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Everton Santos1
RESUMO: Este artigo busca apresentar uma breve análise da identidade profética
adventista, constituído por sua origem, mensageira e mensagem proféticas descritas no
livro de Apocalipse. Visto que estas três características tornam o adventismo um
movimento profético, a visão e pregação apocalíptica fazem com que a Igreja
Adventista do Sétimo Dia cresça de forma significativa. Este estudo busca encontrar a
relação da natureza profética adventista com o crescimento do movimento.
ABSTRACT: This article search presents a brief analysis the Adventist prophetic
identity, constituted by its origin, prophetic messenger and message described in the
book of Revelation. Since these three features make Adventism a prophetic movement,
the preaching apocalyptic vision and make the Seventh-day Adventist Church to grow
significantly. This study seeks to find the prophetic nature of the relationship with the
growth of the Adventist movement.
1
Bacharelando em Teologia pelo SALT-IAENE, 5º período vespertino.
INTRODUÇÃO
A Igreja Adventista do Sétimo Dia desde o seu surgimento no século XIX tem
crescido de forma expressiva. Partindo de um pequeno grupo de crentes que passaram
pela experiência do desapontamento em 1844 para uma organização que hoje é o
décimo segundo maior corpo religioso do mundo (e o sexto maior movimento religioso
internacional do planeta), possui por volta de 17 milhões de membros e está presente em
mais de 200 países. Uma igreja que opera numerosas escolas, universidades, hospitais,
clínicas médicas móveis, programas e canais de Televisão, abrigos, asilos, fábricas de
alimentos naturais e editoras em todo o mundo, além da proeminente organização de
ajuda humanitária conhecida como Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos
Assistenciais (ADRA).
Quando se analisa a história do adventismo alguém pode se perguntar: o que fez
com que um pequeno grupo de estudiosos da Bíblia se tornasse uma organização tão
expressiva? As raízes históricas e teológicas adventistas e o principal motivo de seu
crescimento podem ser vistos ao se avaliar o movimento adventista não como um
movimento semelhante aos demais, mas como um movimento profético.
Se aos adventistas de hoje fosse solicitada uma definição da singularidade da
Igreja Adventista do Sétimo Dia, possivelmente a resposta seria bem variada. Alguns
diriam que sua singularidade é a maneira como seus membros adoram no sábado em vez
de no domingo. Outros mencionariam a compreensão do ministério de Cristo no
santuário celestial ou o ministério profético de Ellen White. Outros ainda apontariam as
questões do estilo de vida, tais como abster-se de certos tipos de alimentos, recreações
ou modéstia na vestimenta e adornos. Em certo sentido, todas essas respostas estariam
parcialmente corretas.
Sem embargo, há outro modo de definir o adventismo e esta definição seria que
este se trata de um movimento profético. Ao se pensar sob esta ótica o adventismo passa
a ser visto como um movimento singular devido a três características distintas.
Atualmente nenhuma outra igreja alega ter tais características, e são estas características
específicas que definem os adventistas, uma vez que só podem ser encontradas
reunidas neste movimento: (1) Raízes proféticas, ou históricas, preditas em Apocalipse
10, (2) Identidade profética definida em Apocalipse 12. (3) Mensagem profética e
missão indicada em Apocalipse 14. Logo, o objetivo deste estudo é analisar a relevância
destes três pontos para o crescimento da denominação.
1. ORIGEM PROFÉTICA
2
O capítulo 8 termina com algumas questões não respondidas ao profeta, questões estas concernentes às
2300 tardes e manhãs.
Existem duas palavras que se referem à ‘visão’ nestes capítulos, sendo a
primeira delas a palavra hebraica ‘hazon’ que diz respeito à visão como um todo. Por
sua vez, o termo ‘mareh’ aparece denotando especificamente os 2300 dias. Essa era a
única parte selada do livro, o esclarecimento por parte do mensageiro se relaciona
unicamente aos versos 13 e 14 do capítulo 8. Este é o início do discurso de Gabriel e, a
partir daqui, as inquietações do profeta são esclarecidas. Portanto, Daniel não havia
entendido a parte da visão que se referia às 2300 tardes e manhãs, profecia esta que diz
respeito ao tempo do fim e que, conforme a maior parte dos teólogos, este tempo tem o
seu início entre 1798 (fim da supremacia papal de 1260 anos) e 1843 (período de
restauração da verdade).
Muitos séculos mais tarde na Ilha de Patmos foi mostrado a João, em visão, um
tempo no futuro no qual um anjo poderoso desceria em direção à Terra tendo na mão
um livro aberto, e não mais um livro selado. O relato de Apocalipse 10 descreve
exatamente isso. Ao se estabelecer uma conexão de Apocalipse 10 com Daniel 8:13-14
pode-se ver então que o livro seria aberto e a profecia entendida próximo ao final da
profecia das 2300 tardes e manhãs, a saber, próximo do ano 1844.
No fim do século XVIII e início do século XIX houve grande despertar religioso
que ficou conhecido como o ‘segundo grande despertamento’, onde as pessoas
começaram a estudar as profecias de Daniel e Apocalipse. Assim, muitos chegaram à
conclusão de que os 2.300 dias de Daniel 8:14 terminariam em meados de 1840. Alguns
aplicaram a purificação do santuário ao final dos 2300 dias, como sendo a purificação
da Terra pelo fogo por ocasião da segunda vinda de Jesus, o que os levou a concluir que
Jesus voltaria ao final dos 2300 dias. Dentre estes estava Guilherme Miller, um
fazendeiro de Low Hampton (Nova Iorque) que após 17 anos de intenso e cuidadoso
estudo chegou à mesma conclusão.
Ellen White afirmou que “o movimento se alastrou pelo país. Foi de cidade em
cidade, de aldeia em aldeia, e para lugares distantes no interior, até que o expectante
povo de Deus ficou completamente desperto”.3 No dia 22 de outubro 10 mil crentes
aguardavam a volta de Jesus: o dia 22 era um dia especial e conforme Schwarz, na
maior parte dos Estados Unidos, a manhã deste dia apareceu brilhante e clara. Vários
grupos de adventistas se reuniram em lares e em templos para aguardar a volta de
Cristo. Estima-se que cerca de 100 mil pessoas aguardavam o último dia da história da
Terra (SCHWARZ, 2009, p.49). Ao mesmo tempo em que crescia a expectativa dos
crentes (com medo de que os mileritas estivessem corretos) crescia também a zombaria
por parte dos incrédulos. Contudo, neste dia os escarnecedores se calaram.
Mas o grande dia passou e Cristo não voltou, fato que animou os escarnecedores
e desanimou os mileritas. Hiram Edson, pioneiro que passou pelo desapontamento
descreveu o dia 23 de outubro com as seguintes palavras: “Nossas mais acariciadas
esperanças e expectativas foram destruídas... parecia não ser comparável a perda de
todos os amigos terrenos. Choramos e choramos até o amanhecer” (KNIGHT, 2000,
p.23). Ao descrever este dia Miller disse: “é como se todos os demônios do abismo
tivessem sido liberados sobre nós. Os mesmos e muitos que clamavam por
misericórdia... estão agora misturados com a turba e os zombadores” (KNIGHT, 2005,
p.54).
Talvez não seja possível aos adventistas de hoje (que vivem 168 anos longe
deste acontecimento) compreenderem plenamente toda a expectativa que foi alimentada
pelos mileritas ao se aproximarem do dia 22 de outubro de 1844, e muito menos a
magnitude do desapontamento enfrentado por eles. Nesta dolorosa experiência pode-se
ver um claro paralelo entre a visão de João e o que aconteceu com os mileritas na
metade do século XIX. A mensagem outrora tão doce em sua boca, como havia sido
narrada pelo apóstolo João, agora se tornara amarga no estômago.
3
Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 400.
doutrinas como o sábado, santuário, estado dos mortos, a mensagem de saúde, dentre
outros. O desdobramento destas verdades seria um processo gradual.
Esse breve panorama nos lembra da razão pela qual os adventistas veem a sua
história profética predita em Apocalipse 10 e, não obstante, esta é apenas a primeira das
três características profeticamente identificadas.
Após mais de 160 anos, o fruto de ministério profético de Ellen G. White pode
ser visto claramente nos conselhos que Deus deu à igreja por intermédio dela, conselhos
estes que resistiram à prova do tempo. Qualquer observação sincera da história da
denominação revela que a igreja prosperou quando seguiu a liderança de Deus por meio
do Espírito de Profecia e vacilou quando não o fez. Assim, no presente tópico pode-se
ver a segunda característica da identidade profética adventista, a saber, o “dom de
profecia”.
A partir de agora, uma vez feitas considerações sobre a origem profética, faz-se
necessário um estudo do conteúdo profético da mensagem adventista e sua relevância
para o crescimento da mesma. É por este viés que seguirá o presente trabalho.
Nenhum livro torna mais evidente a tarefa a ser desempenhada neste último
momento da história do que o Apocalipse de João. Se bem que é responsabilidade de
todo o indivíduo que se coloca sob a bandeira ensanguentada do Cordeiro, há um
movimento restaurador, último, reparador de brechas ao qual foi designada esta missão,
a saber, o remanescente.
Toda a realidade que se conhece e tudo que transcorre nos presentes dias devem
ser vistos à luz do conflito cósmico entre o bem e o mal. Aliás, só existem dois exércitos
neste campo de batalha: aqueles que se posicionam “sob a bandeira ensanguentada de
Jesus Cristo e os que se reúnem ao redor da negra bandeira da rebelião” (SDABC9,
984). A compreensão ampla da mensagem do capítulo 14 de Apocalipse é de extrema
relevância para a igreja atual e, embora não compreendida em sua totalidade, muito em
breve o será e se presenciará um novo despertar alavancado pela urgência da mensagem.
É exatamente por esta razão que se faz necessária uma reflexão sob a missão que
se possui e que está tão amplamente indicada na Tríplice Mensagem Angélica de
Apocalipse 14:6-12. Não obstante, na impossibilidade de se aprofundar em todos os
aspectos desta perícope, será dada uma ênfase maior na mensagem do primeiro anjo
dada a sua conexão com a grande comissão de Mateus 28:18-20 e com o discurso do
Olivete, com Mateus 24:14 mais especificamente.
Esta é a cena que se apresenta ao leitor do livro de Apocalipse: três anjos voando
pelo meio do céu, três mensagens importantes e urgentes. Mas a quem são destinadas
estas três mensagens e qual é a implicação das mesmas para o desfecho da história do
grande conflito?
“Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para
pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo,
dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu
juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas” (Ap.
14:6,7).
A tríplice mensagem é aberta pelo anjo que ‘voa’ pelo meio do céu, fato este
que denota a urgência de a mensagem ser entregue aos seus destinatários. Esta
mensagem remonta à grande comissão de Cristo do evangelho (neste caso nomeado de
evangelho eterno) que deveria ter amplitude total sobre os moradores da terra. Isto está
retratado no modo como a mensagem é entregue, a saber, ‘em grande voz’. Entretanto,
dois novos dados são acrescentados nesta revelação: a nota convocatória de adoração e
a chegada do ‘Seu’ juízo.
“Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia que
tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição” (Ap. 14:9).
Por fim, e não menos importante está sua queda. O período que compreende o
final do século XVIII e a primeira metade do século XIX é fortemente marcado pelo
despertar intelectual e crítico, fruto do Iluminismo4. Foi o período de maior produção
literária acerca das profecias de Daniel e Apocalipse, remontando ao fato de que nos
últimos dias ‘muitos o esquadrinharão [o livro selado de Daniel até o tempo do fim], e o
saber se multiplicará’ (Dn 12:4).
4
Se bem que um dos frutos do Iluminismo foi o racionalismo, provocando o ceticismo para com qualquer
tipo de instituição religiosa, foi ao mesmo tempo o marco do despertar religioso para as profecias
concernentes ao tempo do fim, até então não estudadas.
5
Conforme o livro Em Busca de Identidade de George Knight (2005) estima-se que em outubro de 1844
mais de 50 mil crentes mileritas haviam abandonado suas igrejas.
Justificação pela fé: a mensagem do terceiro anjo
Se bem que uma mensagem clara e definida, juntamente com as outras duas
advertências forma uma mensagem única, fundida, que deve ser pregada até o fim haja
vista que pretende preparar e convocar o remanescente ao clímax da história deste
mundo: o grande e terrível dia do Senhor, dia de grande alegria para uns e terrível para
outros.
Percebe-se que este anjo também dá sua mensagem em grande voz, tal qual o
primeiro. Trata-se também de uma mensagem referente à adoração, contudo aqui há um
desdobramento da primeira mensagem, pois se encontram aqui (claramente no texto) os
elementos que estarão em jogo no concernente à adoração: os mandamentos de Deus e a
fé em Jesus.
A mensagem do terceiro anjo foi enviada ao mundo para advertir os homens contra a
recepção da marca da besta ou de sua imagem na fronte e nas mãos. Receber esta
marca significa adotar a mesma decisão da besta e apoiar as mesmas ideias, em
oposição à Palavra de Deus (ME2, 367).
A observância do domingo ainda não é a marca da besta, e não o será até que se
promulgue o decreto que obrigue os homens a santificar esse sábado idólatra.
Chegará o tempo em que esse dia será a prova; mas ainda não veio (SDABC7, 977).
Dois anos mais tarde a mesma autora escreveria que a mensagem de justificação
pela fé “é na verdade a terceira mensagem angélica”. Em outras palavras é através da fé
no sacrifício vicário de Cristo que o homem pode ser considerado justo diante de Deus
quando a sentença final for derramada sobre os que se acharem culpados ao final do
grande juízo anunciado pelo primeiro anjo. Logo, esta tríplice mensagem não só aparece
como ponto central do livro de Apocalipse, como se trata de uma última mensagem de
advertência e que possui caráter urgente e universal.
CONCLUSÃO
A visão apocalíptica deve ser compreendida tanto pela liderança quanto pela
membresia como alavanca que impulsiona o cumprimento da missão, haja vista ser esta
a ótica prevalecente desde sua origem profética. Quando os pioneiros compreenderam a
visão apocalíptica os adventistas tiveram um crescimento significativo, mas aos poucos
estes tentaram tornar sua pregação politicamente correta e enfatizaram demais as bestas
presentes no livro, esquecendo-se consequentemente da visão apocalíptica.
Os resultados de tal pregação são descritos por Knight na redução da Divisão
Norte-Americana em quatro grupos principais: brancos, negros, asiáticos e hispânicos.
Apesar de a igreja crescer, este crescimento se deve a imigração. A igreja não tem tido
êxito para alcançar os nativos na América do Norte, declínio este que pode ser visto na
Grã-Bretanha e em grande parte da Europa. “Parte do problema é que o adventismo
perdeu, em grande escala, a base apocalíptica de sua mensagem” (KNIGHT, 2010,
p.16). Torna-se imperativo que tal visão seja resgatada, do contrário a igreja adventista
se tornará um movimento religioso irrelevante e estático.
O adventismo moderno deve ter a mesma base e convicção que tinham os
pioneiros, firmemente enraizados nas visões apocalípticas de Daniel e de Apocalipse e,
por consequência disso, muitos deles não mediram esforços para levar a mensagem
avante e alavancar o crescimento da igreja. Ellen White afirma:
De certo modo muito especial, os adventistas do sétimo dia foram
postos no mundo como vigilantes e portadores de luz. A eles foi
confiada a última advertência para um mundo que perece. Sobre eles
está brilhando a maravilhosa luz vinda da Palavra de Deus. Foi-lhes
dada uma obra da mais solene importância: a proclamação da
primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. Não há outra obra
de tão grande importância. Não devem permitir que nada mais lhes
absorva a atenção (Testemunhos Para a Igreja, v.9, p. 19). [ênfase
acrescentada]
ANDREWS, John Nevins. Three Messages of Revelation 14. Battle Creek – MI:
Review and Herald Publishing, 1892.
DEDEREN, Raoul. Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia. Tatuí – SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2011.
FROOM, Leroy Edwin. Movement of Destiny. Washington – DC: Review and Herald
Publishing Association, 1971.
GORDON, Paul A. The Sanctuary 1844, And The Pioneers. Washington – DC:
Review and Herald Publishing Association, 1983.
HOWEL, Emma E. The Great Advent Movement. Takoma Park, Washington, D. C.:
Review and Herald Publishing Association, 1935.
KNIGHT, George R. Uma Igreja Mundial: Breve História dos Adventistas do Sétimo
Dia. Tatuí – SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000.
OLIVEIRA, Enoch. A Mão de Deus ao Leme. Santo André - SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1985.
WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 1999.
WHITE, Ellen G. O Grande Conflito. Tatuí – SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988.