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Refere-se ao Art.

de mesmo nome, 7(1), 79-86, 1997 OPlNIAO


Rev. Bras. Cresc. / ATUALIZAÇÃO
Des. Hum. S. Paulo, 7(1), 1997
OPINlON / CURIRENT COMENTS

A CRECHE E AS MULHERES TRABALHADORAS


NO BRASIL*

DAYCARE CENTERS ANI 3 WORKING WOMEN


IN BRAZI L
Maria Cecilia Focesi Pelicioni 1
Nelly Martins Ferreira Candeias 2

PELICIONI, M.C.F.; CANDEIAS, N.M.F. A Creche e as Muiheres Trabalhadoras no Brasil.


Rev. Bras. Cresc. Desenv. Hum., São Paulo, 7(1) 1997.

Resumo: Esse trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre o desenvolvimento da creche
enquanto instituição, mostrando o papel que essa vem desempenhando no decorrer da história e
principalmente no Brasil. Discute as dificuldades pelas quais a creche tem passado especialmente
no que se refere à capacitação dos funcionários. na maioria constituido por mulheres.

Palavras-clave: creche, capacitação, mulher trabalhadora.

HISTÓRICO Na década de 50, principalmente nos Es-


tados Unidos e na Europa, começou-se a questio-
A primeira creche de que se tem notícia nar o papel das creches por considerá-las fontes
surgiu em 1770 e foi fundada pelo sacerdote da desadaptação de crianças privadas do conví-
Oberlin, na aldeia de Vosgues au Ban de la Roche vio materno. Teóricos como SPTIZ28, BOWLBY3,
na França. Teve por finalidade dar assistência aos AINSWORTH1, entre outros, realizaram estudos
lactentes de famílias campesinas com longa jor- de natureza psicoanalítica, mostrando a importân-
nada de trabalho. Nessa mesma época, outras cre- cia da relação da criança com sua mãe, como pres-
ches foram sendo organizadas, gradativamente, suposto básico ao desenvolvimento emocional
em centros industriais na Grã-Bretanha e demais infantil e às relações sociais na idade adulta10,11,19.
países europeus. Em 1846, havia em Paris, 14 cre- A partir de 1960, resultados de algumas
ches particulares, dirigidas por congregações re- pesquisas6,11,17,20 demonstraram que as creches não
ligiosas ou entidades filantrópicas. Durante qua- eram tão prejudiciais como se afirmara anterior-
se um século, as creches tiveram a função de mente. Na América do Norte, movimentos
combater a pobreza e a mortalidade infantil, ado- feministas passaram a lutar pelo direito de aten-
tando para isso uma perspectiva médico-higienis- dimento a todas as mulheres independente de ne-
ta10,18.21. cessidades de trabalho e classe social10,20.
Nos Estados Unidos, em 1941, durante a A história das creches, em vários países,
Segunda Grande Guerra, criaram-se muitas cre- parece evidenciar que os determinantes da expan-
ches para os filhos dos empregados na indústria são das redes públicas de creche têm sua origem
de guerra. No final da guerra, contudo, com a re- em decisões alheias às necessidades das crianças.
tirada do apoio governamental, decresceram as va- Refletem políticas que apoiam ou o cerceamento
gas então disponíveis11.13,15,18. ou o incentivo ao trabalho materno19.

* Capítulo de Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo em 1995.
1 Profa. Dra. do Depto. de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública - USP.
2 Profa. Titular do Depto. de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública - USR End.: Av. Dr. Arnaldo, 715, Depto.
de Prática de Saúde Pública, Térreo - São Paulo - SP - CEP: 01246-904 - Tel. (011) 3066-7743.

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Atualmente, a creche é considerada como serviços, à integração da mão-de-obra feminina


um Direito da Criança, em termos educativos, e na população economicamente ativa e, também,
não apenas como substitutivo dos cuidados ma- ao Movimento de Luta por Creches, em resposta
ternos. É vista como um lugar que contribui para à resolução do I Congresso da Mulher Paulista,
a educação e socialização da criança10. ein 19796,15,17,19.

NO BRASIL PAPEL DA CRECHE

Foi na década de 20 que as primeiras cre- A creche é considerada como uma estrutu-
ches foram introduzidas nas empresas brasileiras. A ra de educação e de assistência, cujas atividades
primeira creche industrial foi a da Fiação Maria Zé- se dirigem, quase que exclusivamente, à popula-
lia, de Jorge Street criada em São Paulo em 19206. ção de baixa renda e, conseqüentemente, com
Operários de indústrias paulistas reivindicaram uma menor acesso a benefícios sociais. É uma organi-
série de vantagens entre as quais creches para seus zação dinâmica, onde interagem crianças usuárias
filhos. Protestavam ao mesmo tempo contra suas pre- e trabalhadores, com direito a uma identidade pró-
cárias condições de vida e de trabalho: jornadas ex- pria, peculiar e diferente do espaço escola26.
cessivas, insalubridade, inexistência de assistência De acordo com documentos da Secretaria
médica, falta de moradia15. da Família e Bem Estar Social da Prefeitura Mu-
Na década de 40, com a Consolidação das nicipal de São Paulo (FABES), de 1991, apesar
Leis do Trabalho, estabeleceu-se a obrigatorieda- de o direito à creche ser universal, hoje, por cau-
de de manutenção de creches em empresas priva- sa dos recursos disponíveis serem limitados, são
das que empregassem mão-de-obra feminina com aceitas para admissão apenas as crianças de con-
30 ou mais mulheres com mais de 16 anos de ida- dição economicamente precária (renda familiar de
de, (Art. 1° da Portaria DNSHT n° 1 de 15 de 4 salários minimos ou menos, prioritariamente),
janeiro de 1989), em idade fértil, portanto, para na tentativa de garantir-lhes condições qualitati-
filhos de até 6 meses, protegendo, com isso, ape- vamente diferentes de inserção na sociedade. “A
nas a amamentação do bebê. Durante muito tem- FABES vem construindo uma política de assis-
po, contudo, a legislação, além de não ser respei- tência, entendida como forma de fornecimento de
tada por grande parte do empresariado, foi bens e serviços à população deles excluida, em
praticamente desconhecida pelos trabalhadores a decorrência da organização econômica e política
quem se destinava. O Estado considerava-se de- da sociedade” (p. 2). A criança deve “ser consi-
sobrigado de qualquer iniciativa dessa natureza19. derada como criança, sem marcas de discrimina-
As primeiras creches municipais aparece- ção, capaz de desenvolver sua autonomia, de cons-
ram na década de 60, com construção e manuten- truir-se enquanto pessoa, de conhecer, reconhecer
ção garantidas pela Prefeitura Municipal de São e transformar a realidade à sua volta, inserindo-
Paulo, mas com o gerenciamento feito por enti- se em seu grupo social de maneira consciente e
dades particulares, responsáveis estas, também, livre, e tratada como cidadã de direitos e não de
pela orientação do trabalho junto às crianças. Se- favores”24 (p. 10).
gundo NOGUEIRA14, levantamento realizado em A programação psicopedagógica proposta
1967 revelou que das 93 indústrias do Município pela FABES (antiga SEBES – Secretaria do Bem
de São Paulo, com mais de 100 empregados, so- Estar Social da Prefeitura Municipal de São Pau-
mente 31 (33,3%) dispunham de creche. As cre- lo), para as Creches de São Paulo, tem como ob-
ches de responsabilidade exclusiva da Prefeitura jetivo “desenvolver a consciência crítica e criati-
(creches diretas) forain instituídas na década de va da criança, possibilitando sua inserção na
70, mostrando-se um empreendimento de eleva- sociedade, como agente e sujeito de sua transfor-
do custo. Na década de 80, passou-se a defender mação”26 (p. 14).
novamente o convênio com entidades particula- A programação do setor saúde procura “criar
res, já que o atendimento se restringia apenas à condições para o desenvolvimento de ações de pro-
pequena parte da demanda. Em 1984, só 5,9% moção, manutenção e recuperação da saúde, pre-
das crianças de 6 anos ou menos e de famílias de venção de doenças e educação em saúde da popu-
até 5 salários minimos eram atendidas na cidade lação participante dos diferentes programas,
de São Paulo15. crianças usuárias, familiares e trabalhadores da cre-
A expansão de creches municipais deveu- che, mediante trabalho conjunto com outros órgãos
se principalmente ao grande cresciinento popula- públicos e privados. A educação em saúde dá-se
cional (principalmente de pessoas com baixa ren- principalmente pela capacitação de pessoal, atua-
da), ao aumento da industrialização e do setor de ção junto a grupos sociais, inscritos ou não nas

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entidades, e por meio de discussão e encaminha- o mesmo órgão público. Essa qualidade parece
mento de questões ligadas à saúde”26 (p. 4). depender de uma série de tutores, desde as carac-
A FABES pretende que, por ter um caráter terísticas da instituição que criou e mantém a cre-
educativo e assistencial, a creche seja considera- che, de sua filosolia educativa, da forma como se
da como um espaço de promoção de saúde e pre- relaciona com a população local, até da instala-
venção de doenças, que envolva também as famí- ção material e recursos de que dispõe”20.
lias das crianças. Entende saúde como “resultatado
das condições de alimentação, habitação, trans-
porte, saneamento, lazer, educação, distribuição LEGITIMAÇÃO
de renda e acesso aos serviços de saúde e, sobre-
tudo, como resultado das formas de organização O processo de legitimação das creches foi
social da produção e da apropriação de bens e facilitado pelas reivindicações do Movimento de
serviços em uma determinada sociedade” (8ª Con- Luta por Creches (resolução do I Congresso da Mu-
ferência Nacional de Saúde, 1986, p. 2)8. Reco- lher Paulista)”. Estas partiram das camadas popu-
nhece que a saúde depende de fatores orgânicos lares. levando o Estado a reconhecer sua função
(características individuais), de relações interpes- de guardião, responsável pela assistência à crian-
soais de afetividade e de capacidade individual ça. A proposta desse movimento foi a criação de
de adaptação a diferentes situações. Propõe, por- uma rede de creches totalmente mantida pelo Es-
tanto, que a saúde das crianças seja compreendi- tado, com a participação da comunidade na orien-
da como um processo dinâmico, envolvendo as- tação e na escolha de seus funcionários. Diferente-
pectos biológicos e mentais, em interação com o mente do que ocorreu nos países norte-americanos
meio familiar, social e com o meio ambiente25. e europeus, no Brasil não se questionou o conteú-
As ações de saúde devem, segundo a Se- do implícito da proposta educativa, desenvolvida
cretaria, ser planejadas visando não só a dimen- nas creches. Para HADDAD11, “a palavra de or-
são individual mas, também, a coletividade da dem limitava-se à oposição aos depósitos de
creche e da família, mediante articulação e inte- crianças. Não se discutia ainda o caráter da cre-
gração com vários recursos de saúde da região. che como local de socialização da criança e como
Considera fundamental que os conhecimentos local que permitisse à mulher compartilhar soci-
sobre saúde atinjam a equipe da creche, as crian- almente de sua guarda. O discurso feminista no
ças, os pais e a comunidade em geral. Contudo, Brasil cuidou apenas do trabalho da mulher. Não
segundo HADDAD11, desde sua origem, a creche houve discussões públicas sobre maternidade,
tem sido percebida como uma instituição emergen- paternidade, modificações no arranjo doméstico
cial, instável e temporária, em decorrência da pre- ou na própria estrutura da organização do traba-
cariedade e insuficiência de recursos, má quali- lho. A fala referia-se a uma instituição que pro-
dade de atendimento, falta de qualificação de piciasse essencialmente a guarda”. “Praticamente
pessoal (o corpo de funcionários era composto não houve propostas de modelos de programas
basicamente por voluntários, o que não mais ocor- educativos. De acordo com a autora”, como tema,
re), baixa razão adulto-criança, ausência de legis- a criança estava praticamente ausente dos argu-
lação especifica e de normas básicas de funcio- mentos apresentados no período.
namento. Nos últimos anos, o debate sobre creches
De acordo com ROSEMBERG20, a quali- tem tido considerável avanço no país. O esforço
dade do atendimento das creches conveniadas ra- de grupos, interessados na política pública, pos-
ramente tem sido aval lada por especialistas ou sibilitou a inclusão da creche na Constituição
educadores de forma continua. Assim, pouco se Brasileira de 19884, como uma ampliação do di-
sabe da qualidade psicológica e educacional de reito universal à Educação, de crianças com 6
seu serviço. De modo geral, são fiscalizadas pe- anos ou menos. Isso significa reconhecer, nela,
los próprios técnicos do órgão que estabelece con- uma instituição legítima, capaz de adquirir uma
vênio não existindo contudo, uma avaliação glo- identidade própria e definir uma política especí-
bal do conjunto das creches atendidas. Esta falta fica. Além disso. dá à família o direito de com-
de avaliação também ocorre porque poucas insti- partilhar a educação da criança com o Estado.
tuições de pesquisas e poucos pesquisadores têm Enquanto instituição educativa deverá “concen-
se interessado pelo estudo da creche. Os estudos trar-se em programas que promovam, adequa-
realizados, na opinião dos autores20, informam damente o desenvolvimento infantil, rompendo
alguma coisa sobre experiências locais, sem per- com o assistencialismo benevolente e com o
mitir a generalização dos resultados. Têm eviden- modelo tradicional de oferecimento de cuidados
ciado que a qualidade do atendimento varia mui- maternos à criança independentemente de sua
to, mesmo nos casos de creches conveniadas com condição socio-econômica”.

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Segundo CAMPOS6, “pela primeira vez na do adulto, com respostas prontas, em nada esti-
história, uma Constituição do Brasil como a de mula o desenvolvimento da criança que precisa
1988, faz referências a direitos específicos das adquirir seu próprio conhecimento e conquistar
crianças, além daqueles circunscritos ao âmbito seu próprio espaço na sociedade.
do Direito da Familia. Também, pela primeira vez,
um texto constitucional define claramente como
direito da criança de 0 a 6 anos de idade é dever CAPACITAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS
do Estado, o atendimento em creche e pré-escola
(Art. 208, inciso IV). As constituições anteriores Vários estudos2,5,7,12,15,17,20 têm demonstra-
limitam-se a expressões como assistir ou amparar do a importância do treinamento e a necessida-
a maternidade e a infância. A nova carta nomeia de de capacitação dos funcionários de creches.
formas concretas de garantir não só esse amparo, Este deve oferecer condições para atender me-
mas, principalmente, a educação dessa criança” lhor às necessidades da criança. Ao planejar o
(p. 9). treinamento, é fundamental considerar os ob-
jetivos que se pretende alcançar e, particular-
mente, os conhecimentos, atitudes, habilidades
FUNCIONAMENTO E ESTRUTURA e práticas das pajens e dos outros funcionários,
em função da responsabilidade que têm no aten-
O funcionamento das creches conveniadas dimento e na educação e desenvolvimento da
deve ser de 10 horas diárias, durante 11 meses, criança.
sendo desejável que funcionem 12 horas diárias, A avaliação sistematizada dos recursos
sem interrupção durante o ano, com férias humanos em creches é necessária, não só para
escalonadas, de acordo com o Documento Políti- corrigir intervenções inadequadas, como, também,
ca de Convênios^24 SEBES, de 1991. Esse do- para assegurar melhor atendimento.
cumento propõe que o pessoal, para atendimento Pesquisa qualitativa, realizada em 1992
à criança, seja proporcional ao número de crian- pelo autor deste trabalho nas creches conveniadas
ças usuárias para cada creche. da Bela Vista na cidade de São Paulo17, por meio
de entrevista com diretoras, mostrou a alta
rotatividade entre os funcionários, que se queixa-
RESPONSABILIDADES DOS ram de baixos salários e de despreparo para as
EDUCADORES E DAS PÁJENS funções que exerciam, pois raramente eram trei-
nados em serviço ou reciclados. Emergiu assim,
Segundo o projeto pedagógico da SEBES de uma necessidade sentida, a realização do I
de 199126, para as creches municipais, “mais im- Curso Modular sobre Crescimento e Desenvolvi-
portante do que ensinar, é estimular criança a mento Infantil. para pajens e auxiliares de enfer-
aprender, permitindo sua inserção no mundo e sua magem da regiãol7.
adaptação social, a partir da percepção que esta A necessidade de definição de uma política
possa adquirir do mundo físico e do ser humano, de recursos humanos aparece constantemente no
construindo sua identidade e sua auto-estima. Ati- discurso oficial de instituições de vários setores,
vidades planejadas, assim como a avaliação do mas, geralmente, representa apenas um conjunto
ambiente, dos recursos e dos objetivos, traduzem de intenções que quase nunca chega à prática.
a responsabilidade dos educadores no sentido de Para SCHOCHI23, freqüentemente, o tra-
considerar as características das crianças, como balhador não consegue alcançar a finalidade de
indivíduos pertencentes a determinados grupos seu próprio trabalho. Percebe o seu trabalho ape-
sociais” (p. 9). nas como uma tarefa imediata a ser cumprida e
A pajem ou ADI (Auxiliar de Desenvolvi- não como um trabalho coletivo, inserido no con-
mento Infantil) é contratada pelo regime da Con- junto das relações sociais. Segundo o autor, toda
solidação das Leis Trabalho5, com jornada de 40 aprendizagem precisa ser significativa para o fun-
horas semanais. Tem sido vista pela FABES, como cionário. Deve-se então, nos treinamentos, partir
a mediadora da conversa da criança com a vida26. do seu conhecimento anterior, trabalhar com seus
Cabe-lhe conhecer as necessidades e perceber, em valores e visão do mundo, utilizando para isso a
cada momento e em cada etapa do desenvolvi- metodologia problematizadora e discutir o pro-
mento da criança, o que esta pode fazer sozinha e cesso educacional em função da prática já expe-
de que modo deve ocorrer sua intervenção. É im- rimentada e dos conceitos adquiridos em relação
portante estar atenta, dando à criança o tempo ne- a essa prática. Segundo PEDUZZI16, a teoria é ne-
cessário para que compreenda seus problemas e cessária na medida em que subsidia a reflexão
busque soluções em cada situação. A antecipação sobre a prática.

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Ao reconhecer a importância do papel do zir sua carga horária de oito horas para seis horas
funcionário junto às crianças, a creche deve pro- e trinta minutos diários, antiga reivindicação da
curar investir nos seus recursos humanos, capaci- categoria9.
tando-os para a melhoria da qualidade da atenção Alguns fatos têm ocorrido nas creches
dispensada. paulistas e vêm comprovar a crise extremamente
De acordo com ROSEMBERG20. o aten- grave pelas quais estão passando essas instituições.
dimento de creche em período integral não conta O Jornal “O Estado de São Paulo”, de 14 de julho
com pessoal qualificado utilizando-se muitas ve- de 1993, página 10 (Cidades), relata em artigo de
zes de leigos com baixo nível de escolaridade, sem Ruberti, algumas situações bastante dramáticas,
nenhum curso específico de capacitação. As car- mas já conhecidas por todos: as creches da rede
reiras de profissionais de creche não foram ainda municipal não têm equipamentos, faltam funcio-
definidas e muito menos regulamentadas. Para nários, manutenção e vagas para as crianças. Na
essa autora, as crianças tem tido um atendimento semana anterior à publicação, dois bebés haviam
relativamente eficicnte do ponto de vista de guar- falecido em duas creches municipais um em São
da, proteção e cuidados físicos mas, em geral, não Mateus, vitima de problemas cardíacos, outro, em
têm encontrado satisfação para suas necessidades São Miguel Paulista morreu asfixiado, depois de
afetivas e educacionais. Isto poderia ser superado regurgitar; ambas localizadas na Zona Leste. Se-
pela orientação técnica cuidadosa e preocupação gundo declarações de Antonio Sallim Curiati, Se-
constante com a formação em serviço do pessoal cretário da Família e Bem Estar Social da PMSP
contratado. (gestão (1993 - l 996), no mesmo artigo, além das
A Constituição do Estado de São Pau1o22, 317 unidades diretas existiam nessa ocasião outras
promulgada a 5 de Outubro de 1989, Capítulo III 341 unidades conveniadas em São Paulo. Juntas
- Da Educação o art. 248 determina que: o órgão elas somavam aproximadamente 75 mil vagas, ou
próprio de educação do estado será responsável seja, tinham possibilidade de atender a apenas 20%
pela definição de normas, autorização de funcio- da demanda, constituída por filhos de famílias que
namento supervisão fiscalização das Creches e recebiam até quatro salários mínimos mensais.
Pré-Escolas públicas e privadas no Estado. Cálculos da Secretaria demonstraram que 315 mil
§ único - Aos municípios, cujos sistemas crianças de 0 a 6 anos, esperavam por uma vaga.
de ensino estejam organizados, será delegada com- “Oitenta por cento das creches, precisavam de
petência para autorizar o funcionamento e super- manutenção quando assumimos a ^rde famílias que
visionar as instituições de educação das crianças recebiam até quatro salários mínimos mensais.
de zero a seis anos de idade. Cálculos da Secretaria demonstraram que 315 mil
O relato de experiência de uma Creche crianças de 0 a 6 anos, esperavam por uma vaga.
Municipal de Santana, São Paulo, feito pelo Con- ‘`Oitenta porcento das creches, precisavam de
selho Nacional dos Direitos da Mulher9 em 1988, manutenção quando assumimos a FABES. O orça-
também falava sobre a necessidade de formação mento da Secretaria, fixado em Cr$ 4 trilhões, é
profissional das pajens, geralmente, profissionais insuficiente e já foram enviados à Camara pedidos
sem formação para esse tipo de trabalho com es- para que os vereadores aprovem a readequação de
colaridade de 4ª série do 1° grau, trazendo, na verbas de Cr$ 7 trilhões mais a suplementação de
maioria, apenas a experiência do trabalho domés- Cr$ 5 trilhões”. O artigo prossegue citando um re-
tico. Isso justificaria a percepção do trabalho das latório publicado no Diário Oficial do Município,
pajens que olhavam a criança de acordo com as que mostrava a necessidade de reparos nas instala-
suas experiências domésticas, sendo difícil a com- ções hidráulicas e de saneamento em 223 unida-
preensão quanto às necessidades das crianças nas des (creches diretas) e de troca de porias e vidraças
diferentes idades e, especialmente, quanto ao em outras 222.
melhor processo educativo para o seu desenvol- As creches também foram alvo de vanda-
vimento. A preparação dessas profissionais para lismo, tendo sido, neste ano, registradas l20 ocor-
o trabalho foi feita pelas professoras e pelo pes- rências em delegacias de polícia por causa de de-
soal ligado à saúde através de discussão em gru- predações. Com relação aos recursos humanos,
po e orientação individual, o que contribuiu sig- Maria Malta Campos, pesquisadora da Fundação
nificativamente para a mudança de atitudes Carlos Chagas e que trabalha com Creches desde
pretendida. Durante dois anos houve um grande 1975, afirmou que desde o início do ano (de 1993)
esforço no sentido de implantar novas rotinas e mais de 150 diretoras de creches municipais fo-
métodos de trabalho, o que se obteve a partir da ram substituidas. “As funcionárias com experiên-
organização da categoria. Entre as novas conquis- cia foraram demitidas e a maioria das admitidas é
tas, as pajens das creches diretas da Prefeitura Mu- despreparada para o cargo. O cargo é de confian-
nicipal de São Paulo (PMSP) conseguiram redu- ça, não é preenchido por concurso e quando muda

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a administração serve para atender a interesses faltam muito. ``Os quadros de funcionários estão
políticos. Os funcionários e as crianças pagam um incompletos na maioria das creches, afirma a pes-
preço alto até se adaptarem às mudanças”. Para quisadora para o jornal. Às vezes, o número de
Curiati*, “as diretoras tem que seguir as diretri- funcionários é adequado, mas as pessoas são pou-
zes pedagógicas da Secretaria e as recém-admiti- co qualificadas. A média de 100 crianças por uni-
das precisam ser submetidas a treinamento. Quan- dade é alta. Em países desenvolvidos, há, no má-
do o Partido dos Trabalhadores assumiu, também ximo, 60 crianças por creche. As mudanças
mudou as diretoras”. A baixa qualificação não é constantes na administração, os baixos salários e
criticada apenas em relação às diretoras. As Au- a falta de equipamentos, levam a um clima de in-
xiliares de Desenvolvirnento infantil (ADI ou pa- satisfação que cria condições propícias a fatos não
jens) anteriormente só precisavam ter até a 4ª sé- desejados”, diz a pesquisadora, referindo-se à mor-
rie (primário). Ganhavam em média Cr$ 6 milhões te das crianças, registradas na semana anterior.
(de cruzeiros) por mês nas creches diretas, salá- A formação das trabalhadoras de creches
rio bastanto baixo, porém maior do que recebiam só será efetiva na medida em que houver partici-
a pajens das creches conveniadas na época dá pação social dos funcionários em seus órgãos de
publicação do artigo citado. Agora a FABES está representação (sindicatos de classe, associações
exigindo o l ° grau completo para admissão das e movimentos sociais), quando forem valoriza-
ADIS. CAMPOS considera que, como são mal dos por salários justos e tiverem seus direitos res-
pagas, essas pessoas têm nível de vida precário e peitados.

Abstract: This work presents a bibliographical review on the development of daycare centers
and their role along history, specially in Brazil. It also discusses the difficulties that the day care
centers have been facing, including those related to the training of their staff, mannly composed
of women.

Key-Words: daycare centers, capacitation, working women.

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* Jornal “O Estado de São Paulo”, de 14 de julho de 1993, pág. 10 (Cidade).

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16 PEDUZZI, M. Capacitação de pessoal auxi- 23 SCHOCHI, M. J. Contribuição ao estudo da


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Recebido em: 04/02/96


Aprovado em: 02/04/96

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