada pelas RPMs em Instruções, Planos ou Ordens para as
Unidades e Frações subordinadas.
Esta Diretriz entra em vigor a partir da data da sua publicação.
Revogam-se as disposições contrárias.
I
INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
1)
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Direitos
Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas
de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
qualquer outra condição.
Não será tampouco feita qualquer distinção fundada na condição política, jurídica ou
internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território
independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de
soberania.
Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de
escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo V - Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,
desumano ou degradante.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei.
Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo IX - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo XI
1.
Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que
a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe
tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
2.
Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não
constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta
pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII - Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no
seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem
direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII
1.
Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de
cada Estado.
Artigo XVII
1.
Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
2.
Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e
religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar
essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou
coletivamente, em público ou em particular.
Artigo XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo XX
1.
Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.
Artigo XXIX
1.
Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2.
No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações
determinadas por lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito
dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem
pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
3.
Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente
aos propósitos e princípios das Nações Unidas.
2)
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966)
Artigo 5º
§1
Nenhuma disposição do presente Pacto poderá ser interpretada no sentido de reconhecer a
um Estado, grupo ou indivíduo qualquer direito de deixar-se a quaisquer atividades ou de praticar
quaisquer atos Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
que tenham por objetivo destruir os direitos ou liberdades reconhecidos no presente Pacto
por ou impor-lhes limitações mais amplas do que aquelas nele previstas.
§2.
Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos direitos humanos fundamentais
reconhecidos ou vigentes em qualquer Estado-parte no presente Pacto em virtude de leis,
convenções, regulamentos ou costumes, sob pretexto de que o presente Pacto não os reconheça
ou nos reconheça em menos grau.
Artigo 6º
§ 1. O direito à vida é inerente à pessoal humana. Este direito deverá ser protegido pela
Leis. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.
§2.
Nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta
apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade coma legislação vigente na época em
que o crime foi cometido e que não esteja em conflito com as disposições do presente Pacto, nem
com a Convenção sobre a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar
essa pena em decorrência de uma sentença transitada em julgado e proferida por tribunal
competente.
§3.
Quando a privação da vida constituir crime de genocídio, entende-se que nenhuma
disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado-parte no presente Pacto s eximir-se, de
modo algum, do cumprimento de qualquer das obrigações que tenham assumido, em virtude das
disposições da Convenção sobre a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio.
§4.
Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A
anistia, o indulto ou a comutação da pena poderão ser concedidos em todos os casos.
§5.
Uma pena de morte não poderá ser imposta em casos de crimes por pessoas menores de
18 anos, nem aplicada a mulheres em caso de gravidez,
§6.
Não se poderá invocar disposição alguma de presente artigo para retardar ou impedir a
abolição da pena de morte por um Estado-parte no presente Pacto.
Artigo 7º
Ninguém poderá ser submetido a tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a
experiências médicas ou científicas.
Artigo 8º
§1.
Ninguém poderá ser submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos, em
todas as suas formas, ficam proibidos.
§2.
Ninguém poderá ser submetido à servidão.
a) ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios; b) a alínea
"a" do presente parágrafo não poderá ser interpretada no sentido de proibir, nos países em que
certos crimes sejam punidos com prisão e trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de
trabalhos forçados, imposta por um tribunal competente;
c) para os efeitos do presente parágrafo, não serão considerados "trabalhos forçados ou
obrigatórios":
1.
qualquer trabalho ou serviço, não previsto na alínea "b", normalmente exigido de um
indivíduo que tenha sido encarcerado em cumprimento de decisão judicial ou que, tendo sido
objeto de tal decisão, ache-se em liberdade condicional;
2.
qualquer serviço de caráter militar e, nos países em que se admite a ...menção por motivo
de consciência, qualquer serviço nacional que a lei venha a exigir daqueles que se oponham ao
serviço militar por motivo de consciência;
3.
qualquer serviço exigido em casos de emergência ou de calamidade que ameacem
o bem-estar da comunidade:
4.
qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
Artigo 9º
§1.
Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá ser preso ou
encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos
previstos em lei e em conformidade com os procedimentos nela estabelecidos.
§2.
Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e notificada,
sem demora, das acusações formuladas contra ela.
§3.
Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzida,
sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções
judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão
preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a
soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoa em
questão à audiência e a todos os atos do processo, se necessário for, para a execução da sentença.
§4.
Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade, por prisão ou encarceramento, terá o
direito de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a legalidade de seu encarceramento e
ordene a soltura, caso a prisão tenha sido ilegal.
§5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegal terá direito à reparação.
Artigo 10
§1.
Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à
dignidade inerente à pessoa humana.
Artigo 12
§1.
Toda pessoa que se encontre legalmente no território de um Estado terá o direito de nele
livremente circular e escolher sua residência.
§2.
Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio
país.
§3.
Os direitos supracitados não poderão constituir objeto de restrições, a menos que estejam
previstas em lei e no intuito de proteger a segurança nacional e a ordem, saúde ou moral
públicas, bem como os direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os
outros direitos reconhecidos no presente Pacto.
§4.
Ninguém poderá ser privado arbitrariamente do direito de entrar em seu próprio país.
Artigo 13
Um estrangeiro que se encontre legalmente no território de um Estado-parte no presente
Pacto só poderá dele ser expulso em decorrência de decisão adotada em conformidade com a lei
e, a menos que razões imperativas de segurança nacional a isso se oponham, terá a possibilidade
de expor as razões que militem contra a sua expulsão e de ter seu caso reexaminado pelas
autoridades competentes, ou por uma ou várias pessoas especialmente designadas pelas referidas
autoridades, e de fazer-se representar com este objetivo.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
SENASP/MJ - Última atualização em 10/02/2009
Página 72
Artigo 15
§1.
Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que não constituam delito de
acordo com o direito nacional ou internacional, no momento em que foram cometidos.
Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento da ocorrência do
delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o
delinqüente deverá dela beneficiar-se.
§2.
Nenhuma disposição do presente Pacto impedirá o julgamento ou a condenação de
qualquer indivíduo por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos, eram
considerados delituosos de acordo com os princípios gerais de direito reconhecidos pela
comunidade das nações.
II
INSTRUMENTOS REGIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
1.
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
Artigo I. Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sus pessoa.
Artigo II. Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm os direitos e deveres
consagrados nesta Declaração, sem distinção de raça, língua, crença, ou qualquer outra.
Artigo III. Toda pessoa tem o direito de professar livremente uma crença religiosa e de
manifestá-la e praticá-la pública e particularmente.
Artigo V. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra os ataques abusivos à sua
honra, à sua reputação e à sua vida particular e familiar.
Artigo VI. Toda pessoa tem direito a constituir família, elemento fundamental da
sociedade e a receber proteção para ela.
Artigo VII. Toda mulher em estado de gravidez ou em época de lactação, assim como
toda criança, têm direito à proteção, cuidados e auxílios especiais.
Artigo VIII. Toda pessoa tem direito de fixar sua residência no território do Estado de
que é nacional, de transitar por ele livremente e de não abandoná-lo senão por sua própria
vontade.
Artigo IX. Toda pessoa tem direito à inviolabilidade do seu domicílio.
Artigo X. Toda pessoa tem direito à inviolabilidade e circulação da sua correspondência.
Artigo XXI. Toda pessoa tem o direito de se reunir pacificamente com outras, em
manifestação pública, ou em assembléia transitória, em relação com seus interesses comuns, de
qualquer natureza que sejam.
Artigo XXII. Toda pessoa tem o direito de se associar com outras a fim de promover,
exercer e proteger os seus interesses legítimos, de ordem política, econômica, religiosa, social,
cultural, profissional, sindical ou de qualquer outra natureza.
Artigo XXIII. Toda pessoa tem direito à propriedade particular correspondente às
necessidades essenciais de uma vida decente, e que contribua a manter a dignidade da pessoa e
do lar.
Artigo XXV. Ninguém pode ser privado da sua liberdade, a não ser nos casos previstos
pelas leis e segundo as praxes estabelecidas pelas leis já existentes.
Ninguém pode ser preso por deixar de cumprir obrigações de natureza claramente civil.
Todo indivíduo, que tenha sido privado da sua liberdade, tem o direito de que o juiz
verifique sem demora a legalidade da medida, e de que o julgue sem protelação injustificada, ou,
no caso contrário, de ser posto em liberdade. Tem também direito a um tratamento humano
durante o tempo em que o privarem da sua liberdade.
Artigo XXVI. Parte-se do princípio de que todo acusado é inocente, até provar-se-lhe a
culpabilidade.
Toda pessoa acusada de um delito tem direito de ser ouvida em uma forma imparcial e
pública, de ser julgada por tribunais já estabelecidos de acordo com leis preexistentes, e de que
se lhe não inflijam penas cruéis, infamantes ou inusitadas.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
Deveres
Artigo XXXIII. Toda pessoa tem o dever de obedecer à Lei e aos demais mandamentos
legítimos das autoridades do país onde se encontrar.
III
INSTRUMENTOS NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS
1.
Constituição da República Federativa do Brasil
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição; II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei; III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante; IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro,
ou, durante o dia, por determinação judicial;
XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados
e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na
forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; XV
– é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
IV
DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO E DIREITO INTERNACIONAL
PACTO
DECLARAÇÃO
PACTO
INTERNACIONAL
CONVENÇÃO
CONSTITUIÇAO DA
UNIVERSAL DOS
INTERNACIONAL
AMERICANA
DOS DIREITOS
REPÚBLICA
DIREITO
DIREITOS
DOS
DIREITOS ECONÔMICOS,
SOBRE OS
FEDERATIVA DO
HUMANOS
CIVIS POLÍTICOS
DIREITOS
SOCIAIS E
BRASIL
(v. nota 1)
(v. nota 2)
CULTURAIS
HUMANOS
(v. nota 5)
(v. nota 3)
(v. nota 4)
VIDA
Art. 3º
Art. 6º *
art. 4º *
art. 5º, caput
INTEGRIDADE
PESSOAL
art. 3º e 5º
art. 7º * e 10
art. 5º *
art. 5º, III
PROIBIÇÃO DA
art. 1º, II e art. 5º,
ESCRAVIDÃO
art. 4º
art. 8º (1-2)*
art. 6º *
XLVII
PROTEÇÃO
À
FAMÍLIA E À
Art. 5º, LXXVI; 6º,
art. 16
art. 23, 24 e 25
art. 10
art. 17 * e 19*
226, 227 e 229
CRIANÇA
Art. 5º, incisos XXXV,
GARANTIAS
XXXVIII, XXXIX, LIII,
JUDICIAIS
art. 10 e 11
art. 14 e 15 *
art. 8º, 9º * e 10
LV, LVII, LXXIV
IGUALDADE
art. 3º, IV e 5º, caput
art. 7º
art. 14 e 26
art. 24
PERANTE A LEI
e inciso I
ACESSO AO
art. 8º e 10
art. 14 e 26
art. 8.1 e 25
art. 5º, XLI, XXXV
JUDICIÁRIO
art. 9º, 11 * , 14.6 e
art. 5º, caput, incisos
LIBERDADE PESSOAL art. 3º, 9º e 11.2
art. 7º, 9º e 10
15*
LXI, LXVII e LXXV
LIBERDADE DE
CONSCIÊNCIA
art. 18
art. 18 * e 27
art. 12 *
art. 5º, VI e VIII
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
CRENÇA
LIBERDADE DE
PENSAMENTO E
art. 5º, incisos IV, VII
art. 19
art. 19
art. 13
e IX
EXPRESSÃO
DIREITO DE
art. 14
art. 5º, inciso V
RESPOSTA
LIBERDADE DE
art. 20
art. 21
art. 15
art. 5º, XVI
REUNIÃO
DIREITO DE
PETIÇÃO
art. 16
XX
DIREITOS
art. 1º, § único, 5º,
POLÍTICOS
art. 20 e 21
art. 25
art. 23 *
LXXIII, 14, 15 e 37, I
DIREITO À HONRA E
DIGNIDADE PESSOAL art. 12
art. 17
art. 11
art. 1º, III e 5º, X
LIBERDADE DE
art. 9 e 13
art. 12, 13 e 24.3
art. 22
art. 5º, XV e LXVIII
LOCOMOÇÃO
INVIOLABILIDADE
art. 12
art. 17
art. 11
art. 5º, XI
DO DOMICÍLIO
INVIOLABILIDADE
DE
art. 12
art. 17
art. 11
art. 5º, inciso XII
CORRESPONÊNCIA E
COMUNICAÇÃO
PROTEÇÃO DA
art. 5º, I, 6º, 227, §
MATERNIDADE E
art. 25.2
art. 24
art. 19
INFÂNCIA
1º, inciso I
LIBERDADE DE
art. 5º, XIII, 7º , 8º e
TRABALHO
art. 23
art. 6º, 7º e 8º
art. 26
9º
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 3
DIREITOS SOCIAIS
DIREITO
À
art. 3º, I a IV, 4º, IX,
SEGURIDADE SOCIAL art. 22 e 25
art. 9º
art. 26
194 a 204
DIREITO À SAÚDE
art. 25
art. 12
art. 26
art. 196
DIREITO À MORADIA art. 25
art. 11
art. 26
art. 7º, IV
DIREITO
À art. 26 e 27
art. 13 e 15
art. 26
art. 205
EDUCAÇÃO
AMBIENTE
art. 5º, LXXIII, 225,
art. 25
art. 12
art. 26
SAUDÁVEL
170, VI
DIREITO DOS
ÍNDIOS
art.
27
art.
231
(*)
Esses direitos não podem ser derrogados sob nenhuma circunstância, mesmo em estado
de exceção.
NOTAS:
1.
Adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da Assembléia-Geral das Nações
Unidas, em 10 de dezembro de 1948, e assinada pelo Brasil, em 10 de dezembro de 1948.
2.
Adotado pela Resolução nº 2200-A (XXI) da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em
16 de dezembro de 1966, e ratificada pelo Brasil, em 24 de janeiro de 1992.
3.
Adotado pela Resolução nº 2200-A (XXI) da Assembléia-Geral das Nações Unidas, em
16 de dezembro de 1966, e ratificada pelo Brasil, em 24 de janeiro de 1992.
4.
Adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos
Humanos, em San José de la Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, e ratificada pelo Brasil,
em 25 de setembro de 1992 (Pacto de San José de la Costa Rica).
5.
Promulgada pela Assembléia Nacional Constituinte, em 05 de outubro de 1988.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o direito Constitucional
Internacional, 1997. p.337
2.
BRASIL, Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília: Congresso Nacional, 1988.
3.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua
portuguesa. 2ª ed. Ver. E aum. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
4.
MINAS GERAIS, Polícia Militar. Comando Geral. Manual de Prática Policial.
Belo Horizonte, 2002.
5.
MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: Teoria Geral,
Comentários dos Artigos 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil,
Doutrina e Jurisprudência. 3ª edição São Paulo: Atlas, 2000.
6.
Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em Paris, em 10 de dezembro de
1948.
7.
SABÓIA, Gilberto Vergne, org. Anais de Seminários Regionais
Preparatórios para Conferência Mundial contra Racismo, Discriminação
racial, Xenofobia e Intolerância Correlata/ organizadores Gilberto Vergne Sabóia,
Samuel Pinheiro Guimarães. Brasília, Ministério da Justiça, 2001.
8.
CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth; DORNELLES, João Ricardo Vanderley: A
polícia e os direitos humanos/,. – 2. Ed. – Rio de Janeiro: F. Bastos,2001.
9.
NORMAS e recomendações internacionais sobre deficiência/Tradução de Edílson
Alkmin da Cunha.-2.ed. – Brasília:CORDE,2001.
10.
Revista Todos, Grupo de Convivência para Homossexuais-GAPA/MG - Ano01 –
2002.
11.
ROVER,Cees de. Para Servir e Proteger. Direitos Humanos e direito
internacional humanitário para forças policiais e de segurança: manual para instrutores.
– C. de Rover. Trad. de Sílvia Backes e Ernani S. Pilla – Genebra:Comitê Internacional
da Cruz Vermelha, 1998.
A conceituação de Silva (2006) é uma das mais abrangentes e vem balizando uma série
de ações e estudos. Os moradores de rua se encontram num estágio de grande vulnerabilidade
social e, muito comumente, possuem um histórico de consecutivas perdas e uma série de
rompimentos com o trabalho, a família e, por fim, com a própria moradia. Normalmente
sobrevivem com pouca ou nenhuma renda. É
comum trabalharem como catadores de material reciclável nas ruas e lixões ou
sobreviverem de pequenos trabalhos artesanais e outras atividades, como lavar e vigiar
carros, por exemplo. Há os que, já decaídos, vivem de pedir esmolas.
Existem também os trabalhadores sazonais e pessoas que não se fixam numa
cidade. Esses últimos recebem o apelido de trecheiros.
Tabela 01
Cidades onde já houve censos de população em situação de rua
CIDADE ANO
DO
CENSO FREQÜÊNCIA
1995 302
Porto Alegre
1999 427
1998 916
Belo Horizonte
2005 1.164
2000 8.706
São Paulo
2003 10.399
2004 653
Recife
2005 1.390
Fonte: SILVA, 2006
74% dos entrevistados sabem ler e escrever, 17,1% não sabe escrever e 8,3%
apenas assinam o próprio nome; e
ESCOLARIDADE F
%
Nunca estudou
4.175
15,1
1º grau
incompleto 13.385
48,4
2º grau
incompleto 1.045
3,8
Superior
incompleto 190
0,7
Não sabe/Não
lembra 2.136
7,7
Não informado
2.787
10,1
Total 27.647
100
Alguns dados coletados pela contagem são bastante elucidativos. Exemplo disso é no que
tange à migração. Durante muito tempo foi reforçada a idéia de que a
pobreza urbana era decorrente, em grande parte, do êxodo rural. Com a população em
situação de rua, nos últimos anos percebe-se que esse fator tem cada vez menor relevância. Veja
na página seguinte, a contagem que comprova isso.
- Flanelinha (14,1%);
- Limpeza (4,2%); e
- Carregador/estivador (3,1%).
Somente 15,7% das pessoas declararam que pediam esmola como meio de
obtenção de renda. Esse resultado mostra que a situação de pedinte não é a mais comum
entre os moradores de rua.
Saiba mais...
Os casos que conhecerá são reais, porém, por questão de ética, nomes de pessoas e locais
foram omitidos ou trocados. Esses casos não têm cunho depreciativo ou
crítico, mas sim, didático, uma vez que irão remeter a questões, reflexões e
sugestões de práticas para que você possa estar mais preparado diante das situações que
por ventura vier a enfrentar. Anote as suas respostas, pois na próxima aula irá compará-las com o
ordenamento jurídico sobre essas questões.
Numa das noites mais frias do inverno de 2006, policiais que faziam plantão, ao passarem
pelas imediações do Hospital das Clinicas, se sensibilizaram com a
situação de Dona Marilda, de 72 anos, e de Dona Chica, de mais ou menos 50
anos, que encontrava-se com dificuldade de locomover-se por ter uma perna
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 4
amputada. Segundo Dona Chica, fazia tanto frio naquela noite que dois PMs que faziam
“batida” por ali na noite anterior, sentiram pena delas e, por volta das 22h, as colocaram na
viatura e rodaram a cidade toda, procurando um abrigo para deixá-
las.
Pergunta-se:
1. Nesse caso, o que você acha que faltou para que as senhoras fossem acolhidas?
2. Você faria o mesmo por elas?
Reflita!
Casos como esses são comuns em nossas cidades, mas será que não merecem
atenção especial por parte da segurança pública?
Pratique!
Procure localizar em sua cidade abrigos e albergues que recepcionem pessoas com
trajetória de rua, onde possa em uma situação como essa encaminhá-las.
Caso 2: PM é solicitada para retirar moradores de rua de um casarão ocupado.
Um grupo de cerca de 20 pessoas, entre elas solteiros e famílias com crianças, morava a
aproximadamente dois anos em um casarão abandonado. Durante esse
período, os mesmos utilizam os serviços de saúde e escola da região. Os adultos
trabalhavam como catadores ou flanelinhas nas proximidades. O imóvel é colocado á venda e a
pessoa interessada em comprá-lo tentou negociar com as famílias sua saída, sem êxito. Então, o
comprador buscou apoio no poder público que, com
laudo da Defesa Civil, montou operação para retirar as pessoas. Ao invés de se ajuizar
uma ação de reintegração de posse ou uma ação reivindicatória, o
proprietário se utiliza de via de duvidosa legalidade. Aciona a Defesa Civil e esta
mobiliza a Polícia Militar, com o fim de desalojar as famílias de sua posse, sem qualquer
mandado judicial. Como estratégia, as famílias foram avisadas que seriam Atuação Policial
Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 4
retiradas em um dia, quando na verdade seria feito no dia anterior. Embora não tivesse
ordem judicial, a gerência da Regional solicitou apoio da PM para retirada.
Nesse caso, a presença da polícia garantia a segurança dos funcionários da
prefeitura, mas também intimidava as famílias, forçando-as a aceitarem a
desocupação.
Ao chegar no local, a polícia encontrou o casal acordando e se preparando para sair para
trabalhar. Ambos eram catadores de material reciclável, inclusive dormiam sob o carrinho e tinha
com eles um cachorro. Ao serem abordados, Ana foi logo mostrando seus documentos, enquanto
João, exaltado, dizia que os fiscais da
prefeitura, em abordagem anterior, lhe haviam seqüestrado os documentos e o
próprio carrinho cheio de papel. Revoltado perguntava ao policial: E o senhor quer o quê?
Vão prender um trabalhador?
Pergunta-se:
Pratique!
Procure saber se em sua cidade existe algum órgão que lida diretamente com a
melhoria das condições das pessoas em situação de rua, como a Pastoral de Rua ou uma
sede do Movimento Nacional da População de Rua. Faça contatos com eles e
procure estar informado de como encaminhar adequadamente como as desse caso.
Pratique!
Procure reunir-se com seus colegas de trabalho, para juntos poderem buscar uma solução
para esse caso em específico. Troque idéias sobre a melhor forma de
solucionar a situação. Depois escreva a solução construída pelo grupo.
Esses casos foram citados para ajudá-lo a refletir sobre algumas situações
freqüentes em sua rotina operacional. Com a ajuda da próxima aula, faça um
paralelo sobre suas respostas e o que diz o ordenamento jurídico sobre as pessoas em
situação de rua.
As pessoas que se encontram em situação de rua constituem um grupo marcado por uma
invisibilidade social. A realidade vivida por elas, conforme ilustrado
anteriormente, representa grave violação a diversos dispositivos constitucionais, dos
quais se destacam:
2 – Princípio da Justiça Social – Constituição Federal – artigo 3º, incisos I, III, IV, que diz
que são objetivos fundamentais do nosso país: construir uma sociedade livre, justa e solidária,
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais, e promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação. Assim, quando uma pessoa estiver vivendo em condições sociais extremamente
precárias, deve ser atendida e encaminhada aos órgãos competentes para que possa recuperar as
condições de vida digna e, assim, o Estado possa cumprir um dos seus objetivos
fundamentais, o da justiça social.
3 – Princípio da igualdade ou isonomia – Constituição Federal – O artigo 5º diz que todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Isto significa que as pessoas
em situação de rua são cidadãs como qualquer outra pessoa que mora nesse país, e assim devem
ser tratadas pelas
autoridades e por todas as pessoas, e não com menosprezo ou humilhações por
parte de qualquer um, seja particular, seja servidor público.
4 – Princípio da legalidade – Constituição Federal, artigo 5º, inciso II, diz que ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, ou seja, as pessoas
na rua não podem ser obrigadas a fazer nada que não seja exigido por lei, e são livres para estar
em qualquer local, sem que a sua presença signifique desrespeito à lei, exceto se estiverem
praticando um crime. Ao mesmo tempo, o servidor público não pode aplicar nenhuma sanção ou
penalidade que não esteja prevista em lei e não tenha sido definida por um juiz, em sentença
fundamentada e transitada em julgado.
Constituição Federal, artigo 5º, inciso III, diz que ninguém será submetido à tortura nem
a tratamento desumano ou degradante. Isto significa que, como qualquer
cidadão do nosso país, a pessoa em situação de rua deve ser tratada com respeito, sem
agressões de qualquer natureza.
Vale lembrar que os servidores públicos que atuam nas ruas e que, no seu trabalho, lidam
com as pessoas em situação de rua, são operadores das normas legais. Nessa condição, em
diversas situações, eles são intérpretes dessas normas, e podem
encontrar saídas e soluções ditadas pelo bom senso para os problemas que lhes são
trazidos pela população, em vez de aumentar o problema com uma nova violação
de direitos.
Respostas:
3. A atitude dos policiais foi correta, a condição social das pessoas não retira delas a
condição de cidadãos.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 4
Neste módulo, você estudará sobre as pessoas com deficiência. É importante que
compreenda a situação delas no Brasil e que aprenda como prestar um atendimento adequado.
A sociedade ainda não está preparada para uma convivência harmônica e consciente com
essas pessoas. O espaço público, na maioria das vezes, não está adequado às suas necessidades e
faltam políticas públicas mais eficazes no atendimento aos deficientes. Porém, nos últimos anos,
grandes mobilizações do setor aconteceram e houve a criação de leis que visam à melhoria de
sua qualidade de vida.
É importante que o profissional de segurança pública conheça essas leis para a promoção
e defesa dessas pessoas.
Outra diferença importante é a distinção entre pessoa com deficiência e pessoa portadora
de deficiência. Ainda é usual "portadores de deficiência", muitos textos legais o usam, mas, o
movimento de pessoas com deficiência vem abandonando esse termo pelo seguinte
entendimento: o termo "portar" significa algo que se pode dispor dela: uma bola, uma caneta. A
deficiência é inerente à condição de individuo, não tem como a pessoa separar-se dela. A pessoa
não é "deficiente" (substantivo), também não “porta” uma deficiência, ela é uma pessoa com
deficiência. Procure usar o último termo.
Para saber mais sobre o uso de conceitos relativos às pessoas com deficiência, visite o
site da Secretaria dos Direitos Humanos da Pessoa com Deficiência.
(http://www.pessoacomdeficiencia.sp.gov.br/index.php/informacoes/p=terminologia)
Aula 2 – Situação das pessoas com deficiência no Brasil
O censo demográfico do IBGE 2000 apurou que 24,6 milhões de pessoas declararam
apresentar algum grau de limitação, o correspondente a 14,5% da população das quais 19,8
milhões residiam em áreas urbanas e 4,8 milhões em áreas rurais. A partir dos novos conceitos
introduzidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) considera-se a informação dos vários
graus de incapacidade e sua relação com contexto social e ambiental.
Veja quadro com indicadores do IBGE relativos a cada tipo de deficiência na página
seguinte.
Tabela 1
Tipo de deficiência
População residente
Mental
2.844.937
Física
1.416.060
Visual
16.644.842
Auditiva
5.735.099
Motora
7.939.784
Importante!
Algumas pessoas declararam possuir mais de um tipo de deficiência. Por isso, quando
somadas as ocorrências de deficiências, o número é maior do que 24,6 milhões, que representa o
número de pessoas, não de ocorrências de deficiência.
As deficiências concentram-se mais nas áreas rurais que urbanas, no Sul e no Sudeste e,
em virtude da grande população dessas regiões, predominam as deficiências nas áreas rurais
também na média do Brasil. Nas demais regiões predominam as deficiências em áreas urbanas.
Em número de pessoas, as regiões Sudeste e Nordeste, juntas, concentram 17,5 milhões de
pessoas com deficiência, o que corresponde a 71% do total.
Causas de deficiência
As causas mais freqüentes de deficiência identificadas nas áreas de maior carência estão
ligadas, fundamentalmente, às condições socioeconômicas do país, que se refletem diretamente
sobre a população mais vulnerável.
Embora a pobreza e a marginalização social não sejam exclusivas das pessoas com
deficiência, com toda a certeza agem mais cruelmente sobre elas. A realidade brasileira possui,
em alto grau, as características definidas pela ONU, acentuadas pelo alto índice de violência
urbana e no campo.
As transformações sociais necessárias para a inclusão das pessoas com deficiência não
dependem apenas de ações pontuais, específicas e momentâneas. Necessitam de políticas
públicas conseqüentes, intersetoriais e articuladas de forma a contemplar todas as dimensões da
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 5
vida dessas pessoas. Mais do que uma questão de educação, saúde, trabalho, cultura,
transporte, lazer, dentre outros, é uma questão de cidadania.
Para que se alcance a igualdade e plena participação, não são suficientes as medidas de
reabilitação orientadas para as pessoas com deficiência, faz-se necessária a adequação do
ambiente coletivo às exigências de toda a população, incluindo esse segmento de pessoas. Além
das pessoas com deficiência, esse grupo é formado também por idosos, obesos, cardíacos,
pessoas com problemas respiratórios, mulheres grávidas e todos aqueles que, por alguma razão,
no transcorrer de suas atividades cotidianas encontram-se com limitações na sua capacidade de
deslocamento ou de acesso aos bens e serviços da comunidade.
A experiência tem demonstrado que é, em grande parte, o meio que determina o efeito de
uma deficiência sobre a vida diária de uma pessoa, quando lhe são negadas as oportunidades de
acesso a tudo que a comunidade disponibiliza aos cidadãos. Essas oportunidades são necessárias
para efetivar os aspectos fundamentais para a vida familiar, como educação, emprego, proteção
econômica e social, participação em grupos sociais e políticos, atividades religiosas, atividades
esportivas, acesso às instalações públicas, habitação, cultura e turismo. Daí a importância da
inclusão.
Ao falar da inclusão social se faz referência a todas as pessoas, inclusive aos demais
grupos vulneráveis. Essas pessoas precisam estar incluídas mediante a adaptação da sociedade às
necessidades e peculiaridade específica desses segmentos sociais.
A diversidade humana é representada por origem nacional, sexual, religião, gênero, cor e
etnia, idade e deficiência. Muitas vezes a sociedade usa esses atributos pessoais e sociais para
separar as pessoas. Essas particularidades não devem se constituir em barreiras para o
relacionamento humano. Embora os preconceitos existam, é bom lembrar que a sociedade
constrói, de forma contraditória, o caminho inverso: o reconhecimento da liberdade religiosa, o
fim da escravidão, as aceitações das nacionalidades e da autodeterminação dos povos são bons
exemplos da luta contra o pensamento intolerante.
A inclusão das pessoas com deficiência constitui-se em um novo desafio que consiste no
papel das pessoas dentro do processo de mudanças sociais. As políticas, os programas, os
serviços e as práticas sociais não podem ser simplesmente disponibilizados a determinados
segmentos populacionais. Esses segmentos devem participar do desenvolvimento, da
implementação, do monitoramento e da avaliação desses programas e políticas.
Outro aspecto relevante a ser tratado é a questão da inclusão da pessoa com deficiência
no mercado de trabalho, com a capacitação exigida. Tem-se a convicção da necessidade de
intensificar políticas de qualificação profissional e de empregabilidade para esse grupo. Percebe-
se que políticas dessa natureza irão, no médio prazo, garantir cidadania e gerar mercado
consumidor entre as pessoas com deficiência. Por outro lado, haverá uma estratégia para
diminuir investimentos na manutenção de pagamento do custo relevante para o governo federal –
Beneficio de Prestação Continuada à Pessoa com Deficiência, transformando tais
investimentos em receitas para a União. Destaca-se, ainda, a questão da parcela de pessoas com
deficiência que tem capacidade produtiva e possui condições de gerar renda, mas necessita
desenvolver o trabalho protegido.
(http://www.mds.gov.br/programas/rede-suas/protecao-social-basica/beneficio-de-
prestacao-continuada-bpc)
O texto constitucional dispõe sobre essa temática nos seus artigos 227 e 244
(http://www.mpdft.gov.br/sicorde/Leg_CF_Art227_244.htm). Ressalta-se, ainda, o
compromisso Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 5
firmado pelo governo brasileiro com a Organização dos Estados Americanos – OEA, no
contexto da Convenção Interamericana para Eliminação de todas as formas de discriminação
contra as pessoas portadoras de deficiência, em especial as medidas previstas no Artigo III. No
texto estão estabelecidos os compromissos dos países membros para reafirmação dos direitos
humanos e das liberdades fundamentais da pessoa humana, com fundamento no princípio de que
justiça e segurança sociais são bases para uma paz duradoura.
(http://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/A-65.htm)
Ainda no campo legal e no sentido de estabelecer normas gerais e critérios básicos para a
promoção de acessibilidade, foram promulgadas as Leis n° 10.098/00 e 10.048/00
(http://www.mj.gov.br/sedh/ct/CONADE/conferencia/legislacao3.htm) e o Decreto nº
5.296/04, que as regulamenta. Esses preceitos legais nos levam à essência maior dos direitos para
todos.
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm)
dessas pessoas que necessitam de soluções especiais para lhes garantir autonomia e
segurança e, igualmente, melhor padrão de vida de toda a comunidade. Para isso, é preciso
intensificar ações que impulsionem o desenvolvimento de políticas integradas junto aos governos
de todos os níveis e com a sociedade civil, de forma a garantir os direitos deste segmento e
combater a discriminação, possibilitando o acesso aos bens e serviços existentes, buscando meios
de sua inclusão qualificada no processo de desenvolvimento país.
Secção VI
Dos serviços
Subsecção I
Do serviço social
Art. 93 A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2%
(dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas
portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:
http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.HTM
A Lei n° 8686, de 20 de junho de 1993 dispõe sobre reajustamento da pensão especial aos
deficientes físicos portadores de Talidomida, instituída pela Lei nº 7070, de 20 de dezembro de
1982.
(http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1993/8686.htm)
(http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1993/8687.htm)
(http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/dh/volume
%20i/lei9533.htm) A Lei nº 9615 de 24 de março de 1988 institui normas gerais sobre o desporto
e dá outras providências.
(http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1998/9615.htm)
(http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/23/1999/3298.htm)
(http://www.usp.br/drh/novo/legislacao/dou2001/df3956.html)
(http://www.planalto.gov.br/ccivil/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm)
(http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/42/2000/10048.htm)
(http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/42/2000/10098.htm)
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5622.htm)
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/D5626.htm)
(http://www.leidireto.com.br/lei-10182.html)
Procure:
Evite:
Lembre-se:
A pessoa atendida tem alguma deficiência, mas, como todo ser humano, possui
habilidades, talentos e potencialidades em áreas específicas; e
A pessoa atendida está exercendo sua independência. Faça sua parte oferecendo soluções
aos problemas apresentados e receba sugestões.
Fazendo-se entender:
Procurando entender:
- Fique atento aos lábios, aos seus e às expressões faciais e corporais da pessoa com
quem o diálogo está sendo mantido;
- Solicite, quando necessário, que seja repetida a frase ou faça o comunicado de outra
forma;
- Utilize a escuta, quando necessário, para melhor compreensão da demanda da pessoa; e
- Ao transmitir, por telefone e em tempo real, mensagens de uma pessoa com deficiência
auditiva, repita o que ela disse na primeira pessoa do singular.
Evite:
- Iniciar o diálogo sem possuir a atenção visual da pessoa, cuidando para não mudar
repentinamente a forma de comunicação;
- Conversar com outras pessoas, atender telefone ou trabalhar no computador;
- Exagerar na articulação das palavras, fale no seu tom e no ritmo normal; e
- Utilizar gestos com as mãos que possam cobrir a boca ou rosto.
Lembre-se:
Abrir a porta do carro utilizando o braço seguro pela pessoa cega, para que ela possa
sentar-se; e
Ao descer do carro, observe se a porta do "carona" não está ao lado de um buraco ou de
uma poça de água.
Evite:
- Deixar a pessoa sozinha sem avisá-la de sua saída. Caso você saia sem avisá-la, ela
continuará falando como se você ainda estivesse ali.
Procure:
- Repassar as informações, solicitações e/ou orientações de forma engajada e utilizando
exemplos concretos.
Evite:
- Ficar aborrecido se a pessoa que está sendo atendida se distrai. Não interprete como
falta de educação.
Algumas polícias, dentre elas a Polícia Militar de Minas Gerias, têm dado bons exemplos
na elaboração de diretrizes para atendimento às pessoas com deficiência.
Antes de terminar a aula, leia parte do capítulo da Diretriz Para Produção De Segurança
Pública Nº 8 (Ver anexo 1), que trata sobre a forma correta de abordar pessoas com deficiência.
Conclusão
Não fique inibido em ajudar uma pessoa com necessidade por não saber como tratá-la,
siga o que aprendeu nesta aula, pergunte sempre como você pode ajudá-la, usando compreensão
e cordialidade e vá em frente.
Antes de finalizar este módulo, visite alguns sites que tratam do tema abordado:
Legislação pertinente ao tema
(http://www.mj.gov.br/sedh/ct/CONADE/conferencia/legislacao3.htm)
CORDE
(http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/principal.asp)
Acessibilidade
(http://acessibilidade.sigaessaideia.org.br/)
CONADE
(http://www.mj.gov.br/sedh/ct/conade/index.asp)
2. Quais as duas regiões brasileiras que concentram maior número de pessoas com
deficiência no Brasil?
3. Você está conversando com uma pessoa com deficiência visual, se vai se afastar, como
deve proceder?
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 5
Respostas:
1. O censo demográfico do IBGE 2000 apurou que 24,6 milhões de pessoas declararam
apresentar algum grau de limitação.
3. Deve avisá-la que irá se retirar do local, para que ela possa saber que ficará sozinha e
interromper o diálogo.
Além das telas apresentadas, o material complementar está disponível para acesso e
impressão.
Anexos:
Anexo 1
Doença
É toda a perturbação da saúde, moléstia, mal, enfermidade, temporária ou definitiva.
Incapacidade
Toda a restrição ou falta (por uma deficiência) da capacidade de realizar uma atividade,
na forma ou na medida em que se considera normal a um ser humano.
Impedimento
Situação desvantajosa para determinado indivíduo, em conseqüência de deficiência ou de
incapacidade que limita ou impede o desempenho de papel que é normal em seu caso, em função
de idade, sexo e fatores sociais e culturais.
Cuidados no trato com pessoa deficiente
“Existe atualmente um grande número, que aumenta dia a dia, de pessoas com
deficiência. Está confirmada, pelos resultados de pesquisas com segmentos da população
e por investigações de respeitados pesquisadores, a estimativa de 500 milhões”.
As causas das deficiências variam em todo o mundo. O mesmo acontece com a
predominância e as conseqüências das deficiências. Essas variações são conseqüências
das diferentes circunstâncias socioeconômicas e das disposições que cada sociedade adota para
alcançar o bem-estar de seus membros.
Segundo estudo realizado por peritos, estima-se que, pelo menos, 350 milhões de pessoas
com deficiência vivem em regiões onde não há disponibilidade de serviços necessários para
ajudá-las a superar suas limitações. Grande parte dessas pessoas está sujeita a barreiras físicas,
culturais e sociais que dificultam sua vida, mesmo quando há ajuda para sua reabilitação.
Para alcançar os objetivos de “igualdade” e “plena participação”, não bastam medidas de
reabilitação voltadas para o indivíduo com deficiência. A experiência tem demonstrado que é o
meio que determina, em grande parte, o efeito de uma deficiência ou incapacidade na vida diária
da pessoa. Uma pessoa torna-se vítima do impedimento, quando lhe são necessários aos aspectos
fundamentais da vida, inclusive, a vida familiar, a educação, o emprego, a moradia, a segurança
econômica e pessoal, a participação em grupos sociais e políticos, nas atividades religiosas, nas
relações afetivas e sexuais, no acesso a instalações públicas, na liberdade de movimentos e no
sistema geral da vida diária.
O policial atua como agente da cidadania e, como tal, deve saber comportar-se
adequadamente em ocorrência que envolva pessoas deficientes físicas e com sofrimento mental,
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 5
b) Para ajudá-la, não a trate bruscamente. Adapte-se a seu ritmo. Se não compreende o
que ela diz, peça-lhe que repita: ELA O COMPREENDERÁ. Não se deixe impressionar por seu
aspecto. Aja de forma natural... sorria, porque é uma pessoa igual a você.
Pessoa com deficiência mental
a) Cumprimente a pessoa com deficiência mental de maneira normal e respeitosa, não se
esquecendo de fazer a mesma coisa, ao despedir-se. A pessoa com deficiência mental é, no geral,
bem disposta, carinhosa e gosta de comunicar-se;
b) Dê-lhe atenção, dirigindo-lhe palavras como: "que bom que você veio", "gostamos
quando você vem nos visitar", tentando manter a conversa até quando for possível; c) Seja
natural. Evite a superproteção. A pessoa com deficiência mental deve fazer sozinha tudo o que
puder. Ajude-a, quando realmente for necessário;
d) Deficiência mental pode ser conseqüência de uma doença, mas não é uma doença. É
uma "condição de ser". Nunca use a expressão "doentinho(a)" ou "bobinho(a)" quando se
dirigir ou referir a uma pessoa com deficiência mental;
e) Deficiência mental não é doença mental;
f) Pessoa portadora de deficiência mental é, em primeiro lugar, uma pessoa; e g)
Enquanto for criança, trate-a como criança. Quando for adolescente ou adulto, trate-a como tal.
Deficiência mental severa
Existem deficiências mais graves, como o autismo, por exemplo, e outras, em que o
indivíduo não interage com o mundo de forma adequada, apresenta sinais de agitação, não
consegue comunicar-se, não tem noção de perigo e, apesar de ser dócil, é arredio e reage com
agressividade em situações adversas;
a) O policial não poderá subestimar esses indivíduos e deverá ter total atenção na
condução deles, para evitar que se machuquem ou causem acidente;
b) Ao conduzir essas pessoas a pé, o policial deve ter cuidado ao atravessar ruas, pois elas
poderão lançar-se na frente de veículos em movimento; e
c) Essas pessoas deverão ser conduzidas a um centro neuropsiquiátrico até que seus
parentes sejam encontrados.
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 5
(http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/r_alves/id131002.htm)
Nele, o renomado educador apresenta a Declaração dos Dez Direitos Naturais das
Crianças.
Depois de lê-lo, reflita como pai, mãe, responsável ou servidor da área de segurança
pública, e responda: o que faz para ajudar a garantir esses direitos?
Sujeitos de direitos
O termo “sujeito de direito” representa, hoje, condição especial que deve garantir direitos
e deveres individuais e coletivos, bem como todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes
facultar um bom desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade.
Você, com certeza, já ouviu falar ou já leu a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH) de 1948. Até hoje esse documento é considerado a principal norma de direitos humanos
no mundo. Em seu artigo XXV consta que “a maternidade e a infância têm direito a cuidados e
assistência especiais (...)”
(http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm)
Importante!
No nível internacional, além da DUDH, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou,
por unanimidade, em 20 de novembro de 1989, a Convenção sobre os Direitos da Criança
(CDC), que reconhece em seu preâmbulo “A NECESSIDADE DE CUIDADOS E PROTEÇÃO
ESPECIAIS, INCLUINDO A PROTEÇÃO JURÍDICA ADEQUADA PARA A
CRIANÇA”
(http://www.unicef.pt/docs/pdf_publicacoes/convencao_direitos_crianca2004.pdf) Essa
convenção foi confirmada por 192 países e é o instrumento de direitos humanos mais aceito na
história universal.
A CDC em seu artigo 1º definiu criança como “todo ser humano com menos de dezoito
anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja
alcançada Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 6
antes”.
O ECA – Lei Federal nº 8069 – teve origem com base no artigo 227, da CF/88, sendo
sancionado em 13 de julho de 1990.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm)
Importante!
Como princípios norteadores do ECA estão definidos que crianças e adolescentes são:
- Prioridade absoluta na formulação de políticas, na destinação de recursos e na prestação
de socorro;
- Seres em desenvolvimento, devendo essa condição fundamentar ações e decisões no
âmbito individual e coletivo; e
- Sujeitos de direitos.
As ações da política de atendimento devem ser orientadas pelas diretrizes do ECA. São
elas: Municipalização do atendimento – O município, de forma ampla e integrada, incluindo
famílias, grupos sociais e poder público, é responsável pelas suas crianças e adolescentes.
Criação dos Conselhos Municipal, Estadual e Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente.
- Requisitar serviços públicos na área da saúde, educação, trabalho, previdência, caso seja
necessário; e
Praticando
Procure:
- Localizar o Conselho Tutelar de seu município ou da sua regional;
- Conhecer o Conselho dos Direitos de seu município, acompanhar seu trabalho, suas
atribuições, as prioridades e ações;
- Conhecer mais sobre a Doutrina de Proteção Integral;
- Ter em mãos o Estatuto da Criança e do Adolescente; e
- Participar de grupos de discussão existentes no seu município: fóruns dos direitos,
frentes de defesa.
Como outras polícias estaduais, a Polícia Militar de Minas Gerais possui em seu
arcabouço de normas, a Diretriz para a produção de serviços de Segurança Pública Nº 08/2004,
que trata da atuação policial segundo a filosofia de direitos humanos, e que traz em um dos seus
capítulos, a atuação policial frente às crianças e aos adolescentes.
Orientações gerais
Importante!
Criança e o adolescente não cometem crime, e sim, ato infracional.
Art. 103 do ECA – “Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 6
São inimputáveis todos os menores de dezoito anos e não poderão ser condenados a
nenhuma pena. Recebem, portanto, tratamento legal diferente dos réus imputáveis (maiores de
dezoito anos) a quem cabe a penalização.
O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo
ser informado acerca de seus direitos.
Importante!
Art. 178º do ECA – O adolescente apreendido pela prática de ato infracional não poderá
ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena
de responsabilidade.
I – Advertência;
II – Obrigação de reparar o dano;
III – Prestação de serviços à comunidade;
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 6
IV – Liberdade assistida;
V – Inserção em regime de semiliberdade;
VI – Internação em estabelecimento educacional; e
VII – Qualquer uma das previstas no artigo 101, I a VI.
Para que possa compreender melhor essa questão, nas próximas páginas você verá alguns
dados estatísticos sobre situações relacionadas à violação dos direitos humanos.
O Brasil, segundo pesquisa publicada recentemente pelo Fundo das Nações Unidas para a
Infância, o Unicef, ocupa lugar de destaque sobre fome, desemprego e miséria, conforme
BONDARUK (2005, p.19):
Severa degradação das condições humanas básicas, incluindo alimentação, água limpa,
condições sanitárias, saúde, habitação, educação e informação. São nessas condições,
consideradas de absoluta pobreza, que vivem quase 6 milhões de crianças brasileiras. Esse
número representa 10% da população infantil do Brasil, que já chega a 60 milhões de crianças. A
pesquisa ainda mostra que 15% das crianças brasileiras vivem sem condições sanitárias básicas.
As áreas rurais do Brasil concentram a maioria das crianças carentes, com 27,5% delas
vivendo em absoluta pobreza. Nas áreas urbanas esse número representa 4,3% da população
infantil.
Mais de 1,3 milhões sofrem com problemas alimentares no Brasil, como desnutrição e,
até mesmo, fome.
Criança e adolescente em trabalho infantil
Conforme Silva (2002), apud OLIVEIRA e CAFÉ (2006, p. 5), “três entre dez crianças
de zero e doze anos sofrem, diariamente, algum tipo de maus-tratos dentro da própria casa,
perpetrados por pais, padrastos ou parentes”.
Você, em sua labuta operacional ou administrativa, já deve ter sido acionado ou ter se
deparado com inúmeros casos de violência praticada contra crianças e adolescentes.
Nas próximas páginas, você terá acesso, por meio de algumas situações, a sugestões de
atendimento a crianças e adolescentes em casos de violação de seus direitos.
Art. 136 É atribuição do Conselho Tutelar atender às crianças e aos adolescentes sempre
que os direitos reconhecidos no referido estatuto forem ameaçados ou violados por ação ou
omissão da sociedade ou do Estado; por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável e em
razão de sua conduta, aplicando as medidas de proteção previstas no artigo 101, I a VII.
Sugestão de atendimento
Nesse caso, a criança deve ser encaminhada ao Conselho Tutelar para que sejam tomadas
as providências previstas no artigo 101, do ECA.
Situação prática 2 – Criança e adolescente em trabalho infantil (Ver anexo 1) Imagine que
você está de serviço próximo a um local onde funciona uma serralheria e uma pessoa te aborda e
relata a seguinte situação: uma criança de 12 anos está trabalhando no local, pois o pai ganha
pouco e o seu filho tem de ajudar em casa. Como você, profissional operador de segurança
pública, agiria nessa situação?
A Constituição Federal diz ainda sobre a Doutrina da Proteção Integral em seu artigo 227,
conforme citado na introdução dessa aula.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7º, inciso XXXIII, com nova redação dada
pela Emenda Constitucional nº 20, de 16/12/1998, prevê a “proibição de trabalho noturno,
perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos,
salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.”
Importante!
ECA, artigos 60, 65 e 67 e Lei 10.097/00 – Esses artigos falam sobre o direito à
profissionalização e à proteção no trabalho dos adolescentes.
Sugestão de atendimento
Você deve tomar alguns cuidados, sendo um deles, verificar a veracidade do fato que lhe
foi repassado. Caso haja realmente suspeita do trabalho infantil se faz necessário a lavratura de
um boletim de ocorrência com destino a um dos órgãos abaixo que tomarão as providências
necessárias:
- Ministério Público do Trabalho;
(http://www.mpt.gov.br)
- Ministério do Trabalho – Delegacia Regional do Trabalho;
- Ministério Público do Estado – Promotoria Pública;
- Conselhos Estaduais dos Direitos da Criança e do Adolescente; e
- Conselho Tutelar.
A situação abordada aqui está relacionada à violência doméstica (Ver anexo 2) e sexual
contra criança e adolescente.
Você trabalha próximo a uma escola e em um determinado dia a diretora lhe chama,
tendo em vista que suspeita que uma aluna de 08 anos foi violentada sexualmente pelo seu
padrasto. A diretora suspeitou do fato, pois, estabeleceu um clima de confiança e respeito com a
criança, Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 6
A Lei 12.015/ 2009 (Crimes contra a Dignidade Sexual) trouxe a seguinte modificação no
código penal: Estupro de vulnerável ( Art.217- A do Código Penal).
Pela nova lei 12.015/09, quem praticar ato libidinoso ou relações sexuais com menor de
18 anos e maior de 14 anos, mesmo que essa pessoa já tenha se corrompido por meio da
prostituição, incorre na pena prevista pelo crime de: ”Submeter, induzir ou atrair à prostituição
ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la,
impedir ou dificultar que a abandone”,que varia de 04 a 10 anos de reclusão. (Art. 218 – B § 2º
inciso I).
Sugestão de atendimento
Você não pode esquecer que o caso citado é considerado crime, por isso, é necessário
procurar obter um maior número de informações.
Importante!
Quando não houver Conselho Tutelar, o ECA, em seu artigo 62, prevê que suas funções
serão exercidas pela autoridade judiciária.
É necessária uma atuação conjunta entre os órgãos: polícia, conselhos, Ministério
Público, serviços de assistência, delegacia especializada, dentre outros, para que existam os
encaminhamentos necessários, a fim de garantir os direitos fundamentais da adolescente. O fato
deve ser lavrado em boletim de ocorrência, tendo em vista que é crime e com destinação à
Atuação Policial Frente aos Grupos Vulneráveis – Módulo 6
Você, operador de segurança pública, saiba que em caso de situações agudas de violência
sexual (ocorridas num prazo igual ou inferior a 72 horas), a vítima deve ser imediatamente
encaminhada a um hospital de referência para esse tipo de atendimento. Nele, a vítima recebe
atendimento médico e psicossocial especializados, medicação preventiva de doenças
sexualmente transmissíveis (DST) e outras orientações.
Praticando
Procure saber:
- Qual(is) hospital(is) em seu município é considerado de referência para esse tipo de
atendimento?
Agora que você estudou sobre os direitos da criança e do adolescente, pesquise mais
sobre o assunto visitando os sites indicados e leia as legislações internacionais sobre esses
direitos.
- DHNET
(http://www.dhnet.org.br/)
- Ministério da Justiça
(http://www.mj.gov.br)
(http://www.unicef.pt/docs/pdf_publicacoes/convencao_direitos_crianca2004.pdf)
Conclusão
Lembre-se de que esse estatuto também foi feito para seus filhos, netos, sobrinhos, enfim,
conhecer sobre ele fará você conhecer mais sobre seus próprios direitos.
Conclusão do curso
Neste curso, você conheceu o universo dos grupos vulneráveis. Você pôde perceber que
faz parte dele uma parcela significativa da população brasileira, que sofre com o preconceito
social e, muitas vezes, com a falta de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade de
suas vidas.
Você estudou sobre como lidar com cada grupo e em como atender às suas necessidades
básicas.
Dentro dessa nova visão, você terá condições de ajudar muito mais a essas pessoas,
lidando com elas de forma adequada e orientando-as quando necessário.
Bom trabalho!
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher. Brasília, 2006.
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher. Brasília, 2006.
BRASIL, Constituição da República Federativa do.
Disponível em: http://www.legis.senado.gov.br/con1988.htm - acesso em 14/04/2008
ONU. Princípios básicos sobre o uso da força e armas de fogo pelos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei (Adotados por consenso em 7/09/1990, no VIII Congresso das
Nações Unidas) ONU. Pacto internacional de direitos individuais, civis e políticos e Pacto
internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais (ONU, 1966).
PASTORAL DO POVO DA RUA. Pastoral do povo da rua: vida e missão. São Paulo:
Loyola, 2003. 87 p.
Gerais segundo a filosofia dos direitos humanos. Belo Horizonte, 2004. ONU.
Convenção sobre os direitos da criança (1989).
ROVER, Cees de. Direitos humanos e direito internacional humanitário para forças
policiais e de segurança. 4ª edição. Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Genebra: 2005.
Além das telas apresentadas, o material complementar está disponível para acesso e
impressão.
Respostas:
Além das telas apresentadas, o material complementar está disponível para acesso e
impressão.
Anexos:
Anexo 1
Você, como profissional operador de segurança pública, sabe o que vem a ser o trabalho
infantil?
A pobreza é a principal causa do trabalho infantil. Para sobreviver, pais colocam seus
filhos no trabalho bem cedo. Há também a falsa visão do trabalho como fator de formação da
criança e do adolescente, como se fosse a única porta para que tenham mais oportunidades no
futuro e não fiquem nas ruas, sujeitos à violência e à
marginalidade. No entanto, o trabalho precoce prejudica o desenvolvimento sadio da
criança e do adolescente, assim como os afastam da escola, tirando suas chances de se preparar
para o trabalho e a cidadania plena.
Anexo 2
Segundo AZEVEDO (1995), apud OLIVEIRA e CAFÉ (2006, p. 7), violência doméstica
é:
Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e
adolescentes que, sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima implica de
um lado uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da
infância, isto é, uma negação do direito que crianças e adolescentes têm de serem tratados como
sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
Não se pode deixar de dizer que essa violência é uma forma de violação dos direitos
essenciais da criança e do adolescente como pessoa.
Para se conseguir perceber os sinais emitidos por aquelas crianças ou adolescentes que
sofreram violência é necessário compreender alguns indicadores, conforme cada tipo de
violência.
Trata-se de uma forma quase invisível de violência, pois pode passar despercebida por
não deixar marcas nem cicatrizes. No entanto, trata-se de um conjunto de atitudes, palavras e
ações para envergonhar, censurar e pressionar a criança de modo permanente. Ela ocorre quando
se xinga, se rejeita, se isola, se aterroriza, se exige demais das crianças e dos adolescentes, ou
mesmo, os utiliza para atender as necessidades dos adultos. Pode trazer graves danos ao
desenvolvimento emocional, físico, sexual e social da criança.
Comportamento da criança/adolescente:
- Medo;
- Dificuldade de acreditar que é capaz e importante;
- Depressão, às vezes com tendência suicida;
- Baixa auto-estima;
- Angústia, agressões e condutas anti-sociais;
- Dificuldade de aprendizado; e
- Comportamentos extremos de agressividade ou de timidez.
A violência sexual contra criança e adolescente deve ser entendida como um crime e uma
violação aos seus direitos fundamentais, podendo ocorrer nas formas de abuso e exploração
sexual.
É definido como uma situação em que uma criança ou adolescente é usado(a) para a
gratificação sexual de um adulto ou de um adolescente mais velho, configurando-se em uma
relação de poder e dominação.
O abuso sexual pode ocorrer com contato físico (como numa carícia com intenção sexual,
na masturbação, na tentativa de relação sexual, na prática de sexo oral, vaginal ou anal) ou sem
contato físico (como no assédio sexual, verbal ou com gestos, na exibição dos órgãos genitais ou
na pornografia).
Você, após ler os conceitos de abuso e exploração sexual, saberia diferenciar as duas
formas de violência sexual?
Aquele que abusa, geralmente é uma pessoa conhecida, como o padrasto, o tio ou um
amigo, simplesmente usa do poder que exerce sobre a criança e/ou adolescente, valendo-se, por
exemplo, dos papéis de confiança e proteção.
Comportamento da criança/adolescente:
- Mudanças extremas, súbitas e inexplicáveis no apetite, humor e desempenho escolar;
- Comportamento agressivo, pesadelo, gritos ou agitação noturna;
- Desenvolvimento de brincadeiras sexuais persistentes com amigos, animais ou
brinquedos;
- Comportamento sexualizado da criança, não adequado à sua fase de
desenvolvimento;
- Atitudes de sedução com adultos;
- Medo extremo de uma determinada pessoa da família ou conhecido;
- Resistência de voltar para casa depois da escola; e
- Fugas de casa.
Referência bibliográfica
Document Outline
AtuacaoPolicialFrenteGruposVulneraveis_Mod1
AtuacaoPolicialFrenteGruposVulneraveis_Mod2
AtuacaoPolicialFrenteGruposVulneraveis_Mod3 JANEIRO/2.004 Encarregado da
Aplicação da Lei – é o agente público, civil Organização Encarregada da Aplicação da Lei – para
esta Dire Para sistematização didático-pedagógica da filosofia de Dir 4 CONDUTA ÉTICA E
LEGAL DO POLICIAL CAPÍTULO V 5 DEVERES E FUNÇÕES DO POLICIAL CAPÍTULO
VI 6 PROCEDIMENTO POLICIAL-MILITAR 6.5.2 Violência contra a mulher 6.5.3 Mulher
capturada 6.5.4 Mulher detida 6.5.5 Mulher vítima da criminalidade e do abuso de poder 8
RECOMENDAÇÕES FINAIS Distribuição: todas as Unidades da Corporação. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
AtuacaoPolicialFrenteGruposVulneraveis_Mod4
AtuacaoPolicialFrenteGruposVulneraveis_Mod5
AtuacaoPolicialFrenteGruposVulneraveis_Mod6