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O antigo Código Civil, de 1916, não apresentou a mesma imprecisão. Nele, o princípio
da autonomia da pessoa jurídica estava claramente estabelecido, bem como a sua inteira
aplicação às sociedades comerciais. Ao longo do século XX, contudo, o direito brasileiro,
em compasso com o que ocorria nos demais (cf. Bastid-David-Luchaire, 1960; Farrar-
Hannigan, 1985:81), foi incorporando normas e desenvolvendo jurisprudência que
excepcionam a aplicação do princípio da autonomia da pessoa jurídica relativamente às
sociedades empresárias. No campo do direito tributário, as garantias do crédito fiscal
estendem, em determinadas hipóteses, a responsabilidade pela falta de recolhimento do
tributo aos sócios encarregados da administração da sociedade; a Justiça do Trabalho
muitas vezes determina a penhora de bens particulares de sócios por dívidas trabalhistas
da sociedade; a legislação previdenciária autoriza o INSS a cobrar dos sócios da sociedade
limitada o débito desta; a legislação consumerista, a de tutela das estruturas do livre
mercado e a da repressão aos atos prejudiciais ao meio ambiente autorizam a superação
da autonomia patrimonial e a responsabilização direta de sócios por atos da sociedade.
Em suma, observa-se certa tendência do direito no sentido de restringir ao campo das
relações especificamente comerciais os efeitos plenos da personalização das sociedades
empresárias. Assim, quando os credores são bancos, fornecedores ou, de modo geral,
outros empresários, os sócios da sociedade devedora não são normalmente
responsabilizados pelas obrigações sociais, tendo plena eficácia o princípio da separação
patrimonial da pessoa jurídica e de seus membros. Quando, no entanto, os credores não
são empresários, o princípio tem sido paulatinamente desprestigiado.