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RESENHA: BLACK MIRROR

Eu não havia assistido nada ainda de Black Mirror. Esses tempos, a série se tornou o
assunto de todas as minhas rodas de amigos e eu resolvi ir lá assistir na Netflix. Eu gosto muito
de ficção científica, gosto muito de futuros distópicos, mundo acabando, etc. Então me animei
pra ver, mas admito que ficou aquém do que eu esperava. Eu achei que a série ia ser bem
melhor.
Antes que vocês desistam de ler, vou dizer o que gostei da série em diversos aspectos.
Gosto muito do formato – acho essa ideia de fazer uma antologia de alegorias
contemporâneas ótima; gosto muito da parte técnica; e gosto muito de alguns episódios,
como National Anthem e White Bear. Eu assisti tudo, me diverti assistindo, foi um tempo bem
gasto. Mas tenho algumas críticas à série.
Eu conheci o trabalho do criador da série, Charlie Brooker, quando assisti à minissérie
“Dead Set”. Para quem não conhece, a minissérie trata de um grupo de pessoas, participando
de um reality show, quando ocorre um apocalipse zumbi. As pessoas se encontram presas
dentro dessa casa tendo que lidar com o fato de que a maioria dos seres humanos agora se
tornaram mortos-vivos. A minissérie é ótima! Tem um sarcasmo, uma brincadeira com o
gênero do horror – e com a fissura dos reality shows – e tem um final muito legal. Eu não vou
dar spoiler sobre a série, mas a crítica do final da série é de uma sutileza e agudez incrível. Isso
foi uma coisa que senti falta em Black Mirror.
Do ponto de vista narrativo, acho que a maioria dos episódios termina de forma bem
rasa. Todos eles parecem terminar com uma lição de moral explícita, bem mastigadinha.
Normalmente está na boca e alguma personagem, que explica por A + B todo o episódio que
eu acabei de assistir; às vezes está um pouco menos explícita. Porém, sempre está lá. Qual o
problema disso? O problema é que existe uma diferença entre lição de moral e crítica social. A
lição de moral te ajuda a refletir sobre si próprio, a crítica social faz uma análise da sociedade a
partir de um ponto de vista e busca soluções práticas para modifica-la. Black Mirror parece ser
mais a primeira e pode até ser essa a intenção da série. Talvez eles não queiram mesmo
desenhar uma distopia criticando a sociedade contemporânea e a ideia seja fazer críticas mais
pontuais, mas não parece ser a interpretação que tenho visto.
O que me incomoda é que me parece que a série liga esse esfacelamento das relações
humanas à presença cada vez mais massiva tecnologia, mas isso não me parece verdade. As
relações humanas sempre foram complexas e difíceis de manter – e filosoficamente você pode
dar N explicações sobre o assunto. Não é a tecnologia que as torna assim, como a série faz
parecer. Há o aumento de algumas crises diante da oferta das relações virtuais e há a
diminuição de outras. O tempo é sempre de perdas e de ganhos. Em Black Mirror, me parece
que a grande “desumanização” do ser humano vem da tecnologia, mas será isso mesmo?
Os episódios “Nosedive” e “Hated in the nation” me deixaram pensando muito nesse
assunto. As redes sociais são constantemente alvo de questionamentos. Pessoas que criam
uma vida virtual que não corresponde à realidade e pessoas que usam as redes sociais para
destilar seu ódio são temas constantes de discussão hoje em dia. Por outro lado, nos últimos
anos temos discutido o “ativismo de sofá”, o potencial das redes sociais de divulgar notícias
que a velha mídia não veicula, o potencial de organização política a partir da internet. Veja,
isso tudo convive no mesmo espaço. Se não pudessem destilar ódio em comentários de portais
de notícias, essas pessoas continuariam existindo e pensando tudo o que pensam; assim como
os fatos aconteceriam no mundo independente de ter alguma mídia jornalística para veiculá-
los ou não. As redes sociais são só a plataforma onde tudo isso ocorre hoje e se não fosse ela,
seria outra. Ela maximiza alguns aspectos enquanto minimiza outros. E ao cabo é isso. O
problema não está na arma, mas em quem puxa o gatilho. Não foi a interpretação que eu tive
quando assisti a esses episódios.
Os episódios que trabalham com a noção de punitivismo de alguma maneira me
parecem menos rasos em suas críticas. White Bear, White Christmas e Shut up and Dance
lidam mais com a tecnologia como uma plataforma e não como uma fonte de problemas.
Esses episódios me parecem lidar mais com o perigo da justiça com as próprias mãos e com o
“olho por olho, dente por dente”, que eu considero uma discussão essencial do passado e do
presente. E isso reforçou ainda mais minha ideia de que o que faltava à série era uma
discussão profunda sobre os temas, que não escorregasse no “homem contemporâneo
estragado pela tecnologia”.
Existe uma ideia de que estamos nesse fim da história. De que chegamos ao fim das
possibilidade de novos processos políticos ou econômicos, de que chegamos ao fim de
qualquer mudança no mundo, etc. Politicamente, acho esse discurso um perigo. Eu não acho
nunca que devamos acreditar que as coisas não são possíveis de ser mudadas – e olha que eu
estou bem longe de ser uma pessoa otimista. Mas a verdade é que ainda falta muito a ser feito
no mundo: minorias ainda precisam de muitos direitos assegurados, a desigualdade social
ainda precisa ser diminuída, dentre muitas outras demandas. No entanto, o discurso corrente
é de que nada disso existe: dizem que mulheres já têm direitos iguais, que pessoas que
querem enriquecer só precisam se esforçar e tudo o mais que vocês já sabem. De alguma
maneira, é nisso que culmina essa noção de fim da história.
Eu não acredito nesse tipo de colocação, até porque não acredito que o mundo evolua
linearmente, rumando para alguma síntese histórica. Acho inclusive que parar de acreditar
numa noção linear do tempo. Eu entendo o mundo como cíclico. Historicamente já vimos que
o mundo não caminha para um fim paradisíaco, mas sim oscila entre momentos e campos
diversos, em que há maior expressão conservadora ou progressista. Se isso não tinha ficado
claro ainda, os diversos retrocessos que vivemos nos últimos anos no mundo já deveriam ter
sido suficientes para nos fazer entender que não há “evolução” (com tudo o que essa palavra
carrega). Há ciclos, disputas e negociações que permeiam os momentos históricos e que
conquistas de um determinado momento, podem se perder rapidamente no próximo. É a
partir disso que podemos criar estratégias para evitar que se percam as conquistas do
presente.
Outro ponto que me incomoda muito é essa ideia de elementos que são
representativos do “mal do mundo”. Historicamente, os elementos imagéticos estão sempre
capitaneando a lista das coisas que farão o homem viver na mentira e na dissimulação. Black
Mirror parece se inserir um pouco nessa lógica, mas a “imagem” aqui, além da representação
pictórica, fotográfica ou audiovisual (como em Men against fire e The Waldo Moment), é
também a imagem de si (como em Nosedive) e a imagem replicada em realidade virtual (como
em The Entire History of you e San Junipero).
Mas veja, não há nada de inovador em dizer que a imagem sidera o expectador. Platão
já disse isso no mito da caverna e Guy Debord no famoso “A Sociedade do espetáculo”
também. Arlindo Machado, em “O quarto iconoclasmo e outros ensaios hereges”, pontua
muito bem que de tempos em tempos retorna um surto de horror às imagens, como
“denúncia de sua ação danosa sobre os homens e destruição pública de todas as suas
manifestações materiais” (Machado, 2001). Então tudo bem, a série acreditar nisso e achar
que a imagem é alienante e ofusca a agência do sujeito, mas isso não é revolucionário. Não
podemos cair na análise fácil de achar que Black Mirror tem qualquer papel criador e pioneiro,
porque não tem. Falar mal da imagem ou da tecnologia é bem mais velho que isso. Quem faz
revolução é quem, mesmo diante de todos os obstáculos, cria cinema e tv de maneira
inovadora e quem, mesmo frente a uma indústria fechada, batalha pra colocar suas ideias e
propostas artísticas em prática. Black Mirror é ótimo como entretenimento, como série pra
gente assistir e comentar com os amigos, mas não é inovador enquanto roteiro ou premissa.
No fim das contas o que eu senti é que há muitos aspectos da série que são muito
conservadores na verdade. Parece que todos os episódios são permeados por uma noção de
pecado – como tradicionalmente o percebemos na concepção ocidental carregada de
religiosidade. As personagens cometem erros e acabam sendo punidas e “descendo ao
inferno” por isso, seja esse erro tentar ser o que não é ou tentar aplicar um golpe, seja algum
elemento tabu, como adultério ou expressão da sexualidade. No fim, todo mundo que “peca”
acaba sendo punido. E não digo isso dos episódios em que a punição de um crime é o tema
central (como nos episódios que mencionei acima). Digo isso como um todo. Parece um fio
condutor da série: a tecnologia desperta o pior do homem, o faz pecar e ele acaba sendo
castigado por seu pecado. E isso me incomodou sobremaneira.
Uma coisa, porém, me agrada demais na série e acho que tem que ser um modelo a
ser seguido: o campo da representatividade. A gente sempre fala sobre isso, sempre bate
nessa tecla e sempre leva porrada por pedir mais diversidade no casting dos produtos
audiovisuais. Black Mirror é exemplar nisso. Há homens e mulheres ocupando posições
semelhantes no exército, mulheres negras juízas, homens negros bem sucedidos, pessoas de
diversas etnias e gêneros nos mais diversos trabalhos e com diálogos de igual complexidade.
Isso é essencial. E acredito que Black Mirror tenha ainda mais um trunfo: grande parte das
pessoas nem percebe que acabou de assistir – e gostar muito – uma série que coloca a
diversidade como uma de suas diretrizes.

Maria Celina Gil para Collant Sem Decote (2017)

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