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Publicação: 03/2010
Revisão: 05/2012
Sergio Lazarrini1
L. J. Bourgeois
O ar marrom impedia Fraderico Curado de ver três metros além da asa de seu avião quando
este pousava em Pequim, no final de outubro de 2007. Curado estava na China para visitar a
unidade de montagem de aeronaves Harbin na Manchúria, resultado de uma joint venture entre
a Embraer e a empresa estatal chinesa AVIC II. Recém-nomeado CEO, após oito anos como vice-
-presidente executivo da Divisão de Companhias Aéreas, Curado fora um dos arquitetos-chave
na expansão global da Embraer.
1 Este caso foi preparado pelo Sergio Lazzarini, professor do Insper,Brasil, e L. J. Bourgeois, professor de Darden.
Agradecemos o auxílio de Maria Beatriz Oliveira Moraes e Leandro Souza na coleta dos dados. O caso é somente para
fins de discussão em sala de aula: não se propõe julgar a eficácia ou a ineficácia gerencial, nem tampouco deve servir
como fonte de dados primários.
A unidade Harbin foi estabelecida em 2002, para a montagem do Jato Regional da Embraer
(ERJ) 145, o avião de 50 lugares usado no transporte de passageiros em viagens regionais. Após
um período de desapontamento, com um pequeno número de pedidos feitos por companhias
aéreas chinesas, no final de 2006, a Embraer recebeu 100 pedidos: 50 deles para o ERJ 145, a ser
montados na China, e outros 50 para o EMBRAER 190 (uma aeronave mais moderna e maior,
com 108 lugares), a ser exportados do Brasil. No entanto, se apresentam muitos desafios. A
AVIC I, a outra empresa estatal chinesa de montagem de aviões, planejava uma nova família de
jatos regionais, os ARJ 21, para competir em pé de igualdade com as aeronaves da família
EMBRAER 190. Além disso, o mercado de viagens regionais na China ainda era emergente, e o
desenvolvimento de novas rotas era fortemente regulado pelo governo.
Era hora de desembarcar, e Curado não conseguia parar de pensar no que a Embraer deveria
fazer para fomentar as vendas na região e ao mesmo tempo se isolar da crescente competição.
Embraer2
A Embraer foi fundada em 1969, em São José dos Campos, no estado de São Paulo, sob a
liderança do engenheiro aeronáutico Ozires Silva que, juntamente com o designer francês Max
Holste, foi responsável pelo desenvolvimento da primeira aeronave brasileira bem-sucedida: o
Bandeirante, um avião turbo-hélice para 19 passageiros. No início, a empresa era estatal,
beneficiando-se das competências do Centro Técnico Aeroespacial e do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica — centros educacionais e de pesquisa que desenvolviam tecnologia e treinavam
engenheiros, respectivamente.
Em 1985, a Embraer lançou seu segundo turbo-hélice: o Brasília, com capacidade para 30
passageiros. Apesar de as vendas terem sido fortes até o final da década de 1990 (cerca de 350
unidades), a Embraer sofrera perdas financeiras significativas nesse período, graças à
combinação de problemas macroeconômicos no Brasil com o lançamento desastroso de um novo
produto (o CBA 123). Tal crise levou à privatização da empresa em 1994, quando um consórcio
liderado pelo grupo brasileiro Bozano, Simonsen S.A. adquiriu a maior parte das ações da
Embraer e nomeou Mauricio Botelho como CEO em 1995.
2Informações para esta seção foram extraídas do artigo de I. Avricher e M. Caldas, “Brazil’s Embraer and Porter’s
National Competitive Theory,” apresentado na Conferência de Administração Estratégica de 2002; do caso da
Harvard Business School de P. Ghemawat, G. Herrero e L. F. Monteiro, “Embraer: Global Leader in Regional Jets” (9-
701-006); do caso da Darten School de F. Lopes, A. Zimath e A. Maat, “Embraer: Shaking Up the Aircraft
Manufacturing Market” (UVA-S-0135), e da página eletrônica http://www.embraer.com.
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Express e a American Eagle. Em 1997, o avião respondia por cerca de 60% das vendas da
Embraer e ajudou a restaurar sua estabilidade financeira. A Embraer tornou-se o maior
exportador brasileiro e líder mundial no mercado de aeronaves regionais.
No final da década de 1990, a empresa desenvolveu uma nova família de aeronaves, com um
número de assentos maior (de 70 a 120): EMBRAER 170, 175, 190, e 195, também conhecidos
como E-Jets (anexo 1). Esses jatos foram mais um grande sucesso comercial da Embraer, uma
vez que a empresa tinha como clientes-alvo as companhias aéreas que procuravam um avião
para usar em rotas domésticas mais curtas e acomodasse mais passageiros que as aeronaves
disponíveis no mercado. Quando seu primeiro EMBRAER 170 decolou, em fevereiro de 2002, a
Embraer teve um acúmulo de 112 pedidos concretizados e 202 opções de compra para toda a
família 170/190.
Em 2006, jatos comerciais respondiam por cerca de 70% das vendas da Embraer, com
companhias aéreas estadunidenses e europeias como maiores clientes. A anexo 2 mostra uma
listagem das entregas da Embraer por região e tipo de produto. Em abril de 2007, sob a
supervisão do CEO Frederico Curado, além de suprir o mercado de companhias aéreas com
jatos comerciais, a Embraer tinha divisões de vendas para aviação executiva, governo e defesa e
serviços. Mauricio Botelho permaneceu na empresa como presidente do conselho.
3 Do artigo de P. S. Figueiredo, G. A. Silveira e R. Sbragia, “Risk-Sharing Partnerships with Suppliers: The Case of
Grandes jatos de passageiros respondiam por cerca de 85% dos pedidos da indústria de
aviação, dominada pela Boeing nos Estados Unidos e pela Airbus na Europa4.
Os principais produtos da Boeing incluíam o 737 (140-190 assentos), usado sobretudo por
companhias aéreas domésticas em rotas mais curtas, o 777, um jato de longo alcance com 350
lugares, e o 747-400, com mais de 400 assentos, usado principalmente em rotas internacionais
longas. Com o desenvolvimento do 787 Dreamliner, uma aeronave bastante eficiente em relação
ao consumo de combustível, a Boeing intensificou seu foco em uma aeronave de longo alcance
que proporcionasse aos passageiros voos diretos ao destino, eliminando a necessidade de
conexões nos aeroportos mais movimentados. Equipado com 200-300 lugares, o 787 tinha sua
entrega esperada para 2008. Em outubro de 2007, a Boeing havia conseguido mais de 700
pedidos firmes para esse jato, fazendo dele um sucesso comercial significativo.
Nesse período, a Airbus tentou competir com o Boeing 787 Dreamliner com seu novo A350,
que não se mostrou nem tão eficiente e nem tão atrativo quanto o 787. Outros aviões
importantes da Airbus eram o Airbus A320 (150 lugares), o A300 (265 lugares), e o A330 para
longas distâncias (300 lugares).
Jatos regionais
Apesar de os jatos regionais responderem por apenas 13% do mercado global de aviação
comercial, a demanda crescia graças a mudanças estruturais na indústria. Em vários países,
essas aeronaves exploravam cada vez mais as conexões diretas com pequenas cidades e a falta
de congestionamentos em aeroportos secundários. Para tais conexões diretas, tipicamente com
um menor número de passageiros por voo, aviões menores eram mais apropriados.
4“Industry Surveys: Aerospace & Defense”, Standard & Poor’s, nov. 2006.
5M. Kane e Benjamin Esty, “Airbus A3XX: Developing the World’s Largest Commercial Jet (A)” (201028), caso da
Harvard Business School.
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Nos Estados Unidos, o mercado de jatos regionais tinha sido limitado pelas “cláusulas de
escopo”, vindas dos esforços dos sindicatos de pilotos para inibir a entrada de grandes empresas
nos mercados regionais com o uso de jatos menores. Os pilotos temiam que, se as empresas
tradicionais entrassem nos mercados regionais, elas tentariam reduzir os salários; no entanto,
após os ataques de 11 de setembro em 2001, as companhias aéreas foram forçadas a explorar os
mercados regionais como forma de aumentar suas vendas e, consequentemente, tiveram que
ajustar o tamanho de suas frotas. Aumentou o interesse em atender rotas curtas usando jatos
menores, particularmente de tamanho médio, com 70-120 lugares. A família 170/190 da Embraer
se beneficiou diretamente com a mudança.
Apesar de tanto a Airbus quanto a Boeing se focarem em aviões maiores, elas também tinham
jatos regionais. O menor avião da Boeing era o 717, de 114 lugares, reconhecido como menos
eficiente que os jatos concorrentes da Embraer e da Bombardier e que a empresa deixou de
produzir em 20058. A Airbus, por sua vez, tinha o A318, de 109 lugares — uma versão mais curta
do A320 —, mas o número de pedidos para essa aeronave era bastante baixo.
Além disso, no início de 2007, cerca de 65% dos lugares oferecidos no mercado doméstico nas
principais regiões estavam concentrados nas mãos de três empresas aéreas controladas pelo
governo: China Southern Airlines de Guangzhou, China Eastern Airlines e Air China (anexo 9)11.
Essas empresas, no entanto, estavam localizadas nos maiores terminais de Guangzhou, Shangai
e Pequim, respectivamente, e operavam aviões grandes. Enquanto nos Estados Unidos os aviões
de 30 a 120 lugares representavam cerca de 34% da frota de 30 a 210 lugares, na China essa
proporção era de apenas 7%. A entrada de novas empresas buscando explorar as novas rotas
alternativas era tímida; novas empresas privadas, responsáveis por 4% da capacidade
9 “Nation to Boost Spending on Airport Infrastructure”, english.eastday.com (acesso em: 2 mar. 2006).
10 “China’s Key Transport Infrastructure Projects for 2006–2010,” Xinhua, 6 mar. 2006.
11 Center for Asia Pacific Aviation, Aviation Analyst, 59 (abr. 2007) e 79 (jul. 2007).
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doméstica, se esforçavam para suportar as limitações de escala e tentar encontrar novos nichos
de mercado.
Entrando na China
Em 1993, após esforços dispersos e infrutíferos de criar uma indústria aeroespacial doméstica
bem-sucedida, o governo chinês centralizou todas as empresas fabricantes de aeronaves numa
única companhia, a Aviation Industry Corporation (AVIC). A AVIC tomou várias iniciativas
para desenvolver e montar jatos em parceria com a Boing, a McDonnell Douglas e a Airbus. O
fracasso dessas iniciativas e a intenção de o governo fomentar a competição no mercado
doméstico levaram, no início de 1999, à quebra da AVIC em duas empresas distintas: a AVIC I e
a AVIC II, ambas totalmente controladas pelo governo.
Quando as duas entidades foram criadas, a AVIC I era formada por 53 indústrias e 31
institutos de pesquisa, cerca de 295.000 funcionários e um patrimônio no valor de 34,9 milhões
de yuans. As subsidiárias da AVIC I se focaram em aeronaves militares como bombardeiros e
aviões de caça e suas peças. A Airbus e a Boeing subcontrataram a produção de inúmeras peças
do A320 e do Boeing 737 às subsidiárias da AVIC I Xi’an, Shenyang, and Chengdu. A AVIC II,
por sua vez, era proprietária de 54 empresas e seus três institutos de pesquisa científica.
Empregava 210.000 trabalhadores e era detentora de um patrimônio de 31,5 milhões de yuans. A
AVIC II também produzia automóveis, motocicletas, motores e peças relacionadas a esses itens,
maquinário têxtil, aparelhos médicos e outros produtos não relacionados à indústria da aviação.
Seus serviços incluíam o leasing de aeronaves, engenharia, contratação de serviços de importação
e exportação.
China: The Case of Aircraft Manufacturing,” do Instituto William Davidson, jul. 2005.
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A decisão da Embraer de entrar no mercado chinês não foi imediata. No final dos anos 1990,
a empresa pretendia exportar jatos montados no Brasil para a China, apostando no futuro da
aviação regional no país. Em maio de 2000, estabeleceu um escritório comercial na China,
comandado por um brasileiro descendente de chineses, Guan Dongyuan. Um mês mais tarde, a
empresa finalizou a primeira venda dos cinco primeiros aviões ERJ 145 para a companhia aérea
chinesa Sichuan Airlines. Em novembro de 2000, recebeu outros 30 pedidos firmes e 15 opções.
Entre o recebimento dos pedidos e as datas de entrega, para proteger sua indústria aeronáutica
regional, o governo chinês aumentou as tarifas sobre as importações de jatos de pequeno porte
de 7,1% para 22,9%. Os aviões da Embraer ficaram caros demais, fazendo com que os clientes
chineses voltassem atrás em suas primeiras encomendas. Em dezembro de 2001, quatro aviões
foram montados no Brasil, mas nunca foram levados à China15. Nem mesmo a intervenção
pessoal do então presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, que tinha boas relações com
o presidente chinês Jiang Zemin, foi bem-sucedida16.
As relações entre a China e o Brasil eram favoráveis, uma vez que os países haviam
estabelecido acordos de colaboração para pesquisas espaciais e desenvolvimento de satélites17, e
não havia nenhuma disputa comercial séria envolvendo as duas nações. Um acordo foi assinado
em dezembro de 2002 e envolvia investimentos na unidade de montagem de aviões da Harbin
dentro do complexo industrial de Hafei, na Manchúria, designada para montar jatos ERJ 145
(anexo 10). Era diferente da maioria das joint ventures estrangeiras na China, pois a Embraer
pôde manter os direitos de controle da joint venture com uma participação acionária de 51%. A
nova empresa foi chamada Harbin Embraer Aircraft Industry Co. Ltd.
Harbin Embraer
Organização
Roberto Rossi de Souza foi nomeado gerente geral da Harbin Embraer em 2004, após
trabalhar na Embraer desde 1972. Para auxiliar de Souza para lidar com os problemas locais na
China, Jiang Da foi nomeado gerente geral adjunto. Jiang Da havia trabalhado anteriormente na
Hafei e tinha extensa experiência na fabricação de aeronaves. Rossi respondia a um Conselho
formado por um presidente da Haig, um vice-presidente da Embraer e cinco membros (dois da
Hafei/AVIC II e três da Embraer). O anexo 11 mostra a organização da joint venture.
O conselho se reunia duas vezes por ano, essencialmente para aprovar o plano estratégico
anual para a Harbin Embraer, que incluía o orçamento anual, o estabelecimento de objetivos
quantificáveis e a avaliação do desempenho da joint venture. Na prática, uma vez aprovado o
plano, os gestores da Harbin Embraer agiam com grande autonomia para executar o plano e
promover os ajustes necessários. Segundo Rossi, “não há interferência nas ações do dia a dia.”
Operações
Em janeiro de 2003, a unidade chinesa iniciou suas operações com uma capacidade de
montagem de 11 jatos por ano. Esperava-se que a produtividade aumentasse para 15 jatos por
ano até 2008 e, no futuro, a força de trabalho aumentaria e alcançaria a capacidade 24 aviões por
17 Goldstein.
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ano na mesma unidade de montagem. Por outro lado, a produção dos ERJ 145 em São José dos
Campos aumentou de 16 para 18 aviões por mês. Graças à diminuta demanda por jatos ERJ 145,
principalmente nos Estados Unidos, em 2006 a Embraer cessou a montagem desses jatos no
Brasil e usou sua antiga linha de montagem para fabricar jatos corporativos Legacy, que
compartilhavam a mesma plataforma. No entanto, não havia planos de montagem para jatos
170/190 E-Jets na China.
As peças das aeronaves representavam, de longe, a maior porção dos gastos com a
montagem. Normalmente as peças vinham de 250 fornecedores de diversas partes do mundo —
o mesmo portfólio de fornecedores da Embraer no Brasil. Por exemplo, os motores vinham da
For Rolls Royce, nos Estados Unidos. Assinaram-se contratos para preservar a propriedade
intelectual, declarando que o parceiro chinês não poderia comprar os itens diretamente dos
fornecedores selecionados sem pleno consentimento da Embraer. Além disso, peças chaves do
avião (por exemplo, a fuselagem essencial, o corpo e as partes elétricas), as quais a Harbin
Embraer chamava de kits, eram enviadas diretamente do Brasil. Até 2007, nenhum item essencial
era produzido na China, apesar de haver planos para engajar um fornecedor local na produção
de partes específicas da fuselagem.
Cultura
No final de 2007, a Harbin Embraer tinha aproximadamente 260 funcionários, dos quais 13
eram brasileiros. A maioria desses brasileiros havia trabalhado anteriormente para a Embraer e
ocupava posições de gerência e no controle de qualidade. O grosso da força de trabalho era
chinês, e tinha sido transferido diretamente da Hafei. O idioma oficial da joint venture era o
inglês, uma vez que os brasileiros que trabalhavam na unidade de Harbin achavam difícil
dominar o mandarim. Como o inglês não era a primeira língua de praticamente nenhum dos
funcionários, gestos e mímica eram meios de comunicação necessários na linha de montagem.
Apesar das dificuldades, tanto brasileiros quanto chineses concordaram que a interação era
tranquila. Os chineses viam os brasileiros como amigáveis e flexíveis na incorporação de
mudanças necessárias nas operações. Os brasileiros viam os chineses como pessoas focadas no
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aprendizado e com grande senso de responsabilidade18. O gerente geral, Rossi, pensava haver
uma ”afinidade natural” entre brasileiros e chineses. O gerente geral adjunto, Jiang Da,
observou que “uma vez que as pessoas são colocadas juntas, elas trabalham como uma família”.
Vendas
As vendas iniciais ficaram abaixo das expectativas. Até 2003, a China Eastern and China
Southern Airlines haviam feito apenas 16 pedidos; os executivos da Embraer culpavam o ritmo
lento de desenvolvimento do tráfego regional. A situação mudou em dezembro de 2006, quando
a joint venture recebeu um pedido para 50 jatos ERJ 145 da Hainan Airlines. Quatro desses jatos
ERJ 145 deveriam ser entregues até dezembro de 2007. Com esse pedido, a unidade produziria
em capacidade total até 2010. A Hainan também fez um pedido de 50 aeronaves EMBRAER 190
a serem montadas no Brasil. Diferentemente da tarifa de importação para pequenas aeronaves
como os ERJ 145, a tarifa de importação para aviões maiores — maiores do que os EMBRAER
170 — ainda era mantida em um nível baixo, de 5%.
Por ter falta de pessoal dedicado a vendas e ao marketing, a Harbin Embraer dependia de seu
escritório comercial na China, que pagava royalties e taxas comerciais à Embraer. O processo de
vendas às empresas aéreas chinesas era bastante complexo. Primeiramente, o escritório
comercial tinha que convencer as empresas aéreas de que as rotas regionais eram rentáveis. O
processo frequentemente envolvia consultoria detalhada para análise das rotas que poderiam
ser exploradas. O segundo passo exigia que as companhias aéreas convencessem a CAAC de
que operariam a rota com altos padrões de segurança, e oficiais de relações exteriores julgariam
se o país da empresa fabricante tinha algum conflito sério com a China. Finalmente, oficiais da
NDRC teriam que verificar se o produto envolvido apresentava a tecnologia adequada. Só então
uma empresa aérea chinesa poderia entrar num acordo de compra de aviões de um fabricante
de aeronaves.
Novos entrantes
AVIC I (China)
A Embraer logo enfrentaria competição com um projeto em desenvolvimento desde 2002 por
um consórcio formado por subsidiárias de AVIC I (ACAC): a família de jatos AR J21. Ela foi
concebida para atuar no mercado de 70 a 120 lugares com duas versões: o ARJ 21-700, com 70-95
lugares, e sua versão estendida, o ARJ 21-900, com 95-105 lugares. Em outubro de 2007, essa
família tinha uma carteira de pedidos com 35 ordens de compra firmes de empresas aéreas
domésticas como a Xiamen e a Shanghai Airlines, com a primeira entrega prevista para
18 Do artigo de G. Azevedo, “Brazilian Management in China and a Theory on the Formation of Hybrid
acontecer num prazo de dois anos. Apesar de a maioria das peças para a montagem do ARJ 21 e
o projeto geral serem fornecidos por membros do consórcio CAC sob liderança da AVIC I, uma
parte da tecnologia de fabricação era originária de um projeto anterior, que envolvia a
montagem dos jatos McDonnell Douglas MD-80/90, nos anos 1980 e início dos anos 1990. MD-
80/90 também foi base para o desenvolvimento do Boeings 717, de 114 lugares. A Boeing havia
adquirido a McDonnell Douglas em 1997. A McDonnell Douglas era uma das poucas empresas
que não tinham imposto restrições fortes para a transferência de tecnologia, permitindo que as
empresas chinesas controlassem a maior parte dos processos de montagem e de produção de
peças, principalmente a Xi’an, a Shenyang e a Chengdu, subsidiárias da AVIC I, que mais tarde
estariam envolvidas no consórcio ACAC para desenvolver o ARJ 21.
Sukhoi (Rússia)
Antes focada em aeronaves militares, a estatal russa Sukhoi Corporation tentava aumentar
sua presença no mercado civil com seu novo Superjet 100, um avião de tamanho médio inserido
na categoria de 75 a 95 lugares. Desenvolvido em 2001, com a ajuda da Boeing e de outras
parceiras que resolveram assumir riscos como a Thales e a Honeywell, e também a empresa
Finmeccanica (que era detentora de 25% da divisão de Aviação Civil da Sukhoi), o Superjet 100
teve 98 pedidos até outubro de 2007, e sua entrega estava prevista para o final de 2008. A Sukhoi
declarou que o Superjet 100 era mais eficiente que os aviões concorrentes da Embraer e da
Bombardier, por ser mais confortável e menos custoso20. A princípio, o objetivo era atrair
companhias aéreas russas e ocidentais. No entanto, a possibilidade de explorar a Ásia oriental
estava sendo cuidadosamente considerada. A China, em particular, já era cliente da divisão
militar da Sukhoi e, em 1996, concordou em montar caças Sukhoi em seu território.
Em junho de 2007, a Airbus iniciou uma joint venture com parceiros chineses para investir em
uma unidade industrial na cidade de Tianjin, localizada na costa norte da China, para montar
jatos A320. Assim como a Embraer, a Airbus conseguiu manter 51% do controle da parceria21. Os
parceiros chineses eram o governo da cidade de Tianjin, a AVIC I e a AVIC II. A produção
começaria até 2009. Aparentemente, não havia intenção de montar jatos de menor porte por
parte da Airbus.
Desafios à frente
22 “Embraer Says China Will Make Up 60% of Asian sales,” Bloomberg, 4 abr. 2007.
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Anexos
ERJ 135
Capacidade: 37 lugares
Autonomia: 1.750 nm (3.250 km)
ERJ 140
Capacidade: 44 lugares
Autonomia: 1.650 nm (3.050 km)
ERJ 145
Capacidade: 50 lugares
Autonomia: 1.550 nm (2.900 km)
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Anexo 1 (continuação)
ERJ 145 XR
Capacidade: 50 lugares
Autonomia: 2.000 nm (3.700 km)
Embraer 170
Capacidade: 70 a 80 lugares
Autonomia: 2.100 nm (3.900 km)
Embraer 175
Capacidade: 78 a 88 lugares
Autonomia: 2.000 nm (3.700 km)
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Anexo 1 (continuação)
Embraer 190
Capacidade: 90 a 114 lugares
Autonomia: 2.400 nm (4.500 km)
Embraer 195
Capacidade: 108 a 122 lugares
Autonomia: 2.200 nm (4.100 km)
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100% 2%
2% 12% 2%
90% 14%
3%
3% 18%
80% 7%
70% 22%
outros
60%
América Latina
50% Ásia
40% Europa
77% 60% 77% América do Norte
30%
20%
10%
0%
91-120 seats 61-90 seats 30-60 seats
aviões de 30 a 60 lugares
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
aviões de 61 a 90 lugares
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Anexo3 (continuação)
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
fontes: Embraer; F. Lopes, A. Zimath e A. Maat, “Embraer: Shaking Up the Aircraft Manufacturing
Market”, caso da Darden Business School (UVA-S-0135).
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Anexo 4 – Evolução das entregas de aeronaves de pequeno e médio porte pela Embraer e pela
Bombardier, em unidades
lugares 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Embraer
EMB110 15-21 1 - - - - - - - - - -
EMB120 30 17 10 13 7 - 2 - - - - -
ERJ 135 37 - - - 16 45 27 3 14 1 2 -
ERJ140 44 - - - - - 22 36 16 - - -
ERJ 145 50 4 32 60 80 112 104 64 57 87 46 12
ERJ 145 XR 50 - - - - - - 18 - - - -
EMBRAER 170 70-80 - - - - - - - - 46 46 32
EMBRAER 175 78-88 - - - - - - - - - 14 11
EMBRAER 190 99-114 - - - - - - - - - 12 40
EMBRAER 195 108-122 - - - - - - - - - - 3
Bombardier
Q200 39 24 39 21 16 7 3 3 1 - 1 1
Q300 56 8 8 8 6 17 15 15 9 9 11 11
CRJ100/200 59 42 56 64 81 103 126 136 140 152 100 36
CRJ700 70 - - - - 2 29 29 50 50 64 47
CRJ705 75 - - - - - - - - - - 15
Q400 78 - - - 1 28 23 23 19 9 16 16
CRJ900 90 - - - - - - - 1 12 14 12
Anexo 5 – Evolução das vendas e do EBITDA da Embraer e da Bombardier de 2000 a 2006 (em
milhões de dólares)
fonte: Centre for Asia Pacific, Aviation Analyst, Relatório Mensal #59, abr. 2007.
Anexo 7 – Tráfego envolvendo rotas chinesas: crescimentos anuais passados e esperados para
o futuro
14.0%
11.2%
12.0%
China-China
10.0% 8.6% 8.8% China-Europa
7.8%
8.0% China-América do Norte
6.4% 6.4% 6.4%
6.1% 6.0% 5.8% 5.9% China-Nordeste da Ásia
6.0% 4.6%
China-Oceania
4.0% China-Sudeste da Ásia
2.0%
0.0%
1995-2005 2006-2016
25000
25.000
20000
20.000
Per capita GDP
15000
15.000 Região Costeira
Coastal Region
Central Region
Região Central
Região Oeste
Western Region
10000
10.000
5000
5.000
0
2001 2002 2003 2004 2005
Anexo 9 – Principais companhias aéreas na China (território principal) até meados de 2007
fonte: Center for Asia Pacific Aviation, Aviation Analyst, Relatório Mensal #79, jul. 2007; informações da
companhia e outros sítios da internet.
AE-P0009
Board
Conselho
Members:
Membros: brasileiros, 33 Chinese
4 Brazilian, chineses
Chairman: Chinese;
Presidente: Vice-Chairman:brasileiro
chinês, Vice-Presidente: Brazilian
General
Gerente
Manager
Geral
Certification
Certificação Deputy General
Gerente Geral
Manager
Adjunto
Finance/Adminis-
Finanças e Commercial
Comercial Production
Produção Production
Produção Quality
Qualidade
Administrativo
nistrative
Regulatory environment
Ambiente Regulatório
COSTIND:
COSTIND: Comissão de Ciências, Tecnologia e and
Commission for Science, Technology Industry
Indústria parafor National
a Defesa Defense
Nacional
CAAC: General
CAAC: Administration
Administração Geral daofAviação
Civil Aviation
Civil na of China
China
NDRC: National Development and Reform Commission
NDRC: Comissão de Desenvolvimento Nacional e Reformas
fonte: Rzezinski,
Source: Rzezinski,H.H.,“China:
“China:oportunidades
oportunidades e desafios:
e desafioso caso Embraer”,
– o caso apresentado
EMBRAER”, na conferência
Presented Desafios
at the conference
emergentesemergentes:
“Desafios a ascensão econômica da China
a ascensão e da Índia
econômica e seus efeitos
da China para oeBrasil,
e da Índia abr. 2007.
seus efeitos para o Brasil”, April 2007.
AE-P0009