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Segunda-feira, 14 de Maio de 2018

Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 2 / 48

DESTAQUES
O GLOBO - RJ Sem espaço para renovação
FOLHA DE S. PAULO - SP Fora do governo, Temer enfrentará 4 processos
O ESTADO DE S. PAULO - Crise na Venezuela estimula tráfico de armas na fronteira com
SP Roraima
VALOR ECONÔMICO -SP Militares veem motivação política em divulgação de
documento da CIA
CORREIO BRAZILIENSE - DF Servidores querem eleger bancada própria

Sem espaço para renovação


SILVIA AMORIM E SÉRGIO ROXO
Forças tradicionais da política e clãs regionais dominam o pleito, apesar da busca do eleitorado por caras
nova.
Mapeamento dos 26 estados e no Distrito Federal mostra que apenas 15 dentre mais de uma centena de
pré-candidatos a governador podem ser considerados outsiders, e a maioria deles está em partidos pequenos,
com poucos recursos e escasso tempo de TV. Assim como na eleição presidencial, o desejo dos eleitores de
renovação está sendo frustrado pelos partidos. Governadores, ex-governadores, senadores e deputados federais
dominam o pleito. -SÃO PAULO- As forças partidárias tradicionais ignoraram a demanda popular por renovação na
política e vão oferecer aos eleitores este ano os candidatos de sempre a governador. A exemplo da disputa
presidencial, os outsiders - nomes de fora do mundo político profissional e tradicional - serão minoria nas disputais
estaduais e vocacionados a figurantes pelo baixo potencial competitivo. No pelotão dos favoritos sobram os
políticos com mandato e, como sempre, representantes de oligarquias no poder há meio século.
Nos 26 estados e no Distrito Federal, somente 15 outsiders sobreviveram, até agora, à peneira do jogo
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políticoeleitoral e estão cotados para disputar uma cadeira de governador em meio a mais de uma centena de
adversários. Eles podem até fazer algum barulho na campanha, mas a probabilidade de vitória é baixa pela falta
de estrutura dos partidos que representam - em sua maioria, pequenos ou recém-criados, como a Rede ou o
Novo.
Enquanto isso, o status quo se impõe nesta eleição, com velhos candidatos conhecidos do eleitorado. São,
em sua maioria, deputados, senadores e ex-governadores. No Maranhão, por exemplo, a família Sarney voltará a
disputar o governo com Roseana Sarney (PMDB), que já foi quatro vezes governadora. O mesmo fará o clã dos
Barbalhos, no Pará, com a candidatura do ex-ministro da Integração Nacional Hélder Barbalho, filho do senador
Jáder Barbalho. Em Alagoas, os Calheiros vão para a reeleição com Renan Filho, filho do senador Renan
Calheiros, candidato à reeleição ao Senado.
CONTINUIDADE EM FAMÍLI.
Em alguns casos, a continuidade supera o parentesco e chega aos mínimos detalhes. Em Sergipe, o
senador Antonio Carlos Valadares (PSB), que está na política há 51 anos, apresenta o filho, que tem o mesmo
nome do pai e é deputado federal, para tentar a vaga de governador este ano. O pai começou a carreira como
prefeito, em 1967, foi governador e hoje cumpre seu quarto mandato consecutivo no Senado. Valadares Filho
também não é novato: exerce o terceiro mandato de deputado federal. Na Paraíba, será o irmão gêmeo do prefeito
de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que tentará se eleger governador. Lucélio Cartaxo já foi superintendente
da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU) e da Companhia Docas na Paraíba, além de ter
disputado sem sucesso o Senado em 2014. Luciano e Lucélio são gêmeos idênticos, e é difícil distinguir um do
outro.
Há casos de políticos que tentarão voltar ao cargo que já ocuparam. Em Roraima, José de Anchieta Júnior
tentará retomar o comando do estado, que administrou entre 2007 e 2014. Vai disputar com Teresa Surita, prefeita
de Boa Vista e ex-mulher do senador Romero Jucá, do PMDB, comandante da política no estado e candidato à
reeleição no Senado.
Esse quadro, reunido pelo GLOBO na última semana, expõe a dificuldade de renovação da política
estadual. A desistência do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa de disputar a Presidência
pelo PSB na terçafeira passada é apenas o caso mais evidente, mas não o único, do impasse a que chegou o
sistema representativo no Brasil. A Operação Lava-Jato implodiu a credibilidade da classe política e revelou a
falência do sistema vigente, mas nada disso foi suficiente para levar ao passo seguinte, o da renovação. Não
apareceu até agora nenhum modelo capaz de minar a resistência dos que ainda se seguram no poder.
Para o cientista político do Insper Carlos Melo, esse é o principal empecilho, hoje, à renovação política.
- Há demanda por renovação, mas a questão é que as regras do nosso sistema político não foram
renovadas. Isso afasta quem não é ligado à política, porque sabe que, se eleito, a probabilidade de ficar de mãos
amarradas é grande.
Em efeito cascata, essa resistência desemboca na eleição presidencial, com candidatos como Geraldo
Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Álvaro Dias (Podemos) e Jair Bolsonaro (PSL), todos na
vida política há muito tempo.
Outsiders com potencial de competição até ensaiaram entrar na disputa, como Barbosa e o apresentador
Luciano Huck, mas recuaram.
Nos estados, juízes e militares estão em peso nesse grupo minoritário dos não políticos que disputarão a
cadeira de governador, ao lado de empresários patrocinados pelo partido Novo.
Integrantes da reserva do Exército, por exemplo, são pré-candidatos no Distrito Federal, no Ceará e no
Maranhão. No Mato Grosso do Sul e em Tocantins, são dois ex-juízes os outsiders previstos na corrida. No Acre,
um policial tenta se viabilizar.
Entretanto, apenas dois são apoiados por partidos tradicionais. É o caso do general do Exército Guilherme
Cals Theophilo, pré-candidato a governador no Ceará pelo PSDB e ex-integrante do comando que planejou a
intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, e do ex-juiz Odilon de Oliveira (PDT), que ganhou
notoriedade pelo combate ao narcotráfico em Mato Grosso do Sul.
Cientista político da FGV-Rio, Sérgio Praça vê o financiamento de campanha como outro importante entrave
ao surgimento de outsiders. Para ele, a eleição de 2016, ao eleger alguns outsiders como prefeitos, criou a
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expectativa de que essa onda pudesse crescer em 2018, mas a questão financeira estaria freando essas
iniciativas.
- Um fator limitador para os outsiders interessados em disputar algum cargo nesta eleição é o custo das
campanhas. Uma campanha para governador é muito mais cara do que para prefeito. Então, para o outsider sair
candidato este ano, ou ele é milionário para bancar a própria campanha ou tenta entrar para um partido grande,
que tem mais recursos - avaliou Praça.
O problema é que nas legendas maiores a resistência aos novatos é grande, e isso explica, segundo Carlos
Melo, a concentração dessas candidaturas em siglas pequenas, com poucos recursos e viabilidade eleitoral.
- Veja que as tentativas de outsiders que tivemos para essa eleição foram protagonizadas por partidos que
estavam sem candidatos para apresentar. Não vi nenhum político profissional de um grande partido abrindo mão
de uma candidatura em nome de algum outsider. Nas oligarquias partidárias, política tem fila - afirma o professor
do Insper.
FUNDO PARTIDÁRIO BARRA NOVATO.
Essa será a primeira eleição geral sem o financiamento empresarial das campanhas - a estreia do modelo
foi em 2016, nas disputas municipais. A previsão é que a maior parte dos gastos seja bancada com dinheiro
público do fundo eleitoral, criado no ano passado e orçado em R$ 1,7 bilhão. Os partidos decidem como distribuir
o dinheiro aos candidatos. Para o professor da FGV, o fundo acabou se tornando um dos maiores impeditivos para
o lançamento de outsiders.
- A tendência é que a divisão desses recursos, que é feita pela cúpula dos partidos, beneficie quem já é
político. Existe um paradoxo nesta eleição: há uma força muito contrária à renovação, que é o fundo eleitoral, e
uma força muito forte a favor da renovação, que é a insatisfação popular. Se tivesse que dar um chute, eu diria
que a força do dinheiro na campanha é bem significativa.
A renovação política, na opinião dos especialistas, leva tempo e depende de condições mínimas. A
demanda popular pelo "novo" é uma delas, mas não é capaz de mudar o quadro sozinha.
- Precisamos entender que a renovação política não é automática pelo fato de a classe política estar
desacreditada. Ainda não colocamos a política velha para fora. A política velha não está na cadeia. Vai levar
tempo - diz Melo.
A eleição deste ano para o Legislativo poderá dar um passo nessa direção, embora tímido, na opinião de
Praça.
- A tentativa de renovação no Legislativo vai ser mais forte do que para cargos do Executivo este ano.
Agora, se ela vai se concretizar, ainda não dá para dizer - afirma o cientista político da FGV-Rio.

"Jeitinho" para burlar as regras


RENNAN SETTI
Quase dois anos após a Lei das Estatais entrar em vigor, as empresas ainda tentam contornar a legislação,
que proíbe nomeações políticas. A CVM, órgão regulador, já vetou indicações a comitês, conselho fiscal e até para
companhias privadas que têm estatais entre os principais acionistas. Quase dois anos depois de a Lei das Estatais
entrar em vigor, as empresas ainda tentam contornar os impedimentos previstos na legislação a indicações
políticas para a administração de empresas. O cenário levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a ampliar
sua interpretação das regras de conduta para empresas públicas. A autarquia já se manifestou três vezes sobre o
assunto, a última delas há poucas semanas, barrando indicações políticas até em companhias privadas, mas com
estatais entre os principais acionistas, como a Light, e para órgãos que vão além da administração direta das
empresas, como o conselho fiscal e o comitê de indicação. Em reação ao aperto do órgão regulador, o estado de
Minas tenta invalidar as interpretações da CVM em ação no Supremo Tribunal Federal (STF).
Um dos pontos-chave da Lei das Estatais é o rol de critérios para nomeação de conselheiros e
administradores das empresas. Passou a ser vedada, por exemplo, a indicação de conselheiros que tenham
participado de campanha eleitoral nos últimos 36 meses ou sejam dirigentes de partido, sindicalistas ou
parlamentares. Também começou a ser barrada a nomeação de parentes de políticos ou de pessoas em cargos
no governo que impliquem conflito de interesse.
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No fim de abril, o colegiado da CVM barrou a indicação de seis pessoas ao conselho fiscal da Light, após
ser alertada pela BNDESPar, braço de participações do banco de fomento e acionista da empresa. Controladora
da concessionária fluminense, a estatal mineira Cemig fez indicações de pessoas com cargos no governo. Entre
os indicados estavam secretários e subsecretários do governo mineiro, um secretário executivo do Partido
Republicano da Ordem Social (Pros) e um assessor técnico no Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região
Sudeste (Cisdeste), que reúne 94 municípios mineiros.
AUTARQUIA PRIORIZA OBJETIVO FINAL DA LEI
Foi a primeira vez que a autarquia disse que as regras de impedimento valiam também para conselheiros
fiscais, interpretação da qual Light e Cemig discordam, segundo disseram à CVM. Mas a Superintendência de
Relações com Empresas (SEP) da CVM entendeu que o prolongamento seria "natural" por se tratar de "órgão
relevante do sistema de governança de uma companhia", que é o foco da Lei das Estatais. Essa foi a terceira
manifestação da CVM sobre o assunto, confirmando que a autarquia adotaria uma "interpretação teleológica":
privilegiando os objetivos finais da legislação.
- Algumas diretrizes já foram colocadas. A primeira é que a CVM tem, sim, competência para tratar da Lei
das Estatais. A outra diz respeito ao entendimento sobre a real finalidade da lei na hora de a CVM interpretá-la. A
lei quer buscar a independência dos administradores diante dos controladores estatais - afirmou Daniel Kalansky,
do escritório Loria e Kalansky Advocacia. - Não há dúvida de que a lei não consegue prever tudo, e daí a
importância de levar em conta seus princípios fundamentais.
A primeira decisão foi em dezembro de 2016, e, já naquela ocasião, o foco era a Light. Ali, o colegiado
decidiu que a Lei das Estatais também se aplicaria na indicação de conselheiros por empresas públicas para
companhias privadas em que detêm participação. Os diretores se manifestaram em resposta a uma queixa de
acionistas da Light, da gestora Tempo Capital e do megainvestidor da Bolsa Victor Adler. Eles reclamavam da
indicação, pela Cemig, para o conselho da Light de um ex-secretário-executivo de gabinete de Dilma Rousseff,
que participou de sua campanha.
Os diretores decidiram, por unanimidade, que "não haveria razões lógicas ou compatíveis com o espírito da
norma" para admitir a nomeação. Para eles, é necessário estender as vedações a empresas privadas quando
sofrem influência de estatais.
Em janeiro deste ano, a CVM voltou a se manifestar. O governo do Paraná designou para um "comitê de
indicação e avaliação" da Companhia Paranaense de Energia (Copel) seis políticos: dois eram secretários; um,
deputado federal; outro, controladorgeral do Estado; e o último, ex-presidente de representação local do Instituto
Teotônio Vilela, ligado ao PSDB do então governador do Paraná, Beto Richa. Os nomes desagradaram à
BNDESPar, acionista da empresa, que se queixou à CVM.
Mais uma vez, a autarquia entendeu que, embora a Lei das Estatais não criasse vedações específicas para
aquele comitê, fazia sentido estender as proibições já que ele seria responsável por indicar conselheiros da Copel.
Em seu voto, o presidente da CVM, Marcelo Barbosa, argumentou que permitir que indicados políticos
assessorassem a escolha de conselheiros "levaria a resultado contrário aos objetivos da lei." Neste ponto, o
executivo discordou do entendimento da área técnica da CVM.
A resistência à Lei das Estatais também ficou clara no caso da Caixa Econômica. No ano passado, o banco
tentou contorná-la ao ignorar recomendações do Ministério Público Federal (MPF) para afastar seus 12 vice-
presidentes, entre eles pelo menos quatro indicados por partidos políticos. Eles só foram afastados em janeiro,
após denúncias de irregularidades envolvendo os executivos e de o conselho alterar o estatuto do banco para
enquadrá-lo na legislação.
Para o BNDES e para advogados ouvidos pelo GLOBO, as interpretações da CVM não desrespeitam a lei.
- O entendimento da CVM tem sido muito positivo, até porque uma das finalidades do regulador é sinalizar
as boas práticas. E seu posicionamento reflete o espírito da lei. Quando o mercado entende claramente o
direcionamento dado pelo regulador e pelos investidores institucionais, vai aos poucos se ajustando - ponderou
Eliane Lustosa, diretora de Mercado de Capitais do BNDES.
DECISÃO QUESTIONADA PELO GOVERNO DE MINAS
Segundo ela, quando as empresas "não tiverem essa postura positiva de atender ao espírito da lei", o
BNDES vai cobrar, seja questionando a CVM, seja por meio de voto em assembleia.
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- A CVM está convidada a fazer o que está fazendo, no sentido de impedir a indicação de pessoas
politicamente vinculadas. É coerente. O novo instrumental é justamente para coibir preventivamente malfeitos -
observou Carlos Augusto Junqueira, do escritório Cescon Barrieu Advogados.
Outra advogada observou, porém, que falta a CVM se manifestar mais profundamente.
- Ela tem sido pressionada a se manifestar em casos de pedidos de interrupção de prazo para convocação
de assembleia, que sempre impõem urgência. Mas temos visto uma interpretação mais ampla, que atende
inclusive a uma demanda do mercado por administradores cada vez mais profissionais - disse ela, que preferiu
não ser identificada porque atua em casos julgados pela CVM.
As decisões da autarquia desagradaram ao governo de Minas, que controla a Cemig com 50,97% das ações
com direito a voto. O estado tenta barrar os entendimentos da CVM por meio de uma ação direta de
inconstitucionalidade (Adin) ingressada no STF no fim de abril. O estado questiona a legalidade da Lei das
Estatais e, em sua petição, assinada pelo governador Fernando Pimentel (PT), reclama da interpretação da CVM,
classificada de "equivocada" e que ele diz temer que seja "replicada pelos tribunais brasileiros". A Adin foi
distribuída ao ministro Ricardo Lewandowski, e não tem data para ser apreciada. A petição afirma que seguir a
interpretação da CMV poderia "impedir a participação de empresas estatais em empresas privadas".
A Adin argumenta que a CVM desconsiderou decreto estadual de Minas que regulamentava a lei para suas
estatais. Isso porque a CVM julgou que a Lei das Estatais estava em vigor desde a promulgação federal, sem
necessidade de depender de decretos estaduais para valer. Isso violaria, segundo o o governo mineiro, sua
autonomia, pois o decreto federal deu prazo até julho de 2018 para adaptação. Minas pediu medida cautelar para
que, no mínimo, "seja dada interpretação conforme a Constituição" de alguns artigos da Lei das Estatais para que
ela não seja aplicada a empresas privadas que tenham estatais entre os acionistas - caso da Light - e que seja
respeitado o prazo de julho de 2018.
Procurado, o estado de Minas não quis se manifestar. Em nota, a Cemig afirmou que "o posicionamento da
CVM é equivocado e contraria até mesmo a legislação federal sobre o tema".
"Embora a Cemig detenha participação na Light, trata-se de uma empresa privada e não de uma empresa
estatal, pelo que a Light não está sujeita, no que concerne às indicações dos membros dos conselhos de
administração e fiscal, às disposições da Lei das Estatais. Mesmo assim, Cemig e Light esclarecem que
cumpriram a orientação da CVM", escreveu a companhia.
Procurada, a Light disse que competia à Cemig se manifestar. A Copel também não se pronunciou.
Já a Caixa disse ter "um sistema de governança adequado à Lei das Estatais" e que a maior parte das
recomendações do MPF já está implementada, em implementação ou em processo de estudo. O banco
acrescenta que decidiu pelo "início imediato de processo competitivo de seleção, com apoio de empresa
especializada, para todos os cargos de vice-presidente", de acordo com o novo estatuto do banco.

Mudança em clima de alta tensão


HENRIQUE GOMES BATISTA
Sob contestação internacional, transferência da Embaixada dos EUA coincide com escalada com Ir.
"A mudança sinaliza um afastamento de uma política de 30 anos que tentava a solução na visão de dois Estados"
David Myers Professor da UCL.
É de tensão o ambiente em torno da mudança da Embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para
Jerusalém hoje, aniversário de 70 anos da criação de Israel. O Exército israelense dobrou a presença de tropas na
Faixa de Gaza, temendo protestos. Os enviados HELOISA TRAIANO e PABLO JACOB mostram a face de um
país construído sobre tradições e guerras. Hoje, quando se comemoram os 70 anos da criação de Israel, os
Estados Unidos transferem a sua embaixada no país de Tel Aviv para Jerusalém, atendendo a um pedido histórico
dos israelenses e dos religiosos americanos. E a data não é uma coincidência: trata-se de mais um símbolo da
proximidade entre os dois países. Mas a festa deve ser restrita, pois a tensão na região está crescente e
especialistas afirmam que a possibilidade de uma nova guerra no Oriente Médio fica a cada dia mais próxima.
PABLO JACO.
Uma nação de contrastes. Base de treinamento de soldados israelenses no deserto de Neguev: no país criado há
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sete décadas, o poder militar do presente convive com as tradições culturais do passad.
O local da nova representação americana em Israel, anunciado em dezembro, escancarou o apoio incondicional
de Washington ao governo de Benjamin Netanyahu, dificultando a retomada de negociações de paz entre
israelenses e palestinos. Ao mudar a embaixada para Jerusalém sem fazer nenhum outro gesto aos palestinos,
que reclamam o setor oriental da cidade como sua capital, o governo de Donald Trump deixa de ser visto como
mediador do conflito. Em consequência, a data chamada pelos palestinos de Nakba (dia da catástrofe e do êxodo)
- não por coincidência 15 de maio, dia seguinte à criação de Israel - deverá registrar recordes de protestos.
"Mover nossa embaixada não é um desvio do nosso forte compromisso de facilitar um acordo de paz
duradouro; pelo contrário, é uma condição necessária para isso", afirmou, em nota, o Departamento de Estado
americano.
A medida reforça a ligação entre o presidente Donald Trump e Netanyahu, um dos líderes estrangeiros mais
próximos do republicano. Especialistas afirmam que essa aproximação entre os dois é a mais intensa desde os
anos 1990, quando Bill Clinton e Yitzhak Rabin compartilhavam um profundo vínculo de amizade e uma visão
estratégica que os levou à primeira tentativa de um acordo entre os israelenses e palestinos baseado na premissa
da troca de terras por paz.
DESCOMPASSO COM EUROP.
Além disso, outros dois fatores contribuem para a escalada de tensão. A mudança da embaixada ocorrerá
seis dias após os Estados Unidos deixarem o acordo nuclear com o Irã, grande inimigo de Israel na região. Logo
em seguida, Israel atacou bases iranianas na Síria, no que afirmou ser uma retaliação contra o lançamento de
foguetes contra suas forças nas Colinas de Golã - território sírio cuja conquista por Israel em 1967 não é
reconhecida internacionalmente. Esses fatos se relacionam e ampliam a possibilidade de novos confrontos.
- O conflito entre israelenses e palestinos está envolto em camadas de significado simbólico, e esses dois
dias (aniversário de Israel e Nakba) são especialmente poderosos - disse ao GLOBO David N. Myers, professor de
História Judaica e diretor do Centro Luskin de História e Política da Universidade da Califórnia em Los Angeles
(UCLA), referindo-se à data escolhida por Trump para a inauguração da nova embaixada. - E os fatos no Oriente
Médio são dinâmicos. A decisão americana de se retirar do acordo nuclear com o Irã terá repercussões em toda a
região. E são particularmente preocupantes as crescentes tensões na fronteira norte de Israel com o Líbano e a
Síria, em especial a "guerra por procuração" entre o Irã e Israel (no front da guerra civil síria).
Até agora poucos países - a maior parte sem expressão diplomática relevante - seguiram o exemplo e
transferiram embaixadas. Na semana passada, foi o Paraguai, por exemplo. Já os europeus criticam a decisão dos
EUA, pois defendem seguir as resoluções da ONU segundo as quais o status definitivo de Jerusalém deve ser
determinado em negociações. Americanos e europeus também ficaram em posições contrárias no caso do acordo
iraniano, levando Angela Merkel, chanceler alemã, a afirmar que o Velho Continente não pode mais "confiar" nos
EUA.
Por outro lado, o governo Trump tenta - talvez sem uma estratégia muito clara - repetir com os palestinos o
que fez com os norte-coreanos: tensionar a relação para buscar um acordo. Mas no Oriente Médio a situação é
menos clara do que na Península Coreana, e o risco de errar na dose, fazendo eclodir um novo confronto, parece
ser maior, segundo especialistas.
- A mudança da embaixada sinaliza um afastamento de uma política de 30 anos que tentava uma solução
para o conflito dentro da visão de dois Estados. É uma indicação de que os EUA não pretendem ser um
intermediário honesto, mas sim um aliado de Israel - disse Myers. - Receio que estejamos caminhando para um
período de crescente tensão. Quando há percepção de estagnação e falta de progresso, surge a perspectiva de
violência.
Desde que ficou claro o apoio incondicional de Trump a suas políticas, o governo de Netanyahu tem se
preocupado menos com a pressão internacional na questão dos assentamentos em territórios ocupados - são
cerca de 600 mil israelenses vivendo na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Dan Arbell, pesquisador do Centro
de Estudos sobre Israel da American University, na capital americana, acredita que essa mudança da embaixada é
"historicamente errada".
- Os Estados Unidos atenderam a um dos mais importantes pedidos de Israel sem pedir nada em troca, sem
utilizar isso como moeda de negociação em um acordo de paz com os palestinos. Perderam uma oportunidade.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 8 / 48

A cerimônia de inauguração contará com a presença de Ivanka Trump e Jared Kushner, a filha e o genro do
presidente americano, que tem sido um intermediário nos contatos com Israel. A embaixada começará a funcionar
com ao menos 50 funcionários. São esperados 800 convidados na cerimônia - nenhuma autoridade palestina.
Essa mudança também serve como uma luva para as pretensões internas de Trump, pois parte da base
evangélica dos republicanos defende que Israel tem direito à "terra prometida".
-A love story entre Trump e Netanyahu deve continuar - disse Arbell. - A questão será quando os
democratas voltarem ao poder. Acredito que, neste momento, os israelenses terão grandes problemas.

Pelo ajuste fiscal e pela infraestrutura


RAUL VELLOSO
Há só uma saída: equacionar a previdência dos servidores, uma sequência natural do esforço de ajuste
iniciado na era FH e afinal consolidado na fase Lul.
Difícil entender por que a sociedade - governo, imprensa, entidades de classe etc. - não se mobiliza o
suficiente para solucionar dois problemas fundamentais do país. Um é a velha questão fiscal, que, em vez de
melhorar de forma sustentável, piora a cada ano e impõe tamanha incerteza, a ponto de, por último - e puxada
pela queda da taxa de investimento -, estarmos vivendo a pior recessão de nossa história. O outro é a nossa
superprecária infraestrutura - particularmente de transportes - em piores condições do que a da grande maioria
dos países, em que nossa falta de cuidado impede que o Brasil saia da armadilha do baixo crescimento.
Poucos talvez saibam, mas, além de expandir a capacidade de prestar tais serviços, investir em
infraestrutura aumenta mais a produtividade do que no caso de o investimento se dirigir a vários outros setores. É
só imaginar a ampliação da fronteira agrícola no oeste brasileiro resultante de um maior investimento em rodovias,
ferrovias e portos naquela região, e o quanto isso representaria em termos de maior produção e emprego. Nada
contra eles, mas obviamente, muito mais do que numa fábrica de badulaques no Centro-Sul. É incrível que um
país com as oportunidades do nosso não aproveite a abundância de recursos financeiros que há muito prevalece
nos mercados mundiais e está aí para captarmos. É só se organizar para isso.
Ou seja, na infraestrutura, dinheiro não falta, exceto no setor público. (E aí voltamos à crise fiscal). Em geral,
o que falta é planejamento, bons projetos, entendimento de como o setor privado funciona, combate ao populismo
exacerbado que impera no país, e coragem para enfrentar os problemas que surgem. Sobre isso, sugiro a leitura
dos textos que acabam de ser apresentados ao Fórum Nacional a respeito desses temas, disponíveis em
www.inae.org.br, onde há inclusive o link para o vídeo das discussões do encontro.
Com a vantagem de ter insônia com esses assuntos por tantos anos, volto à crise fiscal para dizer que,
neste momento, há só uma saída: equacionar a previdência dos servidores, uma sequência natural do esforço de
ajuste iniciado na era FH e afinal consolidado na fase Lula. Com menos sofrimento do que se pensa, isso permite
apartar um pedaço grande de gasto obrigatório dos orçamentos, e depois dar-lhe o devido tratamento em fundos
de pensão, como os que já existem por aí.
Aqui, apesar das vitórias parciais de reduzir a Selic e a inflação, o atual governo passou (e passa) batido. Na
verdade, ajustar regras previdenciárias, como tentou e deu com os burros n'água até há pouco, é algo que pode
esperar um momento menos explosivo politicamente para ser enfrentado. Mas assistir impassível ao enorme
crescimento desse tipo de gasto em todas as esferas, e não fazer nada para dar um basta a essa situação, não dá
mais. E fico tremendo só de pensar que, na campanha eleitoral que se inicia, ninguém vai querer tocar nesse tipo
de assunto pelo temor de desgaste junto aos eleitores. E virá o velho refrão de pedir a quem sai que aprove
alguma coisa penosa antes de ir embora, a fim de poupar o inevitável desgaste político ao próximo governante.
As mudanças introduzidas por FH e Lula são perfeitas, exceto porque só farão efeito daqui a 20-30 anos.
Até lá o forte crescimento do gasto previdenciário que vem prevalecendo desde muito, e alcança fatias
privilegiadas da sociedade, vai continuar acontecendo. Só que algo terá de ser feito, pois os orçamentos já estão
completamente estrangulados, uns mais, outros um pouco menos. Quem teve força suficiente já avançou, e hoje
abocanha uma fatia relevante. São os que chamo de "donos do Orçamento".
Vejam que de 2002 a 2017, o gasto com os aposentados/pensionistas do conjunto dos estados, setor onde
se situam os maiores problemas, subiu nada menos que 111% acima da inflação, enquanto o PIB real, açoitado
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pela recessão, subia apenas 28%. O que obviamente não se sustenta. O fatores básicos são que o percentual de
idosos da população brasileira aumenta cada vez mais, combinado com as vergonhosas regras de dar aos
aposentados os mesmos reajustes obtidos pelos ativos, em cima de benefícios que foram calculados pelos últimos
salários da fase ativa ("paridade" e "integralidade"). Esses "direitos", pelas regras atuais, só vão diminuir daqui a
20-30 anos.
A criação de fundos de pensão para "saldar" a dívida previdenciária está prevista na Carta Magna, e essa
tarefa é bastante conhecida dos brasileiros, que tantos fundos desse tipo já montaram com sucesso nos últimos
50-100 anos. É só arregaçar as mangas e trabalhar.

Homem é morto ao furar bloqueio militar


DIEGO AMORIM, GISELLE OUCHANA e ELIS BARTONELLI
A família de Diego Augusto Ferreira, de 25 anos, morto após furar uma blitz do Exército na Vila Militar, na
noite de sábado, acredita que o rapaz não obedeceu a uma ordem de parada porque não tinha habilitação. Ele -
que trabalhava como vendedor de bolsas no camelódromo da Rua Uruguaiana, no Centro - saiu de casa com a
moto de um vizinho, dizendo que iria comprar óleo para o carro do avô. Sua morte foi a primeira provocada pelas
Forças Armadas desde o início da intervenção federal na segurança do estado, em fevereiro.
O posto de bloqueio do Exército, montado na Rua Salustino Silva, em Magalhães Bastos, fica a 800 metros
da casa de Diego, que morava com os avós e um tio, o MC Magalhães, que fez sucesso cantando o "Rap do
trabalhador" nos anos 1990. Muito abalada, a família não foi ontem ao Instituto Médico-Legal, em Campo Grande,
para reconhecer o corpo.
- Estamos até agora sem entender, arrasados. Ele não tinha habilitação, mas gostava de moto. Isso não
justifica o tiro - disse o avô, José Luiz da Silva, admitindo que o neto era usuário de drogas.
Diego tinha três antecedentes criminais, dois deles quando ainda tinha menos de 18 anos, segundo
levantamento do Exército. No último caso, ele foi enquadrado por furto a estabelecimento comercial.
De acordo com o Comando Militar do Leste (CML), por volta das 20h30m, Diego "foi atingido por um disparo
de arma de fogo proferido por um dos soldados que operavam o posto". O CML informou ainda que todas as
providências legais cabíveis foram tomadas, além de destacar que as circunstâncias estão sendo apuradas. O
dono da moto que o rapaz pilotava esteve no local para prestar esclarecimentos.
JUSTIÇA MILITAR INVESTIGARÁ O CASO A perícia foi realizada pela Polícia do Exército, e o inquérito
será aberto pela Justiça Militar. Em outubro do ano passado, uma lei sancionada pelo presidente Michel Temer
alterou o Código Penal Militar. Agora, a legislação prevê que o julgamento de crimes dolosos praticados por
militares contra civis durante o serviço vá para o júri especializado.
O advogado e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Daniel Sarmento critica o fato
de a investigação ficar a cargo da Justiça Militar. Para ele, a medida coloca em xeque a imparcialidade do
julgamento.
- A Justiça Militar não tem que julgar civis nem militares envolvidos em casos de violações de direitos
humanos. A própria estrutura dela não assegura o julgamento imparcial. Tanto a primeira quanto a segunda
instância são compostas, em sua maioria, por militares.
De acordo com Jorge Melgaço, promotor da Justiça Militar, o posto de bloqueio que Diego furou funciona
todos os dias e não tem ligação com a intervenção. O laudo da perícia deve sair em até dez dias.
- O militar que fez o disparo foi identificado e teve a arma apreendida. O laudo e os depoimentos que serão
colhidos dos outros soldados que estavam presentes serão encaminhados para Justiça Militar - disse Melgaço,
acrescentando que é cedo para avaliar a conduta do militar. - Se ele estava amparado pela lei para agir dessa
forma, só saberemos na conclusão da investigação. Caso a Justiça e o Ministério Público entendam que sim, o
processo vai ser arquivado. Do contrário, ele responderá por homicídio.
O presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB/RJ, Breno Melaragno Costa, explica que um
policial ou oficial das Forças Armadas, quando está em uma blitz, tem respaldo da lei para atirar apenas em
situação de legítima defesa.
- A decisão é difícil e feita em fração de segundo. Um praça das Forças Armadas tem treinamento específico
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 10 / 48

de segurança pública para situações de guerra, quando a regra é sempre atirar. Penso que ele não deve ter tido
treinamento para essa situação, como diz a lei, de tempos de paz.
Ainda no sábado, um ônibus da linha 793 (Pavuna- Magalhães Bastos), teria sido incendiado na Rua
Almeida e Souza, em represália à morte de Diego.

"Erramos. Pedimos desculpas"


RICARDO RANGEL
A diferença entre os militares de ontem e de hoje é radical, mas o Exército se recusa a examinar seu
passad.
Nunca duvidamos de que Geisel e Figueiredo soubessem das torturas e execuções: não era possível que
ignorassem o que qualquer civil bem informado sabia. Descobrimos que Geisel as aprovava em "A Ditadura
Encurralada" (2003), em que Elio Gaspari transcreve um diálogo no qual o ex-presidente diz: "Esse troço de matar
é uma barbaridade, mas eu acho que tem que ser".
O que não sabíamos é que Geisel acompanhava o assunto de perto, que deu seu aval pessoal à política de
exterminar oponentes e encarregou o futuro presidente da República, Figueiredo, de decidir quem vivia e quem
morria.
Não sabíamos porque não queríamos ver o óbvio: em uma estrutura rígida e hierarquizada como a militar,
um líder centralizador e autocrático como Geisel não abriria mão de decidir o que deveria, ou não, acontecer.
Graças à CIA, agora sabemos.
É possível que esse Geisel "vamos matar" de 1974 tenha se tornado um Geisel "já matamos o bastante,
vamos parar" lá para o fim de 1975, o que teria provocado o confronto com a linha dura, que insistia na matança, e
levado a seu enquadramento.
A posição de Geisel é indefensável, mas há quem a defenda. "Quem nunca deu um tapa no bumbum do
filho e depois se arrependeu? Acontece", disse Jair Bolsonaro, legitimando o assassinato sem apontar alguém que
esteja arrependido.
"Essas pessoas não têm qualquer amor à democracia e à liberdade. Eles querem o poder absoluto",
prosseguiu, referindo-se não àqueles que, pelas armas, obtiveram o poder absoluto e destruíram a democracia e a
liberdade, mas aos que foram por eles assassinados.
É estarrecedor que um grupo que detinha poder absoluto se sentisse ameaçado a ponto de rasgar a
Constituição (escrita por ele mesmo) para assassinar centenas de vítimas indefesas. E que presidentes da
República tenham por isso aceitado se tornar assassinos.
A convicção da virtude leva as pessoas a atos espantosos. Em nome de uma "causa", Geisel centralizou e
organizou o assassinato, e Lula centralizou e organizou a corrupção. Por uma "causa", os militares se sentiram
autorizados a censurar, perseguir, prender, exilar, torturar e assassinar, e os petistas se sentiram autorizados a
assaltar o Estado.
"Para salvar a cidade, tivemos que destruí-la", disse um major americano acerca do vilarejo de Ben Tre, no
Vietnã. Para "salvar" o Brasil, militares e petistas quase o arruinaram.
Sob Geisel, os militares assassinaram, por determinação do presidente, dezenas de pessoas; em 2018, por
determinação do presidente, os militares estão a um passo de solucionar os assassinatos de Marielle e de
Anderson (viva!), ocorridos há exatos dois meses.
A diferença entre os militares de ontem e de hoje é radical, mas o Exército já avisou que os documentos que
corroborariam o memorando da CIA foram destruídos. Verdade ou mentira, dá na mesma: ambas as hipóteses
revelam uma corporação que se recusa a examinar seu passado e a admitir o óbvio: que errou. Não há general
capaz de dizer, simplesmente: "Eram tempos difíceis. Estávamos tentando acertar, mas erramos. Pedimos
desculpas..
Quanto aos petistas, pedir desculpas seria mais difícil, pois, em muitos casos, equivaleria a uma confissão
de culpa e uma temporada na cadeia. Mas é hora, ao menos, de parar de desafiar a lei e a Justiça (e de elogiar
Geisel).
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 11 / 48

DEM fixa prazo para Maia e aposta em nome mais viável


GABRIELA VALENTE
BRASÍLIA - Embora insista em se manter como pré-candidato ao Planalto pelo DEM, o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, terá dificuldades para convencer seus correligionários a manter sua condição de
presidenciável a partir de 15 de junho, data considerada "limite" por uma ala importante do DEM para encerrar o
assunto e passar a negociar uma aliança eleitoral com um candidato "viável" no campo de centro. Hoje, na
avaliação de aliados de Maia ouvidos pelo GLOBO, o nome seria o do pré-candidato tucano Geraldo Alckmin.
- Falando muito francamente, ninguém aposta na candidatura do Rodrigo. Apesar de ser nosso amigo, todo
mundo sabe que ele não vai decolar. O prazo do partido para o Rodrigo é dia 15 de junho. Já começou um
enxugamento no número de candidatos. O partido está se preparando para fazer um movimento - diz um dos
integrantes da cúpula do DEM.
Ontem, o colunista do GLOBO Lauro Jardim revelou que o próprio Rodrigo Maia abriu as portas da
residência oficial da Câmara, na quarta-feira da semana passada, para abrigar uma reunião em que presidentes
do PP, do PRB, do PSD e do Solidariedade trataram de uma possível união dos partidos de centro para apoiar o
mesmo candidato à Presidência da República. E que a opção natural seria Alckmin. Além dos quatro partidos, o
grupo negocia a incorporação do PTB e do PR ao bloco, o que ampliaria a capacidade de barganha com
candidatos bem posicionados na disputa. INTENÇÕES VOTO EM 1% Presidente do PRB, o ex-ministro Marcos
Pereira confirmou ao GLOBO o plano de apoiar o mais bem colocado nas pesquisas.
- Apresentei a proposta de união entre os partidos. Quem estiver melhor, lá na frente, vira cabeça de chapa.
Não vamos levar em conta só intenção de voto, mas também a menor rejeição. Esse alinhamento no centro seria
bom. Vamos continuar a conversar - diss.
Rodrigo Maia lançou sua pré-candidatura no início de março. No último Datafolha, seguia com 1% das
intenções de voto. No DEM, ele vem usando sua influência de presidente da Câmara para manter o partido unido
no discurso público de que a sua candidatura é para valer. A coisa muda quando os colegas de Maia falam em
privado. Um dos integrantes do diretório ouvido pelo GLOBO considera o naufrágio da candidatura de Maia "uma
verdade que precisa emergir sozinha".
- Não precisamos dizer publicamente agora que a candidatura do Rodrigo não seguirá adiante. Tem certas
verdades que precisam surgir naturalmente. Não assumimos o desembarque da candidatura do Rodrigo, mas
consideramos a candidatura de Alckmin a mais viável no momento. Ele tem um ativo importante, que é São Paulo.
Ele tem dois candidatos ao governo do estado (João Doria, do PSDB, e Márcio França, do PSB). Não tem como
ele fazer menos que entre 30% e 40% dos votos em São Paulo. Então, ele tem chance.
A avaliação dos caciques do DEM é que o processo sucessório começou a decantar com a saída dos
"aventureiros", como classificam nomes como o do exministro do STF Joaquim Barbosa, e com a retirada do nome
do presidente Michel Temer das "possíveis candidaturas". No lugar de Temer, assumiu a condição de pré-
candidato do PMDB o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. O exministro é visto com simpatia no DEM
porque ele ajuda a resolver um problema dos partidos de centro, que é o fato de terem integrado o governo
impopular de Temer. Com Meirelles candidato, o PMDB responderá sozinho por Temer.
Procurado pelo GLOBO para comentar as declarações dos integrantes da cúpula do DEM, Maia afirmou que
não iria "alimentar fofoca". Em meio aos rumores da aproximação do DEM com o PSDB de Alckmin, Maia disse ao
jornal "O Estado de S. Paulo" que o casamento entre seu partido e o PSDB está perto do fim.
- Em 2010, a composição foi difícil, e em 2014 deixaram o DEM fora da chapa. Tudo isso mostra que o ciclo
está terminando.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 12 / 48

Fora do governo, Temer enfrentará 4 processos


Letícia Casado e Gustavo Uribe
brasíli.
No primeiro dia do próximo ano, quando descer a rampa do Palácio do Planalto, Michel Temer enfrentará
uma nova realidade jurídica. Sem foro especial, ele responderá a, ao menos, quatro processos em diferentes
tribunais pelo país.
Contra o presidente, há hoje dois inquéritos que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal) e duas
denúncias que foram barradas pela Câmara dos Deputados, no ano passado, mas que podem ser reativadas a
pedido do MPF (Ministério Público Federal).
Ele foi denunciado em casos envolvendo a delação premiada da JBS. Em um dos processos, a acusação é
de corrupção passiva; em outro, de obstrução à Justiça e participação em organização criminosa.
Esses casos devem seguir para a Justiça Federal do Distrito Federal, onde já tramita uma denúncia contra
integrantes do seu partido por formação de quadrilha. Há outra por fatos ligados à JBS e ao ex-assessor do
presidente Rodrigo Rocha Loures.
Além das denúncias, pesam contra o presidente dois inquéritos que estão em fase de coleta de provas e
atualmente tramitam no STF.
Um deles apura se Temer e aliados negociaram com executivos da Odebrecht, em reunião no Palácio do
Jaburu, R$ to milhões em doações ilícitas de campanha para integrantes do MDB em 2014.
O outro inquérito investiga se houve ilegalidade em decreto assinado em maio de 2017 pelo presidente e
que beneficiou empresas do setor portuário. Os rumos da investigação podem levar o caso a ser remetido à
Justiça Federal do Distrito Federal ou de São Paulo.
No começo de maio, o STF alterou o entendimento sobre o foro especial para deputados federais e
senadores: o tribunal vai processar e julgar os casos cometidos em funçã.
do cargo e durante o mandato. Antes, qualquer crime cometido por um parlamentar ficava no Supremo.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 13 / 48

A mudança não atinge o cargo de presidente, de acordo com o entendimento da corte até agora. Assim, se
Temer assumir um cargo de embaixador ou de ministro em eventual governo de aliado, seus processos
continuarão tramitando no STF, foro de ministros e chefes de missões diplomáticas.
O emedebista vinha se colocando como possível candidato na corrida presidencial, mas, nas últimas
semanas, declarou a integrantes do partido que não deverá se candidatar à reeleição.
Em conversas reservadas, segundo relatos feitos à Folha, o presidente já manifestou preocupação em ser
preso após passar a faixa presidencial. O maior receio dele, no entanto, é de que os investigadores avancem
sobre sua família.
O primeiro golpe sofrido por ele ocorreu no mês passado, quando a Folha revelou que a mulher do coronel
João Baptista Filho, amigo do emedebista, pagou em dinheiro vivo obra na casa da filha do presidente Maristela
Temer.
Na sequência, a Polícia Federal a convocou a prestar depoimento. Na época, a filha telefonou assustada ao
presidente, que fez questão de viajara São Paulo para dar apoio.
No mesmo mês, a Folha revelou que a Polícia Federal suspeita que o presidente lavou propina em imóveis
da família, alguns dos quais em nome de sua mulher, Marcela, e do filho do casal.
De acordo com assessores presidenciais, a primeira-da-ma já reclamou com o presidente sobre a exposição
do filho, de apenas 9 anos.
Além do receio jurídico, o presidente já disse a um auxiliar e amigo que não quer deixar o Palácio do
Planalto com o risco de ser hostilizado em locais públicos. Ele, contudo, na média, é o presidente mais impopular
da história desde a redemocratização.
Compilação das mais de 200 pesquisas de avaliação de governo feitas pelo Datafolha nas últimas três
décadas mostrou que a média do atual presidente nesses 24 meses é pior até mesmo do que a dos antecessores
que sofreram impeachment, Dilma Rousseff e Fernando Collor.

Rio tem 1ª morte por militar após intervenção


Sérgio Rangel
rio de janeiro
Um homem de 25 anos foi morto na noite de sábado (12) por um militar do Exército durante uma blitz na
zona norte do Rio.
Diego Augusto Ferreira morreu após ter sido baleado por um soldado na rua Salustiano da Silva, em
Magalhães Bastos.
O posto é responsável pela segurança da Vila Militar, em Deodoro, bairro que concentra o maior número de
quartéis do Exército na capital É a primeira morte provocada por um militar do Exército desde o início da
intervenção federal na segurança pública do Rio, em fevereiro.
Segundo o CML (Comando Militar do Leste), Ferreira tentou furar um posto de bloqueio e controle do
Exército por volta das 20h30 e foi atingido por tiros.
Ainda na noite de sábado, moradores do Curral das Éguas protestaram e eoloca-ramfogo emumônibuspróxi-
mo ao local da blitz. A comunidade fica próxima ao posto.
A morte não foi registrada na Delegacia de Homicídios nem comunicada ao Batalhão da Polícia Militar da
região.
O caso será investigado por um IPM (Inquérito Policial Militar). Nesta segunda-feira (14), um oficial será
nomeado para comandar o I PM, que terá 40 diaspara ser concluído.
Os militares que faziam a blitz eram do 15° Regimento de Cavalaria Mecanizada do Exército e foram
ouvidos na noite de sábado. Segundo o CML, todas as providencias legais estão sendo tomadas e as
circunstâncias, apuradas.
A vítima tinha passagem pela polícia e não era dona da motocicleta. O proprietário e testemunhas também
já foram ouvidos por militares.
O porta-voz do CML, coronel Carlos Cinelli, informou que o posto funciona há anos naquela localidade para
proteger a Vila Militar.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 14 / 48

Desde o início do mês, o Exército faz operações com as polícias em 11 comunidades das zonas norte e
oeste do Rio. Apesar da intervenção, os índices de violência no Estado permanecem altos.

Médicos relatam drama diário na Venezuela


Sylvia Colombo
caracas
"Eu sou médico, minhas mãos e minha cabeça sabem curar, mas de que adianta se não tenho os recursos?
Muitas vezes o que eu faço é ficar ao lado da criança, como um ato de presença, para que ela não morra sozinha."
Neste momento da entrevista, o pediatra Franco Sorge, 61, que trabalha num hospital infantil público de Caracas,
pede desculpas à reportagem, respira fundo e enxuga as lágrimas.
Ele conta que, no seu último plantão, viu cinco crianças morrerem, "de doenças relativamente fáceis de
curar, ou muitas vezes decorrentes da desnutrição, seja da criança ou da própria mãe, aí já não há muito que se
possa fazer!' E acrescenta: "muitas vivem
em situações tão precárias que não tomam providências simples, como ferver a água e o leite, porque não
há gás ou eletricidade em suas casas. Outro dia atendi a uma que me disse que esquentava a água do banho do
seu bebê colocando-a no sol. Como vou explicar para ela que isso não adianta?".
Sorge, que diz ter sido um médico mais rígido no passado, hoje se compadece. "Não posso brigar com uma
mãe que age desse jeito. Estou vendo uma geração perdida nascer na Venezuela."
O Hospital de Ninos emque trabalha, como muitos da cidade, está aberto apenas tecnicamente. As salas de
exames, com equipamentos obsoletos e sem manutenção, estão vazias.
Muitos hospitais públicos
fecharam alguns setores, como de diálise, de terapia intensiva, até mesmo de quimioterapia e já não se
realizam mais transplantes em todo o país desde 2017.
Há 3.500 venezuelanos que vivem com órgãos transplantados, e muitos deles ainda precisam tomar
medicação constante para evitar rejeição.
Esses remédios, assim como vacinas e medicamentos para doenças crônicas, como diabetes, que eram
produzidos no país antes, já não são mais. Neste ano, houve 64 mortes de transplantados.
"A maioria dos medicamentos com os quais eu trabalhava já não se encontra na Venezuela, apenas de
forma clandestina", diz o psiquiatra Natalio Arias, que hoje vive em Bogotá para poder trabalhar.
Marta Lueía Ceballos, 54, é diabética e passa o dia atrás de remédios, em contato com outras pessoas na
mesma situação. Muitas vezes, conseguem com alguém que traz de fora. "Mas se a quantidade é grande, o oficial
da aduana ou cobra uma propina ou quer levar para ele, para vender no mercado negro ou porque tem um parente
precisando", relata.
"Mas é viver na incerteza, este mês tenho, não sei se no mês que vem terei. Ou seja, além de diabética,
logo vou sofrer também de um problema cardíaco", conta.
A diferença entre hospitais públicos e privados, hoje, no país, é que nos privados ainda há algum recurso,
porque estes repassam ao paciente o custo de acesso ao mercado negro.
Nos públicos, ao ser direcionado para um procedimento cirúrgico, o paciente recebe uma lista de coisas que
tem de levar ao ser internado.
Dela constam desde a bata usada durante a operação até o bisturi, a anestesia, as gazes e o que mais for
necessário no hospital.
"Aí existem duas coisas ocorrendo. Uma, a formação de uma máfia, porque sabemos que há gente ligada
ao governo que entra com facilidade com esses recursos aqui", afirma Sorge. "Ou que consegue de outra forma,
mas que fazem o possível para garantir terem o maior lucro possível vendendo esse remédio. Essa atitude me
deprime. Não é por isso que viramos médicos, para nos transformar em contrabandistas de medicamentos."
Por outro lado, há redes de profissionais que trabalham para fazer chegar a quem precisa o que sobra de
remédios ainda válidos e não usados por outro paciente, por exemplo, ou para que se tragam sem custos
medicamentos por meio de viajantes.
Sorge conta que seus colegas entraram em acordo para colocar, nas certidões de óbito, todas as causas da
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 15 / 48

morte, especificando se havia ou desnutrição ou falta de recursos.


"Nós já perdemos um pouco a esperança de que [o ditador Nieolás] Maduro deixe que a ajuda de outros
países chegue. O que podemos é documentar cada morte que ocorreu devido a esse governo. Um dia pode levar
a um julgamento em corte internacional, porque é um crime deles a humanidade", afirma.

Juros altos levam juízes a dar mais ganho de causa a devedores


Érica Fraga
São Paulo
Lentidão do Judiciário, competição reduzida entre os bancos e até aversão de juízes a juros altos estão
entre as causas da resistência das altas taxas de empréstimos bancários no Brasil, segundo estudos que têm
esmiuçado o tema.
Essas pesquisas tentam explicar, com abordagens diferentes, por que uma série de regulações que buscou
diminuir o risco em transações de crédito no país teve efeito relativamente limitado sobre a redução dos juros
cobrados nos financiamentos.
Parte importante do spread bancário (diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos e o que
cobram em seus financiamentos) é explicada pelo risco de calote. Quando ele é elevado, as instituições se
protegem de prováveis perdas cobrando mais caro para emprestar.
Em termos desse arcabouço de proteção ao credor, o Brasil -que hoje debate seu status de um dos maiores
spreads do mundo- não é o mesmo país imprevisível de 20 anos atrás.
Desde o início dos anos 2000, mudanças introduzidas pela Lei de Falências, novas regras do crédito
consignado e da alienação fiduciária, entre outras, buscaram aumentar as garantias das instituições financeiras
em operações de crédito.
As medidas tomadas no Brasil surtiram alguns efeitos.
Em 2004, os bane os recuperavam pífios 0,2% de empréstimos com garantias dados a empresas que
entrassem em processos de falência ou recuperação judicial, segundo dados do Banco Mundial. Em 2007, dois
anos após a aprovação da Lei de Falências, a taxa chegou a 12,1%.
Mas esse patamar permanece muito baixo em comparação ao resto do mundo.
Os economistas Jacopo Ponticelli (da Kellogg School of Management) e Leonardo Alencar (do Banco
Central do Brasil) ressaltam em um estudo que, com a nova legislação de falências, a proteção aos direitos do
credor brasileiro passou a não diferir muito da americana.
As instituições financeiras de atuam nos Estados Unidos, porém, conseguem reaver 82% do que lhes é
devido em recuperações judiciais.
A taxa de 124% do Brasil em 2018 só perdia para a de dezentre 189 cidades e países, alguns deles em
situação de calamidade, como Venezuela (5,6%) e Síria (10,8%).
Além de baixo, o valor recuperado pelos credores brasileiros só é retomado após quatro anos, um dos
períodos mais longos entre as nações e metrópoles pesquisadas pelo Banco Mundial.
O estudo de Ponticelli e Alencar aponta a morosidade do Judiciário como uma das causas da eficácia
reduzida da regulação bancária.
No trabalho, publicado no Quarterly Journal of Economics (um dos periódicos mais respeitados em
economia), os autores analisaram 0 efeito da Lei de Falências no Rio Grande do Sul, que oferecia uma detalhada
base de dados dos casos.
Sua conclusão foi que, nas comarcas mais ágeis -com menor acúmulo de processos por juiz-, a nova
regulação surtiu efeito muito maior, levando a aumento tanto na concessão de empréstimos para a indústria
quanto nos investimentos das empresas do setor.
"Para serem eficazes, essas reformas precisam de execução adequada e tempestiva pelos tribunais", diz 0
estudo.
Embora concorde que a baixa efetividade do Judiciário para fazer valer contratos de crédito inadimplentes
contribua para os spreads altos, outro estudo sugere que a interpretação reversa também pode ser verdadeira. Ou
seja, os próprios spreads altos condicionariam as decisões dos juízes brasileiros.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 16 / 48

Segundo Bruno Salama (da Fundação Getulio Vaigas e da Universidade da Califórnia, Berkeley), autor da
pesquisa, isso não significa que as cortes brasileiras tenham uma preferência pró-devedor. O viés dos
magistrados, diz ele, seria contra taxas de juros acima de certo patamar.
"Por exemplo, 0 juiz está mais propenso a mandar pagar rigorosamente o que está previsto em contrato
quando a taxa de juros estipulada é de 12% ao ano do que quando é de 12% ao mês."
Para investigar essa possibilidade de "causalidade reversa", Salama vasculhou 11.000 ações referentes a
financiamentos de automóveis em São Paulo com auxílio de um software que identificou palavras-chave em
decisões de primeira instância.
Terminou com 888 casosque atendiam a certos critérios da pesquisa (como ter o devedor como autor da
ação e a taxa de juros explícita na sentença judicial).
A maioria das disputas se referia a contratos com juros inferiores a 3% ao mês. Todas essas foram
rejeitadas pelos juízes que, portanto, deram ganho aos credores. Com a minoria dos casos em que as taxas
questionadas superavam 7% ao mês, ocorreu o oposto e os pleitos dos devedores foram todos aceitos.
Para Salama, os spreads altos contribuem para que o Judiciário siga relativamente avesso a dar
cumprimento aos contratos de financiamento em condições de juros muito elevados: "Existe profunda incerteza
acerca principalmente da taxa de juros aceitável", afirma ele, destacando que isso "não exime o Judiciário da sua
parcela de culpa".
"O Judiciá rio tem sido incapaz de dar respostas unívocas e minimamente rápidas", diz.
Agora ele vai ampliar seu estudo para buscar eliminar hipóteses alternativas para sua descoberta, como a
possibilidade de que os contratos com juros mais altos contenham algum tipo de irregularidade.
Caso confirme sua conclusão inicial de que existe mesmo um viés entre os juízes contra juros altos, Salama
tentará medir o peso disso sobre o spread bancário.
--
Magistrados negam influência de decisões sobre taxas bancárias
A dificuldade de se mensurar a contribuição individual exata das muitas causas do alto spread no Brasil
torna o debate intrincado, terreno fértil para divergências.
Representantes dos juízes discordam, por exemplo, que a morosidade na tramitação de ações na Justiça
referentes a dívidas e possíveis tendências enviesadas de interpretação da lei ainda tenham peso significativo
sobre o risco de crédito no país.
"A legislação avançou em favor dos bancos de forma extremamente benevolente", afirma José Arimatéa
Neves Costa, vice-presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros).
Segundo Costa, que é juiz titular de uma vara de direito bancário em Cuiabá, os entendimentos em relação
a questões do sistema financeiro foram "tabelados" pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
"O juiz de primeiro grau evita decidir favoravelmente ao consumidor, ainda que se sensibilize com sua
situação, porque sabe que vai criar uma expectativa que não se sustenta em recursos posteriores", explica.
Costa afirma ainda que, com as mudanças na legislação, a morosidade deixou de ser um problema na
tramitação de processos em que haja garantias reais, como imóveis e veículos.
A exceção, diz ele, continuam sendo as execuções de dívidas sem colateral nas quais o juiz "tem realmente
dificuldade de fazer o processo avançar" "Mas, de forma geral, a lógica do argumento bancário para manter os
juros altos não se sustenta", diz Costa.
-
Concentração no setor impede corte mais acentuado de taxas
Os bancos, por sua vez, negam que a alta concentração bancária-citada por especialistas como uma das
causas da resiliência dos juros de financiamentos- também seja parte relevante do problema.
Em recente audiência pública no Senado, Murilo Portugal, presidente da FEBRABAN (federação de
bancos), ressaltou que os altos custos da intermediação financeira -o que inclui o risco de crédito- são o principal
determinante do spread.
"Não é a concentração bancária, não é a falta de competição, não são os supostos lucros abusivos dos
bancos", afirmou Portugal.
Um outro estudo, e ainda inédito, indica, porém, que, no Brasil, a alta concentração - os cinco maiores
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 17 / 48

bancos detêm mais de 80% dos ativos do setor- tem se traduzido em menor concorrência e reduzido o efeito
potencial das mudanças regulatórias.
A conclusão dos economistas Klenio Barbosa (Insper), Rodrigo Andrade (BC) e Leonardo Alencar (BC) se
baseia em análise dos efeitos da Lei de Falências.
Segundo eles, a nova regulação levou os juros médios do crédito corporativo a cair de 36% para 31,3%, o
que é positivo. Mas, pelos cálculos dos pesquisadores, se a lei tivesse surtido todo o seu efeito potencial, as taxas
teriam recuado ainda mais, para 29%.
"Essa diferença de pouco mais de 2% entre o efeito potencial e o real mostra que há um problema
moderado de competição no país", diz.
A pesquisa -que será publicada em breve- envolveu a comparação do comportamento de diferentes linhas
de crédito, algumas afetadas pela Lei de Falências e outras não.
Os três economistas dizem acreditar terem comprovado na prática o que prevê a teoria: credores com algum
poder de mercado podem não transferir para os tomadores de recursos todos os benefícios da maior proteção
advinda de novas regulações.
"Mesmo que o Judiciário seja mais eficiente ou tome decisões sem vieses, a eficácia de uma maior proteção
aos credores também depende do nível de competição", afirma Barbosa.
--
"O Judiciário tem sido incapaz de dar respostas unívocas e minimamente rápidas"
Bruno Saiam, FGV e Universidade da Califórnia

Blindada, mulher de Bolsonaro deverá participar da campanha


discretamente
Joelmir Tavares
Com as mãos unidas em formato de coração, ela deu um leve sorriso ao chegar ao centro do palco e parara
o lado de Jair Bolsonaro. Ao lado e um passo atrás.
"Em grande parte, é ela a minha âncora", disse o pré-candidato a presidente, virando para a mulher,
Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro. Ela devolveu com um olhar profundo.
Foi a mais recente das raras aparições de Michelle com o candidato. Aconteceu em 29 de abril, no
Congresso dos Gideões, encontro evangélico anual em Santa Catarina.
Compenetrada no discurso, ela respondia "amém", baixinho, em certos momentos- por exemplo, quando o
marido disse que sua filha "vai ser mulher " e que seus filhos "são homens", numa crítica à chamada "ideologia de
gênero".
A discrição é o traço mais notório da aspirante a primeira-dama, segundo relatos ouvidos pela Folha na
Barra da Tijuca, região do Rio onde Michelle vive com o político, a filha dos dois, de sete anos, e outra
adolescente, de um relacionamento anterior dela.
A mulher que divide com Bolsonaro o teto de uma casa em um condomínio na orla da praia tem 36 anos e
está com ele, de 63, desde 2007.
É tida na vizinhança e nos locais que frequenta como reservada, simpática e religiosa. E uma parceira que
não se mete na carreira do marido.
Segundo aliados do pré-candidato, o papel dela na campanha será o de coadjuvante. "Ele não pretende
usá-la", diz o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF). "Mas ela deve acompanhá-lo em alguns compromissos.
Acredito que ele queira preservá-la", afirma.
A assessoria de Bolsonaro recusou pedido de entrevista com ela.
Michelle é fiel da Igreja Batista Atitude, cuja sede fica a cerca de 25 minutos de carro de sua casa.
Às vezes, Bolsonaro, que se declara católico, acompanha a mulher nas idas ao templo, onde o salão
principal comporta 4.500 pessoas sentadas. "Orai sem cessar", recomenda um aviso na entrada do local,
reproduzindo trecho bíblico.
Michelle ora e também malha -embora colegas da unidade da Body tech que fica na avenida de sua casa
digam que ela anda sumida. Ali faz ginástica localizada e musculação, geralmente pela manhã.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 18 / 48

Frequentadoras contam que ela não alardeia o parentesco nem comenta as atividades do companheiro.
Mas, como esperado, a informação de que ela é quem é correu rápido no boca a boca.
Na academia se especula que a aluna está mais reclusa à medida que o foco se volta para o presidenciável.
Vista pela Folha saindo do condomínio numa tarde de quinta-feira, Michelle conseguiu evitar uma
abordagem ao acelerar o carro, com os vidros fechados. Foi seguida por um veículo que aparentava levar um
segurança.
Nesse dia ela usava óculos escuros e os cabelos presos num coque. Seu estilo de se vestir é básico, inclui
blusinha, calça jeans e sapatilha.
No início de abril, depois que o UOL -empresa do Grupo Folha, que edita a Folha- publicou uma longa
reportagem sobre ela, apagou seu perfil no Facebook. Há poucos rastros seus na rede.
Um deles é a reprodução de uma revista de noivas que estampou Michelle na capa em 2013. Naquela
edição, a Festejar Noivas mostrou detalhes do casamento com o político. A cerimônia foi realizada seis anos
depois da união no civil.
Fotos retratam um emocionado Bolsonaro (ele até chorou) ao lado daquela que é sua terceira esposa. Ele
escreveu na revista que se aproximou dela porque resolveu "novamente buscar a felicidade". Tinha se separado
da advogada Ana Cristina Valle meses antes.
Michelle relatou nas páginas: "Um amor que foi conquistado aos poucos, mas hoje posso dizer, sem
dúvidas, que ele é meu grande amor!". Contou que se viram pela primei -ra vez "no gabinete do Jair".
Nascida em Ceilândia, no Distrito Federal, a noiva era secretária parlamentar na Câmara quando conheceu
o futuro marido. Meses depois, foi trabalhar no gabinete dele, durante um ano.
Como a Folha mostrou no ano passado, a contratação e a promoção fizeram Michelle ter seu salário quase
triplicado em relação à função anterior, na liderança do PR A demissão veio em 2008, forçada pela regra
antinepotismo.
O casamento foi celebrado pelo pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, igreja da
qual a noiva fez parte até 2016.
A filha do casal estuda em um colégio particular na região de casa. Às vezes os pais a levam, mas
geralmente a menina vai no micro-ônibus de uma empresa de transporte escolar que é do ex-BBB Daniel Manzieri.
Ele, que foi confinado no Big Brotner Brasil em 2016, virou pessoa de confiança do casal.
Em uma gravação, no You-Tube, Bolsonaro aparece abraçado à filha dizendo que não a coloca em escola
pública porque o currículo não é o mesmo da época dele, quando se "tinha educação de qualidade".
O deputado tem aludido ao DNA da esposa para se defender da acusação de ser racista. Tenta dissipar a
polêmica repetindo que seu sogro, por causa da cor da pele, é conhecido em Ceilândia como Paulo Negão.
Procurado, o pai de Michelle não quis se pronunciar.
Em abril, a Procuradoria-Geral da República denunciou Bolsonaro ao Suprem.
sob acusação de crime de racismo, por causa de afirmações que atingiram quilombolas, indígenas,
refugiados, LGBTs e mulheres.
Um dos motivos da denúncia foi ter dito em2017: "Tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei
uma fraquejada e veio uma mulher".
No ato evangélico em Santa Catarina, ele apresentou versão diferente. Falou que "não existe coisa mais
maravilhosa no mundo do que ter uma filha" eque, muitas vezes, o pai torce por um garoto, mas ter uma menina "é
uma graça".
Também dedicou elogios a Michelle: "Fico muito feliz em ter alguém que é aquele abraço amigo, alguém
quem e dá o norte nos momentos difíceis, alguém que aceitou eu ficar muito ausente da minha casa para buscar
um local que entendo ser a missão de Deus".
Ela disse amém.
Bolsonaro está no terceiro casament.
Rogéria Nantes Nunes Braga Foi a primeira mulher do deputado. Com seu apoio, elegeu-se vereadora no
Rio nos anos 1990. É a mãe dos três filhos políticos do presidenciável (Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro.
Ana Cristina Valle Segunda mulher, teve com ele um filho, Jair Renan, de 19 ano.
Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro Atual mulher, tem uma menina de 7 anos com ele e uma filha
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 19 / 48

de um relacionamento anterior. Estão juntos desde 2007

Vaquinha virtual estreia com candidatos ainda despreparados


Isabel Fleck
A partir desta terça-feira (15), pré-candidatos de todo o país poderão iniciar suas campanhas de
financiamento coletivo online, mas poucos presidenciáveis já têm uma plataforma pronta para começar a vaquinha
virtual, uma novidade desta eleição.
Entre as campanhas dos principais pré-candidatos consultados pela Folha, apenas as de Álvaro Dias
(Podemos) e João Amoêdo (Novo) já têm empresas de financiamento contratadas e prontas para iniciar a
arrecadação.
Na campanha de Geraldo Alckmin (PSDB), uma empresa intermediária foi contratada para cuidar da
automação do processo de arrecadação, mas os dois sites de crowdfunding (financiamento coletivo) escolhidos
para receber as doações ainda não tiveram o cadastro aprovado pelo TSE.
Consultadas, as campanhas do ex-presidente Lula (PT) e de Guilherme Boulos (PSOL) disseram ainda
estar estudando as plataformas e empresas disponíveis.
As de Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) disseram que não vão asar o financiamento coletivo. A
equipe de Marina Silva (Rede) não respondeu à reportagem.
O tribunal havia dado, até a última sexta-feira, autorização para 20 das 39 empresas inscritas. O período
para cadastro, no entanto, segue aberto até agosto.
Entre elas está o site Doação Legal -da mesma empresa que opera o Vakinha.com-, que diz já ter contratos
com mais de cem pré-candidatos, em sua maioria concorrendo a postos de deputado estadual e federal. Esperam
chegar a 250 ainda nesta semana.
"Começamos o contato no início de abril, com visitas feitas às Assembleias dos principais estados e ao
Congresso, apresentando a plataforma", disse Luciano Antunes, porta-voz do Doação Legal.
"Existia um desconhecimento muito grande com essa nova modalidade, mas o interesse do pessoal foi
crescendo com o tempo..
O financiamento coletivo é considerado pelo TSE apenas mais uma forma de doação, sobre a qual serão
aplicadas as mesmas regras de prestação de contas e fiscalização.
É possível à pessoa física doar até 10% da renda do ano anterior. Doações de empresas estão proibidas.
Também haverá intercâmbio de dados com órgãos como o Tribunal de Contas da União, que ajuda no
cruzamento de informações para verificar os repasses de pessoas físicas.
Os sites de crowdfunding deverão deixar públicos o nome dos doadores e os valores pagos, com
atualização imediata, e terão que comunicar às campanhas e à Justiça eleitoral os dados sobre a doação.
As taxas de administração cobradas sobre cada transação também deverão estar claras para os doadores.
Os valores arrecadados - cujo total também será público- só chegarão às campanhas quando a candidatura
for registrada, a partir de agosto. Até lá, o dinheiro seguirá retido com as empresas de financiamento coletivo, que
deverão devolver a quantia aos doadores em caso de o político não se candidatar.
Por lei, as doações também não poderão exceder R$ 1.064 por dia. Sob a justificativa de um maior controle
no rastreamento, valores acima disso só poderão ser repassados diretamente às campanhas e por transferência
bancária, a partir de agosto.
Para o presidente do Partido Novo, Moisés Jardim, o limite é baixo e diminui o potencial de arrecadação da
ferramenta.
"Pelos valores envolvidos, minha expectativa é que o crowdfunding acabará tendo uma representatividade
menor na campanha dos [candidatos] majoritários. Na campanha dos proporcionais, a participação [nas contas]
será maior porque elas tendem a ter um casto menor", diz.
O tesoureiro do PSDB, deputado Silvio Torres, diz que o partido considera o crowdfunding um "recurso extra
importante" para ajudar nas campanhas. "O financiamento coletivo abrange um maior número de pessoas, de um
modo mais rápido, mais aberto..
A expectativa do PSOL com a vaquinha online, segundo o presidente do partido, Juliano Medeiros, é "a
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 20 / 48

melhor possível". "Tradicionalmente, os partidos de esquerda costumam ter um engajamento militante maior que
os de direita", afirma, citando a "excelente experiência" de captação na internet que teve a campanha do deputado
Marcelo Freixo à Prefeitura do Rio de Janeiro em 2016.
Para ele, o crowdfunding "vai ser parte decisiva na campanha" de Boulos. "Até porque os recursos do fundo
eleitoral que vai ser distribuído no começo de agosto são muito desiguais" diz.
Todos os representantes dos presidenciáveis que asarão os sites de financiamento coletivo disseram não
ter definido ainda se divulgarão uma meta de arrecadação - comum nos sites de vaquinha, mas que não serão
obrigatórias para os candidatos.
" Uma boa medida é começar a campanha, ver como as pessoas reagem e depois estabelecer uma meta.
Porque ainda não é possível saber como a opinião pública vai reagir, se vai se envolver ou não", afirma o
tesoureiro do PT, Emidio de Souza.
Segundo ele, há uma prioridade antes de iniciar a arrecadação coletiva para a campanha do ex-presidente,
que está preso em Curitiba: finalizar a vaquinha eletrônica de colaboração com o acampamento em frente à sede
da PF onde está o petista.
"Temos que encerrar uma para começar a outra, para não ficar duas campanhas ao mesmo tempo, que daí
fica ruim." A meta do crowdfunding do acampamento é de R$ 1 milhão. O último balanço das doações divulgado,
em 27 de abril, foi de R$ 500 mil.
COM.
FUNCIONARÁ O CROWDFUNDING Empresas de financiamento coletivo podem se cadastrar até agost.
TSE valida os cadastros das empresa.
Pré-candidatos já começaram a contratar empresas de crowdfundin.
A partir desta terça (15), políticos poderão divulgar as campanhas de financiamento coletivo e os indivíduos
poderão iniciar as doaçõe.
As doações ficarão retidas até que o político registre sua candidatura, a partir de 15 de agosto; só então 0
valor será repassado ou devolvido, em caso de desistênci.
Pessoas físicas não podem doar mais que 10% do valor de seus rendimentos brutos no ano anterio.
Empresas e estrangeiros não podem doa.
Eleitor não pode doar mais de R$1.064/di.
Site de financiamento deve registrar o nome e o CPF do doador, o valor da doação e a forma de pagament.
O site deve publicar a lista com o nome dos doadores e as quantias doada.
O site deve emitir um recibo para o doador e enviar para a Justiça Eleitoral e para 0 candidato

Brutus e o STF
MARCUS ANDRÉ MELO
O STF tem estado sob ataque. Wadih Damous (PT-RJ) defendeu recentemente seu fechamento e a criação
de uma corte constitucional com ministros com mandato. Esse estado de coisas foi produzido, entre outras razões,
pela atuação do STF como corte criminal em contexto de escândalo de vastíssima proporções.
Essa agenda penal engendrou ineficiência, politização e polarização intensa. Onze propostas de
reformatação do desenho institucional da corte tramitam atualmente no Congresso estipulando mudanças na
forma de nomeação dos ministros e na duração de seus mandatos.
O desenho institucional de uma corte reflete interesses. É certo que durante ditaduras a institucionalidade
importa pouco: o autocrata pode simplesmente demitir a corte ou ministros individuais. Os castos são apenas
reputacionais. Nas democracias um presidente pode apenas lamentar a ingratidão de magistrados que indicou ou
afirmar que eles se acovardaram.
Mas há regimes iliberais em que o mandato dos juizes da Suprema Corte eram inferiores ao do mandato
presidencial/congressual (El Salvador), ou coincidiam com o próprio mandato (República Dominicana, Guatemala,
Honduras, Nicarágua, Venezuela, Paraguai). Mandatos coincidentes ou renováveis criam o risco moral da
gratidão.
Na América Latina apenas Brasil, Argentina, Chile e México seguiram o modelo americano de mandato
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 21 / 48

vitalício (embora Cárdenas ao subir ao poder restringiu-o ao sexênio presidencial). No Brasil -como no Chile-,
entretanto, limitou-se o mandato à idade de aposentadoria compulsória, evitando-se a permanência de ministros
senis na corte, como ocorreu nos EUA.
O efeito desse dispositivo é cristalino: a idade média de aposentadoria dos ministros nos últimos 30 anos é
de 66,4 anos. (67,2 se Francisco Rezek for excluído pois foi nomeado aos 39 anos e exonerado aos 49). Mais
relevante é a permanência média no cargo, de 9,1 anos (9,6 sem Menezes Direito que faleceu 16 meses após a
posse). Coma elevação da aposentadoria compulsória para 75 anos (PEC 88/2015), a média provavelmente
atingirá algo como 13 anos (1 ano a mais que o mandato na Corte Alemã, eleita pelo Parlamento).
As propostas atuais de mandato de dez anos são assim muito barulho por nada, enquanto a de introduzir o
concurso público para a Corte, estapafúrdia. Instituiria finalmente entre nós a juristocracia temida por Brutas, o
destacado antifederalista. Nas democracias presidenciais, os juizes são indicados e confirmados pelos agentes
eleitos -presidente e senadores- precisamente para que se preserve sua legitimidade política em última instância.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 22 / 48

Crise na Venezuela estimula tráfico de armas na fronteira com Roraima


Fabiana Cambricoli, Marco Antônio Carvalho e Cyneida Correia
Facções criminosas brasileiras estão aproveitando o aumento do fluxo migratório entre Venezuela e Brasil e
as falhas na fiscalização da fronteira do Estado de Roraima com o país vizinho para ampliar as transações de
tráfico de armas e drogas entre os dois países. Um dos esquemas usados pelos bandidos de Roraima para
consolidar essa rota é o sequestro relâmpago de donos de carros de luxo para que os veículos sejam trocados por
armas em território venezuelano.
Áudios interceptados pela Polícia Civil do Estado e obtidos com exclusividade pela reportagem mostram um
integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), de Roraima, dando orientação para demais membros da
facção. "A parada é a seguinte, mano, tô vendo um negócio da hora para nós pegar os carros, não garante, não?
Tem de segurar a vítima até atravessar a fronteira, tá ligado? Para nós trocar em skunk (maconha) e arma", diz o
suspeito. Houve dois casos em 40 dias.
Segundo dados da Polícia Civil, o número de armas apreendidas pelo órgão no ano passado mais do que
dobrou em relação ao ano anterior, passando de 69 para 176. O aumento do tráfico de armas pela fronteira Brasil-
Venezuela e o fortalecimento do crime organizado no Estado são apontados pelas forças de segurança locais
como a principal razão para a alta dos índices de criminalidade.
"Antes de 2017, nós tínhamos registro só de pequenas gangues em Roraima. Os bandidos usavam facões
para cometer crimes. Hoje, temos uso de fuzis e os homicídios só aumentam", diz a delegada-geral da Polícia
Civil, Giuliana Castro.
Entre 2015 e 2017, os assassinatos no Estado passaram de 94 para 188.
Na terça-feira, a polícia prendeu sete integrantes da quadrilha responsável pelo sequestro e roubo do
veículo de uma empresária em Boa Vista. Eles mantiveram a mulher refém por cerca de cinco horas até que o
carro, um Toyota SW4, atravessasse a fronteira com a Venezuela e, lá, fosse trocado por armamento. Um mês
antes, um médico foi mantido em cativeiro também por algumas horas até que seu Toyota Hilux fosse levado a
Santa Elena de Uairén, cidade venezuelana que faz fronteira com o Brasil. O carro foi recuperado pela polícia do
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 23 / 48

país vizinho e mandado de volta ao Brasil.


Distribuição. As armas adquiridas por facções brasileiras na Venezuela não estão alimentando apenas as
facções criminosas que atuam em Roraima.
Em abril, a Polícia Federal prendeu, somente em uma noite, duas jovens, uma brasileira e uma
venezuelana, levando armas para o restante do Brasil.
A brasileira foi abordada na Rodoviária de Boa Vista com seis armas - duas Berettas 9 mm, uma pistola
Taurus não numerada e três revólveres Rossi e Smith & Wesson calibre 38 - amarradas ao corpo com fita,
além de três carregadores de munição com inscrição "made in Italy" e dois carregadores com inscrição "made in
Brazil". Ela confessou que as armas vieram da Venezuela e seriam entregues para a organização criminosa em
Fortaleza. Horas depois, a PF prendeu uma venezuelana que tentava embarcar do Aeroporto de Boa Vista para
São Paulo com uma pistola calibre 9 mm, de uso restrito, e munição com marcação da Companhia Anônima
Venezuelana de Indústrias Militares.
"A cada 48 horas apreendemos uma arma de fogo e 90% do armamento apreendido pela Polícia Militar é
oriundo da Venezuela" explicou o coronel Edison Prola, comandante da PM de Roraima. O coronel explicou que
interceptações telefônicas entre presidiários de São Paulo e de Roraima mostraram que a fronteira venezuelana
tem negociação de armamentos pesados, como rifles AK-47 e AR-15 e pistolas 9 mm, que são levadas para
Ceará, São Paulo e Rio. "Há um interesse do crime organizado do Sudeste do Brasil pela Venezuela, tendo em
vista a quantidade de armas que existem lá, pois Hugo Chávez adquiriu muitas armas, criou milícias e essa
quantidade enorme de armamento está sendo comercializada com mais facilidade por causa da crise econômica
que assola o país." Os chefes das Polícias Civil e Militar contam que a maioria dessas armas passa por rotas
clandestinas na fronteira, que tem extensão de mais de 1.400 quilômetros. "A maioria chega por rota alternativa.
Mas os postos oficiais também têm falhas.
A pessoa, para entrar no Brasil, não precisa mostrar nenhum documento", diz a delegada- geral.
Ação federal. Questionado, o Ministério Extraordinário da Segurança Pública afirmou que aplicou R$ 40,2
milhões no Estado somente no ano passado em ações como: operações da Força Nacional de Segurança em
apoio ao sistema penitenciário estadual e à PF na fronteira, capacitação de profissionais e doações de
equipamentos e armas.
Já o Exército, por meio da Comunicação da Brigada de Selva em Roraima, que conduz a Operação Controle
nas rodovias que ligam o Brasil com a Guiana e a Venezuela, nega que exista o tráfico e diz que o controle é feito
de forma intensa.
"Todos são revistados. Estabelecemos postos de controle e bloqueio de estradas e as apreensões de armas
não configuram esse acesso como 'rota' pois um dos indicadores é a apreensão de fuzis, o que não aconteceu."
Investigações. Gerente da área de Sistemas de Justiça do Instituto Sou da Paz, ONG que pesquisa o tema no
País, Bruno Langeani disse que o maior fluxo de armas em Roraima leva a uma desestabilização no cenário da
segurança pública no Estado, ampliando a deterioração notada em razão da crise migratória. "O trabalho das
polícias se torna mais desafiador", disse. Ele pede uma atividade focada na documentação do perfil das armas
apreendidas e na apuração da dinâmica, com investigações sobre a origem, quem vendeu, e o destino, onde ia
parar a arma, se ela não tivesse sido apreendida pela polícia.
Langeani disse que isso passa "invariavelmente" por uma cooperação com a Polícia Federal.
Ele exemplifica com o trabalho realizado no Estado do Rio, que em 2017 criou a Delegacia Especializada
em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) da Polícia Civil. "Hoje, há a tentativa de contatar as polícias fora do
Estado para fazer a prisão dos fornecedores. Se a arma chega ao Rio, o trabalho já falhou. Então, a cooperação é
sistemática..
PF relata 991 casos e dificuldade de punir criminoso.
De 2013 a 2017, a Polícia Federal instaurou 991 inquéritos para investigar suspeitas de tráfico internacional
de armas. Mas o próprio órgão admite que o número é baixo e alega que há dificuldade em punir criminosos que
são encontrados com armas comprovadamente importadas. Isso porque a jurisprudência diz que o crime de tráfico
internacional "somente pode ser imputado ao agente nos casos em que existam elementos probatórios
demonstrando que o próprio agente foi o responsável por internalizar as armas em território nacional, isto é,
praticou ele próprio a conduta de importar a arma de fogo, acessório ou munição, e não, por exemplo, recebeu de
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 24 / 48

terceiro".
Policiais dizem que essa caracterização "é difícil de se configurar quando não há confissão ou elementos de
prova encontrados com o detido, tais como bilhetes de passagem e etiquetagem de bagagem do exterior".Desse
modo, dizem, o tráfico de armas "interno" acaba se confundindo, na tipificação, com meros crimes de posse ou
porte de armas, com penas inferiores à de tráfico internacional.
2 PERGUNTAS PARA...
Maria Laura Canineu, diretora da Human Rights Watch no Brasi.
1.Qual é o nível da crise na Venezuela no momento.
Milhares de venezuelanos estão deixando o país diante da grave crise humanitária, a profunda escassez de
alimentos e medicamentos, que impedem a sobrevivência.
Documentamos um caso de uma mulher deixada por uma ambulância na fronteira porque eles não tinham
condições de realizar o parto.
2.Quais os impactos notados sobre Roraima.
Na Saúde, por exemplo, há demanda crescente e incapacidade do governo em lidar com isso. É preciso
uma resposta interfederativa. É uma responsabilidade moral cujo reconhecimento é obrigatório.
Não se deve criminalizar essa população já vulnerável.

PT tenta "tirar" pré-campanha da prisão


Ricardo Galhardo
A direção nacional do PT vai decidir nas próximas semanas sobre a adoção de uma agenda de medidas
concretas para manter a pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, afastando assim
a discussão sobre um plano "B" para as eleições. Os dirigentes tentam dar ares de normalidade à candidatura do
petista, que está preso desde o dia 7 de abril e condenado a 12 anos e 1 mês em regime fechado. Como teve a
sentença confirmada pelo Tribunal Regional da 4ª. Região, Lula é considerado inelegível de acordo com a Lei da
Ficha Limpa.
Desde a semana passada, quando o Supremo Tribunal Federal rejeitou mais um recurso da defesa de Lula
e não pautou as ações que podem revisar a prisão após a segunda instância, "caiu a ficha" do PT sobre o fato de
que a estratégia de mobilização popular para pressionar o Judiciário não funcionou - o povo não foi às ruas e Lula
deve passar um longo período na cadeia.
Na semana passada, a corrente majoritária do partido Construindo um Novo Brasil (CNB), que preside o PT,
decidiu insistir na candidatura de Lula até o fim, mesmo que isso leve o partido ao isolamento na eleição
presidencial.
O próprio ex-presidente, em carta, deu o recado: "Se aceitar a ideia de não ser candidato, estarei assumindo
que cometi um crime". A ideia é transformar a campanha em um palco para a defesa de Lula. "Só estamos
pedindo o direito de seguir apoiando nosso candidato", disse na sexta-feira o ex-ministro Gilberto Carvalho.
Lideranças da CNB vão levar para deliberação da executiva nacional propostas para a criação imediata de
dois comitês físicos de pré-campanha em São Paulo e Brasília, agilizar o processo de apresentação das diretrizes
do programa de governo, intensificar as conversas com o PR sobre a possibilidade de o empresário Josué Gomes
da Silva ser o vice de Lula - o que passaria também pelo processo de convencer o filho do ex-vicepresidente José
Alencar aceitar ser registrado - e a definição dos nomes autorizados a representar o ex-presidente em debates e
entrevistas.
Por enquanto a única pessoa autorizada a falar em nome de Lula é a presidente nacional do PT, senadora
Gleisi Hoffmann (PT). São cogitados também os nomes do ex-ministro Luiz Dulci; do presidente da Fundação
Perseu Abramo, Marcio Pochmann; o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad; e o ex-ministro Jaques Wagner.
A lista será submetida à cúpula petista e ao próprio Lula nos próximos dias.
Na próxima reunião a executiva nacional do PT vai definir um calendário de lançamentos regionais da pré-
campanha.
Nesta semana, emissários de Lula vão falar com Josué sobre a possibilidade de ele aceitar ser vice de Lula.
Ele trocou o MDB pelo PR depois de conversas com Lula e é cortejado por outros pré-candidatos.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 25 / 48

Com isso, o PT espera neutralizar também o debate interno sobre a indicação de um vice petista. O partido
teme que isso traga de volta as especulações sobre o plano "B". Segundo Carvalho, a carta de Lula à Gleisi na
semana passada "enterra os fantasmas de plano B".
3 PERGUNTAS PARA...
João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do MST
1.Há dificuldades para mobilizar gente contra a prisão de Lula?
Há uma outra forma de fazer manifestação que é mobilizar setores organizados como médicos, juristas,
igrejas sem fechar rodovia nem fazer greve.
Isso tem sido um sucesso.
Pela tradição clássica dos movimentos populares, inclusive o nosso, seria natural que tivessem mais greves
e mobilizações de rua. Isso não veio, mas não é de agora.
2.A estrutura do PT dificulta a inclusão de novos atores?
O PT não se preparou para este momento. Se preparou para fazer disputa eleitoral e nesse campo continua
ativo.
Por isso fica tudo mais difícil.
O PT teria condições de ter sempre em cada município pelo menos um ônibus de gente organizada para
levar. Sei que há dificuldades de infraestrutura.
Estamos há dois anos fazendo lutas. Na hora em que precisávamos está todo mundo capenga.
3.Os movimentos se acomodaram nos governos do PT?
Acomodaram. Não porque queriam. Existia uma lógica, não por maldade: o governo resolve e não queremos
briga, vamos tentar a conciliação.
Aquilo deixou uma marca de falta de mobilização, organização e estruturação dos movimentos muito
grande.
INTERLOCUTORES
l Gleisi Hoffmann Presidente do PT, é a única pessoa do partido autorizada a falar em nome do ex-
presidente Lula.
l Fernando Haddad Ex-prefeito de São Paulo.
l Jaques Wagner Ex-ministro e ex-governador da Bahia.
l Marcio Pochmann Fundação Perdeu Abramo
l Luiz Dulci Ex-ministro de Lula

'Os eleitores estão sem perspectiva de melhora'


Daniel Bramatti
Marcia Cavallari, diretora executiva do Ibope Inteligência, ficou recentemente sensibilizada ao acompanhar
os depoimentos de entrevistados em uma pesquisa qualitativa promovida por seu instituto. Reunidos em volta de
uma mesa e convidados a falar sobre suas expectativas em relação ao futuro, grupos de eleitores de perfis
diversos só manifestaram desesperança e angústia.
"Foi uma tristeza", disse ela, em entrevista ao Estado.
Segundo Marcia, os levantamentos do Ibope mostram um eleitorado "sem perspectiva de melhora". Existe
uma abertura para candidatos que representem o "novo", mas, ao mesmo tempo, um temor de uma pessoa sem
muita bagagem política possa piorar a situação do País. Leia a seguir os principais pontos da entrevista: l Os pré-
candidatos mais conhecidos têm taxas muito altas de rejeição, até maiores que seus porcentuais de intenção de
voto.
Qual será o impacto disso?
Uma questão que a gente vê nas pesquisas é que os eleitores estão sem perspectiva de melhora. Não
conseguem ver como sair desse lugar em que estamos, não conseguem enxergar uma luz no fim do túnel.
Os eleitores não conseguem identificar, nesses candidatos todos, qual conseguiria tirar o País da situação
em que está.
Pode ser que, quando começar a campanha, as coisas fiquem mais claras e possam identificar uma
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 26 / 48

perspectiva. Há uma desconfiança também porque os eleitores estão mais atentos para não se deixar levar por
promessas mirabolantes, por ideias que são inexequíveis. Essa questão da desesperança, de não conseguir
enxergar uma solução, é um sentimento muito sofrido, muito mesmo. Nós percebemos isso em pesquisas
qualitativas. São pessoas de classes mais altas, de classes mais baixas, todo mundo batalhando e as coisas não
andam, está tudo amarrado.
l O desânimo em relação aos políticos tradicionais leva a uma maior abertura a novidades?
Há uma posição dúbia em relação ao novo. Eles percebem que a situação é muito complexa e que talvez
um candidato que represente o totalmente novo possa piorar ainda mais o quadro. Querem mudança?
Querem. No jeito de fazer política, no jeito de lidar com o serviço público, com o dinheiro público. Mas não
necessariamente esperam um "novo do novo", porque isso também geraria insegurança. Eles esperam uma certa
bagagem. Há esse temor de que fique pior.
l Até agora é uma eleição sem favoritos, o que atrai muitos candidatos.
Por outro lado, partidos menores têm poucos recursos e precisam investir em campanhas de deputados. A
lista de presidenciáveis tende a encolher?
Deve ser a primeira eleição desde 1989 sem (o ex-presidente) Lula, que tem um peso específico, que vai
além de seu partido.
Um ponto importante é que, apesar da baixa preferência partidária dos brasileiros, há cerca de 30% com
simpatia pelos partidos de esquerda.
Sem o Lula, o que pode acontecer é uma reorganização dos partidos de esquerda, para que não percam
essa fatia do eleitorado.
Hoje o cenário é de muitos possíveis candidatos, com baixa intenção de voto. Os únicos com taxas
significativas são Lula, Bolsonaro e Marina.
O voto está muito pulverizado.
Acho que deve acabar ocorrendo uma recomposição dos partidos, de maneira que não tenhamos tantos
candidatos concorrendo. Será uma campanha curta, que terá emoção até o último momento.
l Até que ponto as redes sociais tornam o eleitorado mais volátil, mais sujeito a mudanças bruscas?
As redes têm um papel mais importante, sim, a cada ano a mais usuários. Sabemos que os eleitores citam
cada vez mais as redes como fonte de informação.
Mas ainda não temos como medir o quanto elas influenciam a decisão de voto.
l Como a desinformação afeta o voto?
Em relação às notícias falsas, nossas pesquisas mostram que os eleitores se preocupam muito com isso.
Eles acham que o ambiente da internet é mais propício para as pessoas divulgarem e passarem notícias falsas
sem checar a fonte. Sabem e declaram que não podem acreditar em tudo o que veem na internet. A credibilidade
maior é dos veículos de comunicação tradicionais: jornal, rádio, TV. É onde se sentem mais seguros em relação à
informação que recebem. Existe interesse maior pelas notícias políticas. É claro que isso se verifica de maneira
mais forte nos grupos urbanos e de maior escolaridade, mas também vemos essa preocupação de buscar mais
informação nas classes mais baixas.
l Como o eleitor pode saber se uma pesquisa é confiável?
Primeiro, todas as pesquisas que são divulgadas têm de ser registradas no site do TSE. O registro dá
transparência ao processo.
É possível ver a maneira como a pesquisa está sendo feita, ler o questionário, saber quem é o contratante,
verificar o preço que está sendo pago.
Há preços lá que são inexequíveis.
Impossível fazer uma pesquisa com um custo tão baixo.
É claro que metodologia é uma coisa muito técnica, mas só de olhar o eleitor vai ter alguns indícios de como
cada instituto está trabalhando. Uma coisa que fica nítida é a diferença de preços entre institutos tradicionais e
conhecidos e os outros.
Até o dia 8 de abril, havia 88 pesquisas registradas no TSE.
Cerca de 40 eram de empresas não associadas à ABEP (Associação Brasileira das Empresas de
Pesquisas). Ou seja, não sei quem são. Além disso, em todos esses casos, o contratante é a própria empresa de
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 27 / 48

pesquisa.
l É algo inusual um instituto fazer pesquisa com recursos próprios?
Essa coisa de fazer tudo por conta própria é estranha. Nós já fizemos, mas é raro. Às vezes fazemos porque
há algo importante acontecendo e nenhum cliente contrata pesquisa naquele momento. Há casos em que o cliente
contratou um calendário e acontece um fato importante no intervalo de duas pesquisas. Aí fazemos uma extra e
doamos para o cliente.
Mas é estranho fazer várias pesquisas com recursos próprios.
l Isso seria um indício de que eles estariam ocultando o contratante, alguém com interesse no resultado da
pesquisa?
Há que se deduzir isso. Não se sabe que interesse haveria em um instituto ficar gastando seus recursos
com pesquisas.
É um indício de algo esquisito.
Também se deve prestar atenção nos resultados dos diferentes institutos. As pesquisas mostram uma
tendência ao longo do tempo. O fenômeno que está sendo medido por todos é o mesmo, então todos devem
mostrar uma tendência semelhante, mesmo que os números não sejam exatamente os mesmos. Se um instituto
apresenta resultados muito díspares, é preciso procurar entender a razão.
Pesquisas.
Marcia Cavallari, do Ibope, afirma que eleitores querem o 'novo' na política, mas preferem candidatos com
experiência

Disparada do dólar encarece dívidas de empresas no exterior em R$ 115 bi


Fernando Nakagawa
A disparada do dólar aumentou em R$ 115 bilhões o total que bancos e empresas terão de desembolsar
para fazer frente às dívidas no exterior.
Ainda que os empréstimos na moeda estrangeira não tenham crescido, a variação cambial faz com que
sejam necessários mais reais para pagar o mesmo compromisso.
O quadro pode gerar ainda mais preocupação com a informação do Banco Central de que 46,9% das
empresas com dívida em dólar não contam com proteção à variação do câmbio.
Dados do BC mostram que a dívida externa de bancos e empresas somava US$ 471,2 bilhões no fim de
março. Esse valor inclui empréstimos bancários, títulos de dívida, crédito comercial e operações intercompanhias.
Em dólar, o montante não oscila expressivamente há três anos. Convertida para reais, a dívida passou do
equivalente a R$ 1,556 trilhão no fim de março para R$ 1,672 trilhão na última quinta (dia 10) - uma diferença de
R$ 115 bilhões.
O cenário pode trazer preocupação especialmente para empresas que eventualmente tomaram crédito em
outros países, mas não estavam preparadas para o dólar mais caro. O tema tem surgido discretamente em
análises de economistas, executivos e investidores e pode ganhar força à medida que o dólar avança ou com o
passar das próximas semanas.
Isso porque a conta para quitar dívidas continua chegando às empresas e bancos, que têm compromissos
de US$ 84,4 bilhões até dezembro. Maio é o segundo mês que mais concentra compromissos neste ano: US$ 12
bilhões em principal e juros. À frente, só dezembro com outros US$ 22,8 bilhões.
Tantas cifras podem despertar ainda mais atenção diante de duas informações. A primeira é a que indica
que quase metade das companhias consultadas em 2014 pelo próprio BC não se protegia contra a oscilação do
dólar com o chamado "hedge".
"As empresas não exportadoras sem hedge representam quase metade da dívida total em moeda
estrangeira", destaca um estudo do BC. O restante das firmas estava protegida no mercado ou porque tinha
receita em dólar.
Uma dessas empresas é a estatal Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). Em 30 de março, a
empresa registrava dívida de US$ 30,6 milhões.
Ela avalia que a recente disparada do dólar deve elevar o gasto no próximo vencimento, em julho, em R$
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 28 / 48

747 mil. A Corsan não tem hedge, mas explicou em nota que o "caixa está preparado para esse desembolso
adicional" e que a exposição cambial da empresa é relativamente baixa: 6,9% da dívida total.
Periodicamente, o BC estima o total da dívida externa das empresas sem proteção cambial. O dado mais
recente, de dezembro de 2016, mostrava valor equivalente a 9% do Produto Interno Bruto (PIB). O patamar é
maior que os 8% de 2014, primeira pesquisa. Ainda que parte dessa dívida desprotegida conte com algum tipo de
resguardo indireto - como um ativo ou sede no exterior, essas companhias administram o caixa com
compromissos futuros em moeda estrangeira sem seguro contra a disparada da moeda.
Com quase metade das empresas desprotegidas, o BC sugere atenção a eventuais mudanças na
economia. O estudo da instituição diz que em um "hipotético cenário de reversão" há dois pontos a observar com
cautela nas empresas com exposição ao câmbio: "potenciais impactos na capacidade de pagamento das
empresas e no total do endividamento".
Economistas avaliam que as últimas semanas reforçam a percepção de que a mudança de cenário
hipotética mencionada pelo BC está em curso. Desde março, o dólar subiu mais de 7% e já bateu em R$ 3,60,
crescem as incertezas sobre as eleições no Brasil, o aperto do juro nos EUA pode ser mais intenso que o
esperado e surgiu uma inesperada crise na Argentina com direito até ao FMI.

Jovem que atacou pedestres em Paris era checheno fichado por


radicalização
Andrei Netto
O homem que atacou pedestres com uma arma branca, matando uma pessoa na noite de sábado, no centro
de Paris, era um russo checheno suspeito de radicalização que, por isso, esteve nos radares do serviço secreto
francês.
Khamzat Azimov, de 20 anos, nasceu na Chechênia, república de maioria muçulmana da Rússia que
passou por duas guerras entre 1990 e 2000. Refugiado ainda criança na França, acompanhado dos pais, vivia em
um bairro popular da capital até cometer o atentado, cuja autoria foi reivindicada pelo grupo terrorista Estado
Islâmico (EI), e ser morto pela polícia.
O ataque ocorreu às 20h50 (15h50 em Brasília), no bairro de Ópera, muito frequentado por turistas e
parisienses. A região atrai visitantes por seus restaurantes e salas de cinema e teatro, além da Ópera Garnier, a
mais importante do país.
Segundo testemunhas, o agressor correu por várias ruas do bairro com uma faca em punho atacando
pedestres e gritando "Allahu akbar" ("Deus é o maior", em árabe). Entre o primeiro chamado à polícia e a
intervenção de agentes, houve nove minutos de intervalo.
Parte da ação acabou sendo flagrada pela câmera do celular da brasileira Wladia Drummond, cujo vídeo
publicado em sua conta no Twitter ilustrou o ataque em veículos de mídia de todo o mundo.
"Pensei que fosse um assalto.
Ouvi gritos chamando a polícia e ao chegar na janela vi essa cena.
Não tinha noção da extensão da maldade que acontecia ao redor. Da janela do hotel só vejo esse beco.
Depois que vi pessoas correndo e outros sons de sirene que percebi", escreveu a brasileira.
O vídeo mostra um jovem de 29 anos caído no asfalto. Atendido pelo serviço médico de urgência, ele não
resistiu aos ferimentos de facadas.
Já o agressor foi interpelado por uma patrulha da polícia.
Dois agentes armados ainda tentaram dominá-lo com uma pistola de descarga elétrica, sem sucesso. Na
sequência, Azimov acabou morto a tiros no momento em que tentava atacar os policiais. O episódio provocou
cenas de pânico no bairro. Frequentadores de restaurantes da região buscaram abrigo no interior dos
estabelecimentos e acabaram ficando pelo menos duas horas bloqueados por ordem da polícia.
Além do jovem morto, duas pessoas precisaram de socorro em urgência, uma mulher de 54 anos, ferida no
pescoço e no rosto, e um homem de 34 anos, também atingido por facadas. Uma mulher de 26 anos e um homem
de 31 tiveram ferimentos leves.
Todos estavam fora de perigo na noite de ontem.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 29 / 48

Identificação. Tão logo a área foi isolada, o principal trabalho dos investigadores se concentrou na
identificação do terrorista, que não levava documentos.
No início da manhã de ontem, a seção antiterrorismo do Ministério Público informou que já tinha a resposta:
tratavase de um francês naturalizado, nascido na Chechênia em novembro de 1997. Azimov não tinha
antecedentes policiais, mas havia sido alvo de uma "Ficha S" - de "Segurança do Estado" -, como se chamam os
arquivos do serviço secreto relativos a suspeitos de radicalização ou atividade terrorista na França.
Azimov vivia na França desde o início dos anos 2000, quando deixou a Chechênia em guerra em busca de
asilo. A família viveu em Nice e em Estrasburgo, onde se radicou. Em 2004, receberam o status de refugiados e
ajuda econômica para viver na França.
Em 2010, sua mãe obteve a nacionalidade francesa, que transmitiu ao filho, então com 13 anos. Depois de
se mudarem para Paris, o jovem teria estabelecido vínculos com pregadores islamistas e por isso se tornou objeto
de observação da Direção Geral de Segurança Interior (DGSI), o serviço secreto interno francês.
Sua eventual ligação com o Estado Islâmico não havia até ontem sido estabelecida pelas investigações,
mas sua proximidade com um pregador jihadista preocupava as autoridades. Na noite de ontem, o Ministério do
Interior confirmou a existência de um vídeo de reivindicação atribuído a Azimov e distribuído na internet pela
Amaq, agência de propaganda do EI, em que o jovem assume a ação.
"O autor deste ataque à faca em Paris é um soldado do Estado Islâmico e a operação foi levada a cabo em
represália aos estados da coalizão", afirmou o comunicado, referindo-se à aliança militar ocidental formada por
EUA, França e Reino Unido, países que atuam de forma coordenada na Síria e no Iraque contra o grupo terrorista.
Até a noite de ontem, os pais de Azimov continuavam detidos para averiguações, assim como uma terceira
pessoa, supostamente um amigo dele.
Líder da Chechênia culpa França por atentad.
O presidente da Chechênia, Ramzan Kadyrov, responsabilizou a França pelo atentado de sábado. "Toda a
responsabilidade pelo fato de que Azimov decidiu adotar a via da criminalidade cabe inteiramente às autoridades
francesas", afirmou em uma mensagem distribuída pelo serviço de mensagens instantâneas Telegram.
"Ele apenas nasceu na Chechênia, mas cresceu e formou sua personalidade, suas opiniões e suas
convicções no seio da sociedade francesa. Estou certo de que se tivesse passado sua adolescência na
Chechênia, sua sorte seria diferente." Em sua mensagem, Kadyrov não fez referência aos atentados cometidos
por muçulmanos ultrarradicais em solo checheno desde 2007.

Presidenciáveis vão usar fundo partidário na pré-campanha


Igor Gadelha
Três pré-candidatos à Presidência vão usar, juntos, pelo menos R$ 1,812 milhão do Fundo Partidário -
abastecido com recursos públicos - para bancar gastos de pré-campanha, como aluguel de jatos, passagens
aéreas e custos com assessores.
DEM, PCdoB e PSC reservaram verba do fundo para quitar parte da pré-campanha ao Palácio do Planalto
de Rodrigo Maia, Manuela D'Ávila e Paulo Rabello de Castro, respectivamente. Já PSDB, PDT, Rede, Podemos e
PSOL confirmaram que também utilizarão dinheiro do fundo para pagar despesas dos précandidatos, mas não
informaram valores.
Sem regras específicas para a fase anterior ao registro oficial das candidaturas - a data limite é 15 de agosto
-, os gastos do Fundo Partidário só serão fiscalizados no próximo ano, quando as legendas apresentarão suas
prestações de contas anuais à Justiça Eleitoral.
O Fundo Partidário recebe verba da União, além de multas eleitorais. Os valores são repassados
mensalmente para as siglas pagarem despesas com a máquina partidária. Para este ano, o valor total previsto a
ser repassado é de R$ 888,7 milhões.
Na última semana, o Estado procurou os 12 políticos que se apresentaram como pré-candidatos à sucessão
do presidente Michel Temer.
Presidente nacional do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto, disse que o partido reservou R$ 1 milhão
do Fundo Partidário para bancar as atividades de pré-campanha de Maia. "Esse recurso já está separado para
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 30 / 48

isso.
O projeto é uma prioridade para o partido", afirmou. O dinheiro está sendo gasto principalmente com
locação de jato particular para viagens de Maia e contratação de assessores.
O PCdoB, por sua vez, informou que a pré-campanha de Manuela está orçada em R$ 800 mil. De acordo
com a legenda, esses recursos virão não só do Fundo Partidário, mas também de contribuição de filiados e
militantes e de uma plataforma digital de arrecadação intitulada "Manu pelo Brasil".
Presidente do PSC, Pastor Everaldo Pereira disse que a campanha de Rabello de Castro gastou cerca de
R$ 12 mil do fundo até agora. Os recursos bancaram basicamente passagens aéreas.
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), a ex-ministra Marina Silva
(Rede), o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) e Guilherme Boulos (PSOL) também estão usando recursos do
fundo na pré-campanha.
Três pré-candidatos disseram que gastam dinheiro próprio ou de doações de outros filiados.
São eles, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) e o empresário Flávio Rocha (PRB), e João
Amoedo (Novo). O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) não respondeu aos questionamentos da reportagem.
'Prioridade.
"Esse recurso (do Fundo Partidário) já está separado para isso.
O projeto é uma prioridade para o partido." ACM Neto PRESIDENTE DO DEM, SOBRE A PRÉ-CAMPANHA
DE RODRIGO MAIA

Arrecadação virtual ocorre fora do prazo oficial do TSE


Adriana Ferraz e Caio Sartori
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abre amanhã o prazo para arrecadação antecipada de doações de
pessoas físicas por meio das chamadas vaquinhas online (crowdfunding).
As eleições deste ano serão as primeiras a contar com essa ferramenta como forma oficial de arrecadação.
Mas ao menos quatro pré-candidatos à Presidência da República já se beneficiaram de financiamentos online
extraoficiais.
Manuela D'Ávila (PCdoB) mantém uma campanha desde março para arrecadar recursos a fim de custear
suas viagens pelo País. Jair Bolsonaro (PSL), Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
condenado e preso pela Operação Lava Jato, também já se beneficiaram de vaquinhas feitas em prol de suas
ações, mesmo que a iniciativa não tenha partido deles.
Não há irregularidade nessas escolhas. Mas, segundo o TSE, a partir de amanhã vaquinhas organizadas
para as campanhas dos pré-candidatos deverão ser feitas em nome deles e por meio de empresas especializadas.
Consultados pelo Estado na última semana, os principais presidenciáveis afirmaram que têm interesse em
arrecadar previamente pela internet. A maioria, porém, ainda negocia contratos com empresas especializadas.
Pela nova legislação, pré-candidatos a qualquer um dos cargos em disputa poderão arrecadar, mas não
gastar os recursos obtidos exclusivamente pela internet até o início oficial da campanha, em 15 de agosto.
Rígidas, as novas regras destoam do vale- tudo da atual fase de pré-campanha, na qual parte dos presidenciáveis
já pede e recebe doações em iniciativas virtuais não regulamentadas em lei.
Até 2016 não havia uma regulamentação específica para as vaquinhas - partidos e candidatos precisavam
desenvolver softwares próprios para gerar suas receitas.
A novidade agora é que empresas credenciadas pelo TSE poderão fazer todo o serviço, atuando como uma
espécie de banco para as campanhas. Já são dez plataformas homologadas e outras 29 em processo no TSE.
A vaquinha "Manu pelo Brasil", de Manuela D'Ávila, está no ar desde 19 de março com a meta de arrecadar
R$ 150 mil em doações.
Até sexta-feira, a campanha tinha alcançado 22% de seu objetivo, com R$ 32,5 mil em doações, que podem
ser efetuadas a partir de R$ 10 via cartão de crédito, débito ou boleto bancário.
Quem entra no site da vaquinha (manupelobrasil.org.br) não consegue saber, no entanto, quem doou nem
se terá o dinheiro devolvido, caso a précandidata desista de concorrer até agosto - a transparência na publicação
dos dados e a possibilidade de devolução são duas exigências da vaquinha regulamentada pelo TSE. Segundo a
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 31 / 48

assessoria de Manuela, essa ferramenta está voltada à pré-candidatura presidencial.


Caravana. Ano passado, por exemplo, o PT recebeu mais de R$ 100 mil para custear a caravana de Lula
por Minas Gerais.
Neste ano, ao menos dez campanhas virtuais já foram lançadas para ajudar nas pré-campanhas de
Bolsonaro e Ciro. Algumas delas têm como meta arrecadar recursos para a produção e instalação de outdoors,
vetados pelo TSE.
O órgão afirma que uma pessoa física pode arrecadar dinheiro usando como "causa" o apoio a determinado
candidato, mas desde que este, ao receber o repasse, informe a origem em sua prestação de contas. Mesmo
assim, dependendo do caso, pode ficar configurada "arrecadação antecipada ou utilização de interposta pessoal
para simulação da real origem do dinheiro".
Especialista em Direito Eleitoral, Alberto Rollo defende que em ano eleitoral o TSE antecipe a fase de
prestação de contas dos políticos que pretendem participar das eleições.
"Qualquer doação, por exemplo, deveria ser registrada a partir de 1.º de janeiro. Essa divisão de pré-
campanha e campanha quase não existe mais."
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 32 / 48

Militares veem motivação política em divulgação de documento da CIA


Raymundo Costa, Fernando Exman e Marcelo Ribeiro
A divulgação do documento da CIA, orgão de inteligência do governo americano, segundo a qual o ex-
presidente Ernesto Geisel autorizou a execução de opositores do regime militar causou apreensão no Palácio do
Planalto e nas Forças Armadas, especialmente em setores da reserva. Os militares viram "motivação política" no
episódio, pois o documento é de domínio público desde 2015, mas só agora foi divulgado, às vésperas da eleição
presidencial, num momento de radicalização política.
O Palácio do Planalto não se manifestou oficialmente, mas o ministro Moreira Franco (Minas e Energia), um
dos principais auxiliares do presidente Michel Temer, disse ao Valor, com exclusividade: "Não podemos
radicalizar. A intolerância que se quer impor ao país às vésperas da eleição é um desserviço à democracia e à
futura geração dos brasileiros". Oficialmente, as Forças Armadas limitaram-se a dizer que os documentos da
época foram destruídos, nos termos da legislação vigente. Mas vários oficiais da reserva se manifestaram.
O general Carlos Alberto Santa Cruz, que ocupa uma função civil, a Secretaria Nacional de Segurança
Pública, foi quem fez a relação entre a divulgação do documento e a eleição. "Este é um ano eleitoral. Foram
publicadas várias notícias de um número maior de militares participando nessa próxima eleição, e tem que ver
também interesses políticos nesse tipo de divulgação".
O atual presidente do Clube Militar, Gilberto Pimentel, disse que a publicação da CIA era "inteiramente
fantasiosa" e "não vale um tostão furado". A exemplo de Santa Cruz, o general também registrou a coincidência da
divulgação com um momento em que militares ocupam posições privilegiadas nas pesquisas eleitorais. Não citou
o nome, mas deixou claro que se referia ao candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, e a oficiais candidatos
a outros cargos eletivos.
Causou apreensão também o fato de o último coordenador da Comissão da Verdade, o advogado Pedro
Dallari, cobrar das Forças Armadas o reconhecimento da responsabilidade institucional pelo que houve no
passado". Todos salientaram que a divulgação "não arranha em nada o prestígio das Forças Armadas" e
procuraram preservar a imagem do ex-presidente Ernesto Geisel, o general que entre avanços e recuos
(concessões à linha mais dura do Exército) comandou a abertura política.
O documento da CIA é de 1974 e foi tornado público, com exceção de dois parágrafos, em 2015 pelo
governo americano. No entanto, ganhou visibilidade na quinta-feira, depois de publicado nas redes sociais por
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 33 / 48

Matias Spektor, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).


Outros militares também corroboram a tese de que o patamar alcançado nas pesquisas de intenção de voto
por Bolsonaro - capitão da reserva e defensor dos governos militares - e a proliferação de candidaturas de
integrantes das Forças Armadas que já deixaram a ativa em diversos unidades da federação motivaram a
divulgação do documento.
"Esse documento é um informe, baseado em suposições e em algo que alguém ouviu falar. Não tem valor
político nenhum porque não é algo comprovado", afirmou ao Valor o pré-candidato ao governo do Distrito Federal
pelo PRP e aliado de Bolsonaro, general Paulo Chagas . "Acho que é mais uma tentativa de demonizar os
militares neste momento em que eles estão em alta. A repercussão em cima desse documento tem por objetivo
enfraquecer as candidaturas militares, inclusive a de Bolsonaro".
O general criticou o que chamou de "alarmismo que tem objetivo político". "Temos que desmistificar essa
imagem de que todo militar advoga pela ditadura, são torturadores, são perigosos. Não tem valor nenhum as
informações desse documento da CIA, porque elas não tem comprovação. Mesmo se tivessem, isso aconteceu há
quantos anos? Que influencia isso teria hoje?", questionou.
Para Chagas, o apoio popular a candidaturas militares deve acontecer, pois, segundo ele, o grupo
representa "responsabilidade, honestidade, probidade", características que a sociedade vem cobrando da classe
política. "Bolsonaro é o testemunho de que a nossa formação nos credencia para entrar na política e fazer a
política com seriedade. Ele não se contaminou com nenhum escândalo de corrupção", disse o pré-candidato do
PRP ao governo do Distrito Federal.
Na avaliação dele, a "pulverização de candidaturas militares" - ele destaca que apenas o Acre não tem
candidato militar - não deve sofrer nenhum abalo por causa do documento da CIA. Sobre a disputa pelo comando
do Palácio do Buriti, o general estabeleceu algumas diretrizes e restrições sobre eventuais alianças com outras
legendas: vetará qualquer aliança com partidos de esquerda ou com siglas que possuam membros que usem
tornozeleira eletrônica.

Crise habitacional piora com aluguel 'pesado' e mais pessoas por quarto
Thais Carrança
O aluguel pesou mais no bolso do brasileiro e mais pessoas tiveram que dividir o mesmo teto em 2017.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a situação habitacional do país piorou
no ano passado, mesmo com o fim da fase mais aguda da recessão.
O número de lares que gasta mais de 30% da renda com aluguel cresceu 3,5% entre 2016 a 2017, somando
3,7 milhões. Já os domicílios alugados com mais de três pessoas dormindo num mesmo cômodo avançaram
15,9% no período, para 543 mil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua
do IBGE.
Os problemas se agravaram ainda mais nas capitais, onde o custo da moradia é mais elevado, com avanços
de 8,2% e 21,2%, respectivamente, conforme levantamento da LCA Consultores, feito a pedido do Valor. O
aumento da extrema pobreza, o desemprego elevado, a piora da renda com o avanço da informalidade, além da
desidratação da Faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida estão entre os fatores apontados pelos especialistas para a
piora nos dados.
"Havia uma expectativa de que, com a estabilização da economia, o déficit habitacional pudesse ter também
se estabilizado", diz Cosmo Donato, economista da LCA. "No entanto, olhando para dois componentes do déficit, o
ônus excessivo com aluguel e o adensamento excessivo, há um crescimento relevante entre 2016 e 2017.
Constatamos que os efeitos defasados da crise econômica talvez estejam ainda pesando sobre os componentes."
O último dado sobre o déficit habitacional no Brasil é de 2015, mas dois dos quatro itens usados para o
cálculo podem ser acompanhados pela Pnad Contínua, cujas informações mais recentes são de 2017. Esses dois
itens representavam mais de 55% do déficit habitacional em 2015, segundo a Fundação João Pinheiro,
responsável pelo indicador. Os outros dois itens são habitação precária e coabitação familiar (mais de uma família
dividindo o mesmo teto), que não podem ser mensurados atualmente pela Pnad Contínua.
Segundo Donato, os casos de domicílios alugados em que muitas pessoas dividem um mesmo cômodo está
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 34 / 48

mais ligado às famílias mais pobres, que vivem em regiões mais afastadas dos centros urbanos, ou nos centros
em lares precários ou cortiços.
O aumento do número de domicílios adensados no ano passado estaria ligado, assim, ao avanço da
extrema pobreza. "A crise intensificou esse problema, mas ele não será resolvido pela recuperação cíclica da
economia, é algo que demanda políticas sociais e uma visão mais de longo prazo", afirma o economista.
Já o aumento do número de famílias que comprometem uma parte muito grande da renda com aluguel está
relacionado ao desemprego ainda elevado e ao avanço do trabalho informal na saída da recessão. "O aluguel é
um contrato rígido, que trava um percentual da renda. Muita gente perdeu o emprego, reduzindo a renda familiar,
ou se realocou via informalidade com um salário menor, com isso o peso do aluguel no orçamento das famílias
cresceu", explica o economista.
Para ambos os indicadores, a piora foi mais acentuada no Sudeste. Na região, o ônus excessivo com
aluguel cresceu 6,7%, comparado a 3,3% no Nordeste e 1% no Norte. No Centro-Oeste e Sul houve quedas de
2,2% e 4,5%, respectivamente. Já o adensamento excessivo em domicílios alugados avançou 31% no Sudeste,
8,5% no Nordeste e 3% no Sul, caindo nas demais regiões.
"Todo o contexto foi contra a melhora do déficit [habitacional], em função da piora da renda, do mercado de
trabalho e da própria política habitacional", afirma Ana Maria Castelo, pesquisadora do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Com a restrição orçamentária, as contratações do Minha
Casa, Minha Vida caíram drasticamente entre 2015 e 2016. No ano passado, houve alguma recuperação, mas
praticamente não houve contratações na Faixa 1 do programa, voltada para famílias com rendimento de até R$
1,8 mil.
Segundo a pesquisadora, o incêndio e desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo,
chamou atenção para a principal dificuldade das políticas públicas habitacionais, que é atender às famílias de
menor renda nos grandes centros urbanos. "Para grandes centros, só a construção de novas moradias não
resolve", diz, citando como alternativas o aluguel social, a requalificação de imóveis desocupados em regiões
centrais e as parcerias público-privadas.
Em 2018, com o mercado de trabalho ainda fraco e a recuperação abaixo do esperado do emprego formal, a
perspectiva é de que o comprometimento da renda das famílias com o pagamento de aluguel continue elevado,
avalia Donato, da LCA. Como o indicador responde sozinho por mais da metade do déficit habitacional, é razoável
antecipar que a carência histórica do país por moradias continuará a ser agravada pelos efeitos da crise.

Líderes querem flexibilizar regras de doação


Fabio Murakawa
Líderes partidários se articulam para tentar convencer o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a flexibilizar as
regras de doação no sistema de financiamento coletivo. A partir de amanhã, os candidatos serão autorizados a
arrecadar doações via internet, no sistema conhecido como "crowdfunding" ou "vaquinha virtual". Os partidos,
entretanto, consideram baixo o limite diário de R$ 1.064 por doador estipulado para as doações feitas via cartão de
crédito, meio que, espera-se, será o mais utilizado tanto na précampanha, que vai até 15 de agosto, quanto na
campanha.
Pela legislação atual, contribuições acima desse valor só podem ser feitas por meio de transferência
bancária, desde que respeitado o limite de doações estipulado pela lei eleitoral - ou 10% dos rendimentos brutos
auferidos por ele no ano anterior à eleição.
Além disso, os políticos têm percebido, com base em simulações feitas por técnicos, que será difícil
viabilizar doações por transferência bancária na pré-campanha. Por isso, partidos e candidatos desejam flexibilizar
esse limite para outros meios de pagamento. Além do PSDB, o DEM já demonstrou insatisfação com esse limite,
considerado muito pequeno.
Representantes das legendas devem se reunir amanhã em Brasília para tratar do assunto. Posteriormente,
tentarão marcar uma reunião com o ministro Luiz Fux, do TSE, para ver o que pode ser feito, de preferência nesta
semana.
"O espírito do legislador na reforma política foi antecipar a arrecadação e dar transparência, inclusive para o
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 35 / 48

eleitor saber como é a base de financiamento do candidato que ele quer votar", diz o deputado federal Marcus
Pestana (PSDB-MG), secretário-geral do partido. "Mas, ao restringir as doações por cartão de crédito a um limite
pequeno, isso inibe a intenção de que a arrecadação se concentre no período pré-eleitoral".
Para fazer uma vaquinha virtual, o candidato precisará contratar uma empresa credenciada pelo TSE. As
doações ficarão retidas até o início do período eleitoral. Somente a partir de 15 de agosto, com as candidaturas já
registradas, o dinheiro poderá ser gasto.
Fontes interpretam que o raciocínio do TSE, ao estimular as doações por cartão de crédito, foi o de que isso
facilita o reembolso caso o candidato desista de concorrer e não registre a candidatura.
Porém, na opinião de Pestana, "a regra atual é o paraíso dos milionários", uma vez que esse limite de 10%
da renda bruta não vale para o autofinanciamento - ou seja, o candidato rico pode colocar quanto dinheiro quiser
na campanha. "Vai virar uma plutocracia. Ao não limitar o autofinanciamento, a lei privilegiou o poder econômico
dos milionários", diz Pestana. "Para contrapor isso, há que se flexibilizar os mecanismos de crowdfunding".
Pestana vê o financiamento coletivo, que será utilizado pela primeira vez pela maior parte dos candidatos,
como "um grande instrumento e que pode ser um grande aprendizado e um grande avanço para a democracia
brasileira". "Se essa experiência for exitosa, pode apontar até para o fim do fundo eleitoral".
O financiamento pela internet já foi usado anteriormente em eleições no Brasil, mas ganhou impulso em
2016 com a proibição de doações de empresas. O caso mais bem sucedido é o da campanha do deputado
estadual Marcelo Freixo (Psol) à Prefeitura do Rio. Ele conseguiu, por meio da "vaquinha virtual", arrecadar R$ 1,8
milhão - o equivalente a 80% de seus gastos. Ao todo, foram 14 mil doadores, número recorde de engajamento
em campanhas eleitorais no país. O valor médio da doação foi de R$ 129, aproximadamente.
"Se olhar para o cenário de 2016 como um todo só deu certo para a gente", diz Felipe Caruso, um dos
sócios do Bando, consultoria que comandou a arrecadação de recursos para a campanha de Freixo. "O custo total
da eleição foi de R$ 2,9 bilhões, mas o financiamento coletivo não chegou a R$ 3 milhões".
Nas próximas eleições, porém, o cenário tende a ser diferente - ao menos na expectativa dos partidos e
candidatos. Criador da Essent Jus, uma ferramenta eletrônica que pode ser utilizada para automatizar o processo
de arrecadação e prestação de contas, o empresário Guilherme Sturm diz ter atendido 300 clientes, entre partidos
e candidatos, de 17 siglas diferentes em 2016. "Neste ano, já tenho negociações avançadas com 2,2 mil pré-
candidatos em todo o país", afirma.
Pré-candidato ao governo de Goiás, o senador Ronaldo Caiado (DEM), por exemplo, está prestes a assinar
contrato com cerca de 40 empresas que já se cadastraram ou estão em vias de se cadastrar junto ao TSE para
fazer a captação de recursos para campanhas eleitorais.
Pela lei atual, um postulante ao Planalto pode gastar, no máximo, R$ 70 milhões para promover sua
candidatura. Contratado para ser o coordenador digital da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência, o
publicitário Marcelo Vitorino disse que gostaria de ver a vaquinha virtual financiar ao menos 10% dos gastos do
presidenciável tucano.
"Não é só pelo recurso, mas pela importância. Não é questão simplesmente de dinheiro, mas de
engajamento", diz ele. "Acho plenamente possível chegar a esse número. Mas nós vamos ter que mostrar para o
eleitor que vale a pena acreditar nas propostas".
O Rede, por sua vez, montará uma plataforma própria para arrecadar recursos para o partido, mas que só
poderá começar a funcionar depois de 15 de agosto - até lá, apenas candidatos poderão arrecadar e por meio das
empresas cadastradas no TSE.
Gisela Moreau, coordenadora de comunicação, diz que o partido fará uma campanha "franciscana", mas crê
ser possível arrecadar entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões por esse meio.
"Seria maravilhoso [conseguir esse montante], pela simbologia do protagonismo do doador", afirma. "O
financiamento coletivo é uma forma de engajamento e de o eleitor se manifestar contra esse equívoco que é o
financiamento eleitoral no Brasil".

Crise estanca queda de mortes na infância


Ligia Guimarães e Catherine Vieira
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 36 / 48

Após mostrarem melhoras significativas por mais de uma década, os indicadores de mortalidade infantil
apontam que esse ritmo de avanço foi bastante reduzido na taxa geral e já registra retrocessos preocupantes nos
números de mortes evitáveis para crianças entre um mês e quatro anos. Em 2016, dado mais recente disponível, o
número de óbitos nesta faixa etária aumentou 11%, segundo números disponíveis no Ministério da Saúde, após 13
anos de queda. A alta em 2016 foi generalizada, apenas Rio Grande do Sul, Sergipe, Paraíba e Distrito Federal
tiveram redução das mortes nesta faixa. Em alguns locais, como Roraima, o número mais do que dobrou.
O número de mortes entre 1 mês de vida e um ano de idade também aumentou no país em 2016, mas
menos, cerca de 2%. Como as mortes neonatais (até um mês) continuam caindo, o número total de mortes entre
zero e cinco anos não subiu, mas o ritmo de redução vem se desacelerando.
Os dados acenderam um alerta e tem sido monitorados com atenção pelo Ministério da Saúde. A pasta não
fechou a taxa global de mortalidade infantil ajustada oficial do país em 2016. Os dados brutos foram consolidados
pelo Observatório da Criança e do Adolescente, mantido pela Fundação Abrinq, e indicam uma piora na taxa, para
12,7 mortos em mil nascidos vivos em 2016. Em 2015 esse número era de 12,4.
Outro dado de mortalidade infantil, da Unicef, que usa fonte diferente para os nascidos vivos (a estimativa
das Nações Unidas) e observa as mortes neonatais (até um mês), não registra essa piora. A taxa média sai de 8,2
para 7,8 na passagem de 2015 para 2016. A estimativa para taxa de mortalidade infantil média da Unicef ficou em
13,5 em 2016 (era 14 em 2015). No entanto, nas estatísticas é visível que a melhora mais significativa vista nos
primeiros anos da década perdeu tração.
A brutal recessão, somada à crise fiscal, refletida na escassez de recursos públicos e cortes em
determinados programas, além da grave seca que atingiu locais do Nordeste do país são apontados como alguns
dos fatores determinantes para o aumento das mortes.
Segundo a doutora Fatima Marinho, diretora do departamento que consolida e analisa esses dados no
Ministério da Saúde, a taxa de 2016 não foi ainda finalizada, mas ela considera relevante observar os números
absolutos quebrados por faixas, até porque houve uma redução atípica no número de nascimentos em 2016 - ano
em que se multiplicaram os casos do vírus zika - que em alguns estados chegou a 9%.
A taxa de mortalidade infantil considera o número de mortos até um ano a cada mil nascidos vivos.
Monitora-se ainda a taxa que se chama de mortalidade na infância, que considera o número de crianças de até 5
anos mortas a cada mil nascidos vivos.
"O número de mortes infantis, no geral, em 2016 cai, embora se reduza a velocidade de queda. No entanto,
vemos que as mortes pósneonatais [após 28 dias de nascido] e até 4 anos aumentam", observa ela. Para Fatima,
isso mostra que na parte neonatal, mais influenciada pela tecnologia, a evolução continua, no entanto, as faixas
que são mais vulneráveis à piora da pobreza, mostram altas que estão sendo acompanhadas com atenção.
"A mortalidade pós-neonatal, que é a mais sensível ao desenvolvimento social, está tendo um repique.
Algumas dessas causas de morte mostram aumento em 2016 e projeta aumento para anos seguintes também.
Algumas são muito associadas à pobreza, por exemplo, as gastrointestinais, que vinham reduzindo fortemente,
mas tem repique em 2016. Já vínhamos observando e assinalando esses problemas, então vamos ver em 2017 se
isso se mantém ou conseguimos reverter", afirma Fatima.
Ela lembra, no entanto, que o país conseguiu atingir as metas do milênio (reduzir dois terços da mortalidade
infantil entre 1990 e 2015) em 2012 e os estados que não cumpriram a meta foram alguns dos mais ricos.
"Nordeste e Norte cumpriram muito além e aí reduziram a desigualdade", diz.
Especialistas consultados pelo Valor avaliam que a piora dos indicadores ligados à sobrevivência e ao
cuidado com a primeira infância, como a desnutrição, foram afetados de maneira significativa pelo encolhimento
de programas especializados em assistência à saúde da mãe e ao aleitamento materno.
Levantamento feito pela Fundação Abrinq aponta que alguns programas tiveram corte nos investimentos em
2016. Um exemplo é o programa Rede Cegonha, voltado à atenção à mãe no pré-natal, parto e nascimento, e o
desenvolvimento da criança até os dois primeiros anos de vida. Em 2015, foram gastos no orçamento federal só
R$ 21 milhões de R$ 172 milhões previstos; no ano seguinte, o valor liquidado caiu a R$ 18,3 milhões, dos R$ 117
milhões previstos no início daquele ano.
No Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), em que o governo federal repassa aos Estados
recursos para garantir a alimentação na escola para alunos de todas as fases da educação pública, também
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 37 / 48

encolheu o volume liquidado no Orçamento de R$ 3,7 bilhões para R$ 3,4 bilhões. "Há uma fragilização
considerável das políticas sociais voltadas à criança", diz Denise Maria Cesario, gerente executiva da Fundação
Abrinq.
Outro quadro que piorou foi o da desnutrição. O percentual de crianças menores de 5 anos em desnutrição
(de baixa estatura para a idade) aumentou de 12,6% para 13,1% de 2016 para 2017, de acordo com dados do
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) reunidos pela Fundação Abrinq. Também em 2015 e 2016
ficou estagnado em cerca de R$ 27 bilhões o orçamento do Bolsa Família, que transfere renda diretamente às
famílias em situação de pobreza e extrema pobreza.
Também aumentou em 14 Estados a desnutrição em crianças menores de cinco anos, indicador que mede
o número e percentual de crianças menores de 5 anos com baixa estatura e muito baixa estatura para a idade, de
acordo com os dados do Sisvan.
Para o coordenador de políticas públicas do Insper, Naercio Menezes, o encolhimento de gastos sociais
durante a crise econômica reflete decisões equivocadas a respeito das prioridades do gasto público,
especialmente em tempos de recessão, quando a população vulnerável é a mais atingida. Ele destaca que,
mesmo do ponto de vista fiscal, é muito mais eficiente e barato investir no desenvolvimento da primeira infância do
que corrigir erros na população adulta, como déficit de educação e criminalidade.
"O aluno vai repetir de ano, porque sobreviveu a condições muito precárias ao longo da vida. Aí, depois,
chega no ensino médio e sai porque está muito velho, porque não acompanha. Não consegue entrar no mercado
formal, fica rodando entre o desemprego, entre ser 'nem-nem', e eventualmente acha que o crime vale mais a
pena", exemplifica o pesquisador. Naercio cita exemplos de gastos públicos que poderiam ser cortados antes que
fossem prejudicados os programas sociais voltados às crianças pobres.
"Mesmo em situação de crise, você tem que priorizar essa áreas para evitar mais o problema futuro e tirar
subsídios injustificados", afirma citando o financiamento de dívidas tributárias, Refis e dívidas rurais. "Você segura
todas essas despesas porque a população mais vulnerável não tem poder de pressão", afirma.
"A mortalidade infantil não reflete apenas problema de renda e segurança alimentar, mas todo o
atendimento materno e infantil", afirma a pesquisadora Lena Lavinas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). "Os dados de mortalidade infantil até um ano estão muito mais ligados à provisão dos serviços adequados
à mãe e à criança. Portanto, isso diz respeito à qualidade e quantidade da oferta de serviços de saúde. E que diz
respeito a uma série de outras coisas, como as condições de saneamento em que a criança vai morar", diz.
Lena cita também a estagnação de programas focados em levar saúde a famílias em localidades isoladas,
como o Mais Médicos. "A queda da mortalidade infantil estagnou. Isso reflete uma piora das condições de vida em
que as crianças não estão sendo preservadas, e não tem nada a ver com Bolsa Família, mas com saneamento,
saúde".
Fatima, do Ministério da Saúde, concorda que o encolhimento do Mais Médicos pode ter tido efeitos
indesejáveis. Ela cita o exemplo do semiárido nordestino. "Onde houve aumento de morte por diarreia?
Geralmente na população muito pobre. Não se morre mais por isso, mas houve um repique. Vemos lugares nos
municípios do semiárido, por exemplo, que eram mais atendidos pelo programa Mais Médicos, que tinham
reduzido bastante essas mortes, e agora isso volta a crescer porque o programa encolheu também", diz. Ela
observa que houve ainda aumento da morte materna e que restrições de investimentos acabam por causar danos
à saúde coletiva.
Sobre a desnutrição infantil, Lena aponta a implementação de creches públicas como ferramenta importante
para garantir que, mesmo em tempos de recessão e desemprego, as crianças tivessem alimentação adequada. E,
mesmo com a queda da inflação, medidas como o aumento dos preços do gás fragilizaram a segurança alimentar
dos mais pobres.
"Se a gente quer combater a desnutrição infantil não é só pensar que é responsabilidade das famílias, mas
a oferta de pré-escola e creche contribuiria para oferecer uma oferta variada de alimentação para as crianças. É
claro que, se eu tenho um salário mínimo que foi indexado abaixo da inflação e o gás que, em 2017, aumenta
15%, estou empurrando as pessoas para elevar seus gastos com alimentação", diz Lena.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 38 / 48

Servidores migram de regime previdenciário


Marta Watanabe
Paulo Portinho tomou posse como analista da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em fevereiro de
2012, praticamente um ano antes da mudança no regime previdenciário dos servidores públicos federais. Quem foi
contratado a partir de 4 de fevereiro de 2013 passou a ter a aposentadoria como funcionário público federal
limitada ao teto do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), com a opção de contribuir em separado para a
previdência complementar dos servidores.,
Para muitos, Portinho provavelmente teve sorte por ter sido contratado num regime que lhe garantiu a
aposentadoria pelo salário integral, considerada uma das grandes vantagens do serviço público. Em abril do ano
passado, porém, o analista abriu mão disso e migrou para a previdência complementar instituída desde fevereiro
de 2013. O analista fez a opção, irrevogável e irretratável, possibilitada por uma lei federal que permite essa
migração aos servidores públicos federais.
Portinho não está sozinho nessa decisão, embora ainda sejam relativamente poucos os que tomaram
caminho semelhante. Segundo dados da Funpresp, órgão que administra a previdência complementar dos
servidores federais do Poder Executivo, até 30 de abril 2.767 servidores públicos federais saíram do regime
próprio de previdência social. Destes, 75% - 2.065 servidores - aderiram à previdência complementar.
Abrir mão da aposentadoria integral não é apenas uma escolha dos funcionários do governo federal, a quem
foi dada opção da migração, com prazo até 27 de julho. Em São Paulo, numa atitude considerada "surpreendente"
pelo governo paulista, o Sinafresp, sindicato que reúne os ficais de renda do Estado, foi à Justiça para garantir que
os filiados contratados antes de 21 de janeiro de 2013 tenham o direito de abrir mão do regime próprio de
previdência social, o que lhes daria aposentadoria pelo último salário, e migrar para a previdência complementar.
De forma semelhante à mudança em âmbito federal, nesse regime de previdência complementar a
aposentadoria do servidor do governo paulista fica limitada ao teto do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e
o funcionário recebe, opcionalmente, um benefício complementar cujo valor depende do quanto o funcionário
poupar e do período de tempo no qual fará a reserva de recursos. Até o valor do teto do INSS a contribuição do
servidor é de 11% e a do governo estadual, de 22%. Acima do teto o servidor escolhe quanto quer recolher e a
contrapartida do Estado é limitada a 7,5%.
A ação judicial mostra que a percepção da iminência da reforma previdenciária e do seu impacto sobre as
aposentadorias dos servidores públicos é cada vez mais intensa, diz Carlos Henrique Flory, diretor-presidente da
SP PrevCom, órgão que administra a previdência complementar do servidores do governo paulista. "Cada vez
mais os servidores percebem que uma mudança virá daqui a não muito tempo e que a aposentadoria não será de
100% do salário." Segundo a PrevCom, o projeto de lei que autoriza a migração do funcionário do Regime Próprio
de Previdência Social (RPPS) para o de previdência complementar ainda está sendo elaborado na Secretaria da
Fazenda de São Paulo.
Alfredo Maranca, presidente do Sinafresp, diz que o sindicato moveu ação coletiva depois que alguns ficais
de renda foram ao Judiciário em processos individuais para solicitar a migração para a previdência complementar.
Segundo ele, a ideia foi garantir o direito embora não se saiba quantos fiscais se interessarão pela migração. A
tendência, avalia, é de que se interessem pela mudança aqueles que entraram um pouco antes de janeiro de 2013
e que tenham perspectiva de contribuir ainda por um período relativamente longo pela frente. "Há uma percepção
de desmantelamento da previdência pública, principalmente entre os mais jovens."
Portinho, que fez a migração na esfera federal, tem atualmente 45 anos e avalia que enfrentará um
horizonte de 20 anos de trabalho antes de se aposentar. Para ele, o déficit crescente da previdência é algo
incontestável, que vai piorar com o envelhecimento da população. Quem deve se aposentar a partir de 2030, tem
99% de probabilidade de precisar complementar significativamente a aposentadoria com recursos acumulados
fora da previdência pública, avalia. "Direito adquirido e expectativa de direito são robustos conceitos jurídicos, mas
fragilíssimos conceitos econômicos. Não há ordem judicial que faça aparecer um dinheiro que não há", aponta o
analista em artigo que escreveu sobre o assunto.
Segundo estatísticas da Funpresp, que administra a previdência complementar da União, 89% dos que
migraram possuem até 44 anos de idade, sendo que 53% tinham mais de dez anos de contribuição ao RPPS
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 39 / 48

quando fizeram a opção. A migração é considerada mais vantajosa por quem ganha mais: 86% dos que foram
para a previdência complementar tem renda acima de R$ 14 mil.
Ao optar pela migração, o servidor paga 11% de contribuição sobre o valor até o teto de pagamento de
aposentadorias pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), atualmente de R$ 5.645,80. Também até esse
valor a União contribui com 22%. Acima desse valor, dentro da previdência complementar do Funpresp, o
funcionário pode contribuir com quanto quiser e a contrapartida da União é de até 8,5% sobre a faixa entre o valor
do teto do INSS e o do teto constitucional para servidores públicos.
Portinho diz que a vantagem imediata do servidor ao fazer a migração é poder limitar o pagamento da
alíquota de 11% de contribuição do funcionário ao teto do INSS. No RPPS o servidor paga 11% sobre toda a
remuneração, inclusive a parte acima do teto da aposentadoria pública. Essa alíquota de 11%, lembra Portinho, é
a que o governo federal, preocupado com o ajuste fiscal, cogitou elevar para 14% para gerar receitas.
O analista da CVM avança ainda mais nos cálculos. Hoje os servidores aposentados pelo regime próprio
ficam sujeitos ao Imposto de Renda de 27,5% sobre os recebimentos e pagam 11% sobre a parcela que
ultrapassa o teto do INSS. Se acumular recursos pela previdência privada, é possível, diz ele, pagar 10% de IR
sobre o valor retirado, após dez anos de aporte. Dependendo do plano, o valor aplicado também pode ser abatido
na declaração do Imposto de Renda. A migração, diz ele, também traz mais flexibilidade. "Se eu decidir sair do
serviço público, levo o patrimônio acumulado por mim no Funpresp", argumenta. "Mas a minha ideia não é
convencer todos sobre a migração. Essa na verdade é uma escolha muito pessoal." Cada um, diz ele, precisa
fazer seus cálculos e tomar sua própria decisão de investimento.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 40 / 48

Servidores querem eleger bancada própria


VERA BATISTA
De olho nas eleições e na defesa dos interesses da categoria, os servidores inauguram um estilo próprio de
fazer campanha política. No pleito de 2018, pela primeira vez, todos os pré-candidatos egressos do funcionalismo
público estarão reunidos em uma única plataforma que vai elencar nomes e propostas dos postulantes - das três
esferas (federal, estadual, municipal) e dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciários) - de todo o país. O
objetivo é estimular o voto nesses nomes específicos, com a intenção de construir uma bancada parlamentar
comprometida com "o fortalecimento dos serviços e das carreiras públicas e de investimentos em um Estado
republicano, eficiente e sem aparelhamento partidário". A iniciativa partiu da Pública Central do Servidor, criada em
10 de agosto de 2015.
A ação é plural, multipartidária e faz parte da campanha do voto consciente do servidor público nas eleições
de 2018, que será lançada em 5 de julho, na Associação dos Fiscais de Renda em São Paulo (Afresp). Segundo o
presidente da Pública, Nilton Paixão, os servidores têm em mãos mais de 46 milhões de votos, um patrimônio que
partido algum vai desprezar. "São 16 milhões de votos dos funcionários público e um potencial de influência em
mais 30 milhões dos familiares. Temos de ter consciência e participar das eleições de forma organizada e com
sincronismo de intenção de voto. Mesmo que livre nos indivíduos, mas afinados nos valores para onde
acreditamos que o Estado e a democracia devam rumar", salienta Paixão.
No momento em que as campanhas ainda não decolaram, o número de pessoas que se declararam
dispostas a concorrer ao pleito ainda é pequeno. Levantamento preliminar na Pública estima que, até agora,
oficialmente, 110 servidores pretendem se candidatar, 60% deles pela primeira vez. Em 2016, a Federação
Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) plantou a primeira semente dessa estratégia de contabilizar os
associados candidatos, para reuni-los em torno de uma causa comum. Elencou os policiais que se elegeram
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 41 / 48

naquele ano. Embalados pela projeção que a Operação Lava-Jato proporcionou, 21 agentes, escrivães e
papiloscopistas foram bem-sucedidos nas eleições municipais: quatro vereadores, seis prefeitos e dois vice-
prefeitos.
Este ano, a empreitada da federação se manteve. Em uma reunião fechada, na última sexta-feira, 21 pré-
candidatos policiais, de todas as colorações partidárias, se reuniram em Brasília para discutir questões como
financiamento de campanha, divulgação de plataformas pelas redes sociais e mídias tradicionais, entre outros
assuntos. "É uma frente suprapartidária. A partir do dia 22 de maio, de acordo com o calendário eleitoral, será
criado um crowdfunding (a chamada vaquinha on-line ou fundo de financiamento coletivo) para reforçar os
recursos de quem não faz parte do fundo partidário", explica Flávio Werneck, vice-presidente da Fenapef.
Impact.
O impacto dessa união de forças entre servidores promete ser grande, de acordo com o cientista político David
Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB). "É natural que os servidores queiram formar sua bancada.
Dependendo da rede de relacionamento e da burocracia que ele representa, a base de votos pode se multiplicar
com essa iniciativa inédita. No Brasil, pelo menos, essa mobilização de entidade ampla, nacional, é novidade",
assinala Fleischer.
Para outros analistas, no entanto, há um lado, ainda não dimensionado, que é a força política que algumas
categorias, já com grande poder de barganha, ganharão. "A briga com o governo para elevar salários e expandir
gastos vai se tornar estrondosa. Com um grupo de parlamentares à disposição, os servidores vão fazer passar
qualquer coisa que lhes agrade. Isso começa a ficar perigoso", diz a fonte.
Parâmetro.
O Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) fez uma carta de princípios, com os
critérios traçados para as eleições de 2018. O candidato que assinar o documento assumirá o compromisso de
cumprir aqueles objetivos que são, principalmente, fortalecimento do Estado democrático de direito, valorização
dos servidores e qualificação dos serviços públicos. Caso eleito, terá que exercer o mandato parlamentar
observando essas diretrizes e defender a revisão da Emenda Constitucional 95/2016 (que estabelece o teto dos
gastos), para ampliar o espaço fiscal no Orçamento da União. Também terão de pregar a diminuição dos cargos
de livre nomeação e ampliação da participação de concursados em funções estratégicas; um sistema tributário
progressivo, com redução de impostos sobre o consumo, tributação de distribuição de lucros e dividendos, e
equidade para os trabalhadores, inclusive com correção real da tabela do Imposto de Renda.
O servidor terá ainda a missão que lutar para que cargos públicos com atribuições definidas em lei não
possam ser ocupados por trabalhadores terceirizados e para que a estabilidade seja mantida. Além de exigir
concursos periódicos, estruturação de carreiras e capacitação permanente e manutenção dos direitos
previdenciários vigentes para ativos e inativos e seus pensionistas. "O que se pretende é que essa aliança
fortaleça os servidores. Também é nosso propósito continuar parcerias com parlamentares que tradicionalmente
são nossos aliados", afirma Rudinei Marques, presidente do Fonacate.
Praticamente todos os servidores estão optando pelo financiamento coletivo. "Temos propostas especificas
da carreira, como diminuição dos recursos processuais, foco no combate à corrupção, e também a transparência
na prestação do serviço e o fim do foro privilegiado", destaca Flavio Werneck, que se candidatará a deputado
federal pelo PHS/DF. Paulo Martins, presidente da Associação dos Auditores do TCU (Auditar), inicia a jornada
como postulante a vaga de deputado distrital no Avante/DF, com a ideia de mudança e combate à corrupção. Aos
27 anos, já está há cinco no tribunal. "Vivemos um apagão de gestão no Distrito Federal e de precarização no
serviço público. Temos, principalmente, que restabelecer o diálogo", afirma.
Anjuli Tostes, auditora da CGU, é filiada ao Psol e quer ser eleita deputada federal. "Além da pauta da
defesa e valorização do serviço público, não se pode abandonar a causa do direito à moradia, do bem-estar, da
regularização das terras e do direito ao transporte urbano", destaca. Vilson Romero, ex-presidente da Anfip, quer
uma vaga como deputado federal pelo PDT/RS. "Mais de 2,5 milhões de aposentados do INSS e do serviço
público querem tratamento de qualidade. É isso, acima de tudo, que pauta a minha candidatura..
O advogado da União Waldir Santos, que se candidatará a deputado federal pela Bahia, já tentou se eleger
em 2010. Agora, pelo Partido Verde, defende uma renovação efetiva na política. "Não é só um candidato novo. As
pessoas precisam saber que já votamos bem. Por exemplo, os votos totais dados aos deputados do DF, como
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 42 / 48

ocorre e qualquer estado, oscila entre 20% e 30% do total. A maioria não vota em quem ganhou. O erro está nos
candidatos bons, honestos, que não compram votos, mas que elegem os corruptos por integrarem a mesma
coligação ou o mesmo partido. É assim a nossa legislação, baseada no sistema de votação proporcional para
deputados e vereadores", ressalta.
Carta de princípios da Fonacat.
Candidato se compromete, caso eleito, a exercer o mandato parlamentar observando as seguintes diretrizes
traçada.
» Defesa da revisão da Emenda Constitucional 95/2016, para ampliar o espaço fiscal no Orçamento da
União> Manutenção do Estado de bem-estar social inscrito na Constituição de 1988> Diminuição dos cargos
de livre nomeação e ampliação da participação de concursados em funções estratégica.
» Defesa de um sistema tributário progressivo, co.
redução de impostos sobre o consumo, tributação de distribuição de lucros e dividendos, e equidade para os
trabalhadores, inclusive com correção real da tabela do Imposto de Rend.
» Defesa de que cargos públicos com atribuições definidas em lei não possam ser ocupados por
trabalhadores terceirizado.
» Defesa da estabilidade no serviço público como instrumento de proteção do Estado diante da
discricionariedade da agenda política dos governo.
» Defesa da profissionalização no serviço público, por meio de concursos periódicos, estruturação de
carreiras e capacitação permanente> Defesa da plena implementação da Convenção 151 da OIT, que trata da
negociação coletiva, do direito de greve e da organização sindical no serviço público> Defesa dos direitos
previdenciários vigentes dos servidores públicos ativos e inativos e pensionista.
» Manutenção do poder aquisitivo da remuneração ou do subsídio dos servidores público.
Fonte: Fonacate

PM salva mães e mata assaltante


O governo de São Paulo homenageou ontem a cabo Kátia da Silva Sastre, 42 anos, que, de folga, reagiu a
uma tentativa de assalto e matou um ladrão armado em frente à escola das filhas, antes da comemoração de Dia
das Mães na instituição. A cerimônia ocorreu em um batalhão da PM na Vila Esperança, Zona Leste da cidade. O
suspeito, de 21 anos, chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Com flores, o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), parabenizou Kátia pela "ação tecnicamente
perfeita", porque ela protegeu quem estava no colégio, conseguiu imobilizar o assaltante e, com o celular, chamou
o resgate. "Ela foi muito técnica e muito corajosa. Ela é mãe de duas meninas, casada com um PM, que foi
atingido por uma bala recentemente, e, mesmo assim, teve a coragem de reagir, quando não era obrigação dela,
porque estava de folga", disse o governador.
Durante a cerimônia, Kátia, que está há 20 anos na corporação, contou que, no momento, só pensou em
defender as mães e as crianças que estavam no local. "Essas pessoas se descontrolam facilmente. Eu não sabia
se a reação dele seria atirar nas crianças ou na mãe ou no responsável que estava na porta da escola", afirmou.
O caso ocorreu em frente ao Colégio Ferreira Master, escola particular que fica em Suzano, Região
Metropolitana de São Paulo. O ladrão, que portava um revólver calibre 38, teria abordado outras mães que
aguardavam a abertura do portão da unidade.
Ao perceber a movimentação e ouvir uma dessas mulheres alertar sobre o assaltante, Kátia se afastou,
sacou a arma e disparou três vezes contra o homem, mas só o terceiro tiro o atingiu. Ele foi socorrido e
encaminhado à Santa Casa de Suzano, contudo, morreu no hospital.
Um vídeo que mostra a ação da PM viralizou nas redes sociais. "Heroína! Merece não só condecoração,
mas uma promoção também, pois foi corajosa e competente, um exemplo para a PM!", parabenizou um internauta.

"Sem a indefinição política, cresceríamos muito mais"


Paula Pacheco
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 43 / 48

Roberto Corte.
As vendas de caminhões, que sofreram com a crise brasileira nos últimos anos, têm apresentado uma
recuperação desde meados de 2017. Com isso, as montadoras falam na retomada dos investimentos. É o caso da
MAN, braço de caminhões e ônibus da Volkswagen, dirigida na América Latina por Roberto Cortes. Na companhia,
a previsão é de que os investimentos nos próximos anos cheguem a R$ 1,5 bilhão. Segundo o executivo, diversos
fatores poderiam acelerar a retomada das vendas e incentivar o aumento dos aportes de recursos no setor. Um
deles é a aprovação pelo governo do programa Rota 2030, que precisa ser regulamentado por meio de medida
provisória e prevê que as montadoras abatam créditos fiscais como contrapartida aos investimentos em pesquisa
e desenvolvimento. Além disso, está sendo discutida a redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) à
medida que o veículo apresentar maior eficiência energética, como no caso dos modelos híbridos. As discussões
entre empresas e governo se arrastam há meses, porque não se chega a um consenso sobre onde será possível
abater o pagamento dos tributos, se em qualquer imposto federal ou apenas no caso do Imposto de Renda. Para
Cortes, a entrada em vigor do Rota 2030 é fundamental para aumentar a confiança das empresas, já que hoje,
segundo ele, falta uma política governamental para o setor. Apesar da indefinição na política setorial, as vendas de
caminhões estão em trajetória de alta, como mostram os números da Anfavea, a entidade que representa as
montadoras. Nos primeiros quatro meses de 2018, elas aumentaram 57% na comparação com 2017. Graças a
esse reaquecimento, a MAN aumentou o expediente na linha de produção de quatro para seis dias por semana,
mais uma hora extra por dia. A montadora fechou recentemente um contrato para a venda de 3,4 mil ônibus para o
programa federal Caminho da Escola, que atende as prefeituras com o transporte público. A licitação deve render
nos próximos 18 meses, um total de R$ 70 milhões à companhia.
As vendas de caminhões vêm se recuperando. O avanço poderia ser mais rápido.
A indústria vem crescendo de forma expressiva. Só no primeiro quadrimestre, o aumento das vendas foi de 57%
na comparação com o ano passado. Em janeiro de 2017, foram vendidos por dia 154 caminhões. Neste ano,
foram 246, o que dá uma ideia da recuperação. Para nós, o mais importante é que as vendas têm crescido na
comparação mês contra mês.
Os números são expressivos porque o Brasil viveu uma profunda recessão nos últimos anos. Até que ponto
a frota envelheceu.
O momento de uma forma geral é favorável. Por causa da recessão nos últimos anos, a frota de caminhões deixou
de ser renovada e ficou mais velha do que deveria, portanto menos econômica, porque requer mais manutenção.
Por isso, a viabilidade de trocá-la por modelos novos aumentou.
Qual o peso da redução da taxa de juros no seu setor.
Um fator importante nesse contexto é a redução da taxa de juros, que não tem mais o peso de anos atrás como
um inibidor do mercado consumidor. O Brasil está no caminho certo no quesito macroeconômico, inclusive pela
redução da Selic, o que influencia na propensão a investir, por exemplo, na troca do caminhão usado por um mais
novo. Um bom termômetro da venda de caminhões é a economia. Ela está retomando de uma forma geral.
O setor já recuperou os níveis pré-crise.
Os indicadores de vendas do setor são interessantes, mas estamos longe dos melhores momentos antes da crise.
Começamos trabalhando quatro dias por semana, passamos a produzir cinco dias, agora estamos trabalhando
aos sábados e ainda fazendo uma hora extra por dia. Isso está acontecendo para conseguimos dar conta do
aumento das vendas.
Quais foram os segmentos atendidos pela MAN que reagiram mais depressa.
O agribusiness tem se recuperado com mais rapidez, especialmente por conta do transporte de grãos. Também
vemos essa reação no transporte urbano de produtos, como alimentos e bebidas.
Quais ainda estão com o freio de mão puxado.
O que ainda está devagar são os caminhões que atendem ao mercado da construção civil e obras de
infraestrutura. São investimentos de longo prazo, por isso, talvez a recuperação seja mais demorada.
Recentemente, a MAN assinou um contrato para fornecer 3,4 mil ônibus para o programa federal Caminho
da Escola. Como esse pedido será absorvido pela companhia e qual deve ser o impacto.
Ganhamos essa concorrência, que prevê o direito de vender 3,4 mil ônibus e podemos entregar os veículos em
até 18 meses. A expectativa é de que esse contrato gere perto de R$ 70 milhões e uma parte entrará em caixa
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 44 / 48

neste ano. O governo não vai poder liberar recursos para algumas coisas, inclusive para esse programa, 90 dias
antes das eleições. Portanto, haverá uma interrupção entre julho e setembro, com previsão de retomada das
encomendas a partir de novembro.
Como a incerteza eleitoral influencia na tomada de decisões no curto prazo.
Influencia mais nos investimentos de longo prazo. Muitas empresas têm decidido tomar suas decisões agora,
outras preferem estudar melhor o cenário. No caso do mercado de caminhões, sinto que a decisão de compra tem
sido descolada da política. Claro que, sem essa indefinição política, estaríamos crescendo muito mais.
Provavelmente em vez do crescimento em "u", seria um crescimento em "v".
O que falta para a economia brasileira melhorar.
Falta levar adiante algumas medidas voltadas às reformas, que apenas começaram. A única, mas nem por isso
menos importante, foi a do teto de gastos. No caso da reforma trabalhista, ainda há muito o que ser feito. Sem
falar da reforma política, é claro. Além disso, precisariam ser alinhados outros aspectos econômicos, como a taxa
básica de juros. Apesar de a Selic estar bem mais baixa, em termos reais, descontada a inflação, ainda é muito
elevada.
As indefinições sobre o programa Rota 2030 têm atrapalhado a definição de planos da companhia.
Tudo que está preso a incertezas não é bom para o ambiente de negócios. No Rota 2030 não é diferente. Nesse
caso, quanto mais demora, mais incerteza há. Querendo ou não, sempre tivemos uma política governamental para
o setor automotivo, mas hoje estamos sem política alguma. A mais recente, a do Inovar Auto, que terminou no ano
passado, foi questionada, mas ainda assim era uma política para a indústria. Um setor como o automobilístico, tão
importante para a geração de renda, com empregos, tem de ser regido por uma política setorial. Essa demora
ainda não afetou as decisões de investimento, porque há uma crença de que o programa vai sair de uma forma
aceitável para o governo e para as empresas.
Como o setor tem reagido a essa demora.
Temos buscado o consenso. Nesse sentido, cada um tem feito seu dever de casa e trabalhado com o cenário de
que teremos uma política para o setor. Temos de reconhecer que há outros assuntos na pauta do governo e o
Rota 2030 é um deles. Espero que em breve isso seja resolvido.
No caso da MAN, as indefinições em torno do Rota 2030 causam que tipo de problema.
Isso gera uma certa ansiedade, porque todos nós estamos investindo e queremos ter uma política que dê a
certeza de que o ambiente de negócios irá propiciar todos os aportes que estão sendo feitos. No caso da MAN,
temos um plano de investimentos de R$ 1,5 bilhão, levando em consideração que aquilo que está dentro do Rota
2030 vai acontecer, seja por meio de incentivos a todo o desenvolvimento feito em pesquisa e na engenharia, seja
pelo reconhecido por meio da redução de imposto ou alguma outra alternativa que justifique a viabilidade
econômica desse investimento.
Quem é Roberto Corte.
O executivo iniciou a carreira no segmento automotivo em 1979. Em 1986, participou da criação da Autolatina,
uma joint-venture entre a Ford e a Volkswagen no Brasil e na Argentina que durou até 1994. Nessa época, foi
convidado pela Volkswagen AG para trabalhar como controller corporativo do Grupo na América do Sul. Desde
1997, é CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus na América Latina. A partir de 2008, passou a ser responsável
também pela marca MAN na região e, desde então, acumula posições nos Conselhos da Volkswagen e MAN
Groups na Alemanha e, mais recentemente, na Volkswagen Truck & Bus holding.
&nbsp.
"Sempre tivemos uma política governamental para o setor automotivo, mas hoje estamos sem.
"Apesar de estar bem mais baixa, a Selic, em termos reais, descontada a inflação, ainda é muito elevada"

Movimento por alianças ainda é difícil e lento


RODOLFO COSTA
A quatro meses e meio da eleição, os partidos lutam para sair do isolamento e tentar unir forças, no sentido
de se tornarem mais atrativos aos eleitores, tanto aqueles com viés mais à esquerda quanto ao centro. Nesse
sentido, a semana passada foi marcada por conversas entre Ciro Gomes (PDT), Manuela D"Ávila (PCdoB) e
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 45 / 48

Guilherme Boulos (Psol). No centro, mais à direita, Solidariedade e PP também se aproximaram, para deixar claro
que a candidatura de Rodrigo Maia não empolgou o eleitorado e que é preciso encontrar um outro caminho. Da
parte do PRB, do empresário Flávio Rocha, começam as conversas com Álvaro Dias, do Podemos, embora alguns
aliados de Rocha estejam dispostos a formar um bloco com PP e Solidariedade, para ampliar o poder de
negociação, seja com Dias, seja com Geraldo Alckmin do PSDB.
Como o registro de candidaturas é apenas em agosto, e até agora nenhum dos pré-candidatos dos partidos
de centro chegou a dois dígitos nas pesquisas, o desfecho dessas conversas ainda vai demorar. Até porque,
avaliam os políticos, é preciso dar um tempo aos postulantes, para ver se algum deles anima o eleitorado, uma
vez que os outsiders vistos com potenciais candidatos nesse campo desistiram.
O ministro aposentado Joaquim Barbosa, por exemplo, chegou a ter 10% nas pesquisas sem sequer
anunciar que seria candidato. A desistência dele em concorrer à Presidência da República mexeu no quadro
eleitoral e fez com que a balança do PSB pendesse para o lado de Ciro Gomes, do PDT.
A expectativa do PDT, de compor com partidos da esquerda, com Ciro na cabeça da chapa, é grande. Para
o líder da agremiação na Câmara, André Figueiredo (CE), o aceno favorável do governador do Maranhão, Flávio
Dino, por um embarque do PCdoB à campanha de Ciro é animador. "Temos a esperança de que corra conosco.
Cria-se uma magnitude forte que pode orbitar com Ciro", diz. Ele, no entanto, não tem expectativas de que o PT e
o PSol apoiem a campanha pedetista ainda no primeiro turno. "Não temos essa ilusão. Mas, para o segundo turno,
temos absoluta convicção de que sim", destaca.
A aposta do líder do PDT de, pelo menos, duas candidaturas de esquerda é compartilhada por outros
políticos, Aliás, ninguém aposta hoje numa candidatura única de centro, ou de esquerda. O PT quer ter um nome
para defender Lula, coisa que Ciro Gomes já adiantou que não fará. Mais ao centro, a união também não está
fácil. O MDB hoje não aprovaria uma coligação com o PSDB, e vice-versa.
Os tucanos mantêm a cautela. O líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT), considera que a saída de
Barbosa leva a corrida eleitoral a ter uma polarização entre esquerda e centro. Ele tem dúvidas sobre a união
entre PSB e PDT. "Não acredito que o PSB feche oficialmente, devido à posição do Nordeste, que tem
acompanhado o PT. Mas é claro que temos um mosaico que ainda não está montado", pondera.
A coligação entre tucanos e emedebistas não é impossível, mas não será automática. "O PSDB não precisa
brigar com ninguém, mas ainda não consegue fazer nenhum tipo de aliança. Vai ter que ter muito diálogo mais
para frente e, em algumas regiões, que tem simpatia com o Geraldo (Alckmin)", analisa. Para ele, costuras
estaduais serão fundamentais para selar uma união nacional.
Vice-líder do governo, o deputado Beto Mansur (MDB-SP) também considera que qualquer movimento mais
consolidado ainda demora. "O governo está conversando com todo mundo. Logicamente, essa questão vai levar
algum tempo. Todos os candidatos estão visitando as bases e rodando o país para ver se fazem alguma
composição. Quem chegar lá na frente com mais apoio deve ser escolhido como candidato do centro", ressalta.
Pulverizaçã.
Comedido, o Vice-líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Izalci Lucas (DF) avalia que um fortalecimento da
campanha de Ciro pode provocar um inevitável entendimento do centro em torno de Alckmin. Ou mesmo um
embarque dos partidos de centro nas pré-candidaturas do MDB, representada pelo presidente Michel Temer ou o
ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Mas ele alerta que a pulverização do centro pode privilegiar os
extremos. "Não podemos dar condições de favorecer o extremismo da esquerda ou da direita", pondera Izalci, em
referência às pré-candidaturas de Ciro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e de Jair Bolsonaro
(PSL).
O deputado Efraim Filho (DEM-PB), vice-líder do partido na Câmara, analisa que é cedo cravar uma união
do centro em decorrência de uma aliança da esquerda, mas também não descarta a possibilidade. "A curto prazo,
acho difícil ter essa convergência. O centro deve esperar alguma decisão do PT. Até lá, os partidos vão esperar e
fazer a análise dos melhores pré-candidatos", avalia.
A avaliação dos partidos de centro é que coligações sejam anunciadas somente em julho. Até lá, as
legendas vão testar o apoio popular na tentativa de cacifar as campanhas para, mais à frente, vender o capital
político arrecadado em caso de união. Embora reconheçam que a esquerda eventualmente venha a se fortalecer,
líderes do MDB, DEM e PSDB entendem que o momento é de conversas, namoros e ensaios. E até o que for
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 46 / 48

fechado agora pode mudar, uma vez que o prazo final para registro de candidaturas é 15 de agosto. Ou seja,
quem prometer ou fechar um compromisso sério agora, ainda terá três meses para mudar de ideia.

Mais de 10 mil vagas abertas em 89 seleções


Lorena Pacheco
O momento é bom para quem quer ser aprovado em um concurso público e conquistar a sonhada
estabilidade. Existem 89 seleções com inscrições abertas, que oferecem, ao todo, 10.545 vagas, nas esferas
municipal, estadual e federal. O maior salário é pago pela Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A (Amazul),
que oferece até R$ 18.635 a profissionais de nível superior. Foram abertas ainda 21 oportunidades temporárias,
além de formação de cadastro reserva.
Os aprovados serão lotados no Rio de Janeiro e em São Paulo, após passarem por análise documental e
defesa de memorial. As inscrições podem ser feitas até 25 e 30 de maio, dependendo do cargo escolhido, por via
postal (AR para Av. Eusébio Matoso, 1.375, 3º andar - Pinheiros, São Paulo-SP, CEP:05423-180) ou
pessoalmente. A taxa custa R$ 100.
O órgão que ganha em número de vagas abertas é a Polícia Civil de São Paulo. A corporação dispõe de 2,5
mil oportunidades para preenchimento imediato, sendo 600 vagas de investigador e 800 de escrivão, cujas
inscrições terminam em 15 de maio; 200 de papiloscopista e 300 de agente de telecomunicações, em 1º de junho;
200 de auxiliar de papiloscopista e 400 de agente policial, em 8 de junho. As remunerações variam de R$ 3.596 a
R$ 9.507 para cargos de nível médio e superior. Os interessados podem se inscrever pelo site
www.vunesp.com.br e as taxas vão de R$ 56,54 a R$ 84,81.
Justiç.
Quem tem nível médio e superior e quer se tornar técnico ou analista judiciário, pode concorrer em dois concursos
públicos abertos pela Justiça de São Paulo e de Santa Catarina. O primeiro deles, o Tribunal Regional do Trabalho
da 2ª Região (TRT-2), com sede em São Paulo, tem 320 oportunidades de analistas e técnicos judiciários para
preenchimento imediato, além de formação de cadastro reserva. Os salários variam de R$ 6.780 a R$ 11.006. As
inscrições vão até 21 de maio, pelo site www.concursosfcc.com.br. As taxas são de R$ 80 e R$ 95.
Já o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) oferece 26 vagas, sendo 17 de nível médio e nove de
superior. Os salários variam de R$ 3.576 a R$ 6.156. As chances são para analistas e técnicos. As inscrições
podem ser feitas até 5 de junho, pelo site fgvprojetos.fgv.br, com taxas de participação que vão de R$ 68 a R$ 85.
Carreira milita.
Para quem deseja ingressar nas Forças Armadas, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica estão com concursos
abertos. A Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), localizada em Campinas, oferece 445 vagas,
sendo 400 para homens e 45 para mulheres. Os aprovados vão ingressar no curso de Formação e Graduação de
Oficiais de Carreira da Linha de Ensino Militar Bélico (CFO/LEMB). O edital também reserva 89 oportunidades a
candidatos negros.
Para concorrer, é preciso ter nível médio, altura mínima de 1,60m para candidatos e 1,55 para candidatas,
além de ter idade entre 17 e 22 anos, completos até o ano de matrícula no curso. As inscrições, que custam R$
90, estão abertas até 8 de junho, pelo site www.espcex.eb.mil.br.
Já a Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM) abriu 285 vagas, sendo 170 para o
Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA), no Rio de Janeiro, e 115 para o Centro de Instrução
Almirante Braz de Aguiar (CIABA), em Belém. Quem quiser concorrer precisa ter nível médio e idade entre 17 e 23
anos até 1º de janeiro de 2019. As inscrições ficam abertas até 8 de junho, pelo site www.marinha.mil.br. A taxa de
participação custa R$ 65.
Para fechar a trinca militar, a Força Aérea Brasileira (FAB) oferece 104 vagas para o Exame de Admissão
do Curso de Adaptação de Médicos da Aeronáutica (CAMAR), de 2019. Para participar, os candidatos não podem
completar 36 anos até o dia 31 de dezembro de 2019. As inscrições vão até 12 de junho, pelo site www.fab.mil.br,
com taxa de R$ 130.
Continuação da Resenha Diária de 14 mai 2018 - Página 47 / 48

Funpresp ganha mais 2.065 servidores


ANTONIO TEMÓTEO
Os servidores têm até 27 de julho para decidir pela migração de regime previdenciário. Quem ingressou no
Executivo antes de 4 de fevereiro de 2013 e no Legislativo antes de 7 de maio do mesmo ano terá direito a deixar
o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS). Dados da Fundação de Previdência Complementar do Servidor
Público Federal dos Poderes Executivo e Legislativo (Funpresp) apontam que, até abril, 2.767 pessoas optaram
pelo Regime de Previdência Complementar (RPC). Desse total, 2.065 servidores, o equivalente a 75%, aderiram
ao fundo de pensão. Procurada, a entidade fechada de previdência complementar do Judiciário e do Ministério
Público da União não detalhou a quantidade de transferências realizadas.
Com a mudança, o trabalhador pode aderir ao fundo de pensão como participante ativo normal, com direito
à contrapartida da União, que se limita a até 8,5% do salário de participação. Para cada R$ 1 depositado pelo
participante, o governo coloca R$ 1. Esse valor é calculado sobre a remuneração menos o valor do teto do
Instituto Nacional do Seguro Social, atualmente em R$ 5.645,80.
Quem optar pela migração ainda terá direito a um benefício especial, com base nas contribuições realizadas
e no período de pagamentos, custeado pelo RPPS. O servidor interessado em mudar de regime deve procurar o
setor de gestão de pessoas do órgão.
Entre os servidores que já realizaram a migração, 86% têm salário superior a R$ 14 mil, 89% têm até 44
anos, 79% são homens e 53% têm mais de 10 anos no serviço público. Além disso, 60% são moradores do
Distrito Federal. Conforme os dados da Funpresp, 46% dos que mudaram de regime têm como órgão de origem o
Ministério da Fazenda e a Advocacia-Geral da União (AGU). Entre as carreiras, 42% são auditores e
procuradores.
O advogado e atuário João Marcelo Carvalho, do escritório Santos Bevilaqua, explica que os servidores
devem analisar a possibilidade de migração com atenção, pois vários fatores complexos envolvem essa decisão.
O especialista fez algumas simulações para avaliar se a migração traria algum ganho salarial na aposentadoria
para os servidores.
Ele concluiu que, no cenário atual, sem a aprovação da reforma da Previdência e sem o aumento da
alíquota de contribuição para aposentadoria de 11% para 14%, a migração não se justifica. Porém, se o servidor
acredita que a mudança nas regras para concessão de benefícios será aprovada pelo Congresso Nacional, com
elevação do percentual descontado, a mudança para RPC trará ganho de renda.
Vantagen.
Entre os benefícios de migrar para o RPC e aderir a um fundo de pensão está o fato de que os recursos
acumulados são individuais e capitalizados, explica Renato Follador, especialista em Previdência. Em caso de
desligamento do serviço público, o montante acumulado poderá ser resgatado ou transferido por meio de
portabilidade para outro fundo.
No RPPS, por se tratar de um regime de repartição simples, o servidor que perde o vínculo averbará
somente o tempo de contribuição. O valor pago ao fundo de pensão é deduzido mensalmente da base de cálculo
do Imposto de Renda diretamente no contracheque para quem aderir à Funpresp. Além das contribuições via
contracheque, é possível fazer aportes facultativos, limitados a 12% da renda bruta anual tributável, que permite
aumentar as deduções no Imposto de Renda.
O participante ainda pode garantir tributação de 10% sobre o benefício previdenciário recebido da Funpresp,
caso escolha o regime de tributação regressivo e permaneça no plano por um prazo mínimo de 10 anos.
Atualmente, o fundo de pensão dos servidores públicos possui 58.885 participantes, é patrocinado por 188 órgãos
públicos, tem R$ 894 milhões de patrimônio e acumulou rentabilidade de 10,17% nos últimos 12 meses.
O servidor que quiser se manter no RPPS também pode aderir à Funpresp, mas como participante ativo
alternativo, ou seja, sem a contrapartida da União.

Divisão de Relações com a Mídia – Transparência com segurança!


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