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psicopedagogia Goiania
dificuldade de aprendizagem, avaliação e reforço escolar
O desenvolvimento motor, a maturação das áreas
corticais e a atenção na aprendizagem motora
The motor development, maturation of the cortical areas and the role of attention in the motor learning
El desarrollo motor, maduración de las áreas corticales y el papel de la atención en el aprendizaje motor
* Prof. LAPE/CEFID/UDESC
Dr. Alexandro Andrade*
**Aluna especial do Mestrado em Ciências do
Movimento Humano/UDESC e Prof ª Caroline di Bernardi Luft**
bolsista rede CENESP/UDESC Prof ª Martina Kieling Sebold Barros Rolim***
*** Aluna especial do Mestrado em d2aa@udesc.br
Ciências do Movimento Humano/UDESC (Brasil)
Resumo
Este estudo teve como objetivo fazer uma análise da literatura visando relacionar o desenvolvimento motor, os aspectos maturacionais das áreas corticais cerebrais, a
atenção e a aprendizagem motora. O desenvolvimento motor é viabilizado tanto pelo processo evolutivo biológico como social. A região préfrontal é a área que mais
demora em ser mielinizada e tem um papel importante no aprendizado. A análise da bibliografia revelou a importância da atenção na aprendizagem motora, sugerindo
que o professor de Educação Física prepare as suas aulas de acordo com o grau maturacional e a motivação das crianças para a aprendizagem.
Unitermos: Desenvolvimento motor. Bainha de mielina. Atenção. Aprendizagem motora.
Resumen
El propósito de este estudio es repasar la literatura para relacionar el desarrollo motor, los aspectos de maduración de las áreas corticales del cerebro, la atención y
el aprendizaje motor. El desarrollo motor es producto tanto de un proceso evolutivo biológico como procesos sociales. La región prefrontal es la última área del
cerebro en la maduración y desempeña un papel importante en el proceso de aprendizaje. El análisis bibliográfico demostró la importancia de la atención en el
aprendizaje motor, sugiriendo que el profesorado de Educación Física prepare sus clases según la etapa maduracional y por la motivación de los niños para aprender.
Palabras claves: Desarrollo motor. Mielinización. Atención. Aprendizaje motora.
Abstract
The purpose of this study is to review the literature in order to relate the motor development, the maturational aspects of the brain cortical areas, the attention and
the motor learning. The motor development is feasible as by the biological evolutive as the social processes. The prefrontal region is the last brain area to be mielinized
and play an important role on the learning process. The literature analysis showed the importance of attention on the motor learning, suggesting that the Physical
Educator should prepare his lessons according to the maturational stage and the children motivation to learning.
Keywords: Motor development. Myelin sheath. Attention. Motor learning.
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital Buenos Aires Año 10 N° 78 Noviembre de 2004
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1. Introdução
O desenvolvimento motor é uma contínua alteração no comportamento ao longo da vida que acontece por meio das
necessidades de tarefa, da biologia do indivíduo e o ambiente em que vive. Ele é viabilizado tanto pelo processo
evolutivo biológico quanto pelo social. Desta forma, considerase que uma evolução neural proporciona uma evolução
ou integração sensóriomotora que acontece por meio do sistema nervoso central (SNC) em operações cada vez mais
complexas (Fonseca, 1988).
Em cada idade o movimento toma características significativas e a aquisição ou aparição de determinados
comportamentos motores tem repercussões importantes no desenvolvimento da criança. Cada aquisição influencia na
anterior, tanto no domínio mental como no motor, através da experiência e troca com o meio (Fonseca, 1988).
Todo o comportamento envolve processos neurais específicos, que ocorrem desde a percepção do estímulo até a
efetivação da resposta selecionada. Esses processos neurais possibilitam o comportamento e o aprendizado, que
acontecem de maneiras diferentes no cérebro. Desde que nascemos, a maturação do sistema nervoso possibilita o
aprendizado progressivo de habilidades. À medida que uma determinada área cerebral amadurece, a pessoa exibe
comportamentos correspondentes àquela área madura, desde que tal função seja estimulada.
Desta forma, o desenvolvimento comportamental é restringido pela maturação das células cerebrais, como
exemplo, considerase que embora os bebês e as crianças sejam capazes de fazer movimentos complexos, os níveis
de coordenação e controle motor fino só serão alcançados após o término da formação da mielina, na adolescência
(Kolb e Whishaw, 2002).
A aprendizagem é a mudança de comportamento viabilizada pela plasticidade dos processos neurais cognitivos.
Considerando que a aprendizagem motora é complexa e envolve praticamente todas as áreas corticais de associação,
é necessário compreender o funcionamento neurofisiológico na maturação a fim de fornecer bases teóricas para a
estruturação de um plano de ensino que considere as fases de desenvolvimento neural da criança, maximizando assim
o aprendizado.
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Segundo Romanelli (2003), a noção de maturação nervosa é uma das mais fundamentais para se explicar o
processo de aprendizagem. Os psicólogos acreditam que os comportamentos não podem ser externados até que seu
mecanismo neural tenha se desenvolvido (Kolb e Whishaw, 2002).
O conhecimento da célula nervosa é essencial para entender o funcionamento do sistema nervoso e seus processos
maturacionais, pois os neurônios são dotados de extensa plasticidade e adaptabilidade, o que lhes permite serem os
grandes responsáveis pelos sistemas de informação e comunicação dos seres vivos. Os neurônios são compostos por
3 partes: dendritos, axônio e corpo celular. Quando o corpo celular envia uma mensagem, cabe ao axônio conduzila
até o dendrito do próximo neurônio para fazer a sinapse. Para que o axônio consiga transmitir a mensagem ele
precisa estar maduro. Tornase maduro quando é envolvida por uma camada de gordura e proteína denominada
mielina. O processo de mielinização acontece no tempo, de modo que diferentes neurônios se mielinizam em épocas
distintas do desenvolvimento do organismo. Esse fato fornece embasamento para a compreensão das teorias que
descrevem as fases evolutivas da criança, como os estágios de Jean Piaget.
Para melhor compreender a aprendizagem sob a ótica da maturação nervosa, é necessário saber como o
comportamento acontece a fim de investigar os processos neurais de mudança dele. De maneira geral, existem duas
abordagens básicas pra explicar o comportamento. A primeira é a abordagem comportamental, ou de estímulo
resposta, desenvolvida por Skinner, que acredita ser possível a redução de todo comportamento a um modelo
matemático de conexões de estímuloresposta, de forma que conhecimento do estímulo permite predizer a resposta.
Este modelo funciona com animais, mas com humanos parece muito simplista.
Para suprir esta lacuna entre estimulo e resposta, Magill (2001) desenvolveu o "Modelo de processamento de
informação" que envolve o estímulo, a percepção, o processamento central, a decisão da resposta e a sua efetivação
(que é o comportamento) (Cox, 1994).
Dentro do modelo de Magill podese encaixar outras variáveis como atenção, memória e ansiedade. Cada fase do
processamento de informação depende de muitas variáveis (Schimidt e Wrisberg, 2001), como da atenção e
percepção do estímulo e do resgate da memória no processamento central, que é a busca das informações
necessárias para a decisão da resposta. Muitos fatores podem influenciar no processamento de informações, entre
eles a ansiedade. Esta é uma variável que atua prejudicando no resgate de informação, promovendo um aumento
excessivo na ativação do sistema límbico, que é fundamental para um bom funcionamento da memória.
Desta forma, outros problemas como déficit de atenção e distúrbios da ansiedade podem estar prejudicando o
processamento de informação e conseqüentemente a aprendizagem motora de crianças em fase de desenvolvimento.
Em um estudo com crianças com problemas de atenção, realizado por Piek et al. (1999), apenas 2 das 16 crianças
diagnosticadas com déficit de atenção por hiperatividade já sabiam que apresentavam o distúrbio. Esse resultado
alerta para a falta de cuidado dos pais e professores com relação ao comportamento da criança.
Ao desconhecer os problemas e as conseqüências do excesso de ansiedade e da falta de atenção apresentada por
crianças hiperativas, correse o risco de ocorrerem falhas no aprendizado que poderiam ser resolvidas com o
tratamento médico e com a adaptação das aulas e maior atenção para estas crianças pelos profissionais do ensino.
Embora existam muitas crianças com falhas no aprendizado em função de transtornos de atenção, não se sabe ao
certo quando elas realmente apresentam o problema. Ao compreender como a atenção se desenvolve dentro dos
processos de maturação neural, podese verificar se o nível de atenção é normal ou não de acordo com a maturação
da criança naquela faixa etária e também se a aula está adequada a capacidade e desenvolvimento cerebral da
criança.
Este estudo tem o objetivo de discutir a aprendizagem motora, sob a ótica dos processos neurais no processamento
de informação viabilizado pela atenção nas diferentes etapas de desenvolvimento motor e maturação cerebral.
2. Áreas cerebrais e maturação na aprendizagem
A aprendizagem resulta da recepção e da troca de informações entre o meio ambiente e os diferentes centros
nervosos (Romanelli, 2003). Desta forma, a aprendizagem inicia com um estímulo de natureza físicoquímica advindo
do ambiente que é transformado em impulso nervoso pelos órgãos dos sentidos.
O impulso, transportado pela inervação sensitiva, passa pelo tronco cerebral, via tálamo, e chega até um centro
nervoso do córtex cerebral correspondente a natureza do estímulo. Desta forma, o estímulo visual termina no lobo
occipital, o auditivo no temporal, o táctil ou somestésico no lobo parietal (Bear et al, 2001).
Estas áreas aonde chegam os estímulos são chamadas de "zonas de projeção" ou "primárias". O estímulo projetado
nestas áreas primárias é chamado de "sensação", que se trata da informação na sua forma elementar e incompleta
sem conhecimento nem elaboração de significado, constituindose de uma passagem obrigatória para a percepção. Ao
estimular eletricamente as áreas primárias o sujeito vivencia sensações vagas como escutar um "zunido" ou ver
estrelinhas, sentir um formigamento, sem identificação de significado. (Romanelli, 2003).
Por meio dos neurônios associativos, a informação que chegou a área primária é transmitida para a área
secundária. A decodificação da informação na área secundária proporciona a "percepção" que consiste na formação
de imagens sensoriais correspondentes ao estímulo. Na percepção, as imagens (auditivas, visuais e tácteis) recebem
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significados, de forma que permitem que a pessoa veja e reconheça, por exemplo, esse é o rosto de minha mãe, essa
voz é do meu amigo, etc (Bittencourt, 1985).
A sensação é comum no recém nato, pois suas áreas secundárias ainda não amadureceram, no entanto, os adultos
dificilmente vivenciam sensação devido a informação passar para as áreas mais complexas assim que chega, de forma
que estamos sempre questionando: o que é isso? De quem é essa voz? O que está encostandose a mim?
A percepção requer um ótimo estado de atenção. Pense em uma pessoa acordando com o despertador. Primeiro
ela escuta ruídos vagos e depois de um pequeno tempo identifica que é o despertador, que precisa desligalo e
acordar (Romanelli, 2003).
Das áreas secundárias ou de associação passase às terciárias ou de integração onde ocorre a adição e
combinação de todos os aspectos do estímulo. Nas áreas terciárias o sujeito faz associações entre os sentidos, por
exemplo, este é o meu amigo, cuja voz me é agradável, a pele é macia e tem um cheiro agradável.
Todos esses processos acontecem no cérebro em milésimos de segundo e envolvem outras estruturas sub corticais
que não foram mencionadas aqui. É importante lembrar que a divisão funcional de áreas primárias, secundárias e
terciárias acontece no lobo occipital, parietal e temporal, não funcionando da mesma maneira para o lobo frontal
(Bittencourt, 1985).
A linguagem e a memória tornam possível uma série de outros aprendizados, sendo que começam juntas, se
desenvolvem juntas e uma sempre apoiará a outra. A linguagem é que fixa a aprendizagem (não a motora) e a
memória trará a tona seus conteúdos através da fala. A primeira zona responsável pelo desenvolvimento da
linguagem é a área de compreensão da fala, ou área de Weirnicke, localizada no lobo temporal (área da audição).
Ligada a esta área está a área motora da fala (localizada no lobo frontal esquerdo) ou área de Broca. Esta área está
relacionada a capacidade de emitir sons cada vez mais próximos daqueles percebidos (Romanelli, 2003; Goldberg,
2002).
Assim como a linguagem, a aprendizagem motora depende de processos complexos. Como foi visto anteriormente,
a maturação acontece progressivamente das áreas primárias até as terciárias. Na região frontal, que está diretamente
associada ao planejamento, controle e execução dos movimentos voluntários, a maturação ocorre de forma um pouco
diferente.
Na região anterior do cérebro (lobos frontais) é que acontece o planejamento, organização e execução do
movimento. Outras áreas também participam da ação motora, enviando mensagens, dosando a força, a agilidade,
fornecendo feedback visual, táctil e auditivo, permitindo desta forma o ajuste constante do movimento (Kolb e
Whishaw, 2001). Na região frontal, o movimento se acontece da seguinte forma: primeiramente há uma intenção de
movimento, um planejamento elaborado no córtex préfrontal; em seguida essa informação passa para a área pré
motora (que fica entre o lobo préfrontal e a área motora) que é responsável por organizar a seqüência motora;
posteriormente esta é projetada na área motora primária (que fica no giro précentral) que enviará os impulsos (via
medula) para a musculatura a fim de executar o movimento planejado. Esse processo é dosado por muitas outras
estruturas que dosam a força, a velocidade, e dão feedback constante ao movimento (Kolb e Whishaw, 2002).
A primeira área mielinizada no lobo frontal é a área motora primária, que permite a execução de movimentos
voluntários, sem muita elaboração. Após, há a maturação da área prémotora que permite uma melhor organização
do movimento. A última área a ser mielinizada na região frontal é o córtex préfrontal que é necessário no
planejamento do movimento (Kolb e Whishaw, 2002).
A região préfrontal é conhecida como um centro executivo, responsável pelas nossas vontades e desejos e pelo
comportamento social. É a região que permite a consciência do eu, a subjetividade, os valores, as motivações, ou
seja, é a área mais humana do cérebro (Goldberg, 2002). Talvez por esses atributos, está seja a região que tem a
sua maturação mais lenta, sendo que a mielinização completa desta área só aconteça por volta dos 18 anos de idade.
2.1. O Desenvolvimento Motor e a Maturação
Em cada idade o movimento toma características significativas e a aquisição ou aparição de determinados
comportamentos motores tem repercussões importantes no desenvolvimento da criança. Cada aquisição influencia na
anterior, tanto no domínio mental como no motor, através da experiência e troca com o meio (Fonseca, 1988).
De acordo com Gallahue e Ozmun (2003) o movimento observável pode ser dividido em 3 categorias: movimentos
estabilizadores (equilíbrio e sustentação), movimentos locomotores (mudança de localização) e movimentos
manipulativos (apreensão e recepção de objetos). De acordo com cada faixa etária, estes movimentos estarão em
estágios e fases diferentes.
As crianças da primeira infância, ou seja, de 2 a 6 anos, apresentam as habilidades perceptomotoras em pleno
desenvolvimento, mas ainda confundem direção, esquema corporal, temporal e espacial. A variabilidade das
habilidades fundamentais está se desenvolvendo, de forma que movimentos bilaterais, como pular, não apresentam
tanta consistência as atividades unilaterais. O controle motor refinado ainda não está totalmente estabelecido, embora
esteja desenvolvendose rapidamente. Os olhos ainda não estão aptos a períodos extensos de trabalhos minuciosos.
Para Piaget, nesta idade as crianças deveriam estar no período préoperacional, ou seja, percepção aguçada,
comportamento autosatisfatório e social rudimentar (Gallahue e Ozmun, 2003).
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Nesta fase, a maturação das áreas terciárias (de associação) ainda não está completa. Nas áreas executivas do
cérebro (lobos frontais), a principal região envolvida com o planejamento e com a execução das tarefas ainda não
está totalmente mielinizada, o que além de prejudicar na organização e no planejamento das tarefas também
prejudica a capacidade de concentração (pois a área préfrontal é importante para a atenção). A área préfrontal
imatura dificulta a manutenção da atenção de forma que não consegue realizar uma de suas funções principais que é
a inibição de estímulos irrelevantes. Ao não conseguir inibir estímulos irrelevantes a criança acaba se tornando
distraída (Booth et al., 2003).
Na segunda infância, que é a faixa etária que vai dos 6 aos 10 anos, as crianças apresentam a preferência manual
e os mecanismos perceptivos visuais firmemente estabelecidos. No início desta etapa do crescimento, o tempo de
reação ainda é lento, o que causa dificuldades com a coordenação visuomanual/pedal não estando aptas para
extensos períodos de trabalho minucioso. Para Piaget, nesta idade as crianças estão na fase de operações concretas,
onde as associações, a identidade, a razão dedutiva, os relacionamentos e as classificações já estão bem
desenvolvidas (Gallahue e Ozmun, 2003).
Nesta idade, a maioria das habilidades motoras fundamentais tem potencial para estarem bem definidas, mas as
atividades que envolvem os olhos e os membros desenvolvemse lentamente. Este período marca a transição do
refinamento das habilidades motoras fundamentais para as refinadas que propiciam o estabelecimento de jogos de
liderança e o desenvolvimento de habilidades atléticas (Gallahue e Ozmun, 2003).
O desenvolvimento de habilidades motoras mais complexas é proporcionado nesta fase pelo aprendizado motor
proporcionado pela maturação da área préfrontal associado às experiências da criança (Kolb e Whishaw, 2002).
Nesta idade, há uma maturação progressiva da região préfrontal, o que permite melhor planejamento do movimento,
permitindo associar de forma consciente dois ou mais movimentos. Essa associação de movimentos, planejada no
córtex préfrontal se torna cada vez mais refinadas, e a estimulação de movimentos associados é essencial para o
desenvolvimento normal das áreas corticais que possibilita uma aprendizagem motora mais eficiente. Embora a
mielinização da área préfrontal ocorra nesta fase, ela não é completa e continua a acontecer durante as próximas
fases, até aproximadamente aos 18 anos.
Na adolescência, idade compreendida entre os 10 até os 20 anos ou mais, o comportamento motor esperado é
caracterizado pela fase de habilidades motoras especializadas. Depois que crianças alcançam o estágio maduro de um
padrão motor fundamental, poucas alterações ocorrem. As mudanças ocorrem na precisão, na exatidão e no controle
motor, porém não no padrão motor. O início da adolescência é marcado pela transição e a combinação dos padrões
motores maduros. Nesta fase as crianças começam a enfatizar a precisão e a habilidade de desempenho em jogos e
movimentos relacionados aos esportes. A habilidade e a competência são limitadas. A segunda fase da adolescência é
marcada pela autoconsciência dos recursos físicos e pessoais e suas limitações, e por isso concentrase em
determinados esportes. A ênfase está na melhora da competência.
A maturação progressiva da área préfrontal continua a ocorrer. A região préfrontal também está associada aos
valores e significados que continuam a ser construídos durante todo o desenvolvimento humano.
Considerando que a região que planeja o movimento, também é aquela que controla os comportamentos sociais e
os valores pessoais, a intenção do movimento e o seu significado farão diferença na construção do gesto. A motivação
e a intencionalidade farão com que o planejamento motor ocorra de maneira diferente e também que a reação a
determinado estímulo seja diferente dependendo do significado pessoal atribuído a ele.
Na terceira fase, ou seja, o estágio de utilização permanente das habilidades adquiridas, os indivíduos reduzem a
área de suas buscas atléticas e há uma maior especialização no refinamento de habilidades.
Neste período, onde provavelmente as áreas corticais estão mielinizadas, maduras, as mudanças no
comportamento motor são decorrentes da modulação da atividade neural em função da experiência. As vivências
motoras modularão a atividade neural tornandoa mais sincronizada e eficiente caracterizando a aprendizagem
motora do indivíduo. A atenção continua sendo importante para a aprendizagem motora, porém, o significado do
estímulo passa ter ser cada vez mais determinante do que este indivíduo vai ou não aprender com eficiência. Gray et
al. (2003) realizou um estudo que investigou o tempo de reação neural (P300) a estímulos relevantes e irrelevantes
com a utilização de nomes conhecidos ou não pelo indivíduo. Os resultados indicaram que ao escutar nomes
conhecidos o cérebro reagia mais rápido, quando comparados a audição de nomes desconhecidos.
2.2. A atenção, aprendizagem motora e a maturação
A atenção foi descrita por Magill (2000) como sendo a "focalização, concentração da consciência" e quando se
refere ao desempenho humano é associada a atividades perceptivas, cognitivas e motoras de habilidades. É um dos
requisitos básicos para a coordenação e o controle motor. A falta ou déficit de atenção implica em danos a
aprendizagem da linguagem, da escrita e das habilidades motoras.
Estudos como os de Danckert, Saoud e Maruff (2004), Pereira et al (2001) e Piek, (1999) com crianças portadoras
de distúrbios leves no sistema nervoso central (déficit de atenção e/ou hiperatividade) e também com portadores de
psicoses mais graves, (esquizofrenia), demonstram que a atenção afeta significativamente o desempenho motor de
controle fino e global.
A coordenação motora de um simples movimento de agarrar um objeto, levantálo e colocálo de volta a mesa
pode representar um árduo trabalho do sistema nervoso central (SNC). É necessário a participação de diferentes
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centros nervosos motores e sensoriais para a organização de programas motores e para intervenção de diversas
sensações oriundas dos receptores sensoriais, articulares e cutâneos do membro requerido. As atividades necessárias
para a execução do movimento incluem "ler" as propriedades físicas do objeto, buscar antigas referências sobre ele,
mandar impulsos para os músculos aplicarem uma força determinada, contrair os músculos, parar de contrair
vagarosamente, soltar o objeto no momento certo para ele não cair nem bater com muita força na mesa. Na criança,
o êxito das atividades coordenativas em cada uma de suas etapas varia conforme o nível de aprendizado e a evolução
do seu desenvolvimento motor (Rosa Neto, 2001).
Falhas na comunicação, causadas tanto por estímulos externos concorrentes quanto por distúrbios neuroquímicos,
dos neurônios ligados à aprendizagem e à memória de longa duração, são as principais causas para os distúrbios
motores em crianças compulsivas obsessivas e hiperativas (Carlsson, 2001). Estas falhas de comunicação dos
neurônios causadas por estímulos externos concorrentes sugerem que, desde o planejamento até a execução de uma
habilidade motora, um alto grau de atenção é requerido para que não ocorram influências negativas na realização da
tarefa.
O controle motor fino está entre as habilidades que requerem mais atenção e concentração durante a execução, a
precisão do movimento implica num aumento da preparação para o movimento. Prejuízo na prontidão contribui e
fatores emocionais negativos interferem na resposta prejudicando o grau de atenção da pessoa (Magill, 2001).
Pereira et al (2001) mostrou que crianças hiperativas com alto grau de desatenção sofrem maiores danos no
controle motor fino que crianças com menor grau de desatenção, estas, apresentando maior déficit na motricidade
global, enquanto Goode (2002) mostrou o mesmo com os portadores de esquizofrenia comparados a um grupo
controle.
A sinestesia corporal, que é a noção do próprio corpo em relação ao ambiente, está diretamente ligada ao controle
motor fino. No entanto, no estudo realizado por Piek et al (1999), apesar das crianças hiperativas terem apresentado
déficit geral nas habilidades motoras, não apresentaram diferenças sinestésicas significativas quando comparadas ao
grupo controle. Foi sugerido com base nestes resultados que a atenção dificulta na execução das habilidades motoras
mas não influencia na noção do corpo em relação ao ambiente. Ao analisar o resultado deste estudo, que foi realizado
com crianças com idade entre 6 e 9 anos, sugerese que o maior problema pode ter estar associado ao processo de
maturação e ao distúrbio na área préfrontal, pois os sistemas sensoriais não foram afetados, o que implicou em boa
sinestesia, porém as crianças têm problemas de atenção e aprendizado motor que está relacionado a região frontal.
Considerando que a noção espacial, o controle óculomotor e a consciência corporal têm papel importante na
elaboração do plano e na execução do movimento pelo SNC, a atenção pode influenciar no controle motor por estar
associada ao estado de vigília e ao feedback constante do gesto. Desta forma, o déficit de atenção implica em
insucessos e em respostas abaixo das esperadas (Danckert, Saoud e Maruff, 2004). Para Brunnia (1999), o
comportamento antecipatório e a atenção para o movimento (preparação) são realizados pelos mesmos caminhos,
enfatizando mais uma vez o papel da atenção no domínio motor.
As habilidades de focalização nos estímulos sensoriais relevantes e de inibição daqueles irrelevantes ou
interferentes são fatores críticos para a cognição. A atenção requer a habilidade de diferenciar entre estímulos
relevantes e irrelevantes, de selecionar e focalizar apenas nas informações relevantes e de inibir as irrelevantes,
dentro de determinado período de tempo (Määttä et al, 2004). Estudos como os de Booth et al. (2003) e Määtä et al,
(2004) indicam que estes aspectos da cognição melhoram com a idade.
Desta forma, é necessário estudar a atenção sob dois aspectos: a atenção seletiva e a inibição de resposta. Estes
aspectos fazem com que o indivíduo consiga focalizar sob o que interessa e ignorar os estímulos que não são
relevantes, evitando assim distrairse.
Mesulam et al. (1999) apud Booth et al. (2003) define atenção seletiva como uma alocação preferencial dos
recursos limitados de processamento que se tornaram relevantes para o comportamento. O autor propõe um modelo
neuro cognitivo para a atenção seletiva, onde três áreas corticais atuam em rede. O lobo parietal superior está
envolvido na representação espacial exterior. O córtex prémotor lateral atua nos movimentos de exploração e
orientação (por exemplo, nos movimentos oculares). O giro cingulado anterior participa mais nos aspectos executivos
da atenção seletiva, incluindo a monitoração da resposta (feedback).
As falhas em responder apropriadamente aos estímulos podem resultar de um déficit de atenção sustentada, bem
como o erro de inibir uma resposta potencial. O modelo neurocognitivo de inibição das respostas elaborado por
Mesulam (1999) apud Booth (2003) coloca 3 processos associados a 3 estruturas cerebrais. O primeiro processo diz
respeito a inibição de uma resposta inicial prépotencial, onde o córtex préfrontal atua protegendo as representações
de informações relevantes das interferências externas. O segundo processo é o de retenção de uma resposta
potencial, onde há a participação dos gânglios basais provendo a inibição de comportamentos inadequados, sendo que
o núcleo caudado e o putamen recebem os sinais do córtex frontal e os enviam a resposta de volta ao córtex via globo
pálido e tálamo. Está rede, conhecida como "Rede frontoestriada" modula a atividade na área motora suplementar
que tem um papel primário no planejamento, iniciação e momento do movimento (Booth et al., 2003).
McCullagh e Weiss (2003) colocam que as crianças não estão completamente maduras na atenção seletiva, na
velocidade de processamento visual e nos processos de controle antes dos 12 anos.
Com o objetivo de investigar o desenvolvimento da atenção seletiva, Määtä et al. (2004) compararam as diferenças
entre adultos e crianças no processamento de atenção por meio dos potenciais relacionados ao evento. A amostra foi
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composta por crianças de 9 anos de idade e adultos. Os resultados indicaram que as crianças foram capazes de
empregar os mecanismos de atenção seletiva quando processando um estímulo padrão, porém não conseguiram o
mesmo com estímulos novos. A principal diferença observada foi que os adultos conseguiam manter a atenção por
mais tempo que as crianças. Estas também se distraiam mais facilmente.
Visando investigar se o problema de atenção das crianças está mais voltado ao sistema seletivo ou inibitório, Booth
et al. (2003) investigou as diferenças na atividade cerebral entre 12 crianças (idade entre 9 e 12 anos) e 12 adultos
(idade entre 20 a 30 anos). A atividade cerebral foi investigada durante duas tarefas diferentes, uma que permitia a
avaliação da atenção seletiva e outra que avaliava a inibição de estímulos. Os resultados indicaram poucas diferenças
entre adultos e crianças na atenção seletiva. Porém, foram encontradas grandes diferenças na inibição de crianças e
adultos, sendo que as crianças apresentaram maior ativação na região fronto estriada, incluindo o giro médio,
cingulado e frontal. As grandes diferenças em resposta a tarefa de inibição são consistentes com a maturação
demorada ou prolongada da região fronto estriatal.
Considerando o papel essencial das emoções e da memória na atenção, e a importância da atenção na
aprendizagem, destacase aqui a importância do significado no processo de aprendizagem. A memória está associada
ao sistema límbico que está fortemente ligado as emoções. Tendemos a armazenar o que nos é emocionalmente
relevante, ou importante para a sobrevivência. Pela associação do lobo límbico com o córtex préfrontal, tendemos a
programar e planejar baseados no que sentimos e no que nos foi passado, pois essa região frontal é responsável pela
nossa subjetividade, valores e significados. Por isso melhor aprendemos o que nos é relevante e tem um significado.
Construímos e planejamos o movimento baseados nas nossas motivações e valores e o aprendizado, desde a primeira
reação ao estímulo, depende disto. Como o aprendizado depende da atenção, e esta está associada com aquilo que
nos é importante, o significado influenciará no grau de atenção (Gray et al., 2003).
Qualquer distúrbio que venha a modificar o funcionamento normal do sistema límbico pode prejudicar a atenção,
um deles é a ansiedade. Um estudo de Terelak (1990) encontrou relação entre a ansiedade e a aprendizagem
motora. No caso da ansiedade traço, ou seja, a ansiedade que faz parte da personalidade da pessoa, ela foi
relacionada como um dos indicadores para a eficiência da tarefa psicomotora. Também foi encontrado que a
ansiedadeestado, ou seja, a ansiedade momentânea, tem um efeito negativo na coordenação óculomanual numa
tarefa de aprendizado.
De acordo com a teoria social cognitiva desenvolvida por Bandura, 4 processos governam o aprendizado: a atenção
(seleção adequada), a retenção (representações cognitivas já existentes), a produção (escolha próxima ao modelo
retido) e a motivação (regula a eficácia dos anteriores). Segundo Bandura (1997) apud McCullagh (2003) as crenças
de auto eficácia fornecem a maior base para a ação e podem influenciar na escolha da resposta, no esforço e na
persistência para atingir os objetivos.
Uma percepção de competência baixa e a autoestima abalada em crianças e adolescentes com déficit de
coordenação também podem prejudicar a aprendizagem aumentando a ansiedade e reduzindo o estado de atenção
(Skinner e Piek, 2001).
3. Conclusão
Os resultados encontrados neste estudo de revisão indicam que há uma estreita relação entre desenvolvimento
motor e maturação cortical.
Ao investigar as estruturas corticais, podese observar a relação entre sistema sensorial e motor, entre a
maturação do córtex de associação e as etapas do desenvolvimento.
Destacouse neste estudo a relação entre atenção, maturação frontal, aprendizagem motora, de forma a evidenciar
a importância do desenvolvimento do córtex préfrontal na aprendizagem e eficiência motora. Considerando que o
córtex préfrontal é o grande responsável pela consciência do eu, pela estruturação social de valores e significados
pessoais e está intimamente relacionado à história do indivíduo, destacase a participação e a importância da
subjetividade no planejamento e execução dos movimentos. O desenvolvimento do movimento se diferenciará de
acordo com a intencionalidade, que é equivalente ao planejamento do movimento estruturado no córtex préfrontal,
mediado pelos valores e história do sujeito.
Dado o grau de complexidade, a área préfrontal é a última a ser totalmente mielinizada, sofrendo assim um
grande impacto das experiências pessoais na sua construção. A eficiência do movimento depende em grande parte
desta estrutura, por isso os movimentos especializados e complexos que exigem muito desta função executiva,
evoluem gradativamente conforme a maturação desta área e de acordo com a história do sujeito.
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revista digital · Año 10 · N° 78 | Buenos Aires, Noviembre 2004
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