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RESUMO
A atual pesquisa tem origem na investigação sobre a atuação do Agente Penitenciário, inserido
no cotidiano de uma instituição total, cujo objetivo é conduzir os destinos de seres humanos
presos sob a sua guarda. As violações de direitos humanos que ocorrem no sistema penitenciário
paranaense, perpetradas por estes profissionais, longe de serem práticas de crueldade fortuita,
são determinadas por mecanismos intrínsecos, que carecem de elucidação pela ciência social.
O presente trabalho tem por objetivo investigar e identificar, através de análise documental e
pesquisa bibliográfica, as situações de violação de direitos humanos no sistema penitenciário
paranaense, cometidas por Agentes Penitenciários. Baseados nas teorias de Zimbardo, Asch,
Milgram, Arendt, entre outros, evidenciaremos os meios que influenciam estes sujeitos em seus
atos, de modo a proporcionar subsídios para que o Estado promova a construção de políticas
públicas voltadas ao enfrentamento deste problema, que viola frontalmente os direitos
humanos.
ABSTRACT
Current research comes from the investigation into the actions of the penitentiary agent, inserted
into the daily life of a total institution whose goal is to lead the destinies of human beings
trapped under his guard. Human rights violations that occur in the Paraná penitentiary system,
perpetrated by these professionals, far from being random cruelty practices are determined by
intrinsic mechanisms, which require elucidation by social science. This study aims to
investigate and identify, through document analysis and literature review, the situations of
violation of human rights in Paraná penitentiary system, committed by Correctional agents.
Based on the theories of Zimbardo, Asch, Milgram, Arendt, among others, evidenciaremos
means influencing these subjects in their actions, in order to provide subsidies for the state to
promote the construction of public policies aimed at addressing this problem, which violates
frontally human rights.
1
Agente Penitenciário do Paraná, Pós-Graduando em Gestão Pública com Habilitação em Direitos Humanos.
2
Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Concentração:
Cidadania e Políticas Públicas, Linha de Pesquisa: Estado, Direitos e Políticas Públicas. Bacharel em Direito pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Advogado na ASL Advocacia, com experiência e ênfase no Direito Civil,
atuando nas seguintes áreas: Direito Obrigacional e Contratual, Direitos Reais e Possessórios, Direito de Família,
Responsabilidade Civil, Locações e Direitos do Consumidor. Possui experiência no Direito Administrativo e
Ambiental. Atualmente também é Professor das disciplinas de Direito Civil e de Direito Econômico e Financeiro
na Sociedade Educativa e Cultural Amélia (SECAL).
Keywords: Prison System. Violation of Human Rights. Coping Policies.
1 INTRODUÇÃO
Temos que ter uma bateria de soluções. A experiência demonstra que quanto mais se
cria presídios, mais se enchem as prisões. É preciso criar medidas de regeneração,
baixar as penas, melhorar o acesso à liberdade condicional. As soluções não são
simples, mas têm que atacar as razões de fundo, como pessoas bem treinadas nas
penitenciárias, com normas mais claras de disciplina, de forma concreta. E aprofundar
o estudo de quem não deveria estar preso porque não é violento, já cumpriu parte da
pena ou nunca foi condenado. Juan Ernesto Mendez, Relator Especial da ONU sobre
crimes de tortura (MÉNDEZ, 2014).
Rogério Greco (2012, p. 649) continua citando como exemplo o sistema penitenciário
brasileiro em que os indivíduos “que foram condenados ao cumprimento de uma pena privativa
de liberdade são afetados, diariamente, em sua dignidade, enfrentando problemas como os da
superlotação carcerária, espancamentos, ausência de programas de reabilitação, etc”.
O Departamento de Execução Penal do Estado do Paraná - DEPEN, gestor do sistema
penitenciário, constitui-se em unidade administrativa de natureza programática da Secretaria de
Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária e suas principais atribuições são:
Dizer que a Pena de prisão e o cárcere não recuperam ninguém, mas, pelo contrário,
provocam a degradação do ser humano é dizer uma verdade hoje incontestável. Aliás,
tornou-se um discurso por demais repetitivo e, por parte de alguns, um discurso
meramente de impacto acomodatício, que não traz proposta alguma (SÁ, 2007, p.
113).
Este poder que o próprio sistema confere aos trabalhadores, fortalecido na função de
‘regenerar’, historicamente, associa-se ao uso de força física como forma de
imposição de valores ocultos no sujeito transgressor. Este poder desencadeia uma
ampla reflexão e discussão, a cerca destes sujeitos oriundos de meios sociais
diferentes, educados sob perspectivas complexas, carregados de estereótipos
excludentes, que após inserção no sistema, por processo de julgamento, são
submetidos a novos julgamentos e punições. Nesse processo os trabalhadores, em
especial os agentes penitenciários, encontram-se na linha de frente no exercício deste
poder, exercendo o papel de executores e custodiadores com a função de intimidar,
impor as regras, cumprir a lei, deter o poder de punir os transgressores, se julgarem
necessário, e manter a ordem. É nas tensões provocadas no exercício desta função,
destacando as rebeliões, fugas e principalmente morte de colegas, que o desequilíbrio
no sistema de relações de poder vigente no sistema penitenciário mostra-se frágil e
visível, onde o sistema falhou e o poder se transfere aos que até então eram
subordinados a este poder. A intimidação ganha força por efeito e, aqueles que
romperam os limites impostos exerceram o domínio do poder, ainda que por alguns
instantes. Lidar com a perda do poder, com a violência decorrente deste desequilíbrio,
com a carga de tensão implicada nestes conflitos, a preocupação com a segurança da
família, são fatores desencadeantes de mecanismos estressores – cargas psíquicas. O
desgaste a que os trabalhadores são submetidos no sistema penitenciário, às relações
de trabalho estabelecidas, são fatores determinantes de doenças, destacando o
desgaste emocional sofrido e com potencial de desencadear transtornos relacionados
ao estresse, como: depressões, ansiedade, fobias, alcoolismo, dependência química,
entre outras (CHIARELLO, 2010, p. 6-7).
Como é possível constatar, esta rotina intensa torna-se ainda mais difícil em função da
falta de condições para desenvolver as atividades essenciais com segurança, comprometendo
assim o atendimento aos direitos básicos dos presos, conforme testemunham os representantes
do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná – SINDARSPEN:
É sabido que muitos agentes, ao longo dos anos, passam a apresentar alterações
comportamentais. Tornam-se alcoólatras, dependentes de drogas psicotrópicas -
antidepressivos, ansiolíticos. Outros se envolvem em praticas delinquenciais e
descobrem, tardiamente, como é tênue a linha que separa a conduta criminal da não
criminal (LOPES, 1998, p.).
O alto grau de estresse e seus reflexos negativos, físicos e psíquicos também são
constatáveis entre os agentes penitenciários do departamento penitenciário do estado
do Paraná. No entanto, eles não falaram sobre essa questão com facilidade,
principalmente quando instados a falar de si mesmos; falavam com menos dificuldade
dos outros ou do conjunto dos agentes penitenciários, a quem consideravam ‘doentes’
e ‘cheios de problemas’ em função do desgaste no trabalho etc. Os códigos de
virilidade, a necessidade de demonstrar que eram fortes e ‘aguentavam qualquer
parada’ e o medo da estigmatização advinda de sua possível classificação como
‘nervosos’ (cf. Duarte, 1984; Seligmann-Silva, 1994) são aspectos que aparecem em
primeiro lugar. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 25, n. 1, p 139.
Diante da necessidade de compreender como pessoas boas são levadas ou aliciadas a
tomar atitudes violentas, bem como suas justificativas psicológicas, Zimbardo (2007) decidiu
estudar a forma como a persuasão afeta o comportamento das pessoas, ao que iniciou com sua
definição do mal:
Prossegue identificando os sete processos sociais capazes de tornar uma pessoa mais
suscetível a cometer algum tipo de maldade:
O problema com Eichmann era exatamente que muitos eram como ele, e muitos não
eram nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente
normais. Do ponto de vista de nossas instituições e de nossos padrões morais de
julgamento, essa normalidade era muito mais apavorante do que todas as atrocidades
juntas, pois implicava que [...] esse era um tipo novo de criminoso [...] que comete
seus crimes em circunstâncias que tornam praticamente impossível para ele saber ou
sentir que esta agindo de modo errado.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ASCH, S. Social psychology. New York: Prentice Hall in Leite, Dante Moreira, 1927-1976;
Estudos em Psicologia/Dante Moreira Leite; organizador [da série] Rui Moreira Leite – São
Paulo: UNESP, 2009.
BITENCOURT, César Roberto. Falências da pena de prisão: causas e alternativas. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1993.
BRASIL. Lei 7.210 de 11 de julho de 1984. Institui a lei de execução penal. Disponível em:
www.planalto.gov.br. Acesso em: 10 jul. 2015.
BROWNING, C. R., Ordinary men: Reserve Police Battalion 101 and the Final Solution in
Poland, 1992.
CHANDLER, D. P., Voices from S-21: Terror and History in Pol Pot's Secret Prison -
Regents of the University of California Gold, Hal. Unit 731 Testimony, Charles E Tuttle Co.
1996.
SÁ, A. A. de. Criminologia clínica e psicologia criminal. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2007.
ZIMBARDO, P. O efeito Lúcifer: como pessoas boas tornam-se más. 2.ed. Rio de Janeiro:
Record, 2013.