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1. DIREITO DO CONSUMIDOR
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
O direito do consumidor evoluiu-se no decorrer do tempo, antigamente, as relações de consumo
eram equilibradas, uma vez que fornecedor e consumidor conjuntamente estabeleciam as cláusulas que
regeriam o contrato, como preço, qualidade, quantidade, entre outros aspectos do produto adquirido ou
serviço a ser prestado.
Três momentos marcaram a evolução histórica do direito do consumidor no mundo e são as
seguintes:
a) Marco inicial: Revolução industrial (meados de 1760 e 1840), quando a população começou a
migrar para os grandes centros urbanos, trazendo com isso uma procura por novos produtos e serviços,
criando um novo modelo de produção, conhecido como “produção em série”, “produção em larga escala”.
b) Período pós 2ª guerra: Com a eclosão da revolução tecnológica, reafirmando a massificação da
produção.
c) Era da informatização/globalização: Atualmente, este novo modelo em que se preza mais pela
quantidade do que pela qualidade e com a massificação do produto, o consumidor passa a ser um
desconhecido pelo fornecedor, surgindo defeitos e problemas a serem sanados, além da situação de
vulnerabilidade do consumidor e desequilíbrio na relação de consumo.
2. LEGISLAÇÃO
Diante da situação de vulnerabilidade do consumidor, houve uma imensa necessidade de criação
de leis específicas que dispusessem sobre a defesa e proteção desta parte hipossuficiente.
Inicialmente, a Constituição Federal trouxe vários dispositivos reafirmando a garantia da defesa do
consumidor, em seus artigos 5º, XXXII, art. 170 e art 48, ADCT.
Posteriormente, adveio o Código de Defesa do Consumidor, criado pela Lei Ordinária nº 8.078, de
11 de setembro de 1990, que caracterizou um marco no ordenamento jurídico brasileiro ao trazer
dispositivos e normais fundamentais para a efetiva proteção e defesa do consumidor. Lei 8.078/90 –
Código de Defesa do Consumidor.
Importante: NATUREZA JURÍDICA DO CDC – O art. 1º do CDC dispõe que os dispositivos do
Código são de Ordem Publica e de Interesse Social e, por isso, ele é de natureza jurídica Cogente
(obrigação imperativa e obrigatória pelo juiz). Em sendo assim, o consumidor não precisa requerer
a inversão do ônus da prova, devendo o juiz aplica-la de oficio. Da mesma forma a declaração
unilateral do fornecedor de que não se responsabiliza por danos causados ao consumidor (reputa-
se não escrita).
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c) Art. 48 do ADCT (Ato das disposições Constitucionais Transitórias) – O Congresso nacional, dentro
de 120 dias da promulgação da Constituição Federal, deve elaborar o Código de Defesa do
Consumidor.
A Constituição garantiu proteção ao Consumidor, porque ele é parte vulnerável na relação de
consumo.
Em razão da vulnerabilidade, necessita o consumidor de proteção especial por parte do
constituinte.
Essa proteção, segundo o art. 5º, XXXII, é dever do Estado, abrangendo o Poder Executivo, o
Legislativo e o Judiciário.
Ademais, é lembrada a atuação do Ministério Público para a defesa do Consumidor nas ações
coletivas.
O Direito do Consumidor é limitador da ordem econômica, já que a exploração do capital, fundada
na livre iniciativa, deve observância, dentre outros, ao princípio da defesa do consumidor.
O Código de Defesa do Consumidor é constituído por normas de ordem pública que não aditem
renúncia. O interesse social está presente na regulação da economia, na circulação de riquezas e no
atendimento das necessidades do consumidor.
Por se tratar de norma de ordem publica, eventual violação ao seu conteúdo, pode ser reconhecida
de ofício pelo juiz, considerando-se nulas de pleno direito as cláusulas contratuais abusivas.
As cláusulas são interpretadas em favor do consumidor, aplicando a teoria do aproveitamento do
contrato quando a invalidação de uma cláusula não impica no contrato todo.
Vige, nas relações de consumo, o princípio da boa-fé objetiva, que retrata um padrão de conduta
imposto a todo e qualquer fornecedor, não se levando em consideração as condições do consumidor, do
contratante ou do fornecedor.
2.2 CARACTERÍSTICAS:
a) Sistema Multidisciplinar: Significa que em seu bojo existem regras de Direito Civil, constitucional,
processo civil, entre outros ramos do Direito. Dir. Civil: Art.12 (responsabilidade pelo fato do produto e do
serviço) e Art. 26 (decadência e prescrição) Processo Civil: Art.101 (regras de propositura de ação de
responsabilidade do fornecedor) Direito Penal: Art. 61 e seguintes (infrações penais)
b) Lei Principiológica: O CDC traz princípios fundamentais, que contribuem para a proteção e defesa do
consumidor, possibilitando o equilíbrio nas relações de consumo. Ex: Princípio da vulnerabilidade (art. 4º, I,
CDC)
c) Normas de ordem pública e interesse social: O Código de Defesa do Consumidor é uma lei com
função social e como tal não poderia deixar de trazer normas de ordem pública e interesse social. As
normas de ordem pública, também conhecidas como cogentes, imperativas e coercitivas, são aquelas que
devem ser cumpridas obrigatoriamente, não podem ser alteradas por vontades das partes. Assim, o
consumidor não pode abrir mão, por exemplo, da prerrogativa constante art. 47 do CPC, que dispõe que
as cláusulas contratuais serão interpretadas de modo mais favorável ao consumidor.
As normas de interesse social são aquelas que atingem à sociedade como um todo.
Assim, o objetivo principal dela é atingir a coletividade dos consumidores, garantindo a sua
proteção e, via de consequência, garantindo o interesse individual destes.
existência do fornecedor, como aquele que se dispõe a oferecer bens e serviços, e, de outro lado, o
consumidor, que se subordina às condições impostas pelo fornecedor no atendimento de suas
necessidades”. Verifica-se assim o surgimento de duas figuras importantes dentro do CDC: - Consumidor:
- Fornecedor:
3.1. CONSUMIDOR
O CDC traz quatro conceitos de consumidor, um em stricto sensu e outras três definições de
consumidor por equiparação.
Consumidor em sentido estrito/standart: O Conceito de consumidor em sentido estrito encontra-
se previsto no art. 2º, caput, do Código e dispõe que: “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. É uma noção mais objetiva do que seja
consumidor.
Entretanto, existe uma restrição dentro desta definição de consumidor que é a expressão
DESTINATÁRIO FINAL.
3.1.1Consumidor por equiparação
É proteção jurídica da figura do consumidor equiparado, alcançando assim outras pessoas físicas ou
jurídicas, não contempladas pelo artigo 2º da Lei Consumerista, independentemente da realização
concreta de um ato de consumo.
O CDC equipara àqueles, que indiretamente estão na relação de consumo frente ao fornecedor e que
tenha sofrido algum dano nessa relação, ou seja, são todos aqueles que não participaram da relação de
consumo diretamente, não adquiriram qualquer produto ou quaisquer serviços, mas sofreram alguma
espécie de lesão e merecem a proteção do Código de defesa do consumidor, como se consumidores
fossem.
3.1.1.1Hipóteses de Consumidor por Equiparação
Art, 2º, parágrafo único – é a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis que haja intervindo nas
relações de consumo.
Art. 17 – também são equiparados a consumidor as vítimas do acidente de consumo.
Art. 29 – equiparam-se a consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas
comerciais. Não é preciso que haja identificação das pessoas, assim como ocorre no parágrafo único do
art. 2º.
O CDC quedou-se inerte na conceituação desta expressão, gerando uma celeuma neste assunto. -
Questiona-se: A pessoa jurídica, que adquire o bem profissionalmente e para revenda, com intenção de
lucro, pode ser considerada consumidor? Dessa maneira, para esclarecer essa questão surgiram três
correntes doutrinárias: Corrente Finalista, Corrente Maximalista e Corrente Finalista Aprofundada. 1ª.
Corrente ou Teoria Finalista: Segundo a qual, o destinatário final seria aquele destinatário fático e
econômico. Além de retirar o bem do mercado, para ser consumidor deverá ser destinatário final
ECONÔMICO, ou seja, não adquirir o bem para uso profissional e para revender. Para esta corrente, o
consumo deve ser para uso próprio ou de sua família.
Tal corrente tem uma posição mais restritiva e se fundamenta num dos princípios basilares do CDC
– Princípio da Vulnerabilidade -, uma vez que o objetivo do CDC é garantir/tutelar a defesa de um grupo da
sociedade que é mais vulnerável. São adeptos dessa teoria: Cláudia Lima Marques, Maria Antonieta
Donato e Filomeno Brito.
2ª. Corrente ou Teoria Maximalista: Para esta corrente, a definição de consumidor destinatário final deve
ser interpretada objetivamente e de maneira mais ampla.
Portanto, basta a destinação final fática do bem/produto, pouco importando a questão econômica
(se é para revenda, uso profissional ou não). Ou seja, basta que o consumidor retire o bem do mercado de
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consumo para assim ser considerado, não sendo levado em consideração o objetivo de auferir lucro ou
não daquela relação negocial. São adeptos desta corrente: João Batista de Almeida, Rizzato Nunes e
Roberto Senise.
3ª. Corrente Finalista Aprofundada: Atualmente, a jurisprudência vem adotando a teoria finalista
aprofundada, também conhecida como Teoria Finalista Temperada, Mitigada ou Atenuada.
A crítica de alguns juristas com relação à nomenclatura é bastante presente, uma vez que, na
realidade, esta corrente mescla elementos da Corrente finalista e da maximalista ao mesmo tempo, não
podendo ser considerada como Finalista Aprofundada, mas acredita-se que a nomenclatura mais plausível
seja TEORIA MISTA.
Para esta vertente doutrinária, o consumidor – destinatário final seria aquela pessoa que adquire o
produto ou o serviço para o uso privado ou de sua família, porém, admitindo-se esta utilização em
atividade de produção, com a finalidade de desenvolver atividade comercial ou profissional, desde que
seja provada a vulnerabilidade desta pessoa física ou jurídica que está adquirindo o produto ou
contratando o serviço.
Importante: O STJ admite pessoa jurídica como consumidora desde que demonstre no caso
concreto sua vulnerabilidade.
3.2. FORNECEDOR
Art. 3º, caput, CDC:
“Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços”.
*Entes Despersonalizados (Massa falida, espólio)
São fornecedores todos aqueles que de forma direta ou indireta, colocam produtos ou prestam serviços no
mercado de consumo.
*A expressão “desenvolve” utilizada ela Lei, deve ser entendida como habitualidade no desempenho da
atividade.
*Os fornecedores sujeitos a participar do polo passivo da relação jurídica de responsabilidade civil podem
ser classificados como fornecedor real, fornecedor aparente, e fornecedor presumido.
a) Fornecedor real – É aquele que participa do processo de fabricação ou produção do produto acabado,
de parte componente, inclusive a matéria prima. É o caso do fabricante, produtor e construtor.
b) Fornecedor aparente – É aquele, que embora não tenha participado diretamente do processo produtivo,
apresenta-se como tal pela aposição do seu nome, marca ou outro sinal distintivo no produto final.
c) Fornecedor Presumido – É aquele que adquire ou vende produtos sem identificação de seu fabricante,
produtor, importador ou construtor. Geralmente são importadores e comerciantes.
3.3. PRODUTOS:
O § 1° do art.3º do CDC define produto como: “Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou
imaterial”.
É toda mercadoria colocada a venda no comércio: Sendo qualquer bem imóvel (casa, lote, apartamento,
terrenos, casas), ou móvel (automóvel, livros, objetos, etc), material ou imaterial (programas de
computador).
O produto pode ser de dois tipos (art. 26, incisos I e II do CDC):
Produto durável que é aquele que não desaparece com o seu uso, levando certo tempo para se
desgastar, que variará conforme a qualidade da mercadoria, os cuidados que lhe são emprestados pelo
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usuário, o grau de utilização e o meio ambiente no qual inserido. (Por exemplo: um automóvel, um fogão,
uma casa, livro...; etc)
Produto não durável que é aquele que acaba logo após o uso. Se extingue em um único ato de consumo
ou vai se extinguindo conforme utilizado. (Por exemplo, os alimentos, uma pasta de dente, remédios,
combustível, caneta etc.)
Importante:
O produto, não exige a contraprestação em dinheiro. Assim o produto que for entregue ao consumidor
como amostra grátis, está submetido a proteção de todas as garantias do CDC. Isso significa dizer que, se
do consumo da amostra grátis, resultar algum dano ao consumidor, o fornecedor será responsabilizado
pelo evento danoso.
Art. 39 CDC - Nos termos do art. 39, parágrafo único, do CDC, os serviços prestados e os produtos
remetidos ou entregues ao consumidor, sem solicitação prévia, equiparam-se às amostras grátis,
inexistindo obrigação de pagamento.
Atenção: Classifica o produto descartável como sendo produto durável, como exemplo, plásticos e pratos
de papelão.
Afirma RIZZATO NUNES, que um produto descartável é o durável de baixa durabilidade ou que somente
pode ser utilizado uma vez.
O Produto é o elemento subjetivo da relação de consumo.
3.4. SERVIÇOS:
O §2º, do art. 3º, do CDC, define serviço como: “Qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista”.
*Súmula 469 – “Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de Plano de Saúde.”
*Não se aplica as regras do CDC nas relações de locação de imóveis, entre locador e locatário, uma vez
que estes não se encaixam nas figuras de fornecedor e consumidor, além de serem amparados por lei
específica: Lei nº 8.245/91.
Os serviços podem ser duráveis e não duráveis. (Art. 26, Incisos I e II do CDC):
Serviço durável – É aquele que tem continuidade no tempo em razão de uma estipulação contratual
(serviços escolares, planos de saúde, etc) e aquele que deixa como resultado um produto, embora típico
de não durabilidade (pintura de uma casa, instalação de um carpete).
Serviço não durável – É aquele que se exerce, uma vez prestado. (serviço de transporte, hospedagem).
Serviços públicos: Os serviços públicos remunerados mediante preço público ou taxa serão considerados
objetos da relação jurídica, como por exemplo, os serviços de energia elétrica, água e transporte coletivo.
Entretanto, aqueles remunerados através de impostos não o serão (como saúde e segurança pública).
O serviço público fornecido ao usuário deve ser adequado, eficiente, seguro e, quanto ao essencial,
contínuo. No caso de descumprimento, total ou parcial, dessas obrigações, o Poder Público será
compelido a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista pelo CDC.
Serviços públicos X consumidor inadimplente
O CDC, em seu art. 22, trata de serviços públicos de qualidade e quando essenciais devem ser contínuos.
É possível a suspensão do fornecimento em caso de inadimplemento por parte do consumidor em se
tratando de serviços públicos essenciais?
1ª Corrente (minoritária): Entende que o consumidor inadimplente não pode ter o serviço público essencial
suspenso, sob pena de infringir o art. 22 e 42 do CDC.
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2ª Corrente (majoritária): Entende que sim, desde que haja um aviso prévio ao consumidor, bastando,
inclusive, apenas provar a emissão do aviso e não o recebimento do mesmo. O fundamento legal dessa
corrente encontra-se previsto no art. 6º, §3ª, II, Lei 8.987/95:
“§ 3º: Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência
ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade”.
* - Serviços bancários: O CDC é claro que aos serviços e atividades bancárias se aplicarão as normas
nele esculpidas.
* - Súmula 297 – “O CDC é aplicável às Instituições Financeiras.” “As instituições financeiras estão TODAS
ELAS alcançadas pela incidência da normas veiculadas pelo CDC”.
4.1 Ojetivos:
O art. 4º do CDC estabelece os objetivos da P.N.R.C, que são os seguintes:
1. Atendimento das necessidades dos consumidores;
2. Respeito à dignidade, saúde e segurança dos consumidores
3. Proteção dos interesses econômicos dos consumidores;
4. Melhoria da qualidade de vida dos consumidores; e
5. Transparência e harmonia das relações de consumo.
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“Pois EU sou o SENHOR, o seu DEUS, que o segura pela mão e lhe diz:
Não tema; EU o ajudarei.”
Isaías 41:13
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