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Juventudes do Campo e Justiça Ambiental

Texto-base para comunicação – 3ª Conferência Nacional de Juventude


Dezembro/2015 – Estádio Mané Garrincha – Brasília-DF
Fernando Leão (Núcleo Tramas/UFC e Rede Brasileira de Justiça Ambiental)

Uai – Não é alegria, não é Brahma, é lama! Pula da cama que vem lama. Corre, voa,
vem barro, não tente salvar nada, nem o carro. Não é barragem, é sacanagem! Mar
selvagem levando tudo... sonhos, vida, sem tempo pra despedida. É de deixar todo
mundo, tudo mudo, num enterro profundo. É minério, é cemitério, é buraco fundo a
troco de nada. É mentira. A certeza está na morte que a vida tira. É metralhadora que
milhões de toneladas de lama atira. Não sei de onde vem tanta ira. A roça e a
esperança viram lama nas águas antes limpas do riacho. Hoje, lama e barro num
vermelhão de sangue rio abaixo. Diacho! Não sei o que é pior: o bicho feio ou o homem
que nos faz de otário, que se diz grande empresário, e, com dinheiro, compra até
noticiário. O pobre, ah, o pobre está cada vez mais pobre, e você grita, você clama,
você chama, não adianta, tudo está debaixo da lama. Você paga imposto, mas na sua
terra você vira encosto. É só tristeza, desolação e lágrimas no rosto. O minério? Não
está mais aqui, não. Foi pra China, pro Japão. E o que aqui ficou pra nós? A destruição.
Pros grandes empreendimentos, tudo; pra população, nem um tostão. A mãe tenta
amamentar o filho que chora, mas do seu peito só sai lama; pra Deus, em vão,
reclama. Oh Minas Gerais, onde estão teus inconfidentes, que por muito menos fizeram
a derrama? Hoje, só choro de gente humilde, que de tanto não viver, já nem reclama.
Acorda Minas, acorda Brasília, acorda Brasil, no nosso peito permanece uma chama.
Vamos à luta. A força do inimigo é bruta? Mas vamos, Uai, Oxente, Minas e Manos.
Vamos mostrar nossos ais, mas saber que - juntos - poderemos muito mais.
Com esse texto de Roberto Coutinho, escrito dois dias após a tragédia-crime
da Samarco, Vale e BHP, em Mariana, Minas Gerais, nós gostaríamos de desejar uma
boa tarde a todos e a todas, jovens do campo, da cidade, das florestas, de
comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas, e agradecer pelo convite da 3ª
Conferência Nacional de Juventude e do Ministério do Meio Ambiente para estarmos
neste espaço. Obrigado!
Nós temos muitas perguntas, e queremos compartilhar com vocês: Vocês
perceberam – em fotos, ou durante entrevistas – um padrão de cor da pele entre os
atingidos pela barragem da Samarco? Vocês viram pessoas mais abastadas chorando
porque perderam tudo? Será que os riscos e os impactos ambientais atingem da
mesma forma os diferentes grupos sociais? Vou trazer alguns dados do IBGE: o
povoado de Bento Rodrigues tem quase 85% de sua população entre pardos e negros;
o distrito de Santa Rita Durão, em sua zona rural, tem quase 85% de sua população
entre pardos e negros; o povoado de Paracatu de Baixo tem quase 80% de sua
população entre pardos e negros.
Na década de 1980, comunidades negras norte-americanas denunciaram um
recorte racial no modo como o governo fazia “vista grossa”, ou mesmo permitia,
aterros de lixo tóxico, tratamento de esgotos, incineradores, atividades industriais
perigosas próximas aos locais onde essas comunidades moravam. Fazia-se necessário

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incluir os temas de raça, de classe, de etnia, às discussões ambientais. Na década de
1990, um memorando de circulação interna no Banco Mundial vazou e impressionou
pelas suas proposições. À época, Lawrence Summers, o economista-chefe propunha
que as indústrias mais prejudiciais ao meio ambiente fossem transferidas para os
países periféricos. E deu ali uma série de razões para isso, como o fato de que a ideia
de ‘meio ambiente’ tem a ver com uma preocupação estética e só as populações mais
privilegiadas tem essas preocupações; também justificava que os ‘pobres’ viviam
menos e por isso não chegariam a sofrer os efeitos da poluição ambiental; dizia que a
África ainda tinha regiões sub-poluídas; que era uma pena que o transporte desses
resíduos ainda fosse caro, etc..
Daí surgem as noções de injustiça ambiental e os movimentos por justiça
ambiental. Claramente, esses movimentos compreendem que não existe ‘distribuição
democrática’ dos riscos ambientais, que a degradação ambiental, os efeitos nocivos ao
ambiente que os projetos de desenvolvimento geram, afetam aos vários grupos sociais
de maneira diferenciada. Enquanto algumas poucas corporações se apropriam das
vantagens, os danos ambientais do desenvolvimento são direcionados às muitas
populações de baixa renda, aos muitos grupos raciais discriminados, aos povos
originários, às chamadas ‘periferias’ das grandes cidades.
A Rede Brasileira de Justiça Ambiental, então, é um coletivo, uma articulação
de grupos e indivíduos que lutam contra as injustiças ambientais. São organizações da
sociedade civil; movimentos sociais (MAB); associações (AMPJ-Paulo Jackson); ONGs
(FASE, Justiça Global, Terramar), Institutos (IBASE – análises sociais e econômicas;
INESC – estudos socioeconômicos); laboratórios e grupos de pesquisa acadêmicos
(Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza da UFRJ, Núcleo Tramas, UFC,
Gesta – grupo de estudos em temáticas ambientais); fóruns (Comitê em defesa dos
territórios frente à mineração); outras redes (RENAP e Justiça nos Trilhos); e militantes,
professores universitários e outros interessados que se dedicam a conhecer, denunciar
e potencializar lutas contra as violências sociais e ambientais geradas por políticas de
desenvolvimento.
A RBJA – é importante salientar – não é um grupo que se dedica somente ao
estudo da legislação, das leis ambientais. O termo ‘justiça ambiental’ acaba levando
algumas pessoas a fazerem essa ligação direta. No entanto, a Rede está sempre atenta
a processos de relaxamento ou flexibilização das leis ambientais, tão presentes no
processo que se denomina ‘modernização ecológica’. Aproveitamos para dizer da
nossa preocupação diante das declarações da Sra. Marilene Ramos, presidente do
IBAMA, na semana passada, acerca do autolicenciamento ambiental das empresas,
com fiscalização do Estado apenas posteriormente. Consideramos essa medida um
encurtamento do espaço da política, um retrocesso à participação popular, que nós da
RBJA temos pautado como imprescindível para uma efetiva ‘avaliação de equidade
ambiental.
Sobre a ideia de ‘desenvolvimento sustentável’ – de onde deriva produção
sustentável, consumo sustentável, temas neste debate – surge em 1987 num
documento intitulado ‘Nosso futuro comum’, ou ‘Relatório Brundtland’, e é uma
resposta ao relatório anterior, produzido pelo Clube de Roma, intitulado ‘Os limites do
crescimento’. Diante da ideia de limitação, impensável para quem quer continuar
crescendo (leia-se o grande capital), era preciso sustentar o projeto de

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desenvolvimento já em curso, manter, então, o desenvolvimento econômico,
atentando para o ‘uso excessivo dos recursos naturais’, que se resolveria com o
‘progresso técnico’. Em síntese, a proposta é investir em tecnologia capaz de reduzir a
utilização de matéria-energia na produção. E reduziu, realmente. Da década de 1980
pra cá, os produtos passaram a consumir – em média – 30% menos de matéria-
energia. No entanto, o estímulo ao consumo, por meio de grandes investimentos em
publicidade e na obsolescência programada, elevou em 50% a necessidade de matéria-
energia em relação ao que necessitávamos na década de 1980.
Aqui há um tema que vale a gente buscar entender, que é o quanto o modelo
de desenvolvimento em curso se sustenta a partir da reprodução das injustiças
ambientais ou das ‘desigualdades ambientais’. Eu falei de obsolescência programada,
ou seja, pesquisas técnicas, científicas, para fazer os produtos tecnológicos durarem
menos e cada um de nós ser obrigado a consumir, adquirir novo produto. Agora, se
nós compramos no Brasil uma média de 10 milhões de aparelhos celulares a cada dois
meses – isso porque houve uma queda neste ano de 2015 – quer dizer que nós
descartamos também um número aproximado de aparelhos celulares; nós adquirimos
um novo e descartamos o velho. Aí, eu pergunto: para onde vão esses milhões de
aparelhos celulares descartados diariamente? Para pequenas comunidades, muito
pobres, na Ásia. Que vão ali derreter algumas peças pra retirar os metais – cobre,
principalmente – para vender. Com tudo isso, o que pretendo deixar claro é que esse
modelo de desenvolvimento persiste sustentado nas injustiças ambientais.
Nosso grupo de pesquisa, o Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde, ou
Núcleo TRAMAS, na Universidade Federal do Ceará, vem se dedicando a pesquisar os
impactos de grandes empreendimentos sobre a saúde e o modo de vida de
comunidades camponesas, pelo menos desde 2006, numa região fortemente
impactada por empresas do agronegócio; e desde 2010, em outra região do estado em
que há a ameaça de implantação de um complexo mínero-industrial para a extração e
o beneficiamento de urânio e fosfato.
Nos dois territórios, embora os empreendimentos tenham atividades
diferentes (agronegócio e mineração), agem sob o mesmo ‘diapasão’, de maneira
similar ocasionando intensos conflitos sociais e ambientais. Não há qualquer diálogo
com a cultura do lugar – que eles consideram ‘atrasada’, ‘ultrapassada’ –, há uma
imposição de sua cultura desenvolvimentista, individualista; a justificativa é que o
empreendimento é importante para o ‘progresso’, para a geração de emprego e renda,
para as melhorias. E é nesse ponto que as juventudes são disputadas por esses
empreendimentos, porque sinalizam que vão gerar emprego para os jovens, porque é
a chegada da “modernização” tão divulgada, porque não será mais preciso viver longe
dos seus para ter as ‘oportunidades’ sonhadas. E o que se processa, na realidade, é a
desestruturação dos modos de vida e uma carga de conflitos refletidas sobre os
jovens. Exaustivas jornadas de trabalho, adoecimento, maior acesso às drogas,
aumento nos casos de alcoolismo, violência, exploração sexual de crianças e
adolescentes, gravidez precoce, além dos processos de desterritorialização, a
degradação da biodiversidade, a apropriação desigual da água. As juventudes são
especialmente vulnerabilizadas nesse contexto e surge pra nós o grande desafio de
envolver as juventudes – em nosso caso, as juventudes do campo – nas lutas de

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resistência, visto que são sujeitos políticos fundamentais para a afirmação do seu
território.
Foi, então, com o intuito de fortalecer a juventude camponesa em sua
autonomia e debater perspectivas que não passem pelo modelo de desenvolvimento
vigente, que possibilitaria outras formas de produção e consumo, que construímos o
projeto Meio Ambiente, Saúde, Comunicação e Cultura – Transformações Territorias e
a Juventude no Sertão Central Cearense, um projeto apoiado pelo edital 19/2014 do
MDA-MCTI - INCRA/CNPq. Nosso propósito é que a partir de um debate
contextualizado sobre a cultura, o direito à terra e ao território, a agroecologia, a
saúde, a comunicação e os direitos, possamos questionar ‘para quê’, ‘para quem’ e ‘de
que forma’ o modelo de desenvolvimento hegemônico se coloca, ao tempo em que
construímos – em diálogo – possibilidades de compreender o campo como ‘lugar de
vida’, afirmando a cultura camponesa, descobrindo na dimensão da agroecologia uma
outra forma de viver e de ser relacionar socialmente e também com o ambiente e não
apenas uma prática produtiva, reconhecendo os direitos fundamentais de humano e
de coletividade.

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