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Investigación original / Original research

Determinantes da implantação de um
programa de segurança e saúde no trabalho
Sonia Cristina Lima Chaves,1 Vilma Sousa Santana,2
Inez Cristina Martins de Leão,3 Jusiene Nogueira de Santana 3
e Lívia Maria Aragão de Almeida Lacerda 3

Como citar Chaves SCL, Santana VS, Leão ICM, Santana JN, Almeida Lacerda LMA. Determinantes da implantação
de um programa de segurança e saúde no trabalho. Rev Panam Salud Publica. 2009;25(3):204–12.

RESUMO Objetivo. Identificar preditores da implantação de um programa de saúde e segurança no


trabalho (PSST) que integra a vigilância à saúde do trabalhador com a segurança no trabalho,
envolvendo a participação de técnicos, empresários e trabalhadores.
Método. Neste estudo de desenho ecológico, foram estudadas empresas atendidas pelo PSST
do Serviço Social da Indústria (SESI) no Estado da Bahia, selecionadas aleatoriamente, du-
rante o ciclo entre 2005 e 2006. Os dados foram coletados em entrevistas com informantes cha-
ves da empresa e relatórios técnicos do SESI. Com regressão linear múltipla, analisaram-se os
fatores e subdimensões impulsionadores do PSST para a empresa, os trabalhadores e a equipe
técnica do PSST.
Resultados. Das 78 empresas selecionadas (3 384 trabalhadores), 24,4% haviam alcançado
a implantação do PSST em grau avançado; 53,8% em grau intermediário; e 19,3% em grau
incipiente. Fatores da empresa, dos trabalhadores e da equipe técnica se associaram positiva-
mente ao grau de implantação do PSST (P < 0,001). Destacou-se como o mais importante, iso-
ladamente, a autonomia da gestão financeira do PSST (b = 4,40; P < 0,001). Na análise bi-
variada, associaram-se com a implantação o nível de conhecimento (b = 1,58; P < 0,05) e
treinamento em SST dos trabalhadores (b = 0,40; P < 0,001) e a articulação entre a equipe de
segurança (b = 1,89; P < 0,01) e a de saúde (b = 0,58; P < 0,05). Esses achados não se modi-
ficaram após ajuste por escolaridade dos trabalhadores e gestores, salários, grau de risco e porte
das empresas.
Conclusões. A disponibilidade de recursos e de tempo dos trabalhadores para a saúde e a se-
gurança no trabalho, a integração e o reforço de atividades de educação para trabalhadores e
gestores e a melhor integração das equipes de saúde e segurança podem contribuir para o su-
cesso das ações de promoção da saúde nas empresas.

Palavras-chave Saúde ocupacional, segurança, gerência de segurança, vigilância, Brasil.

As doenças e os acidentes ocupacio- No Brasil, além da regulação e das


1 Faculdade de Odontologia, Departamento de
Odontologia Social e Pediátrica. Correspondência:
nais representam uma grande carga para normas e guias de boas práticas, são
Avenida Araújo Pinho 62, 6° andar, Canela, CEP os trabalhadores, as empresas, os ser- utilizados inspeções e penalidades, trei-
40110-912, Salvador, BA, Brasil. Fone: +55-71-3495. viços de saúde e a seguridade social. Os namentos e cursos que promovem o
6210; e-mail: schaves@ufba.br
2 Universidade Federal da Bahia (UFBa), Instituto programas de intervenção para o enfren- aprimoramento do desempenho das em-
de Saúde Coletiva, Programa Integrado em Saúde tamento desse problema se baseiam, em presas na prática de proteção dos traba-
Ambiental e do Trabalhador (PISAT), Salvador geral, em modelos de vigilância da lhadores. O Ministério do Trabalho exige
(BA), Brasil.
3 Serviço Social da Indústria (SESI), Departamento saúde e da segurança, aplicados com di- que todas as empresas com trabalhado-
Regional da Bahia, Salvador (BA), Brasil. versas estratégias (1). res avaliem regularmente os riscos do

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ambiente de trabalho e a saúde de seus focam desfechos ou programas específi- gestores em segurança, a elaboração de
trabalhadores, sendo que os resultados cos de intervenção sobre agentes de risco planos de ação e a realização de inspeções
dessas avaliações devem subsidiar os ou enfermidades e agravos isolados e, em locais de trabalho (15).
programas de prevenção. Os dois pro- em geral, apresentam problemas meto- No Estado da Bahia, o Serviço Nacio-
gramas obrigatórios para empresas são o dológicos (9). No Brasil, a avaliação de nal da Indústria (SESI) desenvolve um
Programa de Prevenção de Riscos Am- programas de saúde ocupacional é inci- PSST que em 2006 atingiu 194 empresas,
bientais (PPRA) (Norma Regulamenta- piente. Miranda e Dias (10) estudaram estando prevista a sua avaliação perió-
dora No. 9, ou NR-9) (2) e o Programa de PPRA e PCMSO de 30 empresas e verifi- dica. Esse programa tem sua origem em
Controle Médico e Saúde Ocupacional caram que os relatórios de risco ambien- 1994, quando, após a divulgação das
(PCMSO) (NR-7) (3). tal (92,9%) e os de problemas de saúde NR-7 e NR-9, o SESI Departamento Re-
As intervenções baseadas em diagnós- dos trabalhadores (85,7%) apresentavam gional da Bahia avaliou suas práticas em
ticos situacionais são positivas porque inconsistências em relação ao grau de saúde e segurança e identificou proble-
geram decisões fundamentadas em in- risco das empresas envolvidas; também mas como a falta de planejamento, o
formação e valorizam a participação dos foi constatada a baixa qualidade técnica atendimento fragmentado à demanda
trabalhadores. Todavia, apresentam fa- desses relatórios. Esses autores constata- espontânea sem consideração às necessi-
lhas na própria concepção, como a sepa- ram ainda que nenhuma empresa havia dades dos trabalhadores, a grande des-
ração entre agentes de risco e efeitos envolvido os trabalhadores na elabo- continuidade das ações e um enfoque
sobre a saúde, o que resulta em desarti- ração dos programas. Em uma avaliação predominantemente clínico, sem aten-
culação das ações e em tensões e vieses sobre o controle do ruído em PPRA/ ção à prevenção ou promoção da saúde.
disciplinares em um campo essencial- PCMSO de indústrias de São Paulo, Elaborou-se, então, um programa de
mente interdisciplinar. além da inexistência de mensurações, saúde ocupacional baseado na vigilância
Poucos estudos têm se debruçado observou-se que não eram emitidas co- à saúde, com eixo na integração das
sobre a avaliação de programas de saúde municações de acidentes de trabalho ações de saúde, higiene e segurança, par-
dos trabalhadores em empresas. Em um (CAT) (11), que são registros para fins ticipação de equipes multiprofissionais,
desses trabalhos (4), os principais de- de seguridade social no Ministério da envolvimento da empresa e trabalhado-
terminantes de clima de segurança per- Previdência Social. Com base em dados res e proposição de intervenções adequa-
cebidos pelos trabalhadores foram as semelhantes, outro estudo apontou que das às necessidades. Esse programa so-
condições ambientais, a existência de pro- as avaliações clínicas do PCMSO não freu redefinições sucessivas, alcançando
gramas de segurança, o apoio organi- abrangiam enfermidades ou agravos o formato atual a partir de 2004.
zacional e a comunicação na empresa. ocupacionais e que era limitado o regis- O objetivo deste estudo foi identificar
Em países orientais, certas avaliações de tro de agentes de risco ocupacional (12). os fatores que se associaram positiva-
programas de saúde e segurança realiza- Portanto, as evidências apontam para a mente ao sucesso na implantação do
das em pequenas empresas revelaram insuficiência da vigilância à saúde ocu- PSST proposto pelo SESI em empresas
que a associação de empresas por ramo pacional nas empresas e para a falta de do Estado da Bahia.
de atividade reforça o compromisso com cumprimento das recomendações legais.
a segurança. Além disso, foi observado A avaliação de programas de saúde MATERIAIS E MÉTODOS
que o uso de estratégias baseadas em comumente abrange os componentes de
metas e resultados, por parte das empre- implantação, estrutura, processo e des- Este é um estudo de desenho ecológico
sas, resulta em um uso efetivo de check- fechos ou resultados (13). Embora a ava- conduzido com dados agregados por
lists, na realização de trabalhos de grupo liação da implantação, ou seja, do grau empresa, relativos ao registro da implan-
(5) e na aplicação de boas práticas adap- pelo qual a proposta planejada foi efeti- tação do PSST no ciclo entre 2005 e 2006,
tadas a condições locais, como, por exem- vada, seja fundamental para determinar segundo a avaliação do grau de implan-
plo, atividades de baixo custo (6). o cumprimento dos impactos esperados, tação proposta por Denis e Champagne
Uma pesquisa sobre fatores preditores são raros os estudos com esse foco. Entre- (14). O PSST analisado atende 11 471 tra-
de acidentes de trabalho identificou que, tanto, o conhecimento dos determinantes balhadores de indústrias manufatureiras
em nível individual, os mais importantes de implantação de programas de saúde, e 3 822 de empresas da construção civil
foram escolaridade, experiência, apren- ou seja, dos fatores que influenciam a no Estado da Bahia, segundo dados da
dizado e atitudes dos trabalhadores (7). operacionalização adequada de uma in- Relação Anual de Informações Sociais
Em um estudo conduzido nos Estados tervenção (14), pode contribuir para a (RAIS) para o ano de 2004.
Unidos, verificou-se que a maioria das identificação de obstáculos ou fatores A avaliação do PSST parte de um
empresas não avaliava a efetividade de propulsores que podem potencialmente modelo lógico de intervenção (16, 17),
seus programas de vigilância. Entre- ser gerenciados visando ao alcance das composto de três níveis: a) contexto de
tanto, o estudo revelou que esses pro- metas desejadas. No único estudo encon- implantação; b) implantação da inter-
gramas tinham efeitos positivos, inclu- trado sobre avaliação de implantação de venção; e c) resultados. Compreende-se
sive a redução de custos com saúde, o programas de saúde e segurança, reali- como implantação um processo de
aumento da detecção precoce de proble- zado na Noruega, observou-se que o grau gestão do início do programa que en-
mas de saúde, a diminuição da ocorrên- de implantação aumentou no período volve várias etapas, cujo final é o pro-
cia de agravos e enfermidades e o au- de estudo e foi menor nas empresas de grama implantado com todas as ativida-
mento da produtividade (8). pequeno porte e privadas. Os principais des previstas em pleno funcionamento.
Além de raros, os estudos que avaliam preditores do grau de implantação foram A implantação do PSST se inicia com a
os programas de saúde ocupacional en- o treinamento dos trabalhadores e dos etapa de sensibilização do empresário ou

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pessoa focal da empresa, indicada, em De uma lista de todas as empresas par- A variável dependente foi a dimensão
geral, pelo dirigente principal. Após a ticipantes, selecionaram-se, de modo grau de implantação do PSST. Os esco-
sensibilização, realizada por meio de vi- aleatório, por alocação proporcional dos res correspondentes das subdimensões
sitas e reuniões com representantes do sub-ramos mais comuns de atividade foram somados, resultando em um es-
SESI-Bahia, instituição prestadora do econômica, 80 empresas (3 384 trabalhado- core global do grau de implantação do
serviço, apresentam-se o propósito e a res) (18). Como parte das obrigações con- PSST, analisado como variável contínua.
estratégia do PSST e as vantagens relati- tratuais, cada empresa indicava uma pes- Esse escore global varia, portanto, entre
vas à adesão aos marcos regulatórios do soa focal para contatos com a prestadora. 0 e 100, considerando-se o PSST comple-
Ministério do Trabalho e Emprego, à po- Em geral, a pessoa focal era o gerente ope- tamente implantado quando atingisse o
lítica de saúde do Ministério da Saúde e racional. De acordo com a programação valor máximo.
aos subsídios oferecidos pelo SESI relati- das atividades, tendo a empresa comple- As variáveis preditoras foram as três
vos a esse programa. Com a aceitação, tado um ciclo de implantação, dava-se iní- dimensões restantes, ou seja, fatores im-
iniciam-se as atividades, com uma visita cio à avaliação da etapa correspondente. pulsionadores da empresa, fatores im-
inicial para levantamento de dados qua- Para tal, eram colhidas informações com pulsionadores entre os trabalhadores e
litativos, seguida de procedimentos para a pessoa focal sobre os fatores impulsio- fatores impulsionadores da prestadora
realização de avaliações ambientais com nadores da empresa e com membros da de serviços. Também nesse caso o escore
vistas à identificação dos grupos ho- equipe de saúde e segurança da empresa global para cada dimensão foi calculado
mogêneos de exposição. Propõe-se um sobre fatores impulsionadores dos traba- pelo somatório dos escores atribuídos a
plano de ação conjunto da equipe. As lhadores e da prestadora. Portanto, foi ne- cada uma das subdimensões; os escores
visitas dos profissionais de saúde e se- cessária a elaboração de formulários para das subdimensões, por sua vez, repre-
gurança são realizadas periodicamente cada um dos tipos de respondente, pessoa sentam a soma dos escores atribuídos a
para acompanhamento das sugestões focal e equipe SST. Os formulários desti- cada critério (tabela 1).
propostas e realização de atividades no nados à pessoa focal foram preenchidos As covariáveis foram também defi-
local de trabalho. Os trabalhadores reali- por meio de entrevistas telefônicas, fax ou nidas a partir de escores atribuídos pela
zam exames médicos que compõem um visitas individuais. As equipes de SST res- equipe com base nas evidências da
relatório epidemiológico da empresa. pondiam às questões presencialmente, implantação do programa na empresa.
Para uma implantação bem-sucedida, com narrativas escritas. Foram consideradas como covariáveis
considerou-se que haveria fatores impul- Os instrumentos empregados conti- potencialmente modificadoras do efeito,
sionadores no âmbito da empresa, entre nham perguntas relativas a cada dimensão, ou confundidoras, as seguintes: 1) escola-
os trabalhadores e na equipe do SESI res- subdimensão e a seus respectivos compo- ridade da pessoa focal, que variou de en-
ponsável pelo PSST. nentes específicos, de acordo com o mo- sino fundamental (escore zero) até nível
Outros fatores não diretamente inte- delo lógico do programa. Foram conside- superior (escore 5); 2) a escolaridade dos
grantes do programa, como o nível de radas quatro dimensões (tabela 1): fatores trabalhadores, que variou de 0% de tra-
escolaridade médio das pessoas focais e impulsionadores para SST na empresa; balhadores com ensino secundário com-
dos trabalhadores, os salários, o grau de fatores impulsionadores à SST entre os pleto ou mais (escore zero) a 100% com
risco ocupacional da empresa de acordo trabalhadores; fatores impulsionadores ensino secundário completo ou mais (es-
com a NR-9 e o porte da empresa, tam- da prestadora do serviço de SST, no caso core 15); 3) o salário dos trabalhadores,
bém poderiam introduzir modificações o SESI; e grau de implantação do PSST. de 10% dos trabalhadores com salário-
nos vetores impulsionadores da implan- Os formulários preenchidos foram lidos e base superior ao salário mínimo (escore
tação. Como evidências da situação final analisados pela equipe da avaliação, cole- 0) a 100% com salário-base superior ao
de implantação do PSST consideraram- tivamente, em oficinas de trabalho especí- mínimo (escore 10). A covariável grau de
se a efetivação do diagnóstico epidemio- ficas para atribuição dos escores para risco seguiu a classificação definida pelo
lógico e de riscos ambientais, a execução cada subdimensão e respectivos critérios. Ministério do Trabalho na NR-9, de I a
adequada do PCMSO e PPRA, a reali- Os critérios empregados para a atribui- IV. O porte da empresa foi classificado
zação de atividades de vigilância à saúde ção dos escores eram qualitativos para com base no número absoluto de empre-
com a incorporação dos resultados do componentes subjetivos e quantitativos gados: < 20; entre 20 e 50; > 50.
diagnóstico na programação e a divul- quando se utilizavam medidas de cum-
gação das informações para gestores e primento de metas, por exemplo. Esses Análise estatística
trabalhadores, no ciclo de tempo de im- escores eram discutidos até se alcançar
plantação de 1 ano. Além disso, foi ainda um consenso sobre a pontuação a ser atri- A associação entre os fatores impulsio-
considerado o uso adequado dessas in- buída àquela dimensão. nadores e o grau de implantação do
formações pela empresa na consolidação A implantação, por sua vez, foi classi- PSST foi estimada com coeficientes dos
das ações de segurança e saúde no âm- ficada nas seguintes categorias: implan- modelos de regressão linear múltipla,
bito local. Do modelo lógico, derivou-se tação avançada: 75 a 100% do escore verificando-se o nível de significância
uma matriz de dimensões e subdi- máximo proposto; implantação interme- estatística dos coeficientes de regressão
mensões com seus respectivos compo- diária: 51 a 75% do escore máximo pro- para as dimensões, subdimensões e com-
nentes. Cada um desses níveis compre- posto; implantação incipiente: 26 a 50% ponentes (critérios) e os R quadrados. A
ende dimensões definidas a partir do do escore máximo; não implantado: modelagem foi realizada com cada va-
modelo lógico e dos padrões operacio- menos de 25% do escore máximo pro- riável preditora separadamente e em se-
nais propostos nos documentos do pro- posto para a dimensão grau de implan- guida conjuntamente, por componente,
grama (tabela 1). tação do PSST (tabela 1). para verificar o efeito isolado, indepen-

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TABELA 1. Fatores preditores do grau de implantação do Programa de Saúde e Segurança no Trabalho do Serviço Social da Indústria no Estado
da Bahia, Brasil, 2007

Escore Escore
Dimensão/subdimensão/critérioa Dimensão Sub-dimensão critério Dimensão/subdimensão/critérioa Dimensão Sub-dimensão critério

Fatores impulsionadores para SST na empresa 65 Fatores impulsionadores da prestadora do


Engajamento da empresa em SST 10 serviço de SST (SESI) 65
Havia atividades de SST na empresa antes Grau de articulação da equipe de saúde 20
da contratação do PSST 4 A equipe (médico, enfermeiro e auxiliar) é
A empresa buscou ativamente implantar articulada 5
o PSST 3 A equipe é bem articulada com a pessoa
Gestores têm conhecimento suficiente do focal da empresa 5
PSST 3 A coordenação do PCMSO é proativa para
o PSST 10
Integração da SST com a gestão da qualidade
Grau de articulação da equipe de segurança 20
ou produção 10
A equipe (engenheiro e técnico) é articulada 5
Sabem que há condições e processos de
A equipe é bem articulada com a pessoa
trabalho que interferem na SST 3 focal da empresa 5
Ações de SST são parte dos investimentos A coordenação do PPRA/PCMAT é proativa
e gestão de pessoas 4 no PSST 10
A SST é incorporada na programação da
produção 3 Integração da equipe de saúde e segurança 25
A identificação de riscos é feita
Autonomia da gestão financeira em SST 10 articuladamente 5
Existem recursos financeiros suficientes para Há reuniões sistemáticas entre as equipes 5
o PCMSO 3 O plano de ação é conjunto PPRA/PCMSO 10
Existem recursos financeiros suficientes para A avaliação final do programa é conjunta 5
o PPRA/PCMAT 3
Grau de implantação do PSST 100
Tempo de trabalho que o trabalhador pode
Grau de execução do PCMSO 20
dedicar para atividades de SST 4 Foram considerados grupos homogêneos
Autonomia da pessoa focal 5 de exposição 5
Autoridade/autonomia para atuar na Proporção de exames periódicos realizados
implantação do PSST 1 dos programadosd 5
A equipe (engenheiro e técnico) é articulada 5
Capacidade de negociação para garantir a
Ações educativas individuais e coletivas
implantação do PSST 1
foram realizadas 5
Atuação proativa na implantação do PSST 3
Grau de execução do PPRA/PCMAT 20
Participação de gestores e trabalhadores Percentual de execução das ações de graus
da empresa no PSST 5 de prioridade média e grandee 10
Gestores participaram no PSST 3 Execução de 100% das ações urgentes do
Trabalhadores incentivados a participar no PPRA/PCMAT 10
PSST 2
Diagnóstico epidemiológico de SST 15
Conhecimento da empresa do PSST 25 Relatório do diagnóstico epidemiológico
A pessoa focal da empresa está informada utilizado para planejar as ações 5
sobre o PSST 5 Informações do PPRA/PCMAT servem para
A pessoa focal compreende o PCMSO e o revisar o PCMSO ou vice-versa 5
PPRA/PCMAT 10 Relatório epidemiológico anual entregue e
Gestores ou proprietários conhecem o PSST 10 apresentado à empresa 5

Fatores impulsionadores à SST/trabalhadores 35 Divulgação interna do PSST 15


Conhecimento dos trabalhadores sobre o Foram divulgados os resultados do PSST
PSST 10 para os trabalhadores 8
A empresa participou da divulgação dos
Conhecem o PSST na empresa 4
resultados do PSST 7
Conhecem o PCMSO 3
Conhecem o PPRA/PCMAT 3 Uso das informações pelo SESI 15
O PSST se pautou com informações
Receberam treinamento sobre SST 15 epidemiológicas 8
Proporção de trabalhadores treinados em Queixas e sugestões dos trabalhadores
SST nos últimos 12 mesesb 8 foram consideradas 7
Trabalhadores recebem treinamento sobre
os riscos do trabalhoc 7 Uso das informações pela empresa 15
A pessoa focal compreender as informações
epidemiológicas 5
A empresa utilizou as informações/
recomendações para modificar o ambiente/ 10
processo de trabalho

a PCMAT: Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional nas empresas de construção civil; PCMSO: Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional; PPRA: Programa de Pre-
venção de Riscos Ambientais; PSST: Programa de Saúde e Segurança no Trabalho; SESI: Serviço Social da Indústria; SST: saúde e segurança no trabalho.
b Escores para a proporção de trabalhadores treinados: até 10% = 0; de 11 a 30% = 2; de 31 a 50% = 4; 51 a 70% = 6; > 70% = 8.
c Escores para a freqüência de treinamento recebido: eventualmente = 3; freqüentemente = 5; sempre = 7.
d Os escores foram atribuídos da seguinte forma: 1 a 20% = 0; 21 a 40% = 2; 41 a 60% = 3; 61 a 80% = 4; 81 a 100% = 5.
e Em caso de PCMAT, os escores foram atribuídos com base na média dos valores dos 3 últimos meses do checklist respectivo: 9 ou 10 = 20; 7 ou 8 = 15; 5 ou 6 = 9; 4 ou 5 = 6; < 4 = 5.

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dente dos demais. As covariáveis foram uso dos dados e a sua identificação nas presas não diferiram grandemente em
testadas para confundimento, isto é, publicações. Como se tratam de dados relação à escolaridade da pessoa focal.
verificando-se diferenças de pelo menos administrativos, não individuais e anô- Todavia, as empresas de risco IV apre-
20% entre os coeficientes de regressão nimos, não se submeteu o protocolo para sentaram o maior número de trabalha-
dos modelos saturados e sem a covariá- apreciação por um Comitê de Ética em dores com escolaridade maior, enquanto
vel em análise. Termos-produto e testes Pesquisa. que as de risco III tinham salários mais
de razão de verossimilhança foram em- altos. A tabela 2 mostra ainda que, den-
pregados para identificar modificadores RESULTADOS tre os fatores impulsionadores examina-
de efeito, para um alfa = 0,05. Na mode- dos, as empresas de menor risco (I e II)
lagem, as covariáveis foram tratadas em Das 80 empresas selecionadas, uma foi tiveram maior proporção de fatores fa-
sua forma escalar, utilizando-se os esco- excluída por falência e outra por término voráveis à implantação de parte da pró-
res respectivos, e nas tabelas de freqüên- do contrato com o SESI, totalizando duas pria empresa e reduzida contribuição
cia, em seu formato dicotômico. A base perdas (2,5%). Das 78 empresas que dos trabalhadores em comparação às
de dados foi criada com o Epi Info compuseram a população do estudo, empresas nos demais grupos de risco.
versão 6.0. A análise foi realizada com o verificou-se que 42 (53,8%) foram clas- Houve uma tendência a um desenvolvi-
SAS versão 9.0. Realizou-se a análise de sificadas no grau intermediário de im- mento mais elevado da implantação
resíduos dos modelos e todas as cova- plantação, 19 no grau avançado (24,4%) entre as de grau de risco IV. As empresas
riáveis foram tratadas em sua forma ori- e 15 (19,2%) consideradas como tendo de menor risco apresentaram pessoa
ginal contínua, exceto o grau de risco implantação incipiente. Em duas empre- focal e trabalhadores com menor escola-
NR-9, para o qual consideraram-se as sas (2,6%), o PSST foi considerado não ridade, salários mais baixos e número
respectivas variáveis de desenho. implantado. menor de trabalhadores.
O estudo foi conduzido com infor- Na tabela 2 apresentam-se as caracte- A análise de regressão linear múltipla
mações de rotina dos serviços de saúde rísticas das empresas de acordo com o mostrou que todos os fatores impulsiona-
ocupacional do SESI, que autorizou o grau de risco ocupacional NR-9. As em- dores — da empresa, dos trabalhadores

TABELA 2. Características das empresas de acordo com o grau de risco, estudo sobre o grau de implantação do Programa de e Saúde e Segu-
rança no Trabalho do Serviço Social da Indústria no Estado da Bahia, Brasil, 2007

Grau de risco
I e II III IV Total
(n = 14) (n = 44) (n = 20) (n = 78)
Variável No. % No. % No. % No. %

Escolaridade/pessoa focal a
Baixa (< secundário) 9 64,3 23 52,3 11 55,0 43 55,1
Alta (superior) 5 35,7 21 47,7 9 45,0 35 44,9
Escolaridade do trabalhador a
Baixa 11 78,6 32 72,7 10 50,0 63 68,0
Alta 3 21,4 12 27,3 10 50,0 25 32,0
Salário do trabalhador a
Baixo 10 71,4 25 56,8 14 70,0 49 62,8
Alto 4 28,6 19 43,2 6 30,0 29 37,2
No. de trabalhadores
< 20 5 35,7 19 43,2 6 30,0 30 38,5
20 a 50 57,2 13 29.6 7 35,0 28 35,9
> 50 1 7,1 12 27,3 7 35,0 20 25,6
Impulsionadores empresa b
Baixo 5 35,7 16 36,4 5 25,0 26 33,3
Médio 2 14,3 14 31,8 10 50,0 26 33,3
Alto 7 50,0 14 31,8 5 25,0 26 33,3
Impulsionadores trabalhadores b
Baixo 5 35,7 20 45,5 1 5,0 26 33,3
Médio 6 42,9 11 25,0 9 45,0 26 33,3
Alto 3 21,4 13 29,6 10 50,0 26 33,3
Impulsionadores equipes SST b,c
Baixo 1 7,1 20 45,5 6 30,0 26 33,3
Médio 64,3 10 22,7 8 40,0 26 33,3
Alto 4 28,6 14 31,8 6 30,0 26 33,3
Grau de implantação do PSST b,d
Incipiente 4 28,6 18 40,9 5 25,0 27 34,6
Intermediário 4 28,6 16 36,4 5 25,0 25 32,0
Avançado 6 42,9 10 22,7 10 50,0 26 33,3
a Variáveis categorizadas pela mediana da distribuição dos escores.
b Variáveis categorizadas em tercis da distribuição.
c SST: saúde e segurança no trabalho.
d PSST: Programa de Saúde e Segurança no Trabalho.

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e da equipe prestadora — foram positi- TABELA 3. Regressão linear para as subdimensões, estudo sobre grau de implantação do Pro-
vamente associados com o grau de im- grama de Saúde e Segurança no Trabalho do Serviço Social da Indústria no Estado da Bahia,
plantação (P < 0,001) quando analisados Brasil, 2007
separadamente (tabela 3). Quando os
Análise univariada
componentes (conjunto de critérios) de
Modelos/subdimensões e componentesa βbruto βajustadob
cada subdimensão foram considerados
no modelo, verificou-se que, entre os fa- Fatores da empresa (escore global) 1,02c —
tores da empresa, apenas a autonomia da Engajamento da empresa em SST 2,22d 0,14
gestão financeira permaneceu estatistica- Integração da SST com a produção 3,15c 0,11
Autonomia da gestão financeira 5,52c 4,40b
mente significativa (β = 4,40; P < 0,001).
Autonomia da pessoa focal 4,77c 1,19
Na análise conjunta dos fatores relativos Participação de gestores e trabalhadores no PSST 5,03c 1,32
ao trabalhador, o conhecimento (β = 1,58; Conhecimento dos gestores sobre SST 1,41c 0,34
P < 0,05) e o treinamento (β = 0,40;
P < 0,001), foram ambas preditores inde- Fatores do trabalhador (escore global) 1,57c —
Conhecimento sobre PSST 2,54c 1,58d
pendentes do grau da implantação, en- Treinamento em SST 1,87c 0,40b
quanto que, dentre os fatores da equipe
de SST da prestadora, a articulação da Fatores da equipe de SST prestadora (escore global) 0,74c —
equipe de segurança (β = 1,89; P < 0,01) e Grau de articulação da equipe saúde 0,73 0,71
Grau de articulação da equipe segurança 2,08c 1,89 e
a integração (β = 0,58; P < 0,05) desta com
Integração da equipe 0,70d 0,58d
a de saúde foram os principais fatores
a
para o sucesso da implantação. Não houve SST: saúde e segurança no trabalho. PSST: Programa de Saúde e Segurança no Trabalho.
b βajustado = coeficiente de regressão da equação contendo todos os componentes de cada subdimensão, separadamente. O
evidências de interação estatística entre as coeficiente é ajustado para as variáveis que integram cada subdimensão.
subdimensões em análise (tabela 3). c P < 0,001.
d P = 0,05.
Na tabela 4 os resultados da modela- e P = 0,01.
gem revelam que, quando analisados
simultaneamente, apenas os fatores da

TABELA 4. Coeficientes da regressão linear (ββ i) para escores globais das subdimensões ajustados pelas covariáveis de contexto,
estudo sobre grau de implantação do Programa de Saúde Segurança no Trabalho do Serviço Social da Indústria no Estado da
Bahia, Brasil, 2007

Modelos (escore globais das subdimensões analisadas)a βi R2 ajustado

Modelo 1 0,4102
Fatores da empresa 0,71b
Fatores do trabalhador 0,83 c
Fatores da equipe de SST prestadora 0,12
F = 18,85; P < 0,0001
Modelo 2 (ajustado por escolaridade da pessoa focal e do trabalhador) 0,3995
Fatores da empresa 0,70 b
Fatores do trabalhador 0,90 c
Fatores da equipe de SST prestadora 0,14
F = 11,24; P < 0,0001
Modelo 3 (ajustado escolaridade da pessoa focal e do trabalhador e por salário) 0,3918
Fatores da empresa 0,70 b
Fatores do trabalhador 0,91c
Fatores da equipe de SST prestadora 0,13
F = 9,27; P < 0,0001
Modelo 4 (ajustado por nível de escolaridade da pessoa focal e do trabalhador,
salário e grupo de risco da empresa) 0,3870
Fatores da empresa 0,72 b
Fatores do trabalhador 0,86 d
Fatores da equipe de SST prestadora 0,16
F = 7,95; P < 0,0001
Modelo 5 (ajustado por nível de escolaridade da pessoa focal e do trabalhador,
salário, grupo de risco e porte da empresa) 0,3675
Fatores da empresa 0,70 b
Fatores do trabalhador 0,85 c
Fatores da equipe de SST prestadora 0,23
F = 6,23; P < 0,0001
a SST: saúde e segurança no trabalho.
b P < 0,001.
c P < 0,01.
d P < 0,05.

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Investigación original Chaves et al. • Programas de segurança e saúde no trabalho

empresa (β = 0,70; P < 0,001) e dos tra- cedimentos previstos pelas normas em SST em um programa dissociado da
balhadores (β = 0,85; P < 0,01) se associa- até 57% das empresas analisadas, sendo gestão geral da empresa pode resultar,
ram independentemente com o grau de que apenas 10% cumpriam as recomen- ou mesmo expressar em si mesma, um
implantação do PSST. A tabela mostra dações. Além disso, foi bastante precária papel secundário desse tipo de atuação,
ainda que este resultado não se modifi- a participação dos trabalhadores nas assim como uma falta de comprometi-
cou com a introdução das variáveis de ações de saúde e segurança, inclusive o mento da empresa. Ademais, as normas
contexto, como o nível de escolaridade envolvimento da Comissão Interna de existentes contribuem para essa sepa-
da pessoa focal e dos trabalhadores, os Prevenção de Acidentes (CIPA). ração, ao recomendar programas separa-
salários dos trabalhadores, o grupo de Depreende-se dos resultados deste dos e independentes para a segurança e
risco da empresa e o porte. Os modelos, estudo que os fatores das diversas di- para a saúde. Vale notar que o financia-
embora estatisticamente significativos mensões analisadas, isto é, empresa, mento, a autonomia da gestão desses re-
(tabela 4), não foram, em geral, forte- trabalhadores e equipe de SST foram, cursos e a liberação do trabalhador para a
mente explicativos do grau de implan- separadamente, impulsionadores da im- participação foram fundamentais para o
tação, com R2 variando entre 0,3675, para plantação. Não houve evidências de in- sucesso na implantação do programa.
o modelo ajustado por todas as covariá- terações estatísticas entre essas dimen- Esses aspectos, portanto, devem fazer
veis, a 0,4102, para o modelo apenas com sões. Isso quer dizer que cada dimensão parte das negociações iniciais prévias à
os fatores impulsionadores globais. influenciou positivamente o grau de im- implantação.
plantação, e que, para isso, uma não de- Um outro fator importante para a im-
DISCUSSÃO pendeu necessariamente da outra. Este plantação do PSST foi o conhecimento e
resultado contraria a ideia de que a im- o treinamento do gestor e dos trabalha-
Os resultados deste estudo revelaram plantação depende da atuação sinérgica dores em relação a SST. Esses fatores são
que, em 1 ano do ciclo de intervenção do e interativa desses fatores. Entretanto, o classicamente considerados cruciais para
PSST proposto e executado pelo SESI, pequeno número amostral é limitado qualquer tipo de estratégia de inter-
a maioria das empresas alcançou grau para inferências conclusivas, valendo venção, mesmo fora do âmbito da saúde
de implantação intermediário, enquanto apenas como uma indicação que poderá (22). Embora pareça óbvio que as pes-
duas (2,6%) não tiveram operacionali- ser verificada em estudos mais apropria- soas se engajarão mais efetivamente em
zação relevante. A constatação de que dos a análises de subgrupos. ações quando conhecem os objetivos,
nem todas as empresas alcançaram a im- Como mencionado anteriormente, são significados e alcance dessas ações, e se
plantação completa do PSST não foi uma raros os estudos sobre determinantes de fato contribuíram para a sua con-
surpresa, considerando-se as dificuldades da implantação de programas de SST. cepção e execução, isso nem sempre é a
conhecidas de desenvolvimento de ações Em um dos poucos estudos disponíveis, realidade dos modelos lógicos das inter-
de saúde e segurança no âmbito de em- 1 789 empresas foram analisadas para venções em saúde. Comumente, os pro-
presas, apesar, neste caso, da iniciativa de verificar o nível de implementação de cessos de planejamento e programação
contratação da prestadora para essa ativi- uma política de SST na Noruega em um são de natureza normativa, ou prescri-
dade. Essa aparente contradição pode ser período de 10 anos (15). Os autores tiva, com normas e procedimentos reco-
compreendida quando se verifica que as constataram que 25% das firmas não se mendados para aplicação pelas empre-
decisões relativas à contratação de ser- encontravam em conformidade com o sas de forma acrítica. Estudos sugerem
viços de saúde e segurança ocupacional marco regulatório em um item ou mais, que o conhecimento, por parte dos em-
são reativas, comumente feitas após a estando em estágio avançado apenas 4%. presários e trabalhadores, sobre a segu-
ocorrência de inspeções ou do recebi- Os principais fatores identificados foram rança e a saúde e sobre o potencial de
mento de multas ou outras penalidades treinamento dos gestores e representan- prevenção dos agravos em locais de tra-
(15, 19, 20). Por outro lado, o PSST desen- tes dos trabalhadores, a realização de ava- balho é ainda muito pequeno, mesmo
volvido pelo SESI Bahia foi idealizado a liações e atividades de planejamento. em empresas de grande porte ou de
partir de um padrão que envolvia profis- A importância da autonomia da gestão maior risco ocupacional (23). Este último
sionais qualificados e um modelo organi- orçamentária para a implantação dos estudo (23), que analisou a percepção de
zado na perspectiva da saúde coletiva, programas de SST encontrada neste es- profissionais de saúde ocupacional sobre
contrapondo-se a iniciativas cartoriais, de tudo não foi relatada ou analisada em os fatores que influenciam a não-implan-
baixo custo, oferecidas por empresas pri- outras investigações. Como isso depende tação de ações de SST em pequenas e
vadas que disponibilizam serviços que em grande medida dos modelos de ges- médias empresas, identificou dificulda-
enfocam o PPRA e o PCMSO. tão das próprias empresas, é possível que des de acesso a capital e crédito, falta de
A incompleta implantação do PSST isso reflita especificidades das normas de conhecimento dos empresários sobre a
depois de 1 ano de atividades programa- saúde e segurança brasileiras. Por exem- legislação e as recomendações técnicas e
das é consistente com os achados de plo, as recomendações mais recentes para crença de que tais intervenções desviam
Miranda e Dias (10) que, ao analisarem a gestão da saúde e segurança indicam a o foco dos negócios. Além disso, foram
dados de inspeções de empresas condu- incorporação dessas ações às do próprio também citadas a precariedade da infra-
zidas pela Delegacia Regional do Tra- negócio, o que se sustenta na ideia de que estrutura física, de equipamentos e pes-
balho do Ministério do Trabalho na ambientes de trabalho saudáveis e segu- soal, e a não associação das empresas em
Bahia, encontraram baixa qualidade téc- ros contribuem para a produtividade, órgãos de classe. Vários estudos têm de-
nica dos programas de SST existentes. tanto pela redução de faltas no trabalho, monstrado que o grau de implantação de
Essa baixa qualidade técnica ficava evi- quanto pela maior satisfação dos traba- programas desse tipo é menor nas em-
dente nas inconsistências entre os pro- lhadores (1, 21). A separação das ações de presas de pequeno porte (15), como as

210 Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 25(3), 2009


Chaves et al. • Programas de segurança e saúde no trabalho Investigación original

que predominaram neste estudo. Inves- deria possibilitar maior divulgação do seus limites metodológicos. Embora esta
tigações têm apontado a necessidade de programa junto aos trabalhadores. Ainda pesquisa tenha avançado o conheci-
desenvolver estratégias de intervenção que essa tarefa caiba prioritariamente à mento sobre os determinantes da im-
distintas para esse grupo de empresas empresa, a indução e o estímulo são tam- plantação de um programa de saúde e
(24), que, em contexto de vulnerabili- bém responsabilidade da prestadora. segurança no trabalho, possivelmente
dade econômica, se defrontam com o di- Os resultados deste estudo devem ser um dos poucos existentes no país, o
lema entre a sobrevivência do negócio e vistos com precaução devido a alguns li- número de empresas analisadas foi
a aplicação estrita da lei em função dos mites metodológicos. Os dados provêm pequeno, reduzindo o poder estatístico
recursos escassos (25). de rotinas administrativas e não foram do estudo. Além disso, a natureza dos
A integração das equipes de saúde e coletados especificamente com a finali- dados de rotina dos serviços resultou em
de segurança traz à tona um importante dade de pesquisa. Foi grande o número simplicidade com vistas à garantia da
foco de tensão, tradicional no campo da de informantes envolvidos, o que, por viabilidade operacional, reduzindo, por-
saúde do trabalhador, nutrido pela sepa- um lado, poderia provocar diferenças de tanto, o escopo das informações disponí-
ração dos campos disciplinares da hi- qualidade ou de pontos de vista dos ob- veis para análise.
giene e segurança, por um lado, e da me- servadores; porém, também traz vanta- Os estudos avaliativos têm um caráter
dicina do trabalho, por outro, reforçado gens, considerando que o envolvimento estratégico para o campo da saúde do
pelos instrumentos legais. Isso vem se de diferentes atores permite a compo- trabalhador, ao possibilitarem diretrizes
sustentando apesar do avanço das dis- sição de um quadro mais abrangente que garantam maior equidade e justiça
cussões em torno do tema, tanto na da realidade das empresas. Embora o no acesso aos serviços de proteção à
academia como nos serviços, e apesar da número de empresas tenha sido pe- saúde. A implantação da Rede Nacional
incorporação de profissionais com for- queno, o uso de variáveis contínuas e a de Saúde do Trabalhador (RENAST), que
mações e experiências distintas, a exem- regressão linear múltipla permitiram um compreende Centros de Referência em
plo da odontologia, psicologia, fonoau- adequado poder estatístico ao estudo, Saúde do Trabalhador (CERESTs) e vá-
diologia e serviço social, dentre outras. como pode ser visto nas diversas asso- rias ações de vigilância à saúde do tra-
Contudo, o diálogo e a construção de ciações estatisticamente significativas. balhador, algumas delas articuladas à
uma intervenção interdisciplinar, ponto Em um contexto de incipiente imple- atenção básica de saúde, sob a responsa-
focal da saúde do trabalhador, ainda está mentação de programas de saúde e se- bilidade do Sistema Único de Saúde
por se concretizar satisfatoriamente. gurança no trabalho, de pouca informação (SUS), poderá ter um papel importante
Cabe destacar que, segundo o modelo sobre a cobertura dos trabalhadores por nesta tarefa. Assim, políticas e progra-
lógico da intervenção, o diagnóstico epi- esses programas e de pequena partici- mas de saúde, profissionais, empregado-
demiológico elaborado pela prestadora é pação das empresas, torna-se necessária a res e trabalhadores poderão agir coor-
ferramenta importante, mas se observa geração de conhecimento sobre a extensão denadamente, modificando o perfil de
que não tem sido utilizado como base e a qualidade das intervenções em saúde carência e a insuficiência das ações de
para a ampliação de práticas de educação do trabalhador no país (26). Esse conheci- proteção à saúde dos trabalhadores, que
coletivas, componente importante para mento não deve se restringir apenas aos continuam sofrendo no exercício dos seus
execução do PCMSO, já que as ações pre- fatores impulsionadores, mas deve focali- direitos.
ventivas coletivas são ainda escassas e zar também o conteúdo dos programas,
ainda mostram uma prática individuali- processos, resultados e impactos alcança- Agradecimentos. Este estudo foi fi-
zada e medicalizada. As associações de dos na perspectiva do aperfeiçoamento nanciado pelo Serviço Social da Indús-
empresas por ramo de atividade podem das políticas e programas nesse campo. tria (SESI), Departamento Regional da
reforçar o compromisso com a sua se- Bahia, Salvador (BA), Brasil.
gurança, definindo-se riscos comuns a se- CONCLUSÕES
rem enfrentados, utilizando estratégias de
grupo para a socialização e a divulgação As conclusões deste estudo devem ser
das informações (5, 11). Tal estratégia po- consideradas com precaução a partir dos

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ABSTRACT Objective. To identify predictors for the degree to which a program that integrates
occupational health surveillance with labor safety, and involves occupational health/
safety specialists, company management, and employees, is implemented.
Determinants in an Method. This ecological study evaluated companies implementing the occupational
occupational health and health and safety program (OHSP) proposed by the state of Bahia’s regional depart-
safety program ment of Serviço Social da Indústria (Social Services for Industry, SESI) during the
2005–2006 cycle. The companies that participated were randomly selected. Data were
implementation collected through interviews with key contacts within the companies and from tech-
nical reports issued by SESI. Multiple linear regression was used to identify factors re-
lated to the company, employee, occupational/safety specialist, and any subdimen-
sions that might promote OHSP implementation.
Results. Of the 78 companies selected (3 384 employees), the degree to which OHSP
was implemented was “advanced” in 24.4%, “intermediate” in 53.8%, and “initial” in
19.3%. Company-related, employee-related and specialist-related factors were posi-
tively associated with OHSP implementation (P < 0.001). The most important factor
overall was the program’s financial autonomy (β = 4.40; P < 0.001). Bivariate analysis
revealed that the degree of implementation was associated with the employees’ level
of health/safety knowledge (β = 1.58; P < 0.05) and training (β = 0.40; P < 0.001) and
with communication between the occupational safety team (β = 1.89; P < 0.01) and the
health team (β = 0.58; P < 0.05). These findings remained unchanged after adjustment
for levels of education among managers and employees, salary/wages, company size,
and risk.
Conclusions. The time and resources available for employees to dedicate to occupa-
tional health and safety, the integration and reinforcement of employee and manager
training programs, and improved relationship between occupational health and
safety teams may contribute to the success of health and safety promotion efforts
among employees.

Key words Occupational health, safety, safety management, surveillance, Brazil.

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