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5 1.ª O papel da arte na vida do homem depende do homem que se considere e da vida que ele
viva. O homem abstrato não existe; e a vida abstrata também não.
Na vida dum homem culto, sensível e livre, por exemplo, esse papel é, certamente,
considerável; na de um homem inculto, insensível e escravizado, é, evidentemente, nulo.
Teremos, pois, de concretizar. Que homem? Que vida? Trata-se dum indivíduo capaz de ler,
10 entender e sentir um poema? E a sua vida permite-lho? Que influência poderá ter a arte no
terroso dia a dia dum cavador ignorante? Ou mesmo na de um mineiro analfabeto, sepultado
desde a instrução primária na escuridão dum poço? A arte é um direito do espírito, negado
sistematicamente, através dos tempos, às maiorias. Por isso, só quando a cultura das massas se
fizer, e todos dispuserem da mesma liberdade de anuência ou recusa às solicitações da beleza,
15 ficaremos a saber de que ação é capaz na existência do comum dos mortais o fulgor dum sol que
até agora apenas bateu à porta de alguns.
2.ª Quanto ao papel da juventude no mundo, igualmente teríamos de saber de que juventude se
trata e de que mundo. A interrogação refere-se à juventude universitária? À proletária? À rural?
20 E qualquer delas atua em que setor da terra? Aqui? Ali? Acolá? Claramente que um jovem
pastor que guarda ovelhas na serra não pode exercer uma ação semelhante à do moço que estuda
filosofia e se manifesta no seu jornal académico. […]
Mas talvez possamos meter o mar numa concha e dizer, em síntese, que, rica ou pobre, letrada
25 ou analfabeta, pelo simples facto de existir, toda a juventude é como que a consciência alarmada
da velhice. E acrescentar mais isto: que o presente apenas se justifica na esperança do futuro. E
que a juventude é precisamente o futuro, na medida em que só ela o tem nas mãos.
TORGA, Miguel (1999). Diário, Vols. IX a XVI (2.ª edição). Lisboa: Dom Quixote, pp. 997-
998 [com supressões].
3. Ao afirmar que “O homem abstrato não existe” (l. 6), o autor introduz uma reflexão
sobre como o ser humano é condicionado (5 pontos)
(A) pelo contexto socioeconómico.
(B) pelas aptidões profissionais.
(C) pelos valores morais e culturais.
4. As interrogações retóricas presentes nas linhas 9-12 e 19-20 têm como função
demonstrar, por parte do autor, (5 pontos)
(A) a complexidade do tema.
(B) a incredulidade face à realidade.
(C) o desinteresse pelo tema.
6. O enunciado iniciado por “Claramente que um jovem pastor” (l. 21) é marcado por um
valor modal (5 pontos)
(A) apreciativo.
(B) epistémico (certeza).
(C) epistémico (probabilidade).
8. Apresenta um exemplo dos processos de coesão lexical por reiteração e substituição por
antonímia utilizados nas linhas 6 a 9. (5 pontos)
10. Explicita o valor deítico dos advérbios “Aqui? Ali? Acolá?” (l. 20). (5 pontos)