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Richard Pryor e a comédia negra norte-

americana
De Suzane Jardim
(AVISO: Esse texto é sobre humor, contém linguagem vulgar e coisas que Deus
desaprova. Se você é sensível a esses temas, desaconselho)

Oi, eu sou o Goku!

Ok, sóbria não sou não.

Ah, mas fazia tempo que eu não escrevia aqui, não? É aquilo, várias tretas, entretanto,
cá estou nas últimas horas de 2017 e agora para algo completamente diferente: falar de
humor, mais precisamente, do meu comediante favorito de todos os tempos e do porque
todos vocês, jovens, deveriam saber quem ele foi.

Sim, eu sei que é ligeiramente decepcionante afinal, minha opinião sobre o clipe novo
da Anitta que é bom nada né, mas apesar do texto ser grande (como muitos nessa
página), creio que dá pra confiar — não tem nada tão revolucionário quanto celulites
aqui, mas considerem como meu presente de Ano Novo pra vocês.
Se você cresceu nos anos 90, provavelmente se lembra de Richard Pryor das comédias
na Sessão da Tarde, onde ele sempre contracenava com o Willy Wonka (Gene Wilder
no caso, mas era assim que eu chamava na época).
Se você tem de 25 a 30 anos e nunca ouviu falar nesses filmes ou nesses caras então
você provavelmente fazia parte da lendária turma de crianças que já tinha TV a cabo em
1996 e que eu achava que só existiam na ficção

A dupla Pryor-Wilder foi provavelmente a mais famosa dupla de humor dos EUA nos
anos 80 e 90, gravaram uma porrada de filmes juntos, fizeram nossas mães rirem muito
e influenciaram uma série de filmes de brothers engraçadões e racialmente diversos
arrumando confusão por ai que vai de M.I.B — Homens de Preto a Bater ou Correr.

Mas não vim fazer uma homenagem a filmografia do cara, que é bem vasta e nem de
longe o melhor que ele fez em vida. Nem vim contar que ele ganhou 5 Grammys de
melhor álbum de comédia na época onde as pessoas compravam discos de piadas
(inclusive ainda tenho vários do Costinha aqui em casa), que chegou a ser o ator negro
mais bem pago da história em seu tempo, que já ganhou um Emmy e é considerado pelo
Comedy Central e pela Rolling Stone como o melhor comediante de stand-up de todos
os tempos.

Não, não vim exaltar os grandes feitos de um homem negro bem sucedido pra dar
exemplos de que “é possível chegar lá” ou dar boas referências. Richard Pryor, para
além de comediante, foi um dos maiores comentaristas e críticos do racismo e da
política norte americana, tendo levado o humor feito por negros para outros nível,
influenciado gerações e criado tendências dentro da comédia e da TV que ainda
funcionam e ditam os caminhos de vários humoristas. Entretanto, logo de início devo
avisar às almas mais sensíveis: não, Pryor não era um exemplo.

Atualmente nos acostumamos com figuras panfletárias que não erram ou que evitam
errar, projetamos um comportamento esperado em celebridades e nos decepcionamos
com um tweet torto ou com uma comunidade de Orkut mal utilizada em 2007. Porém, é,
Richard Pryor foi uma voz forte quando falamos de questão racial nas mídias, porém
não era um lacrador divo desconstruído empoderado tombou. O cara era babaca,
exagerado, sem controle, casava compulsivamente porque sim e nem era tão bacana
com as mulheres, foi preso várias vezes, criou altas polêmicas, era viciado em drogas,
ofendeu mó galera e fez várias merdas — em resumo, era um ser humano como todos
nós (menos você ai que tá lendo e pensando “nosss olha ela passando pano” — você é
um ser humano maravilhoso e evoluído, para além dos paradigmas, um exemplo a todos
nós reles mortais: obrigada por existir.).
Provavelmente por ter sido tudo isso é que sua trajetória me cativa tanto.
Só por curiosidade: Richard Pryor casou umas 8 ou 9 vezes, mas o louco é que ele foi
namorado da Pam Grier — a mulher mais linda e maravilhosa que existiu nos anos 70 —
 e conseguiu não só transformar a vida dela num inferno por causa do vício, como
também praticamente abandonou a mina no altar pra casar com uma outra que ele
engravidou na mesma época.
O jovem Richard em uma de suas primeiras prisões.

Meu interesse no legado do cara surgiu na época em que trabalhei na escrita do texto
sobre os estereótipos racistas norte-americanos. O trabalho de escrita me trouxe um
interesse enorme pela história de representação e auto-representação dos negros na TV
norte americana e, principalmente no ramo do humor. Isso porque o blackface,
especificamente, nunca foi apenas o pintar a face com cores escuras, mas sim, surgiu em
shows que visavam causar o riso a partir da interpretação estereotipada do que seria um
negro — um conjunto de voz, atos e trejeitos que seguiu sendo a grande tendência em
minstrels e vaudevilles até 1930 pelo menos.

Contraditoriamente ou não, foi nessa exata mesma época que os primeiros comediantes
negros surgiram e começaram a fazer grande sucesso com o público branco nos EUA,
entretanto, para isso precisaram fazer como Bert Willians, o comediante mais influente
da época, reconhecido hoje como um dos grandes e o primeiro a conquistar todas as
raças com seu humor: atuar usando blackface.
Bert Willians, o maior nome da comédia negra antes de 1920 — sucesso e
reconhecimento vieram, porém era necessário cumprir com a exigência branca da época
e usar o blackface para conseguir chegar lá, gostando ou não.

As chances para comediantes negros que não seguiam a cartilha e se recusava a


interpretar um coon, versões cômicas de mammys ou mulheres exoticamente sensuais
nas telas e teatros eram mínimas. Muitos comediantes negros resistiram, mas não
conseguiam o mesmo destaque que os demais. O mais comum era tentar passar
mensagens positivas e mostrar talento mesmo usando blackface, método que Bert
Willians adotava e que o tornou querido e influente nos meios negros.

[Se você clicar AQUI, poderá ver um mini-documentário produzido pela PBS sobre os
negros no vaudeville, caso interesse.]

Voltando aos meus estudos: minha preocupação na ocasião era a de estudar como o
humor norte-americano, que teve sua primeira tradição original vinda de um puro
racismo que constrangia comediantes negros a se prenderem em interpretações
estereotipadas foi reapropriado por comediantes que passaram a subverter a lógica se
tornando sujeitos do humor e o usando para cutucar as feridas do racismo daquela
nação. Ao mesmo tempo, me preocupava em estudar os humoristas negros brasileiros
atuantes na TV aberta e as tradições de humor que geralmente seguiam — muitas vindas
de estereótipos criados por essas tradições americanas e com pressões muito
semelhantes. Minha intenção era a de tentar responder porque nos EUA o humor foi
desde os anos 50, pelo menos, uma das principais ferramentas culturais de
questionamento do racismo (junto com a música e, em níveis muito menores, o cinema)
tendo produzido com o tempo o campo em que floresceriam séries de comédia
geralmente críticas como The Fresh Prince of Bel Air e Everybody Hates Chris
enquanto no Brasil, mesmo nos anos 2000 ainda era possível encontrar representações
absurdamente racistas do negro no campo do humor em programas como Pânico na TV
e Zorra Total. Quais eram os caminhos que impediram que tivéssemos uma forte
tradição de humor anti-racista em nosso país? Por que dentre todos os comediantes
negros geniais que produzimos (e foram muitos), nenhum teve seu legado marcado
principalmente por um humor altamente crítico ao racismo brasileiro?

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