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Limites da Personalização

O princípio da autonomia da pessoa jurídica da sociedade não estava claramente


determinado no Código Comercial de 1850. Ao contrário, diversos preceitos estabeleciam
solidariedade entre sócios e sociedade, cogitavam de interferências nas relações
societárias de fatos típicos da vida de pessoas naturais, como a morte ou a declaração de
incapacidade moral. A imprecisão no reconhecimento da sociedade, como pessoa distinta
da dos sócios, correspondia ao incipiente grau de desenvolvimento da teoria das pessoas
jurídicas, quando do aparecimento da codificação mercantil brasileira (Mendonça, 1941,
3:77/82).

O antigo Código Civil, de 1916, não apresentou a mesma imprecisão. Nele, o princípio
da autonomia da pessoa jurídica estava claramente estabelecido, bem como a sua inteira
aplicação às sociedades comerciais. Ao longo do século XX, contudo, o direito brasileiro,
em compasso com o que ocorria nos demais (cf. Bastid-David-Luchaire, 1960; Farrar-
Hannigan, 1985:81), foi incorporando normas e desenvolvendo jurisprudência que
excepcionam a aplicação do princípio da autonomia da pessoa jurídica relativamente às
sociedades empresárias. No campo do direito tributário, as garantias do crédito fiscal
estendem, em determinadas hipóteses, a responsabilidade pela falta de recolhimento do
tributo aos sócios encarregados da administração da sociedade; a Justiça do Trabalho
muitas vezes determina a penhora de bens particulares de sócios por dívidas trabalhistas
da sociedade; a legislação previdenciária autoriza o INSS a cobrar dos sócios da sociedade
limitada o débito desta; a legislação consumerista, a de tutela das estruturas do livre
mercado e a da repressão aos atos prejudiciais ao meio ambiente autorizam a superação
da autonomia patrimonial e a responsabilização direta de sócios por atos da sociedade.
Em suma, observa-se certa tendência do direito no sentido de restringir ao campo das
relações especificamente comerciais os efeitos plenos da personalização das sociedades
empresárias. Assim, quando os credores são bancos, fornecedores ou, de modo geral,
outros empresários, os sócios da sociedade devedora não são normalmente
responsabilizados pelas obrigações sociais, tendo plena eficácia o princípio da separação
patrimonial da pessoa jurídica e de seus membros. Quando, no entanto, os credores não
são empresários, o princípio tem sido paulatinamente desprestigiado.

O princípio da autonomia patrimonial tem sua aplicação limitada, atualmente, às


obrigações da sociedade perante outros empresários. Se o credor é empregado,
consumidor ou o estado, o princípio não tem sido prestigiado pela lei ou pelo juiz.

A razão de ser do desprestígio da autonomia da pessoa jurídica pode-se pesquisar em dois


fatores: na utilização fraudulenta do expediente, como meio de se furtar ao cumprimento
de deveres legais ou contratuais; e na natureza da obrigação imputada à pessoa jurídica.
O Código Civil preocupa-se com o uso fraudulento da personalidade autônoma das
pessoas jurídicas (Cap. 17, item 5), mas, fugindo à vocação primeira de qualquer esforço
de codificação, que é a sistematização e atualização de seu objeto, simplesmente ignora
as exceções ao princípio da autonomia jurídica dispersas pelo ordenamento jurídico.

Quanto ao primeiro fator de desprestígio da autonomia das pessoas jurídicas, relembre-


se, de início, que a personalização das sociedades empresárias tem importância
fundamental no estímulo de empreendedores e investidores. Na medida em que afasta a
possibilidade de eles virem a comprometer seu patrimônio pessoal, em razão de
instabilidades ou insucessos da empresa, a personalização das sociedades empresárias
serve de elemento motivador ao desenvolvimento de atividades econômicas de maior
risco. Contudo, algumas pessoas se valem desses postulados não exatamente para
preservar os ganhos já consolidados em seu patrimônio pessoal (o que seria
absolutamente legítimo), mas para se locupletar indevidamente com o descumprimento
de obrigações. Para coibição da fraude na utilização da autonomia patrimonial, a
tecnologia comercialista desenvolveu a teoria da desconsideração da personalidade
jurídica, que autoriza o afastamento do princípio da autonomia patrimonial, nos casos em
que ele é desvirtuado (Cap. 17).

O segundo fator de desprestígio do princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica,


ligado à natureza da obrigação, insere-se no contexto da evolução da ideologia liberal.
Nos quadrantes desta, a personificação da sociedade empresária, e a decorrente
irresponsabilidade dos sócios pelas obrigações dela, é explicada com socorro à concepção
(cara ao liberalismo) de que, na origem, encontra-se a concordância do credor. Richard
Posner, expoente da análise econômica do direito, considera a personificação das
sociedades comerciais um standard contract. Quer dizer, se os empreendedores, para
resguardar seus patrimônios particulares dos riscos inerentes à atividade econômica, não
dispusessem do mecanismo de constituição de uma sociedade, como pessoa jurídica
autônoma, teriam de negociar, pontual e renovadamente, a limitação de suas
responsabilidades com cada credor. Isso aumentaria os custos de transação e poderia
comprometer a eficiência econômica. Ao preceituar a irresponsabilidade dos sócios pelas
obrigações da sociedade (ou a sua limitação), o direito estaria, segundo essa visão, como
que criando uma cláusula geral de contrato, inerente às negociações entabuladas com a
pessoa jurídica. Se não fosse da vontade do credor pactuá-la, ele deveria condicionar a
concessão do crédito ao aval ou fiança dos sócios. Claro está que, desse modo de ver a
personalização das sociedades empresárias, não se pode afastar a responsabilidade dos
sócios, perante credores, por obrigações não negociáveis (involuntary creditors), como,
por exemplo, os titulares de direito à indenização por ato ilícito. De fato, se a
personificação das sociedades comerciais é uma cláusula geral de contrato, credores que
não tiveram a oportunidade de negociar a extensão do crédito não manifestaram nenhuma
anuência em relação a ela (Posner, 1973:393/397).

Desse modo, para se compreender o segundo fator de desprestígio do princípio da


autonomia patrimonial, cabe distinguir as obrigações da sociedade empresária em dois
tipos: as negociáveis e as não negociáveis. No primeiro tipo, encontram-se as dívidas
sociais originadas de tratativas desenvolvidas, com maior ou menor liberdade, entre as
partes de um negócio jurídico. Alcança, grosso modo, os créditos disciplinados pelo
direito civil e comercial, como são os documentados em títulos cambiais ou em contratos
mercantis. Já as obrigações não negociáveis têm a sua existência e extensão definidas na
lei, ou não são, por outros motivos, objeto de ampla e livre pactuação entre o credor e a
sociedade devedora. Incluem-se neste último grupo as obrigações tributárias e as
derivadas de ato ilícito, por exemplo (cf. Hamilton, 1980:83/89). Pois bem, a relevância
da distinção está relacionada à possibilidade, existente apenas para o credor de obrigação
negociável, de se preservar economicamente contra os riscos da insolvabilidade da pessoa
jurídica devedora (Salomão, 1998:110/111). Um banco, ao descontar títulos de sociedade
empresária, pode incluir, em sua remuneração, a partir de dados estatísticos, a taxa de
risco, isto é, uma importância que compense eventuais perdas, motivadas por
insolvabilidade da pessoa jurídica; e os empresários, em geral, têm meios de condicionar
a concessão de crédito à outorga de garantias pessoais dos sócios (aval ou fiança). Assim,
o princípio da autonomia patrimonial tem sido relativizado, pela ordem jurídica, para
atendimento, basicamente, dos direitos de titulares de créditos não negociáveis. Sua
pertinência, desse modo, limita-se às obrigações da sociedade disciplinadas pelo direito
civil e comercial.

O princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas não é prestigiado nas


hipóteses de uso fraudulento ou abusivo do instituto, e para a tutela dos credores com
direito não proveniente de negociação.

Mas, lamentavelmente, o desprestígio da plena eficácia da personalização das sociedades


empresárias não se encontra somente nos dois casos em que parece justo relativizá-lo (na
coibição de fraudes e na tutela dos créditos não negociáveis). Se a responsabilização dos
sócios por dívidas sociais se verificasse apenas nos casos de uso desvirtuado do instituto,
ou na proteção do crédito não negocial, a teoria da desconsideração e a estrita obediência
às exceções legais teriam sido suficientes para preservação da função econômica do
postulado fundamental do direito societário. Isto é, se a autonomia patrimonial das
pessoas jurídicas apenas não produzisse efeitos na hipótese de fraude, ou para a proteção
de não empresários, então ainda estaria atendendo, de modo adequado, à finalidade de
estímulo aos investimentos. Como, no entanto, a responsabilização dos sócios se tem
verificado também em casos em que não há tais pressupostos, extrapolando os limites da
desconsideração e contrariando a lei, corroem-se induvidosamente as bases do instituto.

A recuperação dos fundamentos do direito societário depende, por isso, da compreensão,


pela comunidade jurídica, da correta medida da irresponsabilidade dos sócios pelas
obrigações da sociedade, de forma a se compatibilizar, de um lado, a limitação das perdas
(estímulo aos investimentos), e, de outro, a tutela da boa-fé e dos não empresários.

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