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REDIMENSIONANDO A QUESTAO INDIGENA NO BRASIL: UMA ETNOGRAFIA DAS TERRAS INDIGENAS Jodo PacHEco DE OLIVEIRA I- Introdugao Em uma afirmagao muito conhecida, feita h4 mais de duas dé- cadas, Edmund Leach observava, néo sem uma ponta de ironia, que as generalizagbes dos antropélogos estao sempre marcadas pelas soci- edades especificas que cada um deles estudou. Além das caracterfsti- cas que uma sociologia do conhecimento buscaria apreender, que vinculam o cientista a uma sociedade ¢ um tempo histérico determi- nados, o que Leach (1974) procurou enfatizar € que as interpretacdes dos antropélogos sobre o social e o humano parecem encontrar o seu ponto de partida (e a sua forga de evidéncia) em uma experiéncia singular de pesquisa em uma dada ilha do Pacifico ou uma determi- nada aldeia africana. Essa reflexao se revela muito oportuna quando se considera os debates ¢ as andlises sobre a polftica indigenista no Brasil, ou ainda quando se avalia o impacto que podem ter sobre esses povos indige- nas a ago de frentes de expansao ou a atuacio de diferentes agéncias de contato. Confrontados com os preconceitos dos nao especialistas, que unificam sob a nogao de “indio” os costumes ¢ as linguas que nao se remetem As tradigdes conhecidas do Ocidente, os antropélogos tém freqiientemente sublinhado as diferengas internas a grupos e “culturas, apontando ainda as diversas re presentagdes que tais povos fazem de seu contato com o homem brancoe de sua insergdo nessa hist6ria. A agao das frentes de expansio e das agéncias de contato sio 15 apanhadas em um nivel local, descritas com grande miniicia com, . fenémenos sociais articuladas aos diferentes c6digos culturaigens esto em jogo nessa situagao especffica. ¢ ‘Tais estudos tém um mérito indiscutfvel. Mas existem Paralela. mente outros aspectos e processos sociais que homogencizam os gru- os indigenas perante a sociedad nacional ¢ que ainda carecem q “io por parte dos an tropélogos. Bo caso, por exemplo, dy caracterizagao sociolégica do indio frente a uma estrutura de classe; da pesquisa especifica voltada para o enquadramento da politica indigenista no ambito de programas econémicos e de metas governa- mentais; ou ainda das tentativas de aprofundamento da légica de atuagao junto aos grupos indigenas das diferentes agéncias de contato, Uma vez Malinowski (1939) utilizou uma imagem muito clara € sugestiva para indicar o desafio que sociedades africanas colocavam para uma antropologia interessada no estudo da mudanga social. Ao lado de um estudo minucioso das Arvores, ha necessidade de uma caracterizagao geral da floresta. Assim uma abordagem alternativa 4s sociedades tribais afticanas precisaria perder de vista as peculiarida- des locais ¢ privilegiar os grandes processos historicos de mudanca que atravessavam a regio. O “sobrev6o” proposto por Malinowski terminou em uma anilise igualmente deformante da mudanga social, sendo com propriedade criticada Por seus contempordneos e por au- tores posteriores. Contudo essa imagem pode ser rea roveitada, ain- da que com bastante cautela (inclusive pelo perigo de naturalizar o processo de conhecimento) para as finalidades do presente texto, Quando se tem como objeto a politica indigenista ou algum dos as- pectos e processos homogeneizadores acima indicados, é indispensd- vel realizar uma descrigao detalhada das caracterfsticas que definem aquela florestacomo unidade, indo por exemplo desde a sua localiza- ¢Ao fisica, tamanho, composigao e tipo de solo até As Praticas efetivas dos grupos sociais envolvidos na utilizacgao de seus recursos, abran- gendo ainda as normas pertinentes da legislagio florestal ¢ os planeja- mentos ¢ prioridades assumidos nas politicas governamentais, Isso exige um estudo bem diverso daquele a que os antropélo- gos esto mais comumente habituados. Torna-se necessério trabalhar com outra metodologia para enfocar dados agregados, procedentes ee he ee J Ta A - de povos indigenas, regides e situagées sociais muito distintos entre si. cz preciso desenvolver instrumentos de critica dos dados fornecidos ' por fontes diretamente interessadas na questo e obtidos em condi- | ges de credibilidade bastante diferenciadas. Novos conceitos ¢ teorias tentam dar unidade a um conjunto altamente heterogéneo de fend- menos, abrangendo censos, mapas estatisticos, dispositivos legais e diferentes tipos de discurso de varios atores sociais. Nesse plano os estudos localizados voltam a ter uma fungao decisiva nao sé como fornecedores de dados mais confidveis para comparagio e controle, mas principalmente como modalidades de concretizagao e aprofundamento dos processos sociais diagnosticados anteriormente apenas no nivel de tendéncia e antagonismos bem gerais. Na antropologia brasileira os estudos localizados predomina- ram amplamente, com a exceg’o notdvel de duas pesquisas empreen- didas por Darcy Ribeiro (“As fronteiras da civilizagao”, em Osindiose a civilizagao, 1970) e Roberto Cardoso de Oliveira (“Problemas ¢ hi- péteses relativos a friccao interétnica”, emA sociologia do Brasil indé- gena, 1972). Nesses trabalhos é delineado nao apenas um amplo pai- nel dos povos indfgenas brasileiros, como também elaborados con- ceitos € constitufdo um novo campo para anilises te6ricas (a proble- mitica das frentes de expansio da sociedade nacional; os niveis e pro- cessos implicados pela fricco interétnica). O presente texto retoma essa preocupacio totalizante ¢ histérica, canalizando-a para a discussao de uma relagdo especifica, mediada pelo Estado brasileiro, existente entre os grupos indfgenas ea terra (entendida esta em seus dois aspectos: meio basico de produgao e sustentaculo da identidade étnica). A finalidade central desse traba- Iho € portanto realizar umaetnografia dos processos sociais envolvi- dos no estabelecimento das terras indigenas no Brasil. Dessa forma o% trabalho dirigir4 sua atuag4o nao para os cédigos culturais especificos que definem as necessidades ¢ as reivindicagées das populagdes nativas, | mas para os processos jurfdicos, administrativos ¢ politicos pelos quais Estado é levado a reconhecer determinados direitos dos indios 4 terra Isso requer um levantamento das disposigées legais sobre o as- sunto, bem como uma avaliago de suas implicagdes sociolégicas; uma descrigao das praticas administrativas e tramites burocrdticos 17 pelos quais tais normas podem vir a ser aplicadas; um, ¢4o de como e em que medida tais direitos sao concretizados vamente; uma tentativa de contextualizagao da politica ¢ ee indigenista face a outros processos sociais ¢ econdmicos ¢ as mo cas oficiais em curso no pais. ti a COnsidey, I-A conceituagao de “terra indigena” e suas conseqiiéncias sociolégicas De infcio é necess4rio perceber que “terra indigena” nao é uma categoria ou descrigéo sociolégica, mas sim uma categoria juridica, definida pela Lei n° 6.001 de 10 de dezembro de 1973, conhecida como 0 Estatuto do {ndio. Nesta a categoria é definida e por diversas vezes acionada, sendo incorporada as praticas administrativas da FUNAI. O artigo 17 dessa lei enumera trés tipos de terra indigenas: a) as 4reas de dominio das comunidades indfgenas ou de sil- vicolas; b) as areas reservadas (isto é, onde o 6rgao tutor estabeleceu par- ques ¢ reservas indigenas); c) as terras tao-somente habitadas ou ocupadas pelos silvicolas (sobre as quais, em conformidade com 0 artigo 198 da Constituigao Federal, os indios tm direitos que independem da existéncia ou nao de demarcagao). O primeiro caso refere-se a terras que foram adquiridas pelos indios nas formas prescritas na legislagio civil. Sao antigas doagées as comunidades indigenas feitas por érgaos publicos (federais ou esta- duais) ou particulares, bem como de aquisigdes regulares que pos- sam vir a ser realizadas em carter privado pelos indios. Sobre essas terras os fndios gozam de um pleno direito de Propriedade, enquanto aquelas mencionadas nos itens 6 € ¢ constituem-se em bens inaliendveis da Unido, aos indios resguardando-se a posse perma- nente € o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e das utilidades ali existentes (Lei 6.001, arts. 32 22). Em um texto escrito anteriormente (Oliveira Filho, 1979), eu ja havia procurado apreender algumas das implicagées sociolégicas das 18 normas contidas no Estatuto do {ndio. O Estatuto do {ndio enfatiza de forma bastante nitidaa via camponesa como modo privilegiado de Integragao ‘das populacées indfgenas na sociedade brasileira. O direi- to dos grupos tribais de ter acesso A terra € reiteradamente afirma- do (art. 2 § 9, arts. 17 a 38, art. 62), ficando igualmente explicitado que nfo se trata apenas de resguardar o local de moradia ou outros de significag4o simbélica (cemitérios, lugares miticos, etc.), mas de garantir a terra como um meio de produgio necessirio (arts. 26, 27 ¢ 28). Assim fica estabelecido que as 4reas reservadas — onde poderd se tornar mais explfcita a diretiva do indigenismo oficial — serdo ter- ras destinadas a posse e ocupacao permanente pelos fndios, sufici- entes para que “possam viver e obter meios de subsisténcia, com direito ao usufruto e utilizagao das riquezas naturais dos bens ne- las existentes, respeitadas as restrigées legais” (art. 26). Mais adi- ante € dito que uma “reserva indigena é uma 4rea destinada a servir de habitat a grupo indigena, com os meios suficientes 4 sua sobrevivéncia” (art. 27), requisito que, como se poderd ver mais adiante, nem sempre foi observado pela FUNAI, sendo modifica- do de acordo com as pressées sofridas em casos concretos. Um outro aspecto que deve ser destacado é 0 reconhecimento legal dado ao regime de propriedade que € caracteristico de cada grupo indigena. Isso é claramente afirmado no que concerne aos par- ques indigenas: “O loteamento das terras dos parques indigenas obe- decer ao regime de propriedade, usos ¢ costumes tribais, bem como As normas administrativas nacionais, que dever4o ajustar-se aos inte- resses das comunidades indigenas” (art. 28 § 3°). Aapropriagao cole- tiva da terra como fundamento de uma solidariedade grupal e da identificagdo étnica nao parece ser desconhecida pelo legislador. ssim ao determinar que a ocupac4o prépria por um indio, por dez anos consecutivos, de um trecho de terra inferior a cinqiienta hectares Ihe garante a propriedade plena dessa Area, esclarece que tal norma nao se aplica a qualquer uma das trés modalidades de terra indigena acima indicadas (art. 33). Em um texto de 1960, Cardoso de Oliveira (1972: 22) observa que com a presenga dos Postos Indigenas se verifica a emergéncia de “mecanismos contra-assimiladores”, havendo um reforco da identi- 19 dade étnica. Na mesma linha de raciocfnio, embora sublinhay aspecto (0 do regime de propriedade), eu diria que a Constituigg, uma reserva faz com que a populagao indigena af reunida = ae talizar certas peculiaridades econémicas € Sociais, favorecendo a is produgao de um novo tipo social: ocampesinato indigena, com ne comunitéria do meio basico de produgao, a terra (vide Oliveira Filhy 1979: 7-11). A 4rea da reserva é entao ocupada pela comunidade in. digena como um todo, sendo vista como um bem nao Passivel de apropriacio individual em carater permanente. Um conjunto de nor- mas, sobre as quais existe um certo grau de consenso entre os mem- bros daquela comunidade, regula a utilizagao das terras existentes, Abasc para essa distribuigdo pode ser tanto os critérios estabelecidos exclusivamente pelo grupo tribal e referidos ao seu patriménio cultu- ral passado ou presente (é notoriamente o caso dos parques indige- nas), quanto normas estabelecidas num plano quase contratual entre acomunidade ¢ 0s representantes locais do 6rgao protetor. A literatura etnogrdfica registra casos de acentuada interferéncia de chefes de Pls. na alocacio regular das terras para cultivo entre os proprios indios 'Ndo outro bem como entre arrendatérios e indios. E preciso deixar bem clara a singularidade desse campesinato indigena face a outros tipos de campesinato. Além do controle coleti- vo sobre 0 meio bésico de produgao, hé que ser destacado que tal campesinato ¢, por diversos meios, colocado como sendo diretamen- te subordinado ao Estado. Primeiro, no plano jurtdico, o indio tem uma capacidade apenas relativa, sendo tutelado pela FUNAI (art. 7" § 2°). Segundo, com excegao dos casos bastante raros em que existe efetivamente dominio indigena, as terras indigenas sao de dominio da Unido, sendo resguardadas 4 grande maioria das comunidades indigenas no o pleno direito de propriedade, mas tao somente 0 direito 4 posse permanente e usufruto exclusivo dos recursos naturais das areas onde habitam. Terceiro, todas as modalidades legais de te ras — inclufdas aquelas de dominio indigena — sao consideradas como “bens do Patriménio Indigena” (art. 39), ficando a gestdo de tals recursos a cargo do érgio federal de assisténcia, a FUNAI (art. 42)- 20 III - A demarcagio das terras indigenas Como assegurar aos indios os direitos 4s suas terras? O texto legal é bastante claro, especificando, de um lado, que essa € uma fun- ¢ao precipua da FUNAT ¢, por outro lado, que esse direito é reafirma- do pela demarcacio, mas nao advém unicamente dessa fonte. Diz o art. 25, da Lei 6.001: O reconhecimento do direito dos indios e grupos tribais & posse permanente das terras por eles habitadas, nos termos do artigo 198 da Constituigio Federal, independeré de sua demarcacio, ¢ seré assegurado pelo érgio federal de assisténcia aos silvicolas atendendo a situagao atual ¢ ao consenso histérico sobre a antigitidade da ocupagio, sem prejuizo das medidas cabiveis que, na omissio ou erro do referido érgio, tomar qualquer dos Poderes da Reptiblica. Grande parte das terras habitadas pelos indios sao reivindicadas por brancos, que sobre elas exibem titulos de propriedade ou alegam a aquisigao de direitos de posse. Considerando tais fatos, o texto legal dispée: “Ficam declaradas a nulidade e a extingao dos efeitos jurfdi- cos dos atos de qualquer natureza que tenham como objeto o dom{- nio, a posse ou a ocupagio das terras habitadas pelos indios ou comu- nidades indigenas” (art. 62, Lei 6.001). Em outro dispositivo, afirma explicitamente que-‘as terras indigenas sao inusucapiveis”. E mais além, prevé igualmente a situagao em que os brancos compeliram os {ndios a abandonar suas terras, no intuito de descaracteriz4-las como drea indigena: “Aplica-se o disposto neste artigo As terras que tenham sido desocupadas pelos indios ou comunidades indigenas em virtu- de de ato ilegitimo de autoridade e particular” (art. 62 § 1°). Edotao érgio federal de assisténcia ao indio, a FUNAI, de grande poder e agilidade de ago para regularizar a situagao das terras indfgenas: “Ninguém terd direito a ago ou indenizago contra a Unido, o érgao de assisténcia ao indio ou os silvicolas em virtude da nulidade e extingao de que trata esse artigo, ou de suas conseqiiéncias econémi- cas” (art. 62 § 2%). Ademarcagio constitui a etapa derradeira no processo de regu- larizagao e garantia das terras indigenas, cabendo essa iniciativa 4 FUNAI de acordo com normas a serem estabelecidas em decreto 21 cD Poder Executivo (art. 19, Lei n.° 6.001). Posteriormente o Decreto n.° 76. 999 de 8 de janeiro de 1976 fixa as normas para a demarca. do das terras indfgenas. O Presidente da FUNAI nomeia um an- tropélogo e um engenheiro ou agrimensor, incumbidos de realizar um levantamento de campo, procedendo A descrigao dos limites da Area, tendo em vista os critérios de situagao atual e consenso histéri- co sobre a antigitidade da ocupacdo pelos indios (art. 1°). A aprova- ¢4o dessa proposta cabe ao Presidente da FUNAI (art. 2° § 29), sen- do depois submetida 4 homologagio do Presidente da Reptiblica (art. 74). Antes do inicio dos trabalhos de campo, a FUNAI devera expedir um edital anunciando aos confinantes o inicio do Processo de demarcagio (art. 5%), Sio rigorosamente especificados os requisi- tos técnicos necessrios, sendo prevista uma margem de tolerncia face as coordenadas geodésicas, bem como detidamente descritas a coloca- G40 de marcos de madeira de lei e cimento, a abertura de picadas acom- panhando as linhas secas e a colocagao de piquetes nas divisas naturais “art. 6). O Gltimo momento da demarcagio € 0 registro em livro pré- prio do Servigo de Patriménio da Unido (SPU) e no livro do Cartério Imobilidrio da comarca onde se localiza a terra indfgena (art. 19 § 14). Ainda pela Lei n.° 6.001 é fixado um prazo de cinco anos (portanto concluido em 19 de dezembro de 1978) para que a FUNAI conclua o processo de demarcagio das terras indigenas (art. 65). IV - Situagao das terras indigenas Se essas sao as disposigdes legais, cabe agora indagar de que maneira elas se refletiram na a¢ao indigenista do érgao federal de assisténcia. Qual é a situagao atual das terras no Brasil? Para respon- der a essa pergunta dispde-se somente de dados oficiais. A primeira dessas fontes é constitufda por um conjunto de dados apresentados pela Assessoria de Planejamento (ASPLAN) da FUNAI, atualizados até junho de 1981, ¢ posteriormente publicados no livro A verdade sobre o indio brasileiro (1981), de carater informativo e também pro- pagandistico. A segunda sao os dados apresentados pela equipe do CIMI, intitulados “Levantamento da realidade indfgena”, publica- dos no jornal Porantim 37 (IV: 3-13) de abril ff 1982, sendo 22 atualizados até o primeiro trimestre deste mesmo ano. Ainda que os dados tenham sido reunidos pela equipe do CIMI, esta explicita, mente adverte que se bascou em informagées fornecidas pela FUNAL Nao ha possibilidade no momento de proceder a um levantamento diverso: as pesquisas atuais de antropélogos nao chegam a abranger 1/4 dos grupos indfgenas. Esse quadro poderia ser substancialmente ampliado recorrendo-se a informagées fornecidas por organizacdes de natureza religiosa que atuam junto aos grupos indigenas brasilei- ros. A realizacao de tal pesquisa, no entanto, demandaria recursos muito maiores (em pessoal especializado, tempo e dinheiro), do que aqueles de que se dispés para a preparacdo desse texto! Nos quadros elaborados pela FUNAI as terras indigenas sao classificadas em trés grupos: a) as j4 “demarcadas”; b) as “identificadas, mas nao demarcadas”; c) as terras “a identificar”. O primeiro grupo abrange aquelas terras indigenas onde jé foi realizado o processo fisi- co de demarcagio, com a colocagao de marcos, placas e piquetes de acordo com o Decreto-lei n.° 76.999. Nao ha informacio alguma so- bre se tais areas demarcadas pela FUNAI foram realmente homolo- gadas por decreto-lei do Presidente da Republica, nem se estao cadas- tradas no Servigo de Patriménio da Uniao e nos cartérios municipais — medida essa que significaria a plena regularizagio da situagao juridica dessa terra, protegendo-a da investida das frentes de expan- sao e da especulacdo fundiaria. O segundo grupo inclui as terras indigenas que j4 foram identificadas por funcionérios da FUNAI, por ora nao tendo sido ainda realizado o processo de demarcagao. Essa nogao de “terras identificadas” é bastante vaga, correspondendo a definigdes ¢ com- Prometimentos muito diferenciados por parte da FUNAI, desde a existéncia de uma portaria de delimitagao assinada pelo presidente do 6rgio (0 que j4 supée a realizagao de estudos preliminares e a aceitagao no Ambito da FUNAI da proposta daf decorrente) até sim- ples estimativas de 4reas fornecidas por chefes de Pls. 1. A pesquisa aqui realizada contou com a colaboragio de Vera M. Navarro Paoliello ¢ Carlos Augusto da Rocha Freire, beneficiando-se do apoio do CNPq através de Auxilio-Pesquisa n.° 404.534/82. Quadro n°1 Distribuigio das Terras Indigenas por condigio de demarea, '$40 € por unidades administrativas da FUNAL 28901 2PpIOAY ALNOS 86e11 gs r1e0e e'9682z 0109 rere AWioL a . tort zss¢1 - - 55105 erensery, eus8ypuy anbieg - - - 9¥61 s'o167 esso1p ory naury euofypuy onbseg - - - - ert ¥en osso1p ory eSze5 op eueg ap ewouginy epugpnly - - - - Iss 90s INS Op apueig org Ud -f1 - - wz zo. alez ¥6r pursed ‘oned org AG ZI (ins) eryeg. . - 886 891 ser's 8199 fours onjdsg ‘ste195 seu, Adel - 7 ) seroz Cuore zest o'ors seuozeury ‘eusres0y Ad 01 - - 1687 Sor e041 og IMS op osso1n oreyy Wd oss0ig oreyy () 902 (P) ove S967 619 ~ 66§97 — ‘stuozewy ‘eugpuoy ‘oy Ades - 1g Tzo1 Behl Tob OSS01D OIE WN ‘SEIOD UdeL - - 809 vole (©) 8284, © ¥'919'T oequeseyy Ads - - oer 8'998'T “ssl soc8 Oss01D) OE WL Yds 7 : : : 866s 98 wuneieg eiurg “puereg Ades oonqurewsog ‘eqyereg @si9 - essai 601 ze0'E ¥U1 ‘seofery ‘odidiog ‘eryeg Uae 88h - () cere Ore th67 sE0E7 pdewy “peg Az 680°01 - ebSZ1 o'sis8 - - seuozewy Yel TYNAd epeumnsg — (eyoo0'!) «= ePeEwsY —_(eYQOG'T) epewnsy —— (eyoo0'1) Feuordoy oxdeindog —212yiodng —ogSendog —sayiodng ——oxSeyndog_atoygsodng orSezije207] apepiun, epearewog oN seu seoynuopy & e191, epeoynuopy ess9y, epesrewog egy, as estimativas tou a cifra referente ao PI Amanayés (PA); b) Faltam para os Wacu (AL) € 0s Xoc6 da Itha de Observagaes a) F yylacional pop’ Jaina Sio Pedro (SE); c) Faltou a estimativa AArat®s Jo PI Kaxaraxi (RO), Zor, para o PI Rodeador (MA); d) Falta a estimativa d dados 4° ‘e) Faltam os Kampa (Rio Aménca), Kulina (Maranowa), Rio Gregério (AC); ‘Tenharim (AM); f) Faltam os dados de Canauamim (RR). I Quanto ao terceiro, € constitufdo de grupos indigenas sobre os quais a FUNAI ni dispde de qualquer estimativa relativa As Areas que ocupam. Gcralmente sao grupos (ou segmentos de gru- pos indigenas) junto aos quais a FUNAI nfo atua seja por serem considerados indios “hostis” ou “arredios”, seja por nao lhes reco- nhecer como fndios (caso, por exemplo, dos Tinguf-Boté ¢ outros grupos indigenas do Nordeste). Cabe notar, contudo, que nessa rubrica “a identificar”, a FUNAI possui 16 Postos Indigenas, sen- do sete deles destinados a “atragio” ¢ “pacificagao”.\A Gnica cifra de que 0 6rgio dispde a respeito desses indios, além de sua locali- zagao aproximada, é uma estimativa populacional.\ Baseando-me nessas informagées da FUNAI, compus 0 qua- dro n.° 1 ao lado, no qual estao indicadas a superficie e a popula- gio de cada uma dessas trés categorias de terras indfgenas, segun- do as unidades regionais da FUNAI em que esto enquadradas administrativamente. O levantamento feito pelo CIMI organiza os grupos indigenas em fungio da divisao em 4reas culturais, j4 tradicional na etnologia brasileira. As terras indfgenas sao classificadas apenas em dois gru- pos: as demarcadas e as nao demarcadas. Embora sejam fornecidos alguns dados sobre o processo de demarcagao (que foram por mim sistematizados ¢ amplamente utilizados nos quadros n° 6,7 € 8), nao existem quaisquer informagées ou estimativas sobre o volume de ter- ras jd “identificadas mas nao demarcadas” ou “a identificar”. O qua- dro n.° 2 na pagina seguinte apresenta 0 conjunto mais geral de dados constantes desse levantamento, indicando o ntimero, a populagao ea extensdo dos diferentes tipos de terras indigenas, apresentando-as segundo as reas culturais em que se encontram. Tais quadros permitem uma avaliagao da eficécia da FUNAI, 0 Srgao oficial de assisténcia, na tarefa de demarcagio das terras indige- nas. Tomando como base de célculo exclusivamente as terras cuja superficie j4 foi em alguma medida identificada, obtém-se que as terras demarcadas eqiiivalem a 32%, ficando os restantes 68% na con- dicdo de no demarcadas. O quadro é bastante preocupante uma vez — Ue no ano de 1983 se completou o dobro do periodo previsto pela Lei n.° 6.001 para isso. 25 Quadro n°2 Distribuigéo das Terras Indigenas por condigio de demarca igo ¢ drea cultural s8r'sst 695°66 - 881 916'SB «BEN HET ZI OZT WLOL 9sz'st sts mS Ol Tel 9SHHOT SZ OS/dS/¥d/SH RNIN ALL “OL 26°61 9, BSF Brel HEISS OT IMs op ossorp vey pursed peneseq “6 O/Vd/Fd/as £5608 lov2z ys 81 zss'8 —-999°S8 £1 TV/Vd/OW/SA — >89PION 21597“ 9199 99¢ wus ost9 tz’ 9 orquesey ‘peg idnanp pyepurg “2 ossory o1eyy “peg 68°21 £00'¢ wus or $686 = 91010226 ‘spiog ‘oxyueseyy —nBurx sunueogy “9 ee é wus 1 fest ble BENZ OE ossorp ore nury ony “¢ ossorg ory ¥9S6 Ruse g/s OL 9865 A841 IT ‘paeg ‘seuozeury esropeyy soledey “5 1 ore ws Ot WW6T —-BOTOLL'Z EI oss0ID oneWy ‘eIUQpUCY, piodeny “¢ susy ‘seuozeury snang 602 SIs le wus $9 0st ogrs 7 “(ea1E | 98) eTUQpuoy — ‘pun ‘ssouog -Z ewteioy ‘edewy sever SEE m/s Ib osest s9c9e8 ZI ‘preg ‘seuozeury —equgzeury sUON “| Feangyng eu) (eu) (qeu) (ey) cory Amey, —oeSejndog ofsuareg 'NoBSeIndeg — opstong ogSez1]2904 oxSeyndog sepeorewoq] OFN SEO, sepeorewog se], Temyng easy 26 Quadro n°3 Superficie _Percentual Populagio Percentual (1.000ha) de Superficie (hab,) da Populaczo Total Terras 13.121,0 32% 60.410 46% Demarcadas Terras Identi- 27.896,3 68% 70.714 54% ficadas mas nio Demarcadas TOTAL 41.017,3 131.124 As diferengas existentes entre os dados apresentados pelo CIMI e pela FUNAI n4o chegam de modo algum a invalidar o perfil geral tragado. Uma parte dessas diferengas se deve a data de feitura de cada um dos levantamentos, constando na relagao do CIMI quatro areas que foram demarcadas posteriormente ao quadro da FUNAI: TI. Kadiwéu, Tapirapé/Karaj4, Gaimbé (Kaiow4) e Fazenda Canto (Xukurd/Kariri). Existem outras diferengas, no entanto, que deveri- am ser objeto de uma pesquisa especffica que tivesse condig6es de tratar caso por caso. Como nao disponho de elementos para optar entre uma dessas alternativas ou constituir uma terceira, limito-me a indicar as razdes da diferenga: 15 reas dadas como demarcadas pela FUNAI (principalmente destinadas a atragao de grupos arredios e localizadas em Rondé6nia e Mato Grosso) nao constam da relagao ela- borada pelo CIMI; h4 diferengas (geralmente bastante pequenas) entre as cifras registradas pelas duas fontes em relagao a 13 Areas; nos qua- dros da FUNAI nfo constam algumas 4reas (a maioria delas demarcadas pelo antigo SPI) dadas pelo CIMI como demarcadas. 27 joo pacheco de oliveira O quadro a seguir (de n.° 4) compara globa ‘ fornecidas pela FUNAI e pelo CIMI ne ghetce nee was superficie das terras indigenas. Isso Permite ter uma idéja ana va das diferengas apresentadas, que alteram 0 quadro geral em a de 1/10. As terras demarcadas situam-se entre 12,2 ¢ 13,1 milhoes de hectares, as estimativas de populagao variando entre 60.¢ 85 milinds. genas. Quadro n°4 DADOS DA FUNAL LEVANTAMENTO DO CIM (1982) (1981) $e Superficie Populagao Superficie Populagao (1.000 ha) (hab) (1.000 ha) (hab.) Terra 13.121,0 60.410 12.294,6 85.916 Demarcada ‘Terra Identificada 27.896,3 70.714 Sem 99.569 mas nio Informagio Demarcada Terras a S/previsio 11.398 Identificar TOTAL, 142.522 185.485 V-Os grupos indigenas e a expansdo das fronteiras econdémicas Uma consideragao mais detalhada de tais dados pode sugerit hipéteses bastante interessantes sobre a relagdo entre 0 avango das fronteiras econdmicas ¢ a atuagio indigenista oficial. Para isso, apo ando-me nos dados fornecidos pela FUNAI, montei o quadro da distribuigao das terras indigenas identificadas de acordo com as uni- dades administrativas (a FUNAI tem 13 Delegacias Regionais e uma Ajudancia Autonoma) em que se localizam. Em linhas geraisoqua- 28 indigenismo € territorializagao dro abaixo (de n.° 5) indica que o érgio indigenista oficial tem conse- _- guido maior sucesso na demarcagio de terras indigenas em Areas onde | as frentes de expansio ja atuaram, a populagio indigena é mais redu- “zida e o montante de terra pretendido é menor. Este é 0 caso do sudeés- te do pais, as demarcagGes estando bastante atrasadas nas demais regides. Quadro n°5 Terras Indigenas Terras Identificadas Terras Demarcadas Identificadas mas NaoDemarcadas (%) (1.000 ha) (%) PDR AM 8518 100,0 : PDR PA-AP 10.018,4 77,0 23,0 3° DR BA-SE-AL-PB-PE 122,3 89,9 10,1 "DR PR-SC 84,6 - 100,0 5 DR MT 2.741,6 68,0 32,0 @ DR MA 1.835,8, 88,0 1g 7 DR GO-MT 577,2 814 18,5 8 DR AC-RO-AM -MT —5.566,4 52,5 474 9% DR Ms 5269 94,1 58 10*DR —-RR-AM 5.297,9 843 15,6 17 DR MG-ES-BA 83,6 20,0 79,9 122 DR SP-PR 29,6 0,6 99,3 IyDR RS) 50,6 - 100,0 AJABAG = MG(MT) 1.1984 7 100,0 As Delegacias Regionais da FUNAI em que esto registradas as maiores proporgées de terras demarcadas encontram-se naséreas de colonizagéo mais antiga, nas quais as frentes pioneiras j4 passaram, atomizando as posses indigenas e incorporando a regiao 4 economia nacional. Assim ocorreu, por exemplo, no sul do Brasil, onde todas as anpeoe (caso da4eda 13 DR) ou praticamente todas (caso An Tear demarcadas. E também o caso da 11? DR (Esta- caries Fane Espirito Santo e sul da Bahia) em que, sempre s da FUNAI, 79,9% das terras estariam demarcadas. ‘rea ma situagio radicalmente diferente se encontra na Amazonia, ‘™ que a fronteira econ mica ainda se acha em marcha, sobre- Pondo, se Mai . Pana 4€ colidindo com as frentes de expansdo mais antigas. O caso mais ébvio € 0 da 1* DR, no Estado do Amazonas Cuja jurisdi - A x ne y Jurisdi- g4o inclui uma superficie de 8,518 milhées de hectares de terras indi- genas identificadas, e onde os dados da FUNAI nao apontam uma que tenha sido demarcada. Na 6* DR (Estado do Maranhio), na 10? DR (Roraima) ena 2" DR (Para e Amapa) mais de 3/4 das terras indige- nas identificadas esto ainda para serem demarcadas, Na 8? DR (Rondénia, Acre ¢ parte do Amazonas) a situagio é andloga, s6 pare- cendo distinta por af estar inclufdo como demarcado o Parque Indi- gena do Aripuan, com 1,258 milhées de hectares. Também em Mato Grosso do Sul, na 9* DR, registra-se uma alta percentage de terras indfgenas nao demarcadas (94,1%), emborao volume de terras envolvido (526 mil hectares) seja muito inferior ao das delegacias do Pard (10,018 milhGes de hectares), Amazonas, Rondénia (5,566 milhdes de hectares) e Roraima (5,297 milhdes de hectares). Tais observacoes reiteram e especificam formulagées realizadas por Roberto Cardoso de Oliveira (1972: 103-4) para a década de 1960. Baseando-se na distribuigao dos grupos indigenas pelas microrregides esbogadas pelo IBGE, esse autor chega 4 conclusiao de que a grande maioria dos grupos ind{genas brasileiros (82,4% do total, isto é, 169 em 205) habitavam em zonas de baixa densidade demogrAfica, en- quanto nas zonas pioneiras em que existiam condigées mais favoraveis ao desenvolvimento econémico persistiam somente 4,8% (ou seja, 10 em 205). Por ora basta reter a hipétese de uma correlagao entre avango das frentes pioneiras (e conseqiiente incorporagao dessa regiao a eco- nomia de mercado) eefetividade no proceso de demarcagio das terras indigenas. Mais adiante voltarei a esse ponto, abordando os aspectos de tamanho e populacao das terras demarcadas. Existem poucas exceg6es a correlagao acima sugerida, explicadas por fenémenos histéricos bem definidos. E 0 caso da Ajudancia Auténoma de Barra do Garga, cuja 4rea estaria, segundo a FUNAI, inteiramente demarcada, isso se devendo & forte pressio exercida pe- las liderangas Xavante sobre os fazendeiros locais ¢ a administraga0 central da FUNAI E 0 caso também do Parque Indigena do Xing» encarado por alguns circulos governamentais como uma “vitrine” do indigenismo oficial. J4 os grupos indfgenas do Nordeste — 4 dife- 2n renga daqueles do sul do pais, que se opuseram decididamente a penetragao dos brancos e foram beneficiados com demarcagées reali- zadas pelo SPI — apenas recentemente esto se mobilizando para retomar suas terras € reavivar a sua identidade étnica, sendo bastante exiguaa proporgao efetiva de terras demarcadas na 3* DR. VI - Histérico do processo de demarcagao As formulagées anteriores s4o em grande parte reforgadas quan- do se pensa a demarcagao das terras indfgenas como um processo social ocorrido no tempo. Para constituir esse quadro histérico da atuagdo da FUNAI, apoici-me em dados fornecidos subsidiariamente na relagdo organizada pelo CIMI (1982). No quadro abaixo estao indicados o ntimero ea extensio de terras indfgenas demarcadas pela FUNAI de 1972 a 1982 (a cifra referente a esse ano esté atualizada apenas para o primeiro trimestre). Quadro n°6 Terras Indigenas —Terras Indfgenas —_Terras Indfgenas Demarcadas com Decreto-Lei__sem Decreto-Lei ‘Ano ° Extensio oN Extensio = - N° Extenséo Areas (ha) Areas (ha) Areas (ha) 1972 1 67.078 - - 1 67.078 1973 2 277.098 2 277.098 - - 1974 1 167.752 1 167.752 - - 1975 6 2.598.176 3. 1.779370 3 818.806 1976 3 466.270 3 466.270 - a 197 16 2.575.238 3 170939 13. 2.404.299 1978 4 3.413.859 1 2.642.008 3 771.856 1979 6 695.965 - - 6 695.965 1980 1 89.698 - - 1 89.698 1981 23 1.056.708 7 644304 «16 412.404 1982 3 588.381 : : 3 588.381 Total 66 11.966.043 20 6.147.556 46 5.848.487 31 jodo pacheco de oliveira Aise pode verificar que nao ha qualquer regularidade no nde mero ou extensao anual das demarcagées. Os contrastes so Notaveis: no ano de 1978 sio demarcados 3,4 milhées de ha, enquanto em 1972, na gestéo do Gen. Bandeira de Mello, esa cifta é apenas de67 mil ha; mais tarde em 1980, no perfodo final da administracio do Cel. Nobre da Veiga, o montante de terras demarcadas aproxima-se daquele de 1972, atingindo apenas 89 mil ha. De modo geral é poss. vel dizer quea grande maioria dessas demarcagées, totalizando 9,2 milhées de ha (e 76% de todas as demarcagées feitas pela FUNAD,, fi realizada durante a gestdo do Gen. Ismarth de Aratjo Oliveira, entre os anos de 1974 e 1979. No quadro abaixo esto indicadas as demarcagées realizadas anteriormente a criagao da FUNAI. Percebe-se bem claramente uma concentragio na regiao Sudeste do pais (correspondente, atualmente, as 4°, 11°, 12" 13" D.Rs. da FUNAI), onde esto localizadas 28 das 54 reas demarcadas. As reas demarcadas em Mato Grosso refletem diretamente a atividade da Comisso Rondon, ainda nos primérdios do SPI. - 7 Quadro n°7 Localizagio Ne de Extensio Areas da FUNAL SSS FDR AM 9 5.113 ha DR PR-SC 6 84.449 ha S*DR Mr 4 87.259 ha ¥ DR Ms 1B 31.767 ha IF DR MG- 3 10,000 ha 12*DR SP-PR u 29.328 ha 13°DR RS 8 50.679 ha TOTAL 54 298,595 ha 0-597 -L3 4-3 Nos retrospectos histéricos sobre 0 indigenismo no Brasil é freqiiente uma avaliagaio fortemente positiva da atuagio do antigo Ser- vigo de Protegio aos Indios, visto como uma espécie de “idade de ouro” da protegio oficial (vide Oliveira Filho & Souza Lima, 1981 para a discussao desse ponto). Sem pretender entrar em polémica, limitar-me-ci a proceder a leitura dos dados aqui reunidos. Embora o ntimero de dreas (54) demarcadas pelo SPI seja realmente elevado, a extensio total dessas terras é de menos de 300 mil ha, perfazendo uma parcela praticamente insignificante (2,4%) do total de terras indige- nas j4 demarcadas. A explicagao para este fato pode ser obtida consultando-se o quadro-resumo (de n.° 8) do total de demarcagées. Em média as reas que o SPI demarcava para os indios eram de extens4o muito inferior (5 mil ha) ao tamanho médio das demarcagées pela FUNAI (aproximadamente 181 mil ha), af estando inclufdo o Parque Indigena do Xingu. A estratégia de agao do SPI ante o choque das frentes pio- neiras com os grupos indigenas parece ter sido a de estabelecer de imediato uma drea reduzida como terra reservada aos indios, assegu- rando logo tais direitos pela demarcagio e, paralelamente, livrando para ocupagao pelos brancos as demais faixas de terra. — Quadro n°8 Nde Extensio _Populago. Tamanho —_—Relagio Areas Atingida — Médio das. Hectares’ Terras fndios Indigenas SPI 154 298,595 35.126 5529ha 8, Shab TOTAL 66 11.996.043, 50.790 181.758ha 236, hab F UNAI 120 12.294.638 85.916 | Biblioteca Universitaria UFSC -—— joao pacheco de oliveira A idéia de integragao do indio mediante a Preservacao de sy, condigao camponesa, que parece presente em varios artigos do Esuty, todo Indio, é muito mais claramente realizada pela atuagao da FUNAI do que pelo SPI. Fazendo uma estimativa global da telacio entre extensio das terras demarcadas e populagio af, sediada, isso se torna bastante claro. Enquanto para a atuagao da FUNAI esse indice éde 236,1 ha por habitante, para o antigo SPI as estimativas, com base na populagdo atual dessas Areas, é a penas de 8,5, Varias demarcagées realizadas pelo SPI sio absolutamenteine- ficazes, se vistas como mecanismos para conter a atomizagao dos an- Uigos territ6rios tribais ¢ evitar a futura proletarizagéo maciga dessa populagio. Isso é mais flagrante em Mato Grosso do Sul, onde sfo constitufdas 13 reservas que abrangem pouco mais de 31 mil ha, con- tando com uma populagio indfgena numerosa. Na 12* DRocorre um processo similar, embora envolva uma populagdo numericamen- te menor: sao resguardados aos indios somente 29 mil ha divididos em 11 glebas. Em tais casos as dreas estabelecidas pelo SPI sao muitomenos uma reserva territorial do que umareserva de. ‘mio-de-obra, pasando a ser uma caracterfstica dessas regides formas tempordrias de trabalho assalariado (a “changa’”, 0 “trabalho volante” etc.) pelas quais 0 fndio tenta reassegurar sua reprodug4o econdmica, invidvel se limitada ape- nas A condigio de produtor agricola, VII - Redimensionando a questao indigena no Brasil Nos quadros anteriores falou-se bastante sobre as terras demarcadas, mostrando a sua distribuigao no espaco (em unidades administrativas da FUNAI e segundo 0 esquema de dreas culturais), a varidvel tempo (SPIe FUNAI eas diferencas registradas de acordo com a fonte de informagio (FUNAI, 1981 ou CIMI, 1982). Algumas estimativas populacionais foram apresentadas em relagdo ao nimero de habitantes das terras indigenas nao demarcadas. Uma questo crucial, no entanto, permanece: qual o montante total das terras ind{- genas no Brasil? Qual a magnitude real dessa tarefaa ser exercida pela FUNAI? 34 oS EENOTIAN Zagao No consegui localizar em publica em posicionamentos de entidades indige quer estimativa sobre o assunto, fundamentagio sociolégica que nas no Brasil. Como alternativa igOes oficiais da FUNAI ou Nistas independentes qual- © que é em si significativo da pouca ha para o debate sobre terras indige- ao completo desconhecimento, pro- curei realizar uma projegao a partir da relagio hectares/indios consta- tada para as terras j4 demarcadas. Utilizando como fonte os dados apresentados pelo CIMI, tal relagao é de 236,1 hectares por indio (dai excluido o SPI, em que a relagao é outra—vide quadro n° 8). Usando como fonte a FUNAI (1981), em que nao ha distingao entre demar- cagées da FUNAI e do SPI, essa relagao se fixa em 217,] ha por cada habitante. Uma proje¢ao do total de terras indigenas a serem ainda demarcadas pode ser obtido multiplicando-se esses indices pela po- pulagao total das terras nao demarcadas segundo, Tespectivamente, as estimativas do CIMI e da FUNAI. Quadro n°9 Fonte CIMI (1982) Fonte FUNAI (1981) Superficie (1.000 ha) Superficie (1.000 ha) — ‘Terras indigenas 12,294 13.121 demarcadas Terras indigenas 23.508 17,862 nio demarcadas TOTAL, 35.802 30.947 35 O quadro acima indica o resultado final dessas Operagées. Segundo as diferentes fontes, as terras a serem ainda demarcadas situam-se entre 17,8 ¢ 23,5 milhées de ha, A projegio Para o mon- tante total de terras indigenas no Brasil fica entre 30,9 ¢ 35,8 mix “__Ihées de ha. & importante destacar que as estimativas baseadas no ~~ Tevantamento do CIMI devem estar mais préximas da verdade do que as que se baseiam nos dados apresentados pela FUNAL En- quanto nas primeiras a projecio realizada apoiava-se exclusiva- mente na relag’o média hectare/fndio verificada durante os anos de atuagio da FUNAI, das segundas nao € possivel expurgar a relagio hectarc/indio verificada durante a atuagao do SPI. Tais dados, a meu ver, exigem um redimensionamento da ques indigena. Abordada sempre como uma questio menor para os plane- jamentos oficiais e para os processos sociais ¢ econdmicos de ocupa- 0 do interior do pafs, discutida muitas vezes apenas no plano ideo- légico com a confrontagéo do “humanismo rondoniano” e dos “preconceitos coloniais”, a questo exige um novo enfoque. Tal pers- ____ Pectiva eas conclusdes dai derivadas se apoiavam no uso de um tinico indicador — aestimativa da populagio indigena, sempre avaliada como inferior a 200 mil, e que mesmo usando os dados dos levantamentos -atuais da FUNAI e do CIMI oscilariam entre 0,12% e 0,16% da popu- ac4o total brasileira (vide Censo Demogréfico 1980, IBGE, 1982). Ut lizar um outro indicador — o volume total das terras indigenas — situaria a questo indigena em uma magnitude social diversa uma vez que tais areas representariam entre 8,37% ¢ 9,68% do estoque total ~ de terras dos estabelecimentos produtivos no pafs (vide Sinopse Preli- minar do Censo Agropecudrio de 1980, IBGE, 1982). VIII — O funil dos direitos fundidrios Tais fatos levam a recolocar, de um ponto de vista sociolégico€ nao apenas legal ou administrativo, a questo da demarcagio das te~ ras indigenas. Onde se situam as instncias bésicas de decisao face esse processo? Pensando em termos exclusivamente formais, seguindo 36 as normas para isso estabelecidas, existiriam quatro esferas de decisa a do(legisladod na elaboragio das leis; a ddFUNAL ha acioindigeniste ado [inistério do Interior, estabelecendo} id ; os recursos necessario: iOridades e fornecendo ara tal; APresidéncia da Republica, exercen- do uma fungio ultima de controle. aan “ Existem pontos especfficos da legislagao j4 promulgada que mereceriam estudo visando o seu aperfeigoamento e modificagao, como ocorre com o exercfcio da tutela. E necessdrio destacar, no en- tanto, que os direitos indfgenas a terra (posse permanente ¢ usufruto exclusivo das riquezas) e o respeito ao seu regime de propriedade ja estado plenamente assegurados pela Lei n.° 6.001.e pela Constituigao Federal. H4 que registrar ainda que as disposigées do Estatuto do {ndio atribuem A FUNAI a competéncia e os instrumentos legais necessdrios para desincumbir-se com eficdcia de sua tarefa constituci- onal de defesa das terras indfgenas. AFUNAI éa mais 6bvia instancia de decisao para a demarcagio das terras indigenas. Existem no entanto dentro do proprio érgao mecanismos internos de controle e contengao das demandas indigenas por terra e das identificagdes e propostas de 4reas realizadas por seus funciondrios*. Uma prova disso é a distancia entre os diferentes valo- res assumidos pela relagdo hectares/indios no caso das terras demarcadas pela FUNAI ¢ no caso de terras ainda nao demarcadas, isto é, respectivamente terras que ja passaram ou ainda nao por esse “filtro”: como média geral essa cifra é de 394,1 hectares para cada habitante das terras identificadas pela FUNAI (podem ser apenas 2. Por normas internas, estabelecidas pelo proprio érgio (Portaria n.°517/N, de 03 de agosto de 1978), foi burocratizado o processo administrativo para a demarcacio de terras (regulado pelo decreto n.° 76,999, jé citado anteriormente), sendo criada mais uma esfera de decisio entre a equipe que realiza 0 levantamento de campo das provéveis reas indfgenas ¢ o presidente da FUNAL We aprova (ou nao) o relatério ea proposta da equipe— um grupo de trabalho ue estuda a primeira proposta, verifica se ela preenche os requisitos necessérios e i i i oe avalia a sua oportunidade, encaminhando um relatério com um parecer final a0 presidente da FUNAI, 37 identificadas ou delimitadas, mas de demarcadas), ¢ cai para 217 hectares por habitante, se for consid apenas o conjunto das terras indigenas j4 demarcadas pela FUNAT Um outro ponto a ser focalizado é 0 ritmo de demarcacig 4 . . Pn las terras indigenas, AFUNAIjé incidiu no descumprimento do prazg (cinco anos) estabelecido pela Lei 6.001 para demarcacio de todasay~ terras indigenas. Se for mantidoo mesmo ritmode demarcagoesg __Sentado nos iltimos nove anos, os trabalhos se estenderiam ainda por ‘Mais duas décadas! Como jd foi apontado anteriormente, o volume —~ anual das demarcagées nao é constante nem apresenta uma tendéncia definida, variando de acordo com as dif rentes gest6es na administra- LTS . E problematico tratara FUNAI como uma instituiggocom uma unidade de ac4o, pois o ponto em que séo tomadas as decisées bisicas ¢st4 situado fora de sua aleada, mais precisamente na articulagao pela ~ qual o Governo Federal determina o carter de sua atuagao. A escolha do titular do cargo de presidente da FUNAI (ea partir desse, o preen- chimento dos principais cargos de diregao no 6rgio), os arranjos fi- nanceiros e contabeis, a liberagao da Programagao orcamentéria regu- lar, bem como as diretrizes politicas mais gerais procedem direta- mente do Ministério do Interior. Nao hé continuidade administrati- va, cada dirigente do érgao indigenista definindo uma linha préptia de atuagdo, montando uma equipe nova de colaboradores ¢ assess0- res, definindo as prioridades de sua administragao ¢ buscando cap tar no Ministério do Interior e em outros 6rgaos federais os recursos necessdrios para os programas que delineou. Além disso, cada gest#0 qualquer Modo Na es quant 3. fundamental alertaro letor para o fato de que as projegoes 8° ao montante total de terras indigenas no Brasil (quadro n.° 9) ja levaram © considera¢ao a existéncia desses mecanismos redutores, Se assim no fase a cifra estabelecida para a relagao hectare/indio abrangesse tanto een demarcadas quanto as apenas identificadas pela FUNAI (ficando p? iO cm 318,8 hectares por habitante), a projegio das terras indigenas aif Ded identificadas seria de 3,5 milhdes de hectares, a serem somados aos 27,8 ne de hectares de terras identificadas mas nao demarcadas (vide quadro Ree a estimativa total das terras indigenas seria da ordem de 44,5 milhées de he ¢ 38 da FUNAI tem uma rede prépria de aliados no ambito do Poder Exe- cutivo, no universo politico e econdmico e junto A opiniao publica. —— ~~ Aplena regularizagao da situagao das terras indigenas s6 se com: pleta em esferas maiores de decisao. Mesmo apés © processo fisico de demarcagao, uma 4rea ind{gena precisa ter seus limites homologados por decreto do Presidente da Republica para poder ser registrada no SPU € nos cartérios municipais. O quadro n.° 6, acompanhando ano por ano as demarcacées realizadas, aponta um progressivo actimulo do processo de demarca- gio sem a respectiva homologacio pelo Presidente da Repiiblica. Essa Ultima nao é, porém, mera formalidade burocratica, as diferencas en- tre as terras demarcadas ¢ homologadas nao podendo ser explicada “~“tdo somente pela demora usual na tramitacio de processos. Trata-se de um momento em que, de modo mais tangivel, o Governo Federal controla avalia a atuago da FUNAI no que resguarda o aspecto ~~ fundiério/Existem muitos casos em que a Presidéncia da Republica ““exerce 0 seupoder de veto face & proposta de areas indigenas encami- nhadas pela FUNAI'. 7” O quadro-resumo colocado abaixo, baseado nos dados reunidos pelo CIMI (1982), fornece uma evidénci quantitativa de como vao_ = sendo comprimidos ¢ afunilados os ‘ eles atravessam as diferentes os direitos indigenas 4 medida que—_ le decisio. Se fossem seguidas “as identificagdesde terras indigenas procedidas pelos préprios fun- ciondrios da FUNAI, apoiando-se nas normas legais existentes, a proj para o montante total de terras indfgenas no Brasil seria d 44,5 mi- Ihdes de ha. Considerando a atuag’o de mecanismos limitado tidos nas praticas administrativas da FUNAI, essa projegio no exce- de 35,8 milhdes de ha. As terras demarcadas pela FUNAI por sua vez Constituem somente 27,6% daquele primeiro total projetado e apenas 13,8% desse total esta efetivamente homologado por decreto-lei, o 4. Um exem, plo recente foi a criagao de dez areas indigenas para os Makuxi, em Roraii ima, mediante as portarias de n°, 1.130/9, datadas de 6 de novembro de 1971. Dessas, apenas cinco reas foram reconhecidas e homologadas pela Presidéncia da Repiblica, através de decreto-lei assinado em 17 de fevereiro de 1982, com o ntimero 86.931/5. 39 joao pacheco de oliveira jaramente que OS critérios utilizados pela Presid@, tra cl: 7 ‘Neila da. que mostra cl ‘eri ara os indio Repiblica sao bem mais rigorosos ( $) do que aqueles adotados pela FUNAI. Quadro n° 10 \\ { a d - Terras demarcadas © homologadas 138% pela Presidéncia da Repablica (Superficic = 6, 14 milhdes de ha) c- Execugio do processo fisico de demarcagio (Superficie = 12,29 milhdes de ha) 27,6%| ¢ b - Projegao reduzida segundo crtérios Bae) |b administrativos da FUNAT (Superficie = 35,8 milhies de ha) a ~ Projegio de acordo com a legislagio (Superficie = 44,5 milhées de ha) ctrl tit | B20 15 10 5 5 10 15 20 25 Para finalizar esse texto, duas observagées fazem-se necessArias, uma relativa as limitages desse trabalho, a outra indicando alinha das transformagées mais recentes da politica indigenista- a O panorama aqui representado sobre a situagao das terras in i- genas no Brasil apresenta graves deformacdes uma vez. que os dados sio em tiltima andlise provenientes do proprio érgao indigenista® _ foram selecionados com 0 intuito de mostrar e legi mar para o gran- de ptiblico 0 aparato administrativo que a FUNAI constitu para assistir 4s populagdes nativas. Embora os dados tenham sido basta a trabalhados ¢ inteiramente reorganizados tendo em vista questoes . natureza sociolégica, o quadro geral permanece na diregao que E ressava a quem selecionou e forneceu os dados iniciais. O montane de terras indigenas pode impressionar em termos numéricos e pare ¢scapar a uma ilusao nominalista seria necessrio dispor deestatisticas confidveis relativas ao volume de terras indigenas ocupadas total ov Parcialmente por brancos, bem como ao volume real de arrendamentos - 40 ados pela propria FUNAL N: s invasd » se dispde de qualquer levanta- s das Areas indigenas, abrangendo as drcas mais extensas realiz mento sistemiatico sobre (como € notoria- tal processo freqiientement edo Araguaia), atingindo s como a outras em que a demarca- mente o caso dos Parques do Aripuani apenas identifica tanto a tert. gio j4 foi ha muito conclufda Paralelamente a um levantamento das invasées, seria necessdrio proceder uma investigagio sobre o montante de terras efetivamente disponiveis ¢ passiveis de utilizagao pelos indios que habitam em parques ¢ reservas. Além das terras ocupadas fisica ou economica- mente por brancos ou pela FUNAI, seria preciso levar em conta a —existéncia de grandes parcelas de terra sem possibilidade de qual- quer aproveitamento agricola ou que ndo se prestam as praticas econ ndmicas dos grupos indigenas que nelas habitam.|Se fosse possi- | vel obter todos esses dados, a ilusdo de que as terras indfgenas sio | muito vastas e que seriam muito maiores do que o necessdrio de certo se esvairia, principalmente tendo em vista que 0 tipo de pos- se € o nivel tecnolégico exigem parcelas de terra mais amplas que | o padr4o minimo preconizado para os camponeses nao indigenas. in ‘Apesar das limitagées j4 apontadas, essa pequena pesquisa montada com dados oficiais permitiu apontar conexées entre a poli-_ tica indigenista e o avango das fronteiras econémicas. O mito de uma “idade de ouro” do indigenismo brasileiro, representado pela atua- géo do SPI, também foi tratado de modo erftico e enquadrado na problematica sociolégica de ocupagao do meio rural brasileiro. Em geral o quadro tragado da situagao das terras indigenas permite igual- mente compreender as tendéncias mais recentes da politica indigenista. Nao s6 0 volume das terras indigenas é bastante significa- tivo, como em seus limites se desenvolvem atividades de proa na pro- gtamagao econdmica do governo, por exemplo, a construgao de estra- das ¢ hidroelétricas, o estabelecimento de projetos de mineracao, a implantacao de colénias agricolas ¢ a extragdo de madeiras’, Tais fato- r i = a es explicam a crescente preocupacao de setores do governo nos ulti- — ~ - >. Para uma consideragao desses projetos que ameacam as terras indigenas, ver Davis, 1979 ¢ CEDI, 1982 e 1983. 41 joao pacheco de oliveira mos anos em controlaras atividades da Fl 'UNAL emesmo de Modifica certos artigos da legislagao que reafirmam os direitos indigenas 3 = eagilizam o processo demarcatério. Especialmente no que tange ag terras indigenas, a responsabilidade da FUNAI atualmente dividj. da, em fungio do decreto-lei n.° 88.118, com 0 Ministério Extraordi. nario de Assuntos Fundiarios ¢ o Ministério do Interior®. - Para chegar a um quadro mais verdadeiro da situacao das tetras indigenas no Brasil, e que capte a dindmica dos processos sociais af envolvidos, impée-se a necessidade de uma pesquisa de muito mais folego. Para corrigir a deformacio implicada no uso exclusivo de da- ~ dos oficiais, seria preciso que a propria pesquisa se responsabilizasse ~ ~—pelo levantamento de dados, reunindo e coletando as informagées qué julgasse necessérias. Por sua vez s6 se escaparia completamente de uma abordagem formal, quando se tratasse as leis ¢ as praticas administrativas nao como cédigos fixos ou auto-explicativos, mas como elementos, prémios ¢ recursos de uma disputa envolvendo atores so- ciais com interesses e ideologias muito distintos e mesmo-antag6ni- cos entre si. Com isso se tornaria possfvel nao sé uma etnografia dos procedimentos administrativos e de suas conseqiiéncias paras di- ‘reitos indigenas, como também uma verdadeira anélise politica do processo de demarcagao dasterrasindigenas. 6. Para uma andlise mais minuciosa desse decreto ¢ sua contextualizasi° na atual poitcaindigenista e nos programas governamentais, ver Oliveita(1985- Tal decreto alterou substancialmente as normas para a demarcagao das e"™ indigenas, que agora escapa & competéncia da FUNAL, passando a seratribuisie de um Grupo de Trabalho integrado por representantes da FUNAL ¢ pels ministérios acima citados. Em decorréncia dessas novas disposigoes FUNAI Yao somente apresentar a esse Grupo de Trabalho (do qual : coordenagio) uma proposta quanto A criagio ou modificagao da area indige™ cabendo a este avaliar ¢ mesmo alterar a fe vosts,eneamninhand® os pas s necesstiospara sua efetivagio, a qual pr sua vex heard sujeta 4 de2i00 dos dois mini: cionados, oj ado ¢ ‘ istros mencionados, j : ' : mplia pa U1 seja, é reforgado ¢ ampli:

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