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ESTADO DO MARANHÃO
SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA
POLÍCIA MILITAR DO MARANHÃO
DIRETORIA DE ENSINO
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS
Criado pela Lei Estadual no 3.602, de 04/12/1974
Tel: (98) 3258.2128/2146 Fax: (98) 3245.1944 – End: BR 135, Km 2–Tirirical

CFSd PM 2018
SOCIOLOGIA DO CRIME E DA
VIOLÊNCIA
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APRESENTAÇÃO

Este trabalho representa um esforço coordenado dos integrantes do Centro de Formação e


Aperfeiçoamento de Praças – CFAP e objetiva fomentar a produção de conhecimento, padronização
de procedimentos operacionais e proporcionar subsídios àqueles interessados em adquirir
informações, proporcionando também base teórica que deverá ser usada por todas as Unidades
Polos de Ensino da PMMA, por ocasião de Cursos de Formação ou atualização, bem como poderá
ser aprimorada e utilizada em outras atividades de ensino que, com certeza, haverão de acontecer.
Certamente, os conhecimentos não foram exauridos e também não foi essa a nossa pretensão, mas
sim deixarmos nossa parcela de contribuição nesse contexto.

EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA:

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA:.Cel QOPM Auceri Becker Martins (CMT do CFAP) e TC


QOPM Beltrão (Sub CMT do CFAP), Major QOPM Marco Aurélio Galvão Rodrigues (Chefe da
Divisão de Ensino), Capitão QOPM Égiton Marques da Rocha, Chefe da STE, Cb PM almicele Sá
do Nascimento (Auxiliar da STE) e Sd PM Walfran Sousa do Nascimento (Auxiliar da STE).

Responsável pela edição e aprimoramento textual:


Cel QOPM Auceri Becker Martins - Cmt. CFAP
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MENSAGEM DO COMANDANTE

Caros alunos e alunas do Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar do Estado do


Maranhão. Vocês foram selecionados entre muitos, candidatos para uma carreira promissora e de
ascensão, a qual tem como meta a preservação da ordem pública e segurança interna do nosso
Estado. Parabéns pela vitoriosa caminhada feita até aqui. Foram ultrapassados os desafios iniciais
das entrevistas, dos exames e das avaliações para serem considerados “aptos” a uma nova etapa
desta seleta carreira.
São notórias as expectativas e perguntas, no entanto, venham com o compromisso e
disposição para um aprendizado constante que tem o objetivo de ampliar seus conhecimentos e
habilitá-los de maneira que possam atuar como agentes de segurança de forma preventiva e/ou
repressiva como força de dissuasão em caso de perturbação da ordem, mantenedores da ordenação
pública e multiplicadores de uma polícia baseada na proximidade com a comunidade.
A formação profissional é óbvia e exige de seus aprendizados dedicação intelectual, moral,
física, espiritual e muitas vezes abdicação de seus familiares e amigos. Valorizem os sacrifícios que
venham enfrentar e os limites conquistados. Aprenderão a amar a verdade e respeitar acima de tudo
e todos à justiça, e assim promovê-la sempre a todo custo na busca de uma sociedade mais justa e
igualitária.
Temos a expectativa de que todos vocês concluam com êxito todas as etapas neste processo
de formação que ora se inicia. A sociedade maranhense certamente anseia por novos agentes de
segurança pública e acredita numa pacificação social.
Sendo assim, em nome da Polícia Militar do Estado do Maranhão, sejam bem vindos! E
considerem-se neste momento impar de vossas vidas, futuros Soldados da Polícia Militar.
Que o Senhor nosso Deus os proteja e vos abençoe!

CEL QOPM JORGE ALLEN LUONGO GUERRA


Comandante Geral da Polícia Militar do Maranhão
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PALAVRAS DO COMANDANTE DO CFAP

O incremento intelectual e técnico na qualidade do serviço dos profissionais em segurança


pública é filosofia de gestão do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da PMMA desde
que travei meu primeiro contato com o ensino nessa instituição.
O educador militar persegue o objetivo de satisfazer plenamente nosso cliente e estabelece o
conceito de “confiável” para um formando na prestação de serviços. Alinhados com o discurso de
aliança entre modernidade e tradições, os profissionais desse Centro buscam ininterruptamente,
identificar oportunidades de melhoria a partir da experimentação e aprimoramento de práticas,
nunca indiferentes às possibilidades de inovação, preservando valores éticos pautados em respeito
ao cidadão e ao próprio policial militar.
Em um ano de profunda inquietação social e de eventos da magnitude de uma eleição
presidencial e de uma copa do mundo em nosso país, enfrentamos o desafio de fazer segurança
pública de qualidade. Vivemos essa nova ordem mundial, sem fronteiras na informação, onde
ideologias se inflamam e paixões transbordam preceitos de respeito, civilidade e urbanidade.
Momento em que a preservação da paz social se faz imperativa, sob pena de sucumbirmos ante ao
caos, o crime e a anarquia.
É na preparação desse profissional que sustentará os alicerces da democracia nas ruas e nas
palavras que debruçamos nossos esforços, talentos e trabalho incessante. Precisamos estar
familiarizados com as frequentes exigências desse mundo em ebulição social, moral e ideológica,
perseguindo novos instrumentos de aprimoramento e progresso na seara educacional.
Dessa forma senhores e senhoras, com a alma cheia de vontade e o semblante humilde,
ciente de que estamos recém iniciando essa jornada, que começamos a trabalhar no ideal proposto
por este Centro de Formação, que é a de aproximar o policial militar da comunidade ampliando seu
espectro de percepções e sensibilidades sem jamais descuidar do seu preparo técnico e intelectual
para a prestação de um serviço à altura das expectativas do nosso povo.

Cel QOPM Auceri Becker Martins


Comandante do CFAP
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SUMÁRIO

1. Introdução ................................................................................................................... 6
2. Violência e Criminalidade no Estado do Maranhão ............................................. 7
3. Violencia, medo e outros fatores que influenciam a convivência humana ........ 8
4. Socialização e Criminalidade: Algumas Questões ................................................ 9
5. Crime e criminalidade: breve retrospectiva histórica ......................................... 14
6. Agressão, violência e criminalidade: algumas explicações. .............................. 17
7. Criminalidade e violência: contextos permissivos e desencadeadores ............. 24
7.1. Imputabilidade penal e prevenção do delito ................................................. 28
7.2. A criminalização da pobreza .......................................................................... 33
7.3. .Juventude e a expectativa de criminalidade ................................................ 41
8. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 47
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 49
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1. Introdução

1. O tratamento que esta abordagem dá a violência e à criminalidade refere-se a termos


relacionados à segurança pública, ou seja, que tem relação direta ou indireta ao dia-dia dos policiais
militares e que, pela freqüência de incidência, tem sido a pauta diária dos comentários no cotidiano
social.
2. De acordo com Beato Filho (1999), poucos problemas sociais mobilizam tanto a
opinião pública como a criminalidade e a violência e afetam tão intensamente a população,
independentemente de classe, raça, credo religioso, sexo ou estado civil.
3. Embora o temor à violência seja universalmente distribuído em toda a sociedade, as
vítimas, de fato, estão concentradas mais intensamente junto às camadas sociais menos favorecidas,
onde são registrados os maiores índices de ocorrências, tornando-se esta situação ainda mais grave nos
grandes centros urbanos. Além dos problemas econômicos e sociais, a violência e a criminalidade, no
Brasil, podem ser compreendidas e analisadas, também, a partir do contexto histórico e cultural do
nosso país.
Para se alcançar a ambiência de paz social, torna-se necessário aplicar investimentos em programas
voltados à redução da pobreza e das desigualdades sociais, para a geração de emprego e renda e em
programas educacionais e de lazer que mantenham os jovens longe do crime. Neste sentido, o resgate da
dívida social possibilitaria o viver em uma sociedade menos injusta e violenta. (BRITO; BARP, 2005, p.
7).

4. A relação entre crime e violência dá-se justamente no ato da realização da ação


criminal, que, por si só, já consiste em violência, ao ferir a integridade do que está estabelecido como
legal em determinado ambiente, ficando esta mais ou menos intensa, de acordo com os resultados
apresentados. Trazendo para termos práticos, o fato de um cidadão cometer um crime já é um ato
violento e a intensidade deste ato definirá a violência aplicada.

• Crime consiste na violação da lei e na divergência da regra precisa da razão, em virtude da qual
um indivíduo se torna degenerado e declara abandonar os princípios da natureza humana, tornando-se
uma criatura prejudicial; há comumente dano causado a uma pessoa ou outra. (LOCKE, 1983, p. 36).

• Tem-se a percepção de que há um recrudescimento das ações dos criminosos nos


últimos anos, tanto no planejamento de suas ações como no grau de violência empregado. Os meios de
comunicação noticiam resultados das sanções impostas sobre aqueles que, de uma maneira ou outra,
burlaram as regras legais da sociedade, fazendo-se entender pela grande maioria da população, que os
trâmites legais existentes, permitem com que os cidadãos delinqüentes, de uma maneira ou de outra,
tenham como se sobressair de sanções mais rigorosas e, desta forma, a impunidade estimula aqueles
que já possuem alguma tendência a enveredar pelo submundo do crime.
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5. [...] fazia parte de uma perversa estimativa da ONU: 98% dos assassinos de mulheres, no Brasil,
não são condenados. Durante os quase seis últimos anos, o réu protelou seu julgamento e agora, mais uma
vez, consegue manter-se em liberdade graças a manobras jurídicas traçadas por seus advogados.
(REVISTA..., 2006, p. 44).

• Feitas tais considerações, nos propomos a refletir individualmente alguns aspectos da


violência e criminalidade enfocando questões sobre socialização e criminalidade; uma retrospectiva
histórica da preocupação do homem com o delito; algumas explicações para a agressão humana, a
violência e a criminalidade; contextos permissivos e desencadeadores e dentre eles a questão da
imputabilidade penal e prevenção do delito, da criminalização da pobreza e da possível vulnerabilidade
da juventude em relação a envolvimentos com violência e criminalidade. Quiçá essas reflexões
venham possibilitar algumas estratégias preventivas e de enfrentamento dessa questão que tanto
sofrimento causa ao homem e a sociedade.

2. Violência e Criminalidade no Estado do Maranhão

A maioria da população maranhense concentra-se nos centros urbanos, onde se


apresentam problemas comuns aos de outras grandes cidades. Ainda que o Estado do Maranhão
figure com índices abaixo da média nacional, resguardando as devidas proporções, isso não
significa que o risco da atividade policial exercida pela PMMA seja menor, haja vista os eventos
criminais que pontuam os dados estatísticos do Estado, que, quando analisados com os demais
Estados da Federação, normalmente são vistos, comparativamente, quanto à freqüência de
acontecimento e, não, quanto ao grau de periculosidade ou de intensidade.

Em pesquisa realizada no dia 2 de abril de 2007, sobre o mapa comparativo divulgado


pelo Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Segurança Pública, do comportamento das taxas
do total dos registros de ocorrências por 100 mil habitantes nos Estados, em relação à média da taxa
nacional do período 2001 a 2003, o Maranhão apresenta índices abaixo da média nacional, mas em
ascendência de 30 (trinta) a 76 % (setenta e seis por cento) no período. (BRASIL. Ministério da
Justiça..., 2007).

O cenário tem se apresentado de maneira bastante preocupante, os índices de práticas


criminais apresentados pelos Comandos de Policiamento de Areas no interior do Estado e pelo
Comando do Policiamento Metropolitano sobem consideravelmente, destacando-se aqueles de grande
porte, ousadia e risco, como os assaltos praticados junto às instituições bancárias ou contra pessoa,
com o objetivo da obtenção ilícita de valores ou de bens.
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3. Violência, medo e outros fatores que influenciam a convivência humana

Violência, medo, egoísmo, solidão, desconfiança, depressão... Essa é uma sociedade que
promete felicidade, mas provoca estranhos sentimentos. Os acontecimentos comentados no bar da
esquina, no jornal da TV, nos documentários, evidenciam os estragos provocados por esse "'monstro"
fugidio, que emerge no esporte, no trânsito, nas ruas, nas prisões, nas organizações terroristas, na
periferia, nos lares, nas escolas, nas igrejas, nas fábricas, nos espaços interpessoais.
As notícias amedrontam. Se em épocas passadas eram aos lobos, onças e tubarões que o
homem temia, hoje a pior ameaça é o outro, o próprio homem. À medida que desacredita no outro, o
homem inicia uma trilha de solidão, estresse, ansiedade, que leva ao medo. O medo pode oportunizar
atitudes de reclusão (em si mesmo, no lar, na vizinhança...), ou de agressão, pois muitos entendem que
"a melhor arma é o ataque" Desse modo cria-se um estranho, amedrontador e fascinante caminho de
violências. Violências contra o outro (a mulher, a criança, o que possui bens, idéias diferentes, crenças
diferentes, o que nada possui, o que é diferente); violências contra objetos contra a natureza e até
contra si mesmo.
Com o medo e a violência ampliados, as pessoas tendem a investir no "radar
perceptivo" de perigo, e passam a ver alguns espaços (periferia, bares, festas) e tipos de pessoas
(jovem, negro, com roupas maiores que o dono, peito nu, camisa na cabeça) como ameaçadores a sua
integridade, e para eles voltam-se com uma conduta de esquiva, de cortesia preventiva ou de
agressividade.
A criminalidade e a violência têm sido objeto de estudo de várias teorias e ciências
incentivando o homem a buscar explicar e posicionar-se frente a essa "esfinge" do nosso tempo. Ainda
no século XIX, a partir dos trabalhos de Gabriel Tarde, Émile Dunkheim E Enrico Ferri, que
estudaram o crime como categoria específica de fato social, buscando desvendar o contexto em que
eles ocorriam, surgiu a Sociologia Criminal.
Na busca de assegurar as condições de "ordem e progresso", o Brasil tem um conjunto
sistematizado de leis que regulam formalmente as relações entre os homens estabelecendo
conseqüências penais para quem transgredir. Desse modo entende que seja possível, através da sanção,
assegurar a ordem, pois considera o crime como pressuposto da pena, e esta como conseqüência
jurídica daquele. (MEZGER Apud FARIA JÚNIOR, 2001 p.35).
Apesar das leis, das delegacias, tribunais, penitenciárias, a violência e criminalidade têm
crescido assustadoramente.
O Brasil precisa buscar respostas que auxiliem o homem a, conhecendo os fatores
contingênciais de ações entendidas como crime pela cultura, desenvolver mais eficazmente suas
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políticas de segurança pública. Elas supõem não apenas o envolvimento das polícias e da Justiça.
Exige que as outras políticas públicas incorporem-se a elas, desenvolvendo estratégias ao nível da
família, vizinhança, escola, trabalho, lazer, comunidade, de modo a prevenir a ocorrência de crimes.
Faz-se necessário então considerar os tipos, áreas, impactos e motivos supostos
(inclusive o impacto que a mídia lhe empresta), que expliquem o aumento de determinado crime, e
avaliar, com auxílio de ciências sociais como a sociologia, c psicologia social, a estatística, a ciência
jurídica, de que modo as políticas implementada~ na prevenção do delito e redução da criminalidade
estão produzindo seus efeitos e como aperfeiçoá-las. Importante, portanto se faz descortinar os fatores
criminógenos, as respostas das razões porque o homem se torna criminoso, ou portador de um,
personalidade desviada dos padrões normais da boa convivência, em sociedade, (...), que remédio
deverá ser ministrado para que esse mal seja combatido (FARIAS JUNIOR, 2001 p.35).
Assim busca-se conhecer o delinqüente em seu aspecto biológico e psiquiátrico, meio
social onde gerou a prática delitiva (CARLOS ADRIANO, s.d.), e as características das vítimas. E
importante refletir que alguns tipos de delitos sofrem influência da moda, E que uma política de
prevenção precisa descobrir suas tendências antes que se disseminem como 'valor' para a população
vulnerável a sua influência.
O presente estudo se propõe a refletir alguns aspectos da violência e criminalidade
enfocando questões sobre socialização e criminalidade; uma retrospectiva histórica da preocupação do
homem com o delito; algumas explicações para a agressão humana, c violência e a criminalidade;
contextos permissivos e desencadeadores e dentre eles c questão da imputabilidade penal e prevenção
do delito, da criminalização da pobreza e da possível vulnerabilidade da juventude em relação a
envolvimentos com violência E criminalidade. Quiçá essas reflexões venham possibilitar algumas
estratégias preventivas e de enfrentamento dessa questão que tanto sofrimento causa ao homem e a
sociedade.
O mundo se tornou perigoso porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes
de dominar a si mesmo
(SCHWELL TZER)

4. Socialização e Criminalidade: Algumas Questões


O homem aprende a comportar-se, partilhar sentimentos e crenças comuns, através do
processo de socialização, onde internaliza um denominador comum de pensamentos, ações e
sentimentos com os homens do grupo e cultura. Nesse processo segundo Dunkheim, os homens
constroem e partilham uma consciência coletiva, com moralidade e sanções próprias a cada espaço
histórico e social, passando a agir segundo os usos, costumes e leis vigentes, para ganhar aprovação e
evitar punições (PEREIRA 8 FORACCHI, 1974; LAKATOS, 1999; COSTA, 1995).
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Há costumes com relação aos quais somos obrigados a nos conformar (...) Ora os costumes e as idéias que
determinaram esses tipo, não fomos nós individualmente, que os fizemos. São produtos da vida em
comum e exprimem suas necessidades. São mesmo, na sua maior parte, obra de gerações passadas.

Aprendendo uma língua, aprendemos todo um sistema de idéia! organizadas, classificadas e com isso nos
tornamos herdeiros de todo o trabalho de longos séculos...

...a que se reduziria o homem se retirasse dele tudo quanto a sociedade lhe empresta... (DUNKHEIM In
PEREIRA & FORACCHI, 1974, p. 38 e 47)

Desse modo, os padrões culturais internalizados permitirão coincidências dos padrões


individuais de conduta e coerência da norma comportamental estabelecida pelos membros de
determinada cultura (HERSKOVITS Apud LAKATOS, 1999; MARION J. In CARDOSO & IANNI,
1973) .
Frente aos padrões da consciência coletiva e às expectativas de papéis, o homem
manifestará lógicas de ação, que fazem diferentes pessoas agirem de modo semelhante frente às
mesmas situações, e que fazem a mesma pessoa agir diferente frente a situações variadas.
Assim, se forem conhecidas as variáveis circunstanciais de cada situação, e as
variáveis disposicionais, interiores das pessoas, que partem de um núcleo de coerência de cada
indivíduo, (HARRISON, 1975), fica possível fazer previsões do comportamento de um grupo e/ou
indivíduo. Exemplo, frente a uma briga surgida na escola, é possível prever que vão aglomerar pessoas
em torno, para observar. Se conhecidas as variáveis disposicionais de "Joãozinho", é possível prever
também que ele irá tentar apartar a briga, mesmo que esta não esteja ocorrendo com algum amigo seu.
Pode-se dizer então que o meio social e a cultura, constroem numerosos detalhes da
personalidade e do comportamento humano (...) em prensas simples em estamparia padronizada, mas
para isso se faz necessária uma elaboração finíssima das próprias matrizes da estamparia a exigir
cuidados e precisão escrupulosos. Outros detalhes só podem ser feitos pelas mãos de um mestre com
mãos de ouro e olhos agudos, que demandam a genialidade (MAKARENKO, 1986, p.168).
Os padrões aceitos, como válidos na consciência coletiva de cada grupo/cultura,
estabelecem comportamentos aceitáveis ou não, e frente à pressão que eles exercem, c homem, em seu
modo de pensar e agir, sofre processos de adaptação, acomodação e assimilação.
A assimilação decorre dos contatos primários e linguagem, onde o indivíduo internaliza
os padrões de comportamento, tradições, sentimentos e atitudes, tidos como válidos e preciosos para a
cultura.
A adaptação provoca estreita identidade do homem com sua cultura, que tem seu!
gostos, hábitos (alimentares, de higiene), atitudes, modos de comportamentos, esquema de
representação mental (estereotipo, valores...), construídos de tal modo que o canibalismo, o
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infanticídio, os campos de concentração nazistas, o apedrejamento e decepar a mãos de infratores,


pode ser tido tão natural como comer peixe, combater a mortalidade infantil, exilar e decretar prisão.
A acomodação é um "ajustamento" externo, temporário, formal, onde, cedendo c
pressões, o homem age coagido ao imposto, pois que em terra de sapos, de cócoras com ele. Agindo
assim, embora parecendo convivência pacífica, vive um antagonismo latente que pode ter vazão brusca
em respostas agressivas e desproporcionais ao estímulo, ou sofrer alterações, transformando-se em
adaptação, o que reduz a hostilidade (OGBURN & NIMKOFF In CARDOSO & IANNI, 1973;
LAKATOS, 1999).
Ao longo da sua filogênese civilizatória, o homem tem experimentado, aperfeiçoados
modos de fazer que deram certo, os usos ou "folkways". Alguns permanecem, porém não são
obrigatórios, por isso quem não os adota está sujeito à sanção branda. Outros transformam-se em
costumes ou "mores"( MERTON In & FORACCHI, 1974; CHINOY Apud LAKATOS, 1999), e
exercem maior controle comportamento, pois sua obediência é considerada importante, e quem os
transgrida sofre sanção forte, com objetivo vicariante, ou seja, veja o que acontece com quem
desobedece. Muitos desses "mores" são tão importantes, que tão logo a sociedade seja letrada,
transformam-se em leis, e assim estabelecem formal e impositivamente regras de comportamento.
Apesar da socialização possibilitar a aprendizagem das normas vigentes e da coerção
que força a conformidade a elas, nem todos aderem e assim apresentam comportamentos desviantes
(LINTON In CARDOSO & IANNI, 1973; ROS MACDAVID & HARARI, 1980; JOHNSON Apud
LAKATOS, 1999). Entre os que agem segundo as normas, alguns podem fazê-lo por considerá-las
válidas, justas; outros não as entendem, mas as seguem mecanicamente.
A transgressão das normas é um fato em todas as sociedades, quem transgredi usos e
costumes, tem seu comportamento lido como marginal ou delinquente, porém essa inadaptação nem
sempre é prejudicial ou patológica. Em relação às leis quem as transgredi torna-se delinquente, e
conforme a relevância desse direito violado para o grupo, fica sujeito à severa penalização, que
dependendo do tipo de sociedade, do valor da norma transgredida e do status do infrator, podem
apresentar-se como pena severa, como podem resultar em descaso.
Toda transgressão é um indicador de que o sistema de controle social falhou, que a
consciência coletiva não prevaleceu sobre a individual, e exige medidas de controle para evitar a
proliferação do desvio. Como a lei outorga ao Estado o poder coercitivo e a ele cabe a aplicação da
sanção, nem que para isso precise usar a força física.
Geralmente o comportamento desviado indica que pode ter havido falha na
aprendizagem da norma ou na internalização do seu valor, ou que a sanção para aquela conduta
discrepante inexiste, é fraca ou pouco aplicada.
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O comportamento lido como desviado pode estar ocorrendo em consonância com um


subgrupo que possui padrão divergente e que exerce maior força como referencia para o sujeito, onde
aquilo que está considerado como desvio, lá é considerado como padrão valorizado, reconhecido como
de status e recompensado. Essa diferença de padrões de aprovação ocorre porque o indivíduo, além da
família, participa de diversos grupos de referência, a partir dos quais formula suas opiniões, aspirações
e perspectivas de vida (ROSA, 1978; MACDAVID & HARARI, 1980; LANE E SEA LAKATOS,
1999).
Quando os valores e atitudes de diversos grupos estão conflitantes, o indivíduo que tem
neles apoio vive dissonâncias cognitivas, frente às quais precisará efetuar difíceis, para o que
influenciará o valor conferido pelo grupo e sociedade ao padrão de comportamento, sua percepção dele
e o grau de identificação do indivíduo no grupo. Às vezes existem grandes diferenças e antagonismos
nos padrões de referência, devido a isolamento do grupo por distâncias espaciais, estruturais e
psicológicas, podendo gerar estereótipos, preconceitos e hostilidades, que influenciarão as opções do
sujeito a ele vinculados funcionalmente. (ASCH, 1977; MACDAVID & HARARI, 1980)
Dependendo do grupo e cultura, o mesmo comportamento tem padrões de aceitação e
reforço diferentes em cada subcultura ou em cada momento da história de uma mesma cultura, de
modo que um assassino pode ser visto como herói, o ladrão pode ser "Robim Hood", o subversivo
pode ser o "Zorro", os "homens-bombas" como mártires da liberdade.
Embora nem todo desvio seja condenável ou não desejável, muitos deles são
considerados sintoma de desadaptação ao grupo e tidos como sociopatia. Nem toda sociopatia é
delinqüência, pois esta se refere apenas aos desvios mais graves, de natureza ante social, que pela
relevância que assumiram em cada contexto da história, pela ofensa a costumes considerados
importantes para a sobrevivência do grupo, passaram a considerar o seu sujeito imputável.
Desse modo a noção de delinqüência é produto sociocultural, e comporta uma ação
ou omissão em ofensa às normas aprovadas e tidas como necessárias ao desenvolvimento e harmonia
do grupo. Frente a esse delito resta a penalização do transgressor, como em defesa do direito dos
membros do grupo, dos considerados cidadãos. Convém refletir sobre a extensão e/ou restrição do
conceito de cidadania em cada contexto histórico-político, na lei e na prática, e suas implicações no
cotidiano das relações sociais, inclusive em relação a criminalidade.
Em uma sociedade homogênea, simples, não se fazem necessários regulamentos
escritos, pois os costumes são respeitados naturalmente, e as ações desviantes são mínimas em
quantidade e gravidade.
Em uma sociedade heterogênea, complexa, existe maior necessidade de leis, de
instrumentos elaborados formalmente para regular o comportamento, garantir a conformidade às
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normas, muito embora, apesar dos instrumentos legais, como previamente estabelecidas e o aparato de
segurança instituído, a criminalidade se mostre crescente.
Estudos do ILAUD (Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do
Delito e Tratamento para o Delinqüente) têm mostrado que nos países em desenvolvimento, o índice
de violência apresenta-se maior do que nos paises localizados nos eixos extremos, quer de pobreza,
quer de riqueza. Talvez isso reflita um momento de arranque que gera desordem social com
conseqüentes impactos na organização intrapessoal e interpessoal. Assim, a urbanização acelerada, a
instabilidade intensa de costumes, valores e status, a crescente população itinerante ou imigrante, o
desemprego a falta de perspectivas, estabelecem uma lógica de um "salve-se quem puder” racional
irracionalidade, ou de uma irracional racionalidade.
No Brasil a média de assassinato por 100 000 habitantes é em torno de 24,10, o que o
coloca em quarto lugar entre os países nesse indicador de criminalidade, perdendo apenas para a
Colômbia, Honduras e Jamaica. Se fossem consideradas como paises as cidades do Rio de Janeiro e de
São Paulo, essa taxa representaria 74,2: 100 00 hab e 44, 3: 100 000 hab, respectivamente, o que os
colocariam na "poli posicion” criminalidade do "rank" mundial..
Nesse clima, muitos são os que desacreditam na competência do Estado para inibir
preventivamente os delitos e penalizar os transgressores da lei, buscando com as mãos (cursos de
defesa pessoal, compra de armas, cercas elétricas, segurança particular), o que lhe seria devido pelo
Estado.
Ora, se for considerado que o Estado surgiu como resposta às lutas e conflitos entre
grupos, passando a ser uma organização política a quem foi a administração dos conflitos, a gestão da
segurança, controle social, e penalização dos que transgredirem as normas estabelecidas
(OPPENHEIMER E GUMPLOWIAZ apud 1999), se fazem necessárias medidas que lhe restaurem,
efetivamente essas competências, de vez que só a ele cabe o poder de violência através da aplicação da
sanção legalmente arbitrada na Lei. Pelo Código Penal e Código Civil, o Estado pode penalizar com
multas, indenizações, privação de liberdade, prisão, exílio e morte (MAAX WEBER Apud COSTA,
1995).
No Brasil, apesar do detalhado ordenamento legal, o comportamento do homem
civilizado tem-se mostrado imprevisível e assustador, tanto que o interesse pela violência e
criminalidade tem assumido relevância ímpar, deixando de ser questão apenas da área de segurança
pública, e penetrando no âmbito das políticas sociais básicas, exigindo participação da sociedade civil
no encontro de estratégias de vida nas relações interpessoais da cultura.
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5. Crime e criminalidade: breve retrospectiva histórica

O crime é a transgressão de uma norma arbitrada em lei, e não abrange todas as


diversas formas de violência do homem e sociedade, por isso só é possível estudá-lo, analisando o
contexto social onde ocorre, e sua forma de entendimento ao longo das civilizações.
A Bíblia exemplifica em Caim, os motivos de inveja, ciúme, ambição, que o fizeram
romper os costumes e valores importantes para a vida em sociedade, e assassinar Abel. A partir daí
muitos são os estudos que buscam explicar a agressão, a violência e a criminalidade, ao longo das
civilizações.
Na Grécia antiga, Platão afirmava que os crimes são causados pela falta de cultura,
pela má educação e pela viciosa organização do Estado (PLATÃO apud DELLA NINA, 1985 p.316),
Aristóteles falava de paixões e fatores sócio-econômicos e reivindicava punição para o
criminoso.(FARIAS JUNIOR, 2001).
No início dessa era, Jesus falava das bem-aventuranças, de atitudes de perdão e
misericórdia, do atire a primeira pedra..., de oferecer a outra face ao agressor. Sua mensagem
testemunho de amar até aos inimigos, fazer o bem a quem persegue, constitui-se nos mais poderosos
antídotos para a violência, e são desafios presentes para cada pessoa, família, sistemas sociais,
civilização.
Na Idade Média, Thomas Morus já considerava que o crime possuía causas sociais, e
preconizava que quem violasse o contrato social merecia pena, como estratégia para inibir outras
transgressões. (TAYLOR et alli apud ADRIANO CARLOS s.d.). Já DELLA PORTA buscava
conhecer o caráter do criminoso, a partir de traços do rosto, crânio e corpo.
Na Idade Moderna, Thomas Hobbes dizia que o homem é lobo do próprio homem e
assim a vida em sociedade precisava de uma autoridade para mediar conflitos. Enquanto isso,
Rousseau acreditava que as causas da criminalidade estariam na sociedade, devido às diferentes
relações de desigualdade, e questionava se seria justo punir a vítima dos condicionamentos sociais.
Na Idade Contemporânea, Philippe Pinel, em seus estudos, identificou que as ações
discrepantes de algumas pessoas não eram decorrentes de possessão de 'demônios', e sim de uma
doença. Muitas delas, apesar da inteligência, são incapazes de fixar e compreender princípios morais, o
que implica em independência entre as capacidades mentais, que podem adoecer isoladamente.
Também nessa época Broca equiparava o criminoso ao louco; Voicin afirmava que o crime resulta de
defeitos no sistema nervoso e Lombroso levantou sua tese do determinismo biológico.
15

Pelo visto, o enigma do comportamento violento e desviante tem sido objeto de


investigações exaustivas, embora as hipóteses levantadas, gerem polêmicas, pois uns atribuem suas
causas ao livre arbítrio do homem. Outros defendem teorias deterministas, onde fatores biológicos,
sociais e vivenciais tornam o sujeito preso a suas armadilhas, não lhe permitindo outra opção a não ser
a delinqüência. Outros a fatores bio-psico-sociais.
Entre os defensores do livre arbítrio, que advogavam que toda ação humana, também a
criminosa, seria fruto de escolha livre, onde seu sujeito é responsável por ela e por suas conseqüências,
incluí-se a Escola Clássica, que tem em Beccaria um de seus representantes.
O Livre Arbitrismo da Escola Clássica considera o homem responsável e imputável
pelo seu crime, pois possui inteligência e consciência livres, e pode discernir o bem e o mal. Portanto
para essa corrente, todos são iguais perante a lei, desconsiderando as diferenças decorrentes das
condições materiais de suas existências. Surgiu então os neoclássicos, que advogavam a consideração
de circunstâncias atenuantes e de inimputabilidade.
Para a Escola Clássica a pena teria objetivo de intimidar, restabelecer a ordem, punir,
expiar a culpa, porém apesar da penalização os crimes aumentavam
A Escola Positiva surgiu questionando o livre arbítrio, argumentando que o
comportamento possui fatores desencadeante determinados pelo biológico, pelo social, pelo moral e
psicológico, onde à vontade do sujeito não teria papel ativo. Assim, não sendo livre, o homem, embora
transgredisse, não decidia sobre sua ação, que estaria desencadeada por fatores superiores à sua
vontade.
Como representante da Escola Positiva destaca-se Lombroso, que atribuía predisposição
para comportamentos violentos e transgressores a defeitos na anatomia. Essa tese surgiu quando ele, a
partir da autópsia de cadáveres dos criminosos, encontrou no crânio de um deles, o de Milanês Vilena,
uma característica semelhante à do homem primitivo. Então, sob a influencia de Darwin, associou o
criminoso a um homem menos evoluído na escala zoológica da espécie, concluindo que um subtipo
humano não teria como contrapor-se a um impulso de violência, de vez que a biologia predeterminaria
seu comportamento.
Lombroso estabeleceu analogia entre alguns caracteres pertinentes ao homem mais
primitivo (a simetria do rosto, orelhas grandes, defeito nos olhos, dentição anormal, características
sexuais invertidas), como predeterminantes nos sujeitos de ações transgressoras.
Em seu estudo classificou os criminosos em cinco tipos: o criminoso nato, que seria um
homem selvagem, pouco desenvolvido; o criminoso louco, que teria uma perturbação mental associada
à delinqüência; o criminoso profissional que se torna por pressões e ocasiões do meio; o criminoso
primário que não persistiria no crime; e o criminoso por paixão, explosivo que cometeria crimes
movidos por impulsos que preencheriam suas crises emocionais.
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Alguns discípulos de Lombroso, a partir da observação de maior freqüência de ações


criminosas numa mesma família, defendiam que a tendência para ações anti-sociais seria herdada
geneticamente, desconsiderando os fatores de aprendizagem social, mas por isso foram contestados.
Esse determinismo biológico da Escola Positiva, encontra oposição em outra corrente
da mesma escola, que defendia o determinismo social, que transferia para o meio social a
responsabilidade pela ação humana. Seu principal representante, Enrico Ferri, chamava atenção para os
condicionantes sociais da criminalidade, que possuía causas antropológicas, físicas e sociais. Para ele a
criminalidade era efeito de falhas na anatomia social, e o homem, sendo determinado, não teria culpa
de seus atos, cujos desdobramentos embasaram o surgimento de uma sociologia criminal.
Outro enfoque dessa Escola Positiva evidenciou aspectos volitivos e afetivos como
incapacitantes do juízo moral, o que impediriam ao sujeito insurgir-se contra a ação delituosa,
resultando no que seria um determinismo psicológico. Raffaele Garófalo representa esse argumento,
explicado devido ao comprometimento de funcionamento de apenas algumas das funções psicológicas,
gerando falhas no núcleo da personalidade. Assim seria possível que um sujeito inteligente para
planejar, mas com falhas em seu juízo, ficava impossibilitado de escolher, ficando à mercê de suas
reações psicológicas. (ALBERCOMBRY, 1656; PINEL, 1798; PRITCHARD, 1835; MOREL, 1857;
Apud FARIAS JUNIOR, 2001).
Essa explicação justificaria muitos sujeitos que cometem delitos e são extremamente
inteligentes e responsáveis, têm reações afetivas frágeis, vida sexual impessoal e pouco integrada,
incapacidade para seguir um plano de vida, ameaça de suicídio, conduta anti-social sem
arrependimento (CHECKLEY, KARPMAM HARE apud BALLONI, 2001).
Desses estudos sobre os fatores incapacitantes da vontade, surgiu o conceito de
periculosidade, e o entendimento da irresponsabilidade plena do sujeito sobre seus atos devido a uma
psicopatia, a partir da qual agiria impulsivamente, sem avaliar conseqüências, e sobre esses atos,
embora anti-sociais e criminosos, não tem como ser responsabilizado plenamente, de tal modo que
também penalmente, sua responsabilidade ficaria atenuada. Essa incapacidade poderia apresentar
diversas gradações de consciência até a completa inconsciência sobre as conseqüências de seus atos.
Ultrapassando a visão da explicação do crime como fato pessoal, seja por livre arbítrio
seja por determinantes biológicos, sociais e psicológicos, Durkheim, que ao lado de Gabriel Tarde e
Lacassagne, um dos principais expoentes da sociologia criminal, considera o crime como um indicador
da sanidade do sistema de valores que constitui a consciência coletiva de modo que procura a solução
do problema criminal não apenas na responsabilização exclusiva do delinqüente mas na
responsabilização do comportamento criminal por elementos típicos da própria sociedade que funciona
como um ambiente verdadeiramente condicionador da ação individual (DURKHEIM apud ADRIANO
CARLOS, s.d, p.3 e p.4).
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Afirmando que o crime é produto sócio-cultural, o que evidencia seu caráter relativo de
transgressão do que for construído como valor numa dada sociedade. Durkheim considera que não
existe crime em si, por maiores que sejam suas conseqüências objetivas, pois a ação humana só será
crime se ofender os sentimentos coletivos e assim for considerado pelo conjunto da sociedade.
Estudando o suicídio e o crime como decorrentes do modelo de organização social,
estabeleceu uma forte influência da consciência coletiva sobre a individual, ressaltando que a medida
que essa consciência coletiva restringir sua influência frente aos indivíduos, (o que ocorre em uma
sociedade heterogênea), pode ocorrer a anomia (DUNKHEIM In PEREIRA & FORACCHI, 1974).
Durkheim analisando a anomia e sua relação com o crime e o suicídio, explicava que
quando ocorre uma individualização excessiva, pode predispor ao crime ou suicídio egoísta; quando a
individualização é insuficiente, pode facilitar um crime ou suicídio altruísta; e ainda ao crime ou
suicídio anômico quando o indivíduo frente a inúmeros fracassos e decepções encontra nele uma
solução.
Dessa forma verifica-se que historicamente foram desenvolvidos vários estudos sobre
crime e criminalidade, que oportunizam vários entendimentos sobre essa incógnita, ficando
desacreditados argumentos sobre determinismo biológico e social, de modo que a criminalidade não
seria obrigatória (DIGNEFFE apud BALLONI, 2001).
O fenômeno criminalidade talvez constitua hoje a questão que maior interesse tem
provocado no Estado, na sociedade, nas famílias, nos cidadãos. Ele inquieta e exige incessantes
estudos na busca de ferramentas que auxiliem o homem e as sociedades a atuarem preventivamente
sobre os fatores dele desencadeantes, de modo a reduzir a ocorrência de crimes, garantindo a segurança
dos cidadãos.
Essa questão apresenta-se como um enigma da "Esfinge do Desenvolvimento", onde
condições materiais de bem estar coroem o nível de relações interpessoais e de confiabilidade no outro
humano. Por enquanto nem os governos (federal, estaduais e municipais), nem a sociedade civil, têm
conseguido a resposta que intimide a esfinge e a faça recuar .

6. Agressão, violência e criminalidade: algumas explicações.

O poeta faz apologia aos bravos, aos que sabem enfrentar as adversidades, aos que vão
às lutas. ..Mas, a qual luta ele se refere? Será a luta de um homem contra outro homem por posses,
dinheiro, poder e diversão? Será a luta do homem em favor de outro homem ou de si mesmo, para
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demarcar as fronteiras que impeçam o avanço de selvageria e da barbárie, e lhe garantem o uso
cidadão do termo “civilizado”.
Civilização... Quanto suor, lágrima, risos e sonhos o homem tem empregado na
construção de sua morada, atribuindo a ela o adjetivo de civilizada. Quanto mais ainda há por construir
até que às artes, a ciência, a tecnologia e as relações interpessoais horizontais e solidárias adquiram
status.
Para tanto é necessário redimensionar uma questão como irrelevante no contexto de
tantas inovações científicas e tecnológicas, há muito superada pelas gerações anteriores, mas que no
momento atual apresenta-se como desafio: a socialização adequada de seus membros, sem a qual a
agressividade humana transforma-se em violência descontrolada.
Todos os animais são agressivos, porém só o homem é violento. A agressão para os
etologistas seria ferramenta de sobrevivência. Seis estudos indicam que existem inibições naturais nas
outras espécies animais, que controlam a agressão, impedindo que animais de maior porte que os
homens, apesar de terem força para matar até outros animais maiores, não matem os membros da
mesma espécie.
Esses mecanismos que inibem a agressividade entre membros da mesma espécie, não se
faziam filogeneticamente necessários ao homem, um anima sem presas e garras para matar caças
grandes, pois sobrevivia tendo como alimentos folhas, frutos, raízes, e outros animais. Talvez
confiante em que o possível agredido, em desvantagem, poderia usar a linguagem e o pensamento
conceitual para sensibilizar e desarmar, pela emoção ou argumentos, o agressor, sua filogênese não o
equipou com inibições naturais, as mesmas que impedem lobos e leões de matar membros de sua
espécie. (BIAGIO, 1975).
A inteligência desenvolvida com e na cultura, com seus valores morais e controle social,
funcionou como uma garra não prevista na evolução da espécie. O fogo, a pedra, a faca, a lança,
aliadas à inteligência com capacidade de planejamento, suplantaram, virtual e realisticamente, garras e
presas.
A invenção das flechas e zarabatanas, armas que distanciam a vítima do agressor e
podem camuflar a dimensão concreta e emocional de sua ação, foram potencializadas com as armas de
fogo e de controle remoto, onde efetivamente, o apertar de um gatilho ou de um botão, pode ser até
parte de um jogo, de um divertimento, onde as vítimas se tornam sem rosto ou invisíveis. Na
civilização o homem pode ter construído um verdadeiro labirinto, no qual, caso não desenvolva
inibidores de valorização e respeito à vida e ao outro, pode perder-se de si mesmo.
A palavra agressão origina-se de “ad gradior”, que significa mover-se para diante, daí
seus significados múltiplos, uns na área da determinação, criatividade, enfrentamento das situações
que se apresentarem, outros, mais comuns, na área da brutalidade, violência, criminalidade.
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É sabido que agressão e violência embora processos paralelos, nem sempre estão
expressos na mesma ação, pois a violência é aprendida, planejada, supõe uma intenção de provocar
dano a alguma coisa ou a alguém. De acordo com COSTA In FUKUI (1992), entende-se por violência,
a utilização da agressividade com objetivos destrutivos, ou seja, qualquer ação dirigida para provocar
danos em alguém ou em algo.
Assim é possível ver agressão sem violência, na tomada de bola do artilheiro; e agressão
com violência nas brigas de rua, em assaltos, etc. Pode-se ainda analisar que nem toda ação que
provoca sofrimento é violência (injeção, obturação de dentes, cirurgias...), e nem toda ação que destrói
bens é violência (arrombar porta para retirar vítimas de incêndio). E quando a agressão objetiva
recompensas extrínsecas, por exemplo, um campeonato esportivo ou até uma guerra, diz-se que é uma
agressão instrumental.
Atualmente o espaço interpessoal e interinstitucional está repleto de contradições, e o
homem é visto simultaneamente como seu grande construtor e maior predador. Algumas de suas
vítimas são fruto de negligências e omissões da gerência das políticas sociais básicas. Outras vítimas
resultam de devastações das matas, incêndios criminosos, poluição dos rios, experiências ou acidentes
atômicos. Ainda outras resultam de acidentes no trânsito, de trabalho, ou de violência movidas por
descontrole emocional, disputas de poder, dinheiro, drogas, intrigas.
Note-se, porém que o que é violência em uma cultura, em outra pode não ser, posto que
é fruto de um consenso coletivamente construído. Assim, para um indígena, colocar sua criança par ser
mordido por formigas, não é tido como violência, posto que a livra de “maus olhados”. Talvez a
aplicação da vacina “tríplice” fosse tida para eles como uma violência.
Paradoxalmente, as ações que envolvem os maus-tratos físicos e psicológicos e
negligências, são vistas como normais pelo agressor, e às vezes até pela vítima. Outras violências fruto
de omissões, egoísmo, imobilismo, passam despercebidas, e vão gerando suas vítimas impunemente.
Considerando que a vítima muitas vezes sofre violências despercebidas pelos seus
agressores, que justificam suas atitudes como as melhores possíveis de serem dadas na circunstância, é
conveniente analisar o entendimento de Johan Galtung (1975) sobre violência. Para ele, violência
abrangeria toda situação onde o sujeito fica prejudicado em seu desenvolvimento, provocando um
déficit entre realidade e potencialidade. Assim, a mortandade por tuberculose no século passado no
Brasil, não pode ser lida como violência, posto que não havia os meios para evitar a doença ou
combatê-la. Hoje, porém, esses óbitos, são frutos de uma violência, a chamada violência estrutural.
A violência estrutural atinge, indiscriminadamente, toda uma população vista sem
poder econômico e político para fazer valer seus direitos. Dizemos que são vitimados, todos os que
sofrem danos produzidos pela violência estrutural (AZEVEDO & GUERRA,1989). Assim, os que
morrem hoje de doenças evitáveis e curáveis, os que morrem de fome, os que não aprendem a ler e a se
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posicionar numa sociedade letrada, os que são atingidos por catástrofes previsíveis, dizemos que são
vitimados por uma violência estrutural.
A violência pessoal comporta uma ação danificadora manifesta ou latente, direta ou
indireta, física ou psicológica. A violência latente é aquela que pode explodir no ambiente que a
permite ou induz, dando lugar à violência manifesta. Entre as diversas formas dessa violência
manifestar-se é possível identificar a Violência Física (brigas, assaltos, homicídios, facadas, tiros,
apedrejamento, chicotadas, desvios de dinheiro, corrupção...); a Violência Psicológica (insultos,
humilhações...). A violência pessoal pode ainda ser Direta (dirigida para a vítima) e Indireta (sem
direção definida).
As formas de manifestação da violência pessoal consideradas transgressoras da ordem,
encontram-se arbitradas nos costumes e códigos penais de cada sociedade. Em algumas sociedades, a
violência estrutural também está incluída nas categorias de crime e para elas também estão previstas
sanções em seus documentos legais.
Entre a violência estrutural e a pessoal, é possível inferir inter-relações, embora não
sejam regras de causa e efeito. Muitos acreditam que em ambientes onde existe a violência estrutural, a
violência pessoal se manifesta mais freqüentemente, pois se parte do suposto que o pobre pode não
aceitar sua condição de privação, e rebelar-se contra a ordem estabelecida. Frente a essa possibilidade
acionam mecanismos assistencialistas e repressores, onde o interesse talvez seja apenas resguardar
motivos de sublevar a segurança.
A produção da riqueza e miséria, fruto do sistema capitalista, desumaniza a sociedade,
aliena o homem, que coisificado, não tem motivo para ser ou não violento (MARX, 1983). Nas
relações engendradas nesse bojo, as pessoas passam a ter valor relativo e os objetos valores absolutos,
ocorre um consumismo exacerbado e um vazio existencial. Nessa lógica, a consciência coletiva de
valores e ética fica fragilizada, deixando emergir a vontade individual, contaminada pela poluição de
um "vale-tudo do ter", à medida que os fatos sociais em suas mensagens, veicularem o "poder" como
"supra-sumo" das aspirações; tornando violências, drogas, transgressões de toda ordem, opções válidas
para o objetivo pretendido.
Acrescente-se a isso a desestabilização de valores, status, mobilidade, costumes, laços
afetivos, que predominam na sociedade heterogenia, onde o padrão de sanção fica flutuante, e ora
permite ora condena o mesmo comportamento. Em relação à conduta agressiva, verifica-se então que
em algumas situações é recompensada, em outras, castigada (brigar, mentir, agredir, assediar, fraudar,
pichar, roubar e outros delitos praticados com habilidade, tem provocado aprovação do meio, mesmo
que as palavras não o digam), daí muitos sujeitos desenvolverem atitudes ambivalentes em relação à
violência, resultando às vezes em tolerância, outras em sanção e sentimento de culpa, e outras ainda
em adesão à delinqüência.
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Assim se faz importante que o processo de socialização possibilita-se aprendizagens


onde o sujeito discriminaria em que situações a agressão seria apropriada, e as formas menos
danificadoras de sua expressão. (FRIEEDMAN et al, 1970).
Se o homem é ser social, aprende seus comportamentos em grupo, por que agiria contra
as normas socialmente aprovadas, em franco desacordo com a lógica coletiva de valores? Será que sua
ação foi impulsiva, coagida ou ele escolheu transgredir? Será que ele fez sua leitura dos códigos de
conduta e sanções? E agora, como lidar com pessoas que se expressam de modo agressivo, egoísta,
impaciente, impiedoso?

Os geneticistas buscando explicar o comportamento violento, reconhecem que existem fatores biológicos
que podem interferir na agressividade, como a estrutura límbica e lóbos frontal e temporal, os hormônios
(testosterona, TsH, T3, T4, insulina e outros), os neurotransmissores (serotonina, dopamina,
noroadrenalina), o colesterol, os distúrbios cromossômicos, o stresse, a fome, o sono, a luminosidade
intensa, e outros BERGERET & LEBLANC, 1991; PALHANO, 2001; BALLONI, (2001).

Considerando-se que para Freud e os psicanalistas a civilização é repressiva, o homem


sofre dentro dela inúmeros constrangimentos (ASCH, 1977). Assim, considerando-se ainda que toda
ação produz uma reação, os códigos que limitam a conduta tornam-se um convite a sua transgressão.
Explicando a agressividade, Freud fala de uma energia da morte, a Thanatos, capaz de desencadear até
a auto-destruição, mas que antagonizada pela Libido, energia da vida, do prazer, voltar-se-ia para
objetos substitutivos. Essa energia pode manifestar-se por condutas agressivas, de car´[ater anti-social
como briga, violência sexual, destruição de objetos, fuga, furto e delitos diversos, e ainda em auto-
agressividade, como tentativa de suicídio, conduta perigosa a acidente. Porém a Thanatos pode ser
canalizada para expressões socialmente construtivas.
Advogando que o comportamento resulta de uma adaptação psicossocial, onde a
sobrevivência, entendida também culturalmente, usa ou desusa esse ou aquele padrão, papel e valor, os
evolucionistas explicam a agressividade como fruto de adaptação para a sobrevivência do ser
(SAWREY & TELFORD, 1974). Convém então refletir, por exemplo, se o uso de atitudes violentas,
egoístas, anti-sociais tem possibilitado a aquisição do status de respeito, propriedade e poder, e
oportunizado a sobrevivência literal do sujeito, ou simbólica, do seu autoconceito e auto-estima.
Considerando o homem em sua totalidade, como um ser holístico, os novos gestalgistas
o concebem como ser bio-psico-social em interação com o meio, e vêem a agressividade como uma
função saudável que desempenha papel importante no processo de desenvolvimento, em relação a
preservação de si mesmo e em suas interações com o meio. (PERS, 1997).
A frustração da necessidade ou desejo, e a instigação ou provocação, seria na teoria do
Drive, o motivo desencadeante de comportamentos agressivos e violentos. Segundo Dollard, Miller,
Doob e Sear a frustração gera agressão, e a agressão é dirigida à pessoa percebida como responsável,
ou na impossibilidade, a outra pessoa que com ela tenha algo em comum. (GEIWITZ, 1973;
RODRIGUES, 1975; MACDAVID & HARARI, 1980; MYERS, 1999; HALL, 2000).
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A incapacidade de tolerar frustrações tem gerado ações impulsivas, provocando


sofrimentos também no ambiente. Essa incapacidade para tolerar frustrações pode acionar mecanismos
internos de compensação, onde a fantasia inventa façanhas incríveis para convencer também os outros
de seu poder, e esse mundo mágico pode facilitar a aproximação ao crime.
Os estudos dos humanistas como Rogers e Maslow, (MACDAVID & HARARI, 1980;
HALL, 2000), que defendem a realização da pessoa como meta inerente de cada homem, buscam
superar as visões deterministas, e colocar o homem como gestor de sua existência, em contato com
suas melhores qualidades humanas, que podem ser acionadas para um contínuo autodesenvolvimento e
busca de auto-realização.
A partir desses entendimentos de Rogers e Maslow, é necessário verificar para onde
estão as setas que a cultura coloca apontando como valor de auto-realização, e 'quais os "eu ideais"
estão sugeridos, impostos para serem internalizados por cada geração.
Se as atitudes agressivas e transgressoras das normas forem tidas como doença social,
os delinqüentes são vistos como pacientes, dependentes de outros que lhes "tratem". Porém para os
humanistas, se essas distorções forem encaradas como fruto de aprendizagens efetivadas, os sujeitos
em questão passam a ter papel ativo no processo de aprendizagem significativa, desde que lhes sejam
afastadas na prateleira da cultura, opções de status por violência, e colocadas variadas e atraentes
opções que possuam efeitos desejados pelo sujeito e pela cultura.
Outra linha teórica que estuda o comportamento humano, a dos cognitivistas como
Gardner, Gibson, Guidano, aponta a agressão como uma resposta emocional dentro de um campo
vital do entendimento da situação, que resulta em expressões pessoais e sociais a partir da percepção
de ameaça ou segurança. (EYSENCH, 1994; NEIMEEYER, 1997),

No entendimento dessa situação tornam-se importantes as crenças nucleares, estruturas cognitivas


profundas, construídas pelas aprendizagens realizadas desde o nascimento, que direcionam a triagem, a
codificação das informações do ambiente, e vão sendo ratificadas. Elas podem cumulativamente gerar
sofrimento ou alegria, agressividade ou misericórdia, mas trabalhadas, tornam possível modificar
pensamentos distorcidos e alterar as crenças funcionais, resultando na substituição dos comportamentos
mal adaptados. (EYSENCH, 1994)

Esses cognitivistas defendem a importância da internalização do conflito pois, se a regra


for interna, a coerção exterior faz-se desnecessária, obsoleta, já que existe um convencimento interno.
Caso contrário a tensão se manifesta em conflitos com o mundo externo e vai gerando sucessivos
conflitos. Esses conflitos podem comprometer suas identificações e auto-imagem, sua representação de
si e do mundo, suas relações interpessoal, intrapessoal e com os códigos da cultura.
Outra linha teórica recente no estudo do comportamento, a da Aprendizagem Social,
que tem como expoentes Bandura, Walters, Skinner, afirma que o comportamento é fruto da
aprendizagem social realizada a partir da imitação de modelos e dos reforços atribuídos (BANDURA,
SKINNER, 1999; HALL, 2000).
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Assim comportamentos agressivos podem vir como respostas aprendidas por imitação
de modelos agressivos recompensados, onde esse comportamento agressivo estabeleceu ligação de
identificação com o modelo, induzindo/facilitando a emissão de 'conduta semelhante, pois por elas o
sujeito adquire o poder do modelo admirado ou temido.
A agressividade pode ter sido modelada por reforço em esquemas de fugas e esquiva
naquelas situações onde por emissão de comportamento agressivo o sujeito evitou ou livrou-se de uma
situação aversiva. Ainda é possível que devido reforço positivo oferecido, contraditoriamente, pela
própria circunstância social do sujeito, sua ação agressiva consegue êxito, e como foi associada como
bem sucedida para seus propósitos, continuará sendo usada, podendo virar hábito e incorporar-se como
justificativa para o comportamento.
Desse modo o que pode ser considerado como comportamento mal adaptado, foi
resposta aprendida e seguida da conseqüência desejada para o sujeito, talvez a única opção para obter
reconhecimento de sua existência e atenção. Resta saber em que medida a agressividade contra outra
pessoa e o patrimônio está sendo ensinada em nossa sociedade, e ficar alerta em relação a imagens e
modelos que cercam as crianças e jovens, pois eles são mais vulneráveis aos efeitos dessa exposição...
Ora, considerando a teoria da Aprendizagem Social, se a sociedade deve cobrar à
medida que ensina, então cabe refletir quais normas e valores estão hoje aprovados pela sociedade e
dominantes nas práticas sociais, e o que tem assumido prestígio entre os comportamentos.
Fala-se de cidadania, ética, honestidade, trabalho, solidariedade...; mas privilegiam-se
os que conseguem posses, dinheiro e poder por qualquer meio. Condena-se a violência, mas convive-
se com a impunidade. Fala-se de paz, mas investe-se na produção de armas com poder crescente de
destruição e morte. Conforme afirma HOBSBAWM (1996, p. 34), a própria experiência ajudou a
brutalizar tanto a guerra como a política: se uma podia ser feita sem contar os custos humanos ou
quaisquer outros, porque não a outra?
Pelo exposto, esses comportamentos desviantes podem ocorrer em conseqüência de
frustração, como respostas aprendidas no ambiente, como resposta a expectativas e a percepção que o
sujeito tem de si e de seu papel na sociedade, devido traço de personalidade, como fruto de
entendimento de uma situação que leva a interpretar a situação e agir de acordo com o sentido, como
resultado das múltiplas interações sociais, como resultado da desorganização da sociedade onde
valores, padrões e sanções estão em mutação instável, e ainda da forma como o homem e os grupos
interpretam e elaboram a gestão de suas vidas (SAWREY & TELFORD, 1974; ASCH, 1977; ROSA,
1978; BLOS, 1996; FICHTNER, 1997; HALL, 2000; BALLONI, 2001).
Essas possibilidades exigem uma análise, interpretação e posicionamento que envolvem
as ciências biológicas, sociais, psicológicas; as políticas sociais básicas; as políticas de segurança e de
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assistência social na construção de uma cultura onde a atitude pacífica faça parte do homem social,
pois
A não violência é uma veste com a qual nos revestimos
ou da qual nos despimos a gosto. Tem sua sede no coração e
deve fazer parte inseparável do nosso ser.
GANDHI

7. Criminalidade e violência: contextos permissivos e desencadeadores

Na disputa da copa do mundo de futebol na Coréia em 2002, não foi registrado nas
manifestações comemorativas da classificação da Coréia para as quartas de final, nenhum ato de
violência, pois a única morte que assumiu espaços nos noticiários, foi a de um torcedor emocionado
vítima de problemas cardíacos.
Essa realidade onde crianças, jovens, adultos e idosos podem se deslocar tranqüilamente
para estádios, shows, outros espaços de lazer, escola, trabalho, supermercado, sem preocupação com
assaltos, latrocínios, brigas, balas perdidas, cotidiano na Coréia, na Austrália, no Canadá, e em outros
países, para o Brasil tem se configurado como utopia.
O Brasil, preocupado em apresentar às outras nações indicadores de desenvolvimento,
tecnologias de ponta, últimos padrões de técnicas utilizadas para preservar a natureza, dinamizar a
agricultura, melhorar o rebanho, incrementar a industria, artes, educação, saúde; se veste com as cores
dos hábitos de consumo e status de primeiro mundo, mas não pode escamotear as desiguais condições
de existência, que permitem a muitos residirem no conforto, enquanto a maioria nem lugar para dormir
possui.
O grito desse contraste tenta ser amordaçado por programas assistencialistas, porém
seus indicadores ultrapassam as fronteiras, e de lá voltam com seus ecos que forçam o governo e a
sociedade civil a ouvi-los e posicionarem-se. Entre eles estão as chacinas, o número de mortes por
desnutrição e doenças evitáveis, o índice de analfabetismo, o desemprego, as altas taxas de mortes
violentas na juventude.
O progresso não é um esforço comum para mover a fronteira da escassez, mas uma
batalha de grupos por chances iguais de participação (DAHRENDORF, 1992, p.31). Desse modo a
mídia, os livros escolares, as revistas, preenchem o desejo com roupas e tênis de marca, colchões
macios, pratos sofisticados, jóias, exames de ultima geração, remédios e cirurgias com as últimas
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técnica e produtos descobertos pela ciência, carros, aviões, bebidas...produtos que estão negados para
todos os que não tiveram a senha da prerrogativa, por questão de sorte e talento, não souberam
aproveitar os provimentos e as chances que a sociedade liberal capitalista oferece.
Assim “compra-se” virtualmente, na fantasia, atributos e padrões de um status e de um
papel que nunca encontrará (ROSA, 1978, p. 58), pois com a desigual distribuição de renda e de
oportunidades de acesso ao saber a aos postos de trabalho, essas ofertas ficam apenas no imaginário
para maioria das pessoas, e o desejo frustrado, gerando estresses, podem potencializar a violência e a
criminalidade.
Neste cenário prevalece a anomia, escassez de serviços urbanos, desemprego, falta de
participação social (SCHNEIDER, 1987). Expande-se o não compromisso em responsabilizar-se por
coisas coletivas. Os costumes e valores tidos como sagrados, são desprestigiados. O prazer e o
interesse pessoal dão a tônica das relações impessoais, sem envolvimento. Como „ninguém‟ importa-se
com qualquer coisa que não lhe diga respeito diretamente, aumenta a tolerância a desvios da norma, e
até a crimes, de modo que o outro pode enganar, aliciar para prostituição e/ou drogas, roubar, bater,
humilhar, assassinar, que „ninguém‟ interfere, nem ao menos para chamar a Polícia.
Estudos do ILAUD (apud KAHN, s.d) demonstram que os países extremamente pobres
ou extremamente ricos possuem menor índice de violência, talves porque em ambos exista um
equilíbrio do nada ter para consumir ou do muito ter para consumir. Entretanto nos países em
desenvolvimento o índice de criminalidade é explosivo, talvez devido à desorganização que assume
nessa busca da mudança onde foge da pobreza mais não é capaz de ter nível de consumo. Essa
desorganização gera verdadeiras cidades com uma subcultura própria, divergente da oficial, onde a
chance de se dar bem está aberta, embora os mecanismos sejam questionados e sejam fugidias as
realizações.
Na cultura oficial o semáforo para trabalho, habitação, saúde, educação está fechado, só
aparecendo atalhos para sub ocupações e humilhações, sub-saláriso e autodesvalia, estratégias de
sobrevivência e envolvimento com a polícia. A idéia de que o censo de coesão social, mola propulsora
da mora está quebrado, ou fatalmente enfraquecido (MAC IVER apud.LAKATOS, 1999, p. 232),
provoca confusão, insatisfação, senso de futilidade, discrepância entre o que possuem e o que
deveriam ter, empobrecimento, violência, delinqüência. A desorganização social potencializa a
criminalidade que por sua vez tenta “vestir-se” como natural e necessária para o contexto, justificando-
se.
Muitos dos atos violentos são indicadores de uma estrutura social incorreta, de
relacionamento com violência física e psicológica, abuso sexual e negligência até na própria família,
significando tanto um pedido de socorro, como a ponta de iceberg, indicando que existe muito gelo
subterrâneo nas relações humanizadoras, e que se faz necessário ascender as águas para viver em
26

segurança, preservando a espécie humana através da proteção de suas crianças e adolescentes, em suas
dimensões biológicas, psicológicas, sociais e espirituais.
O anonimato da vida das grandes cidades, grande densidade de população em áreas
empobrecidas nas periferias, baixos padrões de vida, mobilidade física e de statu que dificulta os
controles vicinais, tem enfraquecido a coesão social, os laços de “pertencer” a uma comunidade,
favorecendo o aparecimento de condutas desviadas para o ilícito. As favelas tem sido exemplo de
espaço urbano onde a criminalidade está estreitamente associada à desorganização econômica, familiar
e vicinal. (ROSA,1978).
Numa sociedade pluralista surgem diversos grupos com idéias contrárias ao padrão
historicamente estabelecido como aceito pela Constituição e demais leis do país. Esses grupos exercem
grande influencia em seus novos adeptos, que são submetidos a provas às vezes extremas para serem
aceitos como membros. Não raro essa prova envolve conduta transgressora para testar o grau de
adesão e submissão do novo agregado.
Muitos são os jovens que, com o enfraquecimento dos laços de pertencimento à família,
a grupos vicinais e de coetanos de bancos escolares, sentem necessidade de se vincularem a um grupo
que tenha poder e se submetem a suas regras com uma disciplina que a sociedade jamais imaginou que
eles seriam capazes. Esses grupos dão "proteção" mas exigem fidelidade, e o jovem da periferia situa-
se na linha de fogo da polícia e dos grupos organizados do crime, vivendo o que Kurt Lewin chamou
de conflito de esquiva-esquiva (GEIWITZ, 1973). A qual solicitará proteção?
Nessa realidade desorganizada, com desigualdades sociais gritantes, enfraquecimento
dos códigos comuns de condutas, individualismo exarcebado, metas culturais cada vez mais fugidias
aliadas a padrões de consumo inacessíveis para a maioria da população, drogas, banalização do corpo,
enfraquecimento dos laços familiares e dos padrões religiosos e vicinais de sanções sobre as condutas,
ausência de metas comuns e do orgulho nativista, muitas são as oportunidades para comportamentos
desviados das regras. (ROSA, 1978; LAKATOS, 1999; BALLONI, 2001). Que regras?
Em muitos casos uma "brincadeira", uma "briga boba", termina em tragédia,
especialmente devido à facilidade de acesso a armas de fogo. Essas situações ocorrem não apenas pela
quantidade de armas de fácil acesso, mas porque essas as armas existem em um contexto violento.
Se, se considerar que o pequeno índio manuseia na infância um arco de verdade, e que
ele, em sua juventude, não o utiliza para intimidar ou matar pessoas, verifica-se que entre os
"civilizados" está havendo uma falha nos processos de aprendizagem, ou esse processo é eficaz e a
falha está no que é ensinado.
Ora, o menino índio ao receber o arco aprende também que ele é destinado a uma
finalidade socialmente aprovada, enquanto o menino brasileiro manuseia na infância armas de
brinquedos, barulhentas e luminosas, e embora não causem dano real, povoam o imaginário e
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naturalizam seu uso indiscriminado e inconseqüente, que incoerente a esse exercício, são condenados
socialmente na vida real.
A arma na mão de um jovem é uma estratégia perigosa, pois tendo ensaiado seu uso em
situações banais e irreais, pode usa-Ias impensadamente, destruindo vidas. Ao segurar uma arma o
sujeito pode confundir-se num emaranhado virtual, onde a realidade perde o sentido e as vidas sua e
dos outros podem fazer parte de um mundo estranho a si mesmo, não programado por si, mas que
espera que ele continue a responder com o "gatilho do controle" que aprendeu a manusear, as diversas
situações em que se encontre com uma arma na mão. Assim com um gesto automático, subtrai a vida
de um outro de forma objetiva, e de forma subjetiva, também a sua pode ser impedida de prosseguir
por esse fato.
Outra questão que vem provocando violência e. morte é a do uso e tráfico de
substâncias psicoativas. O usuário pode, sob efeito da droga, ter facilitado sua expressão de violência.
Ela o coloca em situação de direção perigosa e vulnerável a acidentes diversos. Também devido à
necessidade de conseguir dinheiro para custear o consumo, o usuário pode envolver-se em pequenos
ou grandes delitos, que o colocam em situação de risco de até matar para obter a condição de consumo.
Entre os traficantes, além das situações comuns às de usuário, caso também o sejam,
acrescente-se a briga por "mercado" com quadrilhas rivais, as rígidas normas que punem com a morte
os delatores, os não colaboradores, os devedores. Este tipo de violência ocorre por não haver formas
legais de resolução de conflitos entre traficantes e usuários. Daí muitos estudos ressaltarem que, mais
do que o uso, é a venda de drogas que está associada aos homicídios (ZALUAR, 1984; BEATO
FILHO, 1999).
Muitas sociedades ainda consideram criminoso e doente mental como semelhantes,
porém estudo epidemiológico sobre criminalidade e distúrbios mentais na Alemanha (HAFNER e
BOCKER apud BALLONI, 2001) deram conta que apenas 2,97% dos criminosos eram doentes
mentais, o que contraria o entendimento do senso comum de que o doente mental é perigoso.
Note-se que alguns crimes cometidos sob "violenta emoção" ou por pessoas com
psicoses, neuroses, e distúrbios mentais, também são passíveis de prevenção, se a sociedade,
conhecendo os indicadores, oferecesse outras formas de canalização das tensões e tratamento para as
enfermidades mentais.
Outro fator que tem contribuído para sentimentos de rejeição e antagonismo e violências
deles derivada, são percepções do "outro" como diferente (COOLEY In CARDOSO & IANNI,1973).
Assim os meios de comunicação de massa em suas informações e programações, muitas vezes
fomentam sentimentos racistas, xenófobos, de extremismos políticos e religiosos. As torcidas violentas
de futebol, os bad boy, os skin heads, os mãos negras, os justiceiros são alguns comportamentos que
podem acontecer a partir do que está sendo veiculado pela mídia ( )
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Muitos filmes, programas, músicas, "clips", pintam violência e prazer com a mesma
tinta, evidenciam conflitos raciais e sócio-econômicos pela ótica da oposição entre o bem e o mal,
associando categorias raciais, residenciais, etárias, comportamentais, profissionais e sócio-econômicas
a serem merecedoras de agressividades de toda ordem. Também podem transformar o corpo em
mercadoria e objeto de consumo, anulando pessoas que nele existam e banalizam desrespeito à vida
com torturas aprovadas.
É sabido que frente a algo novo, o homem reage aversivamente, talvez um resquício
emocional que o ajudou filogeneticamente a sobreviver. As exposições repetidas à mesma cena,
dissensibilizam para cenas semelhantes, tornando-as corriqueiras, sem importância, banais, o que pode
predispor outros sujeitos a serem protagonistas de cenas parecidas. Então, se são apresentados modelos
tipo Rambo, Exterminador do Futuro, Jak, o extripador, Brigas de Rua, RoboCop2, Duro de Matar...,
em que a violência não só é consentida, mas incentivada e reforçada, decerto é porque a cultura espera
uma crescente adesão de sujeitos a esses comportamentos.
A prevenção de contextos de risco e desencadeadores da criminalidade exige ações
efetivas e sistemáticas, que impeçam que o crime aconteça. É valiosa para essa tarefa a analise de todas
as contingências que cercam os crimes, os contextos sociais onde ocorreram, sua freqOência, as
características de suas vítimas, os motivos e fragilidades do autor do delito e da sociedade onde
ocorreu o delito.

7.1. Imputabilidade penal e prevenção do delito

...vá e mostre o erro dele, mas em particular, só entre vocês dois. Se ele der ouvidos, você terá ganho seu
irmão. Se ele não der ouvidos, tome com você mais uma ou duas pessoas, para que toda questão seja
decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Caso ele não dê ouvidos, comunique à Igreja. Se nem
mesmo à Igreja ele der ouvidos, seja tratado como se fosse um pagão. .. (Mateus, 18,15-17)

Em todas as culturas, a sociedade coloca uma sanção frente a ações que violam o padrão
de conduta aprovado como importante para o modo de vida e valores de sua realidade. Na família, na
escola, no clube, no trabalho, no trânsito, na Igreja, em todos os ambientes em que se relaciona, o
homem precisa agir conforme as normas estabelecidas, caso contrário está sujeito a punições, mesmo
que essa pena tenha objetivos pedagógicos. Assim a "palmada" e a "palmatória", a "suspensão" e a
"advertência", a "multa" e a "penitência" constituem signos de coerção/penalização e para livrar-se
deles o homem tende a se comportar do modo desejado.
O comportamento desviado das leis de um país é considerado crime e seu autor fica
sujeito a ser penalizado com diversos graus de severidade entre o desprezo até a morte. Porém, embora
muitos atos humanos sejam igualmente considerados crime em diferentes culturas, não existe o crime
29

como realidade universal, de vez que ele é concebido a partir das relações entre homens em um
determinado contexto histórico e político. Assim é possível que o mesmo ato considerado crime em
uma sociedade, em outra seja aprovado.
Para cada delito está previsto também em lei, uma sanção, que pode ter como objetivo:
vingar a ofensa, punir o culpado, dissuadi-lo a permanecer no caminho do crime, dissuadir outros a se
aventurarem pela via da transgressão, impedir que ele reincida (por contenção externa e/ou por
reabilitação para comportamentos aprovados) e proteger a sociedade desses violadores das normas. A
escolha do tipo de sanção e dos objetivos que a animam, possui íntima relação com o contexto sócio-
histórico da sociedade onde o delito ocorreu.
A penalização daquele que violou as normas esteve sempre de acordo com a ideologia
de cada realidade. A "Lei do Talião" propunha " olho por olho ...", e sobre esse axioma muitos ainda
hoje são penalizados. O estabelecimento e aplicação da pena cabe ao Estado, pois que a ofensa,
embora possa ter lesado propriedade ou vida de um cidadão, fere a lei, e também por ela as alternativas
de sanção estão estabelecidas.
Para Durkheim o crime deve ser reconhecido como indicador da sanidade do sistema de
valores que constitui a consciência coletiva (apud ADRIANO CARLOS, s.d.). Assim como essa
consciência coletiva é ascendente sobre a consciência individual, à medida que haja falhas na
internalização desse denominador comum de padrões de conduta, os crimes tornam-se mais freqüentes.
Sócrates foi condenado a beber "sicuta", pois sua maiêutica estava pondo em perigo a
estabilidade do sistema. Galileu ao afirmar que a terra era redonda, teria cometido um crime, violado a
verdade, pondo em dúvida um princípio em que se assentava a ordem social, e seria punido em praça
pública se não recuasse. Bequimão, Joana D'Arc, Tiradentes, Luis XV e Maria Antonieta são exemplos
de pessoas que transgrediram os costumes de sua época ou foram surpreendidos pelas mudanças que
possuíam novos critérios a partir dos quais eles eram considerados ameaças, e foram penalizado por
isso com a própria morte, e em praça pública.
O primeiro código de lei que previu ao invés de castigos corporais, multas e
indenizações para o autor do delito, data de 2050 a. C., na Suméria, com o código do Rei Ur-Nammun.
A pena de prisão é uma invenção recente da civilização, só aplicável à medida que
houve viabilidade de arcar com as despesas desses "fora da lei". Antes da prisão os que transgrediam
eram obrigados a indenizar ao Estado sua ofensa com dinheiro ou trabalho e/ou eram banidos,
exilados, mortos...
Ainda hoje em alguns países, conforme a gravidade da ofensa, o comportamento
transgressor das normas legalmente aprovadas, pode ser punido com castigos corporais e até a morte.
Entre esses paises encontram-se o Egito, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Líbia, Síria, na China, e muitos
paises da África do Sul. Não raro a pena é decretada em processos rápidos sem direito a ampla defesa e
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por crimes políticos que nem envolvem violência pessoal e atentado à vida. Já os países do mundo
ocidental que adotam a "pena de morte", o fazem em ritual privado com processo jurídico longo, mas
que mesmo assim permitiu situações em que, depois de morto, o acusado tivesse descoberto sua
inocência. A forma de imputabilidade para a pena capital no ocidente utiliza cadeira elétrica,
envenenamento por gases e injeção letal. Alguns paises do oriente ainda utilizam chicotadas,
apedrejamento, fuzilamento e outros
Estudos indicam que a existência da "pena de morte" não é por si só fator de inibição da
criminalidade, pois em diversos países onde ela foi extinta como Noruega : (1905); Suécia: (1921);
Dinamarca: (1930); Suíça: (1942); Itália (1944); Alemanha Ocidental (1949); Bélgica (1963); a
violência até reduziu suas taxas. As razões que fazem um Estado abolir a pena capital podem ser
exemplificadas no texto:

Nos concluímos que a pena capital é de uma crueldade inadmissível. Ela degrada e desumaniza todos
aqueles que dela participam. Ela não é necessária para atingir a finalidade legítima do Estado, e ela é
incompatível com a dignidade do homem e com a dignidade da Justiça. não é motivada por qualquer
simpatia pelos criminosos que cometeram atos de violência; a preocupação é com a sociedade que se
diminui ela mesma, cada vez que ela retira a vida de um de seus membros.(Corte do Estado da Califórnia,
1972, apud MAGALHÃES, p. 4, s.d)

A pena capital, além do efeito incapacitante (morto não transgride), também possui o
efeito intimidatório para outros (veja O que acontece Com quem...). Para quem a defende, quanto
maior a severidade da pena, maior O efeito inibitório. Resta refletir se O sujeito antes de Cometer seu
primeiro delito que envolve agressão grave e morte avaliaria antes, ponderando as conseqüências de
seu ato para si e sua família e as possibilidades de vir a ser penalizado pela sociedade. Considere-se
ainda que o medo de ser condenado à pena de morte, ao contrário do que muitos pensam, poderia não
ser estratégia mais apropriada de redução da criminalidade, pois que o autor de um delito grave que, se
apreendido, pode ser julgado merecedor da pena máxima, sabendo que estaria perdido se preso, não se
preocuparia em corrigir-se e não voltar a transgredir, pois sabe que se for pego, sua pena não pode ser
aumentada, poSto que não pode morrer duas vezes.Assim, sentindo-Se perdido, continuará sua vida
Como transgressor, pois "se me pegarem eu já terei muitas "contas” para pagar com o mesmo valor .
Além disSo o direito de tirar a vida de alguém, Como dizia David Nasser num artigo da
revista "O Cruzeiro" na década de 60, é um direito que só pertence a Deus, e assim mesmo sob nosso
protesto. Revogue-se pois ao homem e ao Estado esse direito. A pena de morte parece uma vingança
oU impotência da sociedade de conviver Com, oU alterar a realidade psicológica, social e cultural do
sujeito que transgrediu. Num mundo de tantos avançoS das ciências, não é tolerável que a retirada da
vida seja vista Como único caminho de proteção do sujeito e da sociedade.
Acrescente-se a isso que não adianta apenas legislar estabelecendo duras penas ao
seqüestrador, ao homicida, ao estuprador...É preciso que qualquer pena seja imputável a todoS oS que
31

Cometerem o delito, oU pelo menoS ser uma possibilidade Concreta, "acontecível"para quem
transgredir, caso contrário perde seu caráter inibitório.
Nas subculturas onde a criminalidade é a "lei", não há regras escritas, mas é sabido por
todoS que não podem contrariar o interesse do "comando", pois não existe lugar escondido bastante
para livrá-lo da pena.
Na cultura oficial, excetuando-se os fotosensores do trânsito que asseguram a todoS que
transgredirem a norma, a sanção estabelecida e conseqüente redução daquela transgressão, os demais
delitos são penalizados mais por sorte ou azar. Essa não certeza de penalização reduz a eficácia do
disposto na lei, portanto a ameaça de sanção não tem funcionado como estratégia de prevenção da
transgressão, pois as chances de ser preso são mínimas. Muitos acreditam que a prisão não foi feita
para eles. Ela existe para os outros, os bestas, que dão mancadas, que marcam bobeira, que não
conseguem dinheiro e poder para comprar a liberdade.
Avaliando-se o crescente número de registros nos Boletins de Ocorrência (BO) versus
providências tomadas versus culpados penalizados, verificam-se inúmeras defasagens, que têm gerado
descrédito e crescimento de delitos. Note-se que esse crescimento de delitos registrados acontece em
uma realidade em que muitas vítimas deixam de registrar suas queixas por descrédito no sistema ou
medo de represálias dos agressores.
A crença de que a polícia não consegue prender, ou que basta ter bons advogados para
ficar impune penetrou de tal modo no senso comum, que é necessário maior agilidade nos aparelhos
policiais e de justiça aliados a uma ampla campanha de sensibilização e divulgação na mídia,
apresentando fatos e indicadores das ações e resultados da política de segurança, para que sejam
desfeitos, no imaginário do povo, o medo e o descrédito de que pela via da Polícia e Justiça seja
possível combater a criminalidade.
Historicamente a imputabilidade era aplicada em locais públicos, e utilizava O
fuzilamento, a forca, a quilhotina, a fogueira, o apedrejamento.Hoje nos paises do Ocidente como o
Brasil, as penas que, oficialmente, envolvem castigos corporais como chicotadas em praça pública,
foram abolidas, embora os "Pelourinhos", com o valor real e simbólico de coerção que exerciam,
tenham sobrevivido como arquitetura em algumas cidades.
A maioria das penas hoje envolvem privação de liberdade, o que exige do país que a
adota, uma estrutura física e de recursos humanos para cumpri-la. Essa pena de detenção possui além
do efeito intimidatório, o incapacitante, pois quem está preso estaria impedido de fazer algo contra a
sociedade. Esse efeito hoje na era do celular e Internet tem sido desmistificado com a audácia de
bandidos que, embora dentro das penitenciárias, continuam a comandar ações criminosas, o que tem
exigido do Estado uma postura inteligente para que cadeia e penitenciária não se tornem "quartel" do
comando organizado.
32

Outra reflexão sobre o efeito incapacitante é que essa prisão só atua a partir de limites
externos que impedem movimentos. Porém para impedir o crime torna-se prioritário que sejam
construídos limites internos, freios de conduta internalizados pelo sujeito, e nisso as escolas sócio-
psicológicas que trabalham comportamento humano, as relações intra e interpessoais, o autoconceito,
as escolhas, as perspectivas, podem dar efetivas contribuições.
Enquanto o código de Hamurabi na Mesopotâmia de 1700 A C, previa que o homem
livre que cometesse qualquer delito seria punido mais severamente do que um escravo pelo mesmo
delito, pois que ele teria obrigação de preservar os valores morais aprendidos desde a infância, a
sociedade brasileira pune severamente o pobre, o sem instrução, o sem emprego, pelo mesmo delito
que se cometido por alguém com curso superior, a punição comportaria inúmeras prerrogativas.
Assim enquanto a justiça for mais severa com quem a estrutura social já penalizou pela
negação de direitos, muitos crimes que inclusive colaboram para a permanência dessas injustiças
sociais, (como corrupção, sonegação, desvio de recursos públicos, negligência e incompetência na
execução das políticas sociais básicas) tendem a ser ampliados, pois não são penalizados.
Resta refletir em que medida a cadeia oportuniza aprender que o "crime não
compensa?". Será que os antes homicidas, latrocidas, estupradores, após o cumprimento da prisão
estarão respeitando o direito à vida, incapacitados para a pratica de novos delitos? Será que os que
antes não seriam capazes de matar, após o cumprimento de pena de prisão banalizam o valor da vida?
Em vista dessa realidade, em que os jovens e os pobres constituem-se a maioria da
população carcerária, reflete-se se será justo obrigá-los à matrícula na "especialização em
criminalidade" oferecido nas cadeias, às vezes por um roubo ou trafico como opção de sobrevivência?
Que outras estratégias podem ser deflagradas na prevenção secundária do delito, de vez que a família
afetiva e economicamente estruturada falhou? A educação, a profissionalização, a inserção no mercado
de trabalho não os alcançaram?
À medida que a sociedade passe a buscar clarificar quais os efeitos da prisão na vida dos
que por ela passaram, terá com certeza um farto manancial de estratégias melhores a serem
implementadas no interesse da coletividade.
Considerando-se que muitos dos condenados à prisão são pessoas que cometeram
delitos em que não foram envolvidas violências físicas contra a vida, e segundo uma visão mais
recente que alia punição e recuperação do transgressor, em muitos paises, (e o Brasil já começou a
adotá-las), tem sido aplicadas penas alternativas.
Essas penas alternativas possuem efeito intimidatório, de proteção à sociedade e de
reabilitação do sujeito que o cometeu. Nesse caso é imprescindível que o autor do delito não seja visto
como criminoso, algo que ele não poderia deixar de ser, mas como alguém que transgrediu a norma,
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feriu valores, mas pode e fará escolhas mais acertadas à medida que o exercício cumprido durante a
aplicação da pena, possa alterar as circunstâncias de sua vida e prevenir novas transgressões.
Em relação à existência de padrões divergentes e antagônicos de conduta numa mesma
cultura maior, será possível descobrir e implementar estratégias capazes de reduzir as distâncias entre
os antagonismos que geram violências de toda ordem, e encontrar um denominador comum de padrões
de conduta em que seja vivido pelo menos o respeito e cumprimento dos códigos escritos na lei maior
do país onde residem?
Em termos objetivos de custo-benefício, será que não há um modo mais barato e eficaz
para punir a ação e dissuadir o sujeito de continuar transgredindo, alterando também suas condições
materiais de existência, mesmo que sob estreita tutela do Estado, abrindo-lhe os caminhos da
perspectiva pela via aprovada socialmente, recuperando-o?

7.2. A criminalização da pobreza

De repente muitos meninos se vêem em meio a uma partida do campo da vida. Mesmo de pés
descalços, franzinos, sem nenhuma equipagem, preparação, instrução, se vêem obrigados a chutar a
bola da sobrevivência. Muitos tombam golpeados pelas faltas dos adversários.
Desses, uma grande parte deixa definitivamente o campo da vida. Outros continuam em campo,
mas embora crianças e adolescentes não tem esperanças. Sabem que a taça da cidadania está fora de
cogitação, e muitas vezes passam a retribuir com intensidade, as faltas que vem sofrendo. ..
E saber que tudo que queriam era pertencer a um time organizado (uma família), ter
preparadores técnicos e físicos (educação e saúde), ter a estima da torcida (comunidade), o respeito do
juiz e dos bandeirinhas (governos, políticas básicas, assistenciais de proteção), e assim marcariam os
gols da justiça social, do desenvolvimento e paz que o Brasil tanto precisa (RAMOS, 1992).
A sociedade tem feito uma leitura diferente da pobreza. Se antes ao pobre eram
atribuídas qualidades que o faziam merecedor do "Reino", hoje lhe são atribuídos estereótipos que o
ligam à marginalidade, à agressividade, à criminalidade. De inofensivo exposto à piedade, passou a ser
gerador de medo e de atitudes de esquiva. Para eles qualquer violência é merecida, pois se ainda não
delinqüiram, estão prestes a, portanto.representam sinal de perigo a ser reprimido o quanto antes.
Eles são os excluídos. Vivem de teimosos e resignam-se ou rebelam-se em relação à
"camisa de força" imposta. São-lhe destinados espaços para papéis de figurantes da grande novela das
relações aprovadas, porém podem ser protagonistas "requisitados" pelas grandes agências de
contravenção, o fascinante e perigoso programa de “Linha Direta", onde
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Por esse pão p'ra comer, por esse chão p'ra dormir A certidão
p'ra nascer e a concessão p'ra sorrir Por me deixar respirar, por
me deixar existir...
CHICO BUARQUE

São pessoas marcadas com "ferro de brasa" esquentado no fogo do preconceito, da


discriminação, do egoísmo, da violência estrutural, merecedores da cadeia ou da morte, qualquer coisa
que os impeça de cumprir uma profecia de ameaça escrita pela própria sociedade no habite-se de
residência periférica, no boletim da escola negada, na receita não formulada, na carteira de trabalho
jamais assinada.
Essa marca ultrapassa a pele do presente e "ferra" gerações. Sim, estudos demonstram a
transmissão intergeracional da pobreza (BARROS, In FAUSTO & CERVINI, 1991). Muito cedo as
famílias aprendem que seus filhos possuem por sobrenome: Pobreza; que lhe impede o acesso às
"melhores" cenas da vida, pois passa a ser tido como suspeito para não merecer acesso a emprego,
hospital e escola de qualidade. Suspeito que venha envolver-se com criminalidade, prostituição, tráfico
de drogas, bandos, quadrilhas e até com o chamado crime organizado.
Nesse contexto fazer parte das chamadas classes perigosas colocou os membros das
classes populares ou do proletariado em situação paradoxal e dilema de difícil saída. (ZALUAR, 1992,
p. 115). Assim é preciso cuidado para que a expectativa de que o favelado, o negro, o pobre, sejam
atores de violências, não contribua para colocar em evidência qualquer ato que os associe à
delinqüência, e justifique o preconceito.
Desse modo, esses estigmas que fazem a população periférica ser vista como perigosa, e
marginal, constroem uma muralha maior que a da China. Apartados de toda esperança à qualquer
acesso a espaços sociais cidadãos, percebem-se em situação de inferior desigualdade, em um fosso só
transponível por “dado de sorte" .
Nessa situação de "impedimento" de viver, trabalhar, estudar, ter saúde, ter um lar, ter
perspectivas de futuro, ter esperança encontram-se os desempregados, os residentes da periferia, os
moradores de rua, os índios, os doentes mentais e os reconhecidos como diferentes (prostitutas,
homossexuais, mendigos, ladrões, assassinos...), que por isso estão sujeitos a serem alvos de
radicalismos extremos, que podem comportar da discriminação e negação de acesso até o risco de
virem a ser vítimas de extermínio.
As notícias não se preocupam em alardear ações solidárias realizadas pela população
pobre, mas se um pobre desesperado vendo a fome de seus filhos, roubou o frango da "merenda
escolar", torna-se manchete, o que ratifica o imaginário de que todo pobre pode transgredir. Porém a
classe média ou rica, que fizer negociata na compra/venda da merenda escolar, mesmo que se torne
35

notícia, não transfere para os demais integrantes de sua classe 0 seu delito, que assume caráter
particular .
Ouve-se muito de delegados, promotores e juizes lotados em cidades pequenas, com
população eminentemente pobre, que a maioria das questões que lhes são levadas são delitos simples
que passariam despercebidos nas grandes cidades. Nelas também, apesar da privação extrema de
inúmeras famílias, a "rua não gera filhos", e todos os meninos tem seu lar, mesmo quando perdem os
pais ainda pequenos e não têm parentes, uma vizinha, um compadre, um outro alguém assume os
órfãos. Ora, se a criminalidade decorresse da pobreza, essas cidades é que apresentariam os maiores
índices de criminalidade.
Também nas áreas empobrecidas nas grandes cidades, muitos moradores lutam pela
sobrevivência segundo os mais cristalinos valores éticos. São incapazes de enganar , roubar, danificar,
agredir. Lutam bravamente para escapar e livrar seus filhos da fome e da criminalidade, mesmo que o
Estado muitas vezes não lhes seja aliado, pois a política pública que coloca a seu alcance é a de
Segurança, que muitas vezes trabalha segundo a ótica que alia a pobreza e a pouca idade ao potencial
de delinqüência. Com o descrédito que a sociedade lhe impingiu, passam a ser alvo de violências de
toda ordem, inclusive a de serem acusadas, desacreditadas, discriminadas apenas pelo "sobrenome",
tendo que escapar dos bandidos e da polícia.
Como diz a música eu só quero é ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde nasci,
nenhuma criança, adolescente ou adulto escolheria ser diferente, porém o estigma de pobreza é tão
forte que muitos expressam-se coerente ao ditado "sou pobre, porém honesto" , colocando uma
adversativa entre essas duas palavras. Estudos feitos por Adorno e Bordini, Coelho e Paixão (apud
MAlA, s.d.), demonstram que a .maioria da população em situação de pobreza rejeita e censura o
crime, embora tenha incorporado a expectativa de papel de que venha a se envolver com a
criminalidade, contra a qual se posiciona.
A naturalização do crime que os grandes jornais estampam em suas manchetes, fazendo
a sociedade ler como naturais às brigas e mortes nas periferias, e os assassinatos cometidos por jovens
oriundos dessas áreas, não ~ compartilhada pelas famílias e moradores dos bairros pobres. Para eles o
envolvimento de um de seus filhos ou vizinhos em atividades criminosas representa uma vergonha.
Não raro a mídia denuncia famílias que amarram filhos na perna da mesa, porém em muitas situações
essa foi a única estratégia entendida como eficiente para evitar que "seu menino" se envolvesse com a
"barra pesada" da esquina, e viesse a ser amarrado no sistema prisional.
No Brasil os espaços que ampliam horizontes para os seguimentos empobrecidos de sua
juventude apresentam o semáforo vermelho da vergonha. Vergonha de viver na condição de
despossuído da sorte, de posses, de destino, de si mesmo, vergonha de sobreviver no inferno onde o
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calor que lhe anima os batimentos são provocados pelo medo da polícia, medo dos traficantes, medo
do desemprego, medo da fome, medo de ver-se encurralado entre o crime ou a morte.
Embora a infância seja construção da cultura, não é possível negar que ela existe, o que
torna perverso o ventre de uma cultura que a concebendo como em circunstancia especial de
desenvolvimento, lhe nega as condições de proteção e induz a forte sentimento de privação,
desamparo, dependência, inferioridade e marginalidade.
Muito cedo a escola da rua, como espaço de aprendizagem, lazer, e estratégia de
sobrevivência assume o comando dos destinos, porém contraditoriamente, a rua não abre caminhos,
enclausura destinos e perversamente, acostuma-se a permitir ensaios de liberdade virarem
agressividade e violência, delinqüência e criminalidade .
Os "filhos da rua" adquirem o sobrenome da grande família dos excluídos, e dela
herdam o abandono material e moral, fome de tudo, vulnerabilidade a doenças e a morte, sendo alvo
fácil para o alistamento no grande exército de traficantes, turismo sexual e grupos organizados do
crime.
Segundo MINAIO (1993) as crianças vão para a praça pública mensageiras da miséria e
da impotência que se abateu sobre o lar, e essa imagem negativa que os afasta da filiação, gera
dificuldades de aceitação de si e desse destino imposto, que pode traduzir-se em agressividade e
desprezo pelas normas aprovadas e valorizadas mas que não os inclui.
A incapacidade para suportar a si mesmo e esse contexto de vida gera uma insaciável
sede de mudança, traduzida por uma hiper atividade, hostilidade. O mito de Édipo, destino
irremediavelmente trágico estaria presente nessa população, que na desesperada tentativa de não ter
castrado sua vida, é capaz de lançar-se com todo seu poder contra aqueles que se interpõem em seu
caminho.(FICHTNER, 1997).
A ocupação do tempo ocioso de crianças e adolescentes tem sido vista como um
investimento no futuro por diversas classes sociais. Para a classe social que pode pagar, o tempo
ocioso de seus filhos é preenchido com aulas particulares, esporte, música, computação, cinema,
viagens...
Para outros, aqueles que tem dificuldades até para colocar o feijão na mesa, o tempo
ocioso de seus filhos é preenchido por trabalho, ou pelo jogar de conversa fora na esquina, fliperama,
sinuca, estratégias de sobrevivência na rua, e incursões crescentes em atividades marginais. A escola
não lhe atinge ou é longe ou exige farda e outros signos de pertencimento distante de conseguir. A rua
é lama só, não dá nem para brincar de pique. O mato roçado pode servir para jogar bola, mas é tão
escondido que também se presta para treinar tiro, puxar fumo, realizar desejos sexuais e às vezes
esconder produto de um roubo e até um corpo de algum "otário".
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Seguindo um raciocínio de que é preciso preencher o tempo da criança pobre com


trabalho, muitos crêem ser o trabalho infantil uma estratégia eficiente para socializar esse menino,
livrando-o de ser engolido pelas teias da marginalidade. Assim muitas são as iniciativas que buscam
socializar e instrumentalizar esse menino para um trabalho no lado "certo", mesmo que seja um
trabalho subalterno.
Considerando-se ainda que o potencial para envolvimento com o crime contra terceiros
está mais presente no menino, é para ele que é dirigida a maioria das vagas nos programas de
assistência social e de proteção, porém muitos desses programas são desenvolvidos mecanicamente e
não alteram as condições e as possibilidades de futuro desse menino, embalando para mais tarde, para
a outra geração, a chance de inclusão social, contribuindo para camuflar as desigualdades num
contexto da ideologia liberal. Esse menino então pode perceber-se como empurrado para um destino
fatídico, e entre as opções de se livrar do destino ou aderir a ele, experimenta um conflito radical.
As famílias de classe média e privilegiada também buscam preencher a ociosidade de
seus filhos com inúmeras atividades, que não são questionadas nem por eles nem pela sociedade,
porém entre elas o trabalho como antítese do ócio não é priorizado. Merton analisa a expectativa em
relação ao comportamento e fala de uma profecia que se auto cumpre, essa profecia seria uma
definição falsa da situação que provoca uma nova conduta, a qual por sua vez converte em verdadeiro
o conceito originalmente falso (MERTON apud MAIA, s.d. p. 14)
Os jovens da periferia, desvalorizados, introjetam um autoconceito de inferioridade.
Desocupados buscam preencher o tempo e o tédio com o que aparece, e às vezes por falta de políticas
públicas de educação, saúde, lazer, profissionalização, as "escolhas" podem incluir uso e tráfico do
corpo, pichação, maltrato de animais, brigas, armas, álcool e outras drogas e outras transgressões das
normas sociais. Muitas vezes nos grupos a que se filiam, é exigida fidelidade irrestrita, e os rituais e
ações ganham mais força e sentido em si, como espaço de identidade e sentimento de afiliação e
solidariedade, resultando em percepções de força e poder para defender-se da discriminação,
anonimato e perigos. Muitos grupos denominam-se "gangues", com hierarquias e códigos rígidos, sob
os quais 0 jovem realiza exercícios de submissão a normas. (Porque será que não se mostram capazes
de cumprir as normas legais da sociedade maior?).
Tensos mais que os outros jovens, os da periferia também vivem uma ambigüidade por
várias identidades que se embaralham à sua frente, de desejos e sonhos, das metas de sucesso e status,
da incapacidade de acesso a meios "legítimos" para fazer a travessia de sua realidade concreta de
existência até os modelos de felicidade engendrado no bojo do sistema. Desvalorizados por si e pelo
sistema, muitas vezes percebem-se sem nenhuma perspectiva de superar o contexto que lhes oprime, o
que facilita o entendimento popular que a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis
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que chega a roda viva e carrega a gente e o destino p'ra lá... vai contra a corrente, até não poder resistir
(CHICO BUARQUE).
Rebelar-se contra esse modelo discriminador pode não ser a saída, mas é uma "rima", e
assim o "ilegítimo" pode tornar-se apropriado, reduzindo a dissonância de pertencer sem pertencer a
uma cultura que o exclui. "Virar o jogo", aderindo a referências de outra cultura antagônica a
legalmente instituída, pode também não levar a nada, porém apresenta-se como uma possibilidade, e
frente a ela muitos fazem suas apostas. os excluídos e deserdados, podem desertar da sociedade e seus
valores, e viabilizar caminhos de delinqüência.
Eu não posso aparecer na foto do cartão postal. Porque p'ro rico ou p'ro turista eu sou poluição.
Sei que sou brasileiro. Mas não sou cidadão. (...) A minha vida é um pesadelo e eu não consigo
acordar. E eu num tenho perspectivas de sair do lugar. (...) Mas não fui eu que fracassei. Porque eu
nem pude tentar. Então que culpa terei. Quando me revoltar quebrar, queimar, matar. Não tenho nada a
perder. (...) Eu sou mendigo, um indigente, um indigesto, um vagabundo. Eu sou o resto do mundo
GABRIEL, O PENSADOR
O modelo capitalista liberal tem gerado um enchimento das cidades com grandes
bolsões de pobreza, onde se alojam famílias em busca de uma perspectiva melhor. o que os moveu do
campo para a periferia urbana foi um sonho de melhores condições de educação, saúde, trabalho para
seus filhos. O velho fogão de gás representa para a geração mais velha um status de acesso comparado
com o de carvão usado no campo. Porém os filhos envolvidos pela telinha mágica que os familiariza
com 'n' estilos de vida e objetos de consumo, não se importam com o ganho que a família considera ter
conquistado e passam a sentirem-se frustrados e inferiores, desconfiados e depressivos ou agressivos
na tentativa de conseguirem ter os padrões de consumo que lhes ofuscam os olhos, os passos e a auto-
estima.
A não adequação das roupas e linguagens, dos signos necessários para o acesso aos
empregos geram alcoolismo e outras drogas, depressão, tentativa de suicídio, sentimentos de culpa, por
não terem aproveitado as "chances" que a escola ofereceu. Tantas frustrações podem gerar uma reação
agressiva, não mais possível de ser contida pelo lar como instância de pertencimento.
Como pertencer a um lar que nada tem? A perda das raízes gera uma experiência
descontextualizada sem passado e sem rumo, onde tudo pode acontecer. A grande catedral erguidas no
imaginário da mídia eletrônica tem gerado imaturidade, baixa auto- estima, sexo ocasional,
banalização do corpo e da violência, drogadição, roubos, criminalidade.
Situadas em área de marginalidade espacial, nas periferias, o que acarreta também a
distância aos acessos de participação, de serviços sociais básicos, as famílias empobrecidas sofrem a
falta de tudo, também de regras que normatizem os comportamentos e de acessos a "caminhos de
futuro". Predomina o que Durkheim denominou anomia, ausência de regras e de denominador comum
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de padrões de comportamento, gerando desajuste e imprevisibilidade. Esse sociólogo também estudou


o suicídio como fenômeno decorrente de situação onde as aspirações humanas, criadas e estimuladas
pela sociedade, se tornam dificilmente realizáveis, provocando tal situação o desânimo, a frustração, a
perda de interesse e de objetivos de vida (DURKHEIM apud ROSA, 1978, p.37).
Os estudos de Merton (ROSA, 1978) também evidenciam as metas culturais ,
inatingíveis como responsáveis para comportamentos desviantes. Para ele a supervalorização de
"riqueza e prestígio" oportunizou anomia, e com ela atos de desvio. Também essas metas inatingíveis
podem provocar adesão a rituais que passam a ter valor em si mesmo, sem apostar em alvos; a não
obediência a qualquer comando externo, apatia e a renuncia.das metas culturais postas que, em sua
visão, não levam a nada; e ainda a rebeldia que pretende substituir todas as metas e meios existentes
(BLOS, 1996; FICHTNER, 1997).
Culpada por não ter conseguido "domar" seus filhos, a família se sente cada vez mais
impotente e infeliz, gerando ainda menos perspectivas para sua prole. Seu agir contraditório, em que se
torna cúmplice de situações não desejáveis, acreditando que ao esconde-Ias elas podem desaparecer,
tem gerado ocultação de transgressões de pequenos delitos, drogas, abortos,o que ao contrário do
desejo, potencializa envolvimentos e gravidades dos delitos.
A situação residencial facilita a convivência com pessoas e grupos ligados a diversas
formas de crime, expondo muitos meninos a obterem favores imediatos, qual seja, uma carteira de
cigarro, um som, uma roupa, um espaço para namorar, uma proteção. Dessa convivência surge uma
cumplicidade. Dessa cumplicidade à adesão aos comportamentos dessa subcultura, existe um atalho.
Esse modelo neoliberal que disponibiliza através da mídia eletrônica, bens e status
associados a felicidade impossível de ser conquistada pela maioria da população, gera uma perspectiva
trágica onde a desesperança de aspirações podem produzir diversas formas de inserção discrepante no
modelo de um modo de vida egocêntrico, imediatista, e inconseqüente .Sem ilusão e esperança para
crerem em si mesmo e verem a vida como realização pessoal, sentem-se inferiores, frustrados, e nesse
clima a impulsividade encontra eco.
Inquieta frente aos marcadores da escala de terremotos que indicam um aproximar-se
crescente de um vendaval de violências, e acreditando na dependência causal entre pobreza e
criminalidade, a sociedade esquece de explicar os inúmeros crimes cometidos pelo "colarinho branco",
por pessoas de "bem", que estudaram, que têm acesso a ambiente com status valorizados, filhos e
filhas da classe média e alta, da escola, de áreas nobres.
Como a família atual envolve complexas relações entre domicílios onde pai e mãe
moram em domicílios diferentes e com cônjuges diferentes, se faz necessário trabalhar o imaginário
social, de modo que seus membros não vejam essas configurações diferenciadas como inferiores ou
incompetentes.
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Em muitas realidades, por situação de nascimento, residência, contexto sócio- cultural,


o destino atribuído é aprendido, mas rebelar-se contra esse destino também é uma possibilidade, e
nisso a sociedade precisa investir. É necessário pois focalizar o olhar para essas crianças e adolescentes
vitimadas ou vitimizadas, vendo-as como agredidas por suas histórias pessoais, num contexto
histórico-cultural. É preciso perceber as forças de pressão que estão ocasionando a situação individual
e trabalhar sobre elas, inclusive penalizando os autores ou cúmplices das violências estruturais e
pessoais que as vitimam, sejam agentes externos, sejam familiares, professores, policiais,
comerciantes, vizinhos e outros.
Em um mundo em que a ciência e a tecnologia prometem longevidade, conforto, carros
blindados e até peles a prova de balas não se tentou ainda uma fórmula que reduza as condições de
miséria onde estão inseridos milhares de famílias.
Se a família é capaz de estabelecer vínculos "vacinais" contra a criminalidade, o
desespero, a depressão, o egoísmo, a injustiça social, a corrupção, as violências, ela precisa de
proteção.
A sociedade tem investido em programas de assistência social que tentam "domar"
aqueles que a vida destinará a grande arena para lutar contra a morte ou matar. Muitas experiências
envolvem propostas domesticadoras e civilizatórias envolvendo atividades de arte, esporte, folclore,
educação e trabalho, porém sem buscar alterar as variáveis materiais de suas vidas, o contexto familiar
e vicinal de seus padrões de referência, a distância entre a realidade e as metas culturais " inatingíveis",
O significado de seu "sobrenome".
A família deve ser considerada sujeito de direitos, e não destinatária de ações episódicas
de programas assistencialistas. Ela precisa ter fortalecido seu reconhecimento como instância delegada
de socialização e humanização.
Ao invés de investimento em penitenciária de segurança máxima, o Estado e a
sociedade deveriam investir na família onde serão construídos laços afetivos e sentido de vida que não
incluam a violência como estratégia de obtenção da herança humana.
As políticas públicas de educação, saúde, lazer, trabalho, habitação, transporte coletivo,
saneamento, não têm encontrado a população pobre, ou se as encontra o fazem de forma fragmentada e
paternalista, minimizando as dores da realidade presente, sem os instrumentalizar para superar essa
realidade. Assim tornam-se imperiosas políticas sociais básicas que as alcance, trabalhos lúcidos que
não se detenham em criticar as estruturas sociais mas apontem saídas a curto e médio prazo, pois a
vida humana é limitada, e para essas pessoas o "amanhã" pode ser muito tarde.
É urgente desenvolver estratégias capazes de retirar da pobreza o estigma ferrado com
preconceito que as faz, independente de qualquer conduta, serem vistas como suspeitas. Urgente
reverter na sociedade e no Estado, a resignação com que se posicionam frente a esse "campo de
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concentração", de dor, sofrimento e morte. Dor , sofrimento e morte não de outra raça, outra língua,
mas de também brasileiros, que podiam ser qualquer um de "nós".

7.3. .Juventude e a expectativa de criminalidade

E a jovem no desfiladeiro, acorrentada e imobilizada, esperava sua "sorte" .Ao longe a


população observava a hora em que o monstro apareceria, mas permanecia imóvel, por não acreditar
ser possível detê-lo. De súbito aparece Teseu, mata o monstro, desamarra a jovem e lhe apresenta
perspectivas de vida e futuro. A paz então é instalada.
Os mitos e os fatos que a história traz à tona estão repletos de exemplos de situações
onde a violência contra terceiros, exogâmica, era aprovada e festejada. Quiçá houvesse até um
concurso entre os jovens, para eleger quais seriam sacrificados, entregues ao monstro, em troca de um
tempo onde a sociedade ficasse sem a ameaça do monstro, então com sua ira aplacada.
Hoje para se defrontar com o monstro da violência, também os eleitos são jovens.
Jovens gerados no ventre de uma crise social em que, contraditoriamente, a ausência e a abundância de
bens tem obstruído o sentido da vida, possibilitando o cavar desesperado de túneis com a "pá" da
agressão, velocidade, drogas, depressões, suicídios, homicídios. E pensar que esses túneis absorvem
energias vitais, que seriam capazes de imobilizar o monstro do medo e perigo e estabelecer uma
estratégia cognitiva que norteasse a saída do labirinto da violência e criminalidade.
Acorrentados a contextos de risco muitos jovens reagem escondendo-se em quadros de
depressão, sentimento difuso de rejeição, anorexia, bulimia, ansiedade, apatia, tédio, paralisia
operacional que dificulta a aprendizagem, ativismo sexual ou inibição da atividade sexual, tentativa de
suicídio, drogas, fanatismo religioso. Outros tentam escapar utilizando comportamentos agressivos,
desviantes, delinqüentes, em que se incluem: 'gazear' aula, abandono da escola (e com ela as
perspectivas de futuro), fugas de casa, pichações, 'pegas', roubos de carros, violência sexual, furto,
violências contra o patrimônio e contra pessoas, tráfico e outros. Ainda muitos outros jovens reagem
pelo caminho do trabalho e estudo, determinados a superar as condições adversas, construindo um
caminho de fidelidade a esse ideal.
Apesar de toda a ideologia de valorização da juventude, o jovem tem se constituído num
grupo de altíssimo risco para mortes violentas, que poderiam ser prevenidas e evitadas. Vítimas de
acidente de carro, de socos e pontapés, de armas brancas e de fogo, de envenenamento, de overdose, os
jovens tem tido sua vida banalizada, por um contexto que assiste imobilizado, o monstro das diversas
formas de violência apresentar sua face e devorar essas vidas. Muitas dessas mortes já foram
decretadas com a certidão de nascimento, devido às condições de precariedade material e emocional
das famílias em que nasceram e do contexto circundante.
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No início do século XXI, a sociedade brasileira ainda convive com criminosos de


diversas categorias. Há os de "colarinho branco", os do crime organizado que utilizam tecnologia em
armas e estratégias, os do trafico de drogas, os do agenciamento de mulheres, trabalho escravo,
seqüestro, crimes sexuais (como o do Moto Boy, em São Paulo), os autores de crimes passionais,
roubos, homicídios, assassinatos e outros crimes inexplicáveis (como o do estudante Mateus que atirou
em espectadores de um cinema no shoping em São Paulo).
É esperado que esses comportamentos, teoricamente considerados abomináveis, não
despertem admiração de ninguém. Porém, a forma como muitos dessas pessoas passam a adquirir
respeito e poder mesmo em um território restrito, assim como o destaque que passam a obter da mídia,
da indústria cinematográfica e da polícia, termina provocando, em algumas camadas das gerações mais
jovens, admiração, e com ela sentimentos de cumplicidade, lealdade e identificação com o modelo
(BANDURA apud HALL, 2000). Nesse caminho, surge a perspectiva de seguir o modelo e se dar
bem, afinal a sociedade também ensina que “vale tudo” por um minuto de glória.
Assim, o jovem talvez seja a população mais vulnerável para os efeitos desses heróis
que intimidam o governo, a polícia, a justiça, a sociedade. Estando numa fase de construção da própria
identidade, experimentam papéis transitórios que lhes possibilitam o “sabor” do poder. Assim, podem
gritar “isso é um assalto”, e conseguir facilmente a carteira e relógio da eventual vítima. Sob ameaça
de quebrar objetos da casa, maltratar um animal de estimação e até pessoas, podem obter o dinheiro, a
roupa, o som, o CD, a chave do carro, o “sim senhor”. Desse modo, a partir de uma ação “bem
sucedida”, reforçada, poderão ampliar seu poder para obter o que desejam, a namorada ou a transa, a
nota e a aprovação na escola, a música preferida no “baile” e a bebida de graça, o sectarismo dos
colegas e até a cega obediência às suas ordens e caprichos (SKINNER apud HALL, 2000).
Considerando-se que a adolescência é um período chave do desenvolvimento, tendo
como conflito nuclear básico a construção da identidade versus confusão de identidade, suas
experiências anteriores, as projeções de futuro e as percepções que fazem delas, poderão auxiliar ou
dificultar ao jovem a resolução desse conflito. (ERICKSON, 1976).
Embora seja fenômeno que possui estreita relação com a sociedade e cultura onde está
inserido, a adolescência é um período que oportuniza diversos graus de instabilidade na busca de si
mesmo e de sua identidade, comportando oscilações de humor, contradições nas manifestações de
conduta, atitude social reivindicatória, crises religiosas, deslocalização temporal, intelectualização e a
fantasia na elaboração de sua identidade, que supõe também evolução sexual do auto-erotismo até a
heterossexualidade, o afastamento dos pais e a adesão a grupos. (KMOBEL, 1992).
Para Erickson (1976), as experiências vividas na infância poderão instrumentalizar o
adolescente a apresentar autoconfiança e reconhecimento mútuo ou uma atitude de dúvida em relação
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a si, ao outro, ao mundo. Também possibilitarão autocerteza e autonomia no autoconceito, ou inibição


por vergonha e medo de não corresponder às expectativas suas e do meio.
A busca de um autoconceito, de uma identidade, aliados à imaturidade emocional e
vivencial podem fazer o adolescente demonstrar hostilidade, impetuosidade, contestação, desprezo,
que dependendo da estabilidade afetiva e das circunstancias do meio circundante, podem ou não serem
transitórios. Segundo Ana Freud (apud GALLATIN, 1978) essas manifestações representam
recaptulações dos conflitos infantis e portanto oscilam entre dependência intensa e independência
exagerada; demonstram obstinação, determinação, impulsividade, vulnerabilidade em relação ao
corpo, à limpeza e à ordem; e ainda, apresentam ou excessiva curiosidade a respeito do sexo, ou
grande embaraço e pudor, temores de possibilidades de incesto, podem fazê-lo desligar-se
emocionalmente dos pais, mantendo-se estranho em sua própria casa.
Confuso a respeito de tudo e de si mesmo, o adolescente pode embaralhar o ter com o
ser, de tal modo que a posse material de bens passe a ter subjetivamente significados importantes na
existência. Às vezes, no objeto roubado o jovem procura a compensação para o sentimento de perda
emocional, como se o objeto pudesse trazer do outro, o que o outro 'deve possuir' no plano afetivo, do
autoconceito e auto-estima, como se possuindo bens pudesse possuir a si mesmo.
Outras vezes agride pessoas, objetos e espaços, uma espécie de atuação, pois "produz-se
um curto-circuito do pensamento, onde se observa a exclusão da conceituação lógica dando lugar a
expressão através da ação" ( KNOBEL, 1992, p. 11). A atuação funciona como mecanismo de
descarga da tensão, no qual nenhuma limitação é aceita pois a ação impulsiva atropela o pensamento e
não gera culpa.Nessas situações, talvez descarregue o tumulto interno, ou busque que a realidade
exterior apresente-se tão instável e confusa como sua percepção de si. Para conseguir êxito nessa
façanha, precisa de instrumentos que o façam sentir-se forte, e nesse plano drogas e armas podem ser
incluídas como opção.
Em algumas situações, a ação anti-social traduz um pedido que alguém se importe e
funcione como um controle externo, uma figura de autoridade (parentes, professor , policial, padre,
pastor, juiz. ..) que o auxilie a recuperar impulsos primitivos de amor , sentimento de culpa e desejo de
corrigir-se (WINNICOTT , 1995). Em alguns casos haveria um desejo de que o papel familiar de
cuidado, proteção e investimento que lhe foi negado, possa ser assumido pelo Estado através da polícia
e justiça, e que eles teriam poderes para colocar as coisas em ordem e redefinir as condições agressivas
e aversivas onde estão inseridos, possibilitando-lhes uma perspectiva de futuro.
Essa irritabilidade, explosão, destrutividade, drogadição, podem ser uma necessidade de
auto-afirmação, de dificuldades para confiar em laços de pertencimento, de desrespeito às regras e
limites da família, sociedade e estado, de um "por à prova" o sentimento de autocerteza onde precisa
demonstrar que é mais rápido, que não tem medo (FICHTNER, 1997; BLOS, 1996). Ressalte-se que
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muitas vezes as transgressões não geram culpa ou sentimento de reparação, e o contar o feito como
proesa tanto pode ser mais um ato agressivo como um pedido de ajuda.
Em relação aos ensaios na busca da identidade, Erickson (1976) defende que o
adolescente poderá apresentar iniciativa e experimentação de muitos papéis, até que escolha os que
sejam mais representativos de sua identidade desejada, mas poderá negar-se a essa busca e fixar
precocemente um papel que não gostaria de desempenhar , mesmo que seja arriscado, discriminado,
reprovado pelo meio circundante, pois considera que é melhor ser um "zero à esquerda", " rebelde sem
causa", 'terror que espalha medo", do que ficar tentando ser o que nunca será, e ainda sentir-se culpado
de não ter chances de êxito em outros papéis, vistos como inatingíveis.
Na adolescência o grupo de amigos, com idades, angustias, interesses, atitudes em
comum, representa poderosa força na determinação do comportamento, de modo que se oferece como
espaço para ensaiar identidades em oposição ao do meio familiar. Sua influência se faz demonstrar em
preferência por roupas, adereços (pirsing, corte de cabelo, tatuagens. ..),vocabulário e comportamentos
contraditórios.
No grupo, o jovem testa os dogmas e pode transformá-los em valores, reconstruindo
muitos aspectos desse mundo, encontrando fundamentos para argumentação e estratégias de superação
das dificuldades. Porém, também fica vulnerável à pressão e regras do grupo para sentir-se aceito, e
dificilmente questiona as deliberações, podendo submeter-se à condutas de indiferença, de
irresponsabilidade, de crueldade, de ultrapassagem dos dogmas, limites, uso de drogas, direção
perigosa, "roleta russa", condutas destrutivas de objetos, animais e pessoas. Na maioria das vezes esses
comportamentos desaparecerão, pois que são circunstanciais e transitórios. O grupo afrouxará seus
laços à medida que os papéis adultos forem sendo assumidos. (KNOBEL, 1992).
As experiências da infância redimensionadas agora na busca de sua identidade, podem
possibilitar ao adolescente seu envolvimento com as tarefas, seja estudo, lazer e trabalho, visto com
significativos, possibilitando-lhe „n‟ aprendizagens, ou ao contrário, provocarão um sentimento de
inutilidade, de impossibilidade, que nega sentido a qualquer tarefa e faz o adolescente realizá-la de
forma mecânica, sem experimentar nenhuma ligação com ela nem com seu resultado, devido a uma
espécie de “paralisia operacional” nesses casos pode ter dificuldade em compreender algo sozinho, o
que pode acarretar ociosidade, desinteresse por tudo, até pelo lazer.
Ora, a sociedade tem inventado que o tempo existe para ser “matado”. Muitas crianças
são extremamente dependentes de ações externas, estímulos externos, algo para fazer, alguém que lhes
mande. Essas crianças parecem demonstrar incapacidade para atividades internas que lhes
desenvolveriam a capacidade simbólica e lhes instrumentalizaria para avaliar, prever conseqüências de
ações, sonhar, deliberar coerente aos sonhos.
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O tédio pode ser indicador da incapacidade de conviver consigo, de concentrar-se, e


pode dificultar a convivência com parceiros, a escolha de identidades aprovadas pela família e
sociedade, e a hostilidade para com tudo e todos que representam melhor situação no tempo como
dimensão de vida.
Num contexto de ausência de futuro, drogas, ativismo sexual ou inibição sexual,
anorexia e bulimia, velocidade no trânsito, atitude beligerante, fuga da escola, tentam demonstrar aos
outros e a si mesmo, que ele, o jovem, é corajoso, insensível e sabe como preencher o tempo. Porém
essas atividades podem ser exoressão de real dificuldade em conjugar e conciliar passado e futuro,
pretendendo talvez ser um pedido de “socorro” para uma fragilidade emocional, que remete a uma
necessidade de controle externo, alguém que possa “salvá-lo de si mesmo”.
Na construção de sua identidade, o adolescente redefinirá significados para a sua
sexualidade, podendo iniciar precocemente atividades genitais sem envolvimento afetivo, tornar-se
estranho ao próprio corpo, ou estabelecer uma previsão de papel sexual que o habilite a envolver-se
com o outro, ter intimidade e não se isolar. Também é tempo em que formulará sua cresça pessoal,
podendo desenvolver um sentido de zelo pelos outros e valores da cultura ou estagnar, deixar-se
manobrar com facilidade em um cinturão de falta de perspectivas; e ainda construir uma ideologia que
lhe torne um sábio aprendiz, ou um desesperançado da vida ( ERICKSON, 1976).
Na construção de uma ideologia, de um plano de vida, a dificuldade em elaborar
pensamento simbólico, falhas na elaboração da memória como instrumento de identificação, e a não
internalização dos padrões morais que a sociedade considera válidos, podem dificultar ao jovem
compreender as conseqüências do seu comportamento, e gerar distorções na auto imagem,
possibilitando ainda autodesvalia e falta de perspectivas .
Se houver grande a distância entre o “eu real” e o “eu ideal”, haverá ansiedade,
desânimo e apatia, possibilitando agressividade como resposta freqüente, de vez que as outras opções
estão além dos recursos da pessoa. A depressão e deserção real ou emocional pode predispor à
delinqüência, posto que "nada importa", e assim pode apresentar-se como ameaça, provocando medo e
raiva, ou como um coitado, sujeito de pena.
Se o sujeito acreditar que a vida pode ser melhor amanhã, ele não transgredirá com
facilidade, colocando em risco a vida e a liberdade, como disse Makarenko:

O ser humano não pode viver no mundo se não tiver pela frente alguma coisa jubilosa (...)
E preciso organizar essa mesma alegria,(...) coloca-la como uma realidade possível(...)
Faz-se mister converter insistentemente os tipos de alegria mais simples em outros mais
complexos e humanamente significativos. (. ..). Desde a satisfação primitiva com um
pedaço de pão de mel, até o mais profundo senso do dever.(...)
O verdadeiro estímulo da vida humana é a alegria do amanhã, a perspectiva de futuro( ...)
O homem que pauta seu comportamento na perspectiva imediata, o almoço de hoje é mais
fraco. Se ele se dá por satisfeito com a sua própria perspectiva ele é forte. Educar um
homem significa educar nele os caminhos da perspectiva pelos quais se distribui a sua
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alegria de amanhã.(...) Os dons quixotes sabem enxergar o futuro em cada migalha, cria-
Io com indispensável paixão.
( MAKARENKO, 1986: 177, 178, 179,207).

A sociedade tem apresentado cenários de glamour e sedução, dinheiro e poder ,


corrupção, violência e impunidade, deixando atônitos com essas luzes, aqueles que pelas próprias
condições de desenvolvimento, estão em busca da identidade, ou sejam, os adolescentes. As distancias
intransponíveis entre o que é permitido e pretendido x oportunidades oferecidas, têm gerado
dissonâncias cognitivas, freqüentemente 'resolvidas' com explosões de violência e agressividade, cujo
significado encontra-se na impotência diante de regras impossíveis de serem cumpridas (SAWREY &
TELFORD, 1974; LEITE, 1993).
Considerando que no mundo do "tudo permitir" prevalece a anomia, a falta de
participação social e a desorganização familiar, é possível que defasagem crescente entre as
necessidades dos jovens e os meios reais para satisfaze-Ias possam gerar condicionantes para a
criminalidade. Assim as metas culturais inatingíveis para quase todos, constituiriam o móvel para, na
visão de Merton e posteriormente Benjamim, acontecerem os comportamentos de desvio que
caracterizam a anomia. (ADRIANO CARLOS, s.d.; ROSA, 1978).
Se o aumento da delinqüência entre adolescentes decorre da anomia, seria possível
relacionar a criminalidade juvenil e adulta com a desorganização social.
As dificuldades de estabelecimento de vínculos afetivos com a família, insuficiência de
condições econômicas para sustento, ausência de limites ou excesso de rigor e intransigência na
imposição dos mesmos, evidência de modelos violentos valorizados no meio circundante, dificuldade
de internalizar conflitos e elaborar soluções avaliando escolhas e conseqüências, baixa escolaridade,
ausência de perspectivas de trabalho e futuro, reforço de interesse e o benefício imediato após a atitude
violenta e/ou criminosa, fazem parte do currículo desses jovens que se impõem pelo medo. (ROJAS In
FICHTNER, 1997).
Também as contradições nos mecanismos de controle social, seja na família, sociedade
e Estado, onde a sanção atribuída à transgressão pode ser considerada como questão do acaso, e ser
preso, morrer ou viver, num mesmo patamar de possibilidades e significados.
Nessa sociedade heterogênia, movida pelo "salve-se quem puder", onde atitudes de
indiferença, discriminação e "profecia" de fracassos se interpõe nas relações entre as gerações, são
construídos os contextos de risco e vulnerabilidade para transgressões e violências.
Nesse caminho o adolescente pode transformar-se num grande homem pequeno, que
intimida a tantos e a si mesmo, sem saber que ele precisa cobrar de si mesmo, com a mesma
intransigência com que cobra dos outros, que responda as questões básicas a respeito da vida e de si
mesmo, dos resultados objetivos de suas ações e do abismo ou viaduto a que ele, por elas, está se
dirigindo. Assim ele perceberá que todo caminho possui mão dupla, e que será possível conciliar seu
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passado com o futuro, à medida que se dispuser a desalinhar o emaranhado novelo em que se
transformou a sua vida.
Os fios desse novelo poderão ser utilizados para mapear o complicado labirinto da
existência, semelhante ao do Minotauro, onde Perseu, apesar de considerado sem chances, derrota o
monstro e casa com a princesa. Mas para isso a sociedade precisa lhe segredar que é capaz, que existe
saída e abrir as janelas das perspectivas reais que lhe possibilitarão motivos para empreender essa
grande proesa.

8. CONCLUSÃO

O crime e a violência são manifestações que indicam a saúde das relações sociais, das
políticas públicas e dos valores da cultura considerados importantes a ponto de serem internalizados
pela socialização, de modo que venham a constituir-se denominador para as ações, sentimentos e
sanções entre todos os que partilham a mesma linguagem, Inter- relações de trabalho, território e metas
comuns.
Embora todo crime produza impactos na vida da vítima e sua família, na vida social
também a vida do autor do delito vive impactos que poderiam ser aproveitados pelo Estado para que
ele não reincidisse. Porém, para muitos que iniciam o caminho da criminalidade, o resultado de seu
delito pode ser gratificante, pois por ele conseguem dinheiro e poder frente à vítima e à sociedade. Pelo
delito passam a ser "alguém", mesmo alguém "indesejado", Às vezes é pelo delito que levam pão à
família, e passam a especializar-se nessa atividade lucrativa. Aprendem as táticas da administração
gerencial, e até num assalto de rua utilizam divisão de tarefas, onde um distrai a vítima outro lhe toma
a bolsa e outro mais adiante a recebe, confundindo a polícia. Assim, enquanto os estrategistas no
campo da criminalidade se organizam para melhor exercer suas funções, a sociedade temerosa fica
acuada.
Bin Laden, Fernandinho Beira-Mar, Elias Maluco, representam poderes diferentes que
espalham terror e pânico. Leonardo Pareja, Fernando Outra Pinto, são exemplos de jovens cheios de
talentos, que a sociedade desperdiçou e permitiu sua sentença de morte.
Por quanto tempo o Estado ainda vai achar que pode menos que esses rebeldes sem
causa?
O Estado tem a maioria da sociedade, a Constituição, os aparatos de internalização dos
valores dominantes como a Escola e a mídia, os aparatos de exercício da coerção pela força como a
Justiça e a Polícia. Se o Estado desejar matar a "Medusa da criminalidade" e aproveitar-se da cabeça
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do monstro para petrificar as ações delinqüentes e violentas que ameaçam e intimidam a população das
cidades e do campo, restaurando a vida e a solidariedade entre as pessoas, decerto terá êxito.
O Estado "desejante" de libertar a sociedade do monstro da violência, encontrará, tal
qual como o Perseu da mitologia, nas sandálias aladas de Mercúrio, representada pela Justiça que é
capaz de a todos alcançar; na afiada espada forjada por Vulcano, representada pela política pública de
Educação, que pode forjar perspectivas de vida em toda a geração; no escudo de Minerva representado
pela Policia Militar, que pode além de proteção, refletir em suas manobras a experiência de quem sabe
qual o alvo e como atingi-lo; e no capacete de Plutão, representado pela segurança pública, capaz de
tornar invisível e inatingível, toda uma sociedade sob sua guarda. Lembre-se que voce tem papel
importante e indispensável, faça sua parte e cobre resultado daqueles que tem tambem o dever de faze-
la.
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