A arte é uma das manifestações mais antigas na história da humanidade.
Sendo conhecida como a linguagem universal, sempre esteve presente nos processos culturais e sociais dos grupos humanos. As obras de arte, estão ligadas a conceitos sociais e históricos; demonstrando o contexto no qual elas surgiram. Segundo Balogum, não devemos utilizar somente a interpretação, mas devemos analisar também uma série de elementos comuns que permitam sua interpretação. Para entendermos uma obra de arte, necessitamos estar familiarizados com o contexto do qual ela provém e seu processo sociocultural. Muitas vezes, os aspectos existentes em uma obra de arte estão ligados à memória. Memória esta apresentada pelo artista e destacada pelo grupo ao qual ele pertence. Podemos observar isso , claramente quando falamos de arte africana. A arte africana, nos apresenta uma série de correntes visuais e filosóficas ligadas a criatividade, a imaginação e a memória. Esta memória está ligada a questões ancestrais, que apresentam um estilo próprio e registros múltiplos de suas realidades. Mas infelizmente , nem sempre esta arte foi assim observada. Durante o século XX, a África foi considerada uma terra selvagem, sua arte não fazia parte da história europeia. Para os europeus, a arte era considerada inferior, ainda em estágios iniciais, muito distante da cultura considerada erudita europeia. Este tipo de pensamento, vinha de encontro com as ideias evolucionistas europeias presentes naquele período. Mas , a partir da primeira metade do século XX , a África e sua arte foram descobertas pelos intelectuais europeus . Os artistas do início do século XX , observaram a presença marcante da arte africana . Muitos pesquisadores e estudiosos sobre o tema não conseguiram conectar suas ideias , em um senso comum . E foi neste momento , que surgiram três grandes abordagens sobre o estudo da arte negro-africana . Estes estudos buscavam uma visão estética da arte , uma arte com raízes , que fugia totalmente a visão de mundo ocidental . Sendo assim , as primeiras análises são desenvolvidas partindo de uma abordagem etnológica , que recomendava o estudo do objeto da arte africana , a partir da percepção do contexto em que ele aparece , demonstrando a função do objeto de arte e seu papel na sociedade em que tal objeto aparece . São observadas máscaras e estátuas . Dentro deste processo , são observados signos presentes em cada meio social e artístico africano . A maioria dos estudiosos , desta perspectiva etnológica , desenvolveram uma ligação entre arte e religião . Onde independente de suas funções , os artistas , teriam sua arte ligada a suas crenças e a sua religião ; havendo assim uma total negação do belo entre os africanos . Já segundo a abordagem etno-estética , a análise é feita da seguinte forma : O que são os objetos da arte africana ? O que eles nos dizem e o que eles representam ? Tal teoria apresentou o que muitos chamaram de mestiçagem cultural ou união , surge então , neste momento , uma Antropologia da Arte . Tais defensores da teoria etno- estética da arte africana não deixaram definida a teoria desta estética . Na abordagem da teoria estética , alguns estudiosos estimam, que existem na arte tradicional africana negra , obras que correspondem a arte liberal ou ainda a teoria da “arte por arte “ . Estes defensores buscam uma estética entre os povos da África negra , onde são apontadas noções fundamentais da estética clássica , como por exemplo a beleza e a apreciação dos objetos produzidos . Segundo Munanga , a teoria estética , baseia seus argumentos na possibilidade de uma apreciação do objeto artístico “negro” . Pouco importava se este objeto fosse feito para um culto . Para a teoria estética , o objeto deve ser olhado por si mesmo . Mas como pensar a arte africana , em seu contexto social e histórico ? Para que ela foi feita ? Quais seriam seus significados e suas particularidades históricas ? Sabemos que , o uso da arte africana está relacionado a um conceito histórico , está integrada a uma sociedade , a um conjunto cultural e social . Representa algo , tem uma funcionalidade e sua comunicação com os ancestrais . Portanto a abordagem etnológica tem seus limites , preocupa-se com a forma , existe uma relação entre funcionalidade e forma . Onde o ritual e o estético se confundem no artista africano . Mas Munanga , apresenta um novo debate , a estética africana , a teoria estética , a arte pela arte . Sem estar ligado ao religioso , enxerga fora do conceito das crenças , poderíamos chama-lá de “ arte profana” e “desacralizados “ . Para Roger Somé , os artistas negros africanos , têm um sentimento estético , beleza e juízo entre bem e mal . Surgem análises sobre a diversidade estética entre forma e conteúdo . O belo e o refinado são destacados . Para Thompson , a arte não serve somente a religião , existem critérios sobre a arte , as obras devem ser vistas e não ocultadas . A arte deveria ser autônoma e não submetida , uma arte desacralizada , mas com função social . Segundo Balogum , a arte africana escapa ao mero enterterimento , é uma ritualização coletiva . São várias as formas artísticas , com a utilização de vários materiais : madeira , ferro , bronze , pedra e terracota . Destaque para a arquitetura , artes plásticas , máscaras dos deuses , manifestações religiosas . A arte estaria presente nas máscaras , nas tradições de oralidade. Segundo alguns autores , arte e filosofia africana caminham juntas . As linguagens das máscaras , e o culto aos ancestrais , coexistem com outros saberes . Atualmente , a arte africana caminha por outras vertentes , com uma certa tendência africano ocidentalizada , como por exemplo o teatro , a música , a dança , a pintura , as artes do corpo e cabelo , mostrando o lado atual do africano . Bibliografia
Munanga , Kabengele . A Dimensão Estética na Arte Negro –Africana
Tradicional , www.macvirtual.usp.br2006.(PDF) Balogun , Olá .Forma e Expressão nas artes africanas . Diawara, Manthia . A Arte da Resistência . (PDF) Thompson , Robert F. Flash of the Spirit : Arte e Filosofia africana e afro- americana , São Paulo : Museu Afro- Brasil , 2011 .