TV DESTINO

Central Destino de Produção Capítulo 08

MENINAS DO BRASIL
“BAILE DE NATAL”

UMA NOVELA DE
RAMON FERNANDES
IDEIA ORIGINAL
RYNALDO NASCIMENTO

ESCRITA POR
Ramon Fernandes

DIREÇÃO DE
Teresa Lampreia e Carlo Milani

DIREÇÃO GERAL
DENISE SARACENI

Personagens deste capítulo

ALBERTO FLÁVIO MANDRAKE TEREZA
BELINHA FREDERICO MARCELA THÉO
BRUNO GLÓRIA MARINA UZIEL
CACAU HELENA NELINHA VICENZO
CENOURA HÉLIO OTÁVIA WANDA
CLARICE JULIANO RAFAEL ZENILDA
DOROTÉIA JUVENTINA ROBERTA
ELIANA LAURO SANDRO

Participação neste capítulo

GARÇOM/ ENFERMEIRO 01/ ENFERMEIRO 02/ PARA-MÉDICO/ MÉDICO

Atenção
“Este texto é de propriedade intelectual exclusiva da TV DESTINO LTDA. e por conter informações
confidenciais, não poderá ser copiado, cedido, vendido ou divulgado de qualquer forma e por qualquer
meio, sem o prévio e expresso consentimento da mesma. No caso de violação do sigilo, a parte infratora
estará sujeita às penalidades previstas em lei e/ou contrato.”
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 2

CENA 01. SÃO PAULO. CLUBE. EXTERIOR. NOITE

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR. ELIANA SEM TIRAR
OS OLHOS DE JULIANO.
VICENZO — Meu amor vem dançar comigo.
ELIANA — Onde você estava?
VICENZO — Fui cumprimentar alguns amigos. Sabia que o Sandro tá
pela festa? A Otávia vai morrer (ri). Vamos?
ELIANA OLHA PARA O NAMORADO E SORRI.
JULIANO — Vão dançar. Vão se divertir.
VICENZO PUXA ELIANA PELA MÃO E OS DOIS VÃO PARA A PISTA DE
DANÇA. JULIANO SORRI MALICIOSO EM DIREÇÃO A ELES. BEBERICA SUA
BEBIDA. CORTA PARA A MESA DE TEREZA E BRUNO. APENAS OS DOIS.
TEREZA — Definitivamente não tenho mais pique para estas festas da
garotada, Bruno. Mal chegamos e já estou estourando de dor
de cabeça.
BRUNO — (ri) Confesso que a minha também está latejando.
TEREZA — O nosso tempo a coisa não era assim tão barulhenta.
BRUNO — Tudo muda meu amor. Infelizmente...
CORTA PARA A MESA DE HELENA E OTÁVIA. ELAS RIEM. UM GARÇOM
PASSA POR ALI COM UMA BANDEJA COM TAÇAS DE CHAMPANHE E UMAS
DUAS GARRAFAS DE ÁGUA. OFERECE PARA ELAS. OTÁVIA PEGA UMA
TAÇA E FOCA EM HELENA. HELENA PEGA UMA GARRAFA DE ÁGUA E
AGRADECE O GARÇOM.
OTÁVIA — Hum, gostei de ver dona Helena.
HELENA — Eu disse que eu não ia mais envergonhar vocês, minha
filha.
HELENA SORRI. OTÁVIA RETRIBUI CARINHOSA. CORTA PARA A PISTA DE
DANÇA ONDE MARCELA DANÇA SOZINHA E VICENZO COM ELIANA. EM
OUTRO PONTO ESTÃO CLARICE E ROBERTA CONVERSANDO. VOLTA PARA
AS MESAS. ZENILDA, THÉO E TEREZA EM UMA MESA.
THÉO — Vamos dançar Zenildinha?
ZENILDA OLHA TORTO PARA THÉO LEVANTA-SE E VAI PARA A MESA DE
DOROTÉIA QUE ESTÁ SOZINHA.
TEREZA — O que deu nela?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 3

THÉO — (disfarça) Vai saber...

OS DOIS RIEM. CORTA PARA ZENILDA E DOROTÉIA.
DOROTÉIA — Desculpa me meter, mas está acontecendo alguma coisa
entre você e o Théo?
ZENILDA — Nós não andamos falando a mesma língua ultimamente.
Ele gasta boa parte do nosso patrimônio nos jogos de azar, eu
cansei Dorotéia.
DOROTÉIA — Eu não sabia.
ZENILDA — Na verdade, ninguém sabe. Eu tenho vergonha de
conversar com alguém sobre isso. Por favor, guarde segredo.
DOROTÉIA — Claro, não precisa pedir. Vocês estão pensando em
resolver como essa crise?
ZENILDA — (ri) Crise... Engraçado falar em crise na minha idade.
DOROTÉIA — Imagina. Toda idade está sujeita à estes problemas. É
humano.
ZENILDA — Quanto à resolução, eu falei com um advogado amigo
meu e estou pensando seriamente em separação. O Théo não
quer, toda vez que falo do assunto com ele, tentando ser
amigável, ele foge completamente. Faz birra, manha, igual
criança pequena.
DOROTÉIA — E uma segunda chance para vocês?
ZENILDA — Difícil... Eu acho muito difícil.
ZENILDA CABISBAIXA. CORTA PARA A MESA DE BRUNO E LAURO. OS
DOIS CONVERSAM.
BRUNO — Isso está me atordoando, meu filho. Tenho pensado quase
diariamente neste meu amigo.
LAURO — Eu me lembro dele, claro! Lembro vagamente que ele
ajudou muito você e a mamãe naquele tempo. Um homem
muito generoso, bondoso, enfim, é triste saber que ele possa./
BRUNO — Não. Ele não morreu.
LAURO — Não?
BRUNO — Quando ele chegou ao Brasil ele me ligou de um orelhão
de um bairro que eu não consigo lembrar qual. Mas era no
Rio de Janeiro, isso sem dúvidas.
LAURO — O senhor não pensa em procurá-lo?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 4

BRUNO — Como se eu não sem nem o bairro? O Rio é grandioso, eu

não o encontraria. Eu ainda guardo uma carta que ele me
entregou, me pediu para entregar para a mulher e a esposa
quando eu chegasse ao tal endereço, mas eu nunca as
encontrei também.
LAURO — Que barra!
CLARICE E ROBERTA SE APROXIMAM.
CLARICE — Oi. Sobre o que o meu sogro e o meu marido tanto
conversam? Posso saber?
CLARICE SORRI CURIOSA. BRUNO PIGARREIA EMOCIONADO.
BRUNO — Sobre um amigo meu, dos tempos de exílio. (pausa)
Esqueça bobagem. Hoje é dia de comemoração.
CLARICE — Tem certeza que não quer falar sobre isso comigo, meu
sogro? (ri) Eu sou uma boa ouvinte, afinal o meu pai também
foi para um destes exílios na Ditadura e nunca mais deu
notícias.
ROBERTA — Você nunca se conformou não é amiga?
CLARICE — É... Bom, mas já faz tanto tempo. Eu penso que ele deve
ter morrido.
BRUNO — Talvez não, Clarice. Muitos sobreviveram às diversidades,
você sabe.
CLARICE — Eu sei, mas não tenho esperanças de reencontrar o meu
pai, infelizmente.
BRUNO — Qual o nome dele? Talvez eu conheça ou tenha ouvido
falar.
CLARICE — O nome do meu pai é./
ELES SÃO INTERROMPIDOS PELOS FOGOS DE ARTIFÍCIO QUE ESPOCAM
NO CÉU. LAURO ABRAÇA CLARICE POR TRÁS E OS FOGOS EXPLODEM NA
NOITE ESTRELADA DO PV DELES. TODOS NA FESTA PARAM PARA VER A
QUEIMA DE FOGOS. MÚSICA ROLANDO NA PISTA DE DANÇA. ALGUNS
SEGUNDOS NISSO. CLARICE BEIJA LAURO E OLHA PARA BRUNO.
CLARICE — Então, voltando ao assunto./
LAURO — (corta) Hei, meu amor. Vamos esquecer estas histórias
tristes, certo? Hoje não é dia para isso, amanhã vocês
conversam.
BRUNO — Isso é ciúmes do seu pai, meu filho?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 5

ROBERTA — Afinal o seu Bruno é charmoso.

TODOS RIEM.
LAURO — (nega) Claro que não. Eu me garanto pai.
LAURO OLHA FEIO PARA BRUNO E OS DOIS RIEM. LAURO SE VOLTA PARA
A ESPOSA.
LAURO — (oferece a mão) Dança comigo?
CLARICE — Ai, Lauro!
TODOS RIEM. LAURO PEGA NA MÃO DE CLARICE.
ROBERTA — Vai sua boba. Dança com o seu marido. Aproveita!
CLARICE — Tá. Vocês venceram.
CLARICE E LAURO VÃO DANÇAR. ROBERTA CUMPRIMENTA BRUNO E VAI
PARA A SUA MESA. CORTA PARA OTÁVIA QUE CONVERSA COM ELIANA.
ESTÁ DE COSTAS. SANDRO VAI SE APROXIMANDO DAS DUAS. ELIANA
PERCEBE E SORRI, MAS OTÁVIA CONTINUA FALANDO. SANDRO TAMPA
OS OLHOS DA NAMORADA.
SANDRO — Adivinha quem é?
OTÁVIA — (assustada) Sandro?!
SANDRO DESTAMPA SEUS OLHOS E DÁ UM BEIJO NELA. OTÁVIA
SURPRESA. OTÁVIA OLHA PARA OS LADOS. VÊ HELENA.
SANDRO — Ainda bem que não disse o nome de outro. Surpresa?
OTÁVIA — (nervosa) Bastante.
ELIANA — Bom, vou deixar os pombinhos em paz e vou à caça do
meu namorado. Fui.
ELIANA SAI.
OTÁVIA — Tá fazendo o que aqui?
SANDRO — Cê não me convidou, mas tenho um amigo que estuda
com a Marcela. Conseguiu um convite e eu estou aqui.
Gostou?
OTÁVIA — Ô!
SANDRO — Este nervosismo todo é por causa de que?
HELENA SE APROXIMA DO CASAL.
HELENA — Minha filha, não apresenta os amigos.
OTÁVIA — Mãe.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 6

HELENA E SANDRO SORRIEM UM PARA O OUTRO. OTÁVIA

NERVOSÍSSIMA.
SANDRO — Oras, esta é a sua mãe, Otávia? Finalmente.
(cumprimenta) Sandro, o namorado da Otávia. A senhora é
Helena.
HELENA — Isso. (surpresa) A Otávia nunca tinha nos apresentado.
SANDRO — Verdade. Mas agora eu sei de onde ela herdou tanta
beleza.
HELENA — Que galanteador!
SANDRO E HELENA RIEM. OTÁVIA SORRI DESCONFORTÁVEL.
OTÁVIA — Apresentações feitas, agora podemos ir dançar, não é meu
amor?
HELENA — Mas Otávia, nós estamos conversando filha./
HELENA TERMINA A FRASE SOZINHA. OTÁVIA JÁ ARRASTOU SANDRO
PARA A PISTA DE DANÇA. ONDE SE ENCONTRAM VICENZO E MARCELA
QUE DANÇAM JUNTOS ALGUMA MÚSICA. ELIANA SE APROXIMA DOS
DOIS E OS VÊ. CLOSES DO CASAL QUE DANÇA COM MUITA SINTONIA.
ELIANA SENTE CIÚMES. NELA.
CORTA PARA:

CENA 02. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE

ABRIMOS DE CLOSE NO CRISTO REDENTOR. ROLA ALGUM SAMBA AO
FUNDO. GIRO 360º NO CRISTO. TAKE DE OUTROS PONTOS, TERMINANDO
NO BAIRRO DE SÃO CRISTÓVÃO.
FUNDE PARA:

CENA 03. SÃO CRISTÓVÃO. RUA. EXTERIOR. NOITE

O BAILE DE NATAL NA VILA ESTÁ ANIMADO. JÁ INICIADO. ACONTECE AO
LONGO DE UMA RUA, QUE FECHARAM PARA A COMEMORAÇÃO. MUITA
COMIDA, BEBIDA À VONTADE. RODAS DE SAMBA ALI, CASAIS
DANÇANDO, ALGUNS PAQUERANDO. DECORAÇÃO IMPECÁVEL. UMA
GRANDIOSA ÀRVORE DE NATAL FEITA COM PRODUTOS RECICLÁVEIS.
MUITA GENTE, MOVIMENTAÇÃO. WANDA ANDA POR ALI, QUASE QUE
DANÇANDO. DÁ UMA PARADINHA NA RODA E SAMBA UM POUCO. TODOS
APLAUDEM. CORTA PARA UZIEL QUE VAI EM DIREÇÃO A ALBERTO QUE
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 7

ESTÁ SENTADO EM UMA MESA, MAS ESTÁ TRISTE. UZIEL SENTA-SE COM
ELE.
UZIEL — Faz tempo que eu não via uma tão animada, a Wanda
caprichou!
ALBERTO — Pois é, está perfeita mesmo. Mas até agora não entendi o
porquê de um baile de Natal alguns dias antes da data.
UZIEL — Ah, meu amigo, coisas de Wanda. Ela disse que tem gente
que visita as famílias nesta data, passa em outra cidade,
afinal, período de férias. Melhor fazer antecipado do que
atrasado ou acabar nem fazendo, não é verdade?
ALBERTO — É. Tens razão.
UZIEL — E você meu amigo? Não se anima com uma festa destas?
ALBERTO — Natal, né velho Uziel. Natal, todo Natal é triste longe da
família.
WANDA — (se aproximando) E nós somos o que, hein seu reclamão?
ALBERTO RI. WANDA O CUMPRIMENTA COM UM BEIJO NO ROSTO.
ALBERTO — Vocês são a minha segunda família, na verdade a minha
primeira não é?! Minha casa, meus amigos...
WANDA — Então homem?! Deixe de loucura e vem sambar com a
gente. Hoje eu tô que tô.
ALBERTO E UZIEL RIEM. WANDA SAMBA.
UZIEL — Eita, fogueteira!
WANDA — Ó lá, hein seu Uziel, me respeite que o senhor tem idade
para ser meu pai.
UZIEL — (ofendido) Ah, acredite! Olha isso, meu amigo. Esta
mulher não conhece o Uziel velho de guerra. Pois saiba você
que eu ganhei muitos concursos de twist na minha terra.
WANDA — (ri) Twist é antigo. Quero ver se o senhor se garante no
samba.
UZIEL — Quer ver então? Está me desafiando, Alberto.
ALBERTO — Vai lá, seu Uziel. Mostra pra ela.
UZIEL PEGA NA MÃO DE WANDA. OS TRÊS RIEM. WANDA E UZIEL VÃO
PARA PERTO DA RODA DE SAMBA DANÇAR. CORTA PARA ALBERTO QUE
SE ENTRISTECE NOVAMENTE. COLOCA A MÃO NO PEITO.
ALBERTO — Que pressentimento ruim, meu Deus. (pausa) Porque será?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 8

ALBERTO PREOCUPADO OLHA PARA UZIEL E WANDA QUE DANÇAM

ANIMADOS. ALBERTO BEBE UM GOLE DE CERVEJA. ALGUNS AMIGOS SE
APROXIMAM DELE. MÚSICA SOBE. CAM VAI SAINDO POR CIMA.
CORTA PARA:

1º INTERVALO COMERCIAL

CENA 04. FAVELA DO URUBU. EXTERIOR. NOITE

TAKES DAS VIELAS DA FAVELA COM A TURMA BARRA PESADA DO
MORRO. ÚLTIMO TAKE NA FACHADA DA CASA DE FLÁVIO.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 05. CASA DE FLÁVIO. SALA. INTERIOR. NOITE

FLÁVIO SENTADO NO SOFÁ. EM OUTRO ESTÃO RAFAEL E CACAU JUNTO
COM BELINHA. CONVERSA JÁ INICIADA. SONOPLASTIA DO CASAL.
RAFAEL — Eu quero apresentar a minha namorada pai. Cláudia, mais
conhecida por Cacau e a filha dela, a Belinha.
CACAU — (cumprimenta) Prazer, seu Flávio. O Rafael falou muito
bem do senhor.
FLÁVIO A ANALISA, MAL-HUMORADO COMO SEMPRE.
FLÁVIO — Duvido muito.
BELINHA — (p/ Flávio) Oi tio.
FLÁVIO SORRI AMARELO PARA A GAROTA QUE ABRAÇA A MÃE.
BELINHA — Mamãe, o tio Rafa vai ser o meu pai?
CACAU — Não digo pai, minha filha, mas o tio Rafa vai casar com a
mamãe e vai te amar como filha dele. Tenho certeza.
CACAU BEIJA RAFAEL.
RAFAEL — Eu já amo você Belinha, como minha filha. Desde o
primeiro instante, lembra?
BELINHA — Eu vou gostar muito de você ser o meu pai. Eu quero que
você se case com a minha mãe, eu deixo...
OS TRÊS RIEM. FLÁVIO IMPACIENTE.
FLÁVIO — Acabou?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 9

RAFAEL — O senhor não diz nada sobre o assunto?

FLÁVIO — Vou dizer o que? Não sou eu que vou casar, é você. Por
mim tanto faz se casa com a Maria ou com a Joana.
BELINHA — (corrige) Cacau.
FLÁVIO — Que seja, menina. Bom, se acabou eu vou dormir que o
meu ciático já está começando a me irritar.
FLÁVIO SAI DE CENA. CACAU NERVOSA.
CACAU — Acho que ele não gostou de mim, meu amor.
RAFAEL — (sorri) Gostou sim, Cacau. O seu Flávio é assim rabugento
mesmo, vão se acostumando.
BELINHA — Achei ele um mala.
CACAU — (repreende) Filha!
RAFAEL — Ela tem razão. (cochicha com Belinha) Ele é um mala
mesmo, mas é muito gente boa. Cê vai ver.
BELINHA E RAFAEL RIEM. O CASAL DÁ UM BEIJO. BELINHA SORRI PARA
ELES E APLAUDE.
CORTA PARA:

CENA 06. SÃO CRISTÓVÃO. RUA. EXTERIOR. NOITE

A FESTA DE NATAL EM SÃO CRISTÓVÃO SEGUE ANIMADA. WANDA
DANÇA COM ALGUNS HOMENS. UZIEL CONVERSA COM UMA MULATA.
JOGA SEU CHARME PARA ELA. AS PESSOAS DANÇAM E SE DIVERTEM.
TODOS MUITO FELIZES. ALBERTO PERTO DA ÁRVORE DE NATAL,
SOZINHO. OLHA OS CARTÕES DAS CRIANÇAS E SORRI SAUDOSO.
Inserir flashback: Cena 04. Capítulo 01:
CLARICE SE APROXIMA DO PAI COM O DESENHO NA MÃO E ENTREGA A ELE. A CÂMERA
REVELA NO PAPEL DESENHADO: A BANDEIRA DO BRASIL.
CLARICE — Pro senhor não se esquecer da nossa pátria.
ALBERTO OLHA O DESENHO, SORRI MELANCÓLICO. GUARDA NO PALETÓ.
Fim do flashback

VOLTA PARA ALBERTO QUE É INTERROMPIDO POR WANDA, QUE JÁ ESTÁ

BÊBADA.
WANDA — (ri) Tá fazendo o que aí, Alberto?
ALBERTO — Pensando Wanda.
WANDA — Chega de pensar, homem. Vamos dançar.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 10

ALBERTO — Não, eu não quero Wanda.

MAS WANDA VAI PUXANDO ALBERTO MEIO QUE À FORÇA PARA O POVO
QUE DANÇA NA BATUCADA. UMA ESPÉCIE DE RODA É FEITA. WANDA
LEVA ALBERTO PARA O MEIO DA RODA E COMEÇA A DANÇAR COM ELE.
ALBERTO INCOMODADO. A BATUCADA FORTE EM UM RITMO
ALUCINANTE. ALBERTO COMEÇA A AJEITAR O COLARINHO. SENTE-SE
SUFOCADO AOS POUCOS. SLOW-MOTION: WANDA RI ENQUANTO RODA
AO REDOR DE ALBERTO QUE NÃO ESTÁ SENTINDO-SE MUITO BEM. UZIEL
COM A MULATA. NINGUÉM PERCEBE A APREENSÃO DE ALBERTO.
Inserir flashback: Cena 02. Capítulo 01:
ZENILDA — Vai pra onde?
ALBERTO — Pra França, Paris. (pausa) Um grupo de amigos também vai, mas
você tem que sair daqui também, meu amor. Você e a nossa filha.
Fim do flashback

VOLTA PARA ALBERTO QUE SE SENTE PIOR. BATUCADA FORTE AO

FUNDO.
ZENILDA — [off] Jura que não demora?
ALBERTO — [off] Eu juro!

ALBERTO ABRE UM, DOIS BOTÕES DA CAMISA.

Inserir flashback: Cena 03. Capítulo 01:
ALBERTO — Papai volta. Você me espera princesa?
CLARICE AFIRMA COM A CABEÇA QUE ESPERA. VOZ DELE JÁ EMBARGADA. OLHOS DA
MENINA CHEIOS DE LÁGRIMA.
ALBERTO — Papai só vai porque ele não pode morrer e deixar você e a mamãe
sozinhas no mundo. Você vão pra casa da tia Leonor, em Conservatória.
Logo o papai está de volta.
CLARICE — Jura que não vai ficar por lá como tantos outros?
ALBERTO — Algum dia o papai mentiu pra você?
CLARICE — Nunca!
Fim do flashback

ALBERTO SEM FORÇAS, VAI CAINDO NO CHÃO. A BATUCADA VAI

PARANDO. WANDA PERCEBE O AMIGO MUITO MAL. UZIEL TAMBÉM
LARGA A MULATA E VAI PARA PERTO DO MARIDO. OS DOIS FALAM O
NOME DE ALBERTO EM OFF. VISÃO TURVA DE ALBERTO.
Inserir flashback: Cena 04. Capítulo 01:
ALBERTO — Agora chegou minha hora.
ZENILDA BEIJA O MARIDO MAIS UMA VEZ. ALBERTO ABRAÇA A FILHA E SEGUE SOZINHO.
ELA OLHA PARA CLARICE, QUE CHORA. SUPER CLOSE NOS OLHOS DA MENINA.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 11

Fim do flashback

ALBERTO VAI CAINDO LENTAMENTE NO CHÃO. WANDA E UZIEL

DESESPERADOS. WANDA GRITA POR SOCORRO EM OFF. SUPER CLOSE DE
ALBERTO ENFARTANDO.
CORTA PARA:

CENA 07. CLUBE. EXTERIOR. NOITE

FORMATURA ANIMADA. LAURO E CLARICE DE PÉ, DANÇAM JUNTOS.
CLARICE TEM UMA PONTADA. GEME DE DOR.
LAURO — (preocupado) O que foi?
CLARICE — Nada. (pausa) Uma sensação estranha, um pressentimento
ruim. Me abraça Lauro, bem forte.
CLARICE ABRAÇA LAURO QUE A PROTEGE. EM CLARICE.
CORTA PARA:

CENA 08. FAVELA. CASA DE JUVENTINA. SALA. INTERIOR.

NOITE
JUVENTINA NA SALA ASSISTE TELEVISÃO. OLHA PARA O RELÓGIO DE
PAREDE PREOCUPADA. HÉLIO ENTRA DA RUA.
HÉLIO — Boa noite.
JUVENTINA — (levanta) Hélio, pelo amor de todos os santos. Cê quer
matar a sua mãe, garoto?
HELIO — Calma mãe. O que houve?
JUVENTINA — O que houve? Você some o dia inteiro depois de me
contar tudo aquilo que você me contou, deixa eu aqui uma
velha, se consumindo e pergunta o que houve?
HÉLIO — (ri) Pode parando, dona Juventina. A senhora não sabe de
onde eu acabo de chegar. Quando souber, acho que vai até
agradecer esta minha sumida.
JUVENTINA — Me diga que eu vou saber.
HÉLIO SENTA-SE NO SOFÁ AO LADO DA MÃE. TIRA UM PACOTE DE
DENTRO DO CASACO.
HÉLIO — Fui fazer pesquisa de campo!
JUVENTINA — Pesquisa de campo?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 12

HÉLIO — (animado) Eu fui ao antigo prédio onde a Irene morava

com o Sales.
JUVENTINA — Esta história de novo... Por favor, meu filho, pare com
isso. Você ainda vai acabar se machucando com tudo isso.
Este assunto não compete a nós, meu filho e sim a polícia!
HÉLIO — Sim, é a mesma história e não adianta dizer que eu não
vou me meter, mãe. Sem essa, não vou conseguir ficar parado
aqui no Brasil depois de descobrir tudo o que eu descobri
sobre o meu pai.
JUVENTINA — Já que você é um cabeça dura mesmo...
HÉLIO — Bom, eu vou contar então a minha pesquisa (ri). Cheguei
lá no prédio e tirei a sorte grande, mãe. O porteiro daquele
lugar é o mesmo da época do crime. Fui conversando com o
cara, paguei uma geladinha e eis que consigo o que eu mais
precisava nesse momento.
JUVENTINA — Fala logo menino!
HÉLIO — (ri) Eu consegui com ele uma lista dos freqüentadores
assíduos do apartamento da Irene da época.
JUVENTINA DÁ DE OMBROS.
JUVENTINA — E...?
HÉLIO — (animado) E daí que tendo esta lista em mãos eu não fico
preso apenas nas informações que o Humberto e a Janete me
fornecem que podem ser tortas.
JUVENTINA — Mas tem algum nome importante? De artista?
HÉLIO — Alguns falecidos já, mas figuras importantes sim. Parece
que o Sales e a Irene era um casal importante.
JUVENTINA — Isso você não precisa nem falar com porteiro chinfrim
para saber. Eu mesmo te dizia.
HÉLIO — Mas foi este porteiro chinfrim que pode ter me passado
informações quentes, preciosas... Agora sim eu vou poder
começar a minha investigação e terminar com êxito!
HÉLIO SORRI ANIMADO.
CORTA PARA:

CENA 09. APARTAMENTO DE MARINA. SALA. COZINHA.

INTERIOR. NOITE
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 13

FREDERICO BEM DESPOJADO, SENTADO EM CIMA DA MESA DE

MÁRMORE FALANDO AO CELULAR.
FREDERICO — (cel.) Lógico, meu amor. Eu tô ardendo de tesão, louco
para te encontrar e aí a gente poder fazer gostoso. (pausa/ ri)
Olha oncinha, não fala isso. (se corta) Fala, fala bem
chiadinho. (se corta/ treme) Nossa não faz isso que você me
mata, oncinha gostosa.
FREDERICO RI. MARINA ENTRA NA COZINHA.
MARINA — (tom) Maria! Ô Maria! (estranha) Fred?!
FREDERICO VÊ A ESPOSA E DESCE DA MESA RAPIDAMENTE. ENCARA A
ESPOSA.
NELINHA — [off] Hein meu tchutchuquinho. (pausa) Tchutchuquinho?
(estranha) Frederico?!
FREDERICO OLHA PARA MARINA ASSUSTADA.
MARINA — O que você estava fazendo em cima da mesa?!
FREDERICO DESLIGA O CELULAR RAPIDAMENTE E SORRI PARA MARINA.
FREDERICO — Eu estava tratando de negócios, meu amor.
MARINA — Em cima da mesa?
FREDERICO — Falando com a dona Nelinha, agendando a reunião mensal
do partido, querida.
MARINA — (insiste) Em cima da mesa?
FREDERICO — E tem lugar melhor para exercitar o nosso bolso? É em
cima da mesa que acontece às coisas divinas. As refeições,
não dizem que são sagradas, por exemplo?
FREDERICO SENTA-SE À MESA.
FREDERICO — Na mesa nós exercitamos o pensar. Esse mármore também
ajuda muito nos problemas de coluna.
MARINA —(irônica) Ah é?
FREDERICO — Claro! O mármore é geladinho, pega aqui em baixo, vai
subindo, subindo, congela tudo e fica tudo que é uma beleza.
Qualquer problema senta no mármore e relaxa.
MARINA OLHA PARA FREDERICO IMPACIENTE.
FREDERICO — Entendeu?
MARINA — Não, Frederico de Castro!
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 14

FREDERICO SALTA DA MESA E DÁ UM BEIJO NA ESPOSA.

FREDERICO — Bom meu amorzinho, hoje eu estou muito cansado para
explicar, mas eu explico amanhã, tudo bem? Agora vou
dormir te espero na cama. Te amo, minha princesa!
FREDERICO SAI. MARINA EMBASBACADA.
MARINA — É mole?!
NELA.
CORTA PARA:

2º INTERVALO COMERCIAL

CENA 10. SÃO CRISTÓVÃO. RUA. EXTERIOR. NOITE

A FESTA NA VILA SIMPLESMENTE PAROU. PESSOAS ALI, MAS APENAS
PARA VER O QUE VAI OCORRER COM ALBERTO. A AMBULÂNCIA ENTRA
NA RUA QUE ESTAVA FECHADA. WANDA CHORA NOS BRAÇOS DE UZIEL.
DOIS ENFERMEIROS E UM PARA-MÉDICO DESCEM DA AMBULÂNCIA E
COLOCAM ALBERTO DESFALECIDO EM UMA MACA.
UZIEL — Vocês vão levar o Alberto para onde?
ENFERMEIRO 01— Santa Casa, senhor.
WANDA — (chora) Salva ele, moço!
PARA-MÉDICO— Farei o possível senhora.
OS ENFERMEIROS LEVAM A MACA PARA DENTRO DA AMBULÂNCIA.
ENFERMEIRO 02— (tom) Algum parente da vítima?
UZIEL — Nós dois.
ENFERMEIRO 02— Pode ir apenas um na ambulância.
UZIEL — Então deixa que nós vamos de táxi.
O ENFERMEIRO CONCORDA E ENTRA NA AMBULÂNCIA QUE PARTE COM
A SIRENE LIGADA. OS CURIOSOS COMENTAM ENTRE SI. WANDA CHORA
ABRAÇADA A UZIEL.
WANDA — Eu matei o Alberto.
UZIEL TENTANDO ACALMAR WANDA.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 15

CENA 11. AMBULÂNCIA. INTERIOR. NOITE

ALBERTO ENTUBADO. OS ENFERMEIROS E O PARA-MÉDICO SE OLHAM,
TENTAM FAZER ALGO. EM ALBERTO DESMAIADO. CLIMA DE SUSPENSE.
CORTA PARA:

CENA 12. CLUBE. EXTERIOR. NOITE

A FESTA AINDA CONTINUA. ESTÃO REUNIDOS: MARCELA, BRUNO,
TEREZA, THÉO, ZENILDA, LAURO E CLARICE.
BRUNO — Juro que tentamos, mas não agüentamos esta agitação
toda.
MARCELA — (sorri) Eu entendo vovô. Obrigada por virem.
TEREZA — Sua festa tava linda, meu anjo.
MARCELA SORRI E ELES SE DESPEDEM COM BEIJINHOS NO ROSTO.
LAURO — Eu vou levar vocês em casa. (p/ Clarice) Depois eu venho
te buscar.
CLARICE — Tudo bem.
LAURO SAI COM TEREZA E BRUNO.
THÉO — Nós também já vamos.
MARCELA — Ah, vocês também?
ZENILDA — Triste ser velho, nem aguenta.
ZENILDA FAZ CARA FEIA PARA THÉO. TODOS RIEM.
CLARICE — Eu sei o quanto a senhora se esforçou para sair de casa,
mamãe. Obrigada por vir.
ELES TAMBÉM SE DESPEDEM. ROBERTA E DOROTÉIA SE APROXIMAM.
ROBERTA — Oi, viemos aqui nos despedir, Marcela.
MARCELA — Quê isso? A festa tá tão chata assim?
DOROTÉIA — Pelo contrário, estava tudo maravilhoso, minha filha.
Parabéns a organização da festa.
THÉO — Se quiserem eu dou uma carona para vocês. Nós também
já estamos indo.
ROBERTA — Nós pegamos um táxi, seu Théo.
DOROTÉIA — Nada disso, se ele ofereceu, vamos logo que meus pés não
aguentam mais.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 16

TODOS RIEM E SE DESPEDEM. SAEM THÉO, ZENILDA, ROBERTA E

DOROTÉIA. CLARICE ABRAÇA MARCELA.
CLARICE — Tava linda minha filha.
MARCELA — Obrigada mãe.
AS DUAS SE ABRAÇAM. CORTA PARA A MESA DE HELENA E JULIANO.
JULIANO — Gostei de ver, não bebeu nem um gole.
HELENA — Eu prometi, vou cumprir.
JULIANO SORRI AMARELO E OLHA PARA A PISTA DE DANÇA ONDE ESTÃO
VICENZO E ELIANA, JUNTOS COM OTÁVIA E SANDRO. OS CASAIS
DANÇAM ANIMADOS. JULIANO NÃO TIRA OS OLHOS DE ELIANA QUE
PERCEBE E SORRI MALICIOSAMENTE PARA ELE SEM QUE HELENA
PERCEBA. FADE-OUT.
CORTA PARA:

CENA 13. RIO DE JANEIRO. SANTA CASA DA MISERICÓRDIA.

FRENTE. EXTERIOR. TARDE
FADE-IN. MOVIMENTO NA FRENTE DA SANTA CASA JÁ DE DIA.
AMBULÂNCIAS E OUTROS VEÍCULOS PASSAM PELA FRENTE DO
HOSPITAL.
CORTA PARA:

CENA 14. SANTA CASA. QUARTO DE ALBERTO. INTERIOR.

TARDE
QUARTO SIMPLES DE HOSPITAL. VÁRIOS OUTROS LEITOS OCUPADOS.
ALBERTO DEITADO EM UM DELES. WANDA E UZIEL ENTRAM COM O
MÉDICO QUE VEM NA FRENTE. DIRIGE-SE DIRETO PARA ALBERTO. OS
DOIS AMIGOS MAIS ATRÁS.
ALBERTO — Doutor, quando eu vou sair daqui?
MÉDICO — Seu Alberto sinto lhe informar, mas o senhor não vai sair
daqui tão cedo.
ALBERTO — O que eu tive? Eu enfartei?
MÉDICO — Não exatamente, foi um principio de enfarte do miocárdio,
não chegou bem a ser um enfarte de fato. Na verdade o que o
senhor teve foi muita sorte de não ter tido uma complicação
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 17

maior. O eletrocardiograma que eu lhe passei à algumas

semanas atrás, por exemplo, porque o senhor não fez?
ALBERTO — Falta de tempo, doutor.
WANDA — (se mete) Mentira, doutor! O Alberto não fez porque ele
não gosta de ir ao hospital, fazer exames e tomar remédios.
Parece uma criança pequena.
ALBERTO — E você a minha mãe.
MÉDICO — Alberto, isso está errado da sua parte. A dona Wanda está
certa. Quando você chegou aqui nós logo tratamos de tirar
um eletro do senhor e no exame deram algumas alterações.
UZIEL — Doutor, que alterações?
MÉDICO — Os vasos sanguíneos estão inchados, comprometidos. O
senhor vai ter que ficar aqui porque consta no fator de risco.
ALBERTO — Mas o doutor tem que entender que eu não posso deixar a
minha casinha.
WANDA — Porque isso homem de Deus?
MÉDICO — Senhor Alberto, parece que o senhor é que está custando a
entender. (pausa) Se eu deixar o senhor voltar para a sua casa,
o senhor vai morrer.
UZIEL — Escuta o que o médico está dizendo, Alberto. Pelos seus
amigos, não faça isso com a gente.
ALBERTO OLHA PARA OS AMIGOS E CONFIRMA COM A CABEÇA.
ALBERTO — Não vou desistir de viver, doutor. (olha para os amigos)
Por causa deles eu não vou desistir.
MÉDICO — Ótimo. Uma ótima escolha a sua, viver é sempre a melhor
escola, pode ter certeza. Bom, eu vou passar aqui mais tarde.
WANDA — Nós podemos ficar com ele?
MÉDICO — Só um pouquinho, não forcem muito o amigo de vocês.
UZIEL — Pode deixar doutor.
O MÉDICO SAI. WANDA E UZIEL SE APROXIMAM DE ALBERTO.
ALBERTO — Valeu por vocês estarem aqui comigo.
UZIEL — E a gente ia te abandonar logo agora homem?
WANDA — Eu me senti tão culpada pelo que aconteceu.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 18

ALBERTO — A culpa foi minha que não fiz os exames que o médico
mandou Wanda. Cê não tem culpa não, fica sossegada. Este
peso você não carrega para o túmulo.
WANDA — (ri) Amém!
UZIEL — Você ouviu né Alberto. O seu quadro pode haver
complicações então faça tudo o que lhe mandarem fazer.
ALBERTO SUSPIRA LONGAMENTE E OLHA PARA A JANELA ONDE ENTRA
UNS FRACOS RAIOS DE SOL.
ALBERTO — O que eu não queria era morrer em uma cama de hospital.
WANDA SEGURA A MÃO DELE.
WANDA — Cê não vai morrer. A gente não vai deixar.
ALBERTO OLHA PARA WANDA E SORRI. UZIEL COLOCA SUA MÃO NA DOS
AMIGOS. NOS TRÊS.
CORTA PARA:

CENA 15. FAVELA. VIELA. EXTERIOR. TARDE

MANDRAKE SAI DE SUA CASA. CENOURA VAI PASSANDO. AO VER O
TRAFICANTE TENTA MUDAR DE ROTA. MANDRAKE SE PÕE A FRENTE DO
GAROTO.
MANDRAKE — Qualé Cenoura! Toda vez que me vê tenta mudá de rumo.
(ri) Tô te estranhando. Tá com desejo em mim é mermão?
CENOURA — (nervoso) Nada disso, Mandrake. É que se a minha mãe
me vê com o senhor./
MANDRAKE — Fica na paz Brow. (abraça o garoto) Pô cara, sabe que te
considero né Mané. Te vi crescer aí pelas quebrada da vida,
te considero pra cacete.
CENOURA — Aham, eu sei.
MANDRAKE — Então, o que se assussede é que tô precisando de um
muleque assim pra fazer uns bagulho fora do morro. Boca
boa, de responsa. Te ofereci já o baguio, mas tu fugiu pô.
Qualé?! Vai me fazer esperar muito tempo a resposta?
CENOURA ENCARA MANDRAKE. TRANSPIRA DE NERVOSO. EM SEGUNDO
PLANO APARECE GLÓRIA.
GLÓRIA — (grita) Luiz Antônio!
CENOURA OLHA PARA A MÃE EM PANE. MANDRAKE RI DA EVANGÉLICA.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 19

GLÓRIA — Já pra casa!

CENOURA — Tô indo mãe.
CENOURA CORRE E PASSA PELA MÃE QUE ENCARA MANDRAKE ALGUNS
SEGUNDOS E SAI NA DIREÇÃO QUE O FILHO SAIU. MANDRAKE SE VIRA E
RI.
CORTA PARA:

CENA 16. FAVELA. EXTERIOR. TARDE

ALGUNS PONTOS DA FAVELA, ENQUANTO ROLA MÚSICA DO NÚCLEO.
CORTA PARA FRENTE DE UM BAR, ONDE TRIPÉ EMBARCA ALGUNS DE
SEUS PASSAGEIROS. ENTRE ELES ESTÁ MARY-LOU COM UM VESTIDO
JUSTÍSSIMO. TRIPÉ SORRI PARA ELA, QUE NEM DÁ MORAL.
TRIPÉ — Tá gostosa hoje hein morena!
MARY-LOU — Ih, calé Tripé. Nem te dei condição, nem!
TRIPÉ — (sorri safado) Mas eu dou condição total nesse corpinho. É
só experimentar. Garanto que o Tripé aqui não tem esse
apelido em vão.
MARY-LOU PARA NA PORTA DA KOMBI. TRIPÉ DO LADO DE FORA
SEGURANDO A PORTA.
MARY-LOU — Passa lá na casa da madrinha.
MARY PUXA TRIPÉ E SUSSURRA EM SEU OUVIDO:
MARY-LOU — Pagando bem, mal não tem...
TRIPÉ — Nunca precisei pagar mulher.
MARY-LOU — Então fica aí chupando... O dedo.
MARY-LOU EMPURRA TRIPÉ E ENTRA NA KOMBI TODA REBOLATIVA.
TRIPÉ VAI Á LOUCURA. FECHA A PORTA, ENTRA NA KOMBI E PARTEM.
SOBE SONOPLASTIA.
CORTA PARA:

CENA 17. CASA DE GLÓRIA. SALA. INTERIOR. TARDE

ABRE JÁ EM UMA GLÓRIA ENFURECIDA BATENDO EM CENOURA COM UM
CINTO. CENOURA GRITA DE DOR.
CENOURA — Para mãe, por Cristo! Eu não tava fazendo nada demais.
GLÓRIA — (grita) Estava falando com aquele excomungado!
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 08 PÁG.: 20

E MAIS UMA CINTADA EM CENOURA.

CENOURA — (chora) Tá doendo, mãezinha.
GLÓRIA —Vai doer muito mais pra você aprender a não ter amigo
bandido!
MAIS CINTADA.
GLÓRIA — Traficante!
OUTRA CINTADA. NA DOR DE CENOURA.
GLÓRIA — (grita) Degenerado!
O GRITO DE GLÓRIA ECOA PELO AMBIENTE. ELA TODA DESPENTEADA.
CONGELA.
CORTA PARA:

EFEITO FINAL: O ROSTO DE GLÓRIA FICA CINZA, ENQUANTO O

PLANO DE FUNDO É PREENCHIDO COM AS CORES DA BANDEIRA DO
BRASIL.

FIM DO CAPÍTULO 08

Créditos sobem ao som de: “Sempre Fiel – Rose Nascimento”.