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Política
Crise Política
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12/05/2018 Os três pactos desmontados pelo golpe — CartaCapital
Em pouco mais de um ano de governo Temer, o impacto de suas políticas é devastador. Sem
respaldo no voto popular e despreocupado com a opinião pública, o governo fez da agenda do
mercado sua própria agenda, sem freios ou contrapesos institucionais. Colocou em marcha um
programa de rapinagem financeira totalmente incompatível com a escolha das maiorias. Não por
acaso chegou ao poder por um golpe.
A contradição entre mercados e democracia não é uma jabuticaba brasileira. Ao contrário, como
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12/05/2018 Os três pactos desmontados pelo golpe — CartaCapital
resposta à crise mundial, os capitais buscam estabelecer por toda a parte um regime selvagem de
acumulação, em que os direitos sociais são obstáculos e a soberania do voto popular só vale se
não contrariar seus interesses. Que o digam os gregos e seu plebiscito, atropelado pelas
imposições do Banco Central Europeu.
Só isso explica como um presidente com 3% de aprovação social segue a governar e a aplicar
sua agenda. É o mesmo poder que permitiu a Henrique Meirelles dizer que fica no comando da
economia independentemente de quem esteja na Presidência.
Com a rapidez própria aos salteadores, o governo Temer iniciou em um ano o desmonte dos três
pactos nacionais firmados no último século. Pactos que consolidaram avanços sociais e
estabeleceram marcos progressistas, ainda que, pela tradição das transições brasileiras, tenham
sido gestados por cima, sem grandes rupturas e, por vezes, exatamente com a preocupação de
evitá-las. Mas, como disse Freud a respeito da consciência, “não é grande coisa, mas é o que
temos”. Ou tínhamos.
O primeiro pacto a ser atacado foi o mais recente deles, o lulista. Ao assumir o governo em 2003,
Lula desenvolveu uma estratégia de concertação social e política pela qual garantiu avanços às
classes populares sem mexer com os grandes interesses da casa-grande. Ao mesmo tempo que
manteve intactas as estruturas de privilégio, o sistema político e as oligarquias das comunicações,
garantiu uma política de valorização continuada do salário mínimo e programas sociais que
comprometeram parte do fundo público com políticas de redução da pobreza.
Conhecido como “ganha-ganha”, o projeto capitaneado por Lula foi atacado duramente pelo
golpismo. Os homens das finanças não queriam mais saber de ganha-ganha, agora era o
momento do ganha-perde. A conciliação deveria dar lugar à espoliação. Assim, sepultaram a
política de valorização salarial e os programas sociais foram duramente arrochados, quando não
simplesmente extintos, como no caso do Farmácia Popular e do Ciências sem Fronteiras.
O passo seguinte foi voltar as baterias contra o pacto constitucional de 1988. No processo de
declínio da ditadura, a Constituição assegurou uma rede de proteção social, com a garantia de
serviços públicos universais. Estabeleceu um modelo de seguridade social, composto da
Previdência e do SUS, e definiu a educação pública e gratuita como direito de todos. Com os
limites próprios de uma transição por cima, hegemonizada pelo Centrão de Ulysses Guimarães,
mas também produto da mobilização dos movimentos sociais, a Constituinte institucionalizou
importantes avanços.
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Temer e sua turma foram direto ao coração, abalado, desses avanços: as fontes de financiamento.
Com o bordão falacioso de que “a Constituição não cabe no Orçamento”, embalaram a PEC 55,
que determinou o congelamento dos investimentos sociais do Estado pelos próximos 20 anos. Na
prática, se esse regime fiscal for mesmo implementado, significará o fim dos serviços públicos
universais e de qualquer programa social. É tornar o Estado nulo econômica e socialmente, uma
verdadeira desconstituinte. Não por acaso, foi aprovada debaixo de uma chuva de bombas em
frente ao Congresso Nacional, em Brasília.
Agora, a vítima foi o mais antigo dos pactos sociais brasileiros do último século, o varguista. A
reforma trabalhista deixou em ruínas a CLT, que havia assegurado por quase 80 anos a
regulamentação das relações de trabalho no País. Nem a ditadura militar, em duas décadas,
colocou suas garras na legislação trabalhista. Em um ano de Temer, ela se foi. A terceirização
irrestrita, o trabalho intermitente e a sobreposição das negociações à proteção legal escancararam
as portas para o capital impor-se sem limites ao trabalhador.
É preciso reconhecer que a resistência popular ficou aquém do necessário para barrar essa
agenda de destruição nacional. Não houve, é claro, a paz dos cemitérios. As ruas reagiram e
conseguiram adiar por algumas vezes a reforma trabalhista e evitar até aqui a da Previdência. As
mobilizações de março, a grande greve geral de 28 de abril e a ocupação de Brasília em maio,
que o governo respondeu com o chamado às Forças Armadas, representaram uma escalada da
luta social em defesa dos direitos.
A apatia, somada ao recuo de algumas centrais sindicais, fez com que a greve convocada para 30
de junho não conseguisse repetir o sucesso de abril. A revolta acumula-se e cimenta caminhos de
uma legítima desobediência civil. Ela tem seus tempos, que nem sempre correspondem à
urgência das pautas. Mas a história nos mostra que, quando os canais de representação
democrática se esvaziam e perdem eficácia, prepara-se o terreno para fortes embates.
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É preciso insistir nas ruas. Não há espaço para um projeto nacional verdadeiramente democrático
sem reverter esses retrocessos. E eles não serão revertidos sem ampla mobilização popular.
Esperar sentado por 2018, além de temerário, é ignorar o que ainda pode vir em termos de
regressão social. O grito das ruas não ecoou ainda do jeito que gostaríamos, mas, novamente
citando o dito de Freud, é tudo o que temos.
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