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DA POSSIBILIDADE DE REDUÇÃO
DE CARGA HORÁRIA PARA SERVIDOR
PÚBLICO COM DEFICIÊNCIA
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Quanto a isto, somente é de se destacar a exigência imposta em
lei de comprovação da necessidade do horário especial por junta médica oficial. Em
outros termos, para a concessão do horário especial, não basta a deficiência, sendo
também necessária a comprovada necessidade do benefício, até porque nem toda pessoa
com deficiência necessita de condições especiais de trabalho para quaisquer funções.
No mais, o conceito de deficiência, que é essencialmente
biológico, possui definição jurídica baseada em critérios técnicos nos Arts. 3º e 4º do
Decreto 3.298/1999, de modo que somente faz jus ao benefício da concessão do horário
especial previsto no Art. 98, § 2º, da Lei 8.112/1990, o servidor que se enquadra
naquela definição, pois somente este é considerado com deficiência para efeitos legais.
No que toca especialmente à deficiência visual, o Decreto
3.298/1999 a define como:
a cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no
melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa
acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção
óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em
ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea
de quaisquer das condições anteriores” (Art. 4º, III).
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Art. 5º, § 3º, da CF/88, que impôs ao Estado brasileiro, bem como aos demais
signatários do tratado em questão, diversas medidas no sentido de garantir às pessoas
com deficiência igualdades de condições, protegendo-as de discriminações.
Dentre estes imperativos da Convenção Internacional, tem maior
relevância para a questão aqui tratada aquele constante do Art. 27, “1”, “b”:
Artigo 27
Trabalho e emprego
1. Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência ao
trabalho, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Esse direito
abrange o direito à oportunidade de se manter com um trabalho de sua livre
escolha ou aceitação no mercado laboral, em ambiente de trabalho que seja
aberto, inclusivo e acessível a pessoas com deficiência. Os Estados Partes
salvaguardarão e promoverão a realização do direito ao trabalho, inclusive
daqueles que tiverem adquirido uma deficiência no emprego, adotando
medidas apropriadas, incluídas na legislação, com o fim de, entre outros:
(...)
b) Proteger os direitos das pessoas com deficiência, em condições de
igualdade com as demais pessoas, às condições justas e favoráveis de
trabalho, incluindo iguais oportunidades e igual remuneração por
trabalho de igual valor, condições seguras e salubres de trabalho, além
de reparação de injustiças e proteção contra o assédio no trabalho;
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flagrantemente ofende o Decreto nº 6.949/2009 e a Constituição Federal, ao vedarem
discriminações remuneratórias em relação a servidores públicos com deficiência.
Com efeito, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em
situação análoga à de que aqui se trata, em consonância com a Convenção Internacional
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e com a
Constituição Federal, decidiu no mesmo sentido ora defendido (Agravo de Instrumento
nº 0051316-33.2013.4.01.0000/DF).
Naquela hipótese, a redução da carga horária do servidor era
pleiteada não com fundamento em deficiência do próprio servidor, mas em deficiência
de seu filho, o que também é permitido pela Lei 8.112/1990, em seu Art. 98, § 3º.
Em tal caso, o TRF-1 reformou a decisão do juiz federal que
concedia o horário especial requerido, mas com proporcional redução salarial, o que foi
entendido pelo Tribunal como incompatível com a sistemática constitucional no que se
refere à proteção dos direitos da pessoa humana com deficiência.
Nestes termos, o seguinte trecho da decisão referida é suficiente
para demonstrar a congruência entre este parecer e a posição do TRF-1, no sentido de
que a concessão do horário especial não pode implicar em alteração remuneratória:
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Ora, se o servidor público a quem é concedido horário
especial para cuidar da deficiência de um familiar seu, em decorrência disto, não
pode ter perdas remuneratórias, também o servidor público que tem direito a horário
especial em razão de sua própria deficiência não pode sofrer essas mesmas perdas.
CONCLUSÃO
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