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O documento descreve as mudanças políticas, sociais e econômicas no Brasil Imperial após a Guerra do Paraguai, incluindo o crescimento de grupos que defendiam reformas, como os abolicionistas e republicanos. Também discute as resistências a essas mudanças através de revoltas populares, assim como questões religiosas e militares que contribuíram para a crise do Império Brasileiro.
Descriere originală:
Muito bom pra Brasil República
Titlu original
A Crise Do Império Brasileiro Por Marcello Otávio Basile
O documento descreve as mudanças políticas, sociais e econômicas no Brasil Imperial após a Guerra do Paraguai, incluindo o crescimento de grupos que defendiam reformas, como os abolicionistas e republicanos. Também discute as resistências a essas mudanças através de revoltas populares, assim como questões religiosas e militares que contribuíram para a crise do Império Brasileiro.
O documento descreve as mudanças políticas, sociais e econômicas no Brasil Imperial após a Guerra do Paraguai, incluindo o crescimento de grupos que defendiam reformas, como os abolicionistas e republicanos. Também discute as resistências a essas mudanças através de revoltas populares, assim como questões religiosas e militares que contribuíram para a crise do Império Brasileiro.
A CRISE DO IMPÉRIO BRASILEIRO por Marcello Otávio Basile
1 – As novas composições políticas e o clamor pelas reformas
sociais Os anos que se seguiram ao término da Guerra do Paraguai assinalaram um novo e decisivo período de mudanças: - a lavoura cafeeira encontrava-se em acelerada expansão (condições naturais e imigração europeia); - grande aperfeiçoamento dos meios de transportes com a construção de ferrovias; - processo acentuado de urbanização e introdução de diversos melhoramentos – iluminação a gás, rede de esgotamento sanitário, abastecimento domiciliar de água encanada, bondes de tração animal, calçamento com paralelepípedo; multiplicação dos espaços de sociabilidade - passeios públicos, teatros, cafés, confeitarias, livrarias, associações literárias, artísticas e musicais; - notável incremento do comércio e dos negócios – criação de indústrias, bancos, instituições de crédito, companhias de seguro, sociedades anônimas estabelecimentos comerciais variados; - emergem novos grupos sociais – os fazendeiros do oeste paulistas, os empresários, as camadas médias urbanas (profissionais liberais, intelectuais, funcionários públicos, artesãos, pequenos e médios comerciantes) que se mobilizarão e passarão a manifestar suas ideias, aspirações e a disputar o espaço político de forma organizada; - crise política desencadeada pela queda do gabinete liberal de Zacarias de Góis provocada pelas divisões políticas ocorridas em decorrência do andamento da guerra do Paraguai e do agravamento da crise financeira produzida por esta. Com a volta dos conservadores, o Governo foi acusado de usar a máquina administrativa, judiciária e policial e de todo tipo de violência para obter a vitória nas eleições; - as reformas propostas: reforma eleitoral que instituísse a eleição direta nas capitais e cidades com mais de dez mil habitantes; uma reforma policial e judiciaria, que limitasse os poderes dos chefes de polícia e delegados, que confiasse toda a jurisdição definitiva criminal ou cível aos juízes de direitos, e que assegurasse e ampliasse as garantias individuais contra a prisão arbitrária; a suspensão do recrutamento forçado; o fim da Guarda Nacional e a emancipação dos escravos; - uma ala mais radical de liberais históricos fundou em 1868, o Clube Radical, núcleo do futuro Partido Republicano que propunha: o fim da Guarda nacional, da vitaliciedade do Sem ado, do Conselho de estado, do Poder Moderador, a eleição os Presidentes das províncias, o sufrágio direto e universal e abolição da escravidão; - os meios de que se serviram os republicanos para promover essa conscientização foram: a imprensa, os clubes e partidos e as manifestações públicas; - o Manifesto Republicano: a quase totalidade dos seus 58 signatários eram advogados, jornalistas, médicos, engenheiros, professores, funcionários públicos e negociantes. Expressando os anseios dos setores urbanos emergentes, as ideias defendidas pelos republicanos do Rio de Janeiro estavam revestidas de um liberalismo mais democrático (Stuart Mill) que se evidenciava na crítica maior à inconsistência do sistema representativo imperial, na preocupação mais acentuada com as liberdades e garantias individuais. - a fundação do Partido Republicano paulista: destacavam-se os proprietários rurais, especialmente os cafeicultores, sendo a participação de profissionais liberais também expressiva, mas com muito menor peso político em relação aos fazendeiros ou em comparação com o RJ. Os cafeicultores do Oeste Paulista se sentiam sub-representados na política imperial e prejudicados pela centralização, reivindicando, principalmente o federalismo, um governo provincial mais fortalecido e relegaram a solução do problema da escravidão para mais tarde ou para os partidos monarquistas.
2 – A Política reformista do Gabinete Rio Branco
- a Guerra do Paraguai contribuiu para colocar a questão da escravidão como tema de debate na sociedade brasileira. - a ascensão política e social das camadas médias urbanas, pouco comprometidas com o sistema escravista, contribuiu para que se desenvolvesse uma consciência contrária à permanência indefinida da escravidão. Esses setores passaram a constituir o núcleo do movimento abolicionista que tomou forma organizada a partir de fins da década de 1870. Surge e proliferam-se jornais e clubes em defesa da causa, também propagada em conferencias e comícios. - No momento inicial, o movimento abolicionista mostrava-se cauteloso, limitando-se a sensibilizar a opinião pública para o problema e a pregar a adoção de reformas parlamentares que melhorassem a condição dos escravos e promovessem uma emancipação gradual e não a abolição imediata, a agitação das massas e rebeliões nas senzalas. - o projeto apresentado pelo visconde do Rio Branco previa: libertação dos filhos de mães escravas nascidos a partir da data da lei (com ressalvas; a matrícula de todos os cativos em registros municipais (os não matriculados seriam considerados livres); a criação de um Fundo de Emancipação para a libertação de escravos a serem sorteados, e o direito do escravo remir-se quando conseguisse reunir uma quantia estipulada judicialmente. - o ponto de rejeição que unia conservadores e liberais, era a ideia de que o projeto obedecia à inspiração imperial e não nacional. Além disso, havia as divergências regionais: províncias que já não dependiam tanto da mão-de-obra escrava como as norte e nordeste. - a reforma judiciária: ampliava o direito ao habeas-corpus, instituía a fiança provisória, regulamentava a prisão preventiva e separavam as funções judiciarias e policiais. - reforma da Guarda Nacional que praticamente desapareceu em tempos de paz, passando os guardas a serem convocados uma vez por ano para revista e exercícios de instrução. - a lei do recrutamento militar (1874) que estabelecia o alistamento de todos os homens entre dezenove e vinte e cinco anos de idade, que deveriam servir por um período de seis anos, e o recrutamento por sorteio para cobrir a falta de contingente, a abolição dos castigos físicos, isentava indivíduos com curso superior, padres, caixeiros de loja comerciais, proprietários rurais e feitores. - a lei do terço (1875) estabelecia um sistema de voto incompleto, em que os votantes elegiam apenas dois terços dos eleitores a que a paroquia tinha direito, e estes, por sua vez, votavam também em somente dois terços dos deputados que iriam representar a província e o terço restante das vagas era destinado à minoria (oposição. - introdução do título eleitoral, acabando-se assim com a qualificação de eleitores feita a cada eleição, que dava margem a muitas fraudes. 3 – Resistências populares às mudanças - As resistências extremadas e violentas, pequenos e súbitos movimentos populares para José Murilo de Carvalho configuram uma cidadania negativa, na medida que constituíam uma forma de participação política que se dava não a partir da organização de grupos de interesse que reivindicavam ao Estado demandas surgidas na sociedade, mas sim uma reação a mudanças impostas de cima para baixo, objetivando preservar uma situação pretérita. - O Nordeste foi o palco principal dessas revoltas e as primeiras ocorreram em 1851, em reação a dois decretos que instituíram o Censo Geral do Império e o Registro Civil dos Nascimentos e Óbitos. Em Sergipe, Ceará, Pernambuco, Paraíba e Alagoas, os manifestantes atacavam vilas e engenhos, ameaçavam e expulsavam juízes de paz e escrivães e invadiam igrejas para impedir a leitura do regulamento. O governo decidiu suspender a execução dos dois decretos. - a Revolta do Quebra-Quilos foi uma reação contra a introdução do sistema métrico decimal; RJ (pesos e medidas foram quebrados nas feiras e praças), PE, PB, RN e AL (invasão de feiras, ataques a Câmaras Municipais, coletorias e cartórios para queimar e rasgar documentos relativos a registro de propriedades, hipotecas e listas de impostos, e assaltaram cadeias para soltar presos. - Nos anos 1875 e 1876, diversas províncias registraram distúrbios contra a Lei de Recrutamento Militar, sendo Minas Gerais a mais atingida. - Em 1873, estourou no RS a revolta dos Mucker provocada pelo processo de especulação e de concentração fundiária, e de empobrecimento da maioria da população, em que as Igrejas Católica e Protestante hierarquizaram-se, passando a combater a religiosidade popular e a se hostilizarem mutuamente, quebrando os fortes laços de parentesco e compadrio e a solidariedade comunal. - a Revolta do Vintém, ocorrida no Rio de Janeiro em 1880 em reação à criação de vinte réis sobre as passagens de bondes da capital (arrancaram trilhos, tombaram bondes, esfaquearam mulas, espancaram condutores, disparam tiros e montaram barricadas). O imposto foi abolido. 4 – A Questão Religiosa - Associa inicialmente à Constituição de 1824 e apresenta um relato da questão. - Permanecia, porém, até o fim do Império, a controvérsia quanto à politica regalista (direito de interferência do chefe de estado em assuntos internos da Igreja Católica) e à preponderância do poder temporal ou do poder imperial, impasse esse que só poderia ser resolvido pela laicização do estado e pela liberdade religiosa, o que, entretanto, não interessava ao Governo imperial e à Igreja Católica. 5 – A Questão Militar - Após a vitoriosa campanha na Guerra do Paraguai, o exército se modernizou, adquiriu grande prestígio social e imbuiu-se de espírito de corpo. - Os oficiais militares, grande parte oriundos dos extratos médios urbanos, sentiam-se desprezados pela Coroa, em vista dos baixos salários, do não pagamento de pensões, das promoções lentas e injustas, da drástica redução dos efetivos e do corpo percentual do orçamento militar. - Começou a se desenvolver no Exército um ideal de salvação nacional, acreditando que os militares estariam investidos de tal missão salvadora, que teria o propósito de moralizar a política e a vida pública brasileiras e de trazer o progresso ao país. - As propagandas republicana e abolicionista difundiam-se pelos quartéis, especialmente entre a jovem oficialidade e o Positivismo, por influência do Benjamin Constant, penetrava fundo entre os alunos da Escola Militar do RJ. - Através da imprensa, defendiam, além das reformas corporativas, a abolição da escravidão, a imigração, o incentivo às industrias, a construção de ferrovias, o sufrágio universal. Embora atacassem os vícios das instituições monárquicas, os militares, em sua maioria, ainda não pregavam a adoção da República. -A chamada Questão Militar, constituiu um conjunto de incidentes entre o Exército e o Governo imperial, em cuja raiz estava a tentativa do governo de disciplinar oficiais que ousassem discutir em público questões políticas e militares, o que, desde 1859, era proibida por avisos. - A ascensão social dos militares e a crescente instabilidade do sistema político imperial, todavia, encorajavam muitos oficiais, a manifestar pela imprensa seus descontentamentos, protestando, sobretudo, contra as promoções e as transferências consideradas arbitrárias e injustas, atendendo a motivações políticas. O envolvimento dos militares com a questão abolicionista provocou constantes conflitos entre os integrantes do Exército e os sucessivos ministros da Guerra. - Durante todo o mês de maio de 1887, um grande debate foi travado no Congresso e na Imprensa a respeito das tensões entre governo e militares sobre os avisos de proibição. Falando em nome da oficialidade, Rui Barbosa redigiu o Manifesto Ao Parlamento e à Nação, no qual exigia a revogação de tais avisos, que faziam da boa fama dos oficiais brasileiros simples propriedade do governo, e alertava, em tom ameaçador, que havemos de manter-nos no posto de resistência à ilegalidade, que é nosso dever, do qual nada nos arredará, enquanto o direito postergado não receber a sua satisfação plena. - No dia 14 daquele mês, Deodoro da Fonseca e o senador visconde de Pelotas publicaram um ultimato, exigindo que o Governo rescindisse os avisos ou então renunciasse. Temendo que o Exército tomasse as ruas em franca rebelião, Cotegipe revogou os tão famigerados avisos. - A decisão arrefeceu os ânimos dos militares, mas a força crescente por estes demonstrada durante a crise e a liberdade de expressão conquistada deram maior confiança e melhores condições para que se engajassem ainda mais nas atividades políticas. 6 – As eleições diretas e o golpe na participação eleitoral - A reforma eleitoral de 1881 introduziu as eleições diretas e reduziu o censo exigido para que os cidadãos que elegiam diretamente seus representantes; retirou o direito de voto aos analfabetos e estabeleceu minuciosos critérios de renda (não aceitavam como prova de renda a declaração do empregador), praticamente excluindo os assalariados não funcionários públicos. - a busca da moralização das eleições e da autenticidade da representação, se fez no Brasil Imperial, no sentido de restringir o acesso à cidadania política formal, seguindo um processo que transcorria exatamente na contramão do que se notava em quase todos os países europeus, onde as reformas eleitorais do último quartel do século promoviam a ampliação da participação eleitorado, rumando para o sufrágio universal. 7 – A Abolição, o republicanismo e a crise final do Império - Os acanhados efeitos da Lei do Ventre Livre só fizeram crescer e intensificar a campanha abolicionista. - multiplicaram em todo país os jornais e clubes do movimento, assim como os comícios e conferências, onde, além da propaganda feita, arregimentavam-se novos militantes e arrecadam-se donativos. - Advogados prestavam assessoria jurídica e recorriam à lei de 1831 para moverem processos judiciais, muitas vezes bem sucedidos, requerendo a libertação de escravos ilegalmente introduzidos no Brasil; - Fundação da Confederação Abolicionista (1883) com o intuito de dar unidade ao movimento, congregando as associações e clubes espalhados pelo país. - publicação da obra o Abolicionismo de Joaquim Nabuco de enorme repercussão que defendia a abolição imediata e sem indenização, seguida pelo incentivo à imigração europeia e pela adoção de um programa de reformas capaz de recuperar e reintegrar o ex-escravo à sociedade. Rejeitava qualquer ação que promovesse qualquer agitações nas cidades, nas senzalas ou quilombos. Sua via era legal e pacífica. - Em março de 1884, o Ceará, devastado pela grande seca de 1877-1878 (que acentuou a venda de escravos para o Sudeste) tornou-se a primeira província a extinguir o cativeiro e depois o Amazonas, iniciativas que provocaram grande alvoroço e contribuíram para que a Coroa colocasse de novo em pauta a questão servil. - aprovação da lei dos sexagenários (1885). - nas áreas de maior concentração de cativos, interior paulista e fluminense, a rebeldia escrava atingiu níveis nunca antes alcançados: recusas sistemáticas ao trabalhos às ordens recebidas, insurreições, fugas e abandonos em massa das fazendas, ocupações de terras disponíveis, destruição de lavouras e assassinatos de senhores, feitores e capitães do mato. - ação dos caifases que percorriam fazendas disfarçados de mascates e viajantes, incitando os escravos à rebelião e à fuga; infiltravam ex-escravos nas plantações; elaboravam planos de fugas. - a adesão de importantes segmentos sociais e políticos: o Partido Liberal reforça a sua linha abolicionista, o PRP manifesta-se claramente em defesa da abolição, o Exército decidiu não mais capturar negros fugitivos. - a Lei Áurea foi recebida com festas nas ruas e nas senzalas de todo país. Os ex-escravos foram abandonados a sua própria sorte, o movimento abolicionista desmobilizou-se. - os republicanos do 13 de maio. - o movimento republicano ganhava força com a multiplicação dos clubes (273) e jornais (77) republicanos, diretórios partidários; congressos e os meetings populares atraíam, nas grandes cidades, um número cada vez maior de entusiastas. Nunca chegou a cristalizar-se em um partido unificado em escala nacional. - a corrente evolucionista: a República seria implantada de forma gradual e pacífica, por meio da conscientização da opinião pública e do Parlamento, por via eleitoral ou por reforma parlamentar. Seu principal defensor era Quintino Bocaiúva que acreditava que a implantação da república corresponderia ao progresso da humanidade. - a corrente revolucionária: sob a liderança de Silva Jardim junto a uma ala mais radical de intelectuais e profissionais liberais, passaram a pregar abertamente em comícios, conferencias, panfletos e artigos de jornal, a revolução popular como forma de instaurar a República. - a corrente separatista: um grupo de republicanos paulistas passou defender a separação de São Paulo do restante do Brasil, adotando um governo nos moldes de uma república federalista. Interessava aos poderosos cafeicultores que não desfrutavam de uma posição privilegiada no âmbito da política nacional. - o fantasma de um terceiro império iminente. - no Exército, muito contribuiu a difusão do Positivismo nos quartéis, com suas ideias de ditadura republicana, de ênfase na hierarquia, de tecnicismo, de conciliação da ordem e do progresso, de subordinação da política à moral, em benefício da comunhão social, de paternalismo e de messianismo político. Esses ideais, aliados à indisposição com o bacharelismo, com os casacas, vistos como responsáveis pelo desgoverno e pela imoralidade política, contribuíram para estimular, nos meios militares, a construção de uma autoimagem que os identificava como os únicos capazes de promover a regeneração do país. 8 – A proclamação da República A queda do Império resultou de um longo processo de transformações que tem em fins dos anos 1860 e princípios da década seguinte o seu ponto original de inflexão. José Murilo de Carvalho já demonstrou a dialética da ambiguidade que caracterizava a dinâmica das relações entre o Estado Imperial e os grandes proprietários rurais (também presente no plano das ideias e das instituições): o primeiro muitas vezes contrariando os interesses dos segundos (como a lei de terras e na política abolicionista), apesar de depender das rendas e do apoio político que estes propiciavam; mas também estes em relação àquele, ao exigirem reformas que reduzissem a concentração de poderes nas mãos do Imperador ou do governo central e, ao mesmo tempo, cobrarem a intervenção deste Estado para a resolução dos mais diversos problemas e conflitos que afetavam as elites. - É claro que ambiguidades assim marcam, até certo ponto, as relações complexas entre qualquer Estado e os grupos dominantes, pois, da mesma forma que nenhum Estado se reduz a ser meramente um instrumento passivo nas mãos dos grupos dominantes, estes também não se ajustam por completo às diretrizes, necessidades e interesses daquele. - Mas no Império brasileiro os desajustes políticos chegaram a um tal ponto, a partir daquele período crítico, que acabou inviabilizando a manutenção do regime, frente à novas demandas surgidas após a Guerra do Paraguai, com a ascensão de novos grupos sociais em busca de espaço político as camadas médias urbanas, os militares, os cafeicultores paulistas) e o deslocamento do eixo econômico do Vale do Paraíba para o Oeste paulista. - Em suas últimas décadas, o Estado Imperial foi se incompatibilizando com sucessivos segmentos da sociedade que compunham as suas bases de sustentação – parte de clero (com a Questão Religiosa), parte da oficialidade do Exército (com a Questão Militar), parte dos grandes proprietários rurais (com as leis abolicionistas), parte, enfim, da própria elite política (com os problemas da centralização e do sistema representativo). Se tais fatos não provocaram o descontentamento desses segmentos em sua totalidade, e se, em si mesmo, não explicam o advento da República, como salientou Emília Viotti, nem por isso deixaram de ter um papel decisivo para a derrocada, ao caracterizarem e fomentarem um processo de aguda crise política que minou o regime. - Os conflitos sempre existiram ao longo do Império, mas eram administrados e contidos em função da relativa homogeneidade dessa política e da crença da capacidade singular da Monarquia de regular as disputas e de preservar a ordem, as estruturas socioeconômicas e a unidade político administrativa. - Diante, porém das profundas transformações operadas nas décadas de 1870 e 1880, sobretudo do descompasso criado entre o poder político e o poder econômico, com a ascensão dos cafeicultores do Oeste Paulista, das pretensões políticas assumidas pelos militares, após o prestígio adquirido coma Guerra, e da emergência política das camadas médias urbanas, alterando a tradicional composição de forças no interior dos partidos imperiais -, as críticas à centralização e à ficção do sistema representativo tomaram um novo vulto. - Ao mesmo tempo, o ideal republicano deixava de ser uma aspiração difusa dentro de certas situações limites e passava a ser incorporado a um movimento político mais substantivo, que crescia na mesma medida em que diminuía o prestígio da monarquia. - A República, todavia, foi fruto mais da insatisfação gerada pela incapacidade do Estado Imperial de articular as velhas e novas demandas, de sua crise de legitimidade, do que da crença geral e efetiva nas vantagens do regime republicano.