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EPISTEMOLOGIQUE
DA LA COMMUNICATION
A UN MODELE PRAXEOLOGIQUE
_____________________________
Louis QUÉRÉ
Resumo: Este artigo apresenta um esquema conceitual comunicacional que aborda as relações
sociais sob o prisma da atividade conjugada dos atores sociais, através da qual um mundo
comum, um espaço público e um campo prático são continuamente modelados e mantidos
pela participação de sujeitos pertencentes a sua mesma comunidade de linguagem e de ação, e
que dispõem de medições simbólicas compartilhadas. A esse esquema conceitual que busca
elucidar problemas metateóricos, formular teorias e propor reflexões metodológicas, o autor
denomina modelo praxiológico da comunicação.
Louis Quéré
Talvez eu deva precisar, desde já, que meu objetivo não é tanto recuperar o interesse
manifestado pelo tema da comunicação - que, como se diz às vezes, esteve na moda há algum
tempo, seja nas mídias, na gestão das empresas e na pesquisa -, mas o desenvolvimento de
uma maneira de conceber o mundo, o homem e a vida social, que concilia à ação
1
Varela, Connaître, p. 115)
3
A idéia que vai guiar minha argumentação é que a abordagem comunicacional se apresenta
como uma alternativa crítica à tradição “epistemológica” que herdamos do século XVII. Ela
propõe uma outra concepção do conhecimento e da ação, do mundo e da sociedade, do
indivíduo e da sociabilidade em oposição à concepção “representacionista” e cognitiva. O
problema é, então, também conseguir substituir o modelo representacionista-informacional de
comunicação por um modelo propriamente comu-nicacional. É o que permite, a meu ver,
fazer uma concepção praxiológica da comunicação, articulada a uma problemática da
construção intersubjetiva da objetividade, e a uma concepção “constitutivista” da linguagem,
da expressão e da cognição.
O ESQUEMA REPRESENTACIONISTA
intenções comunicativas, pois são elas que permitem ao destinatário inferir o que o
comunicador quis exatamente informar (cf. Sperber e Wilson, 1986);
e) a comunicação é um processo de produção e de interpretação de signos, através dos
quais os parceiros da interação tornam mutuamente manifestos os fatos, as hipóteses ou os
pensamentos que eles querem informar aos outros. Num caso (modelo semiológico), trata-se
de sinais dos quais é necessário extrair uma mensagem; em outro (modelo ostensivo-
inferencial), trata-se de indícios permitindo inferir representações e estados mentais
(considero que esses modelos da comunicação distinguidos por Sperber e Wilson dependem
do mesmo esquema “epistemológico”).
Pode-se decompor, como se segue, o sistema de premissas que estão subentendidas neste
esquema informacional de comunicação. A premissa principal é que a comunicação é um
desafio essencialmente cognitivo: ela contribui para modificar o ambiente cognitivo dos
agentes (no sentido de Sperber e Wilson, cuja teoria é um dos mais belos florões do esquema
representacionista), o conjunto dos fatos ou de hipóteses que são manifestas (perceptíveis ou
inferíveis) por um indivíduo, e sobre cuja base ele age. Esta premissa principal comporta três
elementos. Primeiro, o mundo é pré-definido e suas propriedades são independentes da
percepção e da atividade cognitiva dos sujeitos do conhecimento, que se contentam em
recuperar ou em reconstituir uma realidade extrínseca. O segundo elemento é a convicção de
que há uma separação clara e nítida entre as idéias, os pensamentos, as representações e as
descrições, de um lado, e aquilo sobre o que eles evocam, quer dizer, o mundo real, seja
externo ou interno, do outro. O terceiro elemento é a idéia de que a atividade cognitiva é
uma questão de construção e de validação de representações adequadas das
propriedades deste mundo real pré-determinado, seja com a ajuda da língua, de imagens
ou de artefatos. Fazem parte deste mundo real pré-definido tanto os estados internos dos
sujeitos que podem comunicar suas intenções, desejos, crenças, pensamentos, sentimentos,
emoções etc., (enquanto estados intencionais, reais, discretos, individualizados e diretamente
acessíveis a seus possuidores), quanto os estados das coisas, dos acontecimentos, dos objetos
e das pessoas.
Uma segunda premissa essencial do esquema representacionista é a convicção de que,
face ao mundo e aos outros, se tem um sujeito “epistemológico” cujo espírito é, como diz
Rorty, “o espelho da natureza”. Daí, o privilégio assumido do ponto de vista do observador
que produz, valida, transmite e infere as representações (aí compreendidas a partir do
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reconhecimento das intenções informativas e comunicativas), às quais ele tem acesso direto
pelo modo de observação interna graças ao “olho do espírito”. O modelo “epistemológico”
não conhece no fundo senão sujeitos monológicos. Dotados de estados internos e de
representações mentais, esses não se relacionam com o mundo e com os outros a não ser numa
postura de observação e de objetivação. Eles fixam nas hipóteses as propriedades de um
mundo (externo e interno) pré-definido. Eles tentam saber quais são os fatos ou hipóteses que
são também manifestos pelos outros. Nas suas relações comunicativas entre si, eles procuram
estabelecer, a partir de índices e por inferências, quais são suas intenções informativas
respectivas, enquanto representações ou fatos no espírito. Enfim, se eles se comunicam entre
si, é essencialmente para modificar seus “ambientes cognitivos”, isto é, suas representações, e,
por aí, desencadear comportamentos. Estes sujeitos são observadores descomprometidos (C.
Taylor): para alcançar a natureza intrínseca das coisas e construir uma representação absoluta
das propriedades do mundo real, aí compreendidas as intenções e as representações de seus
parceiros de interação, eles devem abstrair de todo ponto de vista e de todo pertencimento a
uma comunidade de comunicação.
A terceira premissa é uma concepção puramente factual da subjetividade. Além de ser capaz
de representar mentalmente os fatos e de observar diretamente suas representações, o sujeito
“epistemológico” tem estados intencionais (desejos, crenças, intenções, pensamentos,
opiniões), que são eles também realidades em si, independentes de suas atividades e
suscetíveis de serem representados como fatos. Estes estados, supõe-se, são diretamente
acessíveis àquele que os possui; eles não implicam então nenhuma mediação; e a eles é
imputado causar seus comportamentos e seus gestos (cf. a definição de Descartes: “tudo que
está em nós, imediatamente somos seus conhecedores”). A ação se divide então em dois
componentes: os movimentos físicos e os estados mentais que os dirigem. A significação das
ações, ou sua intencionalidade, é o produto das idéias que foram engendradas ou que elas
encarnam. Nesta perspectiva, comunicar é um comportamento causado ou motivado pela
existência de uma intenção prévia de informar (fazer conhecer um fato, um pensamento, uma
hipótese) e de uma intenção, também prévia, de fazer reconhecer esta intenção de informar -
este reconhecimento de segundo nível é essencial à preocupação com as informações que o
comunicador quer transmitir. Estes estados intencionais, cujo conteúdo o sujeito é capaz de
representar mentalmente, são, de todo modo, causa dos acontecimentos ou dos estados
independentes da própria ação comunicativa, que consiste em torná-los mutuamente
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A quarta premissa é a aplicação desse esquema dualista à língua. O mundo sendo pré-definido
em torno da língua e independentemente de toda atividade lingüística, a língua apenas serve
para designar as entidades do mundo e para construir representações adequadas de suas
propriedades. Mas, no limite, a língua poderia ser substituída nesta função por outros meios,
imagens ou fórmulas matemáticas, por exemplo. Isto vale também para a manifestação de
estados intencionais dos sujeitos na comunicação. A língua não é essencial a esta
manifestação, pois ela é questão de produção e de interpretação de índices permitindo por sua
vez reconhecer as intenções reais e fazer razoavelmente atribuições de “atitudes
proposicionais” (desejos, crenças, etc.). Uma tal concepção da língua tem implicações
importantes quanto à teoria da significação e da compreensão que ela torna possível. Charles
Taylor pôs perfeitamente em evidência essas implicações, entre as quais a principal é
tematizar a significação numa problemática da representação de estados - estados de coisas e
estados de intenções - e então supor que se pode compreender a língua e seus usos com uma
postura de observador monolítico (pois não se trata de estabelecer fatos e de inferir
representações). Não nos surpreenderá, então, que o esquema representacionista faça da
verdade uma noção semântica fechada - as descrições por meio das quais a língua representa
as coisas são suscetíveis de serem verdadeiras ou falsas -, que ele apreenda a relação do fazer
e do dizer, ou do ser e da língua, numa problemática da correspondência ou que ele se esforce
em destacar nos diferentes tipos de atos de linguagem um núcleo representativo idêntico
suscetível de verdade. Considerar-se-á, por exemplo, que uma ordem, uma promessa, uma
questão desorganizam os estados de coisas que os satisfazem, que eles lhes dão uma
representação lingüística. Distinguindo assim em todo ato de linguagem um conteúdo
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representativo e uma atitude em face desse conteúdo, esta abordagem permite fazer
atribuições de “atitudes proposicionais” aos locutores (crenças, desejos, intenções, etc.).
O ESQUEMA CONSTITUTIVO
A retórica da transmissão e do tratamento da informação não tem muito sentido nesse quadro.
Pois o que tem valor de informação emerge localmente e sem representação, quer dizer, de
maneira encarnada, na estruturação de uma interação com os outros e com um ambiente. Por
outro lado, a concepção representacionista se desfaz completamente a partir do privilégio que
ela confere à postura do observador desinteressado, no momento em que se descobrem a
estrutura normativa e moral dos “fatos”, o caráter social da “manifestação mútua” 4das
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Gadamer
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Sperber e Wilson
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intenções e das representações, assim como sua ancoragem na ação coletiva de uma
comunidade de práticas e de comunicação. Para demonstrar isto, me apoiarei em dois
exemplos, um emprestado de um estudo realizado por Marc Relieu para seu D.E.A. de
sociologia, o outro, de um estudo de conversações ordinárias. A partir desses dois exemplos,
gostaria de indicar, o mais precisamente possível, alguns pontos em que consiste o modo de
raciocínio aplicado à comunicação pelo esquema “praxiológico”.
O que esse exemplo ilustra é, primeiro, o fato de que a informação pertinente se constitui
localmente no quadro de uma atividade e que ela emerge em função da estruturação do
ambiente de uma ação por um processo de seleção e de ordenamento, do qual resulta um
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Quanto à intenção de B - servir o vinho para que A o provasse antes de lhe pregar uma peça,
por exemplo, ou o levar ao ridículo - ela emerge paralelamente na interação enquanto intenção
encarnada na ação que a exprime; ela é configurada publicamente na produção e no
reconhecimento do que B faz como ação normal, identificável em função de usos e costumes,
e atribuível a um agente manifestamente capaz de orientar e de controlar seus atos. Não há
grande sentido em procurar atrás do gesto um querer fazer que lhe teria correspondido, uma
idéia que o teria engendrado, ou um estado psicológico, com um conteúdo mentalmente
representado que teria provocado ou acompanhado a realização física do ato. O querer fazer
de B está totalmente incorporado ao que ele faz manifestamente, e indistintamente da sua
realização pública. Ele não é determinável fora de sua ação efetiva, cuja identidade supõe um
“produzir-como” e um “ver como” (senão a ação se reduz a uma seqüência de gestos
ininteligíveis). Por outro lado, B teria podido se justificar tarde demais invocando estados
intencionais como razão de agir: uma crença, um desejo, um querer-fazer do gênero “eu
acreditei que você tinha localizado seu copo de mesa”, “eu pensei que você tinha ouvido o
vinho ser despejado no outro copo”, etc. Mas, trata-se aqui, de uma capacidade engendrada
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por um fazer efetivo, antes que por estados internos: é o que ele pode dizer em apoio do que
ele efetivamente fez, e não o estofo psicológico ou mental de seu ato público.
Este exemplo, que combina gestos e ações verbais, permite sublinhar dois outros aspectos
importantes do raciocínio “praxiológico” aplicado à comunicação. O primeiro é que é por um
engajamento na ação, e não por um desengajamento permitindo uma representação objetiva,
adequada, da realidade, que aquela se abre ao conhecimento, que suas propriedades são
descobertas e que os fatos se tornam mutuamente manifestos, porque eles são precisamente
constituídos como fatos por uma atividade organizante. É um “fato”, por exemplo, que o cego
ignorava a presença de um copo de mesa diante dele. Mas a factualidade desse “fato” e seu
tornar-manifesto foram completados pela construção de mundos diferentes no quadro da
atividade conjunta ocasionada pelo projeto de provar o vinho. De outra parte, os membros
desse grupo sabiam bem, por representação, o que é um cego; era de se supor poderem
deduzir desse seu saber como se conduzir na suas interações com A ou determinar as
hipóteses nas quais A era suscetível de se apoiar para tratar a situação. Ora, parece que é na
organização de uma atividade prática que se tornam concretamente manifestas ou sensíveis,
sem representação, as “propriedades” de um cego, e isto para todos os fins práticos, pois são
“propriedades” às quais os outros devem ajustar seus comportamentos in situ. A faz também
parte do ambiente das ações dos membros desse grupo, mas de um outro modo que o de um
elemento objetivo ao qual eles se adaptariam através da formação de uma representação
adequada. É nos detalhes concretos da experiência de interação, no contato poderíamos dizer,
para fazer uma oposição, de um pensamento por contato, a um pensamento por representação
(C.Taylor), que se tornam manifestas por uns e por outros o que é ser cego e também que um
cego não constrói o mesmo mundo como base de inferência e de ação. Estes são, poderíamos
dizer, fatos e propriedades encarnadas nas interações situadas.
intenção para quem a faz e para seu destinatário, é necessário que eles estruturem
similarmente seu ambiente ou o campo daquilo que lhes é mutuamente manifesto. Ora, no
caso presente, A não sabe que dispõe de um copo de mesa para o vinho. O que o conduz, de
uma certa maneira, a atribuir ao propósito de B, (a ação de o servir), uma intenção que ele não
pode ter em relação a qualquer um que dispõe desta “informação”: por exemplo, a pressa de
acabar seu aperitivo para poder passar à degustação do vinho. O que importa aqui é, primeiro,
o fato de que a construção de um mundo comum como mundo da ação conjunta em curso
produz uma visibilidade determinada dos objetos e das pessoas. Segundo o fato de que esta
construção é circular: no caso presente, por exemplo, é a ação, orientada para um começo e
um termo que lhe são intrínsecos, que estrutura seu próprio ambiente de tal sorte que essa
construção torna a própria ação publicamente identificável como sendo esta ação
precisamente, e não uma outra, e permite que ela se complete segundo sua formalidade
própria. É pela mediação deste ambiente ou deste mundo do qual a ação se dota para se
completar, que a intencionalidade que estrutura a ação se torna manifesta, e que a ação pode
ser relacionada a intenções e a motivações de sujeitos. É assim que uma subjetividade-origem
da ação pode ser construída interativamente pela mediação da construção intersubjetiva de um
mundo objetivo e vice-versa.
Para o segundo exemplo, eu partirei de uma situação descrita por C. Taylor. Trata-se de dois
passageiros em um trem circulando em uma região em que faz muito calor. Ambos sofrem de
canícula5. E lhes é mutuamente manifesto (isto se vê pela transpiração e pelo comportamento)
que cada um sofre deste mesmo calor excessivo. Em um determinado momento, um se dirige
ao outro, limpando a fronte e dizendo qualquer coisa como “Ai! Ai!” Num sentido estrito, ele
não diz nada que o outro já não saiba, ou não revela nada que não seja mutuamente manifesto.
No entanto, esse início de conversa (não poderia ser mais elementar) introduz uma diferença
qualitativa nesta co-presença: uma relação do tipo interlocutória inicia-se pelo fato de se
dirigir a qualquer um; uma proposição de perspectiva comum a construir é efetuada pela
sugestão de um tema; um espaço público que não se reduz mais ao espaço de uma percepção
mútua é esquematizado. Resumindo, a co-presença corporal torna-se um “entre-nós” como diz
Taylor. Se, a princípio, um certo número de fatos ou hipóteses eram mutuamente manifestas
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aos parceiros somente pelo fato dessa co-presença corporal, pela simples inferência de estados
internos a partir de índices visíveis e interpretáveis, agora o que lhes torna manifesto é o
resultado de uma expressão verdadeira e de uma atividade organizante; o que se torna
manifesto ocupa um lugar no espaço público moldado por eles na construção da sua relação e
no curso da ação.
Este novo espaço público se define a princípio por um “entre-nós”, no sentido de que os
agentes se colocam entre eles enquanto sujeitos que se constituem e se ligam reciprocamente
pela alternância dos papéis comunicacionais da primeira e segunda pessoa, para constituir
o espaço de sua interação. Ele se define também pela perspectiva comum que eles adotam
praticamente. Esta perspectiva que eles constróem em conjunto, com o auxílio de mediações
públicas, especifica um modo e uma forma de relação com o mundo e com os outros; ela cria
um horizonte de expectativas, define práticas e fornece uma organização de pontos de vista
correlatos. É através da introdução coordenada de uma estrutura de atividade conversacional
que uma tal perspectiva comum torna-se mutuamente sensível.
Imaginemos, por exemplo, que nossos dois viajantes estabeleçam um conhecimento mais
amplo e comecem mutuamente a se darem conta das razões de sua viagem ou falem de suas
vidas. Estes tipos convencionais de uma atividade conversacional lhes fornecem um certo
ponto de vista para se relacionarem um com o outro (aí compreendidos seus lugares e papéis),
para se relacionarem com o mundo, com os outros, com os acontecimentos; e lhes indicam
também toda uma gama de práticas a efetuar e de operações a fazer um em relação ao outro;
eles tornam pertinentes uma certa rede conceitual e um certo vocabulário de motivos, etc.
Podemos ainda avançar a análise e mostrar que nestes tipos de interação, os parceiros se
constituem reciprocamente como sujeitos da ação, uma vez que, precisamente, é a natureza
mesma da perspectiva comum que eles tomam como base de inferência e de intervenção -
base essa que lhes abre um espaço de ação e de responsabilidades recíprocas. Isso vale
também para suas relações. As pessoas podem estar ligadas umas às outras por relações de
parentesco, amizade e conhecerem muitas coisas uma sobre as outras; isto não significa, no
entanto, que esta relação prévia possa determinar completamente por si só como essas pessoas
vão se relacionar uma com as outras em um encontro, uma conversa, um contato telefônico.
5
Canícula: nnnnn (nota do tradutor).
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Cada situação de interação requer que uma relação seja construída como condição de
possibilidade e como componente de uma ação conjunta (mesmo que seja uma simples
conversa). Sem dúvida o estado da relação prévia fará com que a troca tenha um certo tom ou
um certo estilo (intimidade, conivência, familiaridade, etc.) e que o segundo plano de
expectativas e informações tácitas seja mais ou menos ampliado. Mas, por outro lado, é na e
pela maneira com que as pessoas configuram suas relações recíprocas na troca, que elas
tornam mutuamente sensível ou manifesto o laço social que as une.
Quando se trata simplesmente de iniciar uma conversa não se pode evitar ter que especificar
os tipos de atividade e relações apropriadas para estes tipos de atividade: trocar notícias,
programar uma atividade futura, pedir um serviço ou uma informação, pedir ou dar um
conselho, coordenar agendas, convidar, etc. É iniciando estes tipos de atividade de maneira
coordenada (com a ajuda de operações que foram descritas pela análise conversacional) que os
parceiros adotam uma perspectiva comum para construir a relação segundo a qual eles serão
momentaneamente presentes um para o outro, a fim de transformar esta relação na medida
exata do desenrolar da troca e para fazer emergir um mundo comum. Enfim, se eles tiram
informações de suas trocas (fatos ou hipóteses que representam o mundo real) é devido a isso
que eles reapropriam reflexivamente com as distinções que permitem a formulação discursiva
da experiência, uma parte daquilo que eles tornaram mutuamente manifesto em uma conversa
sobre o mundo do “sentido encarnado”.
Estes dois exemplos ilustram um dos principais traços da racionalização “praxiológica”. Esta
se opõe ao modelo “epistemológico” em aspectos essenciais. Enumerarei quatro. O primeiro é
o lugar da linguagem na comunicação. Se para o modelo informacional, a linguagem é um
instrumento de representação ou de transmissão de representações e de estados intencionais,
para o modelo comunicacional a linguagem é necessariamente parte integrante da construção
social da realidade. É necessário aqui precisar em que sentido.
Se nós não fazemos uso da língua unicamente para moldar, validar e transmitir representações
adequadas de propriedades de um mundo pré-definido, que outra utilização fazemos dela? Ela
nos serve a princípio para formular as coisas e para articular nossa experiência. Ela nos
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permite particularmente passar de uma apreensão confusa, pouco clara, “encarnada” daquilo
que somos, daquilo que nos motiva, daquilo que buscamos dizer ou fazer, e daquilo que está
em questão em nossas conversas, a uma visão na qual as coisas aparecem mais claramente,
onde os objetos e as pessoas são nitidamente individualizados, onde nossas palavras e nossos
atos adquirem contornos mais precisos, portanto, a uma visão mais articulada do mundo e de
nós mesmos - isso devido às distinções que ela nos permite introduzir a partir do vocabulário
que ela nos fornece.
Em segundo lugar, a linguagem tem um papel importante na compreensão que temos de nós
mesmos e de nossas práticas ordinárias. Na verdade, é nela e por ela que nos é possível
formular o horizonte de valores, a “textura das pertinências” ou as “caracterizações do
desejável” em função das quais nos orientamos e qualificamos nossas ações e nossas condutas
interiores. É graças a ela que nós podemos estabelecer e formular conjuntamente
discriminações que nos permitem distinguir aquilo que é importante daquilo que não é,
determinar aquilo que merece ser honrado, pesquisado, perseguido e aquilo que não merece,
qualificar os atos e os comportamentos de uns e de outros, relacionar distinções de valor,
exigências de validade, padronização de conduta, critérios de excelência, etc. Como escreveu
Taylor, “our typically humam concern only exists through articulation and expression”6.
Por outro lado, a linguagem nos permite também articular nossos sentimentos, nossas
emoções, nossas práticas e nossas relações, mas em um sentido em que ela é propriamente
constitutiva. Por exemplo, tratando-se de sentimentos, parece que nossa capacidade de
formulá-los com a ajuda de um vocabulário e de distinções da linguagem transforma sua
natureza mesma, na medida em que ela os clarifica e que acrescenta sua individualidade
diferenciando-os e tornando seus contornos mais claros. Quanto às nossas práticas, elas são
constituídas não somente pelas nossas operações e nossos gestos, mas também pela rede de
conceitos e de vocabulários de motivos que nos permitem articulá -los, isto é, orientá-los,
controlá-los, torná-los sensíveis, inteligíveis, desejáveis e comunicáveis, justificá-los, etc. A
linguagem é dessa forma uma parte essencial das realidades das quais ela fala. Por exemplo,
as práticas democráticas que tiveram curso em nossa sociedade, com as noções que lhes são
consubstanciáveis, de igualdade, de liberdade, de justiça, etc., perderiam sua própria
identidade, inteligibilidade e, portanto a base de motivação de nossa adesão e investimento, se
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6
TAYLOR, 1985, 270
20
Isto implica, por exemplo, para a comunicação, que o conteúdo mesmo daquilo que se tornou
manifesto entre os parceiros não somente não é complemente determinado antes da própria
interação, mas também que não existe outra “realidade” do que aquela que é configurada
conjuntamente no espaço público, ao modo do “sentido encarnado”. No entanto, este conteúdo
de contornos imprecisos e parcialmente indecidíveis, pode ser reformulado com a ajuda de
categorias e de distinções da linguagem, reapropriada por um interlocutor como
correspondente ao seu querer dizer, ou ao propósito do qual ele pode responder com a
autoridade da primeira pessoa.
Uma outra dimensão importante dessa “publicização” concerne às perspectivas adotadas pelos
parceiros para comunicar. Pensa-se espontaneamente que os agentes apreendem os objetos, os
acontecimentos e situações no seu ponto de vista singular, e que eles tornam mutuamente
manifestos suas percepções privadas, suas preferências subjetivas ou suas opiniões pessoais.
Mas por este raciocínio esquece-se dos processos de anonimação e de “generalização” que
tornam possível a intercompreensão na comunicação. Por exemplo, qualquer um que formule
sua opinião pessoal sobre um objeto ou um acontecimento dado incorpora necessariamente
em seu julgamento uma perspectiva pública sobre aquilo que ele qualifica, mesmo que seja
somente uma definição implícita correspondente a uma certa maneira de apreender, de
tematizar e de lhe dar sentido em uma comunidade de comunicação. No mais, seu julgamento
se apresenta como formado sob a força do objeto. Nesse sentido, não é o sujeito que projeta
seu ponto de vista sobre o fenômeno, mas é este que merece ser desta forma qualificado por
ele devido ao fato de que aquilo que ele é ou parece ser para todos, em um quadro de maneiras
“normais” de ver as cosias, de definir e de julgar cada uma supõe subscrevê-lo em uma
comunidade (ver neste sentido meu artigo sobre a opinião em Réseaux, n.43).
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O terceiro ponto de vista concerne ao problema da expressão. Nós vimos que o modelo
“epistemológico” repousa sobre uma concepção “indiciadora” da comunicação. Os pares
produzem e interpretam indícios de maneira a inferir as intenções e as informações
transmitidas. Em um universo no qual tudo é sempre já pré-definido, a expressão é toda ou
mais a manifestação indireta de uma realidade determinada que existe independente de sua
expressão e previamente a ela. O problema desta teoria é que ela faz da ostensividade
(produção de índices) e da inferência mediações necessárias de toda expressão. Ora, a
verdadeira expressão não é da ordem ostensivo-inferencial. Por exemplo, eu posso dizer que a
presença do carro de um de meus colegas no estacionamento de uma universidade me permite
inferir que ele está em seu escritório ou nas proximidades; o carro é o índice de um estado de
coisas. Imaginemos que eu acreditasse que este colega está nos corredores e que eu o encontre
particularmente alegre. O reconhecimento de sua alegria, manifestada sobre sua fisionomia,
pode também fazer uma inferência da mesma ordem que a precedente? Isto remeteria à
consideração de que a alegria na sua fisionomia é um indício fisionômico de um estado
psicológico, independente e invisível nele, observável no instante da observação interna que é
o espírito do sujeito, e que este estado somente se torna manifesto aos outros por uma
produção de índices deste tipo. O que parece bastante inverossímil. O modelo “praxiológico”,
ao desenvolver uma outra concepção da expressão, evita o dualismo do modelo
“epistemológico” (estados internos + movimentos, comportamentos externos). Este modelo
considera que a expressão é uma manifestação encarnada nas ações, ou nos objetos
expressivos, de um desejo, de uma intenção, de um sentimento, etc., de tal maneira que estes
não existam previamente a esta expressão ou independentemente dela. A expressão pública é
ela própria constitutiva do ser daquilo que é expresso. Por exemplo, não existe um lugar de
postular uma intenção comunicativa distintamente dos termos da intenção “encarnada” num
fazer interacional (um “trying to get”); ela é o que um locutor procura, mais ou menos,
confusamente fazer entender, tomando forma progressivamente, com a colaboração dos
outros, no desenrolar de uma discussão ou de uma conversa. De maneira que é tanto no
princípio quanto no fim que a interação comunicativa é verdadeiramente determinada, o
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agente dispondo de seu “querer dizer” em função do que ele efetivamente disse em um espaço
público que ele construiu com seus parceiros.
Isto aqui pode colocar um problema, e é o quarto ponto que eu desejava mencionar, sob o
olhar de nossa concepção de sentido comum da comunicação, que é sensível ao caráter
intencional da ação comunicativa. Uma distinção que nos parece efetivamente importante é
aquela que opõe aquilo que nos é dado a ler de nós mesmos sem intenção expressa de
comunicá-la, ou daquilo que nós deixamos transparecer involuntariamente em nossos gestos e
comportamentos, àquilo que nos comunicamos propriamente falando, quer dizer
intencionalmente (Goffman insistiu muito sobre esta distinção). Ao fazer depender desta
maneira a intenção comunicativa de uma realização acordada, temporal e pública, o modelo
“praxiológico” não anula também a especificidade da comunicação humana? E podemos, ao
analisar os processos de comunicação, fazer inteiramente a economia de uma atribuição de
intenções de comunicação aos agentes? Não posso examinar estes problemas em toda a sua
complexidade. Mas o raciocínio esboçado aqui deixa entrever a orientação de uma
argumentação alternativa àquela do modelo representacionista. Ela consiste essencialmente na
sustentação de duas idéias. De um lado renunciamos à suposição de que existem, na mente
dos agentes, intenções prévias claramente definidas, independentemente da própria ação
comunicativa. Consideraremos que a intenção comunicativa se exprime de maneira encarnada,
na busca confusa, em um quadro de interação com o outro ou consigo mesmo, de uma
formulação adequada para os pensamentos, idéias, opiniões etc. Esta formulação toma forma
progressivamente com a ajuda dos outros, no desenvolvimento do curso da ação
conversacional segundo sua temporalidade própria. Longe de ser imediatamente acessível ao
sujeito por observação interna, à intenção comunicativa aparece desta forma mediada por sua
encarnação em uma realização pública.
Eles o fazem em função da situação, das informações que eles dispõem e, sobretudo do tipo
de ação na qual eles se engajam conjuntamente (das perspectivas que eles dão, do horizonte de
expectativas que eles criam, das proposições de associação que eles suscitam etc.). Eles
manifestam também mutuamente as intenções que eles se atribuem reciprocamente, ao preço
para eles de terem de corrigir as atribuições errôneas. Neste processo, não existe garantia de
chegar às intenções reais, simplesmente porque freqüentemente estas não existem como
estados independentes, reservados, individuais na mente dos indivíduos, mas como sentido
encarnado nas suas palavras e atos, como aquilo que os polariza confusa e tacitamente.
Enquanto estados reservados, estas intenções são mais conquistas do que ponto de partida. O
modelo praxiológico é, portanto, a medida de salvaguardar a dimensão intencional da
comunicação; mas ele a tematiza fora do esquema dualista e atomista da tradição
“epistemológica” e do sentido comum. No entanto, seu ponto de vista não é simplesmente
atribuicionista, pois as intenções não são somente mutuamente prestadas e validadas; elas são
atribuídas sobre a base de um processo interacional de construção, que supõe um trabalho de
apreensão de “configurações sensíveis” e de apropriação (ver a este respeito à descrição
garfinkeliana do “método documental de interpretação”).
A INTERSUBJETIVIDADE PRÁTICA
Por outro lado, para Mead, o processo mesmo do pensamento ou da reflexão pela qual o
agente controla sua ação, retorna sobre si, ou melhor, se relaciona consigo numa consciência
de si, é de natureza comunicacional. Essa ação consiste em adotar o ponto de vista do outro
sobre si, seja a do outro particular com quem se interage, ou do outro generalizado acessível
pela imaginação. Este ponto de vista do outro generalizado não é mais do que uma
organização social de perspectivas interdependentes, no qual a mais fundamental é aquela da
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O que importa aqui, além da crítica das premissas individualistas e subjetivistas da filosofia
da consciência incorporadas na teoria social moderna, é a atualização, em uma atividade e
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Para Habermas, é o uso da língua para fins de coordenação e de ação (ligação das pessoas e de
seus atos, atualização de definições respectivas da situação) que instaura uma
intersubjetividade prática: o reconhecimento recíproco como sujeitos só é, a seu ver,
plenamente assegurado quando os pares da interação se relacionam uns com os outros agindo
comunicacionalmente, isto é, explorando, para cobrir suas necessidades de entendimento
ligadas à coordenação da ação, o potencial da racionalidade contido implicitamente na base de
validade dos discursos (racionalidade comunicativa).
Uma outra dimensão da intersubjetividade foi fortemente sublinhada por Habermas. O “meio”
no qual os membros de uma coletividade ampliam suas atividades e suas relações não é
fundamentalmente constituído de objetos e de sujeitos em si, nos quais as propriedades
demandariam ser representadas. Estes membros não são subjetividades confrontadas com os
contrários, com as limitações e determinações opostas a seus desejos, preferências, intenções
pelo mundo físico, por estruturas sociais ou por uma natureza interna. Este “meio” é, a
princípio, uma intersubjetividade, o que implica que ele é sempre conhecido em comum com
os outros e, sobretudo que ele é tanto um horizonte de expectativas normativas e morais,
apelando por atos de satisfação, quanto um conjunto de estados de coisas, apelando por atos
de representação e manipulação. Na verdade, os membros de uma coletividade se relacionam
uns com os outros sobre a base de exigências de validades que eles se impõem mutuamente a
honrar, em função de um acordo tácito, sempre submetido à prova da coordenação da ação,
sobre definições, sobre critérios de julgamento e sobre hierarquias de valor. Sob este aspecto,
o paradigma da comunicação permite melhor apreender, segundo sua lógica interna, a maneira
pela qual, na sua experiência, os agentes estruturam suas relações com o mundo, com os
outros e com eles mesmos, e pela qual eles tomam suas relações como base de inferência e de
ação. Habermas insiste particularmente sobre o caráter mediado e público das relações.
O modelo intersubjetivo propõe uma outra ontologia diferente da que está freqüentemente
implícita na análise social e que é dominada pelo pensamento objetivo - aquela que toma os
objetos em si, esquecendo sua origem “no coração mesmo da experiência”7. É o próprio
estatuto do conjunto de entidades, categorias e distinções que a sociologia toma por base de
suas operações de conhecimento que se encontra profundamente transformado. Mais
precisamente / é a substancialidade mesma de seus objetos que escorrega pela abertura que
opera o modelo praxiológico (ausência de um mundo pré-determinado; ausência de
determinação completa e definitiva dos objetos e dos sujeitos; permanência de uma parte
irremediável de indeterminação e de indecidibilidade etc.). Por exemplo, os sociólogos
consideram facilmente que eles podem tomar como unidades de referência para seu trabalho
de teorização e de pesquisa aquilo que eles pensam ser entidades irredutíveis do mundo real: o
indivíduo, seus estados intencionais, suas motivações e suas ações; o sujeito como realidade
em si; os fatos e os acontecimentos como elementos do mundo objetivo; os grupos, as classes
e as nações como realidades substanciais; e, seguramente, a sociedade concebida como
entidade sui generis do mundo real. Ora, no paradigma da comunicação, tal qual esboçado
aqui, estas entidades escapam ao “pensamento objetivo”, e prontamente deixam de constituir
pontos de partida ou fontes para análise; enquanto correlatos ou resultados de um atividade
social organizante multiforme, elas se tornam temas de pleno direito da investigação
sociológica.
Esta extensão do domínio da análise social precedente não é mais do que a contrapartida
metodológica da mudança introduzida sobre o plano da ontologia; nesta nova perspectiva, à
qual nós nos referimos em última instância assim que nos propusemos a compreender o
mundo social, não são fatos objetivos, sujeitos motivados e constrangidos, quadros inertes da
existência coletiva, mecanismos inconscientes de modelagens das motivações e de
comportamentos, mas formas instituídas, um “mundo de significações” sócio-históricas, e de
operações ou práticas pré-intencionais de organização, de esquematização e de configuração
que os agentes realizam uns em relação aos outros em suas interações ou em suas intervenções
sobre o mundo.
É por isso, aliás, que um segundo aspecto da mudança mencionada concerne à passagem do
plano da intencionalidade àquele que suporta a “rede de intencionalidade” (Searle) no qual se
7
Merleau-Ponty
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organiza nossa vida consciente (intenções, crenças, pensamentos, desejos etc.). Se é “nossa
realização social que dá vida ao nosso mundo”, resta que esta modelagem se faz sem uma
consciência de operações pelas quais nós a fazemos. Pois o suporte infra-intencional da rede
de intencionalidade é constituído de capacidades e de práticas, de formas tácitas ou
encarnadas de pensamento, de orientação no mundo e de controle de ação. O modelo
praxiológico considera que se pode estudar este suporte operacional da constituição da
experiência do mundo e dos outros, mas que isto exige utilizar uma linguagem de descrição
diferente do vocabulário intencional pelo qual nós temos costume de dar conta da atividade
social.
Incontestavelmente, o modelo esboçado se situa ao lado das abordagens que adotam um ponto
de vista construtivista da realidade; nós pensamos simplesmente perceber o mundo que na
verdade nós construímos sem nos dar conta das operações das quais nós não temos
consciência. Nesta perspectiva, a relação entre um agente e seu ambiente não é pensada em
termos da relação cognitiva-instrumental entre um espírito ou uma consciência e um mundo
externo ou objetos definidos, como “aquilo que existe independentemente dos pontos de vista
e da experiência dos sujeitos”. Este ambiente é, ao contrário, socialmente construído, não
tanto no sentido pelo qual ele é o resultado de uma historia social, o efeito dos processos
sociais inconscientes ou a conseqüência da intervenção das forças sociais (o que é
seguramente o caso de nosso ambiente sócio-técnico objetivo), quanto no sentido pelo qual
ele é definido de maneira contínua por uma atividade adaptativa implicando a cognição,
interpretação, esquematização etc., no contexto da organização social das ações práticas.
Agora, sob este rótulo de “construção social da realidade” encontram-se pontos de vista
completamente diferentes, dos quais alguns avizinham-se com o solipsismo, quer dizer, com a
idéia de que nenhuma realidade existe fora de meu espírito, que “o mundo só existe na minha
imaginação e que a única realidade é o ‘eu’ que ‘imagina o mundo’ ” 8. Não posso proceder
aqui a uma diferenciação aprofundada destes pontos de vista. Basta-me indicar que a
perspectiva inerente ao modelo “praxiológico” proposto não é aquele de um “construtivismo
radical” (defendido por autores como Watzlawick, Von Glasersfeld, Von Foerster etc.), que
faz da “realidade” o puro correlato do espírito, da consciência, da linguagem ou da
interpretação. Este pensamento raciocina, sobretudo em termos de organização social, então,
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8
Von Foerster, in Watzlawick, 1988
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