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Bom dia camaradas

Trabalho elaborado para a Unidade Curricular


de Temas de Literatura Africana, no âmbito do
Mestrado de Teoria da Literatura e Literaturas
Lusófonas

Patrícia Gouvêa Aguiar Rocha


Introdução

O presente estudo visa fazer uma singela apresentação do livro Bom dia
camaradas, do escritor angolano Ondjaki publicado pela primeira vez em dezembro de
2000, pelas Edições Chá de Caxinde, na coleção Independência.
No curso deste trabalho, nosso objetivo será o de proceder a uma breve biografia
do autor; a uma análise do romance, levando em consideração o gênero literário
escolhido pelo escritor e os elementos que marcam a narrativa, bem como uma breve
contextualização do panorama histórico-político de Angola, para a compreensão do
ambiente onde se passam as aventuras do menino Ndalu, personagem principal da
história.

O livro

O romance, narrado pelo protagonista, o menino Ndalu, tem inspiração


autobiográfica, apesar do cunho ficcional. O leitor acompanha, pela narrativa leve e
infantil de Ndalu, um recorte do cotidiano do menino; sua vida em família, que aparenta
ser bem estabelecida em Luanda, seus dias na escola, as aventuras com os amigos, a
relação com os professores cubanos e com o camarada António, empregado da casa.
Como pano de fundo, a guerra civil angolana serve de cenário difuso para toda a
narrativa. O clima de tensão e medo que envolve a Angola pós-colonial dos anos oitenta
é, em alguma medida, atenuado pelo olhar de criança de Ndalu, que convive com
situações tensas, com certa naturalidade, sem se dar conta da severidade, da coação e do
perigo que algumas delas envolvem.
O universo de Ndalu e seus amigos é repleto de histórias divertidas, como a do
Caixão Vazio, que põe toda a escola em polvorosa, com destaque para a passagem
hilariante da professora de inglês que, apesar da deficiência física, corre mais do que os
próprios alunos, a fugir do suposto grupo reacionário que estaria a invadir a escola.
Ndalu compartilha com o leitor também momentos de pura emoção, como quando
ele e seus amigos se despedem dos professores cubanos, que são chamados de volta a
Cuba ou quando toma conhecimento da morte do camarada António. O recorte da
narrativa se encerra simultaneamente com a notícia do que seria o fim da guerra, com o
anúncio de uma reviravolta política, quando o comando do MPLA (Movimento Popular
para Libertação de Angola) decide abandonar a orientação marxista-leninista, adotar um
sistema de democracia multipartidária e convocar eleições.

A Angola de Ndalu

Localizado na costa ocidental da África, N’gola, no idioma do originário povo


bantu, tornou-se Angola desde que os colonizadores portugueses lá chegaram e
fundaram a cidade de Luanda, hoje capital do país. Angola foi colónia de Portugal desde
o século XV até meados do século XX.
A resistência contra a dominação colonial começa a tomar corpo nos anos 50 e
desemboca na deflagração, em 1961, da guerra colonial contra Portugal, que dura até
1975, com a proclamação da independência de Angola.
Logo após a declaração de independência teve início a guerra civil angolana,
levando ao combate os três movimentos guerrilheiros que disputavam o poder: o
MPLA, o FNLA e a UNITA. Em fins de 1990, o MPLA, afastando-se da doutrina
marxista-leninista que havia assumido e que vigorava em Angola desde a proclamação
da independência, adota o sistema de democracia multipartidária e convoca eleições,
que vieram a realizar-se em 1992, e das quais o MPLA saiu vencedor.
Inconformado com o resultado das eleições, o comando da UNITA decide retomar
a guerra que só encontra seu fim com a morte, em combate, do líder da UNITA, Jonas
Savimbi.

O autor

Ondjaki nasceu Ndalu de Almeida, em Luanda em 1977. Escritor, poeta e artista


plástico, Ondjaki que é filho de angolanos, sua mãe professora e o pai, funcionário do
ministério, passou a infância em Luanda com os pais e as irmãs. Licenciado em
Sociologia em Lisboa, fez o doutoramento em Estudos Africanos em Itália. Ondjaki é
também cineasta e em 2006 codirigiu o documentário Oxalá cresçam pitangas –
histórias da Luanda, juntamente com o também cineasta Kiluage Liberdade. Ganhou
vários prémios literários, entre eles o Prémio Jabuti de Literatura, em 2010 e o Prémio
José Saramago, em 2013. Desde de 2007, o autor mora no Rio de Janeiro, Brasil.
Bom dia camaradas e o Bildungsroman

No que tange à sua estrutura, Bom dia camaradas é classificado como um


romance de aprendizagem ou “Bildungsroman”; (sub)género literário, originalmente
vinculado ao âmbito religioso, onde a formação do homem estava subordinada ao
modelo de Deus; tendo sofrido uma mudança de paradigma, por influência do
Iluminismo do século XVIII, no qual o homem, por ele mesmo, se torna o modelo a ser
seguido. Modelo a partir do qual o individuo se desenvolve de acordo com sua própria
natureza.
Apesar de enraizado na cultura europeia como um todo, por conta de suas relações
com a ideologia burguesa ocidental, o Bildungsroman foi imortalizado por Göethe,
através do romance Wilhelm Meister Lehrjahre (1795/97). A temática deste (sub)género
literário – o género de formação ou romance de aprendizagem, gira em torno de um
protagonista masculino, em geral muito jovem, que, por força das circunstâncias
pertinentes ao ingresso na “vida adulta”, vê se descortinarem diante de si e de sua
inocência venturas e desventuras do mundo “fora de casa”; encontros de amizade,
descoberta do amor, deceções decorrentes de sua ingenuidade e credulidade; elementos
que se transmutam em experiência que dão estofo para seu empoderamento como
agente de sua própria realidade, e que servem também para firmar sua individualidade e
a conceção de pertença a si mesmo como sujeito no mundo.

Considerações finais

Apesar de ser possível identificar em Bom dia camaradas vários elementos que
caracterizam um Bildungsroman, tais como: a capacidade do protagonista de, sendo
agente, objeto e destinatário da ação, contruir sua identidade, em integração com o
mundo e a narrativa muito próxima da autobiografia mantendo, contudo, o cunho
ficcional, há no livro uma situação diferente das que, em geral, ocorrem nos romances
de aprendizagem: aqui, não há habitual deslocamento do protagonista, o afastamento de
casa, onde ele vai passar por toda sorte de aventuras e desventuras, que servirão para
moldar seu caráter e trazê-lo de volta à casa, já um pouco mais amadurecido e pronto
para assumir seu lugar na sociedade.
O tom alegre, coloquial e quase naive da narrativa de Ondjaki deixa no leitor uma
sensação de que, apesar do cenário conturbado da guerra civil que acontecia em Angola
no período em que se passa ação do livro, Ndalu é um menino que não perde a
meninice. Ele vive “aventuras” condizentes aos garotos de sua idade, tem uma vida
familiar tranquila, cria laços com os professores cubanos e se entristece com a partida
compulsória deles, uma vez que por razões políticas, Cuba chama de volta seus
cidadãos que estavam destacados em Angola. A visita da tia que mora em Portugal
desperta nela a natural curiosidade dos meninos em relação às diferenças na vida
cotidiana dos dois países; o primeiro sentimento de perda real com a morte do camarada
António, que era, em alguma medida, o referencial para o conhecimento de uma Angola
anterior à independência, que ele não teve contato dada a sua idade. Ondjaki relata, com
intimidade de quem conheceu a vida em Luanda nos anos 80/90 e com excelente senso
de humor e simplicidade, cenas da vida diária do menino e de suas relações
interpessoais.
Ao longo de quase todo o livro, o menino não é nomeado. Somente uma vez, e lá
pelo fim do livro é que se menciona, quase que de “raspão”, o nome Ndalu. E o leitor
desavisado que, por acaso não conheça o autor e muito menos tenha conhecimento de
que Ondjaki, que significa “aquele que enfrenta desafios”, é o pseudónimo de Ndalu de
Almeida só se dará conta da dimensão autobiográfica do livro, quando obtiver mais
informações a respeito do autor.
Ao fim e ao cabo Bom dia camaradas proporciona uma leitura muito interessante,
leve e divertida, apesar de reduzida, do universo cotidiano das crianças de classe média
de Luanda, bem como aspetos da vida social e política percebidos através das lentes
infantis de Ndalu e seus amigos nos anos 80/90.

Referências
Ondjak. (2003).Bom dia camaradas. Lisboa. Editorial Caminho.

Recursos eletrônicos
Borhz, J. (2013). Independência e poesia: Angola em Bom dia camaradas, de Ondjaki.
Revista Crátilo, 6 (1), 38-45
Retrieved from http://cratilo.unipan.edu.br
Rosa, J.S. (2012). Entre a ficção e a realidade: Bom dia camaradas e a esperança de dias
melhores através do olhar infantil. Ao Pé da Letra. Revista dos alunos de
graduação em Letras, volume 14.2, 67-76
Retrieved from https://issuu.com/revistaaopedaletra/docs/ebook-aopedaletra14-v2

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