Psicologia do Desenvolvimento da Adolescência, Adultez e Velhice
Docente: Prof. Nuno Amado & Prof. Constança Biscaia
Construção da Identidade “A importância conferida ao estudo da identidade foi variável ao longo da trajetória do conhecimento humano, acompanhando a relevância atribuída à individualidade e às expressões do eu nos diferentes períodos históricos” (Jacques, 1998, p.159).
O homem constitui-se, a partir de um suporte biológico que lhe dá condições
gerais de possibilidades – próprias da espécie homo sapiens sapiens – e condições particulares de realidade – próprias da sua carga genética. No entanto, as características humanas historicamente desenvolvidas encontram-se objetivadas na forma de relações sociais que cada indivíduo encontra como dado existente, como formas históricas de individualidade, e que são apropriadas no desenrolar da sua existência através da mediação do outro (Sève apud Jacques, 1998, p. 162).
Assim sendo, pode-se concluir logo à partida que a construção da identidade é
social e acontece durante toda, ou grande parte, da vida dos indivíduos. Desde o seu nascimento, o homem inicia uma longa e contínua interação com o meio em que está inserido, a partir da qual construirá não só a sua identidade, como a sua inteligência, as suas emoções, os seus medos, a sua personalidade, entre outros (Lepre, Rita, 2003).
É importante, segundo Jacques (1998), não limitar o conceito de identidade ao
conceito de autoconsciência ou autoimagem. A identidade é o ponto de referência, a partir do qual surge o conceito de si e a imagem de si, de caráter mais restrito.
Apesar de alguns traços do desenvolvimento serem comuns a todas as pessoas,
independente do meio e da cultura em que estão inseridos (como é o caso, por exemplo, da menstruação nas raparigas ou do engrossar da voz nos rapazes), há determinadas características do desenvolvimento que diferem em grande escala quando há divergências culturais. Desta forma, a construção da identidade tem íntima, senão total, dependência da cultura e da sociedade onde o indivíduo está inserido (Lepre, Rita, 2003).
Com base em Erikson (1968/1976), Márcia (1966) estudou empiricamente
quatro modos de “estados de identidade” característicos da adolescência: “Realização da Identidade”; “Identidade de Moratória”; “Insolvência Identitária” e “Difusão da Identidade”.
Maria do Rosário Arcadinho, 31842
Psicologia do Desenvolvimento da Adolescência, Adultez e Velhice Docente: Prof. Nuno Amado & Prof. Constança Biscaia Na “Realização da Identidade”, dá-se a formação da individualização e da auto- orientação. O adolescente está aberto à opinião dos outros, verificando grande capacidade para tomar decisões e assumir compromissos. Na “Identidade de Moratória” existe uma pausa para explorar e procurar alternativas. Os compromissos são, temporariamente, evitados. O adolescente é emocionalmente lábil e evidência frustração e incerteza. Na “Insolvência Identitária”, o adolescente evita fazer escolhas autónomas e é mais orientado pelos outros do que por si próprio. Aceita o papel que lhe impõem sem questionar e tem medo de assumir as responsabilidades que a autonomia transporta. Por fim, na “Difusão da Identidade” existem poucos ou nenhuns compromissos e é dada real importância à relatividade das coisas e à vivência de cada momento. O adolescente sente-se rejeitado pela família e isolado a nível interpessoal. ______
Kimmel e Weiner (1998) citam que, o jovem desenvolve normativamente a sua
identidade quando toma decisões ocupacionais de maneira mais racional e sistémica, marcada pela exploração vocacional e autoconfiança. À medida que tem oportunidades, vai reduzindo gradualmente a lista de possibilidades, escolhendo uma profissão que seja do seu interesse e compatível com as suas aptidões (Sarriera, Jorge, Silva, Marli, Kabbas, Cristina & Lópes, Vanessa, 2001).
Na visão psicológica, os estudos sobre a identidade são tratados geralmente pela
Psicologia Analítica do eu e pela Psicologia Cognitiva (Jacques, 1998), que em comum compartilham a noção de desenvolvimento, marcado por estágios crescentes de autonomia, entendendo a identidade como produto da socialização e garantida pela individualização. Ainda segundo aquele autor, a questão da identidade em Psicologia Social ocupou um lugar central nos estudos de William James.
Assim sendo, na minha opinião, a construção da identidade num individuo
processa-se de uma forma longitudinal, ou seja, é um processo que ocorre ao longo da vida e de forma constante. É na fase da adolescência que o individuo começa a pôr em causa a sua identidade até então formada e continua a alimentar certas características que lhes são comuns com os pares.
Maria do Rosário Arcadinho, 31842
Psicologia do Desenvolvimento da Adolescência, Adultez e Velhice Docente: Prof. Nuno Amado & Prof. Constança Biscaia
Referências
Laurenti, C & Barros, N. F. M. (2000). Identidade: Questões conceituais e contextuais,
2(1).
Lepre, M. R. (2003). Adolescência e Construção da Identidade. Psicopedagogia Online
Web Site. Acedido Maio 05, 2014, em http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=395.
Sarriera C. J., Silva, A. P., Kabbas, P. C. & Lópes, B. V. (2001). Formação da
Identidade Ocupacional em adolescentes, 6(1), 27-31.