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Boletim 43 / junho 2009 1

BOLETIM DA CMF Nº 43 JUNHO 2009 ISSN: 1516-1781


Editorial ..................................................................................................................................................... 2
SUMÁRIO

O guerrilheiro da cultura popular ................................................................................................................ 3


Joãozinho Ribeiro
Nelson Brito: guerrilheiro da cultura popular .............................................................................................. 3
Elisene Casto Matos e Flávia Andresa Oliveira de Menezes
Quando os cazumbás saem por aí... .............................................................................................................. 5
Elisabeth Bittencourt
Casa de artigos religiosos ............................................................................................................................. 7
Thiago Lima dos Santos
Reminiscências: Rua do Sol ......................................................................................................................... 9
Carlos de Lima
Mãe d’Água ............................................................................................................................................... 11
Reinaldo Freitas Soares Junior
Maio, mês de Maria – Ladainha de N. Senhora ........................................................................................... 12
Zelinda Lima
Mineiros e umbandistas católicos ................................................................................................................ 13
Fabrine Pereira de Brito
Virou crente: sincretismo e mudança de religião em populações afro-brasileiras ............................................ 14
Mundicarmo Ferretti
JANELA DO TEMPO
Festa do Divino Espírito Santo na Casa de Rosa Guardamor ....................................................................... 15
Ruben Almeida
RESUMOS E RESENHAS: Monografias de Especialização em Jornalismo Cultural ................................. 15
Ester Marques
NOTICIAS ................................................................................................................................................ 18
Roza Santos
PERFIL POPULAR: Mestre Antonio Vieira .............................................................................................. 20
Nívea Saraiva

COMISSÃO MARANHENSE DE FOLCLORE - CMF


CNPJ 00.140.658/0001-07 CONSELHO EDITORIAL EDIÇÃO
Carlos Orlando de Lima Mundicarmo M.R. Ferretti
DIRETORIA Lenir Pereira dos S. Oliveira Roza Maria dos Santos
Presidente: Maria Michol P. de Carvalho Maria Michol P. de Carvalho REVISÃO DE TEXTO:
Vice-presidente: Roza Maria dos Santos Mundicarmo M.R. Ferretti Antonio Regino de Carvalho Neto
Secretária: Nizeth Aranha Medeiros Roza Maria dos Santos DIAGRAMAÇÃO:
Tesoureira: Lenir Pereira dos S. Oliveira Sergio Figueiredo Ferretti Riba Silva
Zelinda de Castro Lima VERSÃO INTERNET: www.cmfolclore.ufma.br
Correspondência
COMISSÃO MARANHENSE DE FOLCLORE As opiniões publicadas em artigos
CASA DE NHOZINHO assinados são de inteira responsa-
Rua Portugal, 185 – Praia Grande bilidade de seus autores, não
CEP 65010-480 – São Luís-Maranhão comprometendo a CMF
Fone: (0xx98) 3218-9952; (0xx98) 3218-9951
2 Boletim 43 / junho 2009

Editorial O guerrilheiro da
O cultura popular1
Boletim 43 registra com pesar duas grandes perdas
para a cultura popular do nosso Estado: o falecimento
de Nelson Brito, do LABORATE, homenageado pelo Joãozinho Ribeiro
poeta Joãozinho Ribeiro e relembrado por Elizene Matos
e Flavia Andresa Mendes; e o desaparecimento do mun-
do dos vivos do compositor Antonio Vieira, retratado por
Nivia Saraiva em Perfil Popular.
O numero 43 começa com a ladainha de Nossa Se-
nhora, trazida por Zelinda Lima, rezada no mês de maio
em várias instituições católicas e em família e repetida
quase o ano todo nos terreiros de religião afro-brasileira
da capital. Em Janela do Tempo Ruben Almeida, mem-
bro-fundador da CMF, faz também referência a antigos
festejos do Divino Espírito Santo em São Luís que, embo-
ra realizados no dia de Pentecostes, são também organi-
zados nos terreiros em quase todos os meses do ano. Nesse
mesmo número; Carlos Lima, em Reminiscências, fala
sobre a Rua do Sol, uma das mais importantes do centro
de São Luís; e Elisabeth Bittencourt reflete sobre o bum-
ba-meu-boi do Maranhão, destacando na brincadeira a
figura do cazumbá (também conhecido por cazumba). Emudeceram os tambores
Continuando a tratar sobre cultura tradicional e reli- Calaram o cacuriá
gião popular do Maranhão Reinaldo Soares Junior mostra A roda de capoeira
a atualidade da crença em Mãe d´Água na região de Cu- Não consegue mais girar
rurupu; e Thiago Santos relata observações realizadas em Foi-se embora um grande amigo
casas de comercialização de produtos religiosos, mais co- Pai de família exemplar
nhecidas como lojas de umbanda. Dois outros artigos do Nelson Brito guerrilheiro
Boletim 43 giram em torno das relações entre religiões Da cultura popular!
afro-brasileiras, catolicismo e protestantismo. Fabrine Brito
analisa o pertencimento dos mineiros e umbandistas ao O LABORARTE está de luto
catolicismo e Mundicarmo Ferretti trata sobre experiên- Do fofão o ulalá
cias de membros de terreiros afro-brasileiros com o protes- Não se escuta, só se ouve
tantismo e fala de preconceito de evangélicos para com a O seu triste soluçar
cultura popular. Enquanto o choro dos céus
Resumos e Resenhas disponibilizam aos nossos leito- Escorre na terra a clamar:
res resumos de monografias defendidas em 2008, no Cur- Nelson Brito guerrilheiro
so de Especialização em Jornalismo Cultural da UFMA, Da cultura popular!
coordenado por Ester Marques. E em Notícias Roza San-
tos apresenta os novos dirigentes de órgãos de cultura do As águas de março em janeiro
estado e do município e informa sobre os principais even- Parecem anunciar
Um convite irrecusável
tos da área ocorridos no 1º semestre de 2009 incluindo:
Pro guerreiro descansar
congressos, simpósios, lançamento de publicações, expo-
Será Terezinha Jansen?
sições, apresentações musicais e eventos teatrais.
Ou Felipe de Sibá?
Como ocorreu com o numero anterior, o Boletim 43
Nelson Brito guerrilheiro
não foi impresso e distribuído em eventos de cultura po-
Da cultura popular!
pular ou enviados pelo Correio a pessoas cadastradas e só
pode ser encontrado no site da CMF. Essa mudança foi
Vai, meu velho companheiro,
motivada em parte pelo crescimento dos usuários de IN- Teu exemplo ficará
TERNET e em parte porque a CMF deverá publicar ain- Como um grande brasileiro
da em 2009 uma coletânea de artigos divulgados nos bole- Que fostes e sempre serás
tins de número 21 a 41 (de dezembro de 2001 a agosto de A rosa da tua vida
2008), semelhante a organizada em 2003, com o titulo Em nós jamais murchará
Olhar, memória e reflexões sobre a gente do Maranhão, Nelson Brito guerrilheiro
com matérias selecionadas dos boletins de 1 a 20 (de agos- Da cultura popular!
to de 1993 a agosto de 2001). Agradecendo o apoio recebi-
do desejamos a todos boa leitura. 1 Distribuído no velório de Nelson Brito e divulgado na INTERNET
em 13/01/09, por Abmalena Sanches – abmalenass@hotmail.com .
Boletim 43 / junho 2009 3

Nelson Brito: guerrilheiro da cultura popular2


Elisene Casto Matos3 e Flávia Andresa Oliveira de Menezes4

N ascido em 1953, o ator e diretor tea-


tral Nelson Brito foi figura de des-
taque tanto na cultura popular como
ção dos roteiros dos textos que seriam
encenados, o que acredita-se ter sido o
ponto inicial para seu trabalho como
Eu estou vivo, andando, e a base de tudo
isso foi esse movimento de arte que me
deu. Não especificamente o teatro se eu
estiver pensando como ator e diretor. O
nas questões sociais que envolvem o escritor de teatro, dentre os texto que conjunto, o trabalho de arte é que me man-
teatro maranhense. Bacharel em Co- escreveu cita-se:”Súditos da Folia”, tém. Quanto à questão emocional, há mui-
municação Social, com especialização tos anos não consigo pensar minha vida de
1986;”Te Gruda no meu Fofão”, 1992 e outra forma, a não ser trabalhando com o
em Jornalismo, Nelson foi muito incen- “A Saga de Casemiro Coco”, 1997. movimento artístico, da forma mais plena
tivado por sua mãe, Dona Lucinda, a Por certo, o LABORARTE, funda- possível.5
se relacionar com o mundo da cultura do em 1972, surge com uma proposta
e das artes. Iniciou sua carreira nas ar- de confronto ideológico em relação ao Ele considerava o teatro como uma
tes cênicas em 1969, com um curso de TEMA, possuindo inclusive, departa- arte comunitária que necessita direta-
iniciação teatral com o teatrólogo Rey- mentos de produção em várias áreas mente de pessoas para ouvir, assim, não
naldo Faray, o que resultou em sua en- artísticas, a citar cênicas, plásticas e desconsidera que se trata de um pro-
trada para o grupo TEMA (Teatro Ex- cesso lento, demorado, porém nisto
música, e tendo o teatro como carro
perimental do Maranhão), principal gru- existe um sentido de fazer teatro, o qual
chefe, pois em geral essas áreas atua-
po de teatro naquela época. Fez ainda ele descrevia que era sua forma de ‘di-
vam como apoio aos espetáculos. Ou-
outros cursos, como interpretação, dire- zer’, de ter individualidade intelectual
tras características que destacaram o
ção, iluminação e teatro de bonecos. e de interferir na cidade, no Estado,
LABORARTE foram: a presença da
Durante os seis anos que esteve no gru- no País.
po, ele, juntamente com um elenco mais cultura popular, bem como o trabalho
Daí ter sido escolhido também para
ou menos fixo de atores maranhenses, com as questões sociais, inseridos nas
desempenhar papéis públicos, como pre-
produziram intensamente diversos espe- apresentações do grupo.
sidente da Fundação Municipal de
táculos de teatro infantil e adulto, che- Assim esse grupo atuou diretamen-
Cultura, de 2001 a 2002. Neste período
gavam a ser seis espetáculos ao ano. Lá te na organização do Movimento Tea-
coordenou o Festival Internacional de
também se envolveu com a parte de ilu- tral no Maranhão, enquanto Federa-
Música acontecido em 2002. De acor-
minação, contra-regra e cenotécnica. ção e Nelson Brito como um militante
do com o jornal impresso do LABO-
No entanto, mesmo com um apren- pelas políticas culturais dessa área as- RARTE também:
dizado intenso, intuitivo, prático e com sumiu diversas funções, assim como os
a orientação de Reynaldo Faray, Nel- outros membros do grupo. Dentre elas, Foi coordenador e co-autor do projeto ‘Car-
son Brito não encontrava no grupo ele foi secretário da ABTB (Associa- naval de Rua’, da Fundação Municipal de
TEMA oportunidade para atuar em ou- ção Brasileira de Teatro de Bonecos), Cultura, de 1994 a 1998; Diretor do Tea-
tro Arthur Azevedo no período de 1987 a
tras expressões cênicas, o que favore- em 1981 e 1982; tesoureiro e diretor 1989, Coordenador de Cultura da Funda-
ceu sua entrada e permanência no regional da CONFENATA (Confede- ção Municipal de Cultura no período de
LABORARTE (Laboratório de Expres- ração Nacional de Teatro Amador), de 1993 a 1998" (2009, p.04)
sões Artísticas do Maranhão), até os úl- 1984 a 1989, e foi também presidente
timos dias de sua vida, como descreve da Federação de Teatro Amador do Nos últimos anos, Nelson Brito e
em entrevista no livro “Memória do Maranhão duas vezes, em 1984/85 e todo o conjunto de artistas do LABO-
Teatro Maranhense”: 1989/90. RARTE, destacaram-se na cultura po-
A FETAMA (Federação de Teatro pular através de espetáculos de rua, que
Quando vim para o LABORARTE, viven- Amador do Maranhão), criada em 1977, para ele tinha grande força e em con-
ciei uma forma diferente: em primeiro lu-
devido à sua grande atuação e necessi- seqüência conquistou um público mui-
gar, na montagem dos espetáculos, procu-
rava-se o que montar, fazer o roteiro numa dade de afirmar-se acabou assumindo to maior que o espetáculo de palco, a
discussão coletiva, depois, ter uma atuação alguns compromissos que seriam obri- exemplo do bumba-meu-boi, e mais
mais participativa na montagem. Um tra- gações do Estado, como a realização de especificamente enquanto produção do
balho mais dirigido para a rua. Comecei a grupo o cacuriá de Dona Teté, que pos-
ter um aprendizado de rua e de bonecos.
Mostras de Teatros e curso de capaci-
Eram coisas novas que eu ainda não tinha tação para ator, desta forma, foi muito sui grande destaque nas festas do perí-
trabalhado. importante para o movimento teatral odo junino, e que resultou, segundo ele,
daquela época, pois esses eventos aca- em quase vinte brincadeiras no final da
Diferente do trabalho no TEMA, bavam fomentando a discussão a res- década de 80.
onde o enfoque era apenas na atuação peito da produção teatral do Estado, Nelson Brito assumiu a coordena-
para palco e montagem dos textos sele- que era também apoiada pela veicula- ção geral do LABORARTE em 1979, e
cionados pelo diretor do grupo, no LA- ção de jornais impressos sobre o tema. foi reeleito diversas vezes, e somente em
BORARTE Nelson Brito, ao lado de Nelson Brito, participante ativo de 2001 decide sair dessa função6 pra as-
pessoas como o teatrólogo Tácito Bor- todos esses movimentos, relatou qual o sumir apenas a coordenação do setor
ralho, passou a contribuir na constru- retorno que o teatro lhe deu: de Artes Cênicas.
2 Título retirado do poema “A Morte de um Guerreiro”, do poeta e Secretário de Joãozinho Ribeiro. (Ver p. 2).
3 Pesquisadora e Licenciada em Educação Artística, com habilitação em Artes Plásticas e mestranda em Ciências Sociais, ambos pela UFMA.
4 Pesquisadora e Licenciada em Educação Artística, com habilitação em Artes Cênicas pela UFMA.
5 Entrevista Nelson Brito. In: LEITE, Aldo. Memória do Teatro Maranhense. São Luís: EDFUNC, 2007, p 240.
6 Foi sucedido por Rosa Reis.
4 Boletim 43 / junho 2009

CONTINUAÇÃO

Durante todo este período atuou da quatro mestre que contribuíram forte- Meu herói nem sempre foi palhaço, mas
como diretor, ator, dançarino e algumas mente na minha formação: Apolônio Me- tinha o dom de levar alegria aos outros
lônio, Leonardo, Bico de Brasa e Tabaco.
vezes também como escritor de espe- Meu herói não acreditava em Deus, acre-
Como cultura é uma coisa que você está
táculos. Em sua trajetória com o grupo sempre aprendendo eu cito também Mes- ditava que podíamos ir mais longe, ser mais
montaram diversos espetáculos que tre Gonçalino do tambor de crioula e o Meu herói não era tão grande, mas sua
participaram de festivais nacionais e Mestre Zé Carlos, do Pela Porco”. humanidade era descomunal, gigantesca
locais; executaram projetos no prédio
do LABORARTE como o “Tarde no Desta forma atuou como produtor Meu herói não usava máscaras, ou roupas
de Cd’s, dentre eles “Cacuriá de Dona coloridas, nem ocultava sua identidade
casarão” (1993), o “Sexta no Labô” (1997,
Teté”, “Tambor de Crioula de Mestre Meu herói era amor, fraternidade, ami-
1999 a 2006) e o Iê Camará – Encontro
Felipe”, “Te gruda no meu fofão” e tam- zade, companheirismo, simplicidade...
de Capoeira Angola (1993, 1995 a 1997
bém esteve ligado a produção dos 4 CDs Meu herói era meu amado pai, Nelson
e 2002); bem como criaram um calen-
resultados do projeto “Brincando no De sua filha amada, Imira Brito
dário fixo de atividades que abrange o
Arraial”, do qual foi coordenador.
Rompendo o Aleluia, que acontece
Em sua vida pessoal ao lado da sua Desta forma percebe-se que a con-
desde 1984, o Carnaval de 2ª, desde
esposa Rosa Reis sempre levava as dis- tinuidade do trabalho de Nelson foi
1989 e mais recentemente, desde 2005, cussões políticas e conversas sobre a cul- bem encaminhada. Como grande pi-
o Aniversário de Teté e etc. tura para o recinto familiar o que ficou lar do Labô – como é popularmente
Também idealizou uma série de pro- marcado pela participação natural de conhecido o LABORARTE – ao qual
jetos patrocinados mais recentemente por suas filhas nestas conversas e nas ativi- ultimamente dava dedicação exclusi-
grandes e empresas a exemplo da Vale dades do LABORARTE, desta forma va, e membro do Conselho Estadual de
do Rio Doce, como é o caso dos projetos cada uma delas desenvolveu mais forte- Cultura, deixa aos 55 anos uma traje-
“Vale um papo Cultural” (2007 e 2008), mente um traço ligado às artes e a cul- tória de vida que marcou não somente
que segundo Rosa Reis, tinha uma aten- tura, apesar de as três serem dançarinas o teatro maranhense, mas as causas
ção especial do Nelson, pois foi realiza- do cacuriá e de certa forma estarem li- sociais e políticas que envolvem a cul-
do nos municípios, e tem por objetivo gadas ao planejamento e coordenação tura popular deste Estado. Deixa além
uma conversa com as pessoas envolvidas das atividades do grupo. Rosa Reis em de sua família, inúmeros amigos, artis-
com cultura nestas localidades, bem como entrevista destacou bem estas caracte- tas e admiradores.
a oferta de cursos de Empreendedoris- rísticas. Assim, Imira é a mais ligada a Tal destaque teve em conseqüên-
mo cultural e de Elaboração de Projetos produção cultural, sempre esteve ao lado
cia uma despedida, marcada por apre-
para captação de recursos. do pai na administração da casa e na
sentações de grupos de tambor de cri-
Destaca-se ainda o “Caravana La- coordenação de alguns projetos do gru-
oula, rodas de capoeira e apresentação
borarte”, que durante um fim de sema- po, Luana, mais ligada à dança e ao te-
do bloco Fuzileiros da Fuzarca, como
na leva diversas atividades a comuni- atro, destacando-se por sua expressivi-
dade cênica, e Camila, dedicada ao can- a certeza de que este artista foi um dos
dades por onde passam os trilhos da
to, a música e as discussões políticas, e mais representativos homens da cultu-
Vale, como oficinas de teatro, dança
ainda destaca-se a participação de Nel- ra popular do Maranhão.
popular, bijuterias, etc, durante o dia e
shows do grupo durante a noite. Nelson sinho como professor de capoeira no gru-
po. Tal formação familiar é reconheci- BIBLIOGRAFIA
atuava ainda como coordenador do “Pon-
to de Cultura”, projeto patrocinado pelo da pelas filhas e foi expressada por Imi-
ra Brito em um texto de sua autoria: LABORARTE Notícias, São Luís, abril
MINC, aprovado em 2005 e conveniado de 2009 – N- 1
em 2007, que oferece a crianças e ado- LEITE, Aldo de Jesus Muniz. Memó-
lescentes oficinas de dança popular, tea- MEU HERÓI
ria do Teatro Maranhense. – São Luís,
tro, percussão, tambor de crioula e infor- EDFUNC, 2007.
Meu herói enfrentou as adversidades no SALLES, Écio. Perfil: Nelson Brito,
mática e antes do seu falecimento estava
caminho e foi ao meu encontro. mestre das artes, de brincar, interagir,
trabalhando na execução do projeto de Meu herói me carregou no colo e me
“Ação Griô”, que trabalhará junto a Es- criar. Revista Conexões Urbanas.
chamou assim, filhona. LABORARTE, 18 anos de idealismo
cola Modelo com os mestres da cultura Meu herói foi dedicado e passou noites atuante. VAGALUME, Suplemento
popular Gonçalino, Zé Olhinho, Roxa e em claro por minhas enfermidades Cultural do SIOGE. Ano III, nº 12, Nov
Patinho e mais o “Griô Aprendiz” que - Dez 1990.
seria Nelson Brito, o qual foi substituído Meu herói era carinhoso e complacente. ASCOM-SECMA. Cultura de luto:
pela atriz e dançarina Aicram. Meu herói insistiu comigo, me viu lon- Nelson Brito falece em São Luís. In:
Nelson era muito ligado a cultura ge, e por isso eu cheguei até aqui. http://www.cultura.ma.gov.br/2009/
popular, tanto que deve muito de sua Meu herói teve dúvida, mas não hesitou 1/12/Pagina376.htm
formação nesta área a convivência que e recebeu meu filho como seu SANTIAGO, Paulo Rubem. Nelson Bri-
teve com algumas das figuras que tra- to: um maranhense cidadão do mundo.
balham a frente desses grupos, como Meu herói era trabalhador e não tinha In: http://paulorubem.blogspot.com/
lida que ele não desse conta ou que não 2009/01/neso-brito-um-maranhanse-
ele mesmo declarou à revista Conexões
soubesse cidado.html
Urbanas, estes foram: Meu herói era forte como um touro e CULTURA de luto: Nelson Brito falece
(...) referências decisivas para a sua forma-
suportou as calúnias que lhe lançaram em São Luís. In: http://
ção cultural como Mestre Felipe (tambor Meu herói era honesto e seu caráter tem www.jornalpequeno.com.br/2009/1/
de crioula), Dona Teté (cacuriá e Divino o mesmo valor que o de um diamante 12/Pagina96195.htm
Espírito Santo) e Mestre Patinho “tem ain- bruto
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QUANDO OS CAZUMBÁS SAEM POR AÍ...


Elisabeth Bittencourt7

O Olimpo dos gregos abre a cena apre- Efeito do equívoco que o “es-

Foto: Sérgio Ferretti


sentando uma teodicéia fértil, em que tranhamente familiar” promove
os deuses habitam o mundo dos humanos. no belo, surge esse personagem
É pela fala grega que os deuses apare- que, apesar de existir “pra brin-
cem reluzentes, cheios de ecos, anuncian- car” – como disse “seu” Abel8 ,
do a visão que o horror e o belo consagra- mestre na arte de cazumar–, ilu-
ram da existência humana, transfiguração mina no outro um olhar, uma
de “pavores e sustos da existência” (NIET- inquietação, amálgama que reluz
ZSCHE, 1977, p. 201). uma nuance sinistra, que nos
Memoriais do horror e do inescrutável ameaça e nos alegra ao mesmo
que nos ronda no dia-a-dia. tempo! (FREUD, 1976, p. 277).
É do mundo intermediário olímpico – Mas... Como diz seu Abel,
do reino do entre – que os gregos tiram o disso ele não sabe, não. Para ele,
substrato para suportar - ao mesmo tempo o Cazumbá foi feito pra fazer
– o terror, que o absurdo do viver fulgura, e graça...
a revelação da eterna alegria, que do fundo E como fui eu que vi, vou
a vida nos anuncia, transitória e poderosa, precisar me explicar, mas não
iluminando a tragédia do estar no mundo. muito, porque, se explicar mui-
A tragédia de fazer parte desse espetá- to, é “seu” Abel quem diz, corro
culo desejante que a vida, por anunciar a o risco de “perder a noção da coi-
morte, “resplandece”, como diz Lacan sa”, que perdida já está. Afinal,
(1988, p. 354), fazendo ecoar um travo de a coisa da arte só não pode ser
amargor que insiste em se insinuar na mais representada por Outra coisa?
tenra felicidade. Inusitado, nem homem, nem
Fio do horror que traz em sua rabiola – mulher, nem bicho, nem coisa, o
saltitante como uma pipa colorida de papel Cazumbá é “inédito e é pra brin-
no ar – o horrível. Haveria alguma coisa de car”. A sua graça vem desse lugar
belo no horrível? que usa uma “careta” que não se
O horrível traz à cena a estranheza que diz totalmente. Nem macho, nem
fêmea. Nem bicho, nem gente.
inquieta. Abre Outro umbral de sensações.
Diante do horror, o único recurso pos- O Cazumbá é mais um que habita o
Ilumina sombras, suportes, máscaras de que
sível é o grito, um “som ligeiramente dolori- reino do entre, entre os humanos e os ani-
o sinistro precisa para poder se “monstrar”...
do” (CUNNINGHAN, 2003, p. 50) que ecoa mais. Entre-duas-mortes. Esse “entre” fo-
(WEILL, 1987, p.11).
no silêncio do dia. Somente o som do hor- menta a fascinação que habita o campo de
O sinistro ganha uma possibilidade de
ror ecoa diante do emudecimento do ser que transição: entre os homens e os espíritos.
ganhar uma forma, incipiente, mas mesmo
nesse instante “padece do significante” (LA- Transição dos humanos para o mais-além do
assim uma forma, capaz de trazer à tona o
CAN, 2001, p. 149). A palavra falta... saber (LACAN, 1988, p. 327).
que de mais estranho há em nosso “intimus”,
O equívoco passa a ser então esse lugar De uns tempos para cá, o Cazumbá ga-
que em seu superlativo quer dizer o mais in-
topológico que “oculta e desvela o horrível nhou o mundo, e as pessoas insistem em que-
terior, profundo, secreto, recôndito, que atua rer desvendar seu enigma. Seu Abel, como “não
em um só tempo”. Lugar de inseminação
no interior (FERREIRA, 1986, p. 961). de interrogações: um querer saber do “enig- viu o começo”, só sabe explicar que o Cazum-
Se o belo traz o sentido do absoluto ma da semelhança” e da “diferença do aves- bá é “pra brincar”; dessa história de espírito
numa sensação que se sente una, harmôni- so” (FRANÇA, 1997, p. 131-132). que vem da palavra de origem ele não sabe não.
ca, esférica – experiência que corresponde, A arte, este campo de produção ficcio- Cazumbi, Zumbi, Nzumbi. Originário
que afirma o belo, dissociado do horrível –, a nal, teima em apostar que é possível criar... do Kibundo Nzumbi (macrogrupo etnolin-
experiência do estranho fissura essa unida- rendinhas face ao vazio, como no hipopó- güístico Bantu), é um espírito que se supõe
de, revelando a falha que o imaginário quer tamo de Salvador Dali ou em qualquer ou- estar pelo mundo participando com os vi-
esconder. tra coisa, tanto faz, representações em tor- vos (LODY, 1999, p. 6).
Freud, ao recortar o conceito de unhei- no do vazio. Mais uma vez, “seu” Abel diz que fui eu
mlich, o “estranhamente familiar”, expõe A arte, que se alimenta de equívocos, que vi que Cazumbá é para fazer graça, daí a
uma estética em que o belo perde sua prima- vive a buscar Olimpos, suportes, seres in- careta: “A gente não pode fazer uma graça sem
zia se conjugando com o horrível, trazendo ventados, seres falantes que suportem sus- ter uma careta”. Ele insiste: “o Cazumbá é pra
à cena o equívoco (FREUD, 1976, p. 277). tentar a voz dos deuses, aquela que o cristi- fazer alegria e medo nas pessoas que estão as-
O horrível, fruto do equívoco que o “es- anismo quis exterminar, conforme Lacan sistindo, essa história de espríto são eles que
tranhamente familiar” traz, expõe a fenda anunciou no seminário da ética (LACAN, dizem”.
do inconsciente, divide, duplicando o eu, 1988, p. 314). O Cazumbá provoca nos outros uma
apresentando um outro patamar do sentir: No Olimpo da cultura afro-maranhense espécie de encantamento em que o enigma
o horror, como preferem os antigos, ou o surge um ser inventado do reino do entre – se conserva: espaço de ficção recheado pela
terror, como preferem os armamentistas. entre os espíritos e os humanos –, o Cazumbá. angústia. Não conseguimos decifrar aquela

7 Psicanalista e Psicóloga carioca de nascimento e maranhense de coração.


8 Abel Teixeira nasceu em 19 de novembro de 1939, artista que faz a “careta” do Cazumbá.
6 Boletim 43 / junho 2009

CONTINUAÇÃO

imagem, que se beneficiou do caráter tosco Uma coisa seu Abel não pode negar: a sempre concluo que isso é romantismo meu.
e irregular das máscaras africanas, que nos “careta” do Cazumbá vem da arte negra, ber- O Cazumbá, essa figura especial, nasci-
aparece, inusitada, juntando elementos apa- ço de onde ele vem, lá de Lajedo, povoado de do na Baixada Maranhense, serve de supor-
rentemente tão dessemelhantes. Viana, Baixada Maranhense, onde o que não te para dar “forma aos nossos terrores e nos-
A distorção da expressão anatômica e falta é magia e brincadeira, e muita, muita sos desejos”, cumprindo assim o que Picas-
facial da careta do Cazumbá faz com que arte... so dizia ser o sentido próprio da arte (PI-
algo da ordem do estranho se pinte. A brin- Falta pão, não falta magia que ressoa no CASSO apud GOLDING, 1974, p.158).
cadeira passa a ser então o espaço topológi- corpo, efeitos da percussão dos tambores Só que – e isso é importante – ele se faz
co que permite uma passagem para a ordem num corpo que é também brasileiro. de uma matéria-prima em que a troça, a ale-
intermediária: entre os humanos e as forças Como falar de um corpo que é também gria, a provocação, os tambores e a dança, é
desconhecidas que nos rodeiam. brasileiro? Ou seja, um corpo que já nasceu claro, são o seu fermento, presenteando-nos
É isso, essa que é a brincadeira. O Ca- num certo embalo, da mãe que embala e do com aquilo que há de mais ético num artis-
zumbá, por não ser decifrável, tem na estra- ritmo que nossa cultura faz pulsar? E isso ta: seu estilo.
nheza sua potência. Potência de represen- só para lembrar que por lá, é tempo, todo Para terminar, quero revelar que o mai-
tar imagens, de colocar em cena o jogo do ano tem, de pandeirões, tempo do bumba- or gosto que o Cazumbá me dá é a possibili-
enigma da semelhança e do avesso da dife- meu-boi, bumbá. dade de me surpreender. De me lembrar da
rença. Um corpo que nasce nesse caldeirão de infância, tempo em que a surpresa de viver
O nosso eu, que pensa que é o tal, se ritmos se particulariza na cultura universal. constrói o cotidiano. Nós, herdeiros da ido-
assusta. Se assombra. São os fantasmas que Joãozinho Trinta (1985, p.24-25), num en- latria do saber, tentamos tamponar aquilo
habitam o reino do dentro de cada ser. O contro com psicanalistas, disse que os que de que a surpresa se alimenta: a falta de sa-
fantasma de dentro, aquele que cada um de se envolvem de perto com a dança popular ber que nos constitui.
nós criou para traçar sua própria trilha, nes- possuem seu corpo. Ou seja, não são possu- Nós, brasileiros, o que podemos então –
te mundo belo e difícil de se achar, num cer- ídos pelo corpo. Ou melhor, não são despos- além de fazer samba nas limitações – é tecer
to lugar. suídos. uma disponibilidade interna para a surpre-
Mas voltando ao Cazumbá, este, por ser O Cazumbá existe então para presenti- sa. Despossuídos de um certo saber, talvez
arte, produção da cultura afro-maranhense, ficar que nós, os seres humanos, somos fei- possamos conservar aquilo que considero
revela um estilo. Pegada identificatória que tos de uma mestiçagem de substâncias tão uma ética para o próximo milênio, a possibi-
promove circulação no espaço da Brincadei- heterogêneas quanto aquelas que constitu- lidade de se espantar.
ra da nação Brasil. Segundo Hermano Vian- em nosso corpo. Esse corpo que parece não Em um mundo onde a exclusão dos que
na: “Nesse espaço, tudo circula: pedaços de se acomodar bem nele próprio. estão fora do mercado passa a ser uma ne-
melodias, versos, instrumentos musicais, de- Mas o que o Cazumbá quer mesmo pre- cessidade do próprio mercado, que reina
talhes de indumentária; trechos de encena- sentificar é a arte, no sentido da catarse, pura absoluto, nada mais espanta.
ções teatrais”. (VIANA, 2003). descarga, efeito de alegria, meio de produ- Ainda bem que existem os Cazumbás,
Artefatos da arte popular, matéria-prima ção que por aqui e lá é abundante. Às vezes que, rodopiando, nos prometem que no pró-
na produção da Brincadeira. Brincadeira é penso que esta é mais abundante com aque- ximo milênio vão continuar a nos espantar. O
uma nomeação que o povo deu aos “folgue- les que não têm quase nada a perder. Mas espanto é a nossa esperança para o futuro...
dos populares, folias, autos e festas”. Quem
comemora nas praças, ruas e ladeiras da na-
ção Brasil sabe o que é festejar a vida nas ruas, REFERÊNCIAS
se misturando com os vagabundos que vivem CUNNINGHAM, Michael. As horas. São Paulo: Cia. das Letras, 2003.
em torno das cidades (VIANA, 2003). FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.
O espaço da Brincadeira, como em Ra- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
belais, dissolve as distâncias, permite a en- FRANÇA, Maria Inês. Psicanálise, Estética e Ética do Desejo. São Paulo: Perspecti-
trada dos excluídos, estica os limites do su- va, 1997.
posto real do cotidiano. Fissura o absoluto, FREUD, Sigmund. “O estranho”. In: FREUD, Sigmund. Obras psicológicas comple-
transgride. tas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. 17.
Homens podem ser mulheres, mulhe- GOLDING, John. Picasso y el surrealismo: Picasso 1881-1973. Barcelona: Gustavo Gili,
res brancas podem se sentir negras pela es- 1974.
cravidão do trabalho, gente pode virar ani- LACAN, Jacques. A ética da psicanálise. In: O Seminário – Livro 07: Trad. Antonio
mal, Cazumbá pode aparecer para assustar e Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
alegrar. É como diz seu Abel: “Quem dá sen- LODY, R. Cazumbá. Máscara e drama no boi do Maranhão. Museu do Folclore
tido é o outro. Eu faço a careta, acho que Edison Carneiro, Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, 1999.
parece com um cachorro, mas não digo nada. NIETZSCHE, Friedrich W. O nascimento da tragédia no espírito da música / O
Aí quando alguém fala: ‘olha, parece um ca- belo autônomo. Organização e seleção de textos. Rodrigo Duarte. Belo Horizonte:
chorro’, aí eu começo a latir”.9 UFMG, 1977.
Com isso, seu Abel já me deu a dica de RABELAIS, François. Gargantua. Trad. Aristides Lobo. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
que, na Baixada Maranhense, o de que se TRINTA, Joãozinho. Psicanálise Beija Flor: Joãozinho Trinta e os analistas do colé-
trata é de um estilo que se faz, no qual a troça gio. Rio de Janeiro: Taurus, 1985.
e a provocação dão o tom da brincadeira. A VIANA, Hermano. Ser outra coisa. Disponível em: http://www
mundoaocontrario.com.br Acesso em: 12 fev. 2003.
maneira como cada povo cria a sua arte – e a
WEILL, Alain-Didier. Fim de uma análise, finalidade da Psicanálise. Rio de Janeiro:
geografia importa –, quando se trata de re-
Jorge Zahar, 1987.
cortar territórios culturais da Brincadeira.

9 Fragmento da entrevista feita com Abel Teixeira.


Boletim 43 / junho 2009 7

CASAS DE ARTIGOS RELIGIOSOS10


Thiago Lima dos Santos10

INTRODUÇÃO sil e como ga-

Foto: Mundicarmo Ferretti


nharam espaço
As pesquisas sobre cultura afro-brasi- em uma socie-
leiras são muito variadas e tentam dar con- dade mestiça e
ta da presença desta em vários âmbitos da criando um mo-
cultura nacional. Música, dança, estética e saico com todas
culinária são indiscutivelmente resultados as variações do
de processos de sincretismo cultural. A aná- negro ao bran-
lise do sincretismo no plano religioso pres- co. De fato, os
supõe a interpretação de uma realidade vi- cultos afros se
vida por inúmeras pessoas no país e que disseminaram
teve sua origem em tempos coloniais. Isto por toda a soci-
parece tão claro quando pensamos as religi- edade, seja pelas
ões afro-brasileiras que o assunto, quando condições des-
abordado, em livros de história não ocupa tas em se desli-
muito espaço e nos livros didáticos não me- gar de qualquer
recem mais que o espaço de uma nota de tipo de institui-
rodapé como. ção dogmática,
No entanto os fatos não são operados ou seja, pela re-
nesse plano e possuem muitos desdobra- lação muito cam outras lojas como uma livraria católi-
mentos. Nessa perspectiva que pressupo- própria e peculiar entre o indivíduo e seu ca ou até mesmo outra loja especializada
nho um olhar para as casas de artigos religi- orixá. na venda de artigos religiosos, mas que o
osos a tentativa de compreender como, em Os cultos afros oferecem uma gama de ambiente apresenta uma estética diferen-
uma sociedade preconceituosa orientada serviços mágico-religiosos que podem ser te daquelas que vendem material para a
por religiões que se julgam superiores, a comprados por qualquer indivíduo. O aten- umbanda e candomblé.
venda de artigos religiosos está sendo de- dimento e a rápida solução oferecida aos Estas palavras mostram um mercado
senvolvida e quais suas conseqüências no problemas não só espirituais, mas também disputado que por sua vez revela com a reli-
plano cultural. materiais, além de uma não necessidade de gião ainda é muito forte na vida dos indiví-
Esses estabelecimentos estão localiza- vinculação à religião afro a transforma em duos que cada vez mais buscam novas ex-
dos próximos a Igrejas Católicas e as rela- um espaço de liberdade do indivíduo e uma periências para sanar rapidamente seus pro-
ções entre esses dois credos são expostas blemas.
aqui como resultado da interação de ele- alternativa social importante para diferen-
mentos distintos em um mesmo espaço o tes segmentos sociais que vivem numa so- A VENDA DE ARTIGOS
ciedade como a nossa, em que ética, códi-
qual chamei de sincrético. RELIGIOSOS E A CONFIGURAÇÃO
go moral e normas de comportamento es-
trita podem valer pouco, ou comportar DO ESPAÇO SINCRÉTICO
A CONQUISTA DE ESPAÇOS valores muito diferentes.12
SOCIAIS E A GÊNESE DOS A grande quantidade de casas de artigos
ESPAÇOS SINCRÉTICOS: A Estabelecida essa relação comercial vol- religiosos situados no centro da cidade acaba
CULTURA NEGRA PRESENTE NA to meu olhar para as casas de artigos religi- configurando um espaço sincrético uma vez
VENDA DE ARTIGOS RELIGIOSOS osos onde estão disponíveis toda sorte de que esta área é também densamente pontea-
banhos, essências, defumadores, velas en- da por Igrejas Católicas. Não é a existência
Da lei Áurea até os dias atuais uma sé- tre outros símbolos das religiões afro. desses dois elementos que por si só que pode-
rie de desdobramentos sociais econômicos Algumas dessas lojas não vendem itens riam configurar um espaço sincrético, obser-
e políticos podem ser entendidos como ele- exclusivos das religiões afro-brasileiras, mas vando dessa maneira a análise proposta pode-
mentos integrantes para a construção de contam com um público em sua maioria ria ser concluída de maneira superficial sem
um espaço em que a cultura negra ganhou considerado popular ou “povão” como se dar conta de uma série de relações existentes
progressiva liberdade e adeptos, galgando referiu o dono de um dos estabelecimen- dentro deste contexto.
posições em um ambiente que mesmo as- tos fazendo referência a uma análise de que Primeiramente vamos observar a no-
sim ainda é hostil às representações religio- os cultos dos terreiros são caracterizados ção de sincretismo aqui utilizada e a partir
sas africanas. Tal cultura manteve-se pre- pela participação em massa de pessoas das da qual surgiu a idéia deste trabalho. O
sente resistindo a pressões de outra cultu- camadas mais pobre da população embora
antropólogo Ordep Serra compreende por
ra dita superior através de imbricados pro- essa analise possua suas variantes.
sincretismo
cessos que devem ser analisados conjunta- Segundo ele “poucas pessoas vão ali
mente na tentativa de se entender o atual para buscar alguma coisa da Igreja Católi- “todo processo de estruturação de um cam-
quadro cultural do qual fazem parte. ca”. Embora as lojas não façam distinção de po simbólico religioso ‘interculturalmen-
Historicamente, observamos como as público o dono afirma que “quando é coisa te’ constituído, correlacionando modelos
religiões africanas se desenvolveram no Bra- pra Igreja Católica” os consumidores bus-

10 Retoma trabalho apresentado no Simpósio da ABHR de 2008 integrando contribuições de Camila Portela, que colaborou na coleta de alguns dados e realizou
outras entrevistas.
11 Graduando de História da UFMA; bolsista do PIBIC/FAPEMA orientado por Sergio Ferretti.
12 PRANDI, Reginaldo. Herdeiros do Axé, p. 1-50 (versão disponível na internet)
8 Boletim 43 / junho 2009

CONTINUAÇÃO

míticos e litúrgicos ou gerando novos para- do. Este fato foi levantado por um dos en- donos como dos consumidores que neces-
digmas dessa ordem que assinalem expres- trevistados que diz com convicção que pes- sitam manter contato constante com o
samente outros (que se refiram a outros) seu(s) deus(ses). Objetos como medalhas, ve-
de maneira a ordenar o novo espaço cultu-
soas da Igreja Universal do Reino de Deus
compram aquilo que os pastores utilizam las, essências, defumadores são elos de co-
ral.” (SERRA 1995 p. 197 -198).
no culto e na e nas propagandas televisivas. nexão entre o homem e o sagrado. Esta cons-
O sal está entre um dos principais produ- tante busca uma satisfação espiritual e tam-
Um espaço sincrético necessariamen-
tos procurados além de banhos e outros bém das necessidades materiais de manei-
te não é um espaço em que dois elementos
produtos com a denominação abre cami- ra imediata seja então a raiz do deslocamen-
de culturas diferentes estejam postos lado
nho. Ao ser questionado em que ele se ba- to que muitas pessoas operam quando bus-
a lado, isso poderia ser caracterizado como
seava para emitir tal afirmação ele respon- cam em um terreiro o aconselhamento
um simples posicionamento visual de ele-
deu que “a resposta está na televisão” e tam- Neste contexto cabe aos indivíduos
mentos opostos e em decorrência do hibri-
bém pelo fato do “crente ouvir o pastor fa- escolherem qual credo seguir e na escolha
dismo cultural brasileiro. A presença de uma
lar de abre caminho e ele buscar algo seme- das religiões de matriz africana passará por
casa de artigos religiosos na mesma rua em
lhante na loja”. uma série de experiências novas. Tentando
que uma Igreja Católica pode não signifi-
Não tendo dados para comprovar tal dar conta de algum desses processos esta
car muita coisa em um local marcado pela
fato exponho este argumento assim como pesquisa focaliza para um tipo de comer-
diversidade cultural, mas as relações exis-
me foi passado por um dos entrevistados, cio muito forte em uma sociedade muito
tentes entre estes dois ambientes acaba cri-
mas que não deve ser excluído, pois a pre- religiosa e também muito diversificada nes-
ando este espaço sincrético, ou seja, um
sente situação além de ser atravessada de te ultimo aspecto.
ambiente em que culturas diferentes tro-
questões de cunho individual (questões de Apresentei algumas práticas que são
cam experiências e a linha que as divide ora
fé), neste cenário sincrético novas práticas muito fluidas e que variam a cada loja visi-
é bem definida ora não.
podem surgir e desaparecer com o passar tada. Com a entrevista efetuada seja com o
Esta outra conotação do termo sincre-
do tempo. dono ou com um vendedor cada um destes
tismo pode ser aplicada no ambiente acima
Outra prática relatada por um vende- expõe situações vividas por eles e não de-
relatado onde símbolos de religiões diferen-
dor e constatada pela maioria dos entrevis- vem ser desconsideradas por serem parte
tes e contraditórios não estão somente pró-
tados é a prática da “compra para o vizi- da vivência cultural do país onde algumas
ximos, mas ordenando um espaço com “no- práticas são pouco estáveis outras – como
vos códigos e novas práticas sociais derivadas nho”. Uma vendedora afirma: “o maranhen-
se é uma pessoa muito boa e vive fazendo o preconceito - são quase unânimes em re-
deste” (SERRA 1995 p. 198). Nesse local, cris- lato dos entrevistados.
tãos interagem com umbandistas de modo favor pros outros, muita gente vem aqui a
usando a desculpa de que o vizinho pediu Tratar religião também sucinta dúvi-
nem sempre harmonioso evidenciando cer- das e olhares estranhos e enquanto uns res-
tos casos em que o duplo pertencimento reli- ou ‘que fulano lá da rua está precisando’”.
Esta benevolência expressa na hora da com- ponderam livremente as questões levantan-
gioso ainda é gerador de conflitos. do hipóteses e concluindo pensamentos a
As casas de artigos religiosos estão aber- pra faz parte de outro medo que as pessoas
têm que é o do preconceito que possam partir de suas experiências outros com um
tas a qualquer pessoa, independente da re- simples “não posso responder” sinalizavam
ligião do indivíduo e mesmo que alguns sofrer por estarem comprando artigos reli-
giosos nas lojas em questão ou se assumi- após minha apresentação.
donos e empregados das lojas afirmem que Levando em conta tantas experiências
a maior parte do público situa-se entre um- rem como adeptos de alguma religião afro.
pessoais e tentando relacioná-las e encaixá-
bandistas não podemos excluir a participa- Este preconceito gera conflitos que por
las nesse contexto sincrético torna-se evi-
ção de católicos e até mesmo protestantes sua vez tendem a estarem presentes na vida
dente a necessidade dos símbolos religio-
neste comércio. “Os católicos compram daqueles que se assumem adeptos de algu-
sos na vida das pessoas, independente da
principalmente defumadores e velas, pois é ma religião afro-brasileira. Um caso eviden-
religião que professem. Encerro de manei-
a crendice popular afastar maus espíritos” te disso ocorre com dona Maria que tem
ra propositadamente comercial que nas
e mesmo com todos os dogmas da Igreja “as situado ponto comercial em sua residên- casas de artigos religiosos você encontrará
pessoas não acreditam estar praticando al- cia. Ela afirma ser vítima de preconceito toda sorte de símbolos religiosos para satis-
gum mal ao defumarem sua casa ou acen- no seu dia-a-dia, mas que releva tais fatos, fazer suas necessidades espirituais e por-
der uma vela colorida em frente ao seu san- pois se sente bem no que faz e não se inco- que não, materiais.
to de devoção” afirma um empregado de moda se ainda hoje as pessoas não sentam
uma das lojas pesquisadas. ao seu lado na missa por saberem que pos- REFERENCIAS
Essa afirmação esta relacionada com dois sui além de uma loja de artigos religiosos
fatos, um é o duplo pertencimento religioso um terreiro de umbanda. Afirma também MATTOS, Regiane Augusto de. Histó-
onde o indivíduo não sofre conflitos ao par- que muito do preconceito por ela sofrido ria e Cultura Afro-Brasileira. São Paulo:
ticipar de dois cultos, pois interpretam que, já diminuiu com os 24 anos que está insta- Contexto, 2007.
em essência, a maneira com a qual entram lada naquele local, os xingamentos e expres- COSTA, Wagner Cabral da (org.). Histó-
em contato com o sagrado possui a mesma sões caluniosas que os vizinhos emitiam ria do Maranhão: Novos estudos. São
raiz, esta “questão de fé” está muito presente foram desaparecendo e hoje os mesmo re- Luis: EDUFMA, 2004.
nas pessoas que freqüentam tanto a missa correm a ela em caso de necessidade. MEIRELES, Mario M. Dez Estudos
quanto o terreiro para se sentirem espiritual- Históricos. São Luis: ALUMAR, 1994.
mente realizadas. O outro é o fato de que a PRANDI, Reginaldo. Herdeiros do Axé,
CONCLUSÃO
p. 1-50 (versão disponível na internet)
noção de pecado que acompanha o católico
SERRA, Ordep. Águas do Rei. Petrópo-
serve como limitador de suas ações e caso esta As análises aqui apresentadas não po- lis-RJ: Vozes, 1995.
prática for geradora de dúvida a vela não será dem ser tomadas de maneira independen-
acesa nem o defumador queimado. te. A venda de artigos religiosos está relaci- Sites
Outro item observado é a possível parti- onada não só com uma demanda comerci- www.ma.gov.br
cipação dos neo-pentecostais neste merca- al, mas também religiosa, tanto de alguns
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REMINISCÊNCIAS: RUA DO SOL13


Carlos de Lima14

V amos agora subir a Rua do Sol, começando


pelo primeiro prédio, mesmo que ele per-
tença, de fato, ao Largo do Carmo (Praça João
Pessoa ou, patrioticamente, relembrava-se
Gonçalves Dias e Maranhão Sobrinho. (Este,
mais pela boemia exemplar do que pela arte
babados que a transformava num bebê tama-
nho família. Ribamar Pereira, já dissemos, é o
autor da marchinha carnavalesca do cordão das
Lisboa). poética.) Ao final dessas seções literárias so- moças do “Lunáticos”. Mais tarde, morto o Ri-
Para alargar a Rua do Egito demoliram o bravam sempre muitos “espetos” e outros tan- bamar e mudada a família para o Rio, ali insta-
bar “Excelsior” (ao qual me refiro no capítulo tos pileques. lou-se o “Foto Amorim”, sendo o titular um fotó-
“Liceu”) e a “Farmácia Sanitária”, de Jesus Nor- No Bar aparecia pontualmente, aos sába- grafo capaz de milagres extraordinários, como o
berto Gomes (um farmacêutico idealista e cria- dos, um linotipista de “O Imparcial” por apeli- do retrato oficial do governador Paulo Ramos,
tivo, autor de muitos medicamentos - “Antigri- do “Camelinho”, por ser corcunda. Enchia-se feio de doer, que ele transformou em mancebo
pal”, “Hidrocálcio”, etc., etc., comprimidos, po- de vinho tinto “Casca de Mangue” que o pu- formoso, de pele lisa e rósea, de fazer inveja ao
madas e ungüentos de sua fórmula, e o refrige- nha escornado, dormindo sobre a mesa. Ma- próprio Narciso. Rugas, calombos, vales e cra-
rante “Cola-guaraná “Jesus” - “o sonho cor-de- noel Castro, Joaquim Itapary, Manuel Ribeiro teras sumiram num passe de mágica, graças ao
rosa das crianças”! Em seu lugar ergueram o e outros moleques (hoje senhores respeitáveis) virtuosismo do artista que “terraplenou” tudo,
prédio feioso da agência da Caixa Econômica arranjaram uma escada, carregaram Seu Ca- fazendo do Quasímodo surgir um Adônis per-
Federal. O sobrado de azulejos, junto, pertence melinho e o colocaram na marquise dos Cor- feito, de tal forma belo, que nem as artes do Dr.
aos herdeiros do Dr. Luís Carvalho, citado em reios e Telégrafos, defronte, com o risco do Pitangui conseguiriam igual!
“Vida Profissional”. Era homem bonito e sisudo, pobre homem, bêbado, cair lá de cima e que- Apegado, era a morada-inteira do Dr. José
usava cavanhaque bem tratado, ternos escuros brar-se no chão. Imagino o espanto dele quan- Pires Sexto, o governador que, ao tempo da
e, apesar de tê-lo conhecido já idoso, lembro- do, passada a carraspana, acordou e viu-se, revolução de 30, saiu fugido pelos fundos do
me bem de sua figura espigada e elegante e do inexplicavelmente, naquelas alturas... Deve ter Palácio dos Leões, entregando o governo ao
conceito que gozava de advogado sério e com- pensado: “- Êpa! cachaça danada! que faz até Ajudante de Ordens, o Sargento Aprígio. Ao
petente. Um dos melhores de São Luís. a gente voar!...” De outra feita, ensoparam de lado, a Faculdade de Direito (a primeira do
A seguir, vinha o edifício da firma Pinhei- água oxigenada a carapinha de um preto, poli- Maranhão), fundada por Henrique Couto e
ro Gomes & Cia., do pai do ex-frade e econo- dor de assoalho, que também se embriagava Domingos Perdigão, de memorável história e
mista José Tribuzi Pinheiro Gomes (o poeta lá, e que despertou surpreso, completamente tradição. Transpunha-se o Beco do Teatro (Go-
Bandeira Tribuzi), o português Joaquim, de louro! Ao tempo em que isso era estranho. Hoje dofredo Viana) e chegava-se ao “Anexo” do
quem já falamos, e do Sr. Acir Marques, seu há cabeleiras de todas as cores do arco-íris para “Maranhão Hotel”, de Seu Castro, um belo so-
sócio, pai do Glacymar e do Ary, que também mulheres, homens e os do 3º, 4º e 10º sexos. brado com escadaria senhorial, onde, antes
lá trabalhavam. Antes, aí conheci, numa mo- A agência dos Correios e Telégrafos, já residira a família Dunshee de Abranches (ci-
rada inteira térrea, a Madame Adolfina Har- dissemos, ficava em frente, outro edifício feio, tado em “O Cativeiro”) e, depois, a do Dr. Ge-
ms, uma alemã cinqüentona, alta, alourada, modernoso, do detestável pó-de-pedra em moda, nésio Rego. Hoje é o “Edifício Colonial”, uma
de grandes olhos azuis, afamada chapeleira. no lugar em que deveria erguer-se o primeiro das excrescências na paisagem colonial para
Vem depois a ex-sede do Grêmio Lítero-Re- teatro, se os frades do Carmo não tivessem obri- quem olha a cidade do bairro de São Francis-
creativo Português, a casa meio desprezada, gado os donos a virá-lo de frente para a Rua do co. No antigo prédio, que ocupava praticamen-
alugada para restaurante, para boate, etc., etc., Sol, porque não ficava bem uma construção te metade do quarteirão, realizaram-se, no tér-
mas que nunca se firmam. Pois foi no salão profana (E bota profana nisso!) ao lado de um reo, magníficos “salões de arte”.
deste clube, ali pelos anos de 42/43, que dan- templo religioso. Finalmente o teatro foi feito Ao lado do teatro ficava o escritório da
cei com a Zelinda pela primeira vez, e por conforme os cânones e lá está o belo prédio que “Companhia de Cigarros Souza Cruz” (onde
muitas e muitas vezes; antes de casar, depois se chamou “União”, “São Luís” e “Artur Azeve- este memoriaista trabalhou e penou, confor-
de casado. Que bailes de Carnaval! Que révei- do”, em cujo camarim no. 1 nasceu a grande me relato em outra passagem desta história) e
llons! Quanta alegria! E agora... quanta sauda- atriz Apolônia Pinto e cujo palco recebeu des- contíguo a este, a famosa “Movelaria” de Pe-
de! As famílias tradicionais, a rapaziada do de as companhias de óperas italianas e de zar- dro Paiva, que congregou uma plêiade de mo-
comércio e dos bancos, os cadetes da Escola zuelas espanholas até o famoso artista Carlos ços que se tornariam depois figuras exponen-
Militar, a oficialidade do 24 BC.... Muita comi- de Lima (desculpem a imodéstia!), passando ciais da literatura, da arte, da política, da ma-
da e bebida, confetes, serpentinas, lança-per- por Renato Viana, Procópio Ferreira, Vicente gistratura. Mais em frente vê-se o enorme so-
fumes... e nada de brigas, todos possuídos de Celestino, o “Teatro do Estudante”, de Pascoal brado de azulejos do “Instituto Nina Rodri-
inocente alegria... “Oh! Jardineira, por que es- Carlos Magno, Jaime Costa, Sandro-Delacosta- gues”, do saudoso poeta Carlos Cunha, sendo
tás tão triste?... “Nêga do cabelo duro, qual é o Celli, Tônia Carrero e tantos outros como Bidu que o também sobrado, junto, abrigou a famí-
pente que te penteia?... “As águas vão rolar, Saião e a Sinfônica de Eleazar de Carvalho, lia Lages Castelo Branco, nossa aparentada.
garrafa cheia eu não quero ver sobrar.... “Um além da prata da casa, talentosa e esforçada, Na Travessa da Passagem, no sobradinho
pierrô apaixonado, que vivia só cantando...” sob a competente e entusiasta direção de Rey- de esquina, ficava a “República” dos portu-
Oh! tempos! Oh! Saudade! naldo Faray, a quem o Maranhão deve uma gueses-caixeiros da Praia Grande. Na mora-
Mais adiante era o “Bar do Castro”, um definitiva e justíssima consagração. da-inteira seguinte, o pessoal de Amadeu Aro-
misto de casa de diversão, botequim, banco, Atravessando a rua, temos o sobradinho so, acho que já sem o seu chefe. Eu o conheci
casa beneficente e academia dos novos. De de azulejos, onde, nos começos do século, re- na Rua Grande, na casa senhorial do Campo
um lado ficavam as mesas de sinuca, perma- sidiu Dr. Nina Rodrigues, médico, que, por de Ourique (depois AABB) e onde participei
nentemente ocupadas pelos alunos gazetei- defender uma tese sobre as propriedades nu- de um baile de carnaval que nunca esqueci: o
ros e pelos profissionais do taco. Uns chega- tritivas da mandioca, tomou o apelido de “Dr. Amadeu mandava fechar o portão para que os
vam a rasgar o pano verde com sua inexperi- Farinha Seca”. Por conta de nossa tradicional foliões não fossem embora antes de consumir
ência; outros realizavam partidas memoráveis irreverência Nina Rodrigues compôs seu re- toda a bebida que ele punha para gelar na
e provocavam apostas às vezes absurdas! nome na Bahia, com seus trabalhos de psiqui- grande banheira de ferro esmaltada.
D’outro lado do prédio, ao redor de mesinhas atria. Ali, naquele sobrado, ainda conheci a O enormíssimo sobrado de três andares,
de mármore, abancavam-se, em confortáveis família do Dr. Ribamar Pereira, advogado gor- logo a seguir, residência de uma família cujo
poltronas de vime, os intelectuais jovens para do e bochechudo, que exibia seus dotes de nome não me lembra, foi por algum tempo sede
discutir escolas e autores e para apresentar poeta, pianista e barítono sempre que se apre- da “Fundação Cultural” (embrião da Secreta-
aos amigos suas últimas produções em prosa e sentava ocasião. Foi prefeito, e nessa qualida- ria da Cultura), sob a dedicada direção do
verso. E como falavam muito, obrigavam-se a de empreendeu uma reforma da Praça Bene- mestre Domingos Vieira Filho, o administra-
molhar as línguas com muita cerveja, cachaça dito Leite. À pracinha pequena passou o povo dor mais escrupuloso que jamais conheci, e,
ou um coquetel de fórmula misteriosa, criação a chamar “Tetéia”, tratamento carinhoso que acredito, jamais existiu. Sua extremada hones-
do dono da casa, no qual figuravam todas as recebia em casa a filha do alcaide, uma moçoi- tidade até, por vezes, lhe embaraçava a ação,
bebidas “encalhadas” nas prateleiras. Exalta- la grande, muito gorda e rechonchuda, sem- mas ele não abdicava da mais minuciosa fisca-
va-se o Modernismo, recitava-se Fernando pre metida nuns vestidos cheios de laços e lização, do mais rigoroso controle das contas, a
13 Ver também Rua Grande (Boletim 27) e Rua da Paz (Boletim 42).
14 Historiador; folclorista; membro da Academia Maranhense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Comissão Maranhense de Folclore.
10 Boletim 43 / junho 2009

CONTINUAÇÃO

cujo sistema, para dar o exemplo, era ele o versa na calçada; demore-se o tempo que for José Monteiro e, ao lado, o médico Dr. Rai-
primeiro a submeter-se. Onde se situam os dentro de casa, fale-se tudo o que se tem a mundo de Matos Serrão com a irmã Maria José,
consultórios médicos dos Moreira Lima (meus falar, que sempre restará um assunto que há professora de Química. Defronte, o Dr. Urba-
queridos amigos José Henrique, de saudosa de prender as pessoas, à despedida, na porta no Franco, que colecionava diplomas: advo-
memória, e o filho Henrique Augusto), morava da rua. Estávamos, pois, nessa conversinha de gado, farmacêutico, professor, ferreiro, sapa-
o Sr. Arnaldo Júlio Correia, importante sócio última hora, quando ouvimos um chororó so- teiro, alfaiate, etc., etc., etc.
de Joaquim Júlio Correia & Cia. Parece-me vê- noro e forte, quebrando a solidão da hora tar- Colado a ele, o desembargador Henrique
lo à janela, em companhia da esposa, a apreci- dia. Passada a surpresa, todos de uma vez iden- Costa Fernandes, Presidente do Tribunal de
ar o pouco movimento da rua na tarde calma, e tificamos o ruído: Dona Odila satisfazia as exi- Justiça. Era uma figura estranha, caladão, cir-
tenho presente, bem nítida, sua fisionomia bo- gências da natureza... cunspecto, a quem Domingos Américo se refe-
nachona, os óculos de aros de ouro que o torna- Junto do sobrado quedava-se a moradia ria recitando, ferino: “- Costa Fernandes, Costa
vam muito parecido com o primeiro-ministro de José Nunes, comerciante, onde Nely, sobri- Fernandes, Costa Fernandes.... de orelhas gran-
alemão Helmut Koll. Defronte morou, por al- nha do dono da casa, nos prodigalizava (a mim des, de orelhas grandes, de orelhas grandes...”
gum tempo, Osvaldo Soares e, depois, ali este- e aos meus primos) gentilezas e carinhos e até Chegava do Tribunal e entrava direto para a
ve o Instituto Brasil-Estados Unidos. Hoje me se permitia receber-nos em trajes menores, no sala de visitas. Vestia o pijama e sentava-se na
parece que abriga uma repartição pública. En- seu quarto. E foi por causa de uma dessas visi- rede, permanentemente armada, onde almoça-
tão chegamos ao sobrado dos Duailibes - Salim tas que eu me atrasei, chegando tarde em casa, va, lia, recebia os amigos e dormia. Dizia-se que
Nicolau Duailibe e Linda Saddy Duailibe e os no Caminho Grande. Papai me perguntou onde tinha um penico, atrás da estante de livros, onde
filhos Vitória, José, Jorge, Alfredo, Maria de eu estivera e como lhe disse a verdade, levei fazia suas necessidades, e dali só saía de novo
Lourdes, João (meu colega, no Liceu), Zila, Luiz, uns cachações... E embora ele nunca me ti- diretamente para a rua.
Antônio Benedito, Carlos Alberto e Norma, to- vesse explicado o porquê do castigo, dele me Em frente era a mercearia de meu pai e o
dos empenhados em conservar e distribuir a lembrei depois em situações de perigo...! sobradinho de nossa residência, que desmoro-
simpatia e a fraterna bondade do povo libanês. Na esquina morava a família de José Do- nou com as chuvas... cenário de minha bela
Nessa casa Josué Montelo situou a história co- mingues da Silva, Diretor da Estrada de Ferro, mocidade. Na esquina, a “Padaria Vitória”,
movente de seu romance “Os degraus do Para- e irmão do ex-Governador Luís Domingues, também fabricante de beijos-de-moça, e, do
íso”. Mais em frente e do mesmo lado, o “Colé- pai de muitos filhos, entre os quais Maria, es- outro lado, o sobrado de azulejos verdes dos
gio São Luiz Gonzaga”, da insigne professora posa de Paulo Abreu, por sua vez pais de meu Jorge, Domingos e José, casados, respectiva-
D. Zuleide Fernandes Bogéa que, com D. Rosa amigo Paulinho Abreu. mente, com as duas irmãs Odessa e Odila.
Castro e D. Zoé Cerveira, formava o mais bri- Contava o desembargador Domingos Parece-me vê-los, numa noite, tomando o car-
lhante trio de educadoras do Maranhão. Ape- Américo que, certo dia, encontrara-se com o ro para ir ao baile de máscaras, elas de vesti-
gado, o sobradinho do Sr. Delmiro Botelho e, na José Domingues, vindo de palácio, e que se dos longos, faiscantes de pérolas e pedrarias,
esquina, já com entrada pela Rua de São João, felicitava por ter chegado a tempo de, mesmo de máscaras venezianas, eles de smoking e
a residência e o museu de Osvaldo Soares, cujo em último lugar, inscrever seu nome no livro summer-jacket. Junto deles morava meu tio
acervo, vendido ao bispo, constitui 80% do de presença da comemoração do aniversário Antoninho Figueiredo, até a família se trans-
museu de Sobral, no Ceará. de Paulo Ramos, embora a reunião já se tives- ferir para Teresina (PI).
Confrontando D. Zuleide, a bela residên- se desfeito. “- Ora, Zé Domingues - disse-lhe Logo adiante, do outro lado, D. Etelvina
cia, o magnífico, o imponente, o extraordinário Américo - todo mundo sabe que tu és puxa- Domingues da Silva, que foi minha professora
palácio de José Francisco Jorge (pertenceu an- saco, mas tu não precisas fazer propaganda de História, no Colégio de São Luís e, depois, a
tes a Gomes de Souza, o genial matemático dessa fraqueza!” casa ajardinada de Seu Newton e D. Nizeth
maranhense), do qual falo quando aludo às visi- Na casa em frente, com entrada pelo Beco Valente; vizinha, a meia-morada das irmãs Car-
tas que meu avô fazia ao seu patrão Zé Jorge. dos Craveiros (Pereira Rego) residia Totonho doso - Graci e Delci, colegas do Liceu e que,
Dr. Alexandre Costa, engenheiro (que Lajes (Antônio) e de suas irmãs Cotinha (Ma- ainda no ginásio, morreriam tuberculosas.
chegou a Ministro de Estado e Senador da ria) e Canjinha (Arcângela). Antes fora resi- Defronte, o grandioso sobrado de azulejos
República; também meu ex-colega do Liceu), dência dos Cortês: D. Mariana, a matriarca da verdes de Zeca Pereira (pastor da Igreja Batista
morou no sobrado, o primeiro da próxima qua- família, do filho Raimundo Maximiliano Cor- Central Ebenézer, patrimônio da família), aonde
dra (com entrada pela Rua de S. João). Tam- tês e da nora D. Ana Amália Machado (Sinha- fui, menino, com meus pais, à requintada recep-
bém aí foi a sede do IPASE - Instituto de Pen- zinha), tia-avó de minha mulher. Deste Cor- ção que o casal ofereceu à sociedade, para mos-
sões e Aposentadoria dos Servidores do Esta- tês, um mentiroso de truz, rival de Cecílio Lo- trar as preciosidades que trouxera de sua recen-
do, teatro da brilhante conclusão do Delegado pes, conto estórias em Acredite, amigo velho, te viagem ao Egito! Um quarteto de cordas toca-
de Polícia Paulo Pupupu, contada em outro do meu livro “As minhas e as dos outros”. De- va música de câmera e os criados, de libré, tran-
capítulo. Numa morada-inteira, em frente, re- fronte, a primeira casa do próximo quarteirão sitavam pelos ricos salões, oferecendo canapés e
sidia Dr. Tucídides Barbosa e logo após, o Dr. pertencia ao Dr. Hanleto de Godois (“O Chi- bebidas finas às visitas, em grandes bandejas de
Brito Passos, na bela casa que ele mesmo cons- nês”, como era conhecido, por sua fisionomia prata maciça. A seguir, vinha a casa de D. Guio-
truiu, hoje sede do Sindicato dos Bancários. tipicamente oriental), filho do historiador Bar- mar Franco de Sá e, confrontando-a, a residên-
Defronte, na esquina da Rua das Flores (Pe- bosa de Godois, casado com d. Vinólia Pinho cia de Othelo Cavalcante, pai de Haroldo e Ar-
reira Rego), ficava o antigo “Grupo Escolar e tendo por filha de criação uma menina sape- naldo. Chegamos, então, ao último prédio da
Barbosa de Godois”, depois “Tribunal Eleito- ca chamada Éthel. Chegava-se então ao escri- esquina, a morada-inteira de Seu Éder Santos,
ral”, incendiado na época da “depuração” de tório da Imobiliária de D. Vitória Coqueiro, pai de Maria da Graça e José Mário. Da casa
Satu Belo e da famigerada “revolução de Eu- dirigida pelo Sr. Tupinambá, e que enfrentava antiga restam umas quatro paredes e o mirante e
gênio Barros”. Transposta a rua, vinha a “Livra- a porta-e-janela do “Chocolate”, um mulato não há Patrimônio Histórico que consiga obrigar
ria Borges”, dos Borges (que o que tinham de pernóstico, dono das lanchas do porto. Apega- os Gaspar a restaurá-la; estão eles no firme pro-
feios tinham de gentis); a casa dos Carvalhos - do era a residência de outro Cortês (Zezico), pósito de deixá-la cair de todo para então, com a
Antônio Maria, meu companheiro de B.B.), a funcionário dos Correios, casado com uma conivência de um “governo amigo”, erguer ali
dos Lobos (Lobão e Lobinho, também do Li- Neves e pai de Nevinha e Conchinha. De- um espigão. (Oh! Brasil! Oh! Maranhão!)
ceu) e o sobrado de Pedro Vasconcelos, várias pois, era a antiga morada de meu tio Nava “... as casas, como os homens, têm seu desti-
vezes citado nestas memórias. Rodrigues, onde jogávamos as “peladas” das no, com as suas exaltações e as suas humilha-
Defronte, a “Farmácia Pedrosa” e o belo quais falo em outro lugar. Em frente, ficava o ções. A barbearia modesta pode ser, amanhã,
palacete de Manoel João de Moraes Rego, imponente sobrado de Miguel Nicolau Duaili- elegante loja de modas. Na sala em que funcio-
depois, de Jorge Nahuz e finalmente de Harol- be (irmão do Salim), pai de Nicolau, José, Hen- nou a livraria pode estabelecer-se, dentro de um
do Cavalcante, pai de Célia, Lígia (ex-noiva do ry, Herbert, Maria Lúcia, Tereza e Ivete; e na ano, o seleiro, que vende arreios, ou o armeiro,
meu filho Álvaro), Heloísa e Junior. Na meia- esquina, na morada inteira de mirante, que foi que vende punhais.” Humberto de Campos.
morada junto, D. Odila Pinho, professora, que de Aluísio Azevedo, residiu o desembargador Os restos da casa de Éder Santos agora
já conheci velha, mas que caprichava na ma- Domingos Américo de Carvalho, de quem já está convertido em um estacionamento de au-
quilagem, vestia-se na última moda, e que, fa- falamos tanto, (personagem do conto “O de- tomóveis!
lando alto, acompanhava-se de largos gestos sembargador, o sofá e Gutemberg”, de meu E aqui encerraríamos este nosso passeio
que faziam tilintar suas muitas pulseiras e por citado livro). Anos mais tarde, a família do pelo tempo, pela memória e pelo coração, se
em evidência seus anéis de brilhantes. Lem- General Alexandre Colares Moreira ocupou o meu amigo Arlindo Carvalho não me cobrasse
bro-me de uma noite em que se formou um prédio. Em frente, a residência do Dr. José de insistentemente uma idêntica caminhada pela
grupinho à porta do sobrado de meu tio. É Ribamar Ferreira, pai de Fernando, José e Rua dos Afogados. Para satisfazê-lo comece-
praxe antiga no Maranhão a derradeira con- Antônio. Xis com eles, a família de meu amigo mos partindo da Rua dos Remédios.
Boletim 43 / junho 2009 11

Mãe d´agua
Reinaldo Freitas Soares Junior15

E ste ensaio foi constituído a partir de re


latos de alguns moradores da cidade de
Cururupu. Tomamos como principal infor-
pendente de qualquer horário, elas
não deveriam brincar com um de-
terminado tipo de peixe pequeno
mante o senhor Marcos Aurélio, de 30 anos, porque poderiam correr o risco de
atualmente evangélico, mas que tem boa serem flechados por ela, o que sig-
parte de sua família, inclusive sua falecida nifica ali receber uma correção
sogra, ligada a pajelança, tipo de manifesta- ou coação, que pode se manifes-
ção popular-religiosa do espaço social da tar por um mal estar físico. Se-
cidade de Cururupu. Não a denominamos gundo a senhora Florzinha, uma
como religião afro porque percebemos nela de nossas entrevistadas, até para
tanto elementos “africanos” quanto indí- pegar água da fonte deve-se pe-
genas. Este trabalho foi realizado com resi- dir permissão para a dona da
dentes do bairro de Areia Branca no perío- fonte, isto também deverá ser
do natalino do ano de 2008. observado para pegar água em
Ao perguntar para um senhor se ele poços. Segundo ela, o indiví-
sabia algo sobre Mãe d´Água, este nos res- duo que fosse pegar água, prin-
pondeu que ela é um mito, que faz parte cipalmente no horário de 18:00
das muitas historias contadas na cidade de horas, deveria dizer “com licen-
Cururupu. Ele fez uma descrição de como ça”, pois como nos foi dito por
esta era representada pelos antigos. De acor- ela e por outros moradores da
do com suas palavras, Mãe d´Água é uma cidade de Cururupu, aquele
mulher branca, de cabelos brancos, e olhos é o horário que ela está mais
azuis, muito formosa, mas alguns a descre- atuante ou que ela mais se
vem com cabelos loiros, de pele branca, de apresenta. Como nos expli-

Ferretti
olhos azuis e roupa branca apresentando, caram, se um adulto ou cri-
portanto, diferença em relação ao relato do ança não cumprisse aquela

Foto: Mundicarmo
senhor Marcos no cabelo e na forma de se regra, ou se as crianças to-
vestir. Segundo o mesmo informante, massem banho já passando
quem quisesse vê-la deveria ir à fonte ou ao do meio dia ficariam doen-
rio ao meio dia, que é o horário que ela tes. Na grande maioria dos
costuma está assentada na tábua onde as relatos os sintomas apresentados seriam
mulheres lavam roupa na beira dos rios. assobiava e seu assobio possuía um poder
febre e moleza no corpo, um dos sinais que
Na descrição da forma física de Mãe hipnótico sobre aquele que escutava, e tam-
de que teriam sido flechados.
d´Água, o senhor Marcos nos informou bém nos disse que ela ia até a janela da casa
O senhor Marcos nos disse também que
também que ela possui guelras como as de de determinadas pessoas para assobiar, como
não tem informações convincentes sobre a
peixe, no pescoço, e acrescentou que, se um uma forma de “atuação” sob elas. Segundo
existência de Mãe d´Água, como tem do Cur-
homem quisesse tê-la como companheira esta informante, há dois casos que levam à
rupira. Ele nos afirmou que deste, de fato, sua “atuação” sobre uma pessoa: se alguém
deveria agir da seguinte maneira: quando ouviu muita coisa. Em seguida falou que
ela estivesse tomando banho na fonte, sen- pegasse um de seus peixinhos, de sua fonte,
ele era um demônio e que, por causa dele, ela ia até a residência daquele que pegou o
tada na tábua de lavar, molhando os seus pessoas ficaram cegas literalmente. Na ex-
cabelos, a pessoa interessada deveria correr peixe e se ele não ficasse doente “fisicamen-
plicação de nosso informante, as pessoas te” poderia ficar mentalmente, devido ao tipo
e golpeá-la nas costas com bastante força, quando estavam na mata perdiam-se e, quan-
para que ela vomitasse as guelras e o indiví- de ação que ela exerceria sobre a pessoa. O
do estavam na “boca” da saída, voltavam para outro caso é o de pessoas que, segundo ela,
duo pudesse levá-la para a sua casa, para
o centro da mata por conta de Currupira. possuem uma espécie de influencia, desde o
torná-la companheira. No entanto, não
Segundo o senhor Marcos, esta entidade seu nascimento, desse tipo de entidade, no
poderia deixá-la comer peixe, caso contrá-
possuía uma capacidade de influenciar as caso os hundinos (termo que indica um per-
rio ela voltaria a ter guelras e desapareceria
da casa daquele que a levou. pessoas dentro da mata e que a única forma tencimento, uma predisposição de um de-
Um detalhe interessante no relato do de sair da floresta era o individuo vestir sua terminado grupo de pessoas, sem explicação
senhor Marcos foi a comparação por ele re- camisa do avesso, quando ficaria livre, ou lógica para quem não pertence ao grupo so-
alizada dela com Iemanjá. Ele não nos disse melhor, poderia encontrar a saída, e que o cial que dele se utiliza).
que são a mesma entidade ou pessoa, pois virar a camisa do avesso tem a ver com os pés É evidente que nestes relatos encon-
enfatizou uma diferença entre elas: uma é do Currupira, que são voltados para trás. tramos algumas divergências, no entanto,
do mar enquanto a outra é dona das fontes, Ainda sobre Mãe d´Água, uma senho- isto não pode nos causar espanto ou des-
onde houver uma nascente lá estará ela. É ra nos relatou que antes da cidade de Cu- confiança em relação à veracidade destes
interessante que uma senhora com quem rurupu ter luz, iluminação elétrica, havia relatos, porque cada um deles esta mediado
conversamos em Cururupu se referia a ela períodos da noite, principalmente das dez pela experiência própria de cada indivíduo,
(Mãe d´Água) sempre como Mãe da Fonte. horas em diante, que os indivíduos deveri- com sua própria cultura e realidade, e não
O senhor Marcos nos relatou que as am ter cuidado ao sair porque, segundo al- podemos esquecer que cada pessoa tem
mães costumavam proibir as crianças de ir guns, poderiam ser flechados ou ate mortos uma forma de interpretar os fenômenos
às fontes ao meio dia e que também, inde- por aquela. Ela nos disse que a Mãe d´Água com os quais se depara.

15 Graduando de Ciências Sociais e membro do GPMINA– UFMA.


12 Boletim 43 / junho 2009

Maio, mês de Maria – Ladainha de N. Senhora


A devoção à mãe de Jesus em São
Luís é muito forte. Durante o mês
de maio muitas pessoas se reúnem
guês, mas nas casas de culto afro-brasi-
leiro, nas residências de devotos e nas
sedes de grupos folclóricos ela conti-
nelas, como era de se esperar, o latim
nem sempre é o mesmo que fora ensi-
nado nos seminários católicos, mas a
para rezar a “Ladainha de Nossa Se- nua cantada em latim, como ocorria fé na Virgem Maria é a mesma. O tex-
nhora”. Depois do Concílio Vaticano no passado nos ambientes controlados to transcrito a seguir é o cantado no
II os sacerdotes e ministros religiosos pelos sacerdotes. As ladainhas popu- mês de maio pela família de Zelinda
católicos costumam rezá-la em portu- lares apresentam algumas variações e Lima, membro-titular da CMF.

LADAINHA DE N. SENHORA
Mater Creatoris, Zelinda Lima*
Mater Salvatoris,
Virgo prudentíssima,
Virgo veneranda,
Virgo praedicanda,
Virgo potens,
Virgo clemens,
Virgo fidelis,
Speculum justitiae,
Sedes sapientiae,
Causa nostrae laetitiae,
Vas spirituale,
Vas honorabile,
Vas insigne devotionis,
Rosa mystica,
Turris Davidica,
Turris ebúrnea,
Domus áurea,
Foederis arca,
Janua caeli,
Stella matutina,
Salus infirmorum,
Refugium peccatorum,
Consolatrix afflictorum,
Auxilio chistianorum,
Regina angelorum,
Regina patriarcharum,
Regina prophetarum,
Kirie, eleison. Regina apostolorum,
Chiste, eleison. Regina martyrum,
Kirie, eleison. Regina confessorum,
Chiste, audi nos. Regina virginum,
Chiste, exaudi nos. Regina sanctorum omnium,
Pater de caelis, Deus, miserere nobis. Regina sine labe originali concepta,
Fili, Redemptor mundi, Deus, Regina sacratissimi rosarii,
Spíritus Sancte, Deus, Regina pacis.
Santa Trinitas, unus Deus,
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi – parce nobis, Domine.
Sancta Maria – ora pro nobis.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi – exaudi nos, Domine.
Sancta Dei Génitrix,
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi – miserere nobis.
Santa Virgo virginum,
Mater Chisti, Ora pro nobis, sancta Dei Genitrix.
Mater divinae gratiae, Ut digni efficiamur promissionibus Chhrisri.
Mater puríssima,
Mater castissima, Oremos
Mater inviolata, Concede nos fâmulos tuos, quaesumus, Domine Deus, per-
Mater intemerata, petua mentis ET corporis sanitate gaudere: ET gloriosa
Mater amabilis, Beatae Mariae semper Virgonis intercessione a praesenti li-
Mater admirabilis, berari tristitia, ET aeterna perfrui laetitia. Per Christum
Mater boni consilii, Dominum nostrum. Amem.

* Versão fornecida por Zelinda Lima.


Boletim 43 / junho 2009 13

MINEIROS E UMBANDISTAS CATÓLICOS16 Fabrine Pereira de Brito15

Q uando se trata de caracterizar as religiões de


raiz africana no Brasil torna-se inevitável fa-
lar sobre o sincretismo com o catolicismo portugu-
ou relacionadas a eles. Durante as cerimônias os mé-
diuns lembram a todo o momento dos santos ho-
menageados, pedem graças e gritam viva a eles.
A missa da manhã do dia 13 de maio de 2006
aconteceu dentro do barracão ornamentado com
tecidos e fitas de papel nas cores azul e branco. A
ês, esta é uma das principais características que per- D. Mariinha, mãe-de-santo da Tenda de Um- imagem de São Benedito estava no altar do terreiro
meiam os estudos sobre as religiões afro-brasileiras. banda Santa Terezinha (25 anos de existência) reali- e na mesa que colocaram para o padre celebrar a
Portanto, vale retomarmos as origens deste tema. za várias missas e as ladainhas antes dos toques são missa. A vela no centro do barracão estava acesa.
No século XVI, quando os negros foram trazi- cantadas em latim no seu terreiro. Suas festas nem Antes de a celebração ser iniciada defumaram o
dos ao Brasil para serem escravizados vieram junto sempre coincidem com as festas dos santos. Devo- barracão. Foi encenada uma pequena dramatiza-
com eles as religiões de várias etnias africanas. Nes- ta de São José de Ribamar, D. Mariinha não realiza ção no início da missa.
sa nova terra os cultos africanos encontraram, além toque em seu terreiro para ele, prefere ir ao festejo Enquanto entoavam um cântico a Verequete
de outras culturas, o catolicismo – religião oficial e, que acontece na cidade com o nome do santo, loca- (divindade africana que adora a São Benedito) uma
sobretudo, obrigatória. Apesar de estarem sendo lizada na ilha de São Luís. senhora negra de idade entrou com as mãos acor-
catequizados pela Igreja, durante o período em que Antes de iniciar os rituais, ao entrar no barra- rentadas e sentou frente ao altar da missa, logo
foram escravizados os negros africanos cultuavam cão e ao se dirigir até o altar os médiuns fazem o surgiu D. Mariinha e retirou-lhe as correntes das
seus deuses nas senzalas. sinal da cruz, como se entrassem em uma igreja mãos. O padre congregado pela Igreja Católica
Sendo a religião oficial o catolicismo e o culto católica, assim ocorre em diversos terreiros da cida- Apostólica Romana entrou em seguida e junto das
aos deuses africanos considerados heresia pela Igre- de. O próprio nome dos terreiros é homenagem médiuns acompanhou o cântico fazendo reverên-
ja, os grupos religiosos negros passaram a mascarar aos santos. Outro aspecto a ser destacado é a reali- cia e defumação do altar.
a adoração de seus deuses com a associação destes zação de missas nos terreiros, um ritual católico O padre utilizava estola estampada compon-
com os santos católicos, como meio de manterem dentro do templo de outra religião. do suas vestes, apresentou a missa em homenagem
sua religião. As relações entre divindades e santos Destacamos a festa do ano de 2005 na Tenda às mães, a São Benedito e a alguns falecidos. Seguiu
eram feitas ligando-se as divindades aos santos que Santo Antônio pela peculiar celebração do batiza- a missa de acordo com a liturgia católica e durante
teriam características semelhantes às suas, por his- do dos filhos de alguns médiuns e missa, celebrados a homilia falou sobre Jesus Cristo, salvação, me-
tória de vida ou por aspectos físicos e emocionais. dentro do terreiro após o derrubamento do mastro diunidade, escravidão e condições dos negros en-
A princípio, o sincretismo com o catolicismo no mês de dezembro levantado em homenagem a quanto subordinados. Explicou que a encenação
foi marcado pela resistência étnica e cultural do Santa Luzia. O festejo tem seus ritos iniciais no dia que inicializou a cerimônia simbolizava a liberta-
negro africano, resistência esta que foi passada a 01 de dezembro com o levantamento do mastro e ção dos escravos. Proferiu sobre a comemoração
várias gerações até as religiões fundadas por antigos tem seu término no dia 14 do mesmo mês com o do dia 13 de maio e lembrou os pais-de-santo que
escravos se firmarem no cenário nacional. Com o derrubamento. Durante esse período o terreiro é sofreram discriminação.
passar dos séculos as religiões de raiz africana abri- prestigiado com toque de caixeiras e são feitas ho- No ofertório as médiuns entraram com pe-
ram suas fronteiras para diferentes raças e etnias, menagens a Santa Bárbara (festejada no dia 04), a quenas quantidades de café, arroz e açúcar. O padre
independentes de classe social. Nossa Senhora da Conceição (festejada no dia 08) e disse representarem o que era produzido pelos ne-
Apesar da resistência do sincretismo imposto Santa Luzia (festejada no dia 13). gros no tempo da escravidão. Os comentários do
a partir do século XVI com o catolicismo, no sécu- No salão de danças foram colocadas várias padre durante a cerimônia sempre lembravam as
lo XX o Candomblé iniciou um processo de aban- cadeiras para os visitantes e uma mesa para o padre mães, pois em maio é comemorado o Dia das Mães,
dono dos elementos do catolicismo e retomada das que ficou entre os dois altares do terreiro, na pare- e a D. Mariinha por ser mãe duas vezes (mãe e mãe-
origens negras. Intitulado processo de africaniza- de em frente ao portão de entrada do barracão. O de-santo). No fim da celebração ocorreu a comu-
ção (PRANDI, 1991), há reflexões deste movimen- altar das Pombagiras, entidades que possuem culto nhão e distribuíram uma mensagem de paz para os
to no Maranhão. Em São Luís destaca-se o terreiro especial na casa e são comumente associadas a atri- presentes. O padre aspergiu água benta com alfaze-
Fanti-Ashanti que aderindo ao processo de africani- butos negativos e sexuais foi coberto com uma capa. ma nos presentes. Ele entregou o ramo para a D.
zação consagrou-se como terreiro de Candomblé. A missa e o batizado foram realizados durante a Mariinha benzê-lo. Depois da missa doutrinaram a
Mesmo com toda força e valorização da reli- noite. O celebrante foi o padre da Paróquia de Santa Preto-velho e cantaram parabéns servidos de cho-
gião afro-brasileira no mercado religioso, ocasiona- Bárbara, em São Luís, Igreja Católica Apostólica Bra- colate para beber e bolo.
das pelo processo de africanização, grande parte sileira. O padre usava estola de cor verde, mesma cor Baseados em exemplos como estes, ressalta-
dos terreiros (e reportamo-nos principalmente aos das vestes de Santa Luzia. Como o período em que mos a manutenção dos elementos do catolicismo
terreiros do Maranhão), mantêm em sua estrutura ocorreu a festa era o do Advento, de acordo com a não mais denotando condição de dominação, estes
elementos do catolicismo e seus participantes, en- Igreja Católica as vestes deveriam ser de cor roxa. Os subsistem de forma espontânea com o culto das
tre eles os pais e mães-de-santo, permanecem nas médiuns estavam todos de branco e com lenços na divindades. A dessincretização não se apresenta
duas religiões: não só desenvolvem uma religião cabeça, eles pediam benção ao padre beijando-lhe as como uma necessidade. Há uma contradição entre
afro-brasileira tradicional (no sentido exposto por mãos, da mesma forma que pedem a benção ao pai- o crescente processo de africanização (em menor
Bastide (1983), todavia não mais como imposição de-santo. As caixeiras que tocaram no derrubamento intensidade em São Luís) e a força do catolicismo
presente nos seus primeiros séculos de estabeleci- do mastro também assistiram a cerimônia. popular nos terreiros. Nas missas realizadas nos ter-
mento) como também são católicos praticantes – A missa foi celebrada de acordo com a liturgia reiros os padres admitiram a diversidade religiosa.
freqüentam missas, procissões e independentes de da Igreja Católica. No início da missa o padre fez A grande maioria dos representantes das religiões
associações com entidades adoram santos (prática breve comentário sobre a importância de visitar cristãs, porém, não tolera a associação com as reli-
comum ao catolicismo popular brasileiro). religiões diferentes das suas, falou que não há mal giões de matrizes africanas. Elementos cristãos que
De certo que a religião afro-brasileira de agora em se conhecer o ‘outro’ e incentivava as pessoas a foram adotados como meio de manter viva a cultu-
não é a mesma praticada pelos africanos escraviza- isso. Na homilia ele proferiu sobre a história de ra religiosa africana no Brasil acabaram por torna-
dos no Brasil, observamos o que antes era considera- Santa Luzia, sobre um deus único e os santos. Em rem-se elementos “naturalmente” fundamentais
do resultado de coerção social agora parece consti- torno de dez crianças estavam sendo batizadas, es- dessas religiões.
tuir de maneira essencial as religiões afro-brasileiras tas foram posicionadas formando um círculo e
que conhecemos. Esse é um dos aspectos mais mar- acompanhadas pelos padrinhos o padre batizou uma REFERÊNCIAS:
cantes nos terreiros da cidade de São Luís, tanto em a uma. Padrinhos e madrinhas foram escolhidos
seus elementos como entre seus participantes. entre os próprios médiuns. BASTIDE, Roger. Estudos afro-brasileiros. São
Apesar da associação dos santos católicos com Na Tenda Santa Terezinha enfocamos a missa Paulo: Editora Perspectiva, 1983.
entidades, percebemos algumas festas tendo os san- realizada no dia 13 de maio do ano de 2006. Nesta BRITO, Fabrine Pereira de. Tambor de Mina e
tos homenageados sem equivalências com as entida- data é comemorada no Brasil a abolição da escrava- Umbanda: sincretismo em terreiros de São Luís.
des. O pai-de-santo da Tenda de Mina Santo Antô- tura. Para celebrá-la alguns terreiros de Mina e ter- Monografia (Graduação em Ciências Sociais) –
nio (que completa 44 anos de fundação no dia 13 de reiros de Umbanda realizam toques para as entida- Universidade Federal do Maranhão, São Luís,
maio) Tote nos declarou ser devoto de Maria e tem des conhecidas como Pretos-velhos. Na tenda San- 2008.
o Rosário de Maria como livreto para guiar suas ta Teresinha o dia 13 é comemorado com missa PRANDI, Reginaldo. Os candomblés de São
orações. Na Tenda Santo Antônio há festa para gran- pela manhã, almoço para os presentes, salva (aber- Paulo: a velha magia na metrópole nova. São
de número de santos. As entidades do terreiro são tura de festa, geralmente acontece pela manhã ou Paulo: HUCITEC: Editora da Universidade de
devotas destes santos, dificilmente são comparadas ao meio-dia) no início da tarde e toque a noite. São Paulo, 1991.

16 O conteúdo desse artigo é parte integrante da Monografia de conclusão do Curso de Ciências Sociais da UFMA, com modificações.
17 Graduada em Ciências Sociais – UFMA; ex-bolsista de Iniciação Cientifica (PIBIC/CNPq 2005-2007) e membro do GPMINA/UFMA sob orientação de
Sergio Ferretti; ex-estagiaria do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho.
14 Boletim 43 / junho 2009

VIROU CRENTE: SINCRETISMO E MUDANÇA DE


RELIGIÃO EM POPULAÇÕES AFRO-BRASILEIRAS
Mundicarmo Ferretti15

É comum na trajetória de pessoas ligadas à


religião afro-brasileira a passagem por mais
de um terreiro (comunidade religiosa afro-bra-
sileiras a mesma “tolerância” apresentada pela
Igreja Católica a que nos referimos anterior-
mente, muitos evangélicos ao se vincularem a
ralidade e ninguém costume recriminar a pes-
soa que adotou tal opção, a comunidade de
terreiro parece não considerar essa opção como
sileira), às vezes de denominações diferente uma comunidade de terreiro se afastam de suas definitiva ou irreversível e parece aguardar o
(Mina, Umbanda, Candomblé e outras); a con- congregações evangélicas e muitos “médiuns” seu retorno. Embora se afirme que as pessoas
sulta a vários pais-de-santo e curadores; as ex- ao se vincularem a uma congregação evangéli- são livres para ter outra religião, fala-se que o
periências com o espiritismo, com o catolicis- ca se afastam dos terreiros a que estavam vin- corpo de médium não pertence só a ele e, a
mo e com outras religiões. Como era de se es- culadas, embora possam continuar a ler a Bí- qualquer momento, a entidade espiritual com
perar, essa pluralidade de experiências pode blia com maior freqüência do que outros que quem divide aquele corpo pode trazê-lo de
provocar a mudanças acomodadoras nas reli- nunca foram evangélicos. Mas, apesar desse volta ao terreiro. E, se a pessoa que mudou de
giões envolvidas e a levar algumas pessoas afastamento e do controle exercido pelas igre- religião, tiver ofendido gravemente o seu “guia”
envolvidas ao pertencimento a mais de uma jas evangélicas sobre seus membros, os con- ou tiver um “guia” rancoroso, corre o risco de
comunidade religiosa. vertidos ao protestantismo provenientes de ficar “doente da cabeça” e de ter que voltar ao
O sincretismo da religião afro-brasileira terreiros nem sempre abandonam inteiramen- terreiro em busca de cura (algumas dessas
com o catolicismo e com outras religiões vem te suas obrigações para com as entidades reli- pessoas logo que se converteram quebraram
sendo observado pelos pesquisadores desde giosas afro-brasileiras, como tem sido propala- as imagens dos santos de sua devoção e quei-
Nina Rodrigues, no final do século XIX. Esse do. Alguns tendem a reproduzir o “duplo per- maram as roupas que usavam quando recebi-
sincretismo, independente de ser um parale- tencimento” observado em relação ao catoli- am seus encantados).
lismo, uma fusão ou uma justaposição de reli- cismo, embora nesse caso o duplo pertenci- Nos terreiros de mina São Luís os relatos
giões, tem sido interpretado como assimilação mento costume ocorrer de forma menos decla- de casos de pessoas que deixaram a religião
pelos escravos africanos da religião do coloni- rada do que o observado nos “afro-brasileiros afro-brasileira (às vezes por mais de 20 anos)
zador imposta a eles pela catequese, ou tem católicos”. para seguir outra “lei” e que, depois foram co-
sido interpretado como uma camuflagem de Até bem pouco tempo, os casos de con- bradas ou castigadas por suas entidades espi-
religiões africanas usada por afro-brasileiros versão de pessoas de religião afro-brasileira ao rituais e tiveram que retomar às suas obriga-
para escapar da repressão sofrida por elas. protestantismo pareciam raros, mas, nos últi- ções para com elas para não ficarem loucas,
Apesar de na segunda metade do século mos anos, a experiência de afro-brasileiros com abobalhadas, ou sofrerem outras desgraças.
XX alguns terreiros terem deflagrado um mo- o protestantismo, em especial com igrejas pen- Durante a nossa pesquisa ouvimos falar de
vimento contra o sincretismo com o catolicis- tecostais ou neo-pentecostais, vem crescendo filha-de-santo que “passou para a lei de cren-
mo e de procurarem se libertar da influencia bastante e, em São Luís, levou um terreiro de te” e deixou de participar de rituais públicos,
daquela religião, o catolicismo do “povo de san- umbanda a fechar suas portas e a doar ao mas continuou colaborando com as ativida-
to” continua forte. Muitos sacerdotes e adep- museu do Centro de Cultura Popular do esta- des dos terreiros; que depois de convertida ao
tos das religiões afro-brasileiras foram batiza- do roupas e objetos de culto. protestantismo, vez por outra voltava ao terrei-
dos no catolicismo, quando crianças, e conti- Freqüentemente se explica a ausência de ro em dia de festa, já incorporada, falando:
nuam vinculados a essa religião pela fé rece- filhos-de-santo nos rituais de religião afro-bra- “crente é ela, eu não tenho nada com isso”;
bendo sacramentos, participando de ritos ofi- sileira com a expressão “virou crente”, o que retornou ao terreiro dizendo que não conse-
ciais, de associações religiosas e realizando de geralmente parece normal e não suscita maio- guiu ficar na IURD porque o demônio era cha-
ritos do catolicismo popular, pois a Igreja Cató- res comentários na comunidade de terreiro. mado o tempo todo.
lica, embora se apresente como universal e a Além do conhecido proselitismo daquelas igre- Embora não se pretenda avaliar se o nú-
única verdadeira – herdeira direta do cristia- jas e do costumeiro pertencimento dos filhos- mero de adeptos das religiões afro-brasileiras
nismo -, vem adotando no Brasil uma estraté- de-santo a duas igrejas, para muitos deles a convertidos ao protestantismo que “voltam à
gia de “tolerância” em relação à religião afro- religião afro-brasileira é uma obrigação penosa casa paterna” é maior do que o dos que não
brasileira e tem aceito e até mesmo reconheci- assumida por imposição das entidades espiri- retornam aos terreiros, o impacto da expansão
do o catolicismo do “povo de santo”. Devido a tuais ou recebida de antepassados escravos do pentecostalismo (ou neo-pentecostalismo)
esse duplo pertencimento religioso e também ou pobres cuja memória nem sempre se gosta- nas religiões afro-brasileiras é uma questão que
à falta de consciência da “completude” das ria de preservar. Embora uma percentagem sig- merece ser pesquisada e pode nos ajudar a
religiões afro-brasileiras (de sua equiparação a nificativa da população afro-brasileira hoje se compreender e importância das religiões afro-
outras religiões existentes no Brasil), muitos orgulhe de ser negra e de suas entidades espi- brasileiras para diversos segmentos da popu-
membros de terreiros sem engajamento no mo- rituais africanas, a ideologia do branqueamen- lação afro-brasileira. O que se pode perceber a
vimento negro ou na luta contra o sincretismo, to ainda é bastante forte e a identificação com partir de dois depoimentos de vodunsis que se
quando indagados sobre sua opção religiosa a África e com uma religião trazida por escra- integraram a igrejas evangélicas citados por
costumam afirmar que são católicos, em vez vos continua sendo um fator negativo na afir- nós anteriormente (“eu sempre tive vontade
de se afirmarem como “mineiros”, adeptos do mação de sua identidade e na sua ascensão de servir a Jesus de outra forma” e “na IURD o
candomblé ou de outra denominação religiosa social. Deste modo a conversão ao protestan- demônio é chamado o tempo todo”), que a
de matriz africana. tismo pode parecer a algumas delas como uma demonização das religiões afro-brasileiras que
Nos últimos anos tem também crescido o oportunidade de libertação de um pesado far- vem sendo realizada pelas igrejas pentecos-
número de filhos-de-santo que tem ou teve al- do, como nos foi explicado por uma vodunsi tais e neo-pentecostais, especialmente pela
guma vinculação com igrejas evangélicas (As- que se afastou de um terreiro de mina da capi- IURD, parece não atingir profundamente os
sembléia de Deus, por exemplo) ou que utili- tal maranhense: “eu sempre tive vontade de convertidos provenientes das religiões afro-bra-
zam ou já utilizaram os recursos terapêuticos servir a Jesus de outra forma”... sileiras e que é provável que muitos daqueles
da igreja Messiânica e de outras igrejas do blo- Mas, embora a mudança de religião ou a convertidos não aceitem a redução a demôni-
co protestante. Contudo, como as igrejas evan- adesão a outra “crença” (ou a outra “lei”) seja os das entidades espirituais cultuadas nas reli-
gélicas não têm para com as religiões afro-bra- geralmente encarada nos terreiros com natu- giões afro-brasileiras.

18 Antropóloga; membro da CMF.


Boletim 43 / junho 2009 15

JANELA DO TEMPO

“FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO” NA CASA DE ROSA GUARDAMOR19


Ruben Almeida20

Mulata de estatura regular, gorda, es- lhe ofereciam os velhos portugueses comer- ra com a figura do Espírito Santo.
padaúda, de cara larga, valia a pena se assis- ciantes da cidade, Rosa Guardamor, torna- Como já disse, era também assombran-
tir aos festejos em honra do Divino. va-se uma das mulatas mais atraentes da- te a festança na residência do velho Caeta-
Rosa Guardamor tinha esse sobreno- queles tempos. no, à Rua da Palha. Era ele um festeiro,
me por haver vivido com um guardamor do As suas saias eram bem feitas e geral- empregado da Alfândega de São Luís, e, na
Estado. mente costuradas a mão, davam a impres- época dos festejos tornava-se incansável.
Tinha belos cordões de ouro portugu- são de serem as fazendas estampadas. Dava sempre aos festejos de sua casa um
ês com crucifixo bem trabalhado, pulseiras Por causa das grandes festas do Divino brilho descomunal, tanto que de “cana-ca-
de chapas estampadas, grossas escravas e de Espírito Santo que realizava, se tornou pim” a cerveja e de muitas outras bebidas
grandes argolas de ouro polido que lhe ba- mais conhecida ainda. eram encontradas a fartar.
louçavam nas orelhas. Nas Ruas do Passeio, do Norte e Santa João Francisco, morador à Rua do
Acostumara-se a usar camisas partidas Rita, onde morou, deixou recordações agra- Marajá, também fazia grandes festas. De-
de renda e de labirintos, pondo à mostra dáveis. pois de muitos anos mudara-se esse festei-
parte do colo, de saias ramalhudas e cheias As caixeiras que podiam, envergavam ro dessa rua para a de Santa Amélia.
de folhos largos, Rosa andava diariamente, bonitas saias ramalhudas e casaco de ren- Mãe Severa – velha mineira residente
pelas ruas da Praia Grande, o Centro Co- das e bordados, sandálias de veludo encar- no Apeadouro que fazia festança em ho-
mercial de São Luís. nado, belos cordões de ouro com crucifixo, menagem ao Espírito Santo, com invulgar
No seu grosso pescoço, nos dias de fes- pulseira, broches e linda figa de azeviche encantamento, desde o dia do levantamen-
tas, quando não apresentava as suas jóias eram usadas. to do mastro em todos os terreiros, as ceri-
de ouro, punha belas voltas de coral e ou- Na casa de Antônia Passo Largo, como mônias se estendiam até alta madrugada.
tras contas multicolores. era conhecida essa festeira e na da velha Na casa de Raimunda Conceição (co-
Em cada conta brilhante, que usava Libânea, à Rua do Outeiro, lugar mais co- nhecida por Maria Porca), bem em frente
refletia um valor. nhecido por “Palhoça”, o fuzuê era também ao portão do largo do Matadouro, a festan-
Quando metida em saias feitas de reta- espantoso, pois, enfeitando o mastro viam- ça sempre fora de espantar. Tanto as indu-
lhos ou amostras de chitas, que adquiria se galhos de murta, de fruteiras agitados mentárias dos festeiros como as caixeiras
nos grandes armazéns da Praia Grande, ou pelo vento e no alto balançava uma bandei- causavam admiração geral.

RESUMOS E RESENHAS*
MONOGRAFIA adaptado ao suporte digital e até que pon- am as argumentações da economia da cul-
2008 to a utilização do ciberespaço é favorável tura como elemento para superação da po-
ABREU, Poliana Marta Ribeiro de. A ou prejudicial à formatação dos textos crí- breza e de geração de trabalho e renda.
crítica cinematográfica e suas adaptações ticos. Para tanto, será analisado o site
ao suporte digital: breve análise do site criticos.com.br, que reúne um vasto con- DIOGO AZOUBEL, Diogo. Fotogra-
críticos.com.br. MONOGRAFIA. Curso teúdo elaborado por profissionais de reno- fia no Maranhão: perspectiva histórica e
de Especialização em Jornalismo Cultural. me na área. percurso de Dreyfus Nabor Azoubel. MO-
São Luís, UFMA, 2008. Professora orien- NOGRAFIA. Curso de Especialização em
tadora: Ester Marques. BARBOSA, Andréia da Silva. Econo- Jornalismo Cultural. São Luís, UFMA,
RESUMO: mia da cultura em perspectiva: desafios para 2008. Professora orientadora: Ester Mar-
Sabe-se que a web oferece espaço ilimi- o estado do Maranhão. MONOGRAFIA. ques.
tado para todos os tipos de conteúdo, com Curso de Especialização em Jornalismo RESUMO:
as mais variadas intenções, desde a pura Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Profes- O texto indica o fazer fotográfico em
diversão até a divulgação de notícias e estu- sora orientadora: Ester Marques São Luís - MA, desde o início da carreira de
dos científicos. Em virtude do espaço cada RESUMO: Dreyfus Nabor Azoubel como fotojorna-
vez mais reduzido nos jornais impressos Este trabalho discorre sobre o tema da lista e artista que, com suas imagens estáti-
para o trabalho da crítica cultural – especi- economia da cultura e suas implicações cas, revelou o espírito de uma época. Além
almente a cinematográfica, objeto deste para o Maranhão. Ao analisar a combina- de tratar das peculiaridades de algumas
trabalho -, muitos críticos têm utilizado a ção entre economia e cultura, discute a re- imagens dele que servem de elo entre a atu-
internet como meio de veiculação de seus percussão na agenda pública e no cotidia- alidade e o passado em uma cidade arraiga-
textos, que têm como foco a análise de pro- no, as possibilidades e variações do consu- da de sentidos e significados, por vezes, dis-
duções cinematográficas. O presente arti- mo cultural e a relação com os indicadores tantes. Trata-se de uma abordagem históri-
go pretende verificar como a crítica tem se sociais, políticos e econômicos que permei- ca que levou em consideração o contexto

19 Transcrito de Prosa, poesia e iconografia/Ruben Almeida. Coordenada por Alberico Carneiro Filho e Chagas Val. São Luís: SECMA, 1982. p.248-249. (Col.
Série Inéditos 2).
20 Maranhense de ascendência portuguesa, falecido em 1979; catedrático de Língua Portuguesa do Liceu Maranhense e da Faculdade de Filosofia do Maranhão

e professor de Direito Civil da Faculdade de Direito do Maranhão; estudioso e grande apreciador da cultura popular; e membro fundador da Comissão
Maranhense de Folclore.
* Colaboração de Ester Marques - CMF; Professora UFMA;
16 Boletim 43 / junho 2009

RESUMOS E RESENHAS
sócio-econômico e político de São Luís lização em Jornalismo Cultural. São Luís, MENEZES, Giselle Adrianne Jansen
durante parte do século passado, nas esfe- UFMA, 2008. Professora orientadora: Es- Ferreira de. A indústria cultural da Capoei-
ras fotojornalística e artística. ter Marques. ra Angola de São Luís, Maranhão. MONO-
RESUMO: GRAFIA. Curso de Especialização em Jor-
ESTEVANIM, Mayanna. A cachaça O reggae em São Luís é um fenômeno nalismo Cultural. São Luís, UFMA, 2008.
como produto da cultura maranhense. de massa. Popularizando-se entre as classes Professor orientador: Francisco Gonçalves
MONOGRAFIA. Curso de Especialização sociais mais pobres, antes mesmo de se tor- RESUMO:
em Jornalismo Cultural. São Luís, UFMA, nar midiático, o ritmo, importado da Ja- O presente artigo analisa a formação
2008. Professora orientadora: Ester Mar- maica, conquistou espaço na Ilha através do campo da capoeira angola na cidade de
ques. de um processo de identificação, que não São Luís (MA), apresenta o processo de
RESUMO: compreendeu, necessariamente, uma im- comodificação da capoeira angola a partir
Como uma bebida se insere no cotidi- posição cultural. da experiência dos grupos organizados no
ano de uma sociedade? Será por prazer, para Com a ampliação do público do reggae, Centro Histórico, esboça uma análise crí-
“afogar” as mágoas, para melhorar a saúde, no entanto, o estilo musical ganha novas tica da inserção da capoeira angola na in-
para ser admirada e degustada ou para aca- proporções, inclusive, na mídia hegemôni- dústria cultural e, ao mesmo tempo, desse
bar com a timidez? Este artigo se propõe a ca do Maranhão. A partir de então, verifi- mercado cultural.
levantar uma discussão sobre a presença da ca-se um movimento de segmentação do
aguardente inserida na experiência do reggae, dos espaços, dos públicos e mesmo MORAIS, Maria do Carmo Lima. A
Mercado da Praia Grande – se a presença das formas de publicização do ritmo. invenção da expressão “Jamaica brasileira”.
desta bebida se constitui como um produ- MONOGRAFIA. Curso de Especialização
to da cultura e de que forma isto acontece. LISBOA, Conceição de Maria Caldas. em Jornalismo Cultural. São Luís, UFMA,
Uma etnografia interpretativa dos blocos 2008. Professor orientador: Francisco
EWERTON NETO, José de Ribamar. tradicionais de São Luís. MONOGRAFIA. Gonçalves
A invenção de nomes próprios: algo mais Curso de Especialização em Jornalismo RESUMO: Atualmente São Luís é
do que um costume. Será Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Profes- conhecida como a “Jamaica Brasileira” pela
arte?MONOGRAFIA. Curso de Especia- sora orientadora: Ester Marques. presença e consolidação do reggae na capi-
lização em Jornalismo Cultural. São Luís, RESUMO: tal há quase 40 anos. Essa constatação fun-
UFMA, 2008. Professor orientador: José de Os Blocos Tradicionais compõem uma damenta-se no processo de criação e apro-
Ribamar Ferreira Júnior. categoria específica no conjunto de mani- priação da expressão, bem como nas rela-
RESUMO: festações culturais dentro do Carnaval de ções de interação simbólica estabelecidas
Dentro do universo das palavras inven- São Luís (Maranhão), e estão particular- durante todos esses anos. A mídia, especi-
tadas, a criação de nomes próprios tem sido mente situados num cenário que inclui almente, produtora e divulgadora do nome,
vista, com freqüência, como um costume outras expressões como as Tribos de Índi- sustenta esse discurso pondo em questão o
ou mania de baixa densidade cultural. O os, os Blocos Organizados, os Corsos, a jogo das sucessivas imagens construídas ao
autor sugere que a carga de simbolismo e Casinha da Roça, as Charangas, os Blocos longo da história da cidade, descritas num
de busca de identidade inerentes a esse pro- Alternativos e as Escolas de Samba. Estes breve percurso simbólico.
cesso fazem com que este atinja muitas grupos carnavalescos carecem de pesquisas
vezes, as complexidades peculiares às do que desvendem sua origem, registrem sua NOGUEIRA, Gislleyne de Lourdes
fenômeno artístico. trajetória histórica, seus sentidos e as prá- Costa. EMOCORE – Grupo como leitura
ticas sociais no contexto em que estão in- social. MONOGRAFIA. Curso de Especi-
FERREIRA, Bruno Soares. Abdução seridos. Neste aspecto, o intuito deste tra- alização em Jornalismo Cultural. São Luís,
semiótica na Capoeira e São Luís. MONO- balho é pesquisar os Blocos Tradicionais UFMA, 2008. Professora orientadora: Es-
GRAFIA. Curso de Especialização em Jor- que, ainda, não possuem registros escritos ter Marques.
nalismo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. e documentais que abranjam algumas di- RESUMO:
Professor orientador: Arão Paranaguá de nâmicas aqui apresentadas. Após a Segunda Guerra Mundial
Santana (1939-1945), várias reações foram desenca-
RESUMO: LOBO, Juliana Campos. A mídia e o tam- deadas ao redor do mundo, em que grupos
O presente artigo tem por objetivo abor- bor: reconhecimento publicizado?. MONO- de caráter rebelde manifestaram-se de for-
dar o método da Consciência pelo Movi- GRAFIA. Curso de Especialização em Jor- ma agressiva contra o sistema político e
mento, desenvolvido na Capoeiragem por nalismo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. toda a situação que alastrava o mundo. Es-
Mestre Patinho em São Luís – MA, e cons- Professora orientadora: Ester Marques. ses movimentos fizeram nascer dezenas de
truir pela semiótica, através da Abdução, RESUMO: grupos “subalternos” ou simplesmente sub-
imagens sobre as formas culturais de assi- Este artigo tem a intenção de suscitar culturas, que, tendo como suporte a músi-
milação da Capoeira nesse tipo de aprendi- reflexões sobre o Tambor de Crioula no que ca, expunham letras politizadas, em virtu-
zado. Para isso, serão utilizados os concei- tange a sua publicização enquanto Patri- de das conseqüências da Grande Guerra.
tos da Comunicação da Experiência e de mônio Imaterial da Humanidade. No perí- Punks aparecerem, dando origem ao Hard-
Interacionismo Simbólico sob a perspecti- odo de um ano, foram analisadas as matéri- core Punk – gênero musical enraizado do
va dos estudos culturais que vêm sendo as da editoria de cultura veiculadas sobre a rock e grande influenciador para a forma-
desenvolvidos na contemporaneidade. manifestação, em dois jornais de grande ção do Emocore. No primeiro momento,
circulação no Estado: O Imparcial e o Esta- este artigo tentará definir e fazer alguns
FREIRE, Karla Cristina Ferro. O reg- do do Maranhão. A análise baseou-se nos apontamentos sobre a estética da moda do
gae em São Luís na contemporaneidade: critérios de noticiabilidade apresentados grupo Emocore traduzida pelo estilo de vida
identificação cultural, segmentação e mer- por Mauro Wolf, um dos grandes teóricos que levam e suas características comporta-
cado. MONOGRAFIA. Curso de Especia- da Comunicação Social. mentais.
Boletim 43 / junho 2009 17

RESUMOS E RESENHAS
PELLEGRINI, Paulo Augusto Emery tos inusitados e verificar o kitsch em dife- cultural maranhense. Nesse contexto trata-
Sachse. A atuação das fontes na constru- rentes pontos de extravagância. remos de demonstrar a construção simbólica
ção do discurso jornalístico. MONOGRA- que todo aspecto de cultura contemporânea
FIA. Curso de Especialização em Jornalis- RODRIGUES, Wanderson Ney Lima. representa, utilizando a referida manifesta-
mo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Pro- O Mercado da Praia Grande na contempo- ção e os aspectos de transformações mais re-
fessor orientador: Francisco Gonçalves raneidade. MONOGRAFIA. Curso de Es- centes observados neste grupo folclórico.
RESUMO: Aborda-se o jornalismo Buscaremos fomentar, de alguma maneira,
pecialização em Jornalismo Cultural. São
questões referentes ao debate sobre identi-
como forma de conhecimento, constituí- Luís, UFMA, 2008. Professora orientado-
dade cultural na contemporaneidade.
da e constituinte da realidade. Apresentam- ra: Ester Marques.
se os principais fatores de construção do RESUMO: SILVA, Thatianny Cristina Soares e. O
discurso jornalístico. Analisa-se o jornalis- Analisa-se a história do mercado mais Mecenato no Premio Universidade: demo-
mo como campo social capaz de conferir antigo do Maranhão, a Feira da Praia Gran- cratização ou alienação da cultura? MONO-
visibilidade aos fenômenos e aos demais de. Seu surgimento, o posterior declínio e a GRAFIA. Curso de Especialização em Jor-
campos. Examina-se como se dá a atuação recente revitalização são abordados. Consi- nalismo Cultural. São Luís, UFMA, 2008.
das fontes na construção deste discurso. dera-se a série de transformações culturais Professora orientadora: Ester Marques.
Compreende-se o processo de promoção de que influenciaram na maneira pela qual os RESUMO:
acontecimentos que se transformam em visitantes e feirantes se relacionam uns com Processo de utilização da cultura como
pautas jornalísticas, através de determina- os outros. Para compreensão deste fenôme- ferramenta de mercado baseado na oferta.
das estratégias institucionais. no, trabalhou-se com os conceitos de tradi- Analisa-se o Prêmio Universidade FM e a
ção de Eric Hobsbawn, identidade de Stuart relação de mecenato com sua principal pa-
PEREIRA JÚNIOR, José Antonio. Hall e cultura de Clifford Geertz. A feira, trocinadora Vale - maior produtora mundi-
You Tube: recriação ou descaracterização antes tida como um espaço para a aquisição al de minério de ferro - em termos de recur-
da linguagem do videoclipe? MONOGRA- de produtos de primeira necessidade, passa a sos destinados ao evento, observando seus
FIA. Curso de Especialização em Jornalis- ser encarada, contemporaneamente, como usos e efeitos dentro da complexificação
mo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Pro- um local de trocas culturais, de apresentações das sociedades globais.
fessora orientadora: Ester Marques. folclóricas e de manifestações religiosas.
RESUMO: VIEIRA, Raimundo Nonato de Araú-
O videoclipe conjuga, em uma só lin- SANTOS, Amarilis Cardoso. Projeto jo. Banca de revistas: um espaço democrá-
guagem, imagem e som. Em meados dos tico, heterogêneo e de convivência cultu-
Editoria do Suplemento Cultural e Literá-
ral. MONOGRAFIA. Curso de Especiali-
anos 80, este jeito de se produzir música rio “GUESA ERRANTE”: Entre a teoria e
zação em Jornalismo Cultural. São Luís,
tomou conta dos veículos de comunicação, a prática. MONOGRAFIA. Curso de Es-
UFMA, 2008. Professor orientador: Silva-
especialmente após o surgimento da MTV. pecialização em Jornalismo Cultural. São no Bezerra
Concebe-se, assim, videoclipe como produ- Luís, UFMA, 2008. Professora orientado- RESUMO: Este estudo discute a ban-
to da indústria cultural contemporânea. ra: Ester Marques ca de revistas como o espaço de produção e
Com o avanço das novas tecnologias, surgi- RESUMO: disseminação de sentido. A banca de revis-
ram diferentes espaços, como o site Youtu- A finalidade deste estudo é analisar os tas é entendida como uma espécie de en-
be, para divulgação de videoclipes. Nesse Anuários do Suplemento Cultural e Lite- troncamento de informações, o que vem
contexto, discute-se até que ponto esse rário “Guesa Errante”, publicados há cin- caracterizá-la como específico na paisagem
novo espaço recria ou descaracteriza a lin- co anos no Jornal Pequeno, como um exem- da cidade. Busca-se avaliar os diferentes si-
guagem videoclíptica. plo de Jornalismo Cultural. A idéia é verifi- nais presentes na banca de revistas, na con-
car se os objetivos propostos por seu Edito- dição de portadores de significados e que
RAMOS, Januária Oliveira. Vitrines rial estão sendo cumpridos. A partir do pri- indicam modos de convivência social.
da periferia: um breve olhar sobre o híbri- meiro editorial do Guesa Errante, a inten-
do e o kitsch expostos na feira da Cidade ção é analisar os indícios textuais das pu- WADA, Mieko Damasceno. O reggae
Operária. MONOGRAFIA. Curso de Es- blicações dos Anuários, tentando observar como instrumento político na cultura ma-
pecialização em Jornalismo Cultural. São se ele obtêm os efeitos desejados, tanto para ranhense. MONOGRAFIA. Curso de Es-
Luís, UFMA, 2008. Professor orientador: os editores, quanto para o público leitor, pecialização em Jornalismo Cultural. São
José de Ribamar Ferreira Júnior. Luís, UFMA, 2008. Professora orientado-
proposto pelo editorial.
ra: Ester Marques.
RESUMO: Este trabalho tem a inten-
RESUMO: A pretensão é entender o
ção de mapear, dentro da periferia da cida- SAUAIA, Anuar Sadat. O Boi da Mai-
reggae como um fenômeno político de
de de São Luís, alguns aspectos do hibri- oba e a contemporaneidade. MONOGRA- massa, tendo em vista sua predominância
dismo cultural do kitsch que podem ser vi- FIA. Curso de Especialização em Jornalis- tradicional nos bairros periféricos de São
sualizados em pequenos produtos vendidos mo Cultural. São Luís, UFMA, 2008. Pro- Luís, onde o nível de instrução de grande
em mercados populares. Para esta pesqui- fessor orientador: Francisco Gonçalves parcela da população é limitado. A idéia é
sa, o corpus escolhido é a feira da Cidade RESUMO: perceber como esta manifestação cultural
Operária, que é um dos bairros mais popu- Este trabalho propõe a discussão sobre pode influenciar os seus adeptos na hora
losos da capital maranhense. Notamos que alguns conceitos como cultura popular na de escolher os seus representantes nos car-
o hibridismo está presente neste ambiente contemporaneidade, transformações cultu- gos em que concorrem, tendo como ban-
por meio de objetos - muitos importados rais, tipologias culturais e tradição, a partir deira de luta o movimento regueiro, no
de outros países como mercadoria piratea- de uma perspectiva paradigmática que não Maranhão. A adesão de simpatizantes é
da, e das criações que simulam realidades, negligencia o caráter dinâmico da cultura e resultante de vários artifícios de marketing,
recriam contextos e promovem encontros sua contextualização histórica. Como pano como a realização de eventos e festas, nos
inusitados na concepção visual dos produ- de fundo, elegemos o Boi da Maioba em vir- quais os representantes são simbolizados
tos expostos. Vamos examinar esses aspec- tude de sua representatividade no campo como heróis.
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Notícias – Roza Santos


to, produz suas imensas miudezas: cofres Rainha da Pajelança, condenada com vari-
XIV CONGRESSO de segredo, carrinhos de boi, brinquedos, as companheiras, entre as quais a mãe de
caixa de rendeiras, rodas de brincantes de dois meninos escravos mortos em São Luis
BRASILEIRO DE FOLCLORE bumba-meu-boi - miniaturas em buriti, no Crime da Baronesa. O referido proces-
palmeira nativa do Maranhão - preciosida- so, localizado no Arquivo Histórico do Tri-
A cidade de Vitória, Espírito Santo, no des que o imortaliza como artista popular. bunal de Justiça do Maranhão, foi trans-
período de 24 a 29 de novembro de 2009, é O museu Casa de Nhozinho, a Sábios Pro- crito por Jacira Pavão, com bolsa da FAPE-
sede do folclore brasileiro. Neste período jetos e a Arco e Arquitetura Produções sob MA e orientação da organizadora do livro.
acontece o XIV Congresso Brasileiro de Fol- o patrocínio da Merck, Lei de Incentivo do
clore que reúne folcloristas, mestres popu- MinC, reuniram grande parte de sua obra NOVO DICIONÁRIO
lares, estudiosos e pesquisadores para de- nesta exposição composta pelo acervo da
bates sobre o tema: Folclore, Diversidade Casa de Nhozinho, da Família Alcântara, HISTÓRICO-
Cultural e Políticas Públicas para o Século da Família Dino e de Zelinda Lima. As fo- GEOGRÁFICO DA
XXI. Uma realização da Comissão Nacio- tografias, do acervo da família e de amigos
e do arquivo da Casa que leva o nome do
PROVINCIA DO
nal de Folclore, Comissão Capixaba de Fol-
clore e a da Universidade Federal do Espíri- artista. Depois do êxito na cidade do Rio MARANHÃO
to Santo. Quem se inscreveu para apresen- de Janeiro, realizada na Galeria mestre Vi-
tar trabalhos tem o período de 1º de junho talino, no Museu do Folclore Edison Car- A Academia Maranhense de Letras
a 31 de agosto para envio de texto integral neiro, a exposição chega à São Luis. A cu- entrega aos pesquisadores a terceira edição
dos Artigos de Comunicações aceitas para radoria e projeto de exposição é de Heloisa - revista e ampliada pelo acadêmico e editor
participarem do Simpósio. Mais informa- Alves e equipe técnica. apaixonado Jomar Moraes - do Dicionário
ções no site www.folclorecapixaba.org.br Histórico-Geográfico da Província do Ma-
CRIME DA BARONESA, ranhão, concebido por César Augusto
REZAS, BENZIMENTOS E SÉC. XIX, JULGAMENTO Marques, em 1870. Na versão 2009, Jomar
Moraes nos revela um novo Dicionário,
ORAÇÕES EM LIVRO SIMULADO uma obra volumosa com 1.028 páginas,
1.559 verbetes e 1.508 anotações, trabalho
Dona Zelinda Lima lança o livro Re- Alunos do 4º período do Curso de Di- que durou 10 anos de dedicação desse mes-
zas, Benzimentos e Orações: A fé do povo reito da UNDB, sob a Coordenação Geral tre em edições e reedições de livros da his-
– resultado de suas anotações de pesqui- da professora Especialista Marineis Mer- tória e da cultura do Maranhão. O “Dicio-
sadora e de seu convívio, desde a infância, çon, realizaram, dia 9 de maio, ciclo de pa-
com rezadeiras e benzedeiras, pessoas que nário Histórico-geográfico da Província do
lestras e uma simulação do julgamento da
curam doenças com rezas e benzimentos. Maranhão” é uma obra com informação
Baronesa de Grajaú, crime ocorrido em
No livro encontramos biografias de san- sobre a história e geografia do Maranhão
1876, trabalho efetivado a partir da obra
tos, orações e rezas para achar coisas per- colonial, imperial e republicano: das inva-
“O Crime da Baronesa” de autoria do Dr.
didas; maridos para moças e solteironas; sões francesa e holandesa às povoações in-
José Eulálio Figueiredo de Almeida, juiz
contra tempestades e raios, etc. práticas dígenas; da Companhia de Jesus à Compa-
maranhense. Os alunos puderam discutir
do povo simples na linguagem singela e nhia de Comércio; da revolta de Bequimão
o impacto da acusação contra uma barone-
direta que bem traduz a religiosidade po- à Balaiada; da proclamação da Constitui-
sa na Província do Maranhão, em meados
pular. Numa brochura elegante, o livro tem do século XIX, além de tentar expressar um ção Política do Império ao Governo de Ja-
na capa foto de Edgar Rocha, da escultura pouco do clima e da tensão que causou na ckson Lago; do Parque Antonio Vieira ao
de Magnólia Mendes (Magui) e ilustrações São Luís da época o crime em que a vítima “Jornal de Timon” (de João Francisco Lis-
do artista plástico Ciro Falcão, projeto e era um negro escravo. Foram apresentados, boa). Nesses 140 anos do Dicionário, vári-
planejamento gráfico de Edgar Rocha e ainda, um vídeo acerca do espaço social que os estudiosos da história e acadêmicos em
Nazareno Almeida. a Baronesa de Grajaú ocupava e uma refle- geral se debruçaram no original e contribu-
xão crítica sobre o papel do negro, e uma íram na recomposição dos apontamentos
NHOZINHO – IMENSAS peça teatral do julgamento da baronesa com de César Marques. Num primeiro momen-
to o acadêmico Antonio Lopes incluiu na
MIUDEZAS acompanhamento musical da regente do
coral da UNDB, Angélica Vieira da Silva. obra novas informações. Mais adiante uma
As apresentações envolveram 150 graduan- comissão formada pelos historiadores Má-
A Casa de Nhozinho/SCP-SECMA,
dos do Curso e o ciclo de palestras contou rio Meirelles, Domingos Vieira Filho e Vir-
na Rua Portugal, 185, Praia Grande, cria-
da, em 2002, para abrigar o acervo de brin- com a participação especial dos professo- gilio Domingues, analisaram os aponta-
quedos populares dos artesãos maranhen- res Dr. Sérgio Ferretti e Dra. Mundicarmo mentos de César Marques com o intuito
ses, recebe Nhozinho – Imensas Miudezas, Ferretti, do Mestrado de Ciências Sociais de reeditá-lo. Porém só em 1970 publicou-
exposição, edição de vida e obra em livro e e Políticas Públicas da UFMA. No término se a segunda edição, idealizada por Raimun-
documentário sobre Antonio Bruno Pin- do evento a Dra. Mundicarmo doou à bi- do Nonato Cardoso que fez a costura ne-
to Nogueira (1904-1974) artista maranhen- blioteca da UNDB o livro organizado por cessária dos originais de César Marques
se, nascido em Cururupu, aos 32 anos, já ela “Pajelança do Maranhão no séc.XIX: o com as anotações de Antonio Lopes. Em
em estado de deformação, vem para São processo de Amélia Rosa’”. São Luís: CMF/ 2009, do alto de seus 70 anos, Jomar Mora-
Luis. Notável pela superação das adversi- FAPEMA.2004 que gira em torno do pro- es nos presenteia com o resultado de seu
dades, limitações físicas, dor e preconcei- cesso-crime de Amélia Rosa, cognominada Curso Intensivo de História do Maranhão.
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CONTINUAÇÃO

Adjunta – Marlildes Mendonça; Superin-


CARTILHA DE HISTÓRIA DO tendente de Cultura Popular – Sérgio Ha-
bibe; Diretor do Centro de Cultura Popu-
ARQUEOLOGIA MARANHÃO lar Domingos Vieira Filho – Sebastião Car-
OITOCENTISTA doso Junior; Diretor da Casa de Nhozinho
O Centro de Pesquisa de História Na- – Jandir Gonçalves; Superintendente de
tural e Arqueologia do Maranhão lança a O Curso de História da Universidade Programa Mais Cultura – Cláudio Pinhei-
Cartilha Arqueologia do Maranhão visan- Estadual do Maranhão realiza Simpósio de ro; Superintendente de Ação e Difusão
do desenvolver trabalho de educação patri- História do Maranhão Oitocentista. A con- Cultural – Wellington Reis; Diretor do
monial junto às escolas, aos freqüentado- ferencia “As províncias e a construção do Centro Pesquisa de História Natural e Ar-
res das suas exposições temáticas e nas co- Estado Brasileiro” pelo Doutor Théo Lo- queologia do Maranhão – Deusdédit Car-
munidades interioranas. Relata com ilus- barinhas Piñeiro (UFF) abriu o evento e as neiro Leite Filho; Superintendente de Pa-
trações o grande potencial de nosso patri- mesas-redondas sobre o Maranhão Oito- trimônio Cultural – Margareth Figueire-
mônio arqueológico, os sítios arqueológi- centista deram enfoque: a construção do do; Teatro Arthur Azevedo – Roberto Bran-
cos identificados, assim como a presença estado; à escravidão; à religião; aos docu- dão; Museu Histórico e Artístico do Mara-
de índios que por volta de 10.000 anos AP mentos e arquivos; aos gênero e família; à nhão – Maria Luisa Raposo; Diretor Bibli-
(antes do presente) sobreviveram pratican- literatura; e ao ensino, livro e leitura. Dias oteca Pública Benedito Leite – Rosa Ma-
do a caça, coleta e pesca, produzindo arte- 22 a 24 de abril. ria Ferreira.
fatos de pedra e assando seus alimentos em
fogueiras. A Cartilha tem concepção e tex- A CULTURA NA
tos de Deusdédit C. Leite e Eliane Gaspar
MÚSICA NO MUSEU
e Projeto Gráfico de Henrique Dias. O 2009/O ANO DE VILLA- PREFEITURA MUNICIPAL
Centro de Pesquisa fica na Rua do Giz, nº LOBOS
59 - Praia Grande – São Luis-MA. Fone O prefeito João Castelo, formou a sua
(98) 3218 9906. Aberto à visitação de 2ª a 6ª equipe, para administrar a cultura de São
. A Diretoria do Museu Histórico e Ar- Luís, com nomes conhecidos nos festivais
tístico do Maranhão recebeu dia 26 de de cinema e de música: Fundação Munici-
março o Quarteto Colonial: Doriana Men-
FOTOGRAFIA E MEMÓRIA des, Daniela Mesquita, Geilson Santos e
pal de Cultura – Euclides Moreira Neto;
Chefe de Gabinete – Mauro Falcão; Coor-
EM DEBATE Luiz Kleber Queiroz que interpretaram denador Financeiro - Márcio Berredo; Co-
Canções Brasileiras de Villa-Lobos ao sé- ordenador de Eventos – Fernando Olivei-
Fotógrafos, cineastas, produtores cul- culo XXI. O projeto Musica no Museu, ra; Assessor de Imprensa – Joel Jacintho;
turais e professores participaram do Ciclo patrocinado pelo BNDES/Lei de Incenti- Assessores Técnicos – Breno Ferreira, Cel-
de Debates Fotografia e Memória: Histó- vo MinC, comemora os 50 anos da morte so Brandão e Francisco Colombo
ria e Políticas Públicas no Maranhão. En-
do compositor brasileiro Heitor Villa-Lo-
tre os aspectos de reflexão estavam a foto-
grafia enquanto expressão estética e docu- bos. Direção de Sérgio da Costa e Silva. CLAUDETE NA
mental e a promoção da fotografia e do SECRETARIA DE
audiovisual no Maranhão. O debate apon- MUSEUS E TURISMO:
tava para a urgência de implantação do IGUALDADE RACIAL
Museu de Imagem e do Som do Maranhão.
VIAJE NO TEMPO
Dias 24, 25 e 26 de março. Realização: SE- Claudete Ribeiro, professora de Histó-
CMA, FUNARTE/ Programa Rede Naci- Os museus de todo Brasil comemoram ria aposentada da UFMA e ex- Presidente
onal Funarte Artes Visuais, UFMA/Pro- o 18 de maio – Dia Internacional de Mu- da FUNAC, tomou posse como Secretária
grama de Mestrado em Cultura e Socieda- seus, com a 7ª Semana Nacional de Mu- de Igualdade Racial. A professora tem uma
de/Núcleo de Etnologia e Imagem; seus. Este ano o tema Museus e Turismo é vasta experiência em questões relativas ao
UEMA/Centro de Ciências e Tecnologia/ uma demonstração da potencia, da atuali- povo negro e atualmente trabalhava com
Curso de Arquitetura e Urbanismo. zação e do desenvolvimento do campo mu- adolescentes em situação de risco, no Co-
seal do Brasil, bem como da importância de roadinho.
se investir na relação museus e turismo. O
IV SEMANA DO TEATRO MHAM abriu a Semana com a palestra
DO MARANHÃO Museu - Equipamento Turístico como
PERDA DE MESTRE
Meio de Comunicação e Informação”, pro- POPULAR
A Diretoria do Teatro Arthur Azevedo ferida pelo Prof.Dr. Francisco Gonçalves
realizou, no período de 23 a 29 de março, a da UFMA. Antonio Vieira – morreu, na manhã
IV Semana do Teatro no Maranhão. Com de 7 de abril, aos 88 anos, no UDI Hospital,
o tema Abrindo Cortinas para o Mundo, MUDANÇAS NA SECMA/ vítima de acidente vascular cerebral, e en-
levou para teatros, museus, praças e sedes terrado dia 8 no Cemitério do Gavião. Ar-
de grupos teatrais em São Luis e aos muni- GOVERNO ROSEANA tistas de todas as vertentes foram homena-
cípios de Vargem Grande, Miranda do Nor- gear o mestre Antonio Vieira, compositor,
te, Paço do Lumiar, Cururupu, Humberto A posse da Governadora Roseana cantor arranjador e percussionista, que fa-
de Campos, Bacabal e Arari, de 01 a 05 de nos trouxe novo naipe de administra- ria 89 anos, dia 9 de maio. Suas músicas
abril, espetáculos, performances, oficinas dores da SECMA, alguns já empossa- foram gravadas por Rita Ribeiro, Rosa Reis,
palestras, cortejo, leituras dramática e ex- dos: Secretário de Estado da Cultura – Luis Mano Borges, Elza Soares, Sivuca, Ary Lobo
posição. Henrique de Nazaré Bulcão; Secretaria e Zeca Baleiro, citando alguns.
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PERFIL POPULAR
Mestre Antonio Vieira Nívea Saraiva20

Antônio Vieira, a escolha do nome pa- conjunto vocal Anjos do Samba, a partir
rece ter sido premeditada, fruto de um amor daí Antonio Vieira despontaria para uma
tropical entre Seu Wilson Vieira e Dona trajetória musical que o levaria ao reconhe-
Itamar Farias, nasceu na Rua de São João, cimento e sucesso a partir da gravação do
centro de São Luís, aos 09 dias do mês de compacto Velhos Moleques participando
maio do ano de 1920. de diversos conjuntos musicais: JB Trio,
Nascido em família humilde, Mestre Tira-Teima, Bambaê, Urubu Malandro, ci-
Vieira como ficou eterna e carinhosamen- tando os mais conhecidos.
te conhecido, dividia com mais 03 irmãos A primeira composição gravada em sua
os cômodos apertados de sua casa. O pri- voz foi “Na cabecinha da Dora”, no vinil
mogênito da família Vieira logo cedo seria Velhos Moleques, em 1986. Parcerias com
apadrinhado pela família Lomba (descen- grandes amigos enriqueceram seu acer-
dente de portugueses) que lhe proporcio- vo: Nascimento de Moraes Filho, Lago
Burnett, Pedro Giusti, Oton Santos,
nou novas possibilidades oportunamente
Lopes Bogéa com quem, inclusive,
aproveitadas. Sua adolescência rotineira e
lançou o livro e vinil Pregões de
disciplinada, o transportaria para um “mun-
São Luís.
do paralelo”, imaginário e proibido: o mun-
Seu primeiro trabalho
do da música. O retorno para a casa dos solo, CD-O Samba é bom,
pais biológicos, devido o falecimento do pa- foi lançado somente em
drinho João Batista, foi marcante em sua 2001, a partir daí ma-
vida, realidades diferentes despertaram em ranhenses se ren-
Vieira reflexões em torno da sociedade, pre- deriam ao talento
sentes em suas composições. dessa pérola negra. Seu cancio-
Concluído o curso de Contador pela neiro foi várias vezes premiado: II Festival gio Miranda, Agostinho Reis, Messias, Pe-
Escola Superior de Comércio Centro Cai- Música Nova no Maranhão Novo, Festival dro Giusti, Sidney Maciel... Assim como
xeiral transitou em várias áreas profissio- A Voz de Ouro do ABC (SP), indicação no Noel, Ary Barroso, Lupicínio...
nais: milícia de guerra, mecânico, comerci- Prêmio Sharp, Personalidade Cultural do As composições do Mestre Antônio Viei-
ante, motorista, diretor administrativo Maranhão, Prêmio Universidade FM, Fes- ra refletiam uma visão particular de mundo,
hospitalar... Até se dedicar exclusivamente tival de Música Carnavalesca... poemáticas-reflexivas, não retratavam um Ma-
ao mundo mágico da música. Sua primeira ranhão ilusório e sim o real, vitimado pelas
Antônio Vieira, compositor, intérpre-
composição, Mulata Bonita, ocorrida aos mazelas humanas. Sua música sempre o reju-
te, percussionista e arranjador, tornou-se
16 anos, retratou sua visão apaixonada pela venesceu, ele sempre dizia que não sentia a
um dos mais completos representantes do velhice chegar porque se refugiava nesse mun-
vida e claro pela mulher maranhense: “Isso universo musical maranhense, alcançando do atemporal acompanhado de seu inesquecí-
não é mais do que uma ode elogiando a be- também sucesso nacional, fez da música vel violão. Falecido a sete de abril de 2009, An-
leza da mulata, eu acho que as mulatas são sua razão de ser, é dono de um estilo ímpar tônio Vieira foi coroado “anjo do samba”.
perfeitas de corpo, são mais bonitas que as de compor e interpretar o Maranhão, suas Finalizo com uma frase de nosso eter-
brancas, a música foi para todas as mara- quase 400 composições entre sambas, val- no Mestre que sempre foi motivo de nos-
nhenses”, segundo ele (2004). sas, canções, marchas, toadas e boleros fo- sas inúmeras discussões, a valorização de
Freqüentador de programas de rádio, ram inspiradas no cotidiano popular com nossa cultura: “Meu maior desejo é que o
se dizia “macaco de auditório” da Rádio temas regionais e influenciadas pelo talen- povo brasileiro escute a minha música; não
Timbira, sua primeira apresentação profis- to de grandes referências artísticas locais: há glória maior para o compositor”.
sional nos idos de 1942, foi realizada no Armando Cavalcanti, Nilton Vieira, Ser- Que seja feita a sua vontade!

21 Nivia Saraiva dos Santos - Especialista em História do Maranhão (UFMA); Professora do Ensino Público e pesquisadora da vida e obra de Antonio Vieira.

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