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Maria risolange tavares de oliveira

FUnDAMenTOS e MÉTODOS De
enSInO DA ARTe

são lUís

2013
Edição
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Oliveira, Maria Risolange Tavares de.

Fundamentos e métodos do ensino da arte / Maria Risolange


Tavares de Oliveira. - São Luís: UemaNet, 2013.

148 p.

1. Arte. 2. Ensino. I. Título.

CDU: 37.016:7
SUMÁRIO

UNIDADE 1
A ARTE E SEUS CONCEITOS ..................................................... 15
PERCURSO HISTÓRICO DAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS ....... 17
Os caminhos das Artes Visuais ...................................................... 18
Os caminhos da Música ................................................................ 49
Os caminhos do Teatro ................................................................. 55

UNIDADE 2
ENSINO DA ARTE NO BRASIL ................................................... 67
O positivismo e a escola tradicional .............................................. 71
O Romantismo e a Escola Nova ................................................... 74
O Liberalismo e a Escola Tecnicista .............................................. 80
Abordagem Triangular: lendo e relendo ........................................ 84

UNIDADE 3
O ENSINO DA ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS
LINGUAGENS ARTÍSTICAS ....................................................... 95
Artes visuais ................................................................................. 95
Teatro .......................................................................................... 110
Música ......................................................................................... 120
Dança .......................................................................................... 127
UNIDADE 4
Prática docente no ensino da arte ............................. 135
Processo avaliativo nas aulas de arte ........................................... 139

REFERÊNCIAS ........................................................................... 145


ícones

Orientação para estudo

Ao longo desta apostila serão encontrados alguns ícones utilizados


para facilitar a comunicação com você.

Saiba o que cada um significa.

ATIVIDADES PENSE

SAIBA MAIS SUGESTÃO DE FILMES

ATENÇÃO
APRESENTAÇÃO

Nesse fascículo propomos analisar os caminhos percorridos pela


História da Arte, de como e quando a Arte passou a fazer parte do
contexto da sala de aula, observando e discutindo os benefícios que
este tipo de ensino proporciona ao aluno, além de avaliar novas
metodologias para trabalharmos com essa disciplina na escola.

Quando falamos de Arte no Brasil, o que primeiramente nos vem à


mente é a nossa formação, iniciada pelos Jesuítas que, quando aqui
chegaram para catequizar os índios, já utilizavam a Arte através das
músicas, representações teatrais e imagens para que encantar os
nativos com quem viam e ouviam.

Imaginamos a Arte como algo peculiar a nossa formação, mas, no


entanto, somente a partir do ano de 1971, pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, a arte é incluída no currículo escolar
como “atividade educativa” e não como disciplina capaz de ser
ensinada e aprendida.

Depois de muito se discutir sobre a importância da Arte na formação


escolar da criança, em 1996, com a Lei n. 9.394/96, a Arte é considerada
componente curricular obrigatório na Educação Básica, dando um
salto qualitativo, para que fosse revisto tudo o que acontecia até então
como arte na escola.

A elaboração dos PCN’S Arte tem como objetivo principal orientar os


professores a desenvolver a Arte no ambiente escolar. As universidades
incluíram no Curso de Licenciatura em Pedagogia a Metodologia
do ensino da Arte, para que os centros acadêmicos debatessem
possibilidades de melhorias desse ensino no espaço escolar.
No ensino da Arte não existe receita pronta ou uma única maneira
de ser trabalhada, mas existe a proposta da apreciação/leitura,
contextualização e do fazer artístico da obra estudada, que deve ocorrer
dentro das quatro linguagens artísticas: Teatro, Música, Dança e Artes
Visuais, como possibilidade de “alfabetizar” o aluno também em Arte.

Na primeira unidade deste fascículo, resolvemos fazer um passeio pelos


caminhos históricos da arte desfrutando das suas belezas e riquezas,
analisando e conhecendo sobre os movimentos artísticos que muito
auxiliaram para o desenvolvimento da arte nas quatro linguagens
artísticas, não nos apegamos a dados cronológicos, mas, viajamos
pelos principais movimentos que fazem parte da história mundial e
brasileira.

Na segunda unidade, estudaremos a História do Ensino da Arte,


por considerar que este olhar à história possibilita ao professor,
especialmente, da Educação Infantil e Fundamental, a oportunidade
de refletir sobre sua formação em muitos casos incipientes na área de
Arte, para que o docente possa, a partir desses dados, reinventar suas
práticas nesta área de conhecimento.

Na terceira unidade, apresentaremos as metodologias utilizadas em


cada uma das linguagens, apresentando algumas ideias com o intuito
de incentivar a modificação do ensino da Arte na escola, para que o
professor possa elaborar melhor sua proposta pedagógica, incluindo a
Arte como conhecimento científico no espaço escolar.

Na quarta unidade, abordaremos a prática docente, fazendo referência


ao professor que tem necessidades concretas de reconstruir seu
repertório de conhecimento em Arte e dialogar, junto a esse educador
a melhor forma de avaliar o aluno. Posteriormente, indicaremos
algumas sugestões de atividades teóricas e práticas, como forma de
avaliar o conhecimento adquirido pelos alunos ao longo das aulas.
Finalmente, deixaremos sugestões de leituras e alguns filmes, para
orientar os alunos a novas possibilidades de estudos.

Profª. Esp. Maria Risolange T. de Oliveira


INTRODUÇÃO

ARTE/EDUCAÇÃO: contribuição da arte para a educação

Certa vez, eu, Chuang Tzu, sonhei que era


uma borboleta voando alegremente aqui e ali,
gozando a vida sem saber quem era. De repente,
acordei e então eu era visivelmente
Chuang Tzu. Estaria Chuang Tzu sonhando
que era uma borboleta, ou estaria a
borboleta sonhando que era Chuang Tzu?
(Chung Tzu)

Nesse poema, Chuang Tzu nos apresenta a existência da homogeneidade


entre o homem e a natureza e entre o sonho e a realidade. Quando não
conseguimos distinguir entre o sujeito e o objeto, entre o observador e
a coisa observada, entre o autor e a obra, é porque tudo se integra na
mesma unidade.

Assim, ocorre com a Arte e a Educação, pois, em todos os meios


artísticos existentes, a educação está inserida, ou seja, conseguimos
aprender através da Dança, da Música, da Xilogravura, do Cinema,
das Telas, dos Espetáculos teatrais... não havendo restrição para esse
aprendizado.
Segundo Andrés (2000, p. 145):

Uma educação que visa apenas o acúmulo de con-


hecimento ou a repetição de conceitos do passado
seria uma educação fragmentada. Não atingiria o de-
senvolvimento da criança sob todos os seus múltiplos
aspectos. O acúmulo de conhecimentos teóricos, não
vivenciados, permite apenas uma visão parcial do
problema. Para haver compreensão total, é necessário
viver o aprendizado e percebê-lo de forma global.

Já que estamos falando da necessidade do educando


vivenciar o aprendizado, leia atentamente o texto abaixo e
analise com qual desses tipos de professores você teve que
conviver e “aprender”.

O Menininho

Era uma vez um Menininho. Ele era bastante pequeno. E ela era uma
grande escola. Mas, quando o Menininho descobriu que podia ir à sua
sala, caminhando através da porta da rua, ele ficou feliz. E a escola
não parecia mais tão grande quanto antes.

Uma manhã, quando o menininho estava na escola, a professora


disse: – Hoje nós iremos fazer um desenho.
Que bom! – pensou o menino. Ele gostava de fazer desenhos. Ele
podia fazê-lo de todos os tipos: tigres, leões, galinhas, vacas, trens e
barcos; ele pegou sua caixa de lápis e começou a desenhar. Mas a
professora disse:

– Esperem! Ainda não é hora de começar! E ela esperou que todos


estivessem prontos.

– Agora! Disse a professora. – nós iremos desenhar flores.

Que bom! – Pensou o menininho. Ele gostava de desenhar flores e


começou a desenhar flores com seu lápis rosa, laranja e azul. Mas a
professora disse:

- Eu vou mostrar como fazer!


E a flor era vermelha, com caule verde.

– Assim, disse a professora. – Agora podem começar.

Então ele olhou para a sua flor. Ele gostava mais da sua flor, mas não
podia dizer isto. Ele virou o papel e desenhou uma flor igual a da
professora. Era vermelha com o caule verde.

Num outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre, a


professora disse:

– Hoje iremos fazer alguma coisa com o barro.

Que bom! – Pensou o menininho. Ele gostava de barro.

Ele podia fazer todos os tipos de coisas com o barro: elefantes,


camundongos, carros e caminhões. E ele começou a juntar e a amassar
a sua bola de barro. Mas a professora disse:

– Esperem, não é hora de começar. E ela esperou até que todos


estivessem prontos.

– Agora! Disse a professora, nós iremos fazer um prato.

Que bom! – Pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas


as formas e tamanhos.

A professora disse:

– Esperem! Vou mostrar como se faz. E ela mostrou como fazer um


prato fundo. – Assim! Disse a professora, agora vocês podem começar.

O menino olhou para o prato da professora. Então olhou para o


seu próprio prato. Ele gostava mais do seu prato de que do prato da
professora. Mas ele não podia dizer isso.

Ele amassou o seu barro numa grande bola, novamente, e fez um


prato igual ao da professora. Era um prato fundo. E muito cedo o
menininho aprendeu a esperar e a olhar e fazer as coisas exatamente
como a professora. E, muito cedo, ele não fazia coisas por si próprio.

Então, aconteceu que o menininho e sua família se mudaram para


outra casa, em outra cidade, e o menininho tinha que ir para outra
escola.

Esta escola era ainda maior que a primeira. E não havia porta da rua
para a escola. Ele tinha que subir grandes degraus, até a sua sala.

E no primeiro dia, ele estava lá, a professora disse:


– Hoje nós vamos fazer um desenho!

– Que bom! – Pensou o menino, e ele esperou que a professora dissesse


o que fazer. Mas a professora não disse nada. Ela apenas andava na
sala. Veio até o menininho e disse:

–Você não quer desenhar?

– Sim, disse o menino, o que é que vamos fazer?

– Eu não sei até que você o faça, disse a professora.

– Como eu posso fazê-lo? Perguntou o menininho.

– Da maneira que você gostar! Disse a professora.

– E que cor? – Perguntou o menino.

– Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores,


como eu posso saber quem fez o quê? E qual o desenho de cada um?

– Eu não sei, disse o menininho.

E ele começou a desenhar uma flor vermelha com caule verde.

(Autor desconhecido)

Será que você teve uma aula de arte ministrada dessa forma? Onde
a primeira professora levada pela Pedagogia Tradicional exige que os
alunos façam sempre o que ela quer, sem valorizar os conhecimentos
prévios dos estudantes? Ou como a segunda professora, que deixa o
aluno livre para fazer da forma que quiser, sem dar subsídios artísticos
e teóricos para que ele produza arte?
Qual seu ponto de vista sobre as duas professoras? Elas estão
contribuindo para o crescimento artístico e estético dos alunos? Será
que a arte feita dessa forma auxilia na educação dos educandos?

A Arte/Educação deve ser pensada dentro da escola como grande


colaboradora e facilitadora para um melhor aprendizado dos conteúdos.
Para Barbosa (2005, p. 98): “Arte/Educação é a mediação entre arte e
público e, ensino da Arte é compromisso com continuidade e/ou com
currículo quer seja formal ou informal”.

A arte capacita um homem ou uma mulher a não ser estranho em seu


meio ambiente, um estrangeiro em seu próprio país; mas, para que
o sujeito supere seu estado de despersonalização, sendo inserido no
lugar ao qual pertence, é preciso que o conhecimento produzido na
escola não seja artificial ou autoritário, deve considerar os sistemas de
crenças, avaliação, crítica do mundo, o fazer e o pensar das diversas
culturas minoritárias dos alunos.

O saber não pode partir de um sistema hegemônico (dominante),


enquanto que o conhecimento construído no grupo, na esquina (fora
da escola) seja deixado em segundo plano como pano de fundo da
educação.

Nesse sentido, o ensino da Arte não pode apenas referendar o acesso


a arte instituída socialmente como “consagrada” em seus espaços
especialmente reservados, ao que há de melhor nos museus, teatros e
nas salas de cinemas etc. A visão multicultural em arte deve buscar o
acesso do aluno ao conhecimento da arte também considerada fora
dos limites desses espaços sagrados.

Dessa forma, podemos encontrar nas obras dos artistas, histórias de


lutas sociais e batalhas individuais em busca de sua afirmação como
ser participante de uma sociedade.

Como a criança o Desenho, o Teatro, a Dança e a Música funcionam


como jogo simbólico, ou seja, o faz de conta que tanto ajuda no
desenvolvimento infantil. Pupo (1991, p. 2-3) descreve como ocorre
esse jogo:

Por volta de dois anos de idade, a criança começa a


ser capaz de agir ‘como se’, ou seja, ela assume o pa-
pel de um ser animado ou inanimado, existente na re-
alidade ou fictício, diferente dela. Da mesma maneira,
pode fazer de conta que seu avião está levantando
voo, ao fazer correr um cinzeiro pelo chão.
Jean Piaget estuda o faz de conta, que ele denomina
de jogo simbólico, na tentativa de apreender como
se desenvolve a inteligência infantil. Sua leitura é de
grande valia para educadores que procuram entender
o significado do jogo nos primeiros anos de vida.
Outro autor importante, o psicanalista Winnicott, sa-
lienta que a dança, a música, o teatro, a pintura, a
brincadeira e o jogo constituem um espaço dentro da
atividade humana. Por um lado, eles não se traduzem
enquanto fuga do imaginário, como é o caso do sonho;
por outro, eles não se configuram tampouco enquanto
ação efetiva, visando a transformação realmente do
mundo exterior. O ato de fazer Arte e brincar se situa
exatamente no espaço intermediário entre essas duas
esferas, e, nessa medida, acaba tecendo vínculos entre
a subjetividade e a objetividade.
Quem não já visualizou, nos desenhos infantis, os personagens
principais da sua vida – pai, mãe e irmãos – retratados de forma simples,
muitas vezes usando apenas traços, linhas, os quais identificamos a
figura paterna sendo o traço maior, a mãe o traço mediano e assim
sucessivamente, formando a escala familiar da criança, que para ela
aquela imagem está carregada de sentido?

É bem possível que você quando criança, brincando de ser outra


pessoa, já tenha usado os saltos altos de sua mãe, ou aquele vestido ou
camisa, e saído pela casa imitando-a, brincadeiras próprias da idade,
mas que auxiliam no crescimento cognitivo.

No Maranhão, as crianças já “nascem sabendo” dançar e cantar as


toadas do Bumba meu boi, assim como em alguns estados do país:
Pernambuco - o frevo; Ceará - forró; Pará - o carimbó etc., mostrando
que a arte do povo também contribui para o desenvolvimento
individual e coletivo dos educandos.

A educação em Arte propicia a evolução do pensamento artístico e


estético; através da Arte, o aluno apropria-se de um mundo imaginário,
busca compreender/aproximar a realidade, contribuindo para um
maior entendimento histórico e social.

Nessa relação entre a Arte e a Educação, todas as linguagens artísticas:


Teatro, Música, Dança e Artes visuais devem caminhar juntas para
que a criança possa se desenvolver com plenitude, sendo o palco da
escola o local propício, mas não único, para educar com arte, e os
educadores, os personagens principais dessa ação, que é também
coletiva, compreendendo que o processo de avaliação no ensino da
Arte faz parte do contexto das atividades escolares, e que Arte é um
conhecimento capaz de ser ensinado e apreendido.
unidade

1
OBJETIVOS DESTA UNIDADE

Contextualizar as
transformações ocorridas
nas linguagens artísticas
– Artes Visuais, Teatro e
Música;
Analisar os movimentos
de maior impacto no
A ARTE E SEUS CONCEITOS desenvolvimento artístico
humano;
Explicar as evoluções
ocorridas em cada
Para melhor compreensão sobre a arte e sua história é necessário
movimento artístico.
que, primeiramente, tenhamos um conceito formado. Observe as
imagens abaixo e responda: Em sua opinião qual delas é Arte? Ou
qual delas você colocaria para decorar sua casa?

Figura 1 - Mona Lisa Figura 2 - Mictório

Fonte: http://peregrinacultural.files. Fonte: http://dusinfernus.files.wordpress.


wordpress.com/2010/01/mona-lisa.jpg com/2008/11/marcel-duchamp.jpg
A primeira é a Obra de Leonardo da Vinci – Mona Lisa. Produzida
entre 1503 e 1506, sobre ela existe muito mistério em relação às
técnicas utilizadas na sua elaboração e principalmente referente a seu
olhar enigmático e seu sorriso.

A segunda é a escultura de um mictório do francês Marcel Duchamp,


exibida num salão artístico em 1917, chamada de Fonte. A reação
do público ao ver um sanitário masculino em um lugar reservado
especificamente à arte foi de muito espanto. Certamente, você teve a
mesma reação. Entretanto, a intenção do artista era realmente chocar os
visitantes do museu ao depararem com um objeto tão comum, sendo
apresentado como arte, deixando todos intrigados, pois, nessa época,
as pessoas só reconheciam como arte telas produzidas nos moldes do
Academicismo, com traços perfeitos e linhas bem definidas. Duchamp
buscou através de sua exposição dar um sentido simbólico aos objetos
do uso cotidiano, até então desprovidos de qualquer conotação estética.

Mas, o que é Arte?

Dar um significado preciso a essa pergunta é algo difícil e, muitas


vezes, impossível. Sabemos que a Arte existe desde os primórdios da
vida com os homens primitivos, quando os mesmos não possuíam
a linguagem verbal desenvolvida, mas já se comunicavam através
de desenhos gravados nas paredes das cavernas, como forma de
comunicação e do fazer artístico.

Várias são as definições em busca de um significado. No dicionário


Aurélio encontramos formas diferenciadas de se explicar a verdadeira
natureza da arte: “A arte é a capacidade criadora do artista de expressar
ou transmitir tais sensações ou sentimentos”.

Segundo Coll (200, p. 16), a Arte é uma:

“Arte, atividade que requer aprendizagem. Pode


limitar-se à simples habilidade técnica ou ampliar ao
pondo de englobar a expressão de uma determinada
visão do mundo. O termo arte deriva do latim ars, que
significa habilidade na realização de ações especiali-
zadas, como a arte da jardinagem ou de jogar xadrez.
Entretanto, em sentido amplo, o conceito faz referên-
cia tanto a habilidade técnica como ao talento criativo.
A arte proporciona experiências, estéticas, emocionais
e intelectuais”.

16 PEDAGOGIA
O Francês Etienne Gilson, em seu livro Introdução das Artes Belas, diz:
“Não se pode ler uma história da filosofia da arte sem sentir um desejo
irresistível de ir fazer outra coisa”, justamente por serem tantas e tão
distintas as concepções em relação às artes.

Sobre Arte, Cali (1998, p. 8) esclarece que: “o importante é termos


em mente que o estatuto da arte não parte de uma definição abstrata,
lógica ou teórica do conceito, mas de atribuições feitas por instrumentos
de nossa cultura, dignificando os objetos sobre os quais ela recai.”

É evidente que a Arte não está apenas nas telas de Picasso, Magritte ou
Tarsila do Amaral, mas que ela existe além das Artes visuais e plásticas,
na música, na dança, no teatro, na televisão, no cinema, entre tantas
outras manifestações artísticas e culturais, as quais estamos em contato
cotidianamente.

O Estado do Maranhão durante as festas juninas transforma-se num


grande palco a céu aberto, apresentando sua diversidade artística e
cultural, como por exemplo: nas apresentações do Bumba meu boi;
na dança do cacuriá; na dança portuguesa etc., demonstrando o
que Mário de Andrade dizia: “arte não é um elemento vital, mas um
elemento da vida”. Percebe-se então, que a arte não é necessária como
a comida, que estimula o corpo a funcionar, mas ajuda a dar subsídios
para que a mente funcione.

A partir dessas definições e observações em relação à arte e suas Ernest Fischer dizia que a
Arte é necessária para que
diversas formas de se manifestar, será que você já consegue ter seu o homem se torne capaz de
conhecer e mudar o mundo.
próprio conceito? “Mas, a arte também é
necessária em virtude da
magia que lhe é inerente”.

Percurso Histórico das Linguagens Artísticas

A Arte na Educação é vista como conhecimento e linguagem.


Linguagem, porque a língua se organiza por meio de um sistema
simbólico de representação. Os signos da linguagem oral/escrita são,
por exemplo: a, b, c..., vírgula, interrogação, ponto final etc. Com eles
formamos palavras, versos, textos plenos de significados, de maneira
que qualquer pessoa alfabetizada é capaz de compreender.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 17


Já nas artes visuais os signos se modificam e tornam-se linhas,
pontos, texturas, planos, volumes, luzes, sombras..., que, organizados
pelo artista, também se transformarão em “textos” visuais plenos de
significados.

Quando alguém se emociona e pensa sobre o mundo e transforma


poeticamente esse pensar em pintura, escultura, música, fotografia,
dança... ele está fazendo arte.

Por meio das artes, temos acesso ao pensamento e aos sentimentos


de toda a humanidade, pois, em todas as civilizações, povos, países
e culturas, o ser humano produziu e vem produzindo obras de
arte: desenhos, esculturas, fotografias, entre outros. Por isso, a arte
é conhecimento porque é capaz de ser ensinada e aprendida. Para
Andrés (2000, p. 15):

A arte do passado, guardada em museus ou preser-


vada nos monumentos públicos, mostra-nos a história
do mundo em suas buscas e inquietações. A luta do
homem para sobreviver, transformar-se e ao evoluir é
revelada em suas obras de arte.

Nosso percurso pela História da Arte não se prenderá a datas e fatos


históricos, mas observaremos alguns movimentos artísticos de grande
importância para melhor entendermos as evoluções ocorridas durante
os séculos na história da arte.

Os caminhos das Artes Visuais

“Acima de tudo, precisamos ter presente que se não


conseguimos, de vez, dar o pulo do gato – bem, que
se continue andando ainda um pouco, pois não é pec-
ado caminhar”. (Maria Helena Martins)

Ao caminharmos pelos movimentos artísticos das artes visuais,


conheceremos obras de arte de grandes artistas e que fazem parte
da história da Arte, pois, para que se trabalhe bem o ensino da arte
na escola é necessário que o professor seja um conhecedor desse
“mundo”, que tenha prazer em passear pelos destinos artísticos de

18 PEDAGOGIA
cada tela, somente assim será capaz de despertar no aluno o gosto
pela arte.

Vamos, então, começar nossa caminhada, prepare-se e um excelente


passeio.

Arte Rupestre

As primeiras manifestações artísticas que se tem conhecimento, Figura 3 - Pintura na caverna


de Lascaux, França - Cavalo
ocorreram na pré-história e são chamadas de Arte Rupestre, por terem
se desenvolvido, exclusivamente, nas paredes de pedras no interior
das cavernas, cerca de 15.000 anos atrás.

Aprender a desenhar, por exemplo, exige que se domine técnicas,


formas de manipular os materiais e instrumentos, modos de representar Fonte: http://usuarios.multimania.es/
clasesvirtuales/image-cavernas.jpg
a realidade.

Você deve estar se perguntando como os homens das cavernas


produziam seus desenhos, já que para isso requer tanta técnica.

Tudo surge da necessidade. Já que eles não possuíam a linguagem


verbal desenvolvida, precisaram criar uma maneira de se comunicar,
e o faziam através dos desenhos gravados nas paredes das cavernas.

Mas, será que você está se perguntando como faziam as tintas?


Segundo Strickland (1999, p. 4):

Na criação dessas imagens, os artistas das cavernas


usavam carvão para delinear as irregularidades na
rocha que se assemelhavam a formas encontradas na
natureza. O volume era dado pelas saliências, enquan-
to as tonalidades terrosas emprestavam contorno e
perspectiva. As ‘tintas’ utilizadas eram torrões de ocra
vermelha e amarela esfarelada, até virar pó e aplicada
à superfície com pincel ou soprada através de osso
oco. Os desenhos eram superpostos aleatoriamente,
talvez atendendo a necessidade de novas imagens an-
tes de cada caçada. Essas imagens – sempre figuras de
animais – são representadas de perfil bidimensional
e parecem flutuar no espaço, sem qualquer represen-
tação do ambiente.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 19


A Arte Rupestre é realista, naturalista, e possui um sentido místico-
religioso, pois os homens das cavernas, segundo o que os arqueólogos
especulam, criavam figuras de animais e em seguida atiravam flechas
nas imagens, como forma de facilitar e obter uma boa caça, como
podemos observar na imagem anterior.

No Brasil, a Arte Rupestre localiza-se em extensas áreas de nosso


território, sendo que os achados mais antigos têm cerca de 20000
anos. As regiões Norte e Nordeste possuem um grande número de
inscrições, embora nas demais regiões também apareçam algum tipo
de manifestações. Os principais locais são: São Raimundo Nonato, no
Piauí, Pedra Lavrada do Ingá na Paraíba, entre outras.

Figura 4 - Arte rupestre Observa e a seguir uma dessas imagens rupestres existentes em São
Raimundo Nonato.

Talvez, tenhamos herdado dos homens primitivos a mania de


desenhar, ou escrever nas paredes das nossas casas. Vejamos o texto
a seguir:
Fonte: http://www.suapesquisa.
com/artesliteratura/arterupestre/ Meu avô
arte_rupestre2.jpg

“Todo acontecimento da cidade, da casa, da casa dos vizinhos, meu


avô escrevia nas paredes. Quem casou, morreu, fugiu, caiu, matou,
traiu, comprou, juntos, chegou, partiu. Coisas simples, como a agulha
Pintura Rupestre: Esta figura perdida no buraco do assoalho, ele escrevia. Eu também desenhava
foi localizada Parque Nacional
da Serra da Capivara em São tesouras desaparecidas, serrotes sem dentes, facas perdidas. E a casa,
Raimundo Nonato - Piauí
(Toca do Boqueirão da Pedra de corredor comprido, ia ficando bordada, estampada de cima a baixo.
Furada)
As paredes eram o caderno do meu avô. Cada quarto, cada sala, dada
cômodo, uma página.” (BARTOLOMEU, 1995, p.?).

Você já observou que a criança quando começa a rabiscar, o que local


Figura 5 - Mão em
negativo: SRICKLAND, onde ela primeiro faz seus desenhos é nas paredes de sua casa? Mesmo
Carol. assim, vimos no texto Meu avô que, possivelmente, esse desejo tenha
sido adquirido advindo dos nossos ancestrais.

Outra técnica utilizada era a mão em negativo. Veja a imagem.

Os artistas dessa época utilizavam essa técnica. Após retirar das rochas
um pó colorido, eles o sopravam através de um canudo, ao redor de
Fonte: http://dc274.4shared.com/
doc/usFNS3Dx/preview.html
sua mão, que estava pousada na parede da caverna. A região em

20 PEDAGOGIA
volta da mão ficava colorida e a parte coberta pela mão não ficava
pintada. Obtinha-se dessa forma o desenho da mão, como um filme
em negativo.

Arte Egípcia: uma Arte dedicada à morte

O Egito é o país das tumbas e dos templos. Os antigos egípcios


desejavam de qualquer maneira ressuscitar depois da morte, em
um Além que não é mais do que um reflexo da vida na Terra. Por
isso, deram tanta atenção ao culto de seus defuntos como ao de seus
deuses. De fato, os faraós possuíram magníficos palácios. E os grandes
dignitários habitaram em esplendidas mansões. Mas seu maior afã,
ao que dedicaram quase todos os seus recursos, foi elevar custosas
e monumentais tumbas proporcionais às suas numerosas divindades
uma suntuosa moradia, proporcionais com sua linhagem. Além
disso, suas ideias religiosas marcaram de forma tão definitiva a sua
concepção da vida, que grande parte de suas manifestações artísticas
se encaminham a obter o triunfo sobre a morte.

Além de crer em deuses que poderiam interferir na


história da humanidade, os egípcios acreditavam tam-
bém numa vida após a morte e achavam que essa
vida era mais importante do que a que viviam no
presente. Inevitavelmente, a arte criada por esse povo
refletiu suas crenças fundamentais. É por isso também
que a arquitetura egípcia se realizou, sobretudo, nas
construções mortuárias. (SANTOS, 2004, p.17).

As pirâmides eram gigantescas tumbas, cujo sepulcro era colocado


dentro ou embaixo da construção e que proclamava a fusão do faraó
com o símbolo místico do sol.

Cada uma das pirâmides forma parte de um conjunto de edifícios. Em


primeiro lugar, dentro da própria pirâmide, havia um templo funerário
que servia de sede do culto real e lugar de oferendas ao espírito (ka)
do faraó. Uma calçada coberta unia o templo funerário com o templo
do vale, o lugar no qual eram realizados os processos de mumificação
do cadáver.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 21


De acordo com Strickland (1999, p. 10), o processo de mumificação
era feito da seguinte forma:

Os egípcios acreditavam que o ka, ou força vital, era


imortal. Com o objetivo de fornecer um receptáculo
durável para o espírito, aperfeiçoaram o processo de
embalsamamento. A preservação do corpo começava
com a extração do cérebro do falecido através das na-
rinas com um gancho de metal. As vísceras – fígado,
pulmões, estômago e intestinos - eram removidas e
preservadas em urnas separadas. O que restava fica-
va imerso em salmoura durante um mês, e depois o
cadáver em conserva era literalmente estendido para
secar. O cadáver, enrugado, era então recheado – os
seios das mulheres eram estofados -, envolto em vári-
as camadas de ataduras, e finalmente confinado num
caixão e num sarcófago de pedra. Na verdade, o clima
seco do Egito e a ausência de bactérias nas areias e no
ar, provavelmente, contribuíram para a preservação
do corpo.

Os egípcios acreditavam, firmemente, na imortalidade e num universo


regido e ordenado pelos deuses e faraós. Para que o morto pudesse
viver no outro mundo, era imprescindível que seu corpo, morada de
seu ka ou espírito, se conservasse incorrupto, por isso a mumificação,
ou em sua falta, encontrar-lhe um substituto. Além disso, o defunto
necessitava de alimento, bebida, roupa, ferramentas, adornos,
perfumes. Por outro lado, era necessário manter a ordem e o equilíbrio
do cosmo com a ajuda dos deuses, que graças à intercessão do faraó
também outorgavam paz e abundância neste mundo.

Ou seja, a morada do faraó após a morte, eram as pirâmides que eram


ornadas com muito ouro, pedras preciosas, esculturas, pinturas, para
que o mesmo tivesse uma vida farta.

Figura 6 - Pirâmide de Gizé

Fonte: http://hypescience.com/tumba-de-4-500-
anos-e-descoberta-no-egito/

22 PEDAGOGIA
A mais importante entre o grupo de 60 pirâmides existente no Egito,
são as três pirâmides de Gizé na qual, apresentam características
monumentais:

1 Foram construídas há aproximadamente 4500 anos, que serviram


de tumbas para os faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos;

2 A maior pirâmide é a do faraó Quéops com 147 metros de altura,


sendo conhecida como a grande pirâmide;

3 Toda sua extensão é feita com pedra calcária;

4 Acredita-se que mais de 100 mil homens, na maioria escravos,


foram utilizados para a construção da pirâmide de Quéops, na
qual, levou aproximadamente 30 anos para ser concluída;

5 No interior das pirâmides, eram colocados o sarcófago do faraó,


com suas riquezas;

6 Para evitar que os pertences do faraó fossem saqueados, eram


instaladas várias armadilhas;

7 É uma das sete maravilhas do mundo antigo e considerado


Patrimônio Mundial da Unesco.

Figura 7 - Máscara em ouro maciço do faraó Tutancâmon

Fonte: http://desportoviajar.files.wordpress.com/2013/04/tuthankhamun_egyptian_
museum.jpg

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 23


Toda a história da arte egípcia é envolvida em muitos mistérios e
segredos, na descoberta da tumba do faraó Tutancâmon, tumba esta
que foi encontrada em condições próximas às originais. Em 1922, o
arqueólogo Howard Carter, literalmente bateu os olhos na tumba, ao
acender um fósforo enxergou o brilho do ouro em toda parte. Nessa
descoberta mais de vinte pessoas envolvidas na abertura da tumba
morreram em circunstâncias misteriosas, dando margem a histórias
sinistras sobre a “maldição do faraó”.

Arte Gótica

Como Gótico, denominamos a arte surgida segundo determinados sistemas


construtivos e de representações, entre os séculos XII ao XVI na França.
Obviamente, tudo o que foi produzido durante este período não forma um
todo homogêneo e unitário. Ao longo desses quatro séculos, foram muitas
as tendências desenvolvidas na arquitetura e nas artes figurativas.

A arte gótica é filha de uma nova sociedade na qual a cidade começa


a desenvolver um papel principal, a economia experimenta uma nova
fase que senta as bases da falência do feudalismo, o poder real que entra
em luta com a nobreza assume um novo papel nas empresas
Figura 8 - Catedral de Notre-Dame
artística dos reis, a religiosidade adquire outros papeis e a obra
de arte cumpre novas funções.

O gótico mostra um novo interesse pela realidade, pela


natureza, que, porém, não chega a romper a ligação entre estas
e o religioso, chegando assim a um equilíbrio entre o sagrado e
o profano.

No estilo gótico eram retratados nas obras a fé, o amor e o


entusiasmo. O rei Luís IX estabeleceu a ordem política e houve
um período de paz, que se refletiu na arte.

Os templos foram erguidos com bastante rapidez, ocorreu


nesse período à construção da catedral de Notre-Dame (Nossa
Senhora) em Paris, sendo um dos mais belos exemplos desse
Fonte: http://upload.wikimedia.org/
wikipedia/commons/6/66/Facade_de_la_
momento. O prédio mede 150 metros de comprimento e suas
Cath%C3%A9drale_de_Reims_-_Parvis.jpg abóbadas principais medem 32 metros e meio.

24 PEDAGOGIA
A arquitetura gótica foi fruto de uma nova sensibilidade que encontrou
linguagem expressiva na verticalidade e no naturalismo. Todos esses
elementos eram voltados ao simbolismo teológico. A intenção das
construções góticas era dar ao visitante a ideia de estar num espaço
que subia próximo de Deus, chegando ao céu.

Será que você conhece alguma construção no estilo gótico? Será


que no seu Estado encontra-se alguma obra arquitetônica com as
características góticas?

Observe a imagem a seguir.

Figura 9 - Igreja Nossa Senhora dos Remédios

Fonte: http://www.panoramio.com/photo/14291339

O estilo gótico também está presente na Capital de São Luís, Maranhão,


na Igreja Nossa Senhora dos Remédios, construída no ano de 1719.
Conta a história que, no início, era apenas uma pequena capela,
mas pouco tempo depois, 1775, a igreja foi melhorada. Destruída
pelo tempo, sua reedificação foi feita pelo ermitão Francisco Xavier,
por volta do ano de 1798. Os comerciantes da época eram quem
mantinham a igreja conservada devido à fé que tinham na protetora,
Senhora dos Remédios. Até hoje a igreja se mantém como uma das
mais bonitas e conservadas de nossa capital, acolhendo em seu altar,
a imagem de Nossa Senhora dos Remédios. A igreja está localizada na
Praça Gonçalves Dias no centro da cidade.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 25


O mundo da arte é sempre assim, costumamos imaginar que as grandes
produções artísticas não se encontram próximas do nosso cotidiano,
mas como vimos na capital do nosso estado encontramos uma obra
arquitetônica tão sinuosa quanto às produzidas na França. Mas, é
preciso conhecer mais sobre a arte para que possamos identificar as
obras que nos rodeiam e que nem mesmo sabemos.

Outro ponto marcante da arte gótica são os vitrais, pois fazem parte do
universo de metáforas estabelecidas, do brilho e da luz existente nas
igrejas góticas.

As paredes se afinam e dão lugar a amplas janelas, com vidros pintados,


em sua maioria. Os vitrais eram construídos por artesões especiais
que, seguindo um desenho preparatório, cortavam e coloriam como
se fosse um mosaico.

Figura 10 - Vitral gótico

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6d/Cathedral-
chartres-2006_stained-glass-window_detail_01.jpeg

Assim, o interior das igrejas era ornamentado por cores vivas nos vitrais
que valorizavam a estrutura arquitetônica. De acordo com Santos
(2004, p. 68) observa-se que:

Um vitral era feito em várias etapas. A primeira era


colorir o vidro. Isto era feito adicionando-se diversos
produtos químicos ao vidro derretido e ainda na for-
nalha. Assim, ele ficava colorido e translúcido. De-
pois, tratava-se de fazer as placas de vidro. Para isso,
o método mais utilizado era o que produzia um tipo

26 PEDAGOGIA
de vidro chamado antique. O artesão acumulava uma
pequena quantidade de vidro fundido na extremidade
de um tubo e imediatamente começava a soprar,
até formar uma bolha de vidro de forma cilíndrica.
A seguir, cortava suas duas extremidades, como se
tirasse uma tampa de cada lado, obtendo assim um
cilindro oco. Depois cortava esse cilindro ainda quente
em sentido longitudinal e o achatava, até conseguir
uma placa. Cada placa, depois de resfriada, era re-
cortada com uma ponta de diamante, segundo o de-
senho previamente determinado para o vital. Depois,
todas essas pequenas placas eram encaixadas umas
às outras por uma moldura metálica que juntas for-
mavam grandes composições, que eram colocadas na
abertura das paredes das catedrais.

Figura 11 - Vitral da igreja do Caraça

Fonte: http://www.panoramio.com/photo/24960056

Os vitrais são um dos mais marcantes elementos decorativos que


aparecem nas igrejas góticas, que formavam imensas e coloridas
janelas que, muitas vezes, apresentavam desenhos geométricos ou
representavam um santo ou uma passagem do texto bíblico. Sobre
esse aspecto, ainda vale ressaltar que os vitrais permitiam a elaboração
de um vibrante jogo de luzes constituído a partir da combinação de
peças de vidro das mais variadas cores.

O requinte, a complexidade e os vários materiais que envolviam a


fabricação de um vitral nos mostram a consolidação de um novo ideal
estético marcado pela luminosidade e a variação de tons presentes na
arte gótica.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 27


Arte Renascentista

No século XV o conceito realista que dominou a Europa tomou em


Florença uma forma concreta e diferente. A natureza, sendo obra de
Deus, deve ser estudada pela mente humana, que é capaz de descobrir
e dominar suas leis ocultas.

O homem desse período torna-se o centro do universo e o mundo


mede-se por sua escala. A inteligência é a primeira de suas qualidades
e em muitos casos substitui a fé. Colocado nesta conjuntura, o homem
focaliza o estudo do que o rodeia com sua inteligência e reduz o
Universo a uma série de fenômenos que pode explicar e classificar.

Esse período fértil foi onde os extraordinários Leonardo Da Vinci,


Michelangelo e Rafael criaram pinturas, afrescos, esculturas, com
absoluto domínio das técnicas, descobrindo as proporções ideais e a
perspectiva.

Leonardo Da Vinci, arquiteto, pintor e engenheiro, representa a


personalidade perfeita do humanista de vasta e profunda capacidade
científica. Com a inquietude própria do investigador, preocupa-se com
a busca de novas técnicas, como na sua magnífica obra “A Última
Ceia” na qual obtém a sensação do imaterial.

Figuara 12 – A Última Ceia

Fonte:http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2012/03/santa-ceia.jpg

28 PEDAGOGIA
Se a “Mona Lisa” é o retrato mais famoso, seu afresco
“A Última Ceia” é a pintura religiosa mais venerada
há cinco séculos. Leonardo dizia que o artista tinha
dois objetivos: pintar o homem e a intenção de sua
alma. Aqui ele revolucionou a arte ao captar am-
bos, principalmente o que ia na alma de cada figura.
Leonardo imortalizou o momento dramático em que
Cristo anunciou que um de seus discípulos iria trai-
lo e a reação emocional de cada um ao perguntar:
“Senhor, serei eu?” Através de uma gama de gestos e
expressões Leonardo revelou pela primeira vez na arte
o caráter fundamental e o estado psicológico de cada
apóstolo (STRICKLAND, 1999, p. 35).

O termo “homem da renascença” veio a significar um indivíduo de


talentos múltiplos, que irradiava saber. Da Vinci foi universalmente
admirado por sua bela aparência, seu intelecto e seu charme. Como se
não bastasse, ele cantava divinamente e sua encantadora conversação
conquistava todos os corações.

Menos de vinte trabalhos de Leonardo da Vinci sobreviveram. Morreu


aos 75 anos, na França, aonde foi chamado para conversar com o
rei Francisco I. Em seu leito de morte, Leonardo admitiu que “tinha
ofendido a Deus e a humanidade por não desenvolver sua arte como
devia”.

Na escultura renascentista, desempenham um papel decisivo o estudo das


proporções antigas e a inclusão da perspectiva geométrica. As figuras, até
então relegadas ao plano de meros elementos decorativos da arquitetura,
vão adquirindo pouco a pouco total independência. Já desvinculadas
da parede, são colocadas em um nicho, para finalmente Figura 13 - “Davi” - Michelangelo
mostrarem-se livres, apoiadas numa base que permite sua
observação de todos os ângulos possíveis.

O estudo das posturas corporais traz como resultado


esculturas que se sustentam sobre as próprias pernas,
num equilíbrio perfeito, graças à posição do compasso
(ambas abertas) ou do contraposto (uma perna na frente
e a outra, ligeiramente para trás). As vestes reduzem-
se à expressão mínima, e suas pregas são utilizadas
apenas para acentuar o dinamismo, revelando uma
figura humana de músculos levemente torneados e de
Fonte: http://cartasdapalavra.blogspot.
proporções perfeitas. com.br/2010_06_01_archive.html

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 29


Arte Colonial: Barroco

O termo Barroco designa as manifestações artísticas da Europa durante


o século XVII e a primeira metade do século XVIII. Porém não é só
um movimento artístico. O Barroco é todo um sistema ideológico e
cultural, coerente, que faz uso de diferentes soluções estéticas e formais
com um claro predomínio das sensações e do movimento.

Foi na Itália, sob a dominação espanhola que surgiu o barroco, do


espanhol barrueco.

A arte barroca exprime uma tendência geral de linha curva e quebrada,


de abundância de detalhes e de visões cenográficas de grande efeito.
Em sentido figurado, diz-se de todas as formas muito extravagantes e
excessivamente trabalhadas.

No barroco, é básica a representação realista do homem e da natureza,


a afirmação das emoções, a fusão das artes.

Todo o rebuscamento presente na arte barroca é reflexo dos conflitos


dualistas entre o terreno e o celestial, o homem (antropocentrismo) e
Deus (teocentrismo), o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e
o paganismo presente no período renascentista.

Dotado de uma extraordinária riqueza de símbolos, conforma uma


cultura cujas chaves devemos conhecer para poder entendê-la. Embora
seja considerada a arte a serviço da igreja católica, o certo é que é a
arte de uma época, tanto de protestantes como de católicos.

O barroco teve muita força na arquitetura e na escultura, mas ganhou


força também na pintura e em outros setores artísticos, como na
literatura.

O estilo barroco desenvolveu-se em vários países e em cada


localidade grandes artistas vão surgindo e enriquecendo em detalhes e
grandiosidade esse movimento.

Na Itália, podemos destacar grandes pintores como: Cavaggio,


Tintoretto e Andrea Del Pozzo.

30 PEDAGOGIA
Na Bélgica, surgem grandes nomes da pintura tais como: Peter Paul
Rubens e Antton Van Dyck.

Na Holanda, predonimam as obras feitas em cavalete, de pequeno


formato, pelos quais os ricos burgueses pagavam altos preços. Nesse
período surgem nomes como Rembrandt e Jan Vermeer.

Dentre os pintores espanhóis destacamos: Diego Velázques e Murillo.


Sendo Velázques o mais célebre pintor da corte. Sua pintura era
essencialmente espontânea e dela brotava uma essência de realismo
mágico. Soube trabalhar muito bem as luzes. Com suas técnicas
cromáticas, ele deu início também ao impressionismo.

Sua principal obra foi “As meninas”, que destacamos a seguir:

Figura 14 – As meninas

Fonte: http://galeriadefotos.universia.com.
br/uploads/2012_01_20_15_44_431.jpg

Essa obra foi eleita “o maior quadro do mundo”, por uma considerável
margem de votos. O quadro representa um retrato da princesa Margarita
aos cinco anos de idade, atendida pelas damas de honra e duas anãs,
mas, reunindo diversos retratos adicionais, e com um grupo apontando
para o tema: “Visitantes no estúdio do artista”. No plano central, há um
reflexo em miniatura do rei e da rainha no espelho e, nos degraus ao
fundo, um retrato de corpo inteiro de um membro da corte.

Nas obras barrocas, tanto na escultura, na arquitetura quanto na pintura,


à riqueza de detalhes é o que mais chama a atenção do espectador,
demonstrando o quanto os artistas desse movimento trabalhavam
para chegar a um nível tal de perfeição, a ponto de tornar as obras em
verdadeiras obras de arte.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 31


Barroco brasileiro

O descobrimento de importantes caminhos de ouro no sul do Brasil


nos finais do século XVII trouxe consigo uma eclosão arquitetônica de
características barrocas; a partir da descoberta do ouro, a região de
Minas Gerais converteu-se na mais rica da colônia.

De 1550 a 1700, o estilo de arte predominante na Europa era o


Barroco.

Os artistas barrocos pretendiam despertar emoções do observador e


envolvê-lo com o trabalho de arte. Para isso utilizavam ornatos e curvas
que davam a sensação de movimento e empregavam fortes contrastes
de claro e escuro nas representações dos sentimentos dramáticos das
figuras. Por exemplo, estátuas de Cristo tinham as faces contorcidas
e feridas abertas para figurar a dor; os interiores das igrejas eram
recobertos de detalhes dourados.

Figuara 15 – Cristo carregando a Cruz – Aleijadinho

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/95/Aleijadinho_01.jpg

O barroco no Brasil atingiu seu apogeu entre 1763 e 1822. Nessa


época, a Europa já tinha abandonado o barroco e cultivava novos
estilos.

32 PEDAGOGIA
No entanto, o barroco brasileiro apresenta-se menos rebuscado
e mais sóbrio. Desenvolvido desde cedo por mão de obra negra e,
principalmente, mulata, ficou mais próxima do povo.

Observando atentamente as várias vertentes em que se disseminou


o barroco pelo país, ver-se-á que a rigor podem ser resumidamente,
duas apenas. O Barroco litorâneo, de Pernambuco, Bahia e Rio de
Janeiro e os barroco interiorano, que é, principalmente, o de minas
Gerais, protegido por suas montanhas.

No litoral, o Barroco trazido da Europa manteve-se menos independente,


mais atado à metrópole. No interior, o estilo viu-se obrigado pelas
circunstâncias a adotar soluções próprias, tornando-se mais originais.
Por isso, muitos estudiosos costumam ver na arte mineira a expressão
mais brasileira do Barroco no Brasil, enquanto a arte da Bahia, por
exemplo, conserva-se bem mais portuguesa. Há ainda, outra distinção
fundamental entre o Barroco mineiro e o baiano: este último reflete o
gosto de uma sociedade rural aristocrática, sendo, por conseguinte,
mais requisitado; enquanto aquele nasce numa sociedade urbana e
ideologicamente burguesa, enriquecida a dura penas na mineração e
avessa a ostentações.

Aleijadinho – o escultor Barroco brasileiro

Além de extraordinário arquiteto e decorador de igrejas, Aleijadinho


foi também incomparável escultor. Existem inúmeras esculturas suas
nos museus e igrejas, principalmente, em Ouro Preto. Mas é a cidade
de Congonhas do Campo que abriga o mais importante conjunto
escultórico do artista. O santuário Bom Jesus de Matosinhos, é
constituído por uma igreja e cujo adro está às esculturas em pedra-
sabão de doze profetas: Isaías, Jeremias, Joel, Jonas, Daniel, entre
outros, na qual, cada um desses personagens está numa posição
diferente e executam gestos que se coordenam; Aleijadinho conseguiu
um resultado onde o observador acredita que as figuras estão se
movimentando.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 33


Figura 16 - Sanctuary of Bom Jesus do Congonhas

Da esquerda para direita:


Amós, Abdias, Jonas, Baruc,
Isaias, Daniel, Jeremias,
Oséias, Ezequiel, Joel,
Habacuc e Naum

Fonte: http://files.f5place.webnode.com/200000282-0319e050dc/Profetas-do-
Mestre-Aleijadinho-Congonhas.jpg

Figura 17 - Profeta Daniel (Adro da Basílica de Congonhas), 1800 - 1805

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_(profeta)

Figura 18 - Profeta Baruc (Adro da Basílica de Congonhas), 1800 - 1805

Fonte: http://www.panoramio.com/photo/45436164

34 PEDAGOGIA
Figura 19 - Profeta Oséias (Adro da Basílica de Congonhas), 1800 - 1805

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Santu%C3%A1rio_do_Bom_Jesus_de_Matosinhos

Na cidade de São José de Ribamar, na região metropolitana de São


Luís - MA, encontramos algo muito próximo ao que foi produzido por
Aleijadinho, não se trata de uma obra Barroca, mas são representações
da religiosidade de um povo.

Figura 20 - Obra barroca

Fonte: http://www.mochileiros.com/upload/galeria/fotos/20110428145420.jpg

Essas esculturas gigantes encontram-se na praça da igreja Matriz da


cidade e representam as imagens de São José, Nossa Senhora e o
Menino Jesus. Vale a pena conhecer.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 35


Arte Impressionista
[...] Ah, se domingo você estivesse conosco! Vimos
uma plantação de uvas – vermelhas como vinho tinto.
Ao longe, a plantação se tornava amarela – e a seguir,
havia um céu verde e o sol. No terreno, após a chuva,
violetas e amarelos cintilavam aqui e ali, onde se refle-
tia o por do sol (VAN GOGH – Cartas a Theo).

O Movimento Impressionista representou o último esforço renovador


da pintura antes da arte moderna; teve por base a interpretação, não
dos objetos da natureza, mas da luz que os envolve.

Figura 21 - Dança de Renoir em Bougival

Fonte: http://fulanasebeltranas.zip.net/

36 PEDAGOGIA
Os impressionistas levaram a arte ao contato com a
vivência do momento. A arte passou a ser o diálogo
do artista consigo mesmo, com seu universo interior,
povoado de sombras e luz, agressividade e lirismo, vi-
olência e paz. A natureza servia-lhe de pretexto para
este encontro com a realidade interna. Por meio de
cores puras e formas espontâneas, o artista buscava
comunicar aquilo que a palavra não podia exprimir,
a vida que ocultava por detrás das aparências (AN-
DRÉS, 2000, p. 32).

Experimente fechar os olhos por um instante. O que você


consegue identificar? No escuro tudo desaparece, tudo se
dissolve. Sem luz, não há sombras nem cores, não há formas
nem volume.

O pintor Van Gogh era apaixonado pela luz. No trecho da carta acima, Como pensar, sonhar,
expressar-se, comunicar-se
ao irmão Theo, ele mostra como as luzes fazem cores e criam imagens sem imagens? Isso seria
possível? Imagine como seria.
cheias de significações que falam ao sentimento e ao pensamento
humano.

Todas as imagens só existem porque existe a luz; os impressionistas


estudaram a luz como fenômeno físico e chegaram à conclusão de
que, conforme a recebem, variam os objetos percebidos pelos olhos
humanos. Observe o que Andrés (2000, p. 18) esclarece:

Os impressionistas queriam trabalhar com autenti-


cidade, protestando contra as imposições estéticas
do Academicismo. Voltaram-se para a natureza,
trabalhando em plena luz solar. Buscavam captar o
instantâneo. Não se preocupavam em criar quadros
agradáveis à vista, mas obras sinceras. Libertaram
cor, forma, composição, espaços tradicionais, pro-
curando comunicar vivências momentâneas da reali-
dade exterior.

Para demonstrar as mudanças ocorridas nas obras dos impressionistas


a partir das modificações da luz existente no espaço, apresentamos a
obra de Monet, na qual ele retrata o mesmo cenário variando apenas
o momento do dia e a estação do ano em que foi pintado.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 37


Figura 22 - Montes de feno: fim do dia, outono

Fonte: CUMMING, Robert, 1996

Figura 23 - Montes de feno: fim do verão, tarde

Fonte: CUMMING, Robert, 1996

Os artistas ipressionistas tinham como principal preocupação os efeitos


da luz e a constante variação dos resultados causados por ela nos objetos
e paisagens representados em suas pinturas. Essa preocupação levou-
os a analisar a cor no próprio local de origem, isto é, foram pintar ao
ar livre, fora dos locais reservados para o trabalho do artista (ateliês).
Destacamos o que Strickland (1999, p.96) esclarece sobre a luz:

Para cumprir o desfio de retratar essas qualidades vo-


láteis (inconstantes) da luz, os impressionistas criaram
uma pincelada distinta, curta, cortada. Aqueles pon-
tos, visivelmente, coloridos formavam um mosaico de
borrões irregulares que vibravam de energia como o
pulso da vida no brilho da luz sobre a água. De per-
to, os borrões de cor pura dos impressionistas, lada
a lada, tinham aparência inteligível, provocando nos
críticos a acusação de que disparavam tinta na tela
com uma pistola. A distância, porém, o olho fundia
listas separada de azul e amarelo, por exemplo, em
verde, fazendo com que cada matiz parecesse mais
intenso do que se estivesse sido misturado na paleta,
além mesmo, as sombras que pintavam não eram cin-
zas ou pretas (a ausência de cor que detestavam), mas
composta de muitas cores.

38 PEDAGOGIA
Arte Pós-Impressionista

O Movimento pós-impressionista foi um fenômeno francês, no qual


desenvolveu características ainda mais marcante que o Impressionismo.

Vincent Van Gogh, com suas pinceladas agitadas em espiral, utilizando


cores vibrantes, foi um pintor incompreendido na sua época, visto até
mesmo como louco, em cuja obra não se reflete sua loucura, contudo,
a sua visão de mundo fixada em seu íntimo transborda em suas telas
como luminosas cores. A luz que faltou a sua mente desabrocha em
contraste em seus quadros.

Figura 24 - O Quadro - Van Gogh Figura 25 - Os Girassóis

Fonte: http://www.lk.cs.ucla.edu/LK/Presentations/ Fonte: http://danbrazil.files.wordpress.


facultylecture/img/gogh.room.gif com/2012/05/girassc3b3is-van_gogh.jpg

O movimento pós-impressionismo teve como seus principais adeptos


os artistas franceses Seurat, Cézanne, e o holandês Vincent Van Gogh,
que criou a maior parte de sua obra na França.

No pós-impressionismo, em vez do “molho marrom” da pintura


histórica feita em ateliês fracamente iluminados, as telas brilhavam
com manchas de cores vivas como o arco-íris. Os pós-impressionistas
queriam que a arte fosse mais substancial, não inteiramente dedicada
a capturar um momento passageiro, o que, frequentemente, resultava
em pinturas que pareciam descuidadas e sem planejamento. Apesar
de Van Gogh ter adotado a pincelada interrompida e as fortes cores
complementares do Impressionismo, a arte de Van Gogh sempre foi

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 39


original. Tinha horror à técnica acadêmica e afirmava que queria
“pintar incorretamente, para minha falsidade se tornar mais verdadeira
que a verdade literal.”

Dentro do movimento pós-impressionista, surge a técnica do


Pontilhismo, que consiste na decomposição das formas e de suas cores,
através de pequenas e arredondadas pinceladas, ou seja, de pontos.

Figura 26 - “O circo”, obra técnica pontilhismo, de Georges Seurat

Fonte: http://www.tattootatuagem.com.br/significados/8203/pontilhismo/

Veja que, na obra, o artista Seurat utiliza apenas pontos para representar
toda a cena, tela que o artista passou dois anos para concluir.

Mas, você já se perguntou o que é o ponto? Tão usado por nós na


língua portuguesa, o ponto é um pequeno elemento, se compararmos
com o restante da imagem, é o menor de todos os elementos da
linguagem visual e, no entanto, com ele construímos uma imagem.
“O ponto é o resultado do primeiro contado do instrumento com a
superfície” (KANDINSKY, 1990, p.?).

40 PEDAGOGIA
Você concorda com a forma como o artista Kandinsky
descreveu o ponto? Vamos tentar? Encoste o seu lápis no
papel e responda: o que você obteve a partir desse contato?

Observe outra obra do artista Seurat e o “Café da manhã” de Signac


que também trabalhou com o pontilhismo.

Figura 27 - Modelo - George Seurat Figura 28 - Port St. Tropez - Signac

Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Las_ Fonte: http://www.artcyclopedia.com/images/


modelos feature-200409-barnes-seurat-models.jpg

Signac foi influenciado por Georges Seurat na construção de um novo


estilo, que, para muitos, era algo difícil e definir, mas fascinava o público
e a crítica. As figuras contidas nas obras são rígidas, inanimadas. Os
protagonistas são as cores e linhas.

Para os adeptos do pontilhismo, os minúsculos pontos são confundidos


a distância, mas tornam-se evidentes à medida que o apreciador se
aproxima. Às vezes, esses pontos se transformam em linhas que servem
de contorno. Por ser um estilo muito preciso, onde as obras levavam
muito tempo para serem concluídas, poucos foram os adeptos do
pontilhismo, sendo os principais Seurat e Signac.

Arte Moderna

A pintura, a partir de 1900, passou por um período convulsionado,


causado pelo nascimento e morte de tendências artísticas opostas,

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 41


orientadas todas no sentido de preencher o vácuo produzido pelo
desaparecimento da pintura tradicional.

A libertação da arte de representar coisa que o observador identificasse


como imagens reais, tidas e vistas em seu cotidiano, refere-se à ideia
tradicional da arte. Com o surgimento do modernismo, a arte percorre
caminhos opostos, dando uma nova roupagem à arte do século XX.

O início do século foi marcado pelas pinturas modernistas de Pablo


Picasso, nas quais o artista cria uma nova forma de retratar sua
imaginação, fazendo surgir o Cubismo.

Arte Cubista

O Movimento Cubista baseia-se no mundo das aparências, ou seja,


mostra uma visão multifacetada da realidade, segundo Picasso: “Não
é uma realidade que se possa pegar com as mãos. É mais um perfume.
O aroma está em todo o lugar, mas não se sabe bem de onde vem.”
Figura 29 - Mulher sentada (Marie-Therese) –
Pablo Picasso
Picasso retratou sua vida na pintura e, sob o impacto
da destruição de uma cidade na Espanha, criou a
sua obra-prima “Guernica”, hoje mundialmente
conhecida.

Observe uma obra cubista do artista Pablo Picasso


e analise as formas que vê.

A obra ao lado terá sido produzida com o pintor


utilizando apenas formato de cubos, já que é uma
imagem cubista?

Os artistas cubistas produziram obras em que não


havia perspectiva e seus objetos apresentavam uma
representação simultânea de todas as suas formas.
Fonte: http://www.reidaverdade.net/wp-content/
uploads/2011/03/cubismo_picasso-400x500.jpg No Brasil, esse movimento aconteceu depois da
Semana de Arte Moderna em 1922, e pode ser
notado, por exemplo, em certos quadros de Tarsila do Amaral, Di
Cavalcanti, Lasar Segall e Anita Malfatti.

42 PEDAGOGIA
Arte Moderna no Brasil

A pintura moderna brasileira percorreu um longo caminho até a sua


consolidação, desde a década de 10 até os anos 40. Esse processo
foi marcado pelo confronto constante com o academicismo, estilo
dominante no Brasil desde o século XIX.

No século passado, a pintura brasileira seguiu o estilo neoclássico,


ensinado na Academia Imperial de Belas-Artes. Para os acadêmicos,
o mais importante em uma obra era a organização da composição:
as regras da academia procuravam garantir que o quadro imitasse
realmente o mundo.

Opondo-se a todas essas convenções, alguns artistas desse século


lutaram pelo seu direito à liberdade estética e propuseram um
movimento revolucionário – o Modernismo.

Para esses pintores a arte tinha que acompanhar o desenvolvimento


urbano e industrial. Diferentemente e bem depois da Europa, o Brasil,
ainda, se opunha a revolucionar a sua arte, pois os artistas estavam
acostumados com o academicismo. “A arte consiste em inventar e não
em copiar.” (LÉGER).

O que estava ocorrendo com nossa arte é que havia mudanças de


cenário, mas as características da pintura eram as mesmas.

Figura 30 - O homem amarelo – Anita Malfatti

Fonte: http://coletaneartesanal.files.wordpress.com/2008/01/anita2.jpg

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 43


O primeiro contato do Brasil com a arte moderna ocorreu em uma
exposição de Lasar Segall em 1913, escandalizando o pequeno público
com suas telas. Mas, o que revolucionou a arte brasileira foi o que
aconteceu alguns anos depois, em 1917, com a exposição de Anita
Malfatti, causando polêmica em torno de suas obras expressionistas,
sendo duramente criticada por Monteiro Lobato. Entretanto, Anita
conseguiu com esse movimento reunir vários artistas que compuseram
o núcleo modernista brasileiro.

Figura 31 - Operários – Tarsila do Amaral

Fonte: http://www.estrategiaeanalise.com.br/admin/texto/imagem/tarsila.jpg

Em 1922, aconteceu em São Paulo a Semana de Arte Moderna,


com obras de Lasar Segall, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Oswaldo
de Andrade, Mário de Andrade, Heitor Villa-Lobos e vários outros. A
Semana foi o marco da transição do academicismo para o modernismo
no Brasil, onde os artistas deixaram o público enlouquecido com a
nova arte, pois não mais se retratava os momentos históricos, mas sim,
colocava-se em primeiro plano a imaginação do artista e sua forma de
ver o mundo, tendo neste período grande destaque os trabalhos de
Tarsila do Amaral.

Acompanhando as transformações da sociedade brasileira, a arte luta


por seu espaço. No ano de 1932 foi fundada a SPAM (Sociedade Pró-
Arte Moderna), tendo por objetivo aproximar a arte do público, através
de exposições, concertos, conseguindo alguns adeptos elitistas, porém,
a SPAM perdeu espaço, pois alguns artistas não aceitavam que a elite

44 PEDAGOGIA
participasse, imaginando que em pouco tempo, de alguma forma, eles
conseguiriam acabar com o movimento modernista.

Em mais uma tentativa de expandir a arte, os artistas criaram o CAM


(Clube dos Artistas Modernos), expondo várias telas e apresentando
a peça teatral “Bailado do Deus morto”, censurada em sua terceira
apresentação, e o clube fechado pela polícia.

No caminho tortuoso e gradativo do Movimento Moderno, outro artista


de destaque foi Cândido Portinari, com sua obra “Café”. Preocupado
com as questões sociais, ele retratava em seus quadros a fome, a seca
e a pobreza, dando sua colaboração para que finalmente houvesse a
consolidação do Modernismo no Brasil.

Figura 32 - Café - Portinari

Fonte: http://www.saber.cultural.nom.br/template/ArteBrasilEspeciais/fotos/
PortinariCandidoFoto03.jpg

No final da década de 30, surgiram novos artistas Figura 33 - Casa com bandeirinhas - Volpi
modernistas, vindos da classe trabalhadora, e
imigrantes que se reuniram e formaram no Rio
de Janeiro o Grupo Bernadelli e em São Paulo
o grupo Santa Helena, dos quais vários artistas
faziam parte, como: Clóvis Graciano, Alfredo
Volpi, Rebolo Gonzáles, Mário Zanini e Fúlvio
Pennacchi.
Fonte: www. vooz.com.br

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 45


Esses artistas se reuniam para pintar e discutir sobre a arte, buscando o
aprimoramento técnico, levados pela paixão do fazer artístico, porém,
eram menos ousados do que seus antecessores, pintando paisagens e
naturezas-mortas, a partir da paisagem natural, opondo-se às regras
acadêmicas.
Vários artistas desses Grupos tiveram o reconhecimento de suas obras,
contudo o artista Volpi encontrou sua marca registrada com o motivo
bandeiras, mantendo a preocupação com as cores. Em 1953, Volpi e
Di Cavalcanti dividiram o Prêmio de Melhor Pintor Nacional da Bienal
em São Paulo.
Assim como em São Paulo e Rio de Janeiro, em outras regiões do país
a arte moderna demorou várias décadas para ser aceita pelo público,
conseguindo adesão de alguns artistas como: Aldemir Martins no
Ceará, Carlos Sciliar no Rio Grande do Sul, Carybé na Bahia e vários
outros, que colaboraram para a aceitação do modernismo no Brasil.
Depois de anos de pressão, a arte moderna conquistou no Rio de
Janeiro o espaço mais tradicional na pintura - o Salão da Escola de
Belas-Artes. Com isso, houve o reconhecimento de duas artes opostas
ocupando o mesmo espaço – o Modernismo e o Academicismo –
havendo com essa exposição o passo decisivo para a implantação e
aceitação da arte moderna no Brasil.

Surrealismo

Foi um movimento francês criado em 1924, que prega a ausência de


controles racionais e liberta os artistas da imposição dos movimentos
anteriores. Utiliza muitas imagens vindas da mente, do psíquico, dos
sonhos, a partir do subconsciente, em vez de olhar o mundo real.
O movimento surrealista foi baseado na teoria da psicanálise de
Sigmund Freud, e no consequente estudo científico do subconsciente.
Sobre o Surrealismo André (2000, p. 38) cita:

O surrealismo descobre formas que o consciente não


conhece. Tudo que o homem capta desde o princípio
de sua vida, inclusive no período pré-natal, está guar-
dado no seu inconsciente e contribui para a formação
de sua personalidade. Nada ficaria esquecido nesse
enriquecimento de vivências íntimas, muitas vezes
revelada na criação artística e acentuada de maneira
incisiva pelo surrealismo.

46 PEDAGOGIA
Figuras como Salvador Dalí, René Magritte e Max Ernest tiveram
grande destaque nesse movimento, principalmente Dalí, artista que
tinha um estoque de fobias para representar em suas Obras.

Figura 34 - ESFINGE - Dalí Figura 35 - O Engano coletivo - Magritte

Fonte: http://www.colegioweb.com.br/trabalhos- Fonte: Amanda. O livro de arte para criança


escolares/biografias/salvador-dali/salvador-dali.html

Segundo Strickland (1999, p.150), Salvador Dalí tinha:

Uma carga de medos irracionais alimentando a sua


arte, ele deixava uma tela ao lado da cama, olhava
bem para ela antes de dormir e, ao acordar, registrava
o que ele chamava de fotografias de sonhos pintado
à mão. Ele afirmava que cultivava intencionalmente
ilusões paranóicas a fim de ser um médium para o
irracional, mas que recuperava o controle conforme
sua vontade.

O surrealismo proporcionou aos estudiosos uma pesquisa mais


profunda das imagens do inconsciente, trazendo luz para a linguagem
não verbal do ser humano. Nessa tendência da arte moderna sentimos
sua aproximação com a arte das crianças e dos loucos.
As Artes visuais permitem uma comunicação eficaz entre a obra de arte
e o observador, pois ela o atinge sem a necessidade de uma explicação
dos fatos. Para criar, é necessário conhecer. O conhecimento das obras
e sua relação com diferentes contextos históricos mostram que ela é
flexível, passível de mudanças a cada momento, por isso é capaz de
transformar continuamente a existência.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 47


Arte Contemporânea – Pop Arte

Como reação a uma abstração radical cada vez mais alheia ao


espectador, nos anos de 1960 alguns artistas voltam à figuração com
imagens de objetos bem cotidianos e aplicando métodos do cinema,
da publicidade, televisão, jornais e revistas. A Pop Arte pretendia, desta
forma, refletir a vida urbana e converter em arte esta mesma vida.
A pintura de Andy Warhol era repleta de coisas super-reais que
bombardeiam nossa visão a cada dia. Embora sua intenção de
derrubar as fronteiras entre a vida e a arte não tenha tido sucesso,
grande parte da escultura e pintura posteriores é credora da Pop Arte.
Andy Warhol,é o representante mais conhecido da Pop Arte, movimento
que se originou na Inglaterra e floresceu nos Estados Unidos. Essa
arte busca explorar elementos da cultura de massa e da sociedade de
consumo, onde também expressava uma crítica ao consumismo e ao
capitalismo.
A técnica preferida de Warhol foi a serigrafia.

Figura 36 - 100 latas de sopa Campbell

Fonte: http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRaZRNS4XL
ogjuNOZZk3cYeZyai_LMF4aBobZyPuvLAvXgHykDNrjSABQ

48 PEDAGOGIA
A obra mais conhecida e famosa de Warhol foram às latas de sopa
Campbell, garrafas de Coca-Cola, retratos de celebridades. “Se a arte
reflete a alma da sociedade, o legado de Warhol é nos levar a ver a
vida americana como repetitiva e despersonalizada”. (STRICKLAND,
1999, p.175).

Os caminhos da Música

Antes de tudo, música é a arte dos sons. O vento que assovia o som
de gotas de chuva, caindo sobre o telhado de zinco, o trovão que
amedronta, o barulho do escapamento do carro... Tudo isso são sons.
Para que essa matéria prima se transforme em música, é preciso que
a inteligência e sensibilidades humanas a reinventem. O ser humano
organiza os sons dando-lhes um ritmo, regulando sua duração e
intensidade, combinando-os em infinitas variações e, assim, faz arte,
cria música.

A origem da música se perde no tempo, escavações arqueológicas


mostram que, desde a pré-história, homens e mulheres já faziam
música. Fragmentos de instrumentos musicais e pinturas em cavernas,
contam-nos um pouco da música desde o período paleolítico. Nossos
antepassados produziam e organizavam sons, batendo as mãos e os
pés, usando pedras e lascas de madeiras, tronco de árvores, conchas,
chifres de animais e furando osso para fazer flautas.

Pelo estudo dos povos antigos ou das sociedades tribais, sabe-se


que nas culturas pré-históricas e também na cultura antiga a música
era considerada de origem divina e estritamente ligada à vida da
comunidade. Pelo estudo das sociedades tribais, que ainda hoje
existem, sabe-se que a música era e é considerada de origem divina,
fazendo parte integrante dos rituais de nascimento e morte, casamento,
cerimônias de plantio e colheita. A música era usada para fazer magia
e nas sessões de cura.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 49


Figura 37 - Detalhe de um vaso grego Hoje, embora a música esteja presente o tempo todo
em nosso cotidiano a relação que temos com ela
mudou. Em geral, a escutamos passivamente enquanto
realizamos outras coisas. Não há envolvimento ou
escuta profunda. Poucos conservam o hábito de se
reunir para fazer música juntos.

A palavra música vem do grego mousike, em


homenagem ao deus Dionísio e a tantos outros, sendo
Fonte: http://www.historiadaarte.com.br/imagens/CERAMICA.JPG
essas homenagens feitas sempre com acompanhamento
musical. Os gregos pintavam cenas de música nos seus
vasos, os principais instrumentos desenhados eram harpa ou lira, a qual
chamavam de cítana.

De acordo com a mitologia grega, a lenda de Orfeu é associado a uma das


mais belas artes de todos os tempos, isto é, a música. Vamos conhecê-la!

Orfeu era filho do deus Apolo e da ninfa Calíope; da figura


paterna ele herda uma lira que, uma vez tocada por suas
mãos, revela um canto tão primoroso que nada nem ninguém
consegue se manter imune a sua magia. Até as feras mais
selvagens amenizavam sua ira diante das notas extraídas
deste instrumento, que praticamente as hipnotizava. Mesmo
os arbustos cediam aos seus encantos.

O deus dos matrimônios, Himeneu, consagrou o amor


de Orfeu e Eurídice, mas não foi capaz de trazer boa sorte a
este relacionamento. Uma atmosfera de presságios inundou
esta união desde o início, o que se concretizou quando a
jovem, pouco depois, foi assediada por Aristeu, por sua
intensa beleza. Ao escapar de sua perseguição, ela esbarrou
em uma serpente e foi picada pelo réptil, o que provocou
sua morte.

Incapaz de aceitar este fato, Orfeu declara sua tristeza a


mortais e imortais, mas, nada obtendo, vai atrás de sua
amada no Inferno. Aí o amante, tocando sua lira, leva
Caronte a guiá-lo pelo mundo sombrio dos mortos, ao longo
do Rio Estige; entorpece Cérbero, o guardião das portas
infernais; seu doce lamento ameniza as torturas das almas
aí exiladas; e, diante de Hades, arranca lágrimas do próprio
soberano dos desprovidos de vida, o qual, diante dos apelos

50 PEDAGOGIA
da esposa Perséfone, permite que Orfeu atravesse os umbrais
desta região para buscar Eurídice, mas impõe uma cláusula
ao seu contrato verbal.

A jovem retornaria com Orfeu ao universo dos vivos,


desde que o amante não olhasse para sua amada até estar
novamente sob o Sol. Ele consegue resistir através de túneis
sombrios e difíceis de atravessar e, já estava quase chegando
à esfera iluminada quando, para ter certeza de que a esposa
estava logo atrás, espia por um instante a parte final do
caminho. Neste momento, Eurídice se transforma novamente
em um espectro, lança um último grito e parte para a esfera
dos mortos.

Orfeu é impedido de acompanhar a esposa e se desespera,


permanecendo sete dias ao lado do lago, em jejum. Ele
se converte em um ser devorado pela angústia e rejeita as
outras jovens; tenta sem sucesso esquecer sua grande perda.
Cansadas de serem menosprezadas, as Mênades, mulheres
furiosas, cortam seu corpo em pedaços e lançam sua cabeça
no Rio Hebrus.

As nove musas se compadecem de Orfeu e juntam seus


fragmentos, sepultando-os no Monte Olimpo. Agora no reino
dos mortos, o amante se reúne a Eurídice. No local em que
jaz seu corpo, afirmam que os rouxinóis entoam seu canto
de uma forma mais suave. As assassinas são punidas pelos
deuses, transformando-se em sólidos carvalhos.

http://www.infoescola.com/mitologia-grega/orfeu-e-euridice/

A mitologia grega é riquíssima, com deuses que são capazes de tudo


pelo amor.
Porém, sendo a música umas das mais antigas formas de expressão,
é importante relembrar que, por mais de dez séculos, durante um
período que compreende quase mil anos da história europeia e que
denominamos de Idade Média, a música, bem como outras linguagens
a da arte, esteve submetida à religião, sedo utilizada na propagação da
fé e da doutrina cristã.
A música tem seu ponto alto com o canto gregoriano. Essa forma de
canto, chamada, corretamente, de cantochão ainda hoje é ouvida em

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 51


igrejas ortodoxas católica. Canto simples em um único som, de textos
sagrados, possui melodia intensa, porém devota e serena.

Outros gêneros surgem no campo musical durante a Idade Moderna,


que se inicia por volta do Século XIII. Dentre eles, a sonata, a sinfonia,
corais, cantatas, óperas, além de danças nos salões aristocráticos e
gêneros populares tocados e dançados em praça pública.

O fazer musical, a partir do século XVIII, começa a definir seu caminho


rumo a autonomia, abrindo um campo privilegiado de possibilidades
inéditas como veremos na música brasileira.

A música saiu do plano principal e passou a ser música de fundo.


Com isso, muito do prazer que ela pode nos proporcionar se perde. A
qualidade estética, isto é, a capacidade de conhecer, fruir, imaginar e
participar, fica prejudicada.

Música brasileira

A cada época a música se transforma e assume uma forma peculiar,


diferente da praticada no período anterior, espelhando características
da sociedade e determinada maneira de ver o mundo.

Hoje, temos acesso a músicas de todas as épocas e muitos lugares.


Podemos escutar música do Japão, da Índia, da Islândia. Podemos
apreciar música que era apreciada na Idade Média durante o
Renascimento e a Idade Moderna. Compositores da chamada música
erudita, como os Alemães Beethoven, Bach ou o austríaco Mozart,
graças a facilidade da tecnologia continuam a encantar multidões.

No Brasil, costuma-se afirmar que a prática musical teve início logo


após o descobrimento, no entanto, que música faziam os índios que
habitavam o Brasil antes de ser descoberto? Cantavam e dançavam
em grupo, músicas próprias, como membros de uma sociedade tribal.
Essa música, porém, nem chegou a ser considerada pelos colonizadores
que deram início a catequese dos meninos índios, ensinando músicas
europeias e fazendo com que esquecessem a própria tradição.

52 PEDAGOGIA
Mas, em outros espaços mais distantes dos colégios jesuítas, durante
os dois primeiros séculos de colonização, as práticas dos cantos dos
rituais indígenas permanece. Tornam-se também comuns os batuques
dos negros, que se somam à música dos europeus. O período colonial
mostra grande riqueza na produção de música religiosa, destacando-se
nomes como o do Padre José Maurício e André da Silva Gomes.

Por volta de 1870, na cidade do Rio de Janeiro havia reuniões de


músicos (saraus). Eles começaram a moldar uma forma diferente
de tocar e compor, originando a música popular brasileira. Aqueles
músicos tiveram uma grande influência das valsas, xotes, modinhas,
ritmos mais acelerados de inspiração africana, resultando no samba.
Ao longo dos anos foram criados outros ritmos regionais como o frevo,
o maracatu o baião, o fandango etc.

Na época do império, com a chegada da família real no Brasil, em


1908, a música torna-se, predominantemente urbana, nas duas
principais cidades coloniais - Rio de Janeiro e Salvador. Ferraz e Fusari
(2010, p. 133) afirmam:

A facilidade e a disposição do negro para a música


eram incontestáveis, demonstrando quase sempre
grande aptidão para manejar instrumentos musicais
e entoar os cantos dos brancos. É preciso que se en-
tenda a situação cultural da época para compreender
como a alguns negros foi permitido participar das ativ-
idades musicais dos brancos: afastada como estava a
corte portuguesa de sua terra e deslocada, de repente,
para o Brasil provinciano sem vida cultural e atrasado,
era necessário formar-se um ambiente parecido com
o que tinha, para tanto, aproveita o negro também
como músico. Figura 38 - Chiquinha
Gonzaga aos dezoito
anos
Com a fusão de elementos indígenas, negros e portugueses, torna-se
manifestação de caráter popular. As obras europeias são tão tocadas
quanto as modinhas e lundus. É o início de uma expressão musical
brasileira que se caracteriza como nossa por ser mestiça. No final do
século, desponta a primeira mulher brasileira compositora: Chiquinha
Gonzaga.

No início do século XX, destacam-se Mário de Andrade, estudioso do


nosso folclore que além de músico era escritor, e Heitor Villa – Lobos, que
trouxe para a música clássica a força e originalidade dos temas populares. Fonte: jpg - upload.wikimedia.
org/.../8/80/Chiquinha_6a.jpg jpg

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 53


Ambos têm grande papel na difusão da cultura e da música brasileira,
o que, naquele momento, representa a afirmação da identidade da
Nação. Com essa preocupação pesquisadores e compositores percorrem
o Brasil, buscando resgatar sua música e suas tradições.

Em 1922, organiza-se em São Paulo a Semana de Arte Moderna,


liderada por artistas que querem colocar o Brasil entre os mais
avançados países do mundo em matéria de música contemporânea.
Na música os maiores nomes do modernismo são Mário de Andrade
e Villa-Lobos.

Na mesma época o choro se populariza, sendo tocado em bailes ou


conjuntos constituídos por flautas, clarineta, violão e cavaquinho,
junto com polcas, maxixes e lundus, de características cada vez mais
brasileiras.

Entre os compositores populares dessa época, destacam-se Ernesto


Nazareth e Pixinguinha.

No final dos anos 20, surge o grande marco da história da música


popular - o rádio, primeiro veículo de comunicação de massa, em
muitos aspectos, responsável pela expansão da música popular.

Em 1930 inicia-se a chamada época de ouro da MPB, que se prolonga até


1945, com o aparecimento de Noel Rosa, Ari Barroso, Dorival Caymmi e
de intérpretes que, graças ao rádio, tornaram-se conhecidos e aclamados
por todo o país: Carmen Miranda, Orlando Silva e Silvio Caldas.

Nos anos 40, na música popular surge o Baião, verdadeira febre


nacional, graças ao sanfoneiro e compositor Luis Gonzaga, o maior
divulgador do gênero, e ampla difusão permitida pelo rádio. Na década
de 50, assume o primeiro lugar no gosto popular o samba-canção com
os cantores Dick Farney, Lúcio Alves e Maisa.

Outro marco da música brasileira é a bossa nova, no final da década de


50 e início da de 60, sendo importante movimento musical e divisor de
águas entre o velho e o novo estilo popular. Destacam-se Tom Jobim,
João Gilberto e o poeta Vinicius de Moraes, que inovam na harmonia,
no ritmo, na melodia e nas letras criadas pelo poeta (muito despojadas
e diretas) num estilo aderido ao jazz norte americano e diferente do

54 PEDAGOGIA
samba-canção dos anos anteriores. Na mesma época, o movimento
musical de vanguarda brasileiro alia-se aos poetas concretistas, criando
músicas de padrões diferentes dos encontrados tanto na música erudita
quanto na popular. O importante é a busca de novas sonoridades e a
palavra de ordem é quebrar tradições, desmanchar o velho e inovar.

Surge, então, a televisão, importante veículo de comunicação de


massa, que irá, ao longo do tempo, firmar-se cada vez mais, invadindo
a sala da família brasileira de modo irreversível. Inaugura-se a era
dos festivais, amplamente divulgados pelo novo veículo, mostrando
a nova geração de compositores e intérpretes: Chico Buarque, Edu
Lobo e Elis Regina.

Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé criaram, no final dos anos 60,
um movimento de nome Tropicália, que introduziu na música popular
o uso da guitarra elétrica e, mais tarde, deu origem ao rock e ao pop
nacionais, que têm sua grande fase nos anos 80, com o aparecimento
dos grupos Barão Vermelho, Titãs e dos intérpretes Cazuza e Lobão.
Rita Lee, embora já estivesse cantando há tempos, adere ao novo
modelo. Outro fenômeno importante é a adesão ao grupo tropicalista
dos artistas radicais de vanguarda da década anterior; entre eles o
compositor e arranjador Rogério Duprat.

Hoje, ocorre uma visível tendência à uniformização, em que as


diferenças e peculiaridades de cada localidade, estado ou grupo social
mostram-se atenuadas ou mesmo desaparecem. No entanto, o Brasil
continua a mostrar rica tradição musical que, em cada região, assume
aspectos diferentes e originais, demonstrando a boa fase criativa da
música brasileira.

Os caminhos do Teatro

O teatro vem se modificando durante os séculos, mas sempre esteve


presente em representações religiosas das mais antigas civilizações
ocidentais e orientais. Na Índia, por exemplo, desde o século XVI a.C.,
o teatro religioso já existia. No Egito, se faziam representações, cujos

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 55


temas centrais eram a ressurreição de Osíris. Além disso, o ato de viver
papéis e representar falas não é uma exclusividade do grego, mas
espontâneo do ser humano.

Será que você, durante as brincadeiras infantis, já fingiu


ser a Branca de Neve ou a Emília do Sítio do Pica-
pau Amarelo? Ou mesmo, depois de adulto, quantas
vezes não representamos sentimentos e expressões que
não estamos sentindo? Reflita: Durante o dia de hoje,
quantas vezes já representou, atuou?

O teatro grego era feito por um coro de pessoas que representavam o


texto. Téspis, o primeiro ator, que fazia parte de um coro de teatro, por
volta de 545 a.C., teve a ideia que mudaria os rumos do teatro: ele se
colocou como personagem no texto, que era representado inicialmente
apenas na 3ª pessoa, criando o papel de hypókrites (respondedor)
e mais tarde ator. A mulher era proibida de atuar, pois nenhum
homem admitia ver sua esposa ou suas filhas sendo “observadas” por
outros homens, ou seja, os atores também representavam os papéis
femininos, para isso eles usavam as máscaras, podendo ser qualquer
coisa, independentemente do sexo ou da classe social.

Surgem os textos de tragédia e comédia grega. Na tragédia, que era um


modo, um estilo de escrever histórias, no final, o herói quase sempre
morria e os temas eram geralmente ligados a questões de lei e justiça.
Servia como memória, pois resgatava a história do seu povo.

A comédia grega se diferencia da tragédia por três aspectos. Seus


personagens, geralmente, são pessoas comuns, do povo e até mesmo
bichos, os finais sempre são felizes e sua finalidade é provocar o riso
no espectador.

Qual será o gênero teatral que você mais gosta?

Os gregos do século IV a.C. tinham verdadeira paixão por seu país,


mas adoravam guerrear, assim, o império grego foi se desfazendo
lentamente, dando espaço para o crescimento do império romano,
que herdou muitas características do teatro grego.

56 PEDAGOGIA
O teatro em Roma foi se desenvolvendo a ponto de sentirem a
necessidade de um espaço permanente para as apresentações. Durante
os jogos e as festas religiosas os teatros eram montados e desmontados
e feitos de madeira. Isso mudou com a construção de um teatro feito
por um oficial chamado Pompeu. Esse tornou-se o primeiro teatro
feito em pedra, abrindo caminho para a construção de outros teatros.

O anfiteatro Coliseu, que hoje é uma das principais atrações turísticas


Figura 39 - Coliseu
de Roma, ficou conhecido inicialmente como Anfiteatro Flaviano; o
nome Coliseu só surgiu mais tarde. Tinha capacidade para receber 50
mil pessoas, e a construção durou oito anos.

Durante quase mil anos não se falou em teatro, tornando-se nessa


época uma arte profana, quer dizer, fazer teatro era considerado um
Fonte: http://www.destinosdevia gem.
pecado. Segundo Feist (1996, p. 52): com/wp-content/gallery/roma/coliseu-
de-roma.jpg

A igreja cristã, na época da Roma Antiga, ainda não


existia de fato. Eram poucos os cristãos que se revela-
vam, e os que o faziam eram perseguidos e mortos. So-
mente em 324 anos depois da morte de Cristo, quando
o imperador Constantino se converte ao cristianismo,
a religião cristã é oficializada em Roma. A partir daí,
se começa a criar uma oposição enérgica ao teatro por
diversas razões. Podemos destacar algumas: por mais
300 anos, os atores cômicos, em seus espetáculos, rid-
icularizavam os cristãos. Além disso, durante o reinado
do imperador Flávio Domiciano, ele ordenou, para tor-
nar mais real a representação de uma peça, que o ator
que fazia o papel de um bandido fosse substituído por
um cristão, e este fosse despedaçado de verdade por
animais selvagens, começando assim uma terrível ma-
tança que os cristãos jamais esqueceriam: a pressão da
igreja, tão grande contra qualquer tipo de teatro.

Aos poucos, as representações vão retornando aos palcos teatrais.


A partir do momento em que as apresentações sacras foram para as
ruas, seu caráter religioso foi sumindo, principalmente porque foram
sendo introduzidos, de maneira gradual, elementos da vida cotidiana.
O “diabo” que nas primeiras representações da igreja aparecia com
uma figura terrível, ao fim da Idade Média se transformou num
personagem engraçado. Esse processo de humanização do diabo
marcou a decadência do teatro medieval, ao fim do século XVI. O
teatro moderno, que iria nascer então, desenvolveria exatamente
temas que eram proibidos pela Igreja da Idade Média: o amor e as
paixões humanas.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 57


Willian Shakespeare viveu plenamente a vida do seu tempo. É
considerado o autor teatral mais importante do Ocidente. Além de
retratar em suas peças a vida humana, resgatou, em seus textos,
histórias da própria Inglaterra. São tantas as suas peças importantes,
que se transformaram em filmes, tais como: Hamlet, Romeu e Julieta,
Otelo, A megera domada, O mercador de Veneza etc.

Bertold Brech entendia o teatro como uma forma de denunciar


os problemas sociais, por isso, transforma os temas meramente
dramáticos, profanos ou religiosos em momentos de reflexão sobre os
acontecimentos da época.

Brech era totalmente contra o sistema capitalista e deixava visível


em suas apresentações, onde o espectador deixa de ser meramente
o receptor e passa a problematizar os temas, por isso, acredita- se
que, nesse período, nasce a Pedagogia do Teatro, com a intenção de
esclarecer a sociedade para os fatos, de forma didática.

Teatro Brasileiro

A arte de representar, de contar histórias, não faz parte só do “mundo


civilizado”, os índios também tinham seus rituais religiosos em que
cantavam, dançavam e até faziam espetáculos de marionetes. Os jesuítas,
principalmente Anchieta, perceberam através dessas demonstrações de
teatralidade dos indígenas, que o teatro poderia ser utilizado das mais
diversas formas para catequizar os nativos dessa terra.

Os primeiros teatros do Brasil foram os pátios das escolas, das


praças públicas e o interior das igrejas. Diferentemente do teatro na
Idade Média, aqui as representações podiam ser feitas por mulheres,
geralmente índias e mestiças, só que em 1787, a rainha Dona Maria I
(a louca), cria uma lei que proíbe as mulheres de representar, mas a lei
só durou três anos.

O teatro, até então era feito apenas pelo povo, até que a família real
chega ao Brasil e, imediatamente, o rei D. João VI incrementa as artes
para que pudesse ter diversão.

58 PEDAGOGIA
A partir daí, o teatro no Brasil vem se tornando conhecido
mundialmente, principalmente nos anos 40, com o escritor Nelson
Rodrigues, considerado o maior autor teatral brasileiro de todos os
tempos. Suas peças são montadas regularmente e quase todas já
viraram filmes de cinema e série de televisão. Seus principais textos
são: Anjo negro, Beijo no asfalto, Toda nudez será castigada e Vestido
de noiva.

Hoje, temos o teatro brasileiro respeitado em todo o mundo. Nossos


atores são premiados no exterior e os textos teatrais montados por
outros países. Mas, será que você conhece o teatro do seu estado, ou
da sua cidade? É preciso que se incentive essa produção, assistindo a
espetáculos, lendo e procurando cada vez mais se inteirar da cultura
do país.

Já em 64, com o Golpe Militar, as dificuldades aumentam para diretores


e atores de teatro. A censura chega avassaladora, fazendo com que
muitos artistas tenham de abandonar os palcos e exilar-se em outros
países.

Restava às futuras gerações manterem vivas as raízes já fixadas, e dar


um novo rumo ao mais novo estilo de teatro que estaria pôr surgir.
Observe o que esclarece Peixoto (1997, p. 45):

[...] São infindáveis as tendências do teatro contem-


porâneo. Há uma permanência do realismo e parale-
lamente uma contestação do mesmo. As tendências
muitas vezes são opostas, mas frequentemente se in-
corporam umas as outras [...]

O teatro do oprimido ou T.Op

Principal mentor da técnica do teatro do oprimido, Augusto Boal,


teatrólogo carioca, tinha em mente a popularização do teatro, onde
podia ser praticado por pessoas desprovidas de formação teatral, uma
vez que encerra o potencial de aproximar as pessoas de sua realidade
cotidiana.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 59


Boal procura uma poética da conscientização e da libertação, um
teatro “que já não delegue poderes aos personagens, nem para que
pensem, nem para que atuem no seu lugar. O espectador se libera:
pensa e age por si mesmo!” (Ibid,1991, p.169).

As técnicas do Teatro do Oprimido se sustentam no aporte teórico


da pedagogia libertária de Paulo Freire, que coloca como ponto de
partida a problematização do diálogo. Para Freire (1977, p. 25):

O conhecimento deve ‘percorrer os caminhos da práti-


ca, e nesse percurso‘se dá’ a reflexão através do corpo
humano que está resistindo e lutando, e [portanto]
aprendendo e tendo esperança’. Segundo Freire a
práxis da educação popular reavalia as categorias dos
processos de ensino-aprendizagem, favorecendo uma
reorganização espaço-temporal centrado no corpo hu-
mano.

Para conhecer melhor a trajetória do teatro, leia, a seguir, os versos de


Crispiniano Neto.
O teatro passou por muito plano
Desde os dramas primeiros das cavernas,
E da Grécia, que as obras são eternas;
Pão e circo do Império Romano
Renascença e o Elisabetano
O Teatro do sonho em romantismo
A dureza feliz do realismo
E o Teatro de Brecht, do oprimido,
E o Teatro de Rua, esquecido,
Mas lutando com grande idealismo!

Sem palco, sem luz e sem cortina


Sem poltrona, sem camarote e frisa
O teatro de rua realiza
Este sonho que o povo descortina
Ter na arte da alma nordestina

60 PEDAGOGIA
Expressões da verdade que se dia
Alegria, Alegria, palma e bis
Da beleza e da graça em mil matizes
Retornando o teatro às raízes
Do projeto do povo ser feliz

Quero ver par o povo, voz e vez


A farinha, o poema e o feijão,
O saber, o sabor e a emoção
A semente, o terreno e o boi-de-reis
O salário e a películas trinta e seis
Mão na maquina com o pé, depois sambando
É o teatro de rua penetrando
Nos umbrais da parede da memória
Rejuntando os tijolos da história
Recompondo a canção e caminhando!

E o teatro folclórico do Brasil


Das Cheganças, Fandangos e Reisados.
Os cordões dos azuis e encarnados
As disputas do nosso Pastoril,
O Cangaço do rifle e do fuzil
É lembrado nos palcos do Sertão
Jesus Cristo na cruz, que é “A Paixão”,
João ou José que se chama miolo de boi
As estórias de Grilo e Pedro Quengo
E casamento Matuto no São João!

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 61


Amadeus (1984)

Sinopse: Após tentar se suicidar, Salieri (F. Murray Abraham) confessa


a um padre que foi o responsável pela morte de Mozart (Tom Hulce)
e relata como conheceu, conviveu e passou a odiar Mozart, que era
um jovem irreverente mas compunha como se sua música tivesse sido
abençoada por deus (http://www.adorocinema.com/filmes/amadeus/).

Direção: Milos Forman

Gênero: Drama

Elenco: F. Murray Abraham, Tom Hulce, Elizabeth Berridge, Simon


Callow, Roy Dotrice, Christine Ebersole, Jeffrey Jones, Charles Kay,
Kenny Baker, Lisabeth Bartlett, Barbara Bryne, Martin Cavina,
Roderick Cook, Milan Demjanenko, Peter Digesu.

Pollock (2000)
Sinopse: Em agosto de 1949, a revista life publicou em sua capa
uma manchete dizendo: “Jackson Pollock: será ele o maior artista
vivo dos estados unidos?”. Já conhecido no mundo da arte de Nova
York, Pollock agora passava a ser conhecido nacionalmente como a
primeira celebridade americana no mundo das artes plásticas e seu
estilo corajoso e radical de pintura ditava os rumos da arte moderna.
Mas os tormentos que atingiam Pollock em toda sua vida e que o
ajudaram no início de carreira a criar sua arte original começaram a
afligi-lo cada vez mais. Lutando contra si mesmo, Pollock entrou então
numa espiral decadente que fez com que destruísse seu casamento,
sua promissora carreira e sua própria vida. (http://www.adorocinema.
com/filmes/pollock/).

Direção: Ed Harris

Gênero: Drama

Elenco: Ed Harris, Marcia Gay Harden, Amy Madigan, Jennifer


Connelly, Jeffrey Tambor, Bud Cort, John Heard, Val Kilmer, Tom
Bower, Robert Knott, David Leary, Julie Anna Rose.

62 PEDAGOGIA
Camille claudel (1998)
Sinopse: Em Paris, em 1885, a jovem escultora Camille Claudel entra
em conflito com sua família burguesa ao tornar-se aprendiz e, depois,
assistente do famoso Auguste Rodin. Quando ela se transforma
em amante do mestre (que já era casado), cai em desgraça junto à
sociedade parisiense, embora tenha amigos do porte do compositor
Claude Debussy. Depois de quinze anos de tortuoso relacionamento
com Rodin, Camille rompe o romance e mergulha cada vez mais
na solidão e na loucura. Por iniciativa de seu irmão mais novo, o
escritor Paul Claudel, é internada em 1912 num manicômio (http://
www.interfilmes.com/filme_17725_camille. Claudel-%28camille.
claudel%29.html).

Direção: Bruno Nuytten

Gênero: Drama

Elenco: Isabelle Adjani, Gérard Depardieu, Laurent Grévill, Alain


Cuny, Madeleine Robinson, Katrine Boorman, Danièle Lebrun, Aurelle
Doazan, Madeleine Marie, Maxime Leroux, Philippe Clévenot, Roger
Planchon, Flaminio Corcos, Roch Leibovici, Gérard Darier.

O Corcunda de Notre-dame (1997)


Idade Média, Paris. O corcunda Quasímodo (Mandy Patinkin) mora
em uma das torres da catedral Notre Dame. Isolado e incompreendido
pelo povo da época, ele se esconde do mundo, vivendo como um
pária. Durante um passeio pelo mundo exterior, ele se apaixona
pela cigana Esmeralda (Salma Hayek), uma jovem perseguida pelo
sacerdote Dom Frollo (Richard Harris).

http://www.adorocinema.com/
busca/?q=corcunda+de+notre+dame+-+filme

Direção: Peter Medak

Elenco: Salma Hayek, Mandy Patinkin, Richard Harris mais

Gênero: Drama, Terror, Romance

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 63


Vincent e Theo (1990)
Sinopse: França, Inglaterra, Holanda, Alemanha e Itália uniram-se
para esta produção, inicialmente, pensada como uma série de quatro
horas de duração para a BBC. Com uma equipe formada por franceses
e holandeses, e apenas dois atores ingleses, Tim Roth e Paul Rhys nos
papéis de Vincent e Theo, Altman sentiu, em certo momento, que a
dificuldade com a língua era difícil de transpor e percebeu que essa
dificuldade de entendimento tinha a ver com a história que conta no
filme. O projeto o interessou pela possibilidade de compor um retrato
diferente da habitual imagem do artista punido por estar à frente de
seu tempo. O Van Gogh de Altman é um homem solitário, que fala
uma outra língua, um criador obsessivo, exigente com sua arte.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-28171/

Direção: Robert Altman

Elenco: Tim Roth, Paul Rhys, Johanna ter Steege mais


Gênero: Drama, Biografia

De acordo com tudo que foi visto até agora, forme grupos de três
pessoas para discutir as seguintes questões:

1 Dentre os movimentos artísticos estudados, pesquise mais


sobre um deles, apresentando as principais características
artísticas que se destacam, quais outros artistas desse mo-
vimento, quase outras obras tiveram grande destaque etc.

2 Dentro do Barroco brasileiro, tivemos o destaque para


Aleijadinho, pesquise os motivos desse apelido, a influên-
cia do mesmo para a arte brasileira, apresente uma de suas
obras através da tela viva. Não esqueça dos detalhes das
roupas e das expressões dos seus personagens.

64 PEDAGOGIA
3 Na música brasileira, o estilo Bossa Nova teve a influência
de Tom Jobim, Vinícius de Moraes entre outros. Uma das
músicas mais marcantes desse período foi Garota de Ipa-
nema, conhecida por todos até hoje, regravado por vários
artistas. Vejamos a letra:

Olha que coisa mais linda


Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balança, a caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo sorrindo se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor.

Agora é sua vez! Conheça um artista/compositor da sua


localidade e descubra a letra de uma música que faz parte
da cultura e da história da sua região. Apresente a seus
colegas a sua descoberta.
Outra sugestão é conhecer um maranhense de grande
destaque que foi João do Vale, cante para seus colegas
uma música desse magnífico compositor.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 1 65


unidade

2
ObjetivoS dESTA unidade:

O ENSINO DA ARTE NO BRASIL Apresentar a trajetória do


Ensino da Arte a partir do
século XIX no Brasil;

Identificar a atuação do
“Guerreiros são pessoas, são fortes, são frágeis/ ensino da arte dentro
das principais Tendências
Guerreiros são meninos, por dentro do peito/
Pedagógicas;
Precisam de um remanso/ [...] Um homem se
humilha se castram seus sonhos/ Seu sonho Conhecer os pensadores
é sua vida, e vida é trabalho/ E sem o seu do Ensino da Arte
e seus conceitos,
trabalho, o homem não tem honra/ e sem
compreendendo suas
a sua honra o homem, se morre, ideias e implicações para
se mata [...]” GONZAGUINHA. o desenvolvimento desse
ensino.

No início da formação do povo brasileiro foi imposto, um canto


nem sempre sereno, muitas vezes um canto de um guerreiro em
sua luta, em suas vitórias e fragilidades.

A educação no Brasil surgiu, juntamente, com os Jesuítas que


vieram para dominar os índios através da catequização, impondo,
desta forma, o seu deus e sua cultura aos habitantes da terra
recém-descoberta pelos portugueses.

Os nativos dessa terra eram recheados de cultura, eles possuíam


sua forma própria de pintar o corpo, utilizando a tinta extraída
das árvores, usavam seu canto para exaltar seus deuses, faziam a
dança da chuva e várias outras manifestações culturais mantidas
através das gerações.
“A Banda Cabaçal vem desde a criação do mundo. Você já viu o retrato
do descobrimento do Brasil? Pois bem, pode reparar direito que lá tem
uma banda de música dos índios tocando.” (Chico Aniceto, 1987).

Figura 1 - Albert Eckhout – Dança dos Tapuias, 1641

Fonte: http://www.focadoemvoce.com/pinturasrupestres/tapuios/1.jpg

Observa-se que, desde os primórdios da humanidade, o homem sente


a necessidade de comunicar-se com o seu semelhante, utilizando-se de
meios que antecedem a fala e a escrita.

Portanto, a linguagem gestual e dramática foram as primeiras a serem


reconhecidas por nossos antepassados, as imagens deixaram registrada
a passagem de um povo, assim como a história econômica, política e
social demonstrando a hierarquia estabelecida.

Como vimos, anteriormente, às pinturas nas cavernas são registros da


formação e evolução da humanidade.

Dessa forma, é necessário analisarmos Platão, na famosa alegoria da


caverna.

Imaginava Platão uma caverna em que se encontram


homens agrilhoados, de costa para a entrada, conde-
nados desde a infância a não observar mais do que
os reflexos do mundo exterior. Convenceram-se estes
homens de que as sombras que veem são a única real-
idade e reagiram violentamente se alguém, liberto de
suas cadeias e conhecedores da verdade, tentassem
persuadi-los de que a realidade autêntica se situa fora
da caverna em que estão aprisionados as cadeias do
erro. Esta caverna, explica Platão, é o mundo sensível,
donde teremos de nos evadir pela reflexão, se quiser-

68 PEDAGOGIA
mos atingir o mundo verdadeiro das ideias, que são
o modelo original, incorpóreo e intemporal de tudo
quanto, neste mundo degradado em que vivemos,é
aprendido pelos nossos sentidos. (PULQUÉRIO,
PREFÁCIO PLATÃO I, 1993, p. 12).

É preciso que desvende o mundo do conhecimento para que as mentes


não fiquem aprisionadas na escuridão dos sonhos, mas, que vá em
busca de melhorias, donde isso só ocorrerá mediante a alfabetização
visual, gestual e dramático de um povo.

Assim, podemos dizer que essas imagens já desenvolvidas nas artes


rupestres e na arte indígena, nada mais são do que a arte de um
povo alfabetizado visualmente, podendo construir fatos e esses serem
profundamente transformado na História da Humanidade.

Desta mesma forma, aqui no Brasil fizeram com os índios donos da


terra, tentaram velar a arte produzida por eles, na qual com a chegada
dos catequizadores, foi sendo inserido no cotidiano indígena, a arte
trazida de Portugal, desnaturalizando o que os índios tinham de seu,
sua arte, sua cultura.

Montanari afirma que: “A dança dos povos indígenas modificou-se


adquirindo outras características, ao perderem eles sua consciência
mítica.” (1988, p. 31).

Juntamente, com a arte indígena e a arte portuguesa chega ao Brasil a


arte africana, vinda com os negros escravos, para se juntarem e formar
a arte brasileira feita através da miscigenação dessas culturas.

No entanto, a educação era pensada apenas nos moldes Portugueses,


excluindo todos os tipos de linguagem (falada, escrita, visual e estética)
advinda dos povos dominados.

De forma consciente, autoritária e nada democrática os Jesuítas


catequizaram os dominados, destruindo a “ferro e fogo” a cultura
desses povos.

Assim, o ensino no Brasil de 1549 a 1759 teve uma gestação baseada


na manipulação consciente de dominantes sobre dominados.
Destacamos o que Brandão (1981, p. 12) esclarece:

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 69


Existe a educação de cada categoria de sujeitos de
um povo; ela existe em cada povo, ou entre povos
que se encontram. Existe entre povos que submetem
e dominam outros povos, usando a educação como
um recurso a mais de sua dominância. Da família
à comunidade, a educação existe difusa em todos
os mundos sociais, entre as incontáveis práticas do
mistério do aprender, primeiro, sem classes de alunos,
sem livros e sem professores especialistas, mais
adiante com escolas, salas, professores e métodos
pedagógicos.

Com a fuga da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, devido a


perseguição Napoleônica, Dom João VI, vendo a necessidade de
educar os membros da coroa real, cria em 1816 no Rio de Janeiro as
primeiras Escolas de Ensino Superior.

Entre essas escolas está a Academia Imperial de Belas-Artes, sendo


coordenada por artistas franceses que seguiam uma concepção de
arte erudita, voltada para o Academicismo, instituindo no Brasil uma
escola excludente e elitista.

[...] a história da educação brasileira de 1500 até hoje,


a política educacional do Estado sempre esteve vol-
tada para os interesses particulares das classes domi-
nantes, servindo como força reprodutiva da organi-
zação social vigente em cada momento (SEVERINO,
1986, p. 62).

Sendo assim, a educação em arte era pensada apenas como meio de


formar artistas, para que esses pintassem modelos prontos e acabados,
sem espaço de reflexão.

Dessa forma, a arte no Brasil evolui das cavernas, ou das plumas e


adornos indígenas, para as academias, como forma de transformação
do conhecimento primitivo artístico e estético para um mundo moderno
e contemporâneo. Brandão (2002, p. 35) afirma que:

Para criar a Academia de Belas-Artes, D. João VI,


através do Marquês de Marinalva, que se achava na
Europa e do naturalista Alexandre Van Humboldt, que
estivera no Brasil, contratou artistas que ensinavam
no Instituto da França e eram a vanguarda da época.
(Barbosa, 2002, p. 35).

70 PEDAGOGIA
A Arte era considerada clássica e erudita, assim, apenas os abastados,
economicamente, poderiam frequentar a academia. Aos pobres arte
era considerada luxo, um artigo estritamente desnecessário a classe
desprivilegiada.

O positivismo e a escola tradicional

O ensino da arte começou aqui no Brasil praticamente com a vinda


da Missão Francesa, em 1816, e com a criação da escola de Belas-
Artes. Esse fato tornou a Arte acessível apenas a poucas pessoas que
detinham o poder econômico, pois baseava-se no culto à beleza, na
crença do dom artístico e nos árduos exercícios de cópia.

Com a criação da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro,


em 1816, tivemos a instalação oficial do ensino artístico, seguindo os
modelos similares europeus; nessa época, a maior parte das academias
de arte da Europa procurava atender a demanda de preparação e
habilidades técnicas e gráficas, consideradas fundamentais à expansão
industrial. Aqui, como na Europa, o desenho era considerado a base
de todas as artes, tornando-se matéria obrigatória nos anos iniciais
de estudo da Academia Imperial. No ensino primário, o desenho
tinha por objetivo desenvolver também essas habilidades técnicas e
o domínio da racionalidade. Nas famílias mais abastadas, as meninas
permaneciam em suas casas onde eram preparadas com aulas de
música e bordado, entre outras.

Anos mais tarde, surgem dois movimentos chamados Positivismo


e Liberalismo, nos quais lutas foram travadas para tornar a arte
disciplina obrigatória no currículo escolar. “Os Positivistas propunham
a extinção da Academia e a reorganização completa do Ensino da
Arte.” (BARBOSA, 1978, p. 66).

Nessa época, início do século XX, a pedagogia utilizada nas escolas


seguia o modelo tradicional, onde a educação se apresentava como
forma autoritária, tendo como principal agente dessa ação o professor,

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 71


que mantém um distanciamento entre ele e o aluno, pois quem
detinha o conhecimento era o professor, restando aos alunos ouvir
sem questionar. Observa-se o que afirma Ferraz e Fusari (1992, p. 25):

Nas aulas de Arte das escolas brasileiras, a tendência


tradicional está presente desde o século XIX, quando
predominava uma teoria estética mimética, isto é, mais
ligada às cópias do ‘natural’ e com a apresentação de
‘modelos’ para os alunos imitarem. Esta atitude esté-
tica implica a adoção de um padrão de beleza que
consiste, sobretudo em produzir-se e em oferecer-se à
percepção, ao sentimento das pessoas, aqueles produ-
tos artísticos que se assemelham com as coisas, com
seres, com os fenômenos de seu mundo ambiente.

O papel do professor, nesse momento, era de negação ao conhecimento


prévio do aluno, e sua função era de transmissor do conhecimento.
Segundo Ferraz e Fusari (1993, p. 23), “[...] Na pedagogia tradicional
o processo de aquisição do conhecimento é proposto através da
elaboração intelectual e com base nos modelos de pensamento
desenvolvido pelos alunos, tais como análise lógica e abstrata.”

Na proposta do Positivista Benjamim Constant, idealizador do movimento


positivista em arte, para que o ensino da arte tornasse o aluno mais
engajado na sociedade, era preciso que olhasse a arte como forma
necessária para o desenvolvimento do raciocínio. E a forma de trabalhar
com a arte seria utilizando-se da metodologia do desenho geométrico e da
cópia de estampas. Para Barbosa (1978, p. 67), “[...] A arte era encarada
como um poderoso veículo para o desenvolvimento do raciocínio desde
que, ensinada através do método positivista, subordinasse a imaginação
à observação identificando as leis que a regem.”

Apesar da influência do Positivismo para o ensino da arte, a escola


tradicional mantém uma ideologia em relação ao “Dom” artístico do
aluno, valorizando aqueles que demonstram maior intimidade com o
fazer artístico, privilegiando as habilidades manuais e os hábitos de
organização e precisão dentro da concepção utilitarista da arte:

A ideologia do Dom está fundada em base filosófica


idealista, apresentando um caráter ideológico liberal
quando pressupõe que o artista é pré-dotado mis-
ticamente pelo dom ou quando o justifica pelo de-
terminismo biológico- nasce-se artista (AZEVEDO,
1995, p. 28).

72 PEDAGOGIA
Do ponto de vista tradicional, a criança chegava à escola sem
conhecimento algum, ou seja, o conhecimento prévio que ela tinha
era totalmente negado pelos professores. Segundo Ferraz e Fusari
(1999, p. 33), “os professores tradicionais encaminham os conteúdos
fixados pela repetição e tinham por finalidade exercitar a vista, a mão,
a memorização, o gosto e o senso moral.”

O ensino tradicional está interessado, principalmente, no produto do


trabalho escolar e a relação professor e aluno mostra-se bem mais
autoritária. Além disso, os conteúdos são considerados verdades
absolutas.

Esse conhecimento com que a criança chega à escola é fundamental


para seu desenvolvimento pessoal, pois ela já detém a linguagem falada
e a linguagem visual, estando apta a codificar todos os conhecimentos
advindos da escola. Segundo Camarotti (1999, p. 26):

Do mesmo modo que as primitivas experiências lúdi-


cas da infância, a arte constitui, portanto, uma ten-
tativa de reconhecer, ordenar e dominar a realidade.
Uma atividade que evolui do jogo físico desenvolvido
pelo bebê ainda no berço, às formas vivenciadas nas
experiências artísticas – culturais.

Do ponto de vista Metodológico, a reforma Positivista não deu à Arte


a importância que seus adeptos requeriam. A Pedagogia Tradicional
estava com suas bases muito concretas, definidas e rígidas para que se
modificasse, em um curto espaço de tempo, o eixo do tipo de ensino
em arte que se imaginava. Para Ferraz e Fusari (1992, p. 29),

[...] No ensino e aprendizagem de Arte, na pedagogia


tradicional, portanto, é dada mais ênfase a um fazer
técnico e científico, de conteúdo reprodutivista, com
a preocupação fundamental no produto do trabalho
escolar, supondo que assim educados os alunos vão
saber depois aplicar esses conhecimento ou trabalhar
na sociedade. Esse ensino de Arte cumpre, pois, a fun-
ção de manter a divisão social existente na sociedade
– característica esta da pedagogia tradicional.”

Com a morte de Benjamim Constant, o Positivismo passou por


reformas, até que o Movimento Romântico explodisse em 1930,
juntamente com a Escola Nova.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 73


O Romantismo e a Escola Nova

A “Pedagogia Nova”, também conhecida por Movimento da Escola


Nova, tem suas origens na Europa e Estados Unidos (século XIX),
sendo que no Brasil vai surgir a partir de 1930 e ser descriminada a
partir dos anos 50/60 com as escolas experimentais. Sua ênfase é a
expressão como um dado subjetivo e individual em todas as atividades,
que passam dos aspectos intelectuais para os afetivos. A preocupação
com o método, com o aluno, seus interesses, sua espontaneidade e
o processo do trabalho caracterizam uma pedagogia essencialmente
experimental, fundamentada na Psicologia e na Biologia.

Diferentes autores vêm marcando os trabalhos dos professores de


Arte, no século XX, no Brasil, firmando a tendência da Pedagogia
Nova. Entre eles destacam-se John Dewey (a partir de 1900) e Viktor
Lowenfeld (a partir de 1939), nos Estados Unidos, e Herbert Read (a
partir de 1943), da Inglaterra. Com a publicação de seu livro Educação
pela Arte, Read contribuiu para a formação de um dos movimentos
mais significativos do ensino artístico. Influenciado por esse movimento
no Brasil, Augusto Rodrigues liderou a criação de uma “Escolinha
de Arte”, no Rio de Janeiro (em 1948), estruturada nos moldes e
princípios da “Educação Através da Arte”. Observe seu depoimento:

Estava muito preocupado em liberar a criança através


do desenho, da pintura. Comecei a ver que o prob-
lema não era esse, era um problema muito maior,
era ver a criança no seu aspecto global, a criança e
a relação professor-aluno, a observação do compor-
tamento delas, o estímulo e os meios para que elas
pudessem, através das atividades, terem um compor-
tamento mais criativo, mais harmonioso. As crianças
vinham cada vez mais, e as idades eram as mais difer-
entes. Felizmente, tínhamos duas coisas muito positi-
vas para um começo de experiência no campo de ed-
ucação, através de uma escola. A experiência era feita
em campo aberto, e a diferença de idade também foi
outra coisa fundamental para que eu pudesse entend-
er, um pouco, o problema da criança e o da educação
através da arte. Deveríamos ter um comportamento
aberto, livre com a criança; uma relação em que a co-
municação existisse através do fazer e não do que pu-
déssemos dar como tarefa ou como ensinamento, mas
através do fazer e do reconhecimento da importân-
cia do que era feito pela criança e da observação do

74 PEDAGOGIA
que ela produzia. De estimulá-la a trabalhar sobre ela
mesma, sobre o resultado último, desviando-a, por-
tanto, da competição e desmontando a ideia de que
ali estavam para ser artistas (AZEVEDO, 2000, p. 64).

As palavras de Augusto Rodrigues podem sintetizar as ideias da Escola


Nova, que via o aluno como ser criativo, a quem se devia oferecer todas
as condições possíveis de expressão artística, supondo-se que, assim,
ao aprender fazendo, saberiam fazê-lo também cooperativamente na
sociedade.

Muito se pensou sobre como transformar o ensino da arte no Brasil,


pois as tendências anteriores não estavam assegurando o resultado
esperado pelos seus idealizadores.

Surge em 1914, o Movimento Romântico em arte. Para os artistas


dessa fase as técnicas tornaram-se vazias em prejuízo de verdadeira
expressão interior. Sendo que o romantismo condenava a máquina e
a técnica como processo de destruição da liberdade e da expressão.

Alguns filósofos da época, como Rosseau, afirmavam que a Arte é


subordinada aos sentimentos; Eugene Verón via a arte como um
símbolo emotivo; ambos apresentando a arte como forma de expressão,
de emoção.

Penna e Alves reafirmam que a visão da arte como expressão dos


sentimentos passou a vigorar no discurso a partir do romantismo,
tendo grande aceitação nos diferentes segmentos sociais.

Outro traço marcante do Romantismo é o abandono dos modelos


clássicos e neoclássicos, tão difundidos, anteriormente, no
Academicismo na Escola de Belas-Artes. Rosseau acreditava que “só
através dos sentimentos é que as ideias e o mundo racional podem
adquirir sentido e podem de fato ser apreciados, sendo o sentimento,
portanto, a medida da interioridade do homem”. Rosseau (apud
SILVA, 1996, p. 106).

Essa ideia romântica da arte foi difundida no Brasil por João Francisco
Duarte Jr que via a arte como forma da criança expressar suas emoções
e espontaneidade, sem interferência do adulto, sendo a arte resultado
da intuição de cada indivíduo, ou seja, para Duarte Jr. (1983, p. 45),

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 75


[...] O sentido expresso por uma obra de arte reside
nela mesma, e não fora, como se ela fosse apenas um
suporte para transportar um significado determinado,
contudo, o sentido da arte reside em suas formas, que,
se forem alteradas, implicam, consequentemente,
numa alteração do seu sentido.

Nos anos 30, a escola passa por reformas educacionais, livrando-se


em alguns pontos da época tradicional da educação, sendo inserida
em um novo modelo de ensino que gera a Escola Nova.

Diferentemente do modelo tradicional, a aprendizagem na Escola


Nova era centrada no aluno, ou seja, agora o educando era sujeito
participante na construção do saber.

De acordo com Read (2001, p. 324-325):

O professor gradualmente aprende a distinguir e an-


tecipar as reais necessidades de seu aluno. E, à me-
dida que ele gradualmente toma consciência do que
esse indivíduo precisa e do que não precisa, ele com-
preende mais profundamente o que o seu humano
precisa para se tornar humano. Mas o professor tam-
bém aprende quanto do que é necessário ele é capaz
de oferecer, e quanto não consegue oferecer; o que
ele pode realmente oferecer, e o que ainda é demais
para eles. Assim ele aprende sua responsabilidade
pela partícula de vida confiada a seus cuidados e, à
medida que aprende ele educa a si mesmo.

As aulas de arte eram marcadas pelo romantismo, sendo valorizado o


emocional do aluno, no qual ele aprendia fazendo, sem a interferência
do professor no processo criativo; Silveira (1991, p. 45) explica que
nesse período o professor deveria “dar lápis e papel às crianças, mas
também dar liberdade e estímulo para que elas desempenhassem o
que quisessem, sem modelos, sem regras, sem prêmios”.

Com o surgimento da arte moderna, ocorreram mudanças profundas


na estética naturalista que vigorava no início da década de XX.

Para os naturalistas, a arte deveria representar naturezas-mortas que


retratassem fielmente o seu estado natural, pois acreditava que a obra
deveria ser tão viva e real que parecesse ao espectador estar flagrando
naquele momento uma cena, queriam que se retratassem cenas
históricas, dando um ar de heroísmo ao momento.

76 PEDAGOGIA
Observe detalhadamente a obra ao lado do artista Monet. Ele conseguia
reproduzir as coisas exatamente como eram no momento em que as
via, quase como faz uma câmera fotográfica.

Amante da natureza a reproduzia com cores, de modo que a cena


parecesse o mais natural possível. Era até mesmo capaz de pintar
sombras, movimento das pessoas e fazê-las parecerem reais.

Figura 2 - Mulheres no Jardim (1866) Claude Monet

Fonte: http://filosofianocel.files.wordpress.
com/2009/10/claude_monet_0241.jpg

Com a arte moderna tudo se tornou diferente, não se pintava mais a


história do ponto de vista dos heróis, como disse Pablo Picasso a um
general que admirou sua obra “Guernica”: “– Você fez isso? Picasso
respondeu: – Não, vocês fizeram!” Referindo-se ao pavor que foi
disseminado entre todos durante a guerra civil espanhola, na qual um
bombardeio destruiu a cidade de Guernica.

Figura 3 - Guernica – Pablo Picasso

Fonte: http://catalogodeindisciplinas.files.wordpress.com/2009/10/guernica -7845691.jpg

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 77


Dessa forma, a arte moderna fez com que os artistas pudessem
expressar o que verdadeiramente sentiam, não sendo mais preciso
seguir as regras convencionais da época, mostrando nessa nova forma
de fazer arte que o artista é capaz de criar sensações mesmo sem imitar
a aparência do mundo.

No Brasil, a Semana de Arte Moderna de 1922 marcou definitivamente


o perfil da Arte inserida no país até então, passando a caracterizar
o moderno, baseando-se na emoção do artista para se contrapor à
realidade nacional.

Como exemplo desse período apresentamos a obra de Candido


Portinari, um dos idealizadores e expositores da Semana de 22, como
ficou conhecida. Imagem que retrata o povo brasileiro, pintado sem
regras e sem formas pré-definidas.

Figura 4 - Mulato – Candido Portinari

Fonte: http://genesis.brasilportais.com.br/webroot/
img/arquivos/mestico.jpg

Essa transformação foi sentida dentro da escola a partir de 1930.


Autores como Jonh Dewey, Viktor Lowenfeld e Herbert Read
influenciaram substancialmente as mudanças ocorridas no ensino
de arte do movimento romântico no Brasil, pois pensaram na Escola
Nova um espaço propício para alfabetizar a criança em Arte.

No entanto, Lowenfeld (1977, p. 21) era claro quando afirmava que


era preciso deixar a criança criar, sendo necessário, contudo, dar-lhe

78 PEDAGOGIA
informação. “Se ao contrário, entendermos que ‘ajudar’ a criança
pode torná-la mais sensível à sua própria existência, então essa ajuda
será uma motivação para sua experiência artística”.

A Escola Nova apropriou-se das ideias de Lowenfeld em relação ao


espontaneismo da criança, ou seja, deixar a criança livre para que
pudesse criar, porém propagou-se entre os professores de arte de
forma incorreta. Como consequência desse fato, manifestou-se dentro
da escola um verdadeiro vale-tudo nas aulas de arte.

O que mais se observava nas aulas era o professor deixar o aluno


totalmente livre, para que desenhasse o que quisesse, desmontando
a tese do filósofo Lowenfeld, que demonstrou através do seu trabalho
com crianças deficientes visuais o quanto é importante o conhecimento
prévio da criança, e que a tese espontaneista tinha tudo para dar certo
se não tivesse sido mal interpretada pelos professores. Como esclarece
Lowenfeld (1977, p. 24), “a experimentação tem provado que mais
da metade das crianças, expostas aos cadernos de colorir, perdeu sua
criatividade e sua autonomia de expressão. Tornaram-se rígidos e
dependentes de modelos.”

Jonh Dewey utilizava a experiência como forma de interação da


criança com o mundo que o rodeia. Para Dewey, até na forma trágica
há estética, pois, toda atividade prática adquirirá qualidade estética
sempre que seja integrada e se mova por seus próprios ditames em
direção à culminância.

Sendo assim, a qualidade estética proposta por Dewey está em


qualquer parte onde haja experiência e material, pois, para ele, até
mesmo diante da morte existe estética, devido a sua organização e
composição referente àquele momento dramático.

O autor Read (1992, p. 15), em sua proposta, via “a arte não apenas
como uma das metas da educação, mas sim como seu próprio processo,
que é considerado também criador.”

Essa proposta na visão de Ferraz e Fusari (1992, p. 15) buscava:

[...] a constituição de um ser humano completo, to-


tal, dentro dos moldes do pensamento idealista e
democrático. Valorizando no ser humano os aspectos
intelectuais, morais, estéticos, procura despertar sua
consciência individual, harmonizada ao grupo social
ao qual pertence.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 79


Mesmo com todas essas mudanças no ensino da Arte, porém, ainda
não eram divulgados seus benefícios nas escolas tanto públicas quanto
particulares, apenas algumas já trabalhavam o ensino da arte. Augusto
Rodrigues afirmava que a Arte/Educação deveria ser direito de todas
as crianças.

No ano de 1948, foi fundada a Escolinha de Arte do Brasil (EAB),


por Augusto Rodrigues, sendo aberta a todas as crianças para que
pudessem se expressar através da arte e atendia o professor como
forma de ensiná-lo a trabalhar a arte na escola.

A partir daí, os professores tinham agora um lugar (EAB) onde se


preparar para ensinar a arte. “Até 1973, as Escolinhas eram a única
instituição permanente para treinar o arte-educador.” (Barbosa,
1988, p. 14).

No entanto, as ideias da livre-expressão e do espontaneismo caíram


em um plano sem fundamentação, flutuando ao sabor das políticas
públicas, dando espaço a uma nova tendência, a Escola Tecnicista.

O Liberalismo e a Escola Tecnicista

A Pedagogia Tecnicista teve suas origens a partir da segunda metade


do século XX, no exterior e a partir de 1960/1970 no Brasil. “A
tendência tecnicista aparece no exato momento em que a educação
é considerada insuficiente no preparo de profissionais, tanto de nível
médio quanto de superior, para atender o mundo tecnológico em
expansão.” (FERRAZ; FUSARI, 1992, p. 39).

Nessa pedagogia, o aluno e o professor ocupam uma posição secundária,


porque o elemento principal é o sistema técnico de organização da
aula e do curso. Orientados por uma concepção mais mecanicista,
os professores brasileiros entendiam seus planejamentos e planos
de aula centrados apenas nos objetivos que eram operacionalizados
de forma minuciosa. Faz parte ainda desse contexto tecnicista o uso
abundante de recursos tecnológicos e audiovisuais, sugerindo uma

80 PEDAGOGIA
“modernização” do ensino. Nas aulas de arte, os professores enfatizam
um “saber construir” reduzido aos seus aspectos técnicos e ao uso de
materiais diversificados (sucatas, por exemplo), e um “saber exprimir-
se” espontaneístico, na maioria dos casos caracterizando poucos
compromissos com o conhecimento de linguagens artísticas.

No ano de 1870, surge na Escola de Belas Artes, juntamente com


o Movimento Positivista, o Liberalismo difundido no Brasil por Rui
Barbosa. A ideia liberalista era formar o aluno através do ensino do
desenho popular, ou seja, uma educação voltada para o trabalho.

O ensino da arte, a partir da visão liberal, tinha como implicação


metodológica a geometria a mão livre, dando ao aluno a preparação
para o trabalho manual a serviço da indústria. Segundo Barbosa
(1978, p. 44) a teoria política:

[...] se dirigia para a função prática de enriquecer


economicamente o país. Este enriquecimento só se-
ria possível através do desenvolvimento industrial, e
a educação técnica e artesanal do povo por ele con-
siderado uma das condições básicas para este desen-
volvimento.

Embasado nas ideias do liberalismo, inicia-se na escola a tendência


Tecnicista nos anos de 1960/70, partindo do princípio de que a melhor
forma de adaptar o indivíduo à sociedade capitalista seria preparando-o
para o mercado de trabalho.

O professor abandona seu papel de educador para tornar-se um técnico,


seguindo o objetivo dessa tendência, que era a rápida formação,
profissionalizando da mão de obra para a indústria em expansão.

Para Ferraz e Fusari (1992, p. 37), “tudo isso visando estabelecer


mudanças no comportamento dos alunos que, ao saírem do curso,
devem corresponder aos objetivos preestabelecidos pelos professores,
em sintonia com os interesses da sociedade industrial”.

Com a ditadura militar em 1964, foi criada uma lei para justificar as
exigências desse tipo de ensino. No momento em que o autoritarismo
militar e a censura tomam conta do país, a arte é incluída no currículo
oficial com a nomenclatura de Educação Artística. Azevedo (1999, p.
13) percebe que:

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 81


[...] a estratégia política utilizada, norteada pelo proje-
to pedagógico tecnicista, foi colocar a Arte como ativi-
dade no currículo escolar, para dar um falso aspecto
humanista a esse projeto de forte caráter excludente,
respaldando a escola pública a formar mão-de-obra
barata e subalterna para a indústria em expansão.

Enfim, a Arte é incluída no currículo escolar como disciplina capaz


de ser ensinada e aprendida, através da Lei nº 5692/71. Essa notícia
foi recebida por aqueles que lutavam por mudanças no ensino de
arte com muita euforia, no entanto, como descreve Barbosa (2008,
p. 48):

[...] a institucionalização, pelo governo, de um curso


inadequado de graduação em Educação Artística
(1973), com o fim de preparar professores, está
reforçando a marcha que leva o ensino da arte à
mediocridade. Esses cursos de graduação chamados
‘Licenciatura Curta em Educação Artística’ estão
produzindo professores inócuos, uma vez que os
administradores pretendem formar em dois anos um
professor que, por lei (Lei 5692, de 1971) ensinará,
obrigatoriedade e ao mesmo tempo, artes visuais,
música e teatro a aluno da primeira à oitava série e
até mesmo aluno de segundo grau.

Ou seja, devido a carência de professores especializados para trabalhar


essa disciplina, no ano de 1973 é aberta a primeira Licenciatura Curta
em Educação artística, no entanto, esses cursos não ofereciam subsídios
suficiente para que o professor tivesse conhecimento para trabalhar as
três linguagens artística – artes visuais, música e teatro.

A metodologia utilizada nas aulas estava recheada de erros e defeitos,


uma vez que os professores, por não terem orientações para trabalhar
essa disciplina, tornaram o ensino incorreto e incompleto.

As escolas não sabiam como lidar com essa disciplina, trabalhando


com técnicas, desenhos mimeografados, livre-expressão, ou seja,
reunindo a Pedagogia Tradicional, a Escola Nova e a Tecnicista,
em uma “salada”, que nem mesmo eles sabiam desvendar o que
estavam fazendo, devido a falta de condições desses profissionais,
que tinham uma formação universitária insuficiente, mostravam-se
inseguros, incapazes e não dispunham de tempo para aprofundar seus
conhecimentos em arte.

82 PEDAGOGIA
A má qualidade do ensino compulsório da arte vem
mantendo-a como uma disciplina periférica no cur-
rículo. A arte é uma espécie de decoração ideológica
das escolas, uma situação que nos remete ao prob-
lema da dependência (BARBOSA, 2008, p. 52).

Logo, arte/educadores preocupados com o analfabetismo nas várias


linguagens artísticas e estéticas, enveredaram pelo caminho da arte
como conhecimento. Ana Mae Barbosa, em 1987, inicia uma tentativa
de implantar arte como disciplina do conhecimento.

Com a Lei nº 9394/96, revogam-se as disposições anteriores e Arte é


considera obrigatória na educação básica: “O ensino da arte constituirá
componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação
básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”
(Arte. 26 § 2º).

A obrigatoriedade da arte, possibilitou a desconstrução e reconstrução


do universo imagético visual. “O olhar de cada um está impregnado com
experiências anteriores, associações lembranças, fantasias, interpeões
etc. O que se ver não é dado real, mas aquilo que se consegue captar
e interpreta acerca do visto, o que nos é significativo.” (PILLAR, 1997,
p. 13).

Todovia, esse olhar é transformado diante de uma pluralidade de


leitura do mundo, assim, também a pluralidade cultura existente no
universo do homem. Dessa forma, com o olhar alfabetizado é possível
construir um ensino de arte nas escolas, mas a transformação da práxis
do professor é fundamental nesse processo.

Em meio a tantas discussões nos anos 80, o quadro educacional


começa a ser pintado de forma diferente, surgem as associações de
Arte/Educadores dispostos a refletir sobre o ensino da Arte nas escolas.
Sobre esse assunto Azevedo (1997, p. 7) afirma:

Toda luta empreendida a partir do movimento de arte-


educação (anos 80), em busca da reorganização políti-
ca dos professores de arte, encontrou na fragilidade
conceitual de articulação entre ensino e arte seu maior
desafio: por um lado os professores não habilitados
formalmente em arte e, por outro, a formação poliva-
lente e de forte caráter tecnicista que predominava nas
universidades foi um impasse que teve de ser enfren-
tado e ainda não totalmente resolvido.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 83


Na década de 90, o movimento dos Arte/Educadores ganha grande
referência, quando a Arte é incluída na Lei nº 9394/96, na LDB (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação), com a proposta da Arte/Educadora
Ana Mae Barbosa, vendo a Arte em uma Abordagem Triangular que
une: fazer artístico, apreciação da obra de arte e sua contextualização
histórica.

Abordagem Triangular: lendo e relendo

A acelerada mudança ocorrida em todos os níveis (social, econômico,


político e educacional) leva-nos a ponderar sobre uma educação
totalmente globalizada em todas as áreas.

Ocorre a transição da sociedade industrial voltada para a produção de


bens materiais e para a sociedade do conhecimento, voltada para a
produção intelectual com uso intenso de tecnologia.

A escola pode ser um local de transformações sociais e nesse sentido


a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos defende que a aquisição do
conhecimento não deve ter por objetivo a erudição, ou seja, o saber
por saber, mas sim a possibilidade de que o conhecimento possa ser
uma ferramenta a mais no processo de transformação social.

Para Libâneo (1985, p. 38) a questão chave dessa Pedagogia:

Consiste em saber como se dará a aquisição e assimi-


lação ativa de um saber socialmente significativo, por
alunos provenientes de distintos meios socioculturais,
com valores, expectativas e experiências decorrentes
de suas condições de vida e que não apresentam as
condições requeridas pelo processo de aquisição/as-
similação.

A aula de arte, pensada através dessa pedagogia, percebe a arte como


conhecimento, centrada nos conteúdos vivos e significativos para os
alunos, buscando equilíbrio entre teoria e prática, problematizando a
diversidade cultural sem impor hegemonias.

84 PEDAGOGIA
A Arte/Educadora Ana Mae Barbosa propõe um ensino de arte
direcionado para a contextualização, apreciação e fazer artístico, da
qual vários autores são adeptos.

Figura 5 - Ana Mae Barbosa e Risolange Oliveira

Fonte: da Autora

Contextualização histórica

Fazer artístico Apreciação da obra de arte


(releitura ou reelaboração) (leitura da imagem)

A Abordagem Triangular foi sistematizada por Ana Mae


Barbosa quando esteve na direção do Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo, entre 1987
e 1993 e foi amplamente divulgada com a publicação do
seu livro A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos
tempos.

Ferraz e Fusari (1993, p. 35) acreditam em um maior entendimento


a partir dessa abordagem “[...] a que está sem dúvida interferindo
qualitativamente no processo e melhoria do ensino em arte”.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 85


Mas, você deve estar se perguntando: o que significa a abordagem
triangular? O que de fato ela propõe? Qual o direcionamento para o
ensino da arte?

A abordagem triangular hoje está sendo defendida pelos arte/


educadores como uma maneira, um direcionamento para se trabalhar
a arte na escola.

Essa abordagem une: o fazer, o contextualizar e o apreciar, analisado na


obra de arte, podendo ser trabalhado nas quatro linguagens artísticas
– teatro, música, dança e artes visuais.

A partir da Abordagem Triangular, o ensino de arte, e em destaque as


artes visuais, vem desenvolvendo um amplo olhar para a compreensão
de novos conhecimentos em sala de aula sobre as obras de arte, a
leitura da imagem torna-se imprescindível para o desenvolvimento
artístico do aluno. Mas qual a importância da leitura da imagem nas
aulas de arte? De acordo com Buoro (2002, p. 22):

A leitura de imagem do artista nas aulas de arte do


ensino formal ganhou corpo e cresceu em importância
no contexto do ensino de arte no Brasil ao longo da
década. Pode-se assim afirmar, sem sombra de dúv-
ida, que uma das propostas de aulas mais frequente
realizadas por educadores de artes visuais.

Para uma releitura, precisamos, primeiramente, tomarmos por base os


conhecimentos advindos da obra estudada, da leitura da imagem que foi
feita anteriormente, contextualizada, analisando e relacionando o passado
com o presente, para que seja feita a releitura ocorrendo o fazer artístico.

[...] entende-se aqui a tradução da significação do


objeto como fundamento para uma nova construção,
buscando-se nessa ação a re-significação do mesmo
objeto: re-ler para aprofundar significados, re-sistema-
tizando-os. Dessa forma, considera-se que toda nova
produção oriunda de uma imagem referente é con-
strução de um novo texto, no qual o sujeito produtor
elabora uma interpretação, podendo até mesmo partir
para a criação (BUORO, 2002, p. 23).

Mas, é preciso que se tome cuidado para que a releitura não venha
a ser uma cópia mal feita de uma obra de arte, o que se propõe
estudando através da Abordagem triangular é o ensino da arte como
conhecimento e não como reprodução de obra de arte. Para que isso

86 PEDAGOGIA
não ocorra, é preciso que o professor compreenda o ensino da arte
como disciplina do conhecimento, apresentando movimentos, artistas,
relacionando com fatos sociais, fazendo referência com o que vivemos
na atualidade. Assim, a partir de tantas informações o aluno será capaz
de produzir sua própria arte, relacionando os caminhos e percursos
seguidos por grandes artistas.

[...] cabe a nós, educadores, adotar a mesma postura


inquieta de pensadores e pesquisadores permanentes,
devendo para isso buscar formação contínua e inves-
timento em novos conhecimentos, uma vez que só
podemos ensinar aquilo que efetivamente sabemos.
Será necessário, pois, que o educador seja capaz de
construir sua própria competência, movido por ações
de querer, poder, dever e fazer, apropriando-se con-
scientemente da própria vontade de construir-se com-
petente. Embora este pareça ser um discurso conhe-
cido de longa data, a mentalidade que produz a ação
construtora permanente do sujeito em interação com
o conhecimento expressa uma atitude relativamente
nova na formação de educadores brasileiros e que
parece ainda não ter se instalado no plano da prática
(BUORO, 2002, p. 25).

Como uma nova etapa vencida pelos arte/educadores no final da


década de 90, são publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais
- PCN’s, servindo como material de pesquisa para os professores
conhecerem a arte como disciplina capaz de ser ensinada, aprendida e
com conteúdos próprios de cada linguagem artística, que se divide em
quatro: música, dança, artes visuais e teatro.

A abordagem triangular elimina das aulas de arte todo espontaneismo


e livre-expressão, advindo da época do Romantismo na Escola Nova.
Observe o que Machado (1996, p. 134) afirma sobre a abordagem
triangular:

Com base na abordagem triangular, o professor de


arte pode compreender que existem conteúdos a ser-
em trabalhados: no sentido de propiciar a seus alu-
nos um conhecimento em Arte, advindo não apenas
da sua atividade criadora, ou seja, realizando formas
artísticas, mas também de sua aprendizagem estética.

O professor deve levar para a sala de aula obras de arte para que
os alunos façam a apreciação ou leitura da obra, falar sobre o estilo,

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 87


época, vida do artista, fazendo a contextualização, para em seguida o
aluno fazer a sua releitura ou reelaboração da obra em questão.

De ensino exclusivamente voltado para o desenvolvi-


mento de habilidades, estamos passando para um
ensino articulado em que a arte como conhecimento,
como expressão e cultura deve ser considerada em
seu contexto de origem e de recepção com suas vin-
culações sociais, econômicas e políticas. Com essa
perspectiva, as questões relativas às abordagens e
métodos de leitura e interpretação de imagens e obje-
tos do campo da arte, assim como a inter-relação dos
conhecimentos de várias áreas e domínios necessário
para a contextualização, passaram a fazer parte dos
pré-requisitos para efetivação da Abordagem Triangu-
lar. (COUTINHO, 2009, p. 173).

A Abordagem Triangular vem responder as inquietações no campo da


educação em arte, quando, de acordo com Coutinho (2009, p. 173):

Propõe que o currículo escolar articule as dimen-


sões da leitura das produções do campo da arte, sua
produção e contextualização. É uma proposta flexível
que não envolve uma hierarquia entre as três dimen-
sões, deixando a cargo do educador a construção de
seu método de ensino. O que irá determinar a articu-
lação e as possíveis relações entre as três dimensões é,
em parte, o próprio conteúdo selecionado pelo edu-
cador e, essencialmente, suas próprias concepções de
educação em arte.

Mas, será que releitura faz parte apenas do mundo da sala de aula, ou
esse tipo de atividade já ocorreu em outras épocas e lugares? O que
você acha?

Veja só as imagens a seguir:

Figura 6 - Nascimento da Vênus - Botticelli

Fonte: http://labspace.open.ac.uk/file.php/1456/kmap/1283803755/
images/botticelli-venus.jpg

88 PEDAGOGIA
Essa imagem foi produzida por um grande gênio das artes plástica,
Sandro Botticelli, no período Renascentista.

No entanto, outro artista produziu sua releitura a partir da obra


Nascimento da Vênus de Botticelli.

Veja só, você reconhece essa Vênus?

Figura 7 - Mônica no Nascimento da Vênus –


Mauricio de Sousa

Fonte: http://esquisitice.zip.net/images/quadroes.jpg

Veja que grandes artistas também já produziram releituras de obras de


arte, como podemos observar a obra de Botticelli, na qual o cartunista
Maurício de Sousa também produziu a modo a releitura a partir do
Nascimento da Vênus de Sandro Botticelle.

Vamos exercitar a memória visual?

Observe a obra ao lado e analise a partir de qual obra de arte essa


releitura foi produzida.

Será que você reconhece a personagem que compõe a tela?

Figura 8 - Mônica (Monalisa)

Fonte: http://karinaemi.com.br/bloka/wp-content/
uploads/2009/08/monica-monalisa-01g.jpg

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 89


Vejamos outro exemplo:

Figura 9 - Guernica – Pablo Picasso

Fonte: http://vanderdissenha.files.wordpress.com/2010/07/guernica1.jpg

Figura 10 - Beauty for Ashes Project

Fonte: http://abstracaocoletiva.com.br/wp-content/uploads/2013/03/Beauty-for-Ashes-Project.jpg

Ou ainda:

Figura 11 - Guernica, Ron English

Fonte: http://abstracaocoletiva.com.br/wp-content/uploads/2013/03/Guernica-3-700x333.jpg

90 PEDAGOGIA
Você observou que grandes nomes da história da arte também,
produziram releituras e as mesmas são muito conhecidas e valorizadas
pela capacidade criativa de seus inventores.

Faz-se necessário considerar que todo produtor de arte torna-


se importante para um grupo social por meio dos objetos
que constrói, pois, mais do que dar existência a documentos
de uma época ou de uma história de vida, ele produz
objeto de arte e, ao fazê-lo, comunica uma experiência que
o transcende, tanto quanto transcende tempo e espaço,
universalizado-se. A monumental tela Guernica não foi
pintada por Picasso apenas para documentar um episódio
particularmente trágico da historia do Ocidente, mas
também tomou a forma do grito do artista estampado sobre
um suporte , materializado com a finalidade de indignar,
por meio do sensível, todo leitor que , perante a obra, for
mobilizado a fazê-lo. (BUORO, 2002, p. 62).

Releitura não é simplesmente uma cópia, nem plágio, muito menos uma
falsificação. Consiste, sim, na criação de uma nova obra, realizada a
partir de outra feita anteriormente, acrescentando nessa nova maneira
de ver e sentir, de acordo com a cultura e vivência própria de cada
pessoa.

Como já foi dito, mas vale a pena sempre relembrar, devemos ter o
cuidado para que a releitura da obra não venha a ser uma cópia mal
feita. Barbosa (1998, p. 17) explica que:

A educação deveria prestar atenção ao discurso vis-


ual. Ensinar a gramática visual e sua sintaxe através
da arte e tornar as crianças conscientes da produção
humana de alta qualidade, é forma de prepará-la para
compreender e avaliar todo tipo de linguagem con-
scientizando-as de que estão aprendendo com essa
imagens.

O professor que se propõe lecionar arte na escola deve conhecer arte


e usar de novas metodologias funcionais, porém, o como fazer está
diretamente ligado ao dia-a-dia das salas de aula, onde o professor é
quem avalia a melhor forma de trabalhar mediante o conhecimento
do aluno em arte. É importante também observar o material didático

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 91


disponível, adequando ao ensino e a cada fase do saber escolar,
contextualizando as obras estudadas com a vivência dos alunos. Como
afirma Costa (2004, p. 42), sobre o contextualizar no ensino de arte:

Como o termo bem expressa, trata-se de situar obra e


artista no contexto, nas várias dimensões do ambiente
que os envolve. Isto é, entender que ela foi produzida
por alguém que é um sujeito concreto, que vive ou
viveu em determinada época e foi influenciado, como
pessoa e como produtor da obra.

Para Barbosa (1988, p. 38), é um “absurdo um aluno chegar a 8ª


série, sem saber quem foi Portinari e nunca ter visto reproduções de
obras de Tarsila do Amaral ou Anita Malfatti”.

O método de avaliar o conhecimento do aluno em arte é um processo


contínuo, sendo avaliados seus avanços, a sua relação entre homem
e realidade e sua forma de argumentar, discutir a arte de modo
contextualizado. Para Barbosa (1998, p. 40) “[...] questionamento é
busca, é o despertar da capacidade crítica, nunca a redução dos alunos
a receptáculos das informações do professor, por mais inteligente que
ele seja.”

Assim, a abordagem triangular vem apresentando a arte nas escolas


não mais como forma apenas de expressar os sentimentos, mas como
meio de uma real transformação social.

Ao ler uma obra de arte, colocamos nela elementos artísticos e estéticos


da nossa vivência, do nosso mundo particular, por isso, cada pessoa
tem uma reação e interpretação diferente sob uma mesma obra.

Imagine você, se tivesse que fazer a releitura da Mona Lisa ou da


Guernica de Picasso, como seria a sua? Aproveite para exercitar a sua
criatividade.

92 PEDAGOGIA
De acordo com tudo que estudamos até agora, forme grupos de três
pessoas para discutir as seguintes questões:

1 A partir de suas memórias, escreva uma carta para um(a)


amigo(a) querido(a), contando seu primeiro contato com
a Arte.

2 Como aconteceu seu aprendizado nas aulas de “Educação


Artística”?

3 De acordo com seus conhecimentos sobre a Abordagem


Triangular, analise cada uma das fases desse processo: o
fazer, o contextualizar e o apreciar. Descreva o que significa
cada uma delas dentro do processo de ensino-aprendiza-
gem em Arte.

O Código da Vinci (2006)


Sinopse: Robert Langdon (Tom Hanks) é um famoso simbologista que
foi convocado a comparecer no Museu do Louvre após o assassinato de
um curador. A morte deixou uma série de pistas e símbolos estranhos,
os quais Langdon precisa decifrar. Em seu trabalho ele conta com
a ajuda de Sophie Neveu (Audrey Tautou), criptógrafa da polícia.
Porém, o que Langdon não esperava era que suas investigações o
levassem a uma série de mensagens ocultas nas obras de Leonardo
Da Vinci, que indicam a existência de uma sociedade secreta que tem
por missão guardar um segredo que já dura mais de 2 mil anos (http://
www.adorocinema.com/filmes/codigo-da-vinci).

Direção: Ron Howard

Gênero: Ficção

Elenco: Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian McKellen, Alfred Molina,


Jürgen Prochnow, Paul Bettany, Jean Reno, Etienne Chicot, Jean-
Pierre Marielle, Clive Carter, Seth Gabel, Marie-Françoise Audollet,
David Bark-Jones, Jean-Yves Berteloot, Daisy Doidge-Hill, Paul
Herbert, Peter Pedrero.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 2 93


Portinari do Brasil (2012)
Sinopse: Um documentário sobre Cândido Portinari, o mais
importante artista plástico brasileiro, com obras de elevado cunho
social. A história da sua vida desde a infância no interior de São Paulo,
passando pelo primeiro curso de pintura, a viagem para o Rio de
Janeiro, a Escola Nacional de Belas Artes, até sua ida para a Europa,
e também o casamento e o nascimento do seu único filho. Ao longo
da vida, Portinari cultivou amizades com intelectuais como Carlos
Drummond de Andrade, José Lins do Rego e Manuel Bandeira. O
pintor morreu, lentamente, por causa de envenenamento provocado
pelas próprias tintas que usava em suas telas.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-215373/

Direção: Rozane Braga, Sonia Garcia

Elenco: Sara Vinhal, Herson Capri

Gênero: Documentário

94 PEDAGOGIA
unidade

3
Objetivos dESTA unidade:
A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS LINGUAGENS
ARTÍSTICAS Apresentar a Metodologia
do Ensino das quatro
linguagens artísticas:
Teatro, Música, Dança e
A arte tem fundamental importância na vida das pessoas em es- Artes Visuais;
pecial para as crianças, pois desenvolve as habilidades artísticas Identificar, em cada
e estéticas e possibilita a elas viver o faz de conta, assim como, linguagem artística,
conhecer o mundo dos artistas, compreendendo que foram e são suas potencialidades
para o desenvolvimento
homens e mulheres comuns e que em cada um de nós pode nas- cognitivo da criança;
cer um artista.
Reconhecer a
Para isso, o ensino de arte propõe o redirecionamento para o es- importância da leitura
de imagem como fator
tudo da disciplina como tendo história, podendo ser ensinada e de percepção artístico e
aprendida. estético.

Artes Visuais

É comum escutarmos entre nossos alunos a frase “eu não sei


desenhar” ou não “gosto de desenhar”. Esse bloqueio faz com
que a criança cresça e cristalize esse pensamento, pois não foi
trabalhado na Educação Infantil e perdura por toda a vida, ao
ponto de encontrarmos adultos que continuam afirmando não
gostar de arte.
O desenho é um exercício diário, assim como ler, escrever, contar etc.
“Cézanne (1893) acreditava que o desenho é apenas a configuração
daquilo que você vê”.

Então, é necessário interrogar: o que é saber desenhar? Essa questão


está ligada à ideia de beleza, pois desenhar, para muitos, é copiar
modelos perfeitos, esquecendo que no desenhar deve implicar a parte
subjetiva de quem pratica o ato, ou seja, o ato imaginativo da criança.
Em alguns casos, a criança de 06 a 08 anos consegue se expressar
artisticamente melhor do que o adulto, pois ela procura mergulhar
em uma aventura do seu imaginário poético. Segundo Read (1986,
p. 26) “a criança começa a vida com a mente repleta de imagens
extremamente vívidas.”

Essas imagens são colocadas a nossa frente nos enfeites do berço,


nas cores do quarto etc. Elas são armazenadas e, posteriormente,
convidadas a fazer parte do universo do artista.

Façamos um pequeno exercício: feche os olhos e lembre as cores do


rótulo da Coca-cola ou do Guaraná Jesus. Lembrou? Perceba que
essas imagens, como símbolos ou cores, vêm rápido em nossa mente?
Para Vigotsky (1982, p. 31),

[...] A percepção externa e interna são o começo de


um processo que serve de base para nossa experiência
criativa. Os primeiros pontos de apoio que a criança
encontra para sua futura criação advêm do que ela
vê e ouve, acumulando materiais que usará para con-
struir sua fantasia.

Agora é com você, desenhe o que quiser! Veja como você


tem um arsenal de imagens para desenhar.

Então, como não se sabe bem o que desenhar, acabamos assistindo a


um amontoado de imagens repetitivas, como: o sol sorridente, a flor, a
casinha com chaminé, desenhos típicos e de traços bem fáceis.

Para desenhar, precisamos reconhecer a presença da linha, lembrando


que neste estudo não precisamos de traços perfeitos, mas, muita
criatividade. E imaginação.

96 PEDAGOGIA
O que é linha?

Normalmente, a linha é definida como sendo uma sucessão de vários


Figura 1 - “Mulheres, pássaro
pontos. Quando dois pontos estão tão próximos entre si, a tal ponto ao luar”, de Miró

que não se pode mais reconhecê-los individualmente, aumenta a


sensação de direcionamento e a cadeia de pontos se converte em
outro elemento visual distinto: a linha.

Observe a obra de Joan Miró, “Mulheres, pássaro ao luar”.

As linhas são utilizadas dando formas aos personagens. Agora


responda: O que vejo?
Fonte: RENSHAW, Amanda. O
Podemos ver uma grande lua crescente azul e uma estrela branca, livro de arte para criança
de modo que sabemos que é noite, mas onde estão as mulheres e
o pássaro? Alguma coisa ali parece um pássaro ou uma mulher para
você? Talvez cada par de pequenos círculos seja um par de olhos. Talvez
as grandes formas pretas sejam as saias ou vestidos das mulheres. Ou
ainda, o pássaro seja aquela estranha forma branca no lado inferior
direito, com um bico vermelho e três pernas, parecidas com fios de
cabelo, em seu dorso redondo.

Ninguém pode saber com certeza. O que você acha?

Certa vez, a professora de arte de Joan Miró lhe pediu para desenhar
formas simples, como círculos, retângulos, estrelas e triângulos, usando
uma venda nos olhos. O resultado talvez tenha sido parecido com as
formas deste quadro.

Figura 2 - Mulher e pássaro

Por que você não tenta


desenhar uma mulher e
um pássaro com os olhos
fechados?

Fonte: da Autora

FUnDAMenTOS e MÉTODOS De enSInO DA ARTe | UnIDADe 3 97


Alfabetização visual

Aprendemos a decodificar a escrita muito cedo, nos alfabetizamos


verbalmente, mas a alfabetização visual é esquecida. Mesmo cercados
de imagens por todos os lados e aprendendo inconscientemente com
elas a deixamos em segundo plano; logo a leitura de imagem é mais do
que compreender códigos visuais, é um mergulho no “eu” do artista,
assim como uma relação com o receptor.

O que lê numa imagem?

As pessoas, de um modo geral, têm dificuldades


para compreender as manifestações dos códigos
estéticos, indiferentemente do sistema do qual
façam parte e independentemente de se tratarem de
informações artísticas ou estéticas. Uns para encobrir
o desconhecimento, alegam não gostar ou não ter
interesse por tais produtos; outros simulam que a
compreensão é tácita e evitam discuti-los; um terceiro
grupo apela para interpretações baseadas em critérios
extra-estéticos, como os pautados estritamente pelas
emoções e pelos sentimentos ou até mesmo pela
valoração comercial. Em suma, o que se ouve e o que
se vê pouco ou nada tem a ver com o que há para ver
ou ouvir (RAMALHO, 1998, p. 4).

A imagem nos deixa sempre uma mensagem, por isso devemos parar
e deixar o olhar percorrer toda a pintura, escultura, fotografia etc.

A leitura de imagem para Robert Ott acontece por etapas, são cinco
estágios de apreciação da imagem: descrever, analisar, interpretar,
embasar e revelar.

No primeiro estágio, você deverá apenas olhar o objeto e descrevê-lo.

Observe a Obra Primavera, de Sandro Botticeli. A seguir, descreva o


que você percebeu.

98 PEDAGOGIA
E agora, consegue descrever tudo o que vê na obra de Botticelli? Se
preferir, faça por parte, comece pelo lado esquerdo ou direito, mas
deixe seu olho percorrer todo o quadro e descreva todos os detalhes
como: as roupas, as cores, as expressões, o fundo da tela, o chão etc.

• No segundo momento é importante destacar a linguagem plástica:


formas, texturas, superfície, planos etc.

• Na terceira etapa você deverá fazer interpretações, expressando


sentimentos em relação à obra lida. O que sinto quando vejo?

• No quarto momento você deverá conhecer sobre a obra e o


artista, associando as suas percepções.

O revelar significa descobrir o universo visual e histórico da obra e


construir suas impressões, nesse caso é o que a arte/educadora Ana
Mae Barbosa chama de fazer artístico.

Figura 3 - Primavera, de Sandro Botticelli

Fonte: http://margaretebarbosa.files.wordpress.com/2009/09/botticelli-primavera.jpg

Bem à direita há uma figura cinzenta. É Zéfiro, o vento oeste.


Suas asas, longas e fortes (escondidas atrás dos galhos), ajudam-
no a afastar as nuvens geladas e a trazer o clima mais ameno da
primavera.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 99


Outros personagens

Zéfiro está perseguindo uma linda jovem chamada Clóris. Quando


ele a captura, a respiração dela se transforma em flores, que você
pode ver caindo de seus lábios.

Depois de capturada, Clóris se transforma em Flora, a deusa das


flores. As flores jorram da boca de Clóris sobre o vestido de Flora e
Flora as espalha sobre a grama por baixo de seus pés.

Acreditamos que a mulher no centro do quadro é Vênus, a deusa


do amor.

Voando sobre ela está seu filho, cupido. Ele parece estar mirando
sua flecha para as três mulheres de cabelos loiros que estão com as
mãos entrelaçadas.

Estas são as Três Graças, as atendentes (ajudantes) de Vênus.

Bem à esquerda, com a mão no quadril, está Mercúrio, o filho de


júpiter, que era o deus do céu e do clima.

Observe, a seguir, uma releitura feita a partir da tela viva, ou seja, cada
personagem da obra de Boticelli ganha vida. Os alunos se propõem
a ser um dos participantes existentes na imagem, não esquecendo o
figurino, as expressões e as posições de cada um dentro do quadro.

Figura 4 - Representação feita por alunos

Fonte: da Autora

100 PEDAGOGIA
Esse é apenas um exemplo de leitura de imagem, pois olhe ao seu
redor e comece a ler as imagens que fazem parte do seu cotidiano.

Lendo as imagens: o uso das cores

Figura 5 - Girassóis, de Van Gogh Figura 6 - Vaso com flores, de


Aldemir Martins

Fonte: http://leroqueli.wordpress. Fonte: http://www.espacoarte.com.br/


com/2013/08/19/van-gogh-a-vida-2/ obras/5845-vaso-verde-com-flores

1 Qual das duas obras você prefere? Por quê?

Que diferença você percebe entre elas?

2 Você sabe quais as flores foram representadas por Aldemir


Martins?

3 Quais as cores usadas na obra Vaso com flores?

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 101


Aldemir Martins representou as flores pintando com manchas coloridas
quase todo o espaço da tela. Dessa forma, temos a impressão de ver
um buque de flores.

Olhando apenas para as flores não é possível identifica-las, apenas


formas coloridas. Só conseguimos ver o vaso com flores se olharmos
a tela inteira.

Diferentemente da obra de Van Gogh, que identificamos nitidamente


os girassóis.

Para fazê-lo, Van Gogh usou tonalidades diferentes de amarelo e, nas


folhas e nos ramos, tons de verde amarelado. O vaso e os girassóis
contrastam com o fundo, pintado em amarelo mais claro, criando um
efeito visual de cores intenso. Quando obsevamos o quadro, as flores,
mesmo sem vida, renascem para o nosso olhar.

As aulas de arte devem ser pensadas para que haja o diálogo, ou seja,
elas não podem ser comandadas de forma direta e objetiva só para a
execução de tarefas. “Além da distribuição dos materiais e observa-
ção do trabalho dos alunos, é preciso incentivar o diálogo com eles a
respeito de suas escolhas e preferências, considerando o objetivo de
mediar o desenvolvimento do gosto estético.” (DONDIS, 2000, p. 45).

Dentro do ensino das Artes Visuais, é preciso que se desperte as per-


cepções visual, espacial e tátil.

A linguagem visual é estruturada por signos visuais encontrados nos


elementos da natureza e em objetos artístico.

Os signos da linguagem visual são formados por pontos, linhas,

formas, cores, texturas, volumes, luz e movimento. Juntos, eles

compõem o que percebemos com o sentido da visão.

Uma atividade que provoca a percepção visual nos alunos é brincar


com a luz, fazendo sombras com as mãos eles aprendem a perceber
melhor o efeito da luz nas cores e nas formas dos objetos e da natureza.

102 PEDAGOGIA
Outro exemplo de percepção visual é a brincadeira de fotografar, pois
nesse tipo de atividade eles observam os por menores dos quais ainda
não haviam dado conta.

Ou seja, as artes visuais nos deixa a vontade para trabalhar, não só


utilizando a releitura das obras de arte, como também usando as brin-
cadeiras ao ar livre para o despertar da visão espacial do aluno.

Lembrando sempre que arte é conhecimento e que nessa perspectiva


pós-moderna do ensino da Arte, que foi desenvolvida pela professora
Ana Mae Barbosa, a abordagem triangular, fortemente influenciada
por Paulo Freire, o ensino da Arte deve incluir, além do fazer e do frui,
o refletir sobre arte.

Relendo as imagens: o uso das cores

Para exemplificarmos melhor como produzir a reelaboração ou


releitura de uma obra, observe a imagem a seguir.

Você já viu essa obra? Estudamos a imagem, anteriormente, na


unidade 1 no movimento expressionista, ou seja, é O Grito de
Edward Munch.

Figura 7 - O Grilo, de Much

Figura: http://marianaplorenzo.com/2010/12/15/a-cultura-bloqueia-a-felicidade/

FUnDAMenTOS e MÉTODOS De enSInO DA ARTe | UnIDADe 3 103


Agora, observe essas outras imagens.

Figura 8 - Homer Simpson Figura 9 - Macaulay Culkin

Fonte: http://www.idealshop. Fonte: http://www.idealshop.


com.br/im-homer-simpson-o- com.br/im-homer-simpson-o-
-grito.html -grito.html

Você reconhece os personagens contidos nas releituras?

Para reelaborar uma obra de arte é preciso que se conheça seu


movimento, estilo, formas existente, mas é necessário que acrescente
algo seu na nova tela, somente assim terás produzido uma nova
imagem, mas baseada na obra já existente.

As imagens acima são de Edward Munch? Pense um pouco.

A resposta obviamente deve ter sido NÃO, essas reelaborações nos faz
lembrar a obra O Grito de Munch, no entanto, agora elas são de quem
as produziu, não faz mais parte da produção artística de Munch.

A releitura é uma prática comum no mundo das artes, pois é um modo


de aprendizado e um exercício criativo. Artistas das mais diversas
linguagens buscam inspiração em obras conhecida para elabora sua
arte, seja ela visual, musical, corporal ou teatral.

Assim como pode haver diversas recriações sobre uma mesma obra de
arte, também é possível haver várias releituras. É essa diversidade de
releituras que devemos aplicar nas aulas de arte.

104 PEDAGOGIA
Quanto maior o número de imagens, sons, gestos e movimentos no
imaginário, mais recursos a pessoa terá para aperfeiçoar a sua releitura.
Tudo depende do repertório cultural de quem a está elaborando.

Observe outro exemplo:

Figura 10 - Abaporu, de Tarsila do Amaral

Fonte: http://www.tarsiladoamaral.com.br/versao_antiga/images/JPG/ABAPORU50.jpg

Figura 11 - Abaporu, de Romero Brito

Fonte: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/tvmultimidia/imagens/2010/arte/abaporu.jpg

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 105


O que observamos é a utilização da obra da Tarsila em ambientes
diferenciados, mas, em todas as telas existe a predominância da
posição da figura dentro do quadro.

Releitura não é feita apenas como trabalho escolar, grandes nomes


da arte também releem obras de outros artistas e acrescenta a ela seu
estilo, como vimos na primeira releitura feita por Romero Brito.

E o que quer dizer releitura? Ler novamente, dar novo significado,


reinterpretar, pensar mais uma vez?

A releitura deve conter elementos da linguagem do artista estudado,


seja usando suas linhas, formas, texturas e ou do contexto social
daquele que produz a obra. A releitura é como se estivesse citando
o autor, ou seja, produzindo uma obra a partir daquela já existente,
sendo incluído agora características da sua realidade artística e estética.

Observe a releitura abaixo, é a Mona Lisa de Botero, que pintou a


Mona Lisa gordinha, fazendo uma citação da obra de Leonardo da
Vinci, sem desconsiderar seu próprio estilo, respeitando a principal
característica de da Vinci: figuras valumosas.

Figura 13 - Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci

Figura 12 - Mona Lisa, de Fernando Botero

Fonte: http://upload.wikimedia.
org/wikipedia/commons/archi
ve/8/85/20090324193314!Mo
Fonte: http://saude.colband.net.br/ na_Lisa.jpeg
files/2013/05/mona-lisa-1.jpg

106 PEDAGOGIA
Releitura comparativa

A releitura comparativa possibilita o (re) conhecimento e o estudo


de várias obras na linguagem verbal. É como se estivesse estudando
Piaget e Vigostki e em seguida associando ao seu conhecimento.

É o que o professor costuma pedir aos alunos: “escreva com suas


palavras”.

Compare as imagens de Piet Mondrian e Joan Miró.

Figura 14 - Vermelho, azul e preto Figura 15 - “Mulheres,


- Piet Mondrian pássaro ao luar”- Miró

Fonte: www.infoescola.com Fonte: RENSHAW, Amanda. O


livro de arte para criança

Para Mondrian as linhas deveriam ser retas e colocadas no quadro de


forma organizada, usando esquadros e réguas.
O artista Joan Miró usava linha curvas, como se os personagens
estivessem se movimentando.

Figura 16 - Boizinho da cultura maranhense

Fonte: adaptado pela Autora

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 107


Agora observe a releitura comparativa feita por um aluno do curso de
extensão em Arte/Educação do Instituto Salvador Dalí - IESD.

Existem elementos da linguagem dos dois artistas se unindo à


linguagem e vivência de quem fez a releitura. Nesse caso as linhas
curvas se juntaram às linhas verticais e horizontais de Mondrian e as
cores primárias, com contorno preto. E a realidade do interlocutor,
aquele que produz a obra e (re) ler, com traços de sua realidade.

Observe a figura do boizinho da cultura maranhense, usa a estrela e


lua de Miró e as linhas e cores de Mondrian.

Vimos que através da abordagem Triangular da arte/educadora Ana Mae


Barbosa podemos repensar acerca do ensino de arte, reconhecendo a
arte como sendo capaz de ser ensinada e aprendida, na qual o uso das
etapas dessa abordagem nos auxilia no desenvolvimento do trabalho
com a arte independente da linguagem – teatro, música, dança ou
artes visuais.

Contextualização histórica

Fazer Artístico Apreciação da obra de Arte

Neste caso, não existe uma organização, você pode começar a leitura
de imagem a partir da história do artista, em seguida apreciar, depois
fazer, ou apreciar e depois... Enfim, não é uma receita pronta e
acabada e sim uma construção com o aluno.

Podemos apreciar a natureza, as pessoas, os bichos, as ruas etc.

Que tal descrever o percurso de casa até a escola? Consegue lembrar


de tudo? Ou só olha e não vê?

108 PEDAGOGIA
Observe agora os colegas de sala: como estão vestidos, as expressões,
os gestos etc.
Isso também é leitura de imagem ou leitura de pessoas. Observe a
imagem ao lado.
Analise a imagem e responda. O que vejo? Que tal desenhar seu
autorretrato? Olhe-se no espelho e comece, depois leia o poema a
seguir e relacione ao quadro acima.

RETRATO

Figura 17 - Auto-retrato, de Tarsila do Amaral

Fonte: http://www. tarsiladoamaral.com.br/ images/JPG/AUTORETRATO50. jpg

“Eu não tinha esse rosto de hoje

Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão
vazios,

Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e


mortas;

Eu não tinha esse coração

Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:

- Em que espelho ficou perdida a minha face?”

Cecília Meireles

O que o poema tem a ver com o autorretrato?

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 109


Assim, temos a leitura verbal com o poema de Cecília Meireles e a
leitura visual a partir do seu autorretrato.

Teatro

É necessário a desmistificação de que a performance teatral só pode


acontecer no espaço “santo sacro” – o Teatro.

Com o advento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, as artes cênicas


ganham espaço na sala de aula e os professores e alunos percebem
que o espaço, cenário e roupas não são de fato o mais importante para
uma apresentação, o olhar amplia-se para o reconhecimento do corpo
como agente primeiro para execução de uma performance.

Atualmente, encontramos apresentações teatrais nas ruas, escolas e


igrejas; assim percebemos o jogo teatral como sendo mais importante,
a imaginação faz com que o aluno viaje no mundo do faz–de–conta.

Mas, ainda encontramos escolas onde o Teatro-Educação é visto


apenas como momento de descontração dos estudantes, no qual o
teatro serve apenas para festejar ou adornar, demonstrando o atraso
que permanece nas mentalidades que constituem, de alguma forma,
nosso sistema educacional.

Assim, faz-se necessário lembrar as questões históricas do Teatro-


educação. Em nosso país, não há uma tradição de ensino de teatro,
apesar de nossa colonização jesuítica ter se utilizado desta linguagem
para incutir sua ideologia.

Há, na realidade, uma espécie de consenso que estabelece o teatro


escolar como mera carnavalização catártica, que foi aos poucos
adquirindo e valorizando modelos impostos pela mídia sem nenhuma
crítica.

O binômio Teatro-Educação exige do educador um voltar-se para a


história do próprio teatro, articulando o exercício crítico do ato de ler e
do apreciar com o fazer.

110 PEDAGOGIA
O professor Arão Paranaguá em seu texto Dimensões Pedagógicas do
Teatro na Educação: metodologia de ensino e outras questões, afirma
ser necessário a organização do conteúdo e o planejamento para as
atividades de teatro na escola:

Apesar de toda uma história própria, é necessário


ter certas cautelas quanto a discussão das questões
de metodologias do ensino escolar de teatro. Vale
lembrar que, sem articulação de todos os compo-
nentes curriculares – objetivos, conteúdos, métodos
de ensino/aprendizagem e avaliação-, qualquer ação
didática pode se tornar inócua. Para tanto, a par do
conhecimento específico da linguagem cênica, torna-
se imprescindível ao professor observar quais são os
procedimentos adequados para o planejamento das
suas atividades (SANTANA, 2000, p.43)

Assim, os jogos teatrais devem ser bem articulados para possibilitar


uma leitura da realidade, e essa, transformada ou denunciada através
da ação - teatralização:

O processo de jogos teatrais visa efetivar a passagem


do jogo dramático (subjetivo) para a realidade ob-
jetiva do palco. Este não constitui uma extensão da
vida, mas tem sua própria realidade. A passagem do
jogo dramático ou jogo de faz-de-conta para o jogo
teatral, pode ser comparada com a transformação do
jogo simbólico (subjetivo) no jogo de regras (socializa-
do). Em oposição à assimilação pura da realidade ao
eu, o jogo teatral propõe um espaço de acomodação
através da solução de problemas de atuação (SAN-
TANA, 2000, p. 44).

Assim como os jogos teatrais são importantes para o desenvolvimento


da criança, o texto teatral é para ser representado. A leitura deste
tipo de texto em sala de aula faz o maior sucesso, desenvolvendo
habilidades de leitura e escrita. É utilizado, principalmente, para
promover o desenvolvimento da linguagem oral. Sabem por quê?
Porque possibilita a oportunidade de vivenciar múltiplos papeis,
adequando a fala a diferentes padrões, de acordo com o lugar onde
se passa a história, o tempo, o tipo de pessoa, o grupo social a que
pertence cada personagem.
Exige da criança a participação integral, seu coro, sua fala, seu gesto,
a manifestação de expressões e a comunicação de sentimentos
importantes para a compreensão do que representa a linguagem na
vida do ser humano.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 111


Ao trabalhar o texto teatral, o professor tem uma participação muito
importante, pois precisa conhecer as etapas do desenvolvimento da
linguagem dramática da criança, observando a faixa etária da mesma.
Isto é, quando lidamos com crianças de até sete anos de idade, elas se
encontram na fase do faz de conta.
É quando a realidade é retratada da maneira que é entendida e
vivenciada. Elas ainda não são capazes de refletir sobre temas abstratos,
distantes do seu cotidiano, do vivido.
Após os sete anos, já se preocupam em mostrar os fatos mais realistas,
estão mais conscientes e comprometidas com o que dizer por meio do
teatro. Daí a necessidade de o professor ser um elemento fundamental
na aprendizagem e desenvolvimento da criança nas atividades com
texto teatral, considerando que as mesmas não são simples transmissões
de uma técnica cênica.
Quando a criança se expressa na linguagem dramática, compreende
o teatro como ação coletiva, apreciando de forma crítica as produções
artísticas das diversas culturas.
Vamos exercitar a leitura teatral? Procure fazer as falas dos personagens
e as expressões transmitidas em cada fala, com entonação nas falas de
alegria, de tristeza, de dor, assim por diante.
A seguir, leia com atenção o texto “O Menino e o Vagalume” e reflita
sobre como ele pode ser utilizado em sala de aula.

O MENINO E O VAGALUME

(Palco decorado por árvores.)

Narrador: Era uma vez um menino que andava perdido pela floresta.
Ele chorava e andava, chorava e andava.

Menino – Mamãe, mamãe, estou perdido. Não acho o caminho de


casa. Que farei, meu Deus?

Vagalume – Por que você está chorando?

112 PEDAGOGIA
Você está sozinho a esta hora na floresta?

Menino – Eu me perdi. Vim atrás de um passarinho que cantava tão


bonito... Ele voou, entrou na floresta, eu entrei atrás dele e me perdi.

Vagalume – Ainda bem que eu estou aqui para ajudá-lo. Vou ficar
junto com você.

Menino – Obrigado, vagalume. Pelo menos tenho sua companhia.


Narrador – Pouco a pouco começou a escurecer. A floresta estava
calma. Os animais procuravam seus refúgios.

Os passarinhos se aquietavam nos ninhos. A escuridão tomava conta


da mata. O menino teve medo, muito medo.

Menino – Eu estou com muito medo, muito medo, quero ir para junto
de minha mãe. Mamãe, mamãe, me acuda!

Vagalume – Não tenha medo. Olhe para mim. Eu tenho a luz. Siga-
me. Vou iluminar o seu caminho.

Em breve você estará abraçando sua mamãe. Vamos.


Menino – Obrigado! A única coisa que eu quero é ir para casa. Eu
quero mamãe.

(Saem. O menino vai atrás do vagalume.)

Narrador – E assim, graças ao pequeno vagalume, o menino pôde ir


para casa e abraçar sua mamãe.

(O vagalume volta para o centro da floresta. Aparece o vagalume


voltando.)

Referência
LADEIRA, Idalina. CALDAS, Sarah. Fantoches & CIA. Arte Educação.
Literatura Infantil. LÍNGUA Portuguesa. Pedagogia. Ed Scipione, 1989.

Percebeu como pode ser atrativo uma aula de teatro? O que precisa
ser feito é pesquisado, programado, planejado com antecedência para
que tudo saia como esperado.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 113


Você pode propor diversas atividades de sensibilização teatral na sala de
aula. Lembre-se de iniciá-las sempre com exercícios de concentração.

Mas agora que tal um pouco de jogos teatrais? Você já ouviu falar
sobre esse assunto?

Jogo teatral

Jogo Teatral é o termo utilizado em português para designar qualquer


estrutura de jogo que possa ser utilizado no teatro, sejam dramáticas
(a partir de textos de teatro), cenas ou improvisações, ou também na
forma de jogos lúdicos ou brincadeiras.

Convencer, para um autoritário, é passar uma esponja na possibilidade


de duvidar. Convercer para um educador radicalmente democrático é
jamais passar a esponja em nenhuma possibilidade de dúvida (Paulo
Freire).

Para entender a diferença entre jogo dramático e o


jogo teatral, é preciso lembrar que a palavra teatro tem
sua origem no vocábulo grego Theathon que significa
‘local de onde se vê’ (plateia). A palavra drama, tam-
bém oriunda da língua grega, quer dizer ‘eu faço’, eu
luto (SLADE, 1978, p.18).

Figura 18 - Viola Spolin


No jogo dramático entre sujeitos (faz de conta) todos são “fazedores”
da situação imaginária, todos são atores. Nos jogos teatrais o grupo
de sujeitos que joga pode se dividir em “times” para outros que os
“observam” e “observam” outros que “jogam”. A finalidade do
processo é o desenvolvimento cultural e o crescimento pessoal dos
jogadores através do domínio e uso interativo da linguagem teatral,
sem nenhuma preocupação com resultados estéticos cênicos pré-
concebidos ou artisticamente planejados e ensaiados. Paralelamente,
contudo, deve ser examinado o uso cênico de palavras em situações
teatrais improvisadas que incorporem a expressão verbal e, nas quais,
o emprego da palavra no jogo teatral possa fornecer pistas sobre a
Fonte: http://www.spolin.com/
images/scollage-1.gif elaboração intersubjetiva de seu sentido.

No entanto, na escola o Teatro/Educação deverá acontecer


mediado pelo professor(a), que contribuirá com perguntas, dúvidas,
comparações, lembranças, experiências.

114 PEDAGOGIA
Elementos utilizados por Spolin na sistematização de uma atividade
teatral.

FOCO (POC) Ponto de Concentração - O problema a ser resolvido;


o nível de concentração do aluno-ator é determinado pelo seu
envolvimento com o problema a ser solucionado.

Plateia - Observador/participante

A noção de área de jogo - proposição e demarcação da área de jogo.

Estrutura dramática

QUE ____ AÇÃO

QUEM ____ ENVOLVIDOS NA AÇÃO


ONDE ____ LOCAL ONDE REALIZA A AÇÃO.

Através da educação são formados valores que fundamentam as bases


sociais, contribuindo para a organização de uma identidade social. O
educador deve, constantemente, repensar seus processos pedagógicos,
pensando num desenvolvimento global do indivíduo como sujeito
responsável pela manutenção de uma história político-social.

Preparação do jogo teatral

Figura 18 - Alunas do Instituto Salvador Figura 19 - Realização do jogo


Dalí, preparando os objetos com jornais teatral – Alunos Pronera – UEMA

Fonte: adaptado pela Autora Fonte: adaptado pela Autora

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 115


Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’S

Não é a obrigatoriedade da Lei de Diretrizes e Bases, nem o


reconhecimento da necessidade da arte nos PCN’s que tornam os
alunos aptos a entenderem Arte. É a ação inteligente do professor que
favorece o crescimento dos alunos. Mais do que falar dos conteúdos, as
aulas de Arte devem fazer com que os alunos estabeleçam relações ao
longo do tempo. Para melhor delinear esse caminho a ser percorrido
pelo professor, os PCN’s adotam a Abordagem Triangular, linguagem
utilizada por Ana Mae Barbosa.

Contextualização

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s, sob vários


aspectos o teatro proporciona experiências que contribuem para o
crescimento integral da criança. No plano coletivo, o teatro oferece
o exercício das relações de cooperação, diálogo, respeito mútuo,
reflexão sobre como agir com os colegas e flexibilidade de aceitação
das diferenças e aquisição da autonomia.

É a contextualização o fator de socialização consciente e crítico,


pois tira o aluno do analfabetismo cultural. As atividades voltadas
para o entendimento dos elementos da linguagem teatral, agora
contextualizadas, irão despertar interesse no aluno.

Produção

O fazer teatral possibilita a compreensão de todas as etapas de produção,


da construção do objeto e do ato artístico. Nessa etapa, o aluno irá
contextualizar os conceitos adquiridos e irá experimentar os erros e acertos,
facilidades e dificuldades do processo criativo. O aluno irá encontrar-se
consigo mesmo e perceberá que tudo é fruto de muito trabalho.

116 PEDAGOGIA
Apreciação/Fruição

A apreciação estética desenvolve o senso crítico do estudante. O critério


usado para a apreciação estética deve ser sempre a partir da realidade
do aluno, de seus conhecimentos prévios e de sua experiência no
cotidiano.

Maria Lúcia Pupo ressalta a importância do trabalho desenvolvido por


Viola Spolin e apresenta o sistema de jogos teatrais constituídos por
Viola (1993, p. 117):

No sistema de jogos teatrais [...] um conjunto de re-


gras ainda mais preciso cerca a improvisação teatral
feita em grupo:
- O foco: atenção voltada para um aspecto específico
da linguagem teatral, como por exemplo, tornar real
um objeto imaginário, espelhar a ação desenvolvida
por um companheiro ou elaborar um personagem a
partir da sensação causada por um fragmento de fig-
urino.
- Instrução: dada pelo professor ou diretor, relembran-
do o foco.
- Avaliação: pela plateia, a partir do foco.

Ousamos dizer que o processo de jogos teatrais, na concepção de


Viola, pode ser compreendido como ensino da Arte de tendência
contemporânea, por trabalhar com o fazer, o ler e o apreciar, além
disso, enfatiza Pupo (1991 apud FERRAZ; FUSSARI, 1993, p.117):
“[...] o caráter estético da atividade é assegurado pela experimentação
coletiva da linguagem teatral”.

Sobre o jogar lembra, ainda, Pupo (1991 apud FERRAZ; FUSSARI,


1993, p.117):

O jogo dramático na acepção acima referido, ou o jogo


teatral – o aluno se defronta com o prazer lúdico, com
a certeza da atitude de outro na ação improvisada, ex-
perimentando o mundo em condições que poderiam
ser caracterizadas como sendo de baixo risco, através
do ‘como se’ regulamentado coletivamente.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 117


Sugestões de Jogos Teatrais

JOGO 1 - ESPELHO

Foco: Adquirir o confiança do grupo nas cenas.

Descrição: Cada componente do grupo escolherá um parceiro, onde


um será o espelho e o outro o comando. O espelho deverá repetir os
gestos e movimentos do comando como: pentear-se, pular, expressar
caretas, abaixar etc., simultaneamente. Depois o espelho passará a ser
comando e o comando espelho.

JOGO 2 - BLABLAÇÃO

Foco: Vender um produto.

Descrição: Convide um aluno para jogar. O restante da sala será a


plateia. O jogador deverá vender um produto falando numa língua
inventada (blablação). Lembre-se de instruir o jogador, pedindo que
ele faça expressões corporais e variações sonoras para convencer,
utilizando apenas a palavra blablação, a comprar o produto.

JOGO 3

Foco: Ampliar as possibilidades de expressão.

Descrição: 1 Caminhar, livremente, e ao ouvir o nome de um


animal, imitá-lo. Primeiramente só com movimentos corporais e
depois introduzindo o som característico. 2 Caminhar, livremente,
e quando a música parar, fazer a estátua do animal falado pelo
professor. 3 Imitar o andar de um animal no ritmo de palmas ou
batidas de um tambor.

118 PEDAGOGIA
JOGO 4

Foco: Pular uma corda imaginária.

Descrição: Reunidos em grupo de três integrantes, dois deverão


bater corda e o terceiro, pular (em ritmo normal, lentamente, foguinho,
varindo a altura da corda etc.).

Observe que é possível fazer esse jogo, utilizando outras atividades


como jogo de futebol, queimado etc. Tudo é possível através apenas
da imaginação.

A quantidade de jogos teatrais que podem ser desenvolvidos na escola


é inúmera, Viola Spolin nos deixou um grande legado de atividades
que auxiliam na socialização e envolvimento com o mundo das artes
cênicas.

Lembre-se que é possível utilizar uma obra de arte para teatralizá-la,


utilizando a abordagem triangular no desenvolvimento a atividade.

Veja como através da obra Retirantes de Candido Portinari.

Comece estudando a imagem, seus personagens e como estão vestidos,


a situação econômica na qual estão envolvidos naquela cena. Montar
a história junto com os alunos, criando fala para os personagens.

Figura 20 - Retirantes, de Portinari

Fonte: http://www.proa.org/exhibiciones/pasadas/portinari/salas/id_portinari_retirantes.jpg

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 119


Conte a história dessa família, imaginando o que aconteceu com eles,
após a chegada ao destino final.

No ensino da Arte, o fundamental é a criatividade e envolvimento com


as produções artísticas dos grandes artistas e dos alunos.

Música

O Poeta português Fernando Pessoa fez um alerta muito feliz da função,


da natureza e da importância da arte, escrevendo: “A necessidade da
arte é a prova de que a vida não basta.”

Sem eleger a arte como substituta da vida, o Poeta revela a natureza


lúdica da arte, capaz de apontar e preencher os vazios da vida e
utopicamente anunciar um mundo melhor. A expressão artística está
sempre a favor da vida no seu sentido maior, portanto, a Arte é de
todos, sendo a música uma das formas artísticas de maior divulgação
e abrangência, alcançando todas as idades e classes sociais sem
distinção.

A educação musical, que deve ser indissoluvelmente


cultural, gestual e emocional, enquadra-se numa for-
mação global da personalidade. Com vistas a esta fi-
nalidade fundamental, a busca de recursos pedagógi-
cos permanece indefinida; tanto quanto nos outros
setores, também aqui não existem receitas infalíveis,
mas apenas opções e direções mais ou menos fecun-
das ou esterilizadoras em função da única coisa que
nos importa: fazer da música uma dimensão integran-
te da personalidade, uma permanente exigência da
vida (FORQUIM, 1982, p. 82).

Por seu caráter inventivo e profundamente humano, todas as


manifestações artísticas contribuem de forma única para o mundo
do conhecimento porque exercita a “sensibilidade” emocional ou
subjetiva do indivíduo ou do grupo, fazendo aflorar a criatividade que
se “esconde” em cada um. Dentro do universo escolar, a arte é material
privilegiado para complementar o ensino sistematizado, rompe com
as atividades cotidianas e enfadonhas, e é alternativa necessária para
aproximar conhecimento e prazer. Você deve estar se perguntando:

120 PEDAGOGIA
como a música pode participar dos conhecimentos desenvolvidos
dentro da escola?

Devemos refletir como o mundo está repleto de sons. E que desde


o momento que acordamos, até a hora que vamos dormir, ouvimos
diferentes sons.

Às vezes, certos sons são tão marcantes no nosso dia a dia, que nem
os percebemos, como é o caso, por exemplo, do ventilador, do ar-
condicionado, que só percebemos quando o som se interrompe ou
recomeça.

Há sons que guardamos na memória, porque foram importantes em


algum momento de nossa vida. Será que você é capaz de lembrar
algum? Existem sons que são sinais, isto é, que nos indicam algo
específico, como o som do telefone ou da campainha da escola. Há
outros, como o toque do caminhão do gás, que são verdadeiras marcas
sonoras. Há os sons que identificam o ambiente, por serem peculiares,
enquanto outros são típicos de determinadas época do ano, ou de
certa hora do dia. Os passarinhos cantam pela manhã, enquanto os
sapos e grilos preferem a noite. O ambiente sonoro se modifica no
tempo e no espaço.

Há muitos tipos de som: os naturais, os produzidos por seres humanos,


ou por objetos e máquinas. Num ambiente rural ou numa cidade
pequena, predominam os sons naturais; na cidade grande sobressaem
os sons de objetos e máquinas. Pois os sons urbanos são em maior
número e mais forte do que os naturais. Quando essa relação se
desequilibra, mostrando predominância dos primeiros em relação aos
segundos, estamos numa zona de perigo, que pode causar problemas à
saúde. Hoje, dentre os diversos tipos de poluição ambiental, à ecologia
identifica a poluição sonora, fruto da relação desequilibrada entre as
pessoas e o som do meio ambiente.

Já falamos em vários tipos de sons. Mas, o que é som? Ele é o resultado


da vibração de um corpo. Pode ser uma corda, um tubo de ar, um
tronco de uma árvore, um pedaço de madeira. O ouvido humano
escuta sons que se situam entre 20 e 20.000 vibrações por segundo.
Quanto maior o número de vibrações, mais agudo é o som. Quanto
menor, mais grave. Essa característica sonora, que vai do grave ao

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 121


agudo, é conhecida como altura, ou frequência. O músico desenvolve
uma grande habilidade em reconhecer o som por sua altura.

Quando alguém canta as notas musicais Dó, Ré, Mi, Fá, Sol...,
está colocando os sons em ordem de altura. Quando ouvimos uma
melodia, podemos notar que ela combina diferentes alturas, isto é,
sons graves, médios e agudos. Perceba a quantidade de sons que
estão presentes na nossa vida diária, dentro e fora da escola; esse som
quando organizado pode se transformar em música, que levado para
a sala de aula, conseguimos utilizá-lo como conhecimento.

A música tem servido também como processo terapêutico através da


musicoterapia, pois, as expressões musicais estiveram sempre presentes
e causaram grande prazer e benéficos à humanidade.

A música se divide em três partes: melodia, harmonia e ritmo.

Você sabe o que cada divisão dessas representa? Vejamos:

• Melodia – combinação sucessiva de sons, é a parte cantável de


uma música (uma linha imaginária, sinuosa e sonora);

• Harmonia – combinação simultânea dos sons (bloco sonoro);

• Ritmo – equilíbrio dos movimentos (pulsação sequenciada).

Partindo dessa tríplice divisão da música e tentando definir a visão


representativa e filosófica de cada uma das partes, a Melodia representa
a criatividade. É importante salientar que criatividade é aqui definida
como inspiração.

A música tem feito parte da vida escolar apenas no momento das


comemorações, onde a professora ensaia com seus alunos uma
música para ser apresentada durante o evento. Mas, será que essa
mesma música foi trabalhada de forma global, em que as crianças,
ao ouvirem, reconhecem os instrumentos musicais presentes em sua
harmonia, compreendendo a sua letra, identificando os sons graves
e agudos existentes, ou, apenas a repetem? Para haver conhecimento
musical é necessário que o aluno vivencie a música, produza alguns
instrumentos e crie suas possibilidades na construção da melodia.

122 PEDAGOGIA
De acordo com os PCN’S Arte (1997, p. 77):

Para que a aprendizagem da música possa ser funda-


mental na formação de cidadãos é necessário que to-
dos tenham a oportunidade de participar ativamente
como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisa-
dores, dentro e fora da sala de aula. Envolvendo pes-
soas de fora no enriquecimento do ensino e promov-
endo a interação com os grupos musicais e artísticos
das localidades, a escola pode contribuir para que os
alunos se tornem ouvintes sensíveis, amadores talen-
tosos ou músicos profissionais.

Mas, para que isso aconteça é preciso que se trabalhe a música na


escola com os alunos, e que se proporcione condições para que
possam criar.
Uma maneira bastante educativa e prazerosa é organizando os alunos
para que montem a “bandinha” da escola, utilizando instrumentos
produzidos por eles, tais como o maracá, o reco-reco. Veja como eles
podem ser construídos a partir de sucata.
• PAUS RÍTMICOS – dois pedaços de pau de vassoura com
aproximadamente 30 cm cada um. Pintados ou envernizados;
• LIXAS – produzem efeitos bonitos na melodia. Pegar duas
caixas em forma de um paralelepípedo ou cubo. A lixa deve
ser colada ou presa com percevejos. Colocar uma correia de
tecido resistente presa com percevejo nas costas de cada caixa
para servir de alça. Friccionar uma parte da caixa na outra;
• PRATO – grande ou pequena tampa de panela ou lata. Furar
a tampa no centro e colocar couro para segurar. Decorar com
barbante ou lã para dar um colorido bonito ao instrumento;

Figura 21 - Pratos

Fonte: http://www.musicalstore2005.com/paiste-101-universal-set-14-
16-20-set-piatti-hi-hatcrashride-p-18562.html

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 123


• TRIÂNGULO – usar uma prensa e uma barra de ferro de 0,5
cm de espessura. Encaixar parte da barra na prensa e martelar
até ela tomar a forma de um V, sendo um lado um pouco maior
que o outro. Suspender o triângulo em um barbante;

Figura 22 - Triângulos

Fonte: http://www.izzomusical.com.br/produto/triangulo-infantil-dolphin

• GANZAR – duas latas de leite condensado ou refrigerante.


Rechear a lata com pedrinhas ou sementes, fechando-a com
fita adesiva ou esparadrapo;
• TAMBOR – uma lata sem tampa. Colocar em cima um pedaço
de couro e prender a lata com esparadrapo, bem preso. Percutir
com as mãos ou utilizar baqueta;
• BAQUETA – um pedaço de cabo de vassoura de uns 15 cm.
Cobrir a ponta com feltro;
• RECO-RECO – dentar um pedaço de cano de 30 cm e cortar
um pedaço de ferro de 20 cm. O som é produzido raspando a
parte dentada com a vareta;
• GUINZO – com as tampinhas fazer um furo no centro e enfiar
no pedaço de arame de 40 cm as tampinhas (05 tampinhas);
unir as extremidades do arame formando um círculo. Proteger
com fita adesiva as pontas do arame. Balançar com umas das
mãos;
• COQUINHO – cortar o coco ao meio formando um par, lixar
até obter uma superfície lisa tanto por dentro como por fora, e
nas bordas. Pintar em cores alegres e vibrantes. São percutidos
um contra o outro, tanto pelo lado da abertura quanto pelo
lado oposto;

124 PEDAGOGIA
• CLAVA – cortar o cabo de vassoura em pedaços de 20 cm,
lixar a extremidade e pintar os pares. Bater um contra o outro.

O Estado do Maranhão, com sua diversidade cultural, tem muito


o que ensinar sobre música, pois ouvimos nas ruas o batuque dos
tambores de crioula, as caixas das Caixeiras do Divino Espírito Santo,
as matracas e maracás do Bumba meu boi, que podem ser usados
como recursos a mais nas aulas de música, partindo do local para
em seguida incorporar músicas em que aparecem toda a orquestra
tocando.

Incentivando a criança a criar, improvisar e interpretar, estaremos


contribuindo de forma significativa para seu aprendizado musical.

A canção oferece ainda a possibilidade de contato com


toda a riqueza e profusão de ritmos do Brasil e do mun-
do, que nela se manifestam principalmente por meio de
seus elementos: o arranjo de base. Nas atividades com
esse elemento é importante lembrar que se considera
música, por exemplo, tanto uma batucada de samba
quanto uma canção de ninar (Ibidem, p. 78).

Às vezes, pode parecer difícil ministrar aulas de música, mas vale salientar
que o ensino da música e da arte de um modo geral, não tem a intenção
de transformar os alunos em grandes artistas, mas conhecedores da arte, o
que de fato nos interessa é que nossos alunos sejam alfabetizados também
em Arte.

Observe outras atividades que podem ser trabalhadas nas aulas de música.

1 Quem está falando?

Faça um círculo com os alunos, vende os olhos de um deles e leve-o


ao centro da roda, enquanto os amigos cantam este versinho com
melodia de “cirando, cirandinha”:

Agora eu quero ver a (nome de quem está vendado) adivinhar.

Ouça a voz do amiguinho que agora vai falar.

Ao terminarem, um colega fala ou canta uma frase para ser identificado.


Este deve acertar o nome de quem falou e apontar de onde veio o
som.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 125


2 Reconhecendo a melodia

Faça um círculo com os alunos e peça que cada um pense numa música
que goste muito e que saiba cantar. Um a um, peça que cantarolem a
melodia dessa canção usando apenas “lá, lá, lá”, para que os demais
tentem conhecê-la.

3 Inventando melodia

Escreva uma frase curta no quadro (uma parlenda ou ditado popular,


por exemplo), marque seu ritmo com as crianças e peça que cada
um invente um jeito de cantá-la – ou seja, que cada um invente uma
melodia.

4 Morto e vivo

Faça, primeiramente, a brincadeira na versão tradicional, em que


as crianças abaixam e levantam ao seu comando. Em um segundo
momento, escolha dois instrumentos diferentes, um com som mais
grave, que signifique “morto” (tambor, por exemplo) e outro com som
mais agudo, que significa “vivo” (chocalho, por exemplo).

A arte está por toda parte. Nas danças de uma festa, na música que
escutamos no rádio, nas fachadas de um prédio e nos vitrais da igreja.
Mas, se nossos olhos e ouvidos não estiverem atentos, a arte nos
escapa. Quantas vezes, por exemplo, passamos por um monumento
público sem notar a delicadeza de seus detalhes, ou por aqueles artistas
de rua que ficam nas praças da cidade tocando flauta ou saxofone e
não o percebemos?

Quando trabalhamos música precisamos utilizar todo o espaço da


sala, para isso, é necessário que o ambiente esteja limpo, para que
as crianças possam sentar-se ao chão, e envolver-se na atividade com
segurança.

Dentro da sala de aula é preciso que o professor esteja atento à música


produzida pelas crianças e que as incentive para que sejam capazes de
passar pelas ruas e notar – apreciar a arte por trás da movimentação
do dia a dia.

126 PEDAGOGIA
Dança

Quando se fala em Dança na Escola, pensamos logo naquelas


coreografias reproduzidas de grupos de dança, existentes na mídia,
com intuito de serem apresentadas nas festinhas de fim de ano, Dia
dos Pais, Dia das Mães etc.

Logo, desconsidera-se que a Dança é uma linguagem artística que pode


ser ensinada na escola, mas por quem? Quem está verdadeiramente
preparado para essa linguagem, aquele professor licenciado em
Educação Artística ou Educação Física?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais compreendem o Ensino de Arte


nas escolas abrangendo as quatro linguagens artísticas: Artes Visuais,
Teatro, Música e Dança.

Historicamente, no entanto, a área de Dança tem sido


marcada pela falta de profissionais qualificados para
ensiná-la em nosso país. Frequentemente deixado
a cargo de professores com formação em Pedago-
gia, Educação Física ou Educação Artística que, na
maioria dos casos, não têm experiência e/ou reflexão
pedagógica com a dança, ela constantemente vem
sendo escolarizada e descaracterizada enquanto arte
(MARQUES, 2003, p. 35).

Assim, o professor de arte deve compreender a importância do ensino


da Dança para o desenvolvimento psicossocial do aluno. Para isso
é preciso perceber a Dança como movimento estabelecido pelo ser
humano, então, Dança é movimento. Sendo assim estamos dançando
sempre, pois nos movimentamos constantemente.

Tudo na vida é movimento: o universo move seus


sistemas e cada sistemas seus sóis, estrelas, planetas
e satélites.
As estações se sucedem ritmicamente, assim como o
dia segue a noite, e a Lua ao Sol.
A vegetação evolui em ciclos rítmicos, sobem e baixam
as marés, o ser nasce, cresce, decresce e morre.
O homem é testemunha e partícipe de todo esse
movimento que o maravilha e expressa em danças
seu assombro, sua necessidade de compreensão
(OSSONA, 1998, p. 41).

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 127


Rodolf Laban (1978) aconselha que antes de adotarmos um sistema
de dança, devemos estudar os esforços instintivos da criança ocorridos
durante seu autodesenvolvimento.

Segundo suas observações, os primeiros movimentos-esforços da


criança pequena são SOS de tentar mover seus membros, golpeando
com os braços, dando pontapés, ferindo o ar com os braços e pernas;
e principalmente, flexionando todo o corpo na forma de torções e
rotações, em ações rápidas, fortes e diretas, numa tentativa de abrir a
forma esférica do seu corpo.

Este esforço de desenroscar a forma de bola do seu corpo reflete-se


nos seus primeiros movimentos de dança, ao saltar, lançando-se no
ar, tentando vencer a gravidade. À proporção que cresce, a criança
vai assumindo o domínio desses movimentos. Segundo Laban, este
esforço, realizado para controlar os movimentos de um corpo infantil,
trazem à criança “desassossego e incômodo”.

Dançar para Laban é uma forma de diminuir tensões internas, o que


seria uma das causas do impulso de dançar, que desperta nas crianças,
numa idade em que ela controla um número limitado de articulações.
Mas a dança é um tipo especial de movimentação e o movimento tem
como fonte, o esforço.

Isadora Duncan

Pioneira da dança moderna, para ela a dança era a expressão de sua


vida pessoal. A técnica parece sem interesse. Seu método consistia
em fazer gestos naturais, andar, correr, saltar, mover seus braços
naturalmente, reencontrar o ritmo dos movimentos inatos do homem,
perdido há séculos, “escutar as pulsações da terra”, obedecer à lei
da gravidade feita de atrações e repulso, da atração e resistência,
encontrar a ligação lógica onde o movimento se transforma em outro
sem parar, continuamente.

Os temas de suas coreografias inspiravam-se na contemplação da


natureza: onda, nuvem, ar, vento. Sua temática orientou-se para os
mistérios do subconsciente e descobriu um sistema de disciplina para o
corpo baseado em tensões, que arrastam todo o corpo em contrações,
recuperações, percussões, queda e suspensões.

128 PEDAGOGIA
Mas, e o que é coreografia? Palavra repetida incansavelmente nos
espetáculos de dança, ou nas apresentações de Bumba meu boi,
ou ainda, nas Danças Portuguesas registradas em todo o estado do
Maranhão na época junina.

Você sabe definir o que é coreografia?

É a arte de compor os passos, os movimentos e os


esquemas de uma dança. O termo pode designar
também os desenhos anônimos feitos para as danças
folclóricas e para as danças clássicas não-ocidentais,
mas é utilizado, de preferência, no âmbito das
composição e criação para o teatro, como o balé.
Um coreógrafo deve coordenar as exigências da
música, dos figurinos e do cenário, além de selecionar
os bailarinos. O coreografo pode trabalhar em
conjunto com compositor musical (ENCICLOPÉDIA
MICROSOFT, Encarta 99).

Ao mesmo tempo em que Isadora Duncan mostrava na Europa e


América uma maneira renovada de dançar, Rudolf Laban elaborava
e divulgava as bases científicas de um método do movimento, que
denominou cinetografia.

Laban (1879 – 1958) foi o terceiro grande teórico do movimento do


corpo, precedendo a Delsarte e Dalcroze, e imbuído dos princípios
desses teóricos, desenvolveu um método, provando que o “movimento
corporal determina todas as formas de arte, pois encerra a energia
básica para qualquer modo de expressão”. Laban foi o autor do sistema
esforço/forma, que serviu de base científica para o desenvolvimento
da dança moderna chamada por Rudolf Laban de “Dança livre”.

Laban chegava ao gesto pelo estudo das ações humanas e


consequentemente ao sentimento, ordenou o movimento humano em
oito esforços básicos.

Veja só algumas sugestões para trabalhar nas aulas de Dança.

Sempre nas aulas de dança é impreterível que se tenha uma sala ampla
para a realização das atividades corporais e um aparelho de som.

- Selecione diferentes sonoridades: musicas e ritmos diferentes, sons


diversos, ou você poderá pedir para que os alunos selecionem e tragam
as músicas que eles gostem.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 129


Desenvolvendo as atividades

1 Organize uma roda para iniciar a aula e explique para os alunos


a proposta da atividade. Ressalte a importância de ouvir tanto os
sons, a música quanto o professor; de ver: o espaço, o movimento
dos outros colegas; de criar: não importa se o movimento é “feio
ou bonito”, “esquisito e/ou engraçado”. O importante é investigar
seus movimentos utilizando todas as partes do corpo. 

2 Inicie aquecendo o corpo em roda, começando pela respiração


abdominal e, pedindo para cada um observar o tempo de sua
respiração e o som ou silêncio. Siga o aquecimento pedindo para
cada um realizar um movimento que aqueça, e todos repetem sem
música, cada um ao seu tempo.

3 O professor pode ao longo deste aquecimento propor mudanças


de velocidade, isto é: fazer este mesmo movimento, mais rápido,
mais lento, muito mais rápido etc. 

4 Introduza o jogo: os alunos, espalhados pela sala, começarão a


se mover a partir do estímulo sonoro, no caso, musical. Quando
acaba o som, cessa o movimento e permanecem em pausa até
começar outro som.

5 Coloque então diferentes músicas (8/10), com tempos e sonoridades


contrastantes para que os alunos tenham experiências diversas. Os
alunos podem num primeiro os olhos para ouvir a música e deixar
o corpo responder a este estímulo.

Ao final deste jogo estimule uma reflexão conjunta: Músicas diferentes


faz com que nos movimentemos de maneira diferente? Qual música
estimulou mais o movimento? Por quê? Existe um consenso? É
importante que os alunos se escutem neste momento. A dança é um
fazer/pensar constante.

130 PEDAGOGIA
1 Vimos que na Metodologia do Ensino do Teatro existe o
sistema criado por Viola Spolim (onde?, quem? e o quê?).
Reflita e proponha a partir desses estudos um projeto para
a sua equipe. Para tanto, é necessário que você lembre que
um sistema articula duas ou mais partes, no caso, o sistema
de Spolim articula três questões – Onde? O cenário, Quem?
As personagens e o Quê? A ação da cena. Construa uma
pequena cena tomando o cotidiano como referência.

2 De acordo com a Abordagem Triangular, que liga três


eixos – a contextualização, leitura/apreciação e o fazer
artístico -, observe a obra do artista surrealista Salvador
Dalí, pesquise e debata sobre esse movimento, conheça
suas obras e em seguida faça a uma releitura a partir do
artista em questão.

3 Discuta com seus colegas como o ensino da Arte vem


acontecendo na sua região. Aponte os pontos positivos e
negativos desse tipo de aprendizado para o desenvolvimento
artístico das crianças.

4 Como vimos é possível produzir instrumentos musicais com


sucata. Produza com sua turma alguns dos instrumentos
citados neste fascículo e monte uma pequena apresentação
dessa nova banda musical. Não esqueça, é preciso ensaiar
antes de se apresentar ao público.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 131


Em Busca da Terra do Nunca (2004)
Sinopse: J. M. Barrie (Johnny Depp) é um bem-sucedido autor
de peças teatrais, que apesar da fama que possui está enfrentando
problemas com seu trabalho mais recente, que não foi bem recebido
pelo público. Em busca de inspiração para uma nova peça, Barrie a
encontra ao fazer sua caminhada diária pelos jardins Kensington, em
Londres. É lá que ele conhece a família Davies, formada por Sylvia
(Kate Winslet), que enviuvou recentemente, e seus quatro filhos.
Barrie logo se torna amigo da família, ensinando às crianças alguns
truques e criando histórias fantásticas para eles, envolvendo castelos,
reis, piratas, vaqueiros e naufrágios. Inspirado por esta convivência,
Barrie cria seu trabalho de maior sucesso: Peter Pan (http://www.
adorocinema.com/filmes/em-busca-da-terra-do-nunca).

Direção: Marc Forster

Gênero: Drama

Elenco: Johnny Depp, Kate Winslet, Julie Christie, Radha Mitchell,


Dustin Hoffman, Freddie Highmore, Joe Prospero, Nick Roud, Luke
Spill, Ian Hart, Kelly Macdonald, Mackenzie Cook, Eileen Essel, Jimmy
Gardner, Oliver Fox, Angus Barnett, Toby Jones, Kate Maberly, Matt
Green, Catrin Rhys, Tim Potter, Jane Booker, Catharine Cusack.

Vila Lobos: uma vida de paixão (2000)


Sinopse: Cinebiografia de Heitor Villa-Lobos, o mais importante
compositor das Américas. A história começa com Villa, já velho,
saindo para um concerto de gala no Teatro Municipal, onde seria
homenageado. É a última vez que o maestro sai de casa com vida.
Seu olhar é febril e atento e a partir desta cena e de outras do
mesmo concerto vão surgindo lembranças de sua vida (http://www.
filmesdecinema.com.br/filme-villa-lobos-uma-vida-de-paixao-5137/).

Direção: Zelito Viana

Gênero: Drama

132 PEDAGOGIA
Elenco: Antônio Fagundes, Marcos Palmeira, Ana Beatriz Nogueira,
Letícia Spiller, Othon Bastos, Marieta Severo, José Wilker, Ilya São
Paulo, Antônio Pitanga.

O Fantasma da Ópera (2004)


Sinopse: Após La Carlotta desistir de uma ópera no dia da estreia, a
jovem Christine Daae tem a chance da sua vida ao assumir seu lugar.
O que ninguém desconfia é que, por trás de todo o sucesso, ela tem
um misterioso tutor - o fantasma da ópera (http://www.cineplayers.
com/filme.php?id=410).

Direção: Joel Schumacher

Gênero: Drama/Musical/Romance

Elenco: Gerard Butler, Jennifer Ellison, Victor McGuire, Minnie Driver,


Miranda Richardson, Patrick Wilson, Emmy Rossum, Simon Callow,
Ciarán Hinds, Murray Melvin.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 3 133


unidade

4
Objetivos dESTA unidade:
PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO DA ARTE
Abordar a prática
docente no ensino da
arte de acordo com a
Como já vimos, o ensino de Arte não é algo novo dentro do sistema organização das aulas;
de ensino. Desde a década de 70 está previsto por lei nas escolas
Apresentar a necessidade
brasileiras, fazendo com que professores fossem impulsionados do compromisso do
a procurar novos caminhos na reorganização do seu trabalho professor ao trabalhar
arte na escola;
educacional.
Conhecer a possibilidade
Entretanto, a situação da formação do professor ficou em segundo de como avaliar os
plano. Primeiramente foi lançada a Lei nº 5692/71, incluindo a alunos no ensino da arte.
atividade de Educação Artística no currículo escolar, para só depois
providenciar a criação das licenciaturas curtas e plenas para suprir
a necessidade implantada.

Os cursos de licenciatura em Arte no Brasil vêm sendo discutidos


e avaliados pela Comissão de Especialistas do Ensino das Artes
(CEEARTES) das Comissões do MEC e da própria Federação de
Arte/educadores do Brasil (FAEB), pois o intuito é adequar essas
licenciaturas à nova LDB nº 9394/96 e aos Parâmetros Curriculares
Nacionais divulgados em 1998.

Contudo, os professores da Educação Infantil e dos Anos Iniciais


continuavam, tendo que ministrar essa disciplina em sua sala de
aula, sem que tenha sido oferecida no curso de Pedagogia, nem
mesmo a metodologia do Ensino de Arte, para que tivessem algum
embasamento teórico/prático que os auxiliassem na elaboração
das suas aulas.
Segundo Barbosa (2006, p. 155): “as faculdades de educação e os
cursos de Pedagogia não estão ainda preparados para responder
atualizadamente a formação dos seus próprios educadores”.

Por outro lado, antecipando-se ao que ocorreu em outras instituições


de ensino superior, a Universidade Estadual do Maranhão - UEMA,
conseguiu implantar no ano de 2007, no seu currículo acadêmico do
curso de Pedagogia, a disciplina Fundamentos e Métodos do Ensino
da Arte, apresentando uma proposta coerente aos PCN’s – Arte,
orientando e fundamentando, através da disciplina, a importância da
arte na formação do estudante.

Essa inclusão do Ensino de Arte no curso de Pedagogia tem auxiliado


e transformado a prática do professor polivalente, pois a sua formação
deve se intensificar à medida que ele se defronta com as situações
reais de ensino e aprendizagem. Deve fazer parte continuamente de
sua profissão a reflexão e a pesquisa, pois o professor para conhecer e
vivenciar a arte precisa sair da sala de aula e interagir com os espaços
culturais, museus, bibliotecas e outras instituições que produzem e
veiculam os bens culturais. Como esclarece Barbosa (2002, p. 31-32):
“Quando falo em conhecer arte falo de um conhecimento que nas artes
visuais se organiza inter-relacionando o fazer artístico, a apreciação da
arte e a história da arte. Nenhuma das três áreas sozinhas correspondem
à epistemologia da arte.”

Para que a prática do professor na disciplina Arte aconteça de maneira


satisfatória, é preciso seguir três passos de acordo com Ferraz e Fusari
(1999, p. 106-107):

a) Constatação (continuada) de quais são as vivências


artísticas e estéticas das crianças e suas relações com os
elementos da natureza e da cultura, incluindo os mais
próximos e os mais longínquos;

b) Encaminhamento (a partir dessas constatações) de:

• Análise dos conceitos, dos saberes em arte


que as crianças ainda não dominam e que são
considerados essenciais para que elas possam
gradualmente diversificar, aprofundar, aprender

136 PEDAGOGIA
o fazer e o entender produções artísticas e suas
histórias;

• Roteiros (planos) flexíveis de curso e de aulas


de Arte junto às crianças ou ajudar o professor
de Arte nessa tarefa), com programas nos quais
apareçam de um modo bem dosado os novos
conceitos artísticos e estéticos que os alunos
deverão elaborar, vivenciar e saber. Para que as
novas vivências expressivas infantis realmente
se concretizem em uma progressão, articular
os conceitos e tópicos de conteúdos em arte a
métodos de ensino e aprendizagem dos mesmos
(sobretudo com etapas e atividades instigantes e
lúdicas);

• Aulas de arte propriamente ditas (com começo,


meio e fim) programadas para as crianças
aprenderem além do que elas já sabem estética e
artisticamente (ou observar como um professor de
arte pratica essas aulas);

c) Discussões periódicas a respeito dos patamares em


que se encontram os saberes artísticos e estéticos das
crianças após as intervenções educativas desenvolvidas.
Avaliar e propor sequências para o curso tendo em vista
a aprendizagem do que ainda falta às crianças saberem
em arte (ou conversar sobre o assunto com o professor
de arte).

Estas três fases devem ajudar na organização dos


planejamentos e dos roteiros (planos) de cursos
escolares de arte. Ao subdividi-las tentamos auxiliar
uma sistematização dos projetos docentes de educação
escolar em artes visuais (desenho, pintura, gravura,
escultura), teatro, música, dança, artes audiovisuais,
dentre outras, junto às crianças pequenas.

Na primeira fase do trabalho, o educador precisa


conhecer as nuances, os níveis e modos da criança

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 4 137


admirar, gostar, julgar, apreciar, poetizar, assim como os
de expressar-se em imagens, sons, gestos, movimentos,
jogos lúdicos frente aos seres, objetos e representações do
mundo que as rodeia. Consequentemente, o professor
necessita saber quais são os componentes da natureza e
da cultura local, regional e nacional que contextualizam
a vida das crianças, se possível comparando-os entre
si e com os de outros países. Com essa preparação,
o professor possibilitará maior envolvimento de seus
alunos e, ao mesmo tempo, colherá subsídios pra
planejar o desenvolvimento das aulas de arte.

A segunda etapa é o momento de tomar consciência,


assinalar e anotar os aspectos essenciais dos saberes em
arte que as crianças ainda ignoram, mas têm o direito
de conhecer. Esses conhecimentos referem-se tanto
à linguagem e produções pessoais artísticas quanto
ao entendimento dos jeitos e técnicas que os adultos
artistas utilizam para expressar, representar e comunicar
suas emoções-ideias a respeito da natureza e da cultura,
ao longo da história local e mundial.

A terceira fase do trabalho do professor é a síntese


das duas primeiras e deve acompanhá-las em
diversos momentos do estudo. Durante o processo
escolar o professor deverá verificar as mudanças com
relação aos níveis anteriores de saberes, ajudando no
aperfeiçoamento sensível-cognitivo das crianças em
suas produções e entendimentos sobre a arte. Esse
acompanhamento tem a finalidade de se avaliar e
retomar continuamente os planejamentos e os roteiros
que objetivam a formação artística e estética infantil.

O professor precisa selecionar, cuidadosamente, os assuntos a serem


abordados em suas aulas, definindo bem os objetivos que pretendem
alcançar com esse conteúdo. Deve haver comprometimento por parte
do educador com os métodos utilizados, sempre contextualizando para
que os alunos conheçam melhor a arte partindo do local, regional,
nacional e internacional, trabalhando com vivência da criança, assim
será mais simples para que elas compreendam os percursos históricos
da arte.

138 PEDAGOGIA
É preciso que o trabalho do professor de Arte não fique isolado nas
paredes da escola. A escola precisa abrir suas portas, mostrar a produção
dos seus alunos e acolher a produção cultural de sua comunidade e
de outros lugares e épocas, somente assim conseguiremos realmente
mostrar a importância e influência da arte na vida da humanidade.

Processo Avaliativo nas Aulas de Arte

Avaliar nunca é uma tarefa tão simples, logo porque ele é sempre
vivido como um processo pessoal que provoca profundo impacto
emocional, pois o mesmo causa dúvida sobre a própria capacidade,
medos, excitação sobe os talentos desenvolvidos e sobre as dificuldades
a serem superadas.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001, p. 95),


avaliar:

[...] implica conhecer como os conteúdos de Arte são


assimilados pelos estudantes a cada momento da
escolaridade e reconhecer os limites e flexibilidade
necessários para dar oportunidade à coexistência de
distintos níveis da aprendizagem, num mesmo grupo
de alunos. Para isso, o professor deve saber o que é ad-
equado dentro de um campo largo de aprendizagem
para cada nível escolar, ou seja, o que é relevante o
aluno praticar e saber nessa área.

O educador Paulo Freire fez uma crítica radical a avaliação com prova
no sentido de provar, de excluir o aluno, que supõe que o educando
tem a cabeça vazia e que o ensino não faz senão preenchê-la com
conteúdo desprovidos de significados para, depois, cobrá-los em
provas ainda menos significativa.

Na realidade, em uma educação viva, as provas respeitam e valorizam


o trabalho do aprendiz e o levam a aprender mais. A avaliação voltada
para a aprendizagem tem o objetivo de diagnosticar dificuldades
e acertos, e assim preparar e estimular os alunos para suas futuras
participações sociais.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 4 139


Dentro do processo avaliativo, o aluno deve ter confiança para enfrentar
esse momento, ou seja, quando eles demonstram não terem temor
excessivo, é porque o ambiente em que estão inseridos no contexto
escolar, existe essa relação de confiança no relacionamento entre os
colegas e professores, dessa forma o aluno sente-se mais seguro para
arriscar.

As salas de aula em que os alunos podem expor suas dúvidas por


meio de perguntas, tornam-se lugares fascinantes. Quando o educador
consegue reunir o grupo em torno de uma atividade, estimular a
aprendizagem como processo, valorizar as iniciativas ousadas e
suscitar nos alunos a crença de que os seres humanos aprendem com
suas falhas e acertos, ele permite que o medo da exibição ceda lugar à
excitação decorrente da geração de novas ideias.

Dessa forma, o professor conseguirá que o momento da avaliação


que é contínuo torne-se prazeroso, período de intensa maturidade
diante dos acertos e erros, e melhor abrindo espaço para que esses
acertos sejam valorizados e, os erros analisados e demonstrados com
possibilidades de possíveis acertos.

Mas, você deverá estar se perguntando no ensino de Arte, a forma de


avaliar é apenas por meio das produções artísticas dos alunos?

É fundamental avaliar e valorizar as produções dos alunos, uma


sugestão seria a criação de um portfólio, onde os alunos guardam o
material produzido e a cada nova atividade irão avaliando e observando
o seu desenvolvimento artístico e estético; no entanto, as avaliações
teóricas, escritas, são importantes para que o aluno se perceba como
parte do processo avaliativo, logo por que a disciplina Arte, como as
demais, tem conteúdos teóricos a serem trabalhados e os quais devem
ser avaliados também.

Então, avaliar no ensino da Arte significa analisar e observar o


desenvolvimento do aluno tanto na teoria quanto na prática, já que
essa disciplina nos possibilita essa dinâmica avaliativa.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Arte, os


alunos do ensino fundamental I, devem ser avaliados segundo os
seguintes critérios:

140 PEDAGOGIA
Artes visuais:

1 Criar formas artísticas demonstrando algum tipo de capacidade


ou habilidade;

2 Estabelecer relações com o trabalho de arte, sem descriminações,


estéticas, artísticas, étnicas e de gênero;

3 Identificar alguns elementos da linguagem visual;

4 Reconhecer e apreciar vários trabalhos e objetos de arte por


meio das próprias emoções, reflexões e conhecimentos;

5 Valorizar as fontes de documentação, preservação e acervo da


produção artística.

Música:

1 Interpretar, improvisar e compor, demonstrando alguma


capacidade e habilidade;

2 Reconhecer e apreciar seus trabalhos musicais, por meio das


próprias reflexões, coesões e conhecimentos, sem preconceitos;

3 Compreender a música como produto cultural histórico em


evolução;

4 Reconhecer e valorizar o desenvolvimento pessoal em música.

Teatro:

1 Compreender e estar habilitado para se expressar na linguagem


dramática;

2 Compreender o teatro como ação coletiva;

3 Compreender e apreciar as diversas formas de teatro produzidas


nas culturas.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 4 141


Dança:

1 Compreender a estrutura e o funcionamento do corpo e os


elementos que compõem seu movimento;

2 Interessar-se pela dança como atividade coletiva;

3 Compreender e apreciar as diversas danças como manifestações


culturais.

No entanto, o professor não precisa sentir-se preso a essa forma de


avaliar, ele pode de acordo com o conteúdo que está sendo trabalhado,
descrever o que de fato quer avaliar no aluno, quais as mudanças –
conceituais e atitudinais - ele pretende que ocorram no educando a
partir do assunto estudado.

Cabe ao professor elaborar um plano de aula, descrevendo passo-


a-passo, seus objetivos diante dos conteúdos a serem desenvolvidos
e reconhecendo a avaliação como processo fundamental para o
desenvolvimento do educando.

Espero que esse fascículo tenha despertado em você o gosto e o prazer


pelo ensino-aprendizagem em Arte. Bom estudo!

1 Pesquisa. Visite uma escola e escolha um ano para você


assistir a aula de Arte daquela turma. Conheça como a
aula acontece e analise se o professor utiliza a Abordagem
Triangular para a aplicação do conteúdo estudado.

2 Compare o conteúdo dos livros didáticos de arte e analise


de que maneira o conteúdo utilizado no ensino fundamental
contribui para um real conhecimento em arte.

3 De acordo com o que foi estudado neste fascículo, monte


um memorial com o seguinte tema: O dia em que me
encontrei com a arte.

142 PEDAGOGIA
O Auto da Compadecida (2000)
Sinopse: As aventuras de João Grilo (Matheus Natchergaele), um
sertanejo pobre e mentiroso, e Chicó (Selton Mello), o mais covarde
dos homens. Ambos lutam pelo pão de cada dia e atravessam por
vários episódios enganando a todos da pequena cidade em que vivem
(http://www.interfilmes.com/filme_12687_O.Auto.da.Compadecida-
%28O.Auto.da.Compadecida%29.html).

Direção: Guel Arraes

Gênero: Comédia

Elenco: Matheus Natchergaele, Selton Mello, Diogo Vilela, Denise


Fraga, Rogério Cardoso, Lima Duarte, Marco Nanini, Enrique Diaz,
Aramis Trindade, Bruno Garcia, Luís Melo, Maurício Gonçalves,
Fernanda Montenegro.

FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE ENSINO DA ARTE | unidade 4 143


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