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LYOTARD, Jean-François (2008). A condição pós-moderna. 10. ed. Rio de Janeiro, José Olympio.
Na visão pós moderna, a emancipação moderna parece ter sequestrado a subjetividade. Essa
situação pode de crítica ao projeto de emancipação moderna pode-se traduzir na seguinte frase:
- “Não basta amar o outro é preciso que o outro me sinta amado”.
O que os pós modernos estão alertando é para o que pode ser chamado de “sequestro da
subjetividade”. Aí cabem as perguntas:
1 – Esse projeto de emancipação do qual eu participo é mesmo meu ou eu sou refém do desejo de
outro?
2 – nesse debate eu sou sujeito ou predicado?
Poderíamos então refletir se, esse sujeito relativista, subjetivo e individual, ao adotar para si as
praticas hedonistas, orientados por uma estética e abandonando a orientação ética, estaria sim se
libertando de orientações intelectuais, partidárias etc. e passando sim, a ele ser o sujeito da ação?
Pós-modernidade
HARVEY, David. (2002). Condição pós-moderna. 11. ed. São Paulo, Loyola.
David Harvey é um geógrafo britânico, de formação marxista. Professor de diversas universidades
norte-americanas, Harvey tem como preocupação as pesquisas sobre as novas formas de
manifestações capitalistas. Harvey tem se debruçado de modo particular sobre o estudo das cidades
e de como as implicações econômicas, têm recaído sobre a arquitetura das cidades.
O livro Condição Pós-Moderna é o seu terceiro livro de Harvey traduzido para o português e
lançado no Brasil. Ele está dividido em quatro partes.
a) Parte I, “A Passagem da Modernidade à Pós-Modernidade na Cultura Contemporânea”;
b) Parte II, “A Transformação Político-Econômica do Capitalismo do Final do séc. XX”;
c) Parte III, “A experiências do espaço e do tempo”;
d) Parte IV, “A condição pós-moderna”.
Condição Pós-Moderna é uma obra na qual se apresenta uma análise pautada na condição histórico-
geográfico do significado dialético acerca da arte, arquitetura, filosofia dos tempos hodiernos. Os
tempos pós modernos, por assim dizer, surgem nos idos de 1968 a 1972. Esses novos tempos são
caracterizados pelo rompimento com as ideias modernas no urbanismo, na tecnologia e na
arquitetura diferenciada.
O Livro Condição Pós-Moderna inicia-se pela relevância do tema, para isso Harvey argumenta
sobre a contemporaneidade dos debates nos quais circundam temas como espaço urbano, arte,
publicidade etc. Entre as páginas 22, 23 Harvey alerta acerca da incompletude do projeto de
emancipação iluministas e que esse teria desembocado nos ideias científicos de domínio da
natureza, com uma ciência objetiva, uma arte autônoma etc. O iluminismo trazia em si uma ideia de
progresso, lembremo-nos por exemplo do ‘otimismo iluminista’, que consistia na crença da saída da
menor idade para a maior idade (Vivian Schelling. “A presença do povo na cultura brasileira:
ensaio sobre o pensamento de Mário de Andrade e Paulo Freire”).
“O projeto iluminista abraçou a idéia de progresso e buscou ativamente a ruptura com a história e a
tradição esposada pela modernidade” (HARVEY, 2002, p. 23). Mas o século XX demonstrou a
impossibilidade desse progresso linear. As guerras mundiais, decorrente de teorias positivistas que
desembocaram em eugenia, levantaram a “suspueita de que o projeto do Iluminismo estava fadado a
voltar-se contra si mesmo e transformar a busca de emancipação humana num sistema de opressão
universal em nome da libertação humana” (HARVEY, 2002, p. 23).
Harvey salienta que mesmo no ápice do Iluminismo, pensadores como Rousseau que era iluminista,
< nada de modo contrário ao progresso Iluminista, ao se atrelar ao passado livre e heroico,
romântico, do cavaleiro medieval > (Grifo nosso). Para Harvey, “a humanidade vai ter de ser
forçada a ser livre, disse Rousseau; [...]. Francis Bacon, um dos percussores do pensamento
iluminista, concebeu em seu tratado utópico Nova Atlântida uma casa de sábios que seriam
guardiães do conhecimento, os juízes éticos e os verdadeiros cientistas, [...], eles exerceriam sobre
esta (a comunidade) uma extraordinária força moral” (HARVEY, 2002, p. 24).
Nietzsche foi quem radicalizou submergindo no argumento inverso ao que era proposto pelo
Iluminismo. Para Nietzsche o projeto iluminista podia ser traduzido em uma “energia vital, a
vontade de viver e de poder, nadando num mar de desordem, anarquia, destruição, alienação
individual e desespero” (HARVEY, 2002, p. 25).
Na página 28 o autor assinala para o que Kant propôs: a estética tem um juízo que age
independentemente da razão prática, entenda-se juízo moral e da compreensão científica, mas que
essa, a estética, constitui um elo problemático entre juízo moral e ciência. Harvey relata que “o
modernismo só podia falar do eterno ao congelar o tempo e todas as suas qualidades transitórias”
(p. 30), essa é uma passagem interessante por que o IPHAN, por exemplo, foi criado em 1937 e,
dessa data até 2001, travaram-se fortes discussões acerca do patrimônio imaterial <grifo nosso>.
No bojo dessas discussões discutia-se como conservar o imaterial? Lembre-se que falar do eterno é
congelar o tempo e suas qualidades transitórias ou que em si já me parece problemático pois se é
transitório não pode estar congelado (confesso que não entendi). Mas um debate que se tinha no
IPHAN era: a) de como tombar uma quadrilha junina? Se essa acrescentar um passo ou modificar a
indumentária, deixaria de ser quadrilha junina, já que no livro de Tombo ela não está registrada
desse jeito. b) e uma música? Uma música é um registro auditivo. Classificar-se-ia o disco, não
porque isso é um objeto e não uma música. Então seria plausível registrar a partitura? Também não
pois a partitura é representação gráfica da música e não a música em si. <grifo nosso>. Todo esse
debate no sentido da apropriação dos atores sociais e de “mercadificação e comercialização de
produtos culturais” (p. 31)
Na parte II Harvey irá se ater às novas dinâmicas do capital, especialmente a partir dos anos 70.
Através de diversos gráficos o autor alerta para a transição do modelo fordista-tylorista para o
modelo assim denominado de acumulação flexível.
A acumulação flexível refere-se a uma nomeclatura de um modelo produtivo desenvolvido na
fabrica da Toyota, no Japão, na década de 50. Ela remete a setores produtivos inteiramente novos,
com a introdução de novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, de mercados e de
taxas de no que tange a inovação comercial, tecnológica e organizacional (HARVEY, 2002)
Harvey apresenta um conceito importante que é o da “Compressão Tempo-espaço” e os
desdobramentos dessa realidade. Na Compressão tempo-espaço Harvey salienta para a importância
da tecnologia como um mecanismo que veio dinamizar a comunicação. Ele usa uma imagem de
uma propaganda e mostra como o mesmo trajeto que durava meses a ser percorrido, com o advento
da máquina a vapor irá durar dias, com o avião teremos algumas horas e se pensarmos hoje com a
internet, essa distancia pode ser percorrida em segundos. Harvey vê nesse dinamismo uma
possibilidade de maior circulação de pessoas, mercadorias e capital.
Diálogos e interfaces
É interessante perceber como esse fenômeno foi incorporado por diversos autores preocupados cada
um com suas temáticas. O Stuart Hall, no livro “A identidade cultural na pós-modernidade” irá falar
sobre a compressão tempo-espaço como algo que aproxima as culturas, permitindo um dialogo
muito mais rápido.
Considerações finais
A condição pós moderna é acima de tudo uma condição espaço-temporal de reflexão acerca de como os
paradigmas construídos, em especial na filosofia com o Lyotard, mas não só, inclua-se aí a arquitetura, o
urbanismo, a tecnologia etc. Nesse modelo assisti-se ainda a uma reestruturação produtiva no que tange a
produção, distribuição e consumo, especialmente dinamizados com o processo de aceleração das
comunicações. Esse momento também fica marcado pelas criticas de gastos excessivos do Estado e de
apresentação de um modelo neoliberal, inicialmente na Inglaterra com Margaret Thatcher e nos Estados
Unidos com Ronald Reagan.