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Capítulo V

INTERVENÇÃO DO ESTADO NO
DOMÍNIO ECONÔMICO

O Estado veio tendo, no correr deste século, acentuado papel no rela-


.; cionamento entre o domínio jurídico e o econômico. Hoje, essa atuação,
que vinha sendo aceita pacificamente, passou a ser questionada, de tal for-
ma a perguntar-se qual déve ser o papel do Estado n atealização do fenôme-
no econômico, ou, por outra forma, qual será o futuro do Estado numa
economia de mercado.l
A indagação deverá fazer-se com maior abrangência, quer diacronica
quer sincronicamente,.para que se possa ter uma visão mais completa da
questão. Essa análise deverá levar em conta que o fenômeno jurídico, tanto
quanto o econômico, não se restringem a contornos lógicos, mas se amol-
dam também à vivência hiitórica, ou seja, o relacionamento entre direito e
economia não pode explicar-se somente à luz da lógica formal, mas recebe-
rá luz também da experiência vivida. Afìrmou Oliver Wendell Holmes que

Afirma a este respeito Jean-Claude Paye: "Parece que o mundo inteiro, e não somen-
te o mundo industrializado, tenha entrado numa fase de monoteísmo em matéria de
religião econômica. Quer seja a leste ou a oeste, quer seja ao sul ou ao norte, todos c
cada um proclamam agora sua fé na economia de mercado. E o único credo que tal-
vez seja conveniente exprimir parece ser a crença na economia de mercado e em suas
virtudes. Depois de tantos anos em que, em muitos países, o Estado tinha por missão
e, dizia-se, por dever compensar as imperfeições do mercado, e até mesmo de se
substituir ao mercado para guiar um desenvolvimento econômico e social racional
eqüitativo, dá-se ùma mudança importante. A economia de mercado parece que'
para triunfar em todo lugar" (L'État à l'Épreuve du Marché: L'Encadrement I'
tionnel de l'Économie de Marché, Revue Française d'Adntinisa'afion Publ
61,p. 19-23, jan.-mars 1992).
DIREITO ECONOMICO 243
JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA

a vida do Direito não tem sido somente lógica, mas também experiência.2 duos, e as relações que ela lhes cria com o resto da natureza".3 Para Marx,

Para se ter um conhecimento mais adequado dessa vida, dever-se-á pers- a base da história será o resultado da atuação da força produtiva:
crutar o que foi o Direito no passado, o que é no presente e o que será no fu-
"Ê assim que em tudo isto se manifesta o laço materialista
turo. Assim, no tema que agora nos ocupa, para melhor entender o papel qlte une os homens entre si, laço condícionado pelas necessida-
desempenhado pelo Estado, ao editar nornas para reger o fenômeno eco- des e pelo modo de produção. Este laço, que é tão velho como o
nômico, deveremos fazer uma abordagem teórica e, depois, um acompa- homem, toma incessantemente novas formas, o que equivale a
nhamento da história dessa atuação. dizer que apresenta uma 'história', mesmo que ainda não exis-
ta qualquer estupídez (Unsinn) polítíca ou religiosa que reúna,
r. RELAçÃO ENTRE DIREITO E ECONOMIA por acréscimo, os homens".a

O estudo da atuação do Estado no domínio econômico exige que, pream- NaCrítica da Economia Política (1859), expõe Marx as relações en-
bularmente, se faça uma análise da relação entre direito e economia. Diversos tre a infra-estrutura - " estrutura econômica da sociedade" - e asuperes-
autores se detiveram na análise da inter-relação desses dois fenômenos culûrais, trutura. Assim diz ele:
focalizando ¡lpectos a cada um deles pertinente, segundo sua linha de pensa-
mento. Antes de adenhar o questionamento da utilização pelo Fstado de insku- " Na produção socíal da sua própria extstência os homens
mentos jurídicos para conduzi¡ a economia, convém apresentar um escorço dæ entram em relações determinadas, necess árias, independentes
principais teorias, sem qualquer preocupação com sertnos completos. da sua vontade, quais sejam as relações de produção que res-
pondem aum certo estadio do desenvolvímento dasþrças pro-
2. O MATERIALISMO HISTÓRICO DE MARX
dutivas materiais. O conjunto das relações de produção cons-
Utilizando-se da tese de Feuerbach relativa à alíenação do homem, titui a estrutura econômica da sociedade, que é a base real em
afirmou Marx que Hegel somente se interessou peìa vida interior do ho- que se ergue uma superestrutura jurídica e política, a que cor-
i
I
mem, pela vida da idéia, esquecendo-se de sua vida real, concretamente respondem determinadasformas sociaís de consciência" .
I
t
! histórica- Entende Marx que " a condição primária de toda a história huma-
Segundo essa concepção materialista da história, os homens não são
t na é naturalmente a existência de seres humanos vivos. Por conseguinte, o
i determinados pela sua consciência, mas esta é que é determinada pelo
I primeiro estado de fato a verificar é a compleição corpórea destes indiví-
{ modo de produção da vida material.5
Fica, assim, evidenciada a influência que as condições materiais da
[''Ê: 2 Afirmou Holmes: '"The life of the law has not been logic: it has been experience. The felt vida humanâ exercem sobre o pensamento.
necessities ofthe time, the prevalent moral and political theories, intuitions ofpublic po'
licy, avowed or unconscious, even the prejudices which judges share with their fel- 3. O PENSAMENTO DE STAMMLER
low-men, have had a good deal more to do than the syllogism in determining the rules by
which men should be govemed. The law embodies the story of a nation's development
Orientando-se a partir da distinção entre matéria e þrma, afirma
throrgh many centuries, and it cannot be dealt with as if it contained only the axioms and
corolla¡ies of a book of mathematics. In order to know what it is, we must know what it
Stammler a supremacia da segunda sobre a primeira. A matéria se manifes-
has been, and what it tends to become. We must altemately consult history and existing
theories of legislation. But the most difäcult labor will be to understând the combina-
tion ofthe two into new products at every stage. The substance ofthe law at any given
tirnepretty neârly corresponds, so faras it goes, with what is then understood to be con- 3 Ideologia Alemã,p.39.
A
venienq but its form and machinery, and the degree to which it is able to work out desi- Ideologia Alemã,p. 19.
red rcsrls, depend very much upon ia pasf' (The Common Law,p.5). 5 Crítica da Economia Política,p. 13.
aÀ^ 245
JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONÔMICO

ta na atividade concreta dos indivíduos associados, ao passo que a form¿ s prius da conduta ordenada no tempo, mas sua condição pura-
dada pela regulação geral que permeia toda atividade humana, que é condi_ mente lógica; isto é, a noção formal e necessária que preside o
cionada pela forma. conceíto e a lei da vida social ".7
Ao distinguir os planos dapolítica e da economia, assinala:

4. A coNcEPçÃo DE MAX WEBER


"Aquela se refere às regras vinculatórias Etefazem possí-
vel a exßtência de ttmq comunidade jurídîca, às normas que re-
Max Weber procura salientar que a ordemiurídica e a ordem econômi-
gulam simplesmente o agrupamento dos indívíduos vitzctiados
ca se situam em planos distintos. A primeira tem um sentido ideal e se inda-
e se propõem implantar e manter em pé este agntpamento en-
ga que sentído normativo logicamente correto deve conesponder a uma
quanto tal. A atívídade que se ocupa em ditar efazer observar o
iormação verbal que se apresenta como norma jurídica. Ao passo que a se-
direito pode chamar-se política, diferentemente da econômica, gunda se pergunta sobre o qlJe defato acontece numa comunidade em razão
que aþa maís imedíatamente a própria conduta dos índivíduos
de existir apro babilidade de que os homens que participam da atividade co-
agrupados, e tende de um modo relativamente direto a procarar o
munitária con siderem subj etivamente como válida uma determinada ordem.
necessário para subsistir com o proveitoso e o agradável'.6
Para ele "a ciência econômico-social considera aquelas ações huma-
nas que estão condicionadas pela necessidade de orientar-se na realidade
O plano da forma se atualiza no momento em que incide sobre a maté- econòmica, em suas conexões efetivas".8
ria da atuação, ou melhor, sobre a cooperação entre os indivíduos para a Por isso define a ordem econômica como "a distribuição do poder de
satisfação de suas necessidades. Essa possibilidade de ordenação se apre- disposição efetivo sobre bens e serviços econômicos que se produz consen-
senta como um condicionamento lógico que direciona a matéria, como co- sualmente - consensus - segundo o modo de equilíbrio dos interesses, e à
operação, e que é logicamente condicionada. maneira como eSSeS bens e serviços se empregam segundo o sentido desse
Após rejeitar o posicionamento materialista a respeito da relação en- poder fático de disposição que descansa sobre o consenso".e
tre economia e direito, afirma Stammler: Acentua também qtre a"ordem jurídica ideal da teoria jurídica nada
tem que ver diretamente com o cosmos do atuar econômico real, porque
"A regra exteríor é o elemento que condiciona logica- tais coisas se situam em planos distintos: uma na esfera ideal do dever-ser,
mente o conceito de cooperação humana. Para encontrar a di- a outra na dos acontecimentos reais".l0
reção metodológica em que se projeta a vida e atividade Mas essa distinção de planos não impede que a ordem jurídica e a or-
coletiva dos homens, fora da qual a vida social não existiria dem econômica se encontrem. Assinala então Max Weber:
como objeto de unta ciência específica e peculíar, não há mais
"Se, apesar disto, a ordem econômica e a ordemiurídica
remédio do que conceber a cooperação humana como um regi-
se encontram mutuantente na mais íntima relação, tal significa
me governado por regra.s exteriores. Portanto, toda modalida-
que estaúltima não se entende em sentidoilrídico mas socioló-
de de convivência que se enfoque como social leva implícito,
gico: comovalidez empírica. Neste caso o sentido da expressão
necessaríamente, o concetto de regra exterior, posto que sem
ela seria þrmalmente impossível conceber a cooperaçã.o hu-
mana como um conjunto defins enlaçados entre si. (...) O ele-
mento conceitual da regra exterior não pretende, pois, ser o 7 Economía y Derecho, según Ia Concepción Materialista de la Historia- Una inves-
tigac ión fiiosó/ìco-s ociai, 1929, p. 94.
8 Econontía y Sociedad: Esbozo de Sociología Comprensiva, 1969, p.251.

6 TratadadeFilosofiadel Derecho,1974,p. l4l-142.


I Ibid., p.251.
l0 Ibid., p.251.
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DIREITO ECONÔMICO 247

'ordent jurídica' se muda totalmente. Então não significa 7¿¡n


Pode-se dizer que economia e díreito são expressões de uma mesma cultu-
cosmos lógico de normas 'conetamente' inferidas, mas um
ra, criações de um único espírito, componentes de um universo de valores e
complexo de motivações efetivas do atuar humano real".tl
testemunhos do estilo de um povo e de uma época.
Assim é que o liberalísmo econômíco pode dizer-se radicado numa
Nessa relação entre a economia e o direito, ressalta Weber que
fé quase religiosa na harmonia do todo e na racionalidade da ordem ima-
nente a esse todo. E esse mesmo espírito de racionalidade, de liberdade e de
"A aceleração moderna do tráfco econômico recla¡na um
ordem rigorosa e indefectível que domina as leis constirucionais do início
díreito de funcionamento rápido e seguro, garantido por uma
XIX. As teorias iluministas foram buscar o fundamento para essa
do século
þrça coativa da mais alta efcácia, e sobretudo, a economia estóica, que acreditava numa ordem universal suprapes-
crença na filosofia
moderna destruíu por sua peculiarídade as demais associações qual os indivíduos se integravam, e que os indivíduos
soal e supralegal, na
que eramportadoras de direito e, portanto, garantia do mesmo.
não deveriam jamais perturbar.
Esta é a obra do desenvolvímento do mercado. O poderio ttni-
Com o andar do século XIX, com o awltar-se do surgimento e cresci-
versal da sociedade que constítui o mercado exíge, por um lado,
mento industrial, com a influência do desenvolvimento das ciências natu-
umfuncíonamento do direito calculável segundo regras racio-
rais, o naturalismo e o posiTívismo perderam de vista o significado
nais. E, por outro, a extensão do mercado, que mostraremos ser
originário daquele conceito de liberdade, que passou aset avontade. Como
uma tendência caracterís tíca daquele des envolvimento, favore-
assinala Raiser:
ce, em virtude de suas conseqüências imanentes, o monopólio e
regulamentação de todaforça coativa 'legítima' por meio cle "O papel de força motriz da economia capitalísta tor-
um instituto coativo universal, destnd¡tdo todas as estruhrras nou-se, então, a cega e desenfreada vontade de auto-afirmação
coativas particulares, que descansant, na maioria das vezes, em
do indivíduo na luta pela existência. Como conseqüência, mu'
monopólios econômicos, estamentais ou de outra classe".tz
daram-se os valoresfundamentais do universo jurídico: o direï
to subjetivo e a declaração de vontade se tornaram os eixos da
5. A ESCOLA HISTÓRICA DA ECONOMIA POLÍTICA do gmátic a privatí s ti ca ".t a
As perspectivas acima apontadas, em que piedomina o influxo da for-
Ludwig von Raiser descreve de forma empolgante este relaciona-
ça produtiva, da força das idéias, da força do contexto social, não exaurem
mento entre direito e economia e sua inserçãono contexto cultural forma-
a possibilidade receptiva do fenômeno jurídico. A partir de Montesquieu
do pela evolução histórica. Assim diz ele:
(L'Esprit des Lois), de Ihering (O Espírito do Direito Romano) e de Frede-
! ríck Pollock (Genius of the Contmon Zaw), intensifrca-se a tendência de in-
¡ "A economia não consiste num conjunto desordenado de
serção da relação direito e economia rxo contexto históríco.
A idéia fundamental assentada por essa tendência é a de que .. a vida ações e de eventos, mas sint em uma estrutura dotada deforma
social não se pode reduzir a um complexo de ações submetidas a leis eco- e de sentido, na qual - excehada a sua específica individuali-
nômicas ou sociológicas: ela é também expressão da cultura histórica, en- dade histórica- se podem encontrar elementos estruturais e es-
tendida como manifestação suprapessoal própria de cada época,'.I3 tilísticos fundamentais determínantes. Esclarecer a sua relação
significa colocar em evidência o sístema materíal envolto na
realidade econômica. E necessário não esquecer que o conceito
II lbíd-,p-252. de sistema econômico material é somente uma esquematização
t2 lbid-,p-272.
l3 RAISE& Ludwig von, II compito del Diritto privato: saggi di Diritto privato e di
Dirítto dell'Economia di tre Decenni, 1990, p. 37 .
14 lbid., p. 38
r
ì DIREITO ECONÔMICO 249
248 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA

da realidade históríca. A experiência e a análise históríca ensi- sos econômicos segundo princípios lógicos. Hoje perdemos a
nøm qtrc a economia de uma nação é a resultante de váriosfato- conJìança naþrça da razão e dolorosamente nos apercebemos
res concomitantes e de diversos princípíos propulsores de que, não obstante o avohtmar-se de nossos conhecímentos,
de
natureza ideal ou moral, peculiares a sístemas díversos. De um não aumentou, antes dimínr,úu, a capacidade de criar e de orga-
lado, com efeito, no curso da história o novo não suplanta nun- nízar. Em lugar de distingdr entre ordenamentos econômicos
ca completamente o velho, mas se superpõe a ele dando origem espontâneos ou impostos, seria portanto melhorfalar de orde-
a uma vasta gama deformas intermedíárías; de outro, também namentos econômicos adotados por tradíção ou de ordena-
no interior de um mesmo sístema, as díversas esferas da vida mentos ideados com base em específicas escolhas políticas. Um
econômica não são sempre organízadas com base nos mesmos tal sistema, projetado em modo consciente, poderá chamar-se,
princípios estruturais. Só uma estruhra econômíca tão varia- com Eucken, de 'constituição econômica'. lrlão se deverá po-
damente artículada mas em si unitária pode ser definida como o rém esquecer que tal constituição, idealízada e querida, às ve-
ordenamento concreto da economia de uma nação. zes até defnida a nível constítucíonal, não coincide com a
No quadro de um dado sistema econômico, o ordenamen- 'constituição vivente' que se afirma hístoricamente como resul-
to jurídico constitui um elemento estrutural essencial, e, por ou- tante de um jogo deþrças contrapostas".t5
tro lado, os princípios e as institttições jurídicas conquístam
pleno significado sob o aspecto sociológico e dogmático so- Há que verificar-se ainda que hoje mais se enfatiza o aspecto promo-
mente em relação com o correspondente sistenta econômico. cional do Direito, como assinala Norberto Bobbio. O ordenamento jurídico
Procurarei agora esclarecer gual função desempenha e quais liberal manifestava-se com o garantidor de uma ordem econômica existente.
efeitos gere esta componente jurídica do sistema econômico. Sua atuação não pode dizer-se abstencionista, porque se caracterizava pela
O criador de toda a cultt¿ra, economia e direito incluídos, þrça de garantía. Hoje, contudo,função do Direito passou a ser a de criar,
a
é o homem entendido como unidade Jísíca, espiritual e moral, a de dar forma a uma nova realidade. O direito se manifesta como/orça pros-
membro de comunidades suprapessoaís como afamília. ou a na- pectiva, como þrça impuls ion adora. Adv erte, pois, Raiser:
ção. As condições nøturais têm sent dúvida um papel essencial
na criação de um ordenamento econômico, mas osfatores decí- "Numa época em que o Estado intervém para programar
sívos são, em última instância, o espírito, a vontade, as idéias e e para dirigir a economia nacíonal, o papel do ordenamento ju-
o comporta.mento dos hontens. E, portanto, disctttível a propos- rídico se manifesta completamente novo. Aos olhos do observa-
ta, sugerida por Eucken , de distinguir entre ordenamentos es- dor economia e direito não estão mais ligados por uma relação
potztâneos e ordenamentos impostos. Tal proposta evoca idéias meramente causal, n'¿as por um nexofinalístico ou instntmen-
inspiradas no materialismo e no romantismo, e as respectivas tal: a ordem imposta pelo Estado sobþrma de díreito está dire-
filosofias da história. A cttltura é sempre o produto, nzais ou cionada à prossecução de objetivos estabelecidos pela política
menos conscíente, de uma livre criação do homent. Mas como é econômica. Nesta perspectiva, o direito da economia assltme
diverso o grau de consciência, diversa é também a capacidade relevo somente como 'transposição jurídica das escoihas de
do homem de conceber o sistema econôntico como totalidade, polítíca econômica "'.t6
como uma unidade regulada, e de realízá-lo segtmdo um proje-
to bem definido: independententente dofato de que depois seja
um sistema de mercado ou de economia planificada. O impulso
do hontent moderno para dominar racíonalmente o mundo em 15 Il Compito del Diriuo Privato: Saggi di Diritto Privato e di Diritto dell'Economia di
que vive se reflete na crescente tendência descrita muito bem
- tre Decenni, 1990, p. 39-41.
por Max lí/eber - para organizar o sistema jurídico e os proces- 16 ob. cit., p.4142.

\¿.
250 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONOMICO 251

C.om base em tais pressupostos, assinala Raiser três funções fund¿_


A cada momento histórico, direito e economia se relacionaram de
mentais para o Direito:
forma peculiar, como resultado do fenômeno cultural de que são expres-
A primeira tarefa do Direito é a de tornar possível a atuação da políti_
ca econômica. O Direito é visto assim como um instrumento para realizar, são. Em cada fase da história a relação díreito - economia se exprimiu
para tornar concreta a Constituição econômica. através de uma linguagem própria, formando um discurso propiciador da
A sEgunda tarefa do Direito é a de imprimir certeza e estabilídade ìß ¡s- imposição de princípios destinados a reger a interação humana.ls
lações econômicas. São características próprias do Direito a regularidade e a A cada passo da sucessão dos momentos históricos será possível de-
legalidade, quer pela via jurisdicional, quer pela via legal. Por essas caracte- tectar uma razão jurídica, que é o fruto da ação hermenêutica que dá ori-
rísticas, podem-se prever valorações uniformes dos comportamentos sociais. gem ao ordenamento jurídico imperante a cada momento. Como opção por
Aterceira tarefa do Direito, a de mais elevado nível, é a de prossecu- uma visão do mundo, num determinado período histórico, ela é expressão
ção dajustþa substancial, abandonando-se o campo da justiça formal. deum referencial, é uma tomada de posição filosófica e é uma decisão por
Como assinala Raiser, "o perfeito funcionamento da economia, a eficiên- uma determinada linha política. Nesse sentido está dotada deumaunidade,
cia produtiva e o incremento da renda nacional não garantem de per si a mas sujeita sempre, como expressão de linguagem e como discurso
justíça social- Ajustiça substancial deveria satisfazer a mais verdadeira e
profirnda aspiração do homem".l7
A consecução dessajustiça substancial está condicionada à solução l8 Como acentua H. A. Schwarz-Liebermann von Vy'ahlendorl "o direito aparece so-
bretudo como o lugar privilegiado em que se realiza a formulação dos princípios que
de três problemas. O primeiro é o da liberdade concreta, liberada dos con-
devem reger as relações entre as individualidades de diversas ordens (sujeitos de di-
dicionamentos meramente idealistas. O segundo é, o da compatibilização reito) na perspectiva de sua associação, de uma associação que brotâ das necessida-
do princípio da propriedade privada com uma economia dírigída pelo des que estes sujeitos arrostam (em última instância, sempre homens,
Estado. O terceiro é o da solidificação da posição jurídica dos trabalhado- individualidades humanas) desde que se trate de organizar sua iô'brevivência, nas
condições de interdependência e portanto de comunicação. (...) O ato de comunica-
res e dos consumidores, no confronto com o poder econômico privado das
ção do direito se situa essencialmente no nível da decisão conbreta, porque é ela que
empres¿rs, que tendem sempre a uma concentração cada vez mais perfeita. dá vida ao direito. A interpretâção é a condição permanente e inexorável da realiza-
ção, da atualização do direito. Ora, a interpretação implica uma maneira de compre-
ATUAçÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMrCO:
6. A ender, e uma maneira de compreender está, ainda, ligada à formulação de termos; e
CONTEXTO HISTÓRICO mais, a exteriorização de uma compreensão está necessariamente ligada à linguagem
no sentido 'normal' do termo. A linguagem emerge, na ordem do direito, segundo os
dados e as condições de uma hermenêutica" (Politique, Droit, Raison: Récueil
Para melhor se entender a atuação que deverá ter, hoje, o Estado no do- d'Etudes, 1982,p.163, 165). O confronto entre Direito e Economia reclama sempre,
mínio econômico, para se apreender o seu papel no mercado, hoje, será con- por parte do Estado e de seus órgãos, uma postura decisória. A importância da dec!
veniente ter uma visão histórica da questão, atentos ao ensinamento de sâo , como forma de solução desse conflito permanente, é mostrada porTércio Sam-
paio Ferraz Júnior: "Decisão é termo correlato de conflito, que é entendido como
Raiser, acima exposto, de que "no curso da história o novo não suplanta nun-
conjunto de altemativas que surgem da diversidade de interesses, da diversidade no
ca completamente o velho, mas se superpõe a ele dando origem a uma vasta enfoque dos interesses, da diversidade das condições de avaliação, etc., que não pre-
gama de formas intermediárias". A atuação do Estado, no âmbito da relação vêem, em princípio, parâmetros qualificados de solução, exigindo, por isso mesmo,
direitoæonomi4 se manifesta sempre num contexto de relação dialética, decisão. (...) Decidir, assim, é um ato de uma série que visa transformar incompatibi-
lidades indecidíveis em altemativas decidíveis, que, num momento seguinte, podem
em que da oposição criativa de uma tese e de uma antítese surge um a síntese
gerar novas situações até mais complexas que as anteriores. Na verdade, o conceito
que é o resultado engendrado pelas posições que lhe deram origem. modemo de decisão liberta-a do tradicional conceito de harmonia e consenso, como
se em toda decisão estivesse em jogo a possibilidade mesma de safar-se de vez de
uma relação de conflito. Ao contrario, se o conflito é condição de possibilidade da
decisão, à medida que a exige, a partir dela ele não é eliminado, más apenas transfor-
17 Ob- cir, p.,14.
mado" (l Ctência do Díreito, 1977, p. 89-90).
DIREITO ECONOMICO 253
252 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA

ia disjuntiva, mesmo tempo, desperta o


ordenador, à peculiaridade de uma polissen sucessiv¿ Þis preciosos como instrumentos de troca, e, ao
e simultânea.le æp ír ít o c aP it al i s t a.zo
A sucessão dos eventos em que díreito e economia se confrontaram O capitalísmo se define como um sistema econômico2t baseado na
perspectiva integracionista, sob qualquer tipo de influência do Esta- propriedaáe privada dos meios de produção, propiciadora de
acúmulo de
numa
grandes massas monetárias,
do, leva à indagação a respeito da razão jurídica que imperou em cada pe- louiunçu com finalidade de investimento de
ríodo histórico. Essa indagação passa a ser pertinente a partir do ãrniro á" uma organização de livre mercado, através de uma organização
permanente e racional. O capitalismo pode ser visto sob um
prlsrr a jurídi-
mercantílismo, principalmente porque foi aquele tipo de organização da
co, e signific a o estatuto jttrídico que adota o
princípio da propriedadg nri-
vida econômica que, pela oposição dialética que a ele fez o liberalismo,
político,
passa a terrepercussões sobre aorganizaçáo moderna. vuãa dãs rneios de produção. Pode visualizar-se sob o aspecto
significando vma ideologia e um regime de livre empresa. No sentido
eco-
Tornaremos esse período, em que começam a formar-se os Estados
priva-
modernos, como termo inicial das indagações sobre a atuação do Estado nãmíco se manifesta como um s¡'s tema que,adotando a apropriação
e de mercado.
no âmbito da relação direito - economia, principalmente porque, a partir da dos bens de produção, dá origem à economia de empresa
assim definicio, existiu sempre, sob variadas formas, em to-
dessa época" começam a delinear-se as diversas formas de atuação do Esta- O capitalismo,
a nossa
do no querespeita à condução de políticas econômicas. A Inglatenarealiza dos ós períodos da história. No período histórico que agora chama
sua unidade a partir do reinado de Henrique VII ( 1485- I 509), a França con- atençãó, o de formação e consolidação do Estado moderno, adquire impor-
segue a sua unidade nacional a pafir do reinado de Luís XI (1461-1483), a
Í Espanha se unifica a partir de 1469, com o casamento de Fernando de Ara-
gão com Isabel de Castela, Portugal consolida sua independência a partir 20 Assinala Max Vy'eber: " É verdade que a utilidade de uma vocação, e sua conseqüente
pela es-
aprovação por Deus, é orientada primeiramente por critérios tnorais e depois
de 1640, quando se separa de Espanha. porém,
cata Oe imjortancia dos bens produzidos para a ' coletividade' , colocando-se,
O mercantilismo surge como reflexo das concepções ideológicas da- importante critério:
I prático, mais a
logo em séguida, um terceiro, e do ponto de vista
quele momento. A idéia de nacionalidade começa a afirmar-se, o Estado se ,ticratividàde, individual do empreendimento. Com efeito, quando Deus, em cujas
propõe a solidificar seu poder perante as nações estrangeiras, o poder cen- disposições o puritano via todos os acontecimentos da vida, aponta, para um de Seus
eleitos, uma oportunidade de lucro, este deve aproveitá-la com um propósito, e, con-
/ral se desenvolve e, com isso, ascendem as despesas públicas, o comércio
seqüentemente, o cristão autêntico deve atender a esse chamado, aproveitando
a
internacional se desenvolve em busca de riquezas,dando-se ênfase aos me- opårtunidade que se lhe apresenta". "Se Deus vos aponta um meio pelo qual legal-
mente obtiverdes mais do que por outro (sem perigo para a vossa alma ou para a de
outro), e se o recusardes e escolherdes um dos fìns de vossa vocação, e recusareis a
ser o servo de Deus, aceitando suas dádivas e usando-as para Ele, quando Ele assim
o

l9 EnsinaAndré-Jean Amaud que "a razão jurídica é o motor em virtude do qual um sis- quis. Deveis trabalhar para serdes rícos para Deus, e, evidentemente, não para a câme
temajurídico se organiza de maneira coerente e própria para realizar certos fins. A ou pará o pecado" . Aqui cita Vy'eber parte de um sennão do pastor puritano Richard
perspectiva teleológica é inseparável do aspecto estrutural do sistemajurídico, cuja Baiter (em l1/orks of the Puritan Divines,l, Cap. X, l, 9, par. 24). Salienta Henri De-
dinâmica ela justifica. A razão jurídica é a condição necessária e suficiente da exis- nis que essa mesma atitude perante a riqueza foi assumida também entre os católicos
tência de um sistemajurídico. Isto deve entender-se de quatro maneiras: printeira- - "onfo.In. consta do estudo feito por R. H. Tawney, em La Religiott et l'Essor du
mente, ênecessária uma razão suscetível de ditar raciocínios e condutas uniformes e Capitalisme, trad. franc., Paris, 1951).
conformes com as finalidades perseguidas¡' ent segundo /ugar, somente esta razão 2l O iisfema econôm¡co se define como " um conjunto coerente de estruturas econômi-
pode estabelecer um conjunto suficientemente adaptado, ordenado e consistente para cas, institucionais,jurídicas, sociais e mentais organizadas com a finalidade de asse-
serconsiderado como racional; em terceiro lugar, um mesmo sistema não pode ser gurar a realização de um determinado número de objetivos econômicos (equilíbrio'
atrimado por mais de uma razão; em quarto lugar, confTítos de razões nascem da si- órescimento, repartição ...)". Existem diversas classificações de sistemas econômi-
mulaneidade de sistemas jurídicos, e o sistema de direito imposto não pode deixar de cos, dentre as quais se destacam h oje o capitalinno e o socialisnto. Quando um orde-
levá-las en conta, sob pena, por esse motivo, de manifestar-se rapidamente como ul- namento jurídico adota um sistema econômico, passa ele a ter o nome de regime
trapassado e defasado" (Critique de la Raison Juridique: I. Où va la Socíologie du econômico (cf. SILEM, Ahmed, ALBERTINI, Jean-Marie, Lexique d'Econontie,
Droit?, 1981, p.27). verbete "système économique").
jl
i

254 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONOMICO 255

tância especiat porque passa a ser uma preocupação fundamental para


s
caracteÍizov-se pela defesa do princípio segundo o qual o desenvolvimento
fortalecimeuro do poder econômico, quer aquele detido pelos particulares econômico deveria fazer-se em conformidade com as leis naturais do mer-
quer o de que se utiliza o próprio Estado. cado, sem os grilhões anteriormente postos pelo Estado. Neste ponto se so-
O ¡nercantitismo se revela por princípios básicos, quais sejam a von_ bressai a doutrina de Adam Smith.
tade de f,ortatrecimento do poder através da busca da riqueza (centralizada Defende-se, a partir de então, a teoria segundo a qual a economia está
no ouro e ua pnata), o protecionismo pela implantação de fortes baneiras sujeita a leis naturais que a levam fatalmente a uma situação de equilíbrio
aduaneiras¡, o favorecimento da exportação e o corespondente desfavore- entre os integrantes do mercado, com frutos positivos para toda a socieda-
cimento da importação, com a finalidade de estabelecer uma balança co- de, que.será rica se os seus integrantes o forem. O Estado não deveria, por-
mercial favorável.22 O mercantilismo utilizou de forma ugt"a.iuu u
tanto, através da lei, interferir no fi.rncionamento do mercado. Eis o que diz
xenofobia, iacentivando assim as rivalidades intemacionais. Procurou afas- Adam Smith:
tar os me¡cadores estrangeiros e, ao mesmo tempo, como forma de fortalecer
o proprio codrcio, vinculou os próprios mercadores através de concessões "Portanto, sem qualquer intervenção da leí, os interesses
de licenças para o exercício da atividade.t' O fortulecimento econômico do privados e as paixões dos homens levam-nos, naturalmente, a
Estado, propiciado pelo mercantilismo, trouxe-lhe o poder absoluto, decor- divídirem e a distribu í-rem o capítal de qualquer sociedade en-
rente da cenüalização total dos poderes nas mãos dos soberanos. tre os díferentes empregos com ele realizados, tanto quanto
David Hurne, em seus Ensaios Econômicos, procura refutar o mer- possível, na proporção mais vantajosa para o interesse de toda
cantilismo, mostrando a importância do comércio exterior como estimu- a sociedade.
lante da economia e fonte do progresso manufatureiro. É o primeiro a expor As várias regulamentações do sistema mercantil vêm, ne-
a teoria ðo equilíbrío automático das trocas. É o precursor de Adam cessariamente, perturbar mais ou menos esta distribtdção natu-
Smith, sgu ¡migo e a quem influenciou grandemente. 'ral e muito vantajosa do capital".2a
,:

A teoria mercantilista é suplantada pela idéia do liberalismo econô-


¡ mico, que se assenta nos princípios do liberalismo filosófico e político tra- O trabalho de cada indivíduo contribui para o seu próprio enriqueci-
I zidos princþlmente pelas doutrinas jusnaturalistas do século XVII, em mento, e o proveito da sociedade está na razão direta do bem individual. O
¡ que se exalørn os princípios de líberdade, de valorização do indivíduo, de governante não deve interferir, de forma alguma, nesse processo natural de
!
L revolta conFa os privilégios e contra o poder absoluto dos reis. o liberalis- desenvolvimento do mercado:
t mo pode assumir variadas formas, mas o que se sucedeu ao mercantilismo
É
( "Cada índívíduo esforça-se continuamente por encontrar
!
o emprego mais vantajoso para qualquer que seja o capital que
2

¡1.
22 Adam Srnith enfatiza essa tendência do mercantilismo: '. Embora o encprajamento à detém. Na verdade, aquilo que tem em vista é o seu próprio be-
exportação e o desencorajamento à importação constituam os dois principais instru- neJício e não o da sociedade. Mas o juízo da sua própria vanta-
mentos aFåvê dos quais o sistema mercantil propõe enriquecer os países, contudo, gem leva-o, naturalmente, ou melhor, necessariamente, a
em relação a determinadas mercadorias, parece ter seguido um plano oposto: desen-
preferir o emprego mais vantajoso para a sociedade.
corajaraexportação e encorajara importação. Todavia, segundo parece, o seu objeti-
vo último é sempre o mesmo - enriquecer o país através de uma balança comercial
Portanto, como cada indivíduo tenta, tanto quanto possí-
varqjæ"(A Riquezadas Nações, Livro IV, Cap. VIII, Gulbenkian ,1983,p.217). vel, aplícar o seu capital no apoio à indústria interna e, por
23 Assinata Pi{:rre Deyon: " Mas o elemento comum, o elemento essencial é a teoria da conseqùência, dirígir essa indústria de modo a que a sua pro-
balarça conaercial, ou mais exatamente a convicção de que uma ação harmonizada, dução tenha o máximo valor, cada um trabalha, necessaria-
dirigidap¿e Estado, deve permitir o equilíbrio positivo desta balança; fonte de pros-
peri,L.ìeedepoder. Esta permanente preocupação com o equilíbrio das importä!ões
e das eryortações faz a realidade e a unidade do pensamenro mercantilista" (o Mer-
cantí[isøø. 1973, p. 57). 24 A Riquzza das Nações, Livro IV, Cap. VII, Gulbenkian, i983, p. 199.
256 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONOMICO 257

mente, para que o crédito anual da socíedade seja o maior qüência, adota o constitucionalismo do século XIX o princípio segundo o
possível. Na realidade, ele não pretende, normalmente, promo- qual o Estado não deve intervir na atividade econômica, sob pena de rom-
ver o bem público, nem sabe até que ponto o está afazer. 16 per o equilíbrio a que ela,natural e necessariamente, tende. O Estado tem
preferír apoíar a indtßtria interna em vez da externa, só está a uma funçao fundamental, qual seja a de garantidor da liberdade de merca-
pensar na sua própria segurança; e, ao dirigír essa indústria d.e do. Não seria adequado afirmar-se que naquelas duas Constituições inexis-
modo que a sua produção adquira o máximo valor, só estó a tiriam disposições sobre a organização econômica da sociedade. Nem se
pensar no seu próprio ganho, e, neste como em muitos outros poderia dizer que naqueles textos não existisse uma Constituição econômi-
casos, está a ser guiado por uma mão invisível a atingir umfi,¡¡1 õa. O que se deveria dizer é que a ordem econômica liberal ali está presen-
que nãofazia parîe das suas intenções- Nem nunca será muib te, com a imposição de o Estado ga rantir os direitos individu_ais, entre eles
mau para a sociedade que ele nãofizesse parte das suas inten- o ãireito indìvidúal de propriedaãe em toda a sua plenitude.26 Não se pode
esquecer que o constitucionalismo dos séculos XVIII e XIX surgiu sob o
çõe;. Ao tentar satisfazer o seu próprío interesse promove, fre-
qüentemente, de uma maneira mais eficaz, o interesse da preisuposto ideológico de defesa das liberdades individuais em confronto
ãom oãbsolutismo até então imperante. E entre estas liberdades individuais
socíedade, do que quando realmente o pretendefazer...
estava o direito absoluto de propriedade individual, garantidor da atuação
O estadista que tentasse orientar as pessoas privadas so-
't bre o modo como deveriam aplicar os seus capítais, não só se econômica individual no mercado. As normas constitucionais protetoras
'r:,
desses direitos têm um sentido negativc, porque têm por objetivo impedir
estaria a sobrecarregar com uma tarefa desnecessária, como
que o Estado os desrespeite, os afronte.
ainda assumiria unta autoridade que não só dificilmente pode-
ria ser confiada a unta única pessoa como, nem sequer, a qual- A concepção de um liberalismo atomista, de liberdade do indivíduo
quer conselho ou senado, e que representaria um perigo nas no âmbito do mercado, veio a ser desmentida pela realidade histórica. A
mãos de um homem que tivesse a loucura e a presunção suficien-
partir de meados do século XIX o capitalismo se transforma. As unidades
tes para se considerar capaz de a exercei'.25
ie une*, formando grupos , dando origem ao novo Estado industrial. Com
os grupos econômicos surgem os primeiros questionamentos sobre a plena

O constitucionalismo do século XIX surgiu impregnado de liberalis- [bãrdåde de comércio.z7 A crise se instaura e provoca, no período entre as
mo, tanto político quanto econômico. As Constituições brasileiras de 1824 duas grandes guerras, o surgimento de um novo Direito e a imperiosidade
da atiação do Estado no domínio econômico.28
e de 1891 basearam-se no princípio básico do liberalismo econômico e que
serve de distintivo para o capitalismo: o princípio da propriedade individu-
al dos bens.de produção. Este princípio é fixado como absoluro naqueles
dois textos. 26 Cf. VAZ, Manuel Afonso, Direito Económico: A Ordent Econóntica Portuguesa,
Numa interpretação contextual, deve-se assinalar que este princípio 1990, p. 75.
está contido no título referente às "garantias dos direitos civis e políticos 27 As reações a esse liberalismo exacerbadojá podem ser encontradas, mitigadamente,
no constitucionalismo de meados do século XIX. A Constituição francesa de 1848 já
dos cidadãos brasileiros". E o $ 22 do art. I 79 da Constituição de I 824 de-
estabelecia, no seu art. l 3: "A Constituição garante aos cidadãos a liberdade do traba-
termina: "é garantido o direito de propriedade em toda a sua plenitude". lho e da indústria. A sociedade favorece e encoraja o desenvolvimento do trabalho
Por sua vez, o $ 17 do art.72 da Constituição de 1891 dispõe: " o direito de pelo ensino primário gratuito, a educação profissional, a igualdade de direitos entre
propriedade mantém-se em toda a sua plenitude ". patrão e trabalhador, as instituições de previdência e de crédito, as instituições agrí-
Esse princípio informa toda a doutrina da economia de mercado então colas, as associações voluntárias, e o estabelecimento, pelo Estado, pelos departa-
vigente. Corolário inarredável do princípio absoluto do direito de proprie- mentos e pelas comunas, de trabalhos públicos próprios para empregar os braços
dade individual é o da líberdade de iníciativa no mercado. Como conse- desocupados; ela fomece a assistência aos meninos abandonados, aos enfermos e aos
velhos sem recursos, e aos quais suas famílias não podem socorrer".
28 Como acentua G. Farjat, " os economistas colocam geralmente entre os anos 1850 a
1880 o aparecimento de um novo tipo de capitalismo (o capialismo de grupo, ou oligo-
25 A Riqueza das Nações,Livro IV, Cap. II, Gulbenkian, 1983, p. 755,757-759. polístico, ou simplesmente'o /¡ovo Estado induslnal'), ou do verdadeiro capitalismo
258 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA
DIREITO ECONOMICO 259

A concentração econômica é o fenômeno pelo qual as empresas ten_


a) Esþrçar-se-ão por asseglrrar e manter condições de
dem a aumentar a sua dimensão, quer pela ampliação de sua extensão seto-
trabalho eqüítativas e humanas para o homem, mulher e crian-
rial e geognáfica, quer também pela eliminação da concorrência. pode-se
afirmar que a decisão que leva à concentração tem sua origem em dois prin- ça nos seus próprios territórios, assim como em todos os países
aos quais se estendam as suas relações de comércio e indústria,
cípios fundamentais: o da maximização dos lucros e o da segurønça.
e, nesse intuito, deverão criar e manter as organizações ínter-
O fenômeno da concentração empresarial foi, segundo Farjat, o ele_
nacionais necessárias ".
mento decisivo para o. surgimento do Direito Econômico, pois que, a partir
de então, surgiu a necessidade de o Estado intervir (atavés de normás) no
mercado, não para impedir a concentração de empresas, como falsamente Ainda no âmbito das relações sociais de trabalho, o Tratado de Ver-
se entende, mas para garantir efetivamente a liberdade de mercado, com salhes,3' na segunda párte do capítulo XII, fixou os princípios que deve-
a
proteção d¡s çl¿s5ss que poderiam vir a ser deifavorecidas com a nova fei- riam nortear a legislação dos Estados, estabelecendo assim os critérios
que deveriam orientar a intervenção do Estado na regulamentação das re-
çao oas empresas."
A concentração empresarial provocou dois fenômenos importantes: lações de mercado, no atinente aos direitos do trabalhador. Tais princípios
de um lado a grave situação da questão social. o grande poderio econômico são os seguintes:
acumulado pelas empresas passou a impor pesado ônus à classe trabalha- 1. O trabalho não pode ser considerado como simples mercadoria.
dora. Daí surgiu a necessidade de elaboração de leis destinadas à proîeção 2. Deve-se garantir o direito de associação tanto para trabalhadores
dos empregados, com a finalidade de garantir-lhes a observân cia d,os direi- quanto para patrões.
tosfundamentars garantidos ao homem. o rratado de versalhes, na letra a 3. Deve-se garantir aos trabalhadores um salário que seja capaz de ga_
do art.23 da Parte I, já dispõe sobre a necessidade de o Estado interferir na rantir-lhes um nível de vida condizente com o tempo e o país.
ordem econômica com a finalidade de estabelecer normas garantidoras dos 4. Deve-se adotar a jomada de oito horas ou a semana de 4g horas.
direitos relativos ao trabalho: 5. Adotar-se-á um período de repouso semanal de 24 horas, que deve_
rá coincidir, sempre que possível, com o domingo.
,! "Art. 23. 6. Deverá ser suprimido o trabalho de crianças, e o trabalho dos jo_
I
.)
Sob reserva e em conformidade com as dísposições das vens não deverá ser obstáculo à sua formação e educação.
{
,+
convenções internacionais atualmente exístentes ou das que se 7. Para trabalho igual deverá haver salário igual, sem distinção de sexo.
r concluírem ulteriormente, os Membros da Sociedade: 8. As normas destinadas a reger as relações econômicas de trabalho
I
I deverão garantir a todos os trabalhadores residentes num país um trata-
I
mento eqüitativo.
t,. (a sociedade anterior sendo uma sociedade 'pré-industrial'). osjuristas colocam ge- 9. o Estado deverá criar um serviço de inspeção para garantir a apli-
{'i' ralmente mais tarde o período das mutaçõesjurídicas: o período entre as duas guãr- cação das leis que regem as relações de trabalho.
ras, período marcado por uma intervenção do Estado, cuja intensidade muda as Essa tendência já estava manifesta na constituição do México
;
I estruturas jurídicas" (Droit Economique, 1982, p. 14l). ,lglJ,
que, em seu art. 123 já determina que o congresso da união "deverá emitir
I
leis sobre o trabalho". A constituição de weimar3l vem incorporar, no seu
art. 157, o princípio intemacionalmente aceito no Tratado de versalhes,
t: 29 Afirma Farjat que " a concentração capitalista é o flenômeno decisivo do direito eco-
estabelecendo que "o trabalho está sob proteção especial do Império.
nômico- É ela que está na origent de iodas as grandes mutações das sociedades in- o
dustriaîs: a intervenção do Estado (teremos ocasião de voltar a isto) é uma Império instituirá um direito do trabalho uniforme".
i. conseqüência da concentração. Mas, além do direito econômico, o nascimento e o
desenvolvimento do direito do trabalho e do direito social são também conseqüên-
cias da concentração. Enfim, o direito do consumo e o direito do meio ambiente[src]
30 Em 28.06.i919.
da qualidade de vida o são também em grande medida" (ob. cit., p. I a3).
31 De I i.08.1919.

I
260 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONOMICO 26t

Por outro lado, o fenômeno da concentração do poder econômico næ A Constituição brasileira de 1934 aderiu ao novo discurso manifesta-
mãos de rms poucos veio trazer a necessidade de o Estado intervir para sanar a dor das idéias imperantes, introduzindo, por vez primeira, um título confi-
crise do hlberalismo econôrnico, salvando a liberdade de iniciativa. Assinale-se gurador da nova postura do Estado deniro da ordem liberal. O ingresso do
que o Estado não interveio para coibir a liberdade econômica das empresas, Estado para atuar no mercado gera uma nova ordem a ser disciplinada, a
mas panr garanti-la mais concreta e efetivamente. A primeira manifestação Ordem Econômica e Social.
constitucional dessa tendência, temola na Constituição do México de 1917, O art. I 15 garante a liberdade econômíca, mas a situa dentro da pos-
que, no seu art- 27 , confere à Nação o direito de "impor à propriedade privada sibilidade de ser organizada pelo Estado, em conformi dade comos princí-
as regras que dite o interesse público" e no art.28, estabelece a proteção contra pios da Justíça e com as necessiCades da vída nacíonal, e impondo-lhe um
os monopólios e o combate à concentração ou açambarcamento: limite de carâter teleológico, o de possibilitar a todos existêncía digna.
Ao Estado destinam-se duas novas e importantes funções, a de atuar
"Art. 28. no mercado, podendo monopolizar determinada indústria ou atividade
Nos Estados Unidos Mexicanos não haverá monopólios econômica, quando.assim o exigir o interesse público, mediante autonza-
nem exclusivos de qualquer espécie ... ção de lei especial,3a e a de influir no mercado, impondo-se-lhe o dever de
A leí castigará severamente e as autoridades combaterã.o promover ofomento da economia popular.3s
efrcazmente toda a concentração ou açambarcamento dos arti-
gos de consumo necessários e que tenham por objetivo a alta de
preços ...".
sujeito ativo - o setor público - habilitado para concretizar as modalidades da inter-
venção. E óbvio que o tratamento jurídico do fenômeno empresarial é, na maioria das
Já a Constituição de Weimar vem estabelecer que "a organização da
vezes, unidimensional e tradicionalmente tem sido contemplado desde uma ótica pu-
vida econômica deverá realizar os princípios da justiça", fixando os limites
ramente patrimonial, atendendo somente à problemática que afeta o capital, margi-
dentro dos quais "deve ser assegurada a liberdade econômica individual" nalizando-se os interesses dos que trabalham nela e o interesse que para a
(art. 15l), estabelecendo-se ainda que "nas relações econômicas a liberda- coletividade representa a empresa em si mesma considerada como organização eco-
de contratual só vigora nos limites da lei" (art. 152). nômica produtiva". Dentro desse contexto é que se mostra a diferença entre o modelo
Estava aberto o caminho para um novo contçxto das relações econô- clássico de economia de mercado que só se preocupava com a defesa dos interesses
dos credores, e o modelo concretizado pelo Direito modemo: "Diante da realidade da
micas no âmbito do mercado. Se continua o liberalismo, como de fato se
liquidação da empresa em mãos dos credores, o Direito modemo teve que reagir,
quis,32 aceita-se, a partir de então, o ingresso naquelas relações de um ter- quer através de meios privatistas (aperfeiçoamento dos procedimentos concursais),
ceiro personagem, o Estado. É preciso, contudo, assinalar que a relação que quer através de procedimentos de intervencionismo público, pæa salvaguardar a
se estabelece entre Estado e empresa não se limita a influir nos interesses continuidade da empresa ou evitar antecipadamente sua liquidação" (co nstitución y
desta, mas transcende-os para defender primordialmente o interesse da co- Sistema Económico, 2" ed.,1985, p. 209-2lO).
letividade- Um exemplo interessante desta nova perspectiva é, hoje, o pro-
jeto de lei para a nova lei de falências, em que se procura, em lugar de
liquidar a empresa, recuperá-la e dar-lhe continuidade.33 34 o art. I I 6 assim determina: "Por motivo de interesse público e autorizada em lei es-
pecial, a união poderá monopolizar determinada indústria ou atividade económica,
asseguradas as indenizações devidas, conforme o art. I 12, no 17, e ressalvados os ser-
viços municipalizados ou de competência dos poderes locais',.
35 O art. I l 7 assim dispõe: "A lei promoverá o fomento da economia populaç o desen-
32 Aliris, o t€rfto da constituição de vr'eimaç no seu art. 17, esabelecia que 'tada estado deve volvimento do crédito e a nacionalização progressiva dos bancos de depósito. Igual-
t9r urna Consitui$o liberal", no sentido predominantemente político, é verdade. mente providenciará sobre a nacionalização das empresas de seguros em todas as
33 É esta a perspectiva de Martín Bassols Coma, que diz ser necessário .' aprofun'dar os suas modalidades, devendo constituir-se em sociedades brasileiras as estrangeiras
componentes fi¡ndamentais da fenomenologia da intervenção: o sujeito passivo da que atualmente operam no País . E o parágrafo único deste artigo determina: '.é proi-
intervenção- a empresa-, o motivo ou causajustificativa- o interesse geral - eo bida a usura, que será punida na forma da Lei".
DIREITO ECONOMICO 263
262 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA

sejam os crimes contra a economia


popular e determina a sua punição. A
A Constituição brasileira de 1937 é a primeira a valer-se da expressão
competência para julgamento dos crimes definidos naquele
diploma legal
"intervenção do Estado no domínio econômico", estabelecendo também a
foi atribuída ao Tribunal de Segurança Nacional.
distinção, de caráter doutrinário, entre a intervenção mediata e imediata ,s
conceituandolhes as formas de manifestação: controle, estímulo e gesño A Constituição de 1946 torna explícitos os parâmetos fundamentais que
de fixar, no
direta. O art. 135 assim dispõe: bali7a¡nta intervenção do Estado no domínio econômico. Depois
145, os pilares da ordem econômica liberal que se instaura, alíberdade de
aft.
e avalorizafio do trabalho humano, o texto maior estabelece, no
"Na iniciativa indivídual, no poder de criação, de organi- iniciatíva
art. 146, que a interven$o tem como princípio propulsor o interesse
público,
zação e de invenção do indivíduo, exercido nos limites do bem
mas deverá ater-se ao limite dos díreitosfundamentaß, assim entendidos os
público, funda-se a riqueza e a prosperidade nacional. A inter-
venção do Estado no domínio econômico só se legitima para su- direitos garantidos ao indivíduo. Assim determina o art.146:
prir as defciências da íniciativa individual e coordenar os *A
produção, de maneíra a evitar ou resolver os seus con- União poderá , mediante leí especial, intervir no domí'
fatores da
e íntroduzir no jogo das competições individuais o pensa-
nio econômico e monopolizar determinada industria ou ativida-
flitos
mento dos interesses da Nação, representados pelo Estado. de. A intervenção terá por base o interesse público e por limite os
-:i '
A intervenção no domínio econômtco poderá ser ntediata direitos fundamentaís assegurados nesta Constituição ".
e imediata, revestindo aþrma do controle, do estímulo ou da
A mentalidade intervencionista do Estado está expressa nas determi-
gestão direta".
nações para que ø /ei disponha sobre o regime dos bancos de depósito, das

Esse dispositivo legal, pela ênfase dada ao papel do indivíduo no âm- empresas de seguro, decapitalização e de fins análogos (art. 149), disponha
bito da afuação econômica, merece ulteriores considerações, em face dos sobre a criação de estabelecimentos de crédito especializado de amparo à
contextos histórico e ideológico nos quais ele surgiu. lavoura e à pecuária (art. 150), disponha sobre o regime das empresas con-
Paralelamente com o disposto no art. ll7 daConstituição de 1934, o cessionáriab de serviços públicos federais, estaduais e municipais (art.
art. l4l da Constituição de 1937 explicita a forma de atuação do Estado sob 151), e facilite a fixação do homem no campo, estabelecendo planos de co-
a forma de controle, através do aspecto positivc do fomento, mas agora lonização e de aproveitamento das terras públicas (art' 156).
também ahavés do aspecto negativo dapunição, instítuindo os crimes con- São importantes ainda o art. 154, que determina que a usura, em to-
tra a economia popular . Diz o art. l4l: das as suas modalidades, sejapunida, como, e principalmente, a disposição
do art. 148, que deu nova figura àquilo que os textos de 1934 e I 937 confi-
"A leifomentará a economia popular, assegurando-lhe guravam como simples crimes contra a economia popular. Surge a figura
garantias especiais. Os crimes contra a economia popular são mais ampla das formas de abuso do poder econômico, que deverá ser re-
equiparados aos crímes contra o Estado, devendo a lei comi- primida por lei. E o texto constitucional define quais sejam essas foÍnas:
nar-lhes penas graves e prescrever-lhes processos ejulgamen-
tos adequados à sua pronta e segura punição". "A leí reprimirá toda e qualquerforma de abuso do poder
econômico, inclusive as uniões ou agrupamentos de empresqs
E importante assinalar que o crime de usura, antes contemplado individuaß ou sociaß, seja qualfor a sua nafi¿reza, que tenham
no parágrafo único do art. ll7,passa a ser fixado no art. 142: " A usura
porfi.m dominar os mercados nacíonais, eliminar a concorrên'
será punida" .
cia e aumentar arbitraríamente os lucros".
Os arts. l4l e 142 têm importância histórica, porque propiciaram o
surgimento, entre nós, das primeiras leis de proteção à liberdade de con- Sob o império dessa disposição constitucional, surge a Lei no I .521,
corrência. Assim é que o Decreto-Lei no 869, de t 8. 1 I . 1938, define quais de26.12.1951, que criou a Comissão Federal de Abastecimento e Preços -
264 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONOMICO 265

Cofap -, posteriormente substituída pela Superintendência Nacional {s


üansformou o "desenvolvimento econômico" em "desenvolvimento nacio-
Abastecimento - Sunab -, criada pela Lei Delegada no 4, de 26.09.1962-É
nal" e o colocou, juntamente com a exigência de justiça social (mas a ele sin-
importante assinalar ainda que, mesmo anteriormente ao surgimento da
tomaticamente precedente), como finalídades daquela mesma ordem. O
Constituição de 1946, a questão dos atos contrários aos interesses da eco-
Estado passa a atuar cadavezmais amplamente no domínio econômico. O $
nomia nacional fora objeto do Decreto-Lei n' 7.666, de 22.06.1945, qn
8o do art. 157 foi transformado no art. 163:
foi revogado logo depois da queda do Governo Vargas através da Lei n"
8.167, de 9.1 1.1945. Esse decreto-lei é importante, por ter sido o criador{¿ "Sãofacultados a intervenção no domínio econômico e o
Comissão Administrativa de Defesa Econômica - Cade -, que depois o an
monopóIio de determinada indústria ou atividade, mediante lei
8o da Lei no 4.137,de 10.09.1962, transformou em Conselho Administati-
vo de Defesa Econômica. Esta lei tem fundamental importância por ter sido þderal, quando indíspensável por motivo de segurança nacio-
a regulamentadora da disposição do art. 148 da Constituição de 1946-
nal ou para organizar setor que não possa ser desenvolvido
A Constituição de 1967 colocou a intervenção do Estado no domínio com efcácia no regime de competição e de liberdade de inicia-
econômico sob inspiração de um tema propulsor novo: o desenvolvimenb tiva, assegurados os direitos e garantías individuaís".
econômico. De fato, o art. 157 daquela Constituição colocou como um dos
princípios ideológicos da ordem econômica, ao lado dos de liberdade de À i¿¿ia de indispensabilidade,vinda do texto de 196'7 e conservada
iniciativa e de valorização do trabalho, o do desenvolvimento econômico.
no de 1969, o legislador maior acrescentou as de preferencialidade e de
É interessante notar que afaaildade de intervir no domínio econômico e
de monopolizar está inscrita como parágrafo do art. 157, significando que
suplementaridade, estabelecendo ainda, para evitar uma concorrência
essa faculdade está vinculada aos princípios ideológicos que figuram como desleal institucionalizada, a norrna da imposição do regime privado. Tais
incisos do caput do artigo. idéias vêm expressas no art. 170:
De fato, a partir do contexto revolucionário de 1964, adotou-se a ñr-
mula de fazer com que o Estado tomasse a seu cargo o desenvolvimento "Art. 170. Às empresas privadas compete, preferencial-
econômico. Assim, o Estado passa a figurar, não mais como regulador da merxte, com o estímulo e apoio do Estado, organizar e explorar
atividade econômica a ser desenvolvida pelos particulares (titulares da li- as atividades econômicas.
berdade de iniciativa), mas como um ator, como empresa a competir com a
iniciativa privada (titular também o Estado da liberdade de iniciativa). É $ I'Apenas em caráter suplementar da inicíativa privada o
verdade que o texto constitucional submete essa atuação direta do Estado à Estado organizará e explorara diretamente a atividade econômica.
condição da indispensabilidade, a ser revelada quer pela exigência da se- $ 2" Na exploração, pelo Estado, da atividade econô¡nica,
gurança nacional, quer pela inexistência de eficiência do setor privado. as empresas públicas e as sociedades de economia mista re-
Assim dispõe o $ 8o do art. 157: ger-se-ão pelas normas aplícaveis às empresas privadas, inclu-
sive quanto ao direito do trabalho e ao das obrigações.
"Sãofacultados a intervenção no domínio econômico e
$ 3o A empresa ptiblica que explorar atividade não mono-
o monopólio de determinada indústría ou atívidade, mediante
polízadaficará sujeita ao nTesmo reginte tríbutário aplicável às
lei da União, quando indispensável por motivos de segurança
empresas privadas".
nacíonal, ou para organízar setor que não possa ser desenvol-
vido com eficiência no regime de competição e de liberdadede
iniciatíva, assegurados os direítos e garanlías indíviduais"- A Constituição de 1988 trouxe outra fundamentação ideológica para
a atuação do Estado no domínio econômico. Esta Constituição sofre a in-
A Emenda no l, de 17.10.1969, que deu praticamente nova redação ao fluência das Constituições de Portugal e da Espanha, mas recebe também o
texto constitucional de 1967, no título relativo àOrdem Econômica e Socíal, sopro modemizador do papel do Estado no domínio econômico.
DIREITO ECONOMICO 267
266 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA

Essa mudança da forma de desempenho no âmbito da economia de-


A C.onstituição pornrguesa de 1976, no seu art. 81, enumera as in_
cumbências prioritrárias do Estado, entre elas a de "orientar o desenvolvi_ verá provir de uma substancial alteração da concepção filosófica do Esta-
mento econômico e social a fim de obter um crescimento equilibrado de do. Será preciso compreender que o Estado não tem mais uma postura de
todos os setores e de todas as regiões e de eliminar progressivamente as di- dirigente ou impulsionador da economia, mas incumbe-lhe assumir o papel
ferençaseconômicas e sociais existentes entre as cidades e os campos", e ¿ defacilitador da atuação da empresa. Incumbe-lhe, antes de mais nada, es-
tar ao serviço da sociedade, emvez de procurar assumir a direção de seus
de " assegurar uma concorrência equilibrada entre as empresas". Inclui
t¿mbém o princípio dz "planificação democrática da economia" , que é rumos. Incumbe-lhe viabilizar e compatibilizar a primordial atividade e inicia-
tiva individuais.3T O futuro do Estado está para ser inventado e criado, o que
explicitado nos arts. 91 e seguintes. As modificações introduzidas pela re-
visão de l9l2epelaLei Constitr¡cional de 08.07.1989 geraram uma modi- faz descortinar diante dos economistas, dos políticos, dos sociólogos e dos ju-
ristas, da sociedade em geral, uma imensa tarefa superadora do passado.
ficação do papel do Estado na economia, principalmente a redação do atual
Para implementar essa ingente tarefa de recriar o novo Estado apto a
arl 85, que tata da reprivatização.
Oü1-L2&-zdzCon*itri$o espanhola estabelece que " a iniciativa públi- atuarno domínio econômico, ensina Pierre-Yves Cossé que o mundo mo-
econômica Uma lei poderá reservar ao setor pú- derno deverá se dedicar a suprir cinco graves carências,'que se referem à
ca é remnbecida na atividade
blico reo¡rsos ou senriços esserciais, principalmente em caso de monopólio, e
decidir igualmenæ o controle de empresas quando o exija o interesse geral". trou hoje em crise. Vem-se estendendo a convicção de que o Estado de bem-estar,
Além dessa influência ibérica, há que se assinalar-se também a que com seus nívcis de gasto público cada vez mais altos, com sua baixa eficiência em
provém da situação de crise do Estado modemo, no que tange ao desempe- muitas de suas atividades, não poderia perdurar e que alguém viria antes ou depois
nho no domínio econômico. A uma situação de entusiasmo com o chamado dizer:'acabou-seafesta,voltentosatabalhar"'(EconomíayEstado: CrisisyRe-
Estado empreendedor sucede uma posição de desconfiança e descrédito, fonna del Sector P¿iblico,1993, p. 25).
principalmente pela baixa eficiêncra comprovada. Surge assim nos países
ocidentais um movimento de reprivatização daatividade econômica, bem
como a pergunta sobre qual deva ser o novo papel do Estado numa econo- 3't Como o acentua Yves Cannac, "será necessário que, fundamentalmente, o Estado re-
mia de mercado. Surge então a árdua tarefa de redefinir o papel do Estado alize uma mudança de cultura. Isto pode parecer artificial, mas as empresas se dedi-
cam, também, elas a transformar sua culrura. Trata-se de fazer evoluir a cultura de
de forma a ajustaJo as exigências dos novos tempos.36
Estado de urna eultura de comando para uma cultura de serviço, porque, rnesmo
quando ele desempenha sua função de regulação, creio que ele deva concebêla
i
como uma maneira de servir à sociedade e não com arrogância. Isto vai desde o modo
com que se elabora umà regra, mesmo inferior - que implica que haja uma preocupa-
36 Assinala Arturo Israel, conselheiro principal junto ao Banco Mundial: " Todos falam
ção séria com as condições nas quais ela poderá ser aplicada pelos administrados ou
i r. dooonsenso relativo as estrategias de desenvolvimento pelo mercado que todos os
pelas empresas, em lugar de publicá-la brutalmente - até ao comportamento do agen-
it paises em desenvolvimento atualmente perseguem e pertinente à necessidade de re-
te de guichê e até ao do diretor ou do ministro. Por espírito provocativo, pode-se lem-
defuir o papel do Estado, papel que não deve mais ser de produção e de controle,
brar que, no Japão, é o Primeiro Ministro que visita o ernpresariado e não o inverso. É
næ&catálise ou defacilítação- Há também consenso sobre o fato de que é a quali-
uma maneira de afirmar que o Estado está a serviço da sociedade e que ele deve redu-
dade antes que o tamanho do setor público que interessa. Mas tem-se descuidado de
zir sua especifìcídade à parte que é verdadeiramente necessária" (Modemisation de
saberprecisamente o que convérn entender com isso, ou seja, de saber o que constitui
I'Etat: L'Essentiel Reste à Faire , in Revue Française drAdministration Publique, n"
adifercnçaentreos'¡oyos'eos'antígos' setorespúblicos"(L'État,GarantduFutur
61, p. l49,jan-mars 1992). Acentua Jean-Baptiste de Foucauld, Comissário do pla-
de l'Économie deMarché, in Revue Française d'Administration Pubtique, n. 61, p.
no, que " a descentralização se tomou hoje objeto de um amplo consenso e constitui
139' jan--mars 199Ð. Ê, imporante referir também o pensamento de Gaspar Ariño
já uma aquisição de nossa sociedade. Ela modificou profundamente os circuitos da
OftÈ'Assistimos, nos últimos anos, em todos os países do mundo ocidental - não
decisão e da ação públicas. Ela constitui um novo dado da reflexão concemente ao ci-
precisarc dizerdo oriental, depois da queda do regime comunista - a uma generali-
dadão, à solidariedade nacional e territorial. Ela é também um componente essencial
zadaonada de consciência de crise do público. Aquilo que, faz cinqüenta anos, foi
da reforma do Estado, não podendo estas duas questões ser disso ciadas', (Décentrali
a eryressão de entusiasmo de toda a Europa pela empresa pública como grande ins-
tr¡¡mtodonovo Estadosocial queeclodiu depois da Segunda Guerra Mundial, en- satíon: l'Åge de Raison, 1993,p.5).
268 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONOMICO 269

necessidade de um amplo debate público sobre tais questões, à adoção de reabilitação do político, toda mudança será vivida como um
instru¡rentos adequados, à atenção ao princípio da subsidiariedade, à in- acontecimento neþsto e corremos o risco de uma paralísta. O
temacionalização da economia e à postura do poder político perante a problema é de convencer os cídadãos - e os intelectuais - de
vida democnítica. que graças a um desdobramento de suas missões e a novos mé-
Ilánecessidade de um debate aberto sobre a modemização da organi- todos de gestão, o estado nacional pode reencontraruma legiti-
zação econômica, sobre os riscos individuais ou coletivos, sobre a atuação midade e crescer em eJicácia. A mutação necessária não é
do Esado e sobre o funcionamento do mercado. O forum adequado para necessariamente uma perda de substância para os agentes pú'
este debate deverá ser o Congresso Nacional, que, liberado de preocupa- blicos e umafalta para os cidadãos habítuados a um quadro e a
ções dehigiene propria e de fisiologismos retógrados, terá condições de cap modos de íntervenção determinados ".3s
tar a opinião nacional de todas as correntes e discuti-la com profundidade.
Outra tarefa serátarealização de estudos de profundidade sobre tais A Constituição de 1988 surgiu sob o influxo de tais direcionamentos
questões, no que terá papel primordial a universidade brasileira, liberada modernos, rompendo assim com a tendência francamente intervencionista
de academicismos formalistas para dedicar-se à discussão acurada dos pro- da Constituição de 1967-1969, mas deixando-se ainda impregnar de idéias
blemasjurídico-econômicos nacionais. Como observa Cossé, "temos o há- protecionistas originadas de um tradicionalismo incoerente com a modema
bito de planificar, pelo menos no discurso, o que é implanifìcável, por tendência da atuação estatai.
exemplo a taxa de crescimento, e de não planificar o que resulta em grande O art. 173 da Constituição se coloca como um marco divisório, con-
parte de tendências concretas e previsíveis, demográficas por exemplo, ou trapondo-se ao art. 163 da Constituição de 1967-1969.Dizo texto atual:
de comportamentos estáveis: educação, comunicação, saúde".
Uma terceira tarefa decorre da compreensão do princípio de sttbsidia- "Ressalvados os casos previstos nesta Constitttição, a
riedade,qae explica que as decisões nacionais, em termos de economia, não exploração direta de atividade econômica só seró permitida
são mais integralmente soberanas. O Estado nacional deve inserir-se nos quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou
contextos regionais de que faz parte, quer para influenciá-lo, quer para " in- a relevante interesse coletivo, conforme defnidos em lei".
formar a todos os agentes econômicos sobre o que foi decidido, tirar o me-
lhorpartido das novas regras dojogo e aliviar as çstruturas administrativas". Donde se deduz que a exploração direta daatividade econômica pelo
A internacionalização da economia traz ainda uma outra modificação Estado constitui-se numa exceção. A regra é a de que o Estado não deve
que exþ posicionamentos novos da Administração estatal. Faz 30 anos, atuar diretamente no domínio econômico. A exceção está restrita à necessi-
os homens que acompanhavam a evolução da economia mundial e toma- dade decorrente de dois fatores determinantes: imperativos de segurança
vam decisões pertenciam aos quadros do Estado. Mudou-se atualmente o nacional e'relevante interesse coletivo. Mas tais fatores deverão ser defì-
quadro, pois que hoje " os homens de empresa estão abertos para o mundo e nidos em /ei. Ressalte-se a importância do Poder Legislativo na definição
adquiriram uma culrura e uma prática intemacionais". dessa necessidade (não-conveniência)dessa intervenção direta do Estado.

A quinta tarefa se refere à relação entre o poder politico, que deverá A ressalva aos casos previstos nesta Constituição se refere às dispo-
afirmar-se dentro de nova figura, e o respeito às exigências da vida demo- sições contidas nos arts. 175,176 e 177. O contexto constitucional traçado
por estes artigos foi profundamente alterado, como já se mostrou no Capí-
crática A crise política vivida pelo País nos últimos anos deverá vir a ser o
germe de uma nova postura perante os problemas com que o Estado moder-
tulo II. Será necessário, diante das afirmações aqui feitas, reportar-se ao
que já foi ali dito.
no se defronta. Lembra Cossé:

"O cetícismo e a inquíetude, ligados à derrota das"ídeolo-


gias e à crescente complexídade do mundo, não devent ser utílí- 38 COSSÉ, Piene-Yves, Un Avenirà Inventer, in Rewe Française d'Administration
zadas como uma arma a mínar toda a ação política. Sem Publique, no 61, p. 155-l58,jan.-mars, 1992.
270 JOÃO BOSCOLEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONOMICO 2'7 |

O art- 175 estabelece que "incumbe ao PoderPúblico, na forma da lei, O art. 177 prevê as hipótes es de monopólio relatlamente ao petroleo
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de eamínérios e minerais nucleares. Também no tocante a estamatéria, hou-
licitação, a prestação de serviços públícos". Aqui estão incluídos os servi- ve alteração no texto constitucional, introduzida pela Emenda no 9, de
ços de transporte coletivo, os de telecomunicações, os de fornecimento de 09.1 1.1995. Também aqui o $ 1o foi o portador da mudança de postura do
energia elétrica, de água, etc. O Estado poderá geri-los diretamente através
Estado. Confrontem-se, também aqui, as duas alterações:
de empresas públicas ou sociedades de economia mista, ou ainda conce- Redação primitiva:
dê-los ou permitiJos aos particulares.
É importante repetir que as Leis no' 8.987, de I 3.02. I 99 5, e 9.07 4, de "$ 1" O monopóIío previsto neste artigo inclui os riscos e
07 .07 .1995,concretizando o permissivo constitucional contido no parágra- resultados decorrentes das atividades nele mencíonadas, sendo
fo único - " a lei disporá sobre" -, vieram enfatizar anecessidade de o Esta- vedado à União ceder ou conceder qualquer tipo de participação,
do transferir para o setor privado a prestação de alguns serviços públicos. em espécie ou em valor, na uploração de jazidas de penóleo ou
O art.176 prevê a propriedade da União relativamente às jazidas, re- gás natural, ressalvado o disposto no art. 20, S I'".
cursos minerais e os potencíais de energia hîdráulíca, fixando ainda que a
pesqußa Redação atual
e a lavra, bem como o sev aproveitamento somente poderão ser
efetuados por autorização ou concessão da União.
"S I o A União pcderá contratar com empresas estataís ou
Nesse tema, a Emenda Constitucional no 6, de 15.08.1995, alterou a re-
privadas a realização das atividades previstas nos incisos I a IV
dação do paragrafo único. Confrontem-se as redações, a anterior com a atual:
deste artigo, observadas as condições estabelecidas em lei',.
Redação primitiva:

Ressalvados esses casos expressamente apontados no texto constitu-


"$ I"A pesquisa e a iavra de recursos minerais e o apro- cional, é vedada ao Estado a exploração direta de atividade econômica. A
veitamento dos potenciais a que se refere o caput deste artigo ressalva contida no art. 173 permanece como mandamento vigente, mas o
somente poderão ser efetuados mediante autorízação ou con- seu alcance, ante as alterações introduzidas pelas Emendas nd 6, 7 e 9, bem
!-
cessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou em- como pela promulgação da legislação regulamentadora já prevista consti-
prysa brasileira de capital nacional, na forma da lei, que tucionalmente, foi substancialmente reduzido.
estabelecerá as condições específicas quando essas atividades O Estado, quando explora diretamente a atividade econômica, o faz
sq desenvolverem emfaixa defronteira ou terras indígenas". através de empresas públicas, de sociedades de economía mista ou de
outras entidades. Nestes casos, a constituição lhes impõe a adoção do
Redação atual: mesmo regimejurídíco aplicável às empresas privadas, tornando explíci-
ta sua sujeição às obrigações trabalhistas e tributárias, e proíbe a conces-
"$ Io A pesquisa e a lavra de recursos mineraís e o apro- são de privilégios fiscais que não sejam extensivos àquelas empresas.
Estas determinações, previstas nos $$ lo e 2o do art. 173, têm poifinali-
veitamento dos potenciais a que se refere o caput deste artigo
dade precípua impedir uma posição dominante no mercado derivada de
somente poderão ser efetuados mediante autorização ou con-
fatores estranhos à própria livre competição.
cessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou em-
O Estado, sob a forma de pessoa de direito público ou de direito pri-
presa constítuída sob as leis brasíleiras e que tenha sua sede e
vado, está sujeito às nornas da Lei no 8.884, de ll.06.l9g4,como disposto
administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as no art. 15.
condições específcas quando essas atividades se deseniolve-
É conveniente ressaltar que os $$ 4" e 5o do art. 173 estão indevida-
rem emfaixa defronteira ou terras indígenas" . mente colocados comopørágraþs do art. 173, primeiro porque a matéria
272 JOÂ,O BOSCO LEOPOLDTNO DA FONSECA 273
DTREITO ECONOMICO

por eles tratada deveria ter sido colocada c omo um artigo, como ocorreu na
Valendo uma remissão às fontes do Direito, com peculiaridades às
Constituição de 1946, segundo porque o assunto ali versado não se inclui
fontes do Direito Econômico, é importante destacar o papeldasfontes reais
como dependenle do caput.
e demafonteformal de grande operacionalidade no mundo da economia,
Com o esforço por afastar a exploração direta do Estado na atividade
qtJe ê amedída provisóría. As fontes reais são a origem das fontes formais,
econômic4 restava ao Constituinte definir-lhe os novos papéis. Assim o
art. 174 vem definir essa nova função: a de agente normatívo e regulador
, rrtur não podem destacar-se daquelas Sob pena de nascerem absoluta-
mente ineficazes. Se o Direito Econômico pode ser visto c omo uma antítese
da atividade econômíca. Prescreve o texto:
do sistema líberal deve sêlo também como uma expressão de uma nova or-
dem econômicø e social e, conseqüentemente, como um esforço constante
"Como agente normativo e regulador da ativídade eco-
deresposta adequada as exigências da realidade econômica e social do mo-
nômica, o Estado exercerá, naforma da lei, asfunções defsca-
nenà.n A medida provisória, consagÉda no art. 59, V, e no art. 62, da
Iízação, incentivo e planejamento, sendo este determinante
Constituição Federal, é o instrumento adequado de captação das fontes reais
para o setor público e índicatívo para o setor privado".
e suatransfolrnação em fonte formal do Direito. Desnecessário será enfatízar
sua necessidade para normatizar a relação de caráter econômico e social.
A atuação reguladora da atividade econômica por parte do Estado
esta sujeita ao princípio da subsidíariedade ,no que tange a deixar aos in-
T.INTERVENçÃO DO ESTADO: PENSAMENTO DO PAPA JO.Ã.O
divíduos a tarefa de regulamentar a própria atividade, ou de não criar regras
PAULO N
que dificultem, em lugar de viabilizar, a atividade econômica. É o fenôme-
no atualmente conhecido como desregulamentaçã.o da economia.3e
Em 01.05.1991, para que o "Centesimts Annts" de edição da Encíciica
"Rerum Novarum" fosse comemorado, o Papa João Paulo II lançou a Encíclica
que leva aquele nome, defendendo a tese de que o papel do Estado no setor da
39 O princípio da subsidiariedade pode ser entendido num duplo sentido. Segundo Mi- economia deve eStar alicerçado numa ordem democráf¡'ca e esta fi.¡ndamentada
chel Gentot, numa primeira acepção, "o Estado não deve fazer o que a sociedade ÍwÍta "reta concepção da pessoa humana" e no respeito a seus direitos,al sen-
pode fazer e ele não deve substituir-se nos esforços e nas iniciativas das empresas,
do certo que o econômico nadamais é do que um aspecto da vida humana.
dos cidadãos e de seus grupamentos. O segundo aspecto do princípio de subsidiarie-
dade é mais conhecido, e significa que o Estado não deve reger do centro o que pode
sêJo alhures, isto é, da periferia, através de mecanismos de descentralização e de
desconcentração, mas também por meio de organismos públicos que perrnanecem na pio de subsidiariedade que se refere às relações entre o indivíduo e o Estado. Nesta
órbita do Estado, embora atuando independentes ao mesmo tempo dos ministros e do ordem, o princípio contempla não ulna questão organizativa mas substancial: qual
poder político" (Un Double Principe de Subsidiarité, in Rewre Française d'Admi- deve ser o grar de intenenção e prclagonbmo do Estado na vida econômica e social de
nistration Publique, n" 61, jan.-mars 1992, p. 153). Também Ariño Ortiz analisa o um país, e qual deve ser o âmbito de livre atuação dos cidadãos e dos gnrpos sociais inter-
princípio desubsidiariedade:" Com freqûência o princípio de subsidiariedade se re- mediririos..." (Ecoromía y Estado: Crisis y Reforna del Sector Público, l993,p. Ø45).
fere a dois fenômenos diferentes: um é o que poderíamos chamar de subsidiariedade
institucional,o que significa que não devem centralizar-se no mais alto nível aquelas
decisões que possam ser adotadas com igual ou maior eficiência a um nível político e
40 FARIAT, Gérard, Las Enseñanzas de Medio Siglo de Derecho Económico, Es¡rd¡bs
administrativo inferior e, por conseguinte, mais próximo aos cidadãos. Este princípio
de Derecho Económico, II, p. 13.
tem sido defendido nas relações intergovernamentais, tanto nacionais (é o que se co-
4l Afirma o Papa no Cap. V, no 47: "Após a queda do totalitarismo comunista e de mui-
nhece com o nome de descentralização político-administrativa: reserva aos Gover-
tos outros regimes totalitários e de'segurança nacional' assistimos hoje à prevalên-
nos regionais e locais de todas aquelas questões que afetem predominantemente seus
cia, não sem contrÍ¡stes, do ideal democratico, em conjunto com uma viva atenção e
interesses), como na ordem intemacional: transferência aos órgãos das organizações
preocupação pelos direitos humanos. Mas, exatamente por isso, é necessário que os
supranacionais - é o caso da Comunidade Européia - só daquelas questões em que
povos, que estão reformando seus regimes, dêem à democracia um autêntico e sólido
esteja comprometido o interesse comum, mantendo-se as competências em todas as
fundamento mediante o reconhecimento explícito dos referidos direítos -.." (Centesi-
demaisquestões reservadas a cada Estado. Mas há outro sentido diferente do princí-
mus Annus, Ed. Paulinas, p.87).
274 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONÔMICO 275

Reconhece-se a necessidade da institucionalízação de uma economia A intervenção do Estado no setor econômico deve ocorrer também
de mercado, em que ao Estado toca a tarefa de, através de prudentes decisões Darapropicíar o equilíbrio, e, nestas condições, serâelasupletiva, exigida
políticas e de sólido direcionamento jurídico, garantir a segurança aos que i l¡*¡todo no tempo, para que não se fira o princípio da livre iniciativa no
participam do mercado, quer como empresas, quer como consumidores: campo econômico:
"O Estado tem também o direito de intervir quando sinta-
"A ativídade econômica, em particular a da economia de ções partícalares de monopólío criem atrasos ou obstáculos ao
mercado, não se pode realizar num vazio institucional, jurídico desenvolvimento. Mas, além destas tarefas de harmonização e
e político. Pelo contrário, supõe segurança no referente às ga- condução do progresso, pode desempenharfunções de suplên-
rantías da líberdade índividual e da propriedade, além de uma cía em sítuações excepcionaís, quando setores sociaís ou síste-
moeda estável e serviços ptiblicos efcientes. A princípal tarefa mas de empresas, demasíado débeis ou em vías deformação, se
do Estado é, portanto, a de garantir esta segurança, de modo mostram ínadequados à sua missão. Estas intervenções de su-
que quem trabalha e produz possa gozar dos frutos do próprio plência, justifcadas por urgentes razões que se prendem com o
bern comum, devem ser, quanto possível, límitadas no tempo, para
trabalho e, conseqüentemente, sinta-se estímulado a cumpri-lo
não retirar permanentemente aos mencíonødos setores e sistemas
com efciência e honestidade. Afalta de segurança, acompanha-
de empresas as competências que lhes são proprias e para não
da pela cornpção dos poderes públicos e pela difinão defontes
ampliar qcessívamente o âmbito da intervenção estatal, tornan-
ímpróprias de enriquecimento e de lucrosJäceísfundados em ati-
do-se prejudícial tanto à liberdade econômica como à civí|".
vidades ilegais ou puramente especulativas, é um dos obstáculos
principaís ao desenvolvimento e à ordem econômica". Defende finalmente o princípío de subsidiariedade, segundo o qual
uma sociedade de nível superior não deve interferir na vida de uma socieda-
de de ordem inferior, privando-a de suas competências, mas deve estimulá-la
O Estado tem competência para intervir no setor econômico, e deve
e apoiáJa para que ela, com sua própria potencialidade, consiga realizar as
fazê-lo, secundando a atividade das empresas, principalmente em momen:
finalidades sociais que se propôs. A interferência desmesurada, pelo chama-
tos de crise, quando será mais importante sua presença para garantir a ple-
do Estado assístencial, leva à atrofia do setor privado (que se acostuma ao
nitude do exercício dos direitos humanos: protecionismo) e hiperhofia o setor público, com enorTne carga de custos:

"Outra tarefa do Estado é a de vigíar e orientar o exercí- "... Ao intervir diretamente, inesponsabilizando a socieda-
de, o Estado assistencial provoca a perda de energias huma,xas e
cio dos dìreitos humanos, no setor econômico; neste campo, po-
o aumento exagerado do setor estatal, dominando mais por lógi-
rém, a primeira responsabilidade não é do Estado, mas dos
cas burocráticas do que pela preocupação de servir os usuários
indivíduos e dos diversos grupos e associações em que se arti-
com um acréscimo enorrne das despesas. Defato, parece conhe-
cala a sociedade. O Estado não poderia assegurar diretamente
cer melhor a necessidade e ser maís capaz de satisfazê-la quem a
o direíto de todos os cidadãos ao trabalho, sem uma excessiva
ela está mais vízinho e vai ao encontro do necessitado ...".a2
estruturação da vida econômíca e restrição da livre iniciativa
dos indivíduos. Contudo, isto não significa que ele não tenha
qualquer competência neste âmbito, como afrmaram aqueles 42 Defende Gomes Canotilho o princípio da democracia econômica e social colocan-
que defendiam uma ausência completa de regras na esfera eco- do-o em contrariedade com o da subsidiariedade, mas dá a este último um conteúdo
nômica. Pelo contrário, o Estado tem o dever de secundar a ati- significacional diferente do que aqui se examina: "O princípio da democracia econô-
mica e.social exclui o princípío da subsidiariedade como princípio constitucional.
vídade das empresas, criando as condições que garqntam
O principio da subsidiariedade, tradicionalmente erigido em princípio constitucio-
ocasiões de trabalho, estimulando-a onde þr insuficiente e nal, significava que o Estado tinha uma função apenas acessória ou complementar na
apoiando-a nos momentos de críse". conformação da vida econômica e social. Era uma idéia do capitalismo liberal. Todavia,
276 JOAO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONOMICO 277

8. o PENSAMENTo op ¡.nrño oRTrz des. O Estado assume o compromisso de atuar na justiça distributiva, bus-
cando umajusta distribuição da renda.

I 8.1. Razões que Determinaram a fntervenção do Estado

Gaspar Ariño Ofüza3 fazumaanálise das razões pelas quais surgiu o


Uma terceira razão, a que mais tem dado azo a críticas e servido de
repulsa à crescente atuação do Estado no setor econômico, é a que "consis-
política econômica
rc na obtenção rápida de determinados objetivos de e
fenômeno da intervenção do Estado no setor da economia, dasþrmas pÅ-
na luta contra o ciclo da economia". O Estado passa a exercer a função
mitivamente assumidas pela atuação do Estado, e das mudanças dessas
empresarial com o fim de conseguir mais prontamente metas que só demo-
Ë -for*os para formas impostas pelas tendências atuais, sempre à luz do radamente seriam alcançadas pelos particulares.
princípio fi¡ndamental do respeito aos direitos humanos e de sua garantia,
bem como da subsidiariedade e da solidariedade.
Em decorrência dessas razões de intervir, a atuação do Estado passou
Ë A primeira razão da intervenção do Estado se situa no fracasso do a assumir quatro modalidades: a de regulação econômíca, a de atuação
E mercado e na necessidade imperiosa de recriar o mercado. A intervenção fscal efinanceíra, a de iniciatíva pública, com a criação de empresas pú-
teve por finalidade justamente garantir a livre competição no mercado, dan- blicas que atuam concorrencialmente com empresas do setor privado, e a
& do-lhe consistência. O Estado veio assumir tarefas que, sem a sua interferên- de reserva øo setor público, com ou sem monopólio de fato.
cia, poderiam constituir-se em perturbadoras do funcionamento adequado do
8.2. Modatidades da Atuação Governamental
ti:' mercado: a existência d e monopólios naturais, de estruturas de mercado não
competitivas (monopólio de fato, abuso de posição dominante, disnibuição as-
f,, simétrica de informação ...), bens ptitbltcos e externalidades.4 8.2.1. Regulação econômica
A segunda razão consiste nos critérios de eqüidade na distribuição.
il' Ante a insuficiência dos puros e naturais critérios econômico-capitalistas, A atividade neste campo pode dar-se sob o enfoque da edição de nor-
il torna-se necessária a intervenção estatal para se eliminarem as desigualda- mas destinadas a, de alguma forma, influir na concretização do fenômeno
econômico, e para consegui-lo "o Govemo condiciona, corrige, altera os
parâmetros nafurais e espontâneos do mercado", mas neste caso o faz sob
il,,
dois enfoques: o de uma simples fiscalização administrativa da atuação dos
t como sugestivamente foi salientado, o Estado, ao converter-se em Estado socialmente
vinculado, colocou-seem'oposíção à idéia de subsidiariedade' .Istonão significa que
agentes econômicos, e o de uma influência mais determinante, quer sob o
aspecto de estímulo quer sob o de apoio da atividade econômica.
tenha sido eliminado o princípio da auto-responsabilidade: cada um tem, em princí-
pio, capacidade para obter um grau de existência digno, para si e para a sua família (ar-
quétipo do 'Grande-Pai'). O princípio da democracia econômica social e cultural é, 8.2.2. Atuação fiscal e financeira

l, porérq uma imposição constitucional que obriga à adoção de medidas existenciais


pam os indivíduos e grupos que, em virrude de condicionalismos pessoais ou de condi-
ções sociais, encontram dificuldades no desenvolvimento da personalidade, em termos
Também aqui o Estado permanece fora da atividade econômica, mas
edita normas de conteúdo financeiro ou fiscal através das quais impulsiona
econômicos, sociais e culturais" (D i re i to C o ns t ituc io n a l, I 99 l, p. 47 6).
medidas defomento ou de d¿'sszasâo. Concedendo beneficios fiscais ou
ü
impondo cargas tributárias mais ou menos pesadas, o Estado estimula de-
terminadas atividades econômicas ou desestimula outras.
fl 43 Economiay Estado: Crisis y Reþrma del Sector Públ¿co, Madrid, Marcial pons, 1993.
E 44 Por æternalidades entende-se "a conseqüência negativa ou positiva da interdependên-
cia dos agentes econômicos que escapa ao sistema de apreciação do mercado. A con- 8.2.3. Iniciativa pública
seqüência benéfica para um agente decorrente da ação de um outro agente é cþamada
t economia extema; a conseqüência desfavorável ou nociva é uma deseconomia exter- Aqui, como observa Ariño Ortiz, o Estado adota uma "iniciativa pít-
n{ (Léxique d'Economie, cf . verbete "Effet externe ou extemalité'). blica empresarial na atividade econômica, mediante a criação ex novo de
il
fl

l
278 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONÔMICO 279

empresas concorenciais nas mesmas condíções de mercado que podem Assinaladas essas modalídades dz atuação do Estado, procura de-
adotar os agentes privados". Observa ainda:
monstrar "as linhas de evolução do setor público espanhol" nos últimos
anos. Estas linhas específicas são as seguintes:
. "A atividade empresarial do Estado nã.o tem sido conse_
l. Tendência a uma redução da atuação do Estado na área empresa'
qüência, em nenhum país, de um plano sistemático de atuação,
ríal. Apnncipal crítica feita à atuação direta do Estado no setor econômico
mas tem sido resposta ocasional e variada a específicas neces-
se prende à sua íneficíénc¡a. Neste ponto emite opinião que certamente
sídades de cada lugar. Umas vezesfoi a reconstrução nacional,
propiciará muita polêmica:
depois de uma guerra devastadora, outras vezes a 'necessária'
socialização de empresas em crise (para manter o emprego), "E significatívo que os grandes defensores da empresa
outras a promoção índustrial de zonas do território subdesen- públicanão são hoje os socialistas, mas os Sindicatos, o que en-
volvidas (...) ou o caráter estratégico de determínados abaste- contra sua explicação em dois fatos: no extraordinário 'poder
cimentos nacíonais (mineração de carvão) ". sindical' que se Serou no interior das empresas públicas e na
debítidade destas, tradicional, perante a negocíação coletiva,
1r'- Entende, contudo, que se deva dar sempre ênfase àiniciativa privada, quepermite aos trabalhadores obter melhores condições no se-
I r.,
ior púbtico do que no privado. Naturalmente, isto se consegue à
que é sempre mais criadora e se presta a secundar o desenvolvimento da
personalidade do indivíduo, devendo ser sempre regra numa sociedade custa do resto da sociedade"-"t
t. ..

::rr... abert¿ e liwe. Em sua opinião, a atuação do Estado na economia somente se


I
justifica na medida em que sirva aos interesses gerais: 2. Tendência à austeridade, reþrma eflexibilidade do gasto' No que
tange ao financiamento da economia por parte do Estado, introduzem-se
I
"A íntervenção empresarial do Estado deve vir exigida alterações de profundo significado..ár crementa-se a poupança pública, di-
por um interesse geral prevalente e certo, pela existência de minuindo-se a quantidade de recursos públicos destinados à izv¿rsão, dan-
t,
ra uma especial utilidade pública em tal atuação, pela necessida- do-se prioridade à destinação de capital social à infra-estrutura social e à
de de atender a necessidades coletivas, que de outraþrmafica- educação. Busca-se acabar com os projetos faraônicos e aumentar a eficá-
.:..
riam desatendidas". cia e rentabilidade das inversões públicas. Procura-se principalmente cor-
t,l tar o desperdício e ofausto ofcial.
fi.
3. Novo sentido e eficácia da regulamentação econômica. Observa
8.2.4. Reservas ao setor público Ariño Ortiz que, na economia espanhola, à diminuição da atuação do Esta-
çl
rt do substitui-se "um aumento, um novo sentido e maior eficácia da função
Entende ainda que podem ser reservados ao setor público de þrma reguladora do Estado na atividade econômica". A regulamentação econô-
exclusíva alguns setores da economia, o que se traduz numa negação da li- mica assume a feição de trabalhar ¿m consonância com o mercado e com a
berdade de empreender em tais campos: finalidade de preservå-lo e de aperfeiçoáJo 'a6
Ao terminar sua exposição, vale-se da alegoria mítica de Homero, co-
"[Tais resenasJ supõem, em princípio, um monopólio de nhecida pela frase 'havegar ent.e Cila e Caribde", para expressar o dilema em
iure afavor da Admínistração, que pode ser ou não acompanha- que vive hoje o Estado quando se trata de incrementar ou regular a atividade
do de um monopólio defacto na medida em que esta assuma di-
retamente a execução de tal ativídade em todos os seus àmbitos
ou a outorgue, também deþrma exclusiva, a um terceiro".
45 Economíay Estado: Crisis y Reþrma del Sector Público,1993,p.56-57-
46 Economía y Estado: Crísis y Reþrma del Sector Público, 1993, p. 47-62.
DIREITO ECONOMICO 281
280 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA

ofazatravêsde normas, que têm como finalidadefscalizar, incentivar ou


econômica A inexistência de qualquer papel destinado ao Estado poderia le_ planejar; o planejamento, como se verá, é somente indicatívo para o se-
varà exacerbação do individualismo, mas uma ingerência desmesuradamente tor privado. Esta forma de atuação do Estado está prevista no art. 174 da
indevidado Esaclo poderia levar à supressão da iniciativa individual, em tese Constituição Federal.
originada:a da criatividade, da inventividade e da produtividade.aT Através da atuação díreta o Estado passa a atuar como empresário,
comprometendo-se com a atividade produtiva, quer Sob a forma de empre-
g.INTERVENçÃO DIRETA E INDIRETA for-
sa pítblica quer sob ade sociedade de economia mkta. Sob estas duas
mas pode ele atuar em regime concoïencial, em que se equipara com as
Como visto, asformas ou modalidades pelas quais o Estado inter-
empresas privadas, ou em regime monopolístíco. como exemplos do pri-
vém no seûor econômico são diversas e cada uma delas pode assumir as
meiro caso (regime concorrencial) podem serapontados o da Caixa Econô-
mais amplas esfumaturas. Vimos que o Estado pod,e atuar diretamente îo
domínioeoonômico, e pode atuar sô indiretamente .No primeiro caso, as- mica Federal e do Banco do Brasil, a primeira, como empresa pública
sume a forma de empresas públicas, nome genérico que compreende no federal, e o segundo, como sociedade de economia mista, atuam em regime
sistema jnrídico brasileiro as empresas públicas propriamente ditas e as de concorrência com as demais entidades bancárias do País. Como exem-
sociedadæ de economia mista , assim mencionadas no art. 173, $$ lo,2o e plos do segundo caso (regime monopolístico), devem-se considerar a
3o, da Constituição Federal. No segundo casq atuação indireta, o Estado Empresa Brasileira de correios e Telégrafos e a Petróleo Brasileiro s.A. -
Petrobrás -,a primeira como empresa pública federal, e a segunda como
sociedade de economia mista. O monopólio daprimeira está consagrado no
art.21,X, e o da segunda no art. 177 ,I,lIe III, da Constituição Federal'a8
Valeaqui lembrar o pensamento de José Eduardo Faria: " A negociação relativa a um
forrna¡o mais original das instituições políticas nacionais, em condições de propiciar
A intervenção direta pode fazer-se ainda por um outro caminho: o
o prevalecimento da' razão da sociedade' frente à clássica ' razão de Estado ' , medi- Estado assume a gestão da empresa privada, passando a dirigi-la quando in-
anteregrås de procedimento capazes de neutralizar o arbítrio governamental explíci- teresses de ordem social o exÛam. Caso específico dessa forma de intervenção
to, diñ¡so ou simbólico, se assenta, como se vê, na produção de um novo 'sentido de
é a prevista na Lei no 6.024, de 13.03.197 4, em que o Banco cenral do Brasil
ordan'- Entre outras razões porque as instituições de direito vigentes, ainda apega-
das a rrrna tradição individualista que remonta ao Corpus Juris do antigo direito ro- assume a direção de instituições financeiras privadas e públicas não federais,
mano, à antigas Ordenações do direito filipino e ao Código Civil francês do começo com o intuito de normalizar o seu funcionamento ou, se isto for inviável, de
do séc¡¡Io XIX, não apenas encontram enorrnes dificuldades para colocar ern pers- decretar e reali?ar a sua liquidação exüajudicial.ae
pectiva democnitica os fenômenos sócio-econômicos cada vez mais complexos, por
Bernard Chenot e Alberto Venâncio Filho adotam a denominação de
meiode uma ampla reorganização e racionalização de burocracias estatais demasia-
do pesadas e emperradas para a execução de novas políticas públicas, como também
Direito Regulamentar Econômico para caracterizar o conjunto de normas
já nãodão mais contâ dos inúmeros conflitos coletivos que, multiplicando-se e inter-
cruzando-se continuamente, estão por trás da erosão dos tradicionais mecanismos de
fonmção das identidades coletivas" (Direito e Econonúa na Democratização Brasi- 48 A atuação da Empresa Brasileira de coneios e Telégrafos está prevista na Lei no
Ieiro, 1993, p. 1a9). O dilema entre a preponderância do interesse do Estado ou da 6.538, de 22.06.t978.
segu¿nça da pessoa humana é focalizado com profundidade por Mireille Del- 49 J. simões Patricio assinala caso idêntico no Direito português, através do Decre-
mas-Marty: 'þr detrás de cada Estado se esconde, como uma tentação permanente e to-Lei no 574-A, de 12 de outubro de 1974 "Tal diploma veio facultar ao Govemo
qualqrr que seja o regime político, a tentação da razão de Estado. A esta tentação 'intervir na administração' das instituições de crédito e parabancárias - nomeando
semfean€zrçadora quis-se opor um Estado derazÀo, de que a Convenção Européia delegados seuS administradores ou unta comissão adntinßtrativa - desde que a ex-
dos &eitos do Homem teria constituído a consagração em nível europeu" (Raison- ' em que se encontrassem tais
t.nráo e a continuidade d a 'situação de desequilíbrio
ner Iø Raison d'Eta!: vers une Europe des Drois de !' Homnte, 1989,
;. I 3). p mais empresas pudessem afetar o regular funcionamento delas ou tendessem a perturbar
adianecompleta: " considerar que a necessidade possa ter vantagem sobre a lei re- as condições normais (de funcionamento) dos mercados monetário, cambial ou fi-
preseædequalquer forma uma negação do Estado de direito e da garantia essencial
nanceiro" (Curso de Direito Econômico, 2" ed-, 1981, p. a02403).
çe & se espera: a segurança pessoal" (i b id., p - 2L).
282 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONÔMICO 283

destinado a reger, estimular e incentivar a atividade econômica do setor 10. A TNTERVENÇÃO DIRETA
privado, e a de Direito Institucional Econômico para a situação em que o
Estado se imiscui diretamente na atividade econômica.so Já J. Simões A organização daintervenção direta do Estado no domínio econômi-
Patrício, M- Afonso Vaz e L.S. Cabral de Moncada adotam a terminologia co tem embasamento legal no Decreto-Lei no 200, de25.02.1967,enale'
de íntervenção direta e intervenção indireta .sl gislação subseqüente, que o modificou substancialmente. o art.40 daquele
ãiploma legal, após distinguir a Administração Pública Federal em direta e
indireta, enumera, dentre as categorias de entidades que compõem esta ú1-
tima, as autarquias, as empresas públicas e aS sociedades de economía
50 Diz B- Chenoc "Durante o mesmo período, as leis e os regulamentos nos revelam
derrogações, cada vez mais numerosas e cada vez mais graves, aos princípios do in- mista. o legislador se preocupou em defînir cada uma destas entidades.
dividualismo liberal. O estaruio das profissões, a legislação social e até uma legisla- Interessam-nos as definiçõ es de empresa pública e de socièdade de econo-
ção estritamente econômica caracteriz¿m em numerosos pontos uma evolução do mia mista. Por empresa piblica entende ele " a entidade dotada de perso-
dkeito- (Organísation Êconomíque de l'Etat, 1965, p. 54). E quanto à atividade es- nalidade jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e capital
tatal: " Uma dupla cadeia de sintomas anuncia também o dirigismo. Ao mesmo tem-
exclusivo da união, criada por Lei para a exploração de atividade econômi-
po que o poder procura impor sua vontade, por lei ou regulamento, aos atores da vida
ca que o governo seja levado a exercer por força de contingência ou de con-
econômica, ele penetra entre eles e se imiscui mais ou menos abertamente na gestão
I dos negócios industriais e comerciais. O desenvolvimento das empresas públicas, veniência administrativa, podendo revestir-se de qualquer das formas
entre as duas guerras, sublinha por seu tumo a evolução do direito" (ibid., p. 57). No admitidas em direito" epor socíedade de economia mista " a entidade do-
mesmo sentido, Venâncio Filho: " Adotamos, também, a classificação de Chenot, di- tada de personalidadejurídica de direito privado, criada por Lei para a ex-
vidindo o Direito Público Econômico em dois grandes setores: o Direito Regulamen- ploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas
tar, que trata das formas regulamentares da intervenção do Estado, sendo a sua forma
ações com direito a voto pertençam em sua maioria à união ou à entidade
exFema o dirigismo total; e o Direito Institucional, em que o Estado se transforma
em atos da vida econômica, apresentando como caso limite o coletivismo total" (l da Administração Indireta". Determina ainda o $ 1" do mesmo artigo que
.,quando a atividade for submetida a regime de monopólio estatal, a maio-
Intervenção do Estado no Domínio Econômico: O Direito Ptiblico Econômico no
Brasí|, 1968, p. 69). ria acionária caberíLapenas à União, em caráter peÍnanente".
5t Segundo o ponto de vista de M. Afonso Vaz, " quando se fala da iniciativa econômi- É importante assinalar também que o art. 60 do mesmo diploma legal
ca públic4 da coexistência de três setores de propriedade dos meios de produção e da
já submete as atividades da Administração Federal ao princípio e exigência
reserva de setor público, está a referir-se um tipo de atuaþão econômica do Estado
substancialmente diferente daquela intervenção do Estado que se expressa na impo- fundamental do planeiamento ,colocando-o sob os parâmetros do "desen-
sição de limites à atividade econômica privada. A distinção baseia-se agora nos su- volvimento econômico-social do País" e da "segurança nacional".
jeitos que detêm o domínio da atividade econômica, designando-se de intervenção
direta se ê o próprio Estado que assume o papel de agente econômico e de interven-
ção indiren se o Estado condiciona, motiva ou enquadra o comportamento dos
rr. A TNTERVENÇÃO INDIRETA
agentes econômicos dele independentes, sem tomar parte ativa no processo produti-
vo, ou sej4 não se assumindo como produtor ou distribuidor de bens ou serviços. Ao Ao atuar indiretamente na condução, no estímulo e noapoio da ativi-
falarmos aqui de iniciativa econômica pública temos essencialmente em vista a inter-
dade econômica empreendida pelos particulares, o Estado adota determi-
venção direta do Estado na economia, até porque a intervenção indireta não é pro-
priamente uma atividade econômica do Estado, mas a imposição de límites ou a nadas formas de polítíca econômica, peculiares acada campo de atuação.
concessão de beneficios à atividade econômica dos particulares. Esta é uma interven- Apotítica econômica tem como objetivos fundamentais, nos países desen-
ção'rqulamentadora', aquela é uma intervenção 'produtiva'. No âmbito da inter- volvidos, assegurar o crescímento sustentado da economia' assegurar o
venção direta distinguiremos a atuação do Estado em regime de monopólio, em
regime de concorrência eno uso de ínstrumentos específcos de 'apropriação' da pro-
pleno emprego dosfatores de produção, particularmente da mão-de-obra,
pri.edade ou da gestão das empresas privadas* (Direito Econômíco, 2" ed., 1990,"p. uma relativa estabilídade de preços, e garantir o equilíbrio da balança de
126-127). Cf. PATRÍCIO, Simões, Curso de Direito Econômico, 1981, p. 327-718; pagamentos. Para garantir a consecução desses objetivos, deverá o Estado
MONCADA, Cabral de, Direito Econômico, 2" ed.., 1988, p. 183-397). adotar uma série de medídas de política econômica que podem dizer-se
284 JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITO ECONÔMICO 28s

instrumentos para alcançar aqueles objetivos fundamentais, mas que não Acentuem-se ainda as restrições de ordem concolrencial internacto-
de países
têm por isso sua importância diminuída. É imperioso notar que a adoção de nal, as políticas protecionistas que impedem o desenvolvimento
uma determinada medida não exclui outras, até porque autilização isolada em fase de desenvolvimento.
de certa medida terá efeitos negativos em outros setores, de tal forma que A originalidade e novidade de determinadas políticas econômicas de-
se pode e se deve afirmar que a situação de equilíbrio buscada como perfei_ pende ainda de situações conjunturais peculiares a cada
país. Por exemplo,
ta continuará sendo sempre uma meta a ser alcançada.52 ãs Estados Unidos tiveram que defrontar-se com o
problema da concentra-
já no final do século XIX, e a partir de então tiveram que
É evidente que nenhum govemo tem condição de adotar simultanea- ção de empresas
r r ê n c i a - 1 al pr o -
mente e na mesma medida essas quatro políticas fundamentais a que os ádotur .r*"p olítica ec onô mi c a garant ido r a d a liv r e co nc o
economistas denominam de "quadrado mágico" (crescimento, pleno em- blema somente veio preocupar os países europeus a partir da Primeira
prego, estabilidade de preços e equilíbrio exterior), por isso as necessida_ Grande Guerra. No Brasil, tal questão somente veio a aflorar a
partir dos
des conjunturais é que determinarão o privilegiamento de uma ou outra anos 30; bastaverque somente após a Constituição de 1934 é
que houve a
preocupação com os crimes contra a economia popular. A Lei no 4.137,
de
dentre elas.53
A adoção de determinada política econômica leva também a conflitos ì962, que esøbelece entre nós as primeiras normas garantidoras da liberdade
com o objetivo de outra, como, por exemplo, a adoção de uma política de concorrência, pode dizer-se um diploma teórico privado de
eficácia.
energética pode levar, e freqüentemente leva, a confrontos com as preocu- Ressalte-se ainda que uma política econômica que consiga a adesão
do
pações deumapolítica ambientaL Podem ocorrer também conflitos enfre dos setores interessados tem muito maiores probabilidades de sucesso
os objetivos imediatos de uma polítíca social e os de uma política de com- que uma imposta autoritariamente. Daí porque atualmente os países se vol-
petítividade índus trial. åtn pur" a ådoçao de políticas econômicas através do consenso'54
Existem ainda limitações ou restrições de ordem geográfica, ou de- Não se pode desconsiderar a necessidade do planejamento que tem
mográfica- Por exemplo, qual seria a perspectiva de implantação de uma como finalidãde conferir racíonalidade, coerência às políticas econômi-
política agrícola num país de diminuta extensão territorial ou de território cas adotadas. O planejamento tem como finalidade fixar metas
que servem
desértico? Qual seria a perspectiva de adoção de uma política de cresci- de norte para os-esfoiços empreendidos.s5 Somente um planejamento
glo-
mento num país de grande explosão demográfica?

54 obsewam Jacques e colette Nême que não se deve colocar nos textos legais demasia-
da severidade, pois que "as políticas dos países latinos são freqüentemente
mais rigoro-
sas em sua formulação do que em sua aplicação; enquanto que no Japão
a oficiosa
pressão dos poderes públicos - como o histórico imposto sobre o châ do establishment
52 "Os economistas e os homens políticos, como afirmam M. Bertonéche e J. Teulié, es- t.itâni"o -, i.ruo""n¿o o interesse geral, tem resultados substanciais. Às vezes até mes-
tão perenemente à procura da receita mágica, que assegure ao mesmo tempo o pleno mo a ausência de uma verdadeira política econôrnica pode ser seguida por sucessos
que a lon-
emprego e a estabilidade dos preços sem comprometer o crescimento da economia e brilhantes, como para os preços desde uns quarenta anos na RFA - enquanto
o equilíbrio exterior. E a política econômica surge, cada vez mais, como uma mistura ga pnitica de regulamentação francesa teve efeitos pouco convincente{' (ibid.,p.22).
de medidas técnicas e de componentes psicológicos e sociológicos. o sucesso de um 55 Þnitipp" Uaysàat, referindo afìrmação de R. Maldague (leD¿batsur la Planifcati-
programa, qualquer que seja, supõe um certo consenso da coletividade nacional on Intermëdíaire,28 juin, 1974), entende que "a única visão realista de
(Thêorie Macro-Économique: Textes Fondamentaux, 1977 , p. 464). "i-B"lgju",
um Plano, ao mesmo tempo cada vez mais dificil e indispensável, é a de um quadro
53 A este respeito, a opinião de Jacques e Colette Nême: ..Se estas quatro exigências se de referência inserido numa perspectiva de mais longo termo, no qual os poderes
pú-
manifestam pouco conciliáveis, os govemos serão levados a preferir uma ou outra blicos identifrcariam alguns objetivos prioritários traduzidos em programas concre-
dentre elas: o crescimento no Japão e na França depois da guerra, como na Espanha tos .finalizados'e precisados cada ano, de orçamento em orçaInento" (Politiques
dos anos 60; o pleno emprego na Suécia e na Noruega; a estabilidade dos preçös na d'Intervention de l;État et Administration Économique, ¡jr Favresse, Jean-Michel,
RFA e na Suíça, o equilíbrio exterior para os Estados Unidos no fim dos anos g0" Aspects Jurídiques de l'Intervention des Pouvoirs Ptúlics dans la vie Economique,
(Potítíques iiconomiques Comparées, 989, p. t 7).
1 1976,p.27)-
286 JOÂO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA DIREITo gcottôvttco 28'l

bal, que preveja todo o contexto econômico e social, será capaz de


conferir Poderíamos acrescentar como de magna importância para os paises
coerência e compatibilidade às medidas de política econômica ern desenvolvimento umapolítíca de desenvolvimento.
O estudo sobre esse
a serem
adotadas- Medidas de política econômica adotadas hoje devem
estar em tema levaria ao estudo de outros de não menor importância. O trabalho
consonância com as metas previstas para serem alcançãdus oo período consistirá numa pesquisa sobre a legislação brasileira, no levantamento de
de
l0 a2a anos þlanos de longo prazo),ou de cinco anos (planos ae problemas relativos ao estágio de desenvolvimento brasileiro e, se possí-
m¿¿io
prazo), ou de um a dois anos (planos de curto prazo). iel, ao levantamento do pensamento do Poder Judiciário. Nessa pesquisa,
Jacques e colette Nême56 sugerem uma divisão das poríticas
econô- diversos outros temas poderão ser abordados, como política de privatiza-
os países do Cone Sul, política habitacío-
micas em três grupos: ção, política de integração com
ial,þotíttca d.e salários, potítica de proteção ao consumidor, integrada no
"a) Políticas Econômícas de Salvaguarda: que compre_ esþrço de garantia da livre concorrência
endem as polítícas de regulação demográfica, as de provisio_
namento de gêneros alimentícios e as de proteção ambiental;
b) Polítîcas de Crescimento Equilibrado: que compreen_
dem as polítícas de garantia da livre concorrêncía, påUtf"o,
^
industriaís, as de pesquisa e desenvolvimento com aJìnatidade
de estimular a criação tecnológica, as políticas d.e emprego,
as
políticas de equilíbrio regional, políticas da educaçãà, dà par_
ticipação dos trabalhadores ;
c) Polítícas de Reguração conjunturar: dentre eras se des-
tacam as políticas monetárias, a política orçamentária, as polí_
ticas de preços e as políticas de rendas".

Adotando uma outra perspectiva, philippe MaystadfT conceitua


uma
polítíca econômica gerar do Estado, em que inclui a porítica
dos preços, a
política de rendas, a política da moeda, da poupança e do
crédito e a porítica
de emprego, política relativa à concorrência e à dimensão
das emprer"., po-
lítica ambiental, política relativa ao comércio exterior e às trocas
e política de
equilíbrio territorial. Num contexto de polítícas setoriais,inclui política
a de
minas e de recursos do subsoro, a política energética, a porítica
dos transpor-
tes, a política de melhoria e de construção de moradias,
a porítica rerativa a
determinados ramos da indústria; por exemplo, da siderurgi4
e a política re-
lativa a determinadas prestações de serviços, por exemplo,
o turismo.

56 Politiques Economiques Comparées, 19g9, p.4042.


57 Politiques d'Intervention de r'État et Adminùtration Économique,
rz Aspecx Juridi-
ques de l'Interventíon pouvoirs pubrics dans ra vie
des Economique,wie,p.zl-sr.

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