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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE RIO DO


SUL
3ª VARA CÍVEL – FEITOS DA FAZENDA

054.07.000177-8

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA


CATARINA, por seu Promotor de Justiça ao final assinado, com
fundamento nos arts. 127 e 129, III, da Constituição da República,
bem como no art. 82, I, do Código de Defesa do Consumidor, no art.
5º da Lei nº 7.347/85 e na Lei Estadual nº 10.501/1997, propõe
AÇÃO CIVIL PÚBLICA, em defesa do direito à segurança dos
consumidores de serviço bancário na Comarca de Rio do Sul, em
face de:

COOPERATIVA DE ECONOMIA DE CRÉDITO MÚTUO


DO SETOR ODONTOLÓGICO – SICOOB CREDIODONTO, pessoa
jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 02.883.398/001-
87, com endereço comercial na Alameda Aristiliano Ramos, nº 45,
sala 03, Rio do Sul/SC.

1. Objetivo da ação

Esta ação civil pública tem por objetivo obter provimento


jurisdicional que determine ao requerido a adoção de providências
imediatas para atendimento integral do disposto na Lei Estadual nº
10.501/1997, que “dispõe sobre normas de segurança para o
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funcionamento de estabelecimentos financeiros e dá outras


providências”.

Mais especificamente, objetiva esta ação obter


provimento que obrigue a instituição financeira a instalar sistema
completo de filmagem e gravação que possibilite a identificação
precisa de assaltantes e, assim, iniba práticas criminosas contra as
agências e seus clientes, bem como portas de segurança (giratórias)
no estabelecimento, protegendo diretamente os consumidores do
serviço bancário oferecido nas cidades da Comarca.

Objetiva também obter provimento que determine à


instituição financeira a manutenção de apólices de seguro que
incluam indenização por morte ou invalidez, e, ainda, indenização
em decorrência de saques, assaltos ou roubos nas suas
dependências.

2. Fatos

Aportou inicialmente à Procuradoria da República em


Blumenau representação formulada pelo Sindicato dos Bancários de
Blumenau dando conta de que diversas agências bancárias da
região, incluindo na cidade de Rio do Sul, estariam descumprindo a
legislação estadual vigente sobre a segurança nos estabelecimentos
e, assim, colocando em risco não só a vida dos empregados como
também a vida dos próprios consumidores.

Também recebeu a mesma Procuradoria da República


representação formulada por Lea Alice Corrêa de Negredo, vítima de
assalto à mão armada ocorrido na cidade vizinha de Rodeio,
enquanto utilizava os serviços do Banco do Estado de Santa Catarina
daquela cidade. Diz a consumidora que o assalto só teve lugar

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porque a instituição financeira deliberadamente deixa de obedecer à


legislação pertinente sobre segurança em estabelecimentos
bancários. Refere, ainda, forte abalo moral diante do roubo de todos
os seus pertences e de seu carro, que aliás utilizava em sua
profissão.

Tais representações, após diligências determinadas pelo


Procurador da República que oficia em Blumenau, foram
encaminhadas aos representantes do Ministério Público de cada uma
das comarcas envolvidas, em face da competência estadual para a
matéria.

Examinando a documentação trazida, instaurou-se


procedimento administrativo preliminar nesta 4ª Promotoria de
Justiça de Rio do Sul, diante da possibilidade de descumprimento da
legislação estadual, o que lesaria potencialmente a todos os
consumidores da Comarca.

Determinou-se então a realização de inspeção pela


Oficiala de Diligências do Ministério Público em cada uma das
instituições financeiras que operam na cidade.

Constatado o descumprimento por todas elas, cindiu-se o


Procedimento Administrativo Preliminar em tantos quantos
necessários à adequada propositura das respectivas ações contra
cada entidade.

No caso específico da Cooperativa SICOOB


CREDIODONTO, constatou-se as seguintes irregularidades: a)
ausência de câmeras de filmagem; b) falta de portas
giratórias; c) falta de seguro.

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Na Comarca de Rio do Sul, como em toda a região, vale


lembrar, nos últimos anos as agências bancárias vêm sendo alvo de
furtos cada vez mais audaciosos, como é notório.

E, apesar de a estatística criminal catarinense apontar


para redução dos roubos a bancos, reconhece o boletim da
Secretaria de Segurança Pública que “a redução expressiva no
número de casos está ligada a vários fatores importantes, como por
exemplo: instalação de portas detectoras de metais nas agências
bancárias por força da Lei Estadual 10.501 e da lei federal 7.102, de
1983; novas tecnologias de investigação [...]” (doc. anexo).

Não há outra solução, portanto, senão a propositura desta


ação civil pública, visando a compelir as agências a instalar portas
giratórias, sistemas eficientes de filmagem e gravação das imagens
e a manterem apólices de seguro em favor dos consumidores, de
modo a proteger o elo mais fraco na relação de consumo existente:
o próprio consumidor.

3. Direito

A Constituição da República assegura a todos, sem


distinção de qualquer natureza, o direito à vida, como é claro o
caput do art. 5º, ao enunciar os direitos individuais. Também
assegura, agora como direito social, a saúde e a segurança, na
redação do caput do art. 6º da Carta Magna.

Igualmente a Constituição, quando trata da ordem


econômica, impõe como fundamentos a valorização do trabalho
humano e a livre iniciativa, sempre tendo por fim assegurar a todos
existência digna, observado o princípio da defesa do consumidor
(art. 170).

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O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, institui a


Política Nacional das Relações de Consumo, indicando como objetivo
o respeito à dignidade, saúde e segurança do consumidor. E, para
tanto, exige o atendimento ao princípios da vulnerabilidade do
consumidor no mercado de consumo e exige também ação
governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor
[...] pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados
de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho (art. 4º da Lei
nº 8.078/90).

O mesmo Código de Defesa do Consumidor eleva à


categoria de direitos básicos do consumidor, entre outros, a
proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por
práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos.

Especifica ainda a Lei nº 8.078/90 que é direito básico do


consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais
e morais, individuais, coletivos e difusos (art. 6º, VI).

Lembre-se que serviço “é qualquer atividade fornecida no


mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária” (art. 3º, §2º,
da Lei nº 8.078/90).

Luiz Antônio Rizzatto Nunes, estudioso do Código de


Defesa do Consumidor, leciona que o princípio da segurança “está
em consonância com o princípio maior da Carta Magna, da
intangibilidade da dignidade da pessoa humana”.

E, de fato, não há como pensar a existência de Estado


Democrático de Direito se não se pensar no ser humano como

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substância e fim, nunca como meio. Deve-se, em outras palavras,


fazer valer o que há muito Immanuel Kant já enunciava na forma de
imperativo categórico: “Age por forma a que uses a humanidade,
quer na tua pessoa como de qualquer outra, sempre ao mesmo
tempo como fim, nunca meramente como meio”.

É que, dito de outro modo, com a prática reiterada das


instituições financeiras em desrespeitar direitos do consumidor – não
só direitos contratuais, mas também direitos fundamentais como o
protegido por esta ação –, acaba-se por considerar o ser humano
apenas como um meio para a obtenção de lucro pelas empresas1,
não como um fim em si mesmo, ou seja, como sujeito de direitos
que deve ser protegido acima de tudo.

Atenta a este fato, e dando concretude aos dispositivos


constitucionais e infraconstitucionais vigentes, a Lei Estadual nº
10.501/1997 determinou o seguinte:

Art. 1º - Fica, no âmbito do Estado de Santa Catarina, vedado o


funcionamento de estabelecimentos financeiros que não
possuam, concomitantemente, todos os sistemas de
segurança elencados nesta Lei.
Parágrafo único. São considerados estabelecimentos
financeiros, para os efeitos desta Lei, bancos oficiais ou
privados, caixas econômicas, sociedades de crédito e
associações de poupança, suas agências, subagências, postos
e caixas eletrônicos.

Art. 2º - O sistema de segurança prescrito nesta Lei


compreende:
I - vigilantes treinados;
II - alarmes capazes de permitir comunicação entre o
estabelecimento financeiro e outro da mesma instituição ou
empresa e órgão policial mais próximo;
1
Lucro de instituições financeiras no primeiro semestre de 2006: Besc – R$ 50,5 milhões,
141% a mais que no ano anterior; Bradesco – R$ 3,132 bilhões, 19,5% a mais que no ano
anterior; HSBC – US$ 8,73 bilhões, 15% a mais que no ano anterior.

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III - equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagem que


possibilitem a identificação de assaltantes;
IV - portas eletrônicas de segurança individualizadas (PESI);
V - cabines blindadas, que assegurem melhor desempenho das
atividades profissionais dos vigilantes.
Art. 6º - As instituições financeiras em funcionamento deverão
manter apólices de seguro que incluam a indenização por
morte ou invalidez, e, ainda, indenização em decorrência de
saques, assaltos ou roubos nas suas dependências, com valor
mínimo de prêmio equivalente a 100.000 (cem mil) Unidades
Fiscais de Referências - UFIR, sem prejuízo da responsabilidade
civil e criminal.
A Lei Estadual nº 10.501/1997 nada mais faz, portanto,
que dar vazão ao comando constitucional, repetido também no
Código de Defesa do Consumidor, que exige o respeito integral à
segurança dos consumidores bem como a garantia de efetiva
reparação de danos patrimoniais e morais.

E assim o faz legitimamente, porque, embora seja


competência privativa da União legislar sobre “política de crédito,
câmbio, seguros e transferência de valores” (art. 22, VII, da CR/88),
cabe aos Municípios e também aos Estados legislar sobre políticas
públicas locais, principalmente de consumo (art. 5º, XXXII e art. 24,
VIII, da Constituição da República).

O argumento comum às instituições financeiras quando


litigam em casos como o dos autos é o de que a legislação estadual
ou municipal que imponha obrigações às agências bancárias fere a
competência da União de legislar sobre “política de crédito”.

No entanto, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal


há muito já fixou entendimento de que no conceito de política de
crédito, que abarca a chamada “segurança bancária específica”, ou
seja, segurança sobre os procedimentos de trânsito de dinheiro

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entre instituições, não se incluem as restrições locais sobre


segurança da população usuária destes estabelecimentos. O
argumento é que aí se está diante de “questão relativa à política
urbana”2, que por razões evidentes não pode ser disciplinado de
modo igual para todos os Estados.

Por outro lado, quando se observa que a questão dos


autos é afeta ao consumo e à responsabilidade por dano ao
consumidor, cabe invocar o art. 24, V e VIII, da própria Constituição
da República: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre: V – produção e consumo; VIII –
responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens
e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico”.

E, note-se, “a competência da União para legislar sobre


normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados”
(art. 24, §2º).

Diz-se isso porque também é comum invocarem as


instituições financeiras as antigas regras da Lei Federal nº
7.102/1983, que exigem apenas vigilância e alarme e, pelo menos
mais um dos seguintes dispositivos: “equipamentos elétricos,
eletrônicos e de filmagens que possibilitem a identificação dos
assaltantes; artefatos que retardem a ação dos criminosos,
permitindo sua perseguição, identificação ou captura; e cabina
blindada com permanência ininterrupta de vigilante durante o
expediente para o público e enquanto houver movimentação de
numerário no interior do estabelecimento”.

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RE nº 240.406-1/RS, rel. Min. Carlos Velloso, j. 25.11.2003.

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Ou seja, diante da vetusta legislação federal, dizem


comumente as instituições que obedecem à Lei nº 7.102/83 se
dispuserem tão-somente de vigilância, alarme e “artefatos que
retardem a ação dos criminosos”, por exemplo. No entanto, diante
da vagueza semântica da expressão “artefatos que retardem a ação
dos criminosos”, pode-se compreender na regra desde uma simples
escadaria – retarda a ação dos criminosos! – até vidros à prova de
balas.

É evidente, contudo, que a Lei Federal nº 7.102/83


disciplinou apenas normas gerais, permitindo que os Estados na
competência legislativa suplementar especificassem as regras e
impusessem, como se fez em Santa Catarina, a obrigatoriedade das
câmeras filmadoras e seguros para todas as agências.

Vale observar mais de perto a distinção entre as duas


leis: a Lei Estadual nº 10.501/1997 exige “concomitantemente, todos
os sistemas de segurança” que enumera: “vigilantes treinados;
alarmes capazes de permitir comunicação entre o estabelecimento
financeiro e outro da mesma instituição ou empresa e órgão policial
mais próximo; equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagem
que possibilitem a identificação de assaltantes; portas eletrônicas de
segurança individualizadas (PESI); cabines blindadas, que assegurem
melhor desempenho das atividades profissionais dos vigilantes”.

A Lei Federal nº 7.102/83, por sua vez, exige apenas


vigilância e alarme, mais um só dos outros dispositivos. Em outras
palavras, admite a Lei Federal que um estabelecimento bancário
opere com um vigia, um alarme e algum “artefato” que retarde a
ação dos criminosos...

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A legislação estadual, por sua vez, em evidente


reconhecimento do direito básico do consumidor à efetiva reparação
de danos, além dessa proteção exige também a manutenção de
apólices de seguro que incluam “indenização por morte ou invalidez,
e, ainda, indenização em decorrência de saques, assaltos ou roubos
nas suas dependências”.

Claramente, a Lei Estadual é mais completa, mais precisa


e protege melhor o consumidor dos serviços bancários. Só isso já
bastaria para, numa interpretação material do Direito Constitucional,
dar maior prevalência à lei estadual, já que vige entre nós, segundo
a doutrina, o princípio da máxima efetividade dos direitos
fundamentais e sociais.

Ingo Wolfgang Sarlet, ilustre magistrado e


constitucionalista gaúcho, ensina que “das normas definidoras de
direitos fundamentais, podem e devem ser extraídos diretamente,
mesmo sem uma interposição do legislador, os efeitos jurídicos que
lhe são peculiares e que, nesta medida, deverão ser efetivados, já
que, do contrário, os direitos fundamentais acabariam por se
encontrar na esfera da disponibilidade dos órgãos estatais. De modo
especial no que diz com os direitos fundamentais sociais, e
contrariamente ao que propugna ainda boa parte da doutrina, tais
normas de direitos fundamentais não podem mais ser considerados
meros enunciados sem força normativa, limitados a proclamações
de boas intenções e veiculando projetos que poderão, ou não, ser
objeto de concretização, dependendo única e exclusivamente da boa
vontade do poder público, em especial, do legislador”3.
3
SARLET, Ingo Wolfgang. Algumas considerações em torno do conteúdo, eficácia e
efetividade do direito à saúde na Constituição de 1988. Revista Diálogo Jurídico. Salvador,
janeiro de 2002. Acesso por: http://saudepublica.bvs.br/lildbi/docsonline/6/4/046-

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Deste modo, quer na interpretação literal da Lei Estadual


nº 10.501/1997, quer a partir de análise material do conteúdo do
direito à segurança (art. 5º, e art. 6º) e do princípio da defesa do
consumidor (art. 170, V), o ordenamento jurídico nacional impõe
também às agências bancárias situadas na Comarca de Rio do Sul a
obrigação de instalar sistema interno de filmagem, com gravação,
de modo a possibilitar a identificação de assaltantes.

O mesmo ordenamento jurídico exige também a


manutenção de apólices de seguro para o caso de morte, invalidez,
saques, assaltos e roubos, obrigação da qual não podem se furtar os
requeridos, bem como a instalação de portas giratórias que
contenham todos os requisitos do art. 5º da Lei Estadual nº
10.501/97.

4. Antecipação da tutela – tutela de evidência

Constatado o descumprimento da legislação aplicável e a


possibilidade mais do que concreta de danos aos consumidores por
conta dessa omissão, impõe-se a concessão da tutela específica da
obrigação de fazer, sob pena de pôr-se em risco o direito à
segurança aqui tutelado.

O fundamento da demanda, como se vê, é relevante,


porque pautado pela infringência de legislação estadual vigente e
plenamente aplicável. Não bastasse isso, o descumprimento da
obrigação legal gera insegurança a toda a população consumidora
dos serviços bancários na cidade, já que torna o local mais suscetível
de ações criminosas de toda a sorte. A falta de apólice de seguro,

Ingo_Sarlet.pdf.

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por outro lado, torna inefetiva a proteção dada pelo Código de


Defesa do Consumidor à reparação dos danos morais e materiais.

Quanto ao receio de ineficácia do provimento final,


cumpre dizer que acaso não instalado de imediato o sistema de
filmagem tal qual imposto pela legislação estadual, qualquer
tentativa de furto ou roubo nas instituições levará a danos
irreparáveis, não apenas para os consumidores, mas também aos
próprios funcionários das agências.

Não é por outro motivo que ações semelhantes vêm


sendo propostas pelo Ministério Público do Trabalho, em defesa do
ambiente de trabalho dos bancários, que, não é raro, sentem-se
acossados pela falta de segurança no dia-a-dia de suas funções.

Em outras palavras: deixando de instalar imediatamente


o sistema de filmagem ou a porta giratória, qualquer dano
porventura causado aos consumidores por si só já representará a
total ineficácia do provimento final, porque não se poderá jamais
reparar plenamente o dano moral daquele que foi vítima de crimes
como os que se tem visto na região e que terá que conviver com o
medo por toda a sua vida.

E, pior: em caso de efetivo dano ao consumidor, acaso


não contratado o seguro, sua reparação se dará a muito custo e via
procedimento judicial que, sabe-se bem, será de todas as formas
postergado pelas instituições financeiras, impedindo a reparação
completa.

Além disso, é aplicável ao caso dos autos o §6º do art.


273 do Código de Processo Civil, onde observa a doutrina estar
presente a chamada tutela de evidência.

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A tutela de evidência na verdade nada mais é que a


permissão ao magistrado de antecipação dos efeitos da tutela
quando o direito invocado pelo autor, por ser absolutamente
evidente, não permitir qualquer contestação séria pelo réu. Assim,
diante da evidência do direito invocado, a simples demora na
demanda ensejaria lesão de direito da parte, negando vigência,
portanto, à regra constitucional de que nenhuma lesão escapará à
apreciação judicial.

Em brilhante artigo sobre o tema, Antônio Souza Prudente


leciona que “se o julgador já tem condições de saber, ao iniciar-se a
demanda, que nenhuma contestação séria poderá ser contraposta
ao direito líquido e certo, a legitimidade da tutela imediata torna-se
um imperativo lógico e até mesmo constitucional. Nesse contexto, a
liminar é deferível mediante cognição exauriente, decorrência
mesmo da evidência, diferentemente do que ocorre nos juízos de
aparência (fumus boni juris) peculiares à tutela de urgência
cautelar”.

E prossegue o autor: “ampliando a dimensão processual


da antecipação da tutela de evidência, já prevista nas letras do art.
273, II, do CPC, a Lei n. 10.444, de 7 de maio de 2002, com eficácia
plena 3 (três) meses após sua publicação (D.O.U. de 08/05/2002),
acrescentou o § 6º ao referido dispositivo legal, nestes termos: A
tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais
dos pedidos cumulados, ou parcelas deles, mostrar-se incontroverso.
Nessa hipótese, observa Luiz Marinoni, que seria injusto obrigar o
autor a esperar a realização de um direito que não se mostra mais
controvertido. Assim, se o processo prosseguir, não obstante a
evidência de um direito, a tutela antecipatória é o único
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instrumento, dentro do atual sistema processual, que permite que o


procedimento comum atenda ao Direito Constitucional e à
tempestividade da tutela jurisdicional, evitando que o autor seja
obrigado a esperar indevidamente a tutela de um direito
incontrovertido”4.

Para cumprimento razoável da legislação, portanto,


entende o Ministério Público do Estado de Santa Catarina suficiente
a determinação ao requerido para instalar portas giratórias, sistema
de filmagem e gravação em suas agências bancárias e que
contratem seguro nos termos da legislação vigente.

5. Pedidos

Comprovada a ilegalidade da omissão do Banco do Brasil


S.A., bem como a necessidade de provimento antecipado que
garanta aos consumidores do município a segurança no
fornecimento do serviço bancário, requer o Ministério Público:

a) o recebimento e processamento da presente ação civil


pública;

b) a concessão de liminar, inaudita altera pars, para


determinar que o requerido, sob pena de multa diária de R$
10.000,00:

b1) contrate em trinta dias, para as agências instaladas


em toda a Comarca de Rio do Sul, seguro que inclua a indenização
por morte ou invalidez, e, ainda, indenização em decorrência de
saques, assaltos ou roubos nas suas dependências, com valor
mínimo de indenização equivalente a 100.000 (cem mil) Unidades

4
PRUDENTE, Antônio Souza. Revista CEJ, Brasília, nº 21, p. 92-97, abr./jun. 2003, p. 92-
97.

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Fiscais de Referências - UFIR, sem prejuízo da responsabilidade civil


e criminal, tudo conforme a Lei nº 10.501/97;

b2) instale em sessenta dias, em todas as agências


instaladas em toda a Comarca de Rio do Sul, sistema completo de
filmagem e gravação ambiental, que permita a identificação de
assaltantes em todos os ambientes da agência, notadamente no
setor de auto-atendimento, no atendimento, nos caixas, na sala do
cofre e em todos os demais ambientes, tudo conforme a Lei nº
10.501/97;

b3) instale em sessenta dias, em todas as agências


instaladas em toda a Comarca de Rio do Sul, portas eletrônicas
equipadas com detector de metais, travamento e retorno
automático, abertura para entrega de metal detectado, vidros
laminados e resistentes a projéteis de calibre até 45, tudo conforme
a Lei nº 10.501/97;

c) a citação do requerido para, querendo, apresentar a


defesa que entender pertinente;

d) embora se entenda não haver mais provas a produzir,


pelo princípio da eventualidade desde já se requer a produção de
prova pericial;

e) ao final, a convalidação da antecipação de tutela para


o fim de constituir o requerido na obrigação de se adequar à Lei nº
10.501/97, na forma como requerida no item “b”;

f) a condenação dos requeridos em custas, despesas


processuais e honorários advocatícios (estes conforme art. 4º do
Decreto Estadual nº 2.666/04, em favor do Fundo de Recuperação
de Bens Lesados do Estado de Santa Catarina).
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Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Rio do Sul, 8 de janeiro de 2007

Eduardo Sens dos Santos


Promotor de Justiça Substituto

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