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Introdução
O presente artigo visa dar uma ideia panorâmica da Maçonaria Brasileira através da história
do Grande Oriente do Brasil GOB, o tronco básico, e de suas posteriores cisões, principalmente a de
1927 e a de 1973. Para uma visão mais completa e aprofundada sobre o assunto pode ser consultado
o livro História do Grande Oriente do Brasil de José Castellani e William Carvalho da Editora Madras
de 2009. Até a primeira cisão de 1927, a história da Maçonaria brasileira se confundia com a história
do Brasil. A partir de então, ou seja, no momento em que a Maçonaria deixa de ser um grupo
estratégico, a história se bifurca, seguem rumos paralelos, com alguns contatos ocasionais. A partir
da gestão de Jair Assis Ribeiro (1983-1993) no GOB assistiu-se a um ponto de inflexão do desenrolar
da Maçonaria brasileira. Atualmente cresce a taxas chinesas, mas ainda não voltou a ser um
interlocutor estratégico do país, como fora no passado.
A Maçonaria brasileira, pelo menos, está entrando num patamar de efervescência cultural e
educacional com a criação de lojas de pesquisas, universitárias, academias etc. que dentro em breve,
inevitavelmente terá desdobramentos significativos. Assim como no passado, a Maçonaria emprestou
a sua organização para um país que não possuía partidos políticos, ele poderá, neste limiar do século
XXI, ajudar o país, que ainda possui instituições políticas com ranço de desempenho pré-iluministas,
a criar valores e instituições verdadeiramente republicanos. O Brasil proclamou a República, mas seus
valores ainda são patrimonialistas. Este é o grande desafio que a Maçonaria poderá ajudar o Brasil
adequar sua escala de valores e desempenho neste século.
Deu-se particular ênfase às duas cisões no século XX por sua importância estratégica.
Compõem ainda o presente trabalho dois anexos: i) a relação dos Grão-Mestres do GOB e um quadro
estatístico sobre as Obediências e os maçons brasileiros, considerados regulares, tais como o GOB, as
Grandes Lojas e a COMAB (Confederação Maçônica do Brasil). Convém ainda salientar que todas as
cisões no Brasil se devem à perda de eleições e não a divergências doutrinárias. Pelos dados
apresentados pode-se afirmar que o Brasil possui mais de 6.000 lojas maçônicas e quase 200.000
maçons. Essas são as potências ditas regulares.
Primórdios
Com os dados hoje disponíveis, a primeira referência a uma Loja maçônica brasileira que se
tem notícia teria sido em águas territoriais da Bahia, em 1797, em uma fragata francesa La Preneuse,
denominada Cavaleiros da Luz, sendo pouco tempo depois transferida para a Barra, um bairro de
Salvador. Contudo, a primeira Loja regular do Brasil foi a Reunião, fundada em 1801, no Rio de Janeiro,
filiada ao Oriente da Ilha de França (Ille de France), antigo nome da Ilha Maurício, à época possessão
francesa e hoje britânica.
Dois anos depois o Grande Oriente Lusitano, desejando propagar, no Brasil, a “verdadeira
doutrina maçônica”, nomeou para esse fim três delegados, com plenos poderes para criar lojas
regulares no Rio de Janeiro, filiadas àquele Grande Oriente. Criaram, então, as Lojas Constância e
Filantropia, as quais, junto com a Reunião, serviram de centro comum para todos os maçons existentes
no Rio de Janeiro, regulares e irregulares, tratando de iniciar outros, até ao grau de Mestre. Apesar de
controvérsias a exigir maiores pesquisas nesta área, essas foram as primeiras Lojas oficiais e
consideradas regulares, pois já existiam, anteriormente, agrupamentos secretos, em moldes mais ou
menos maçônicos, funcionando mais como clubes, ou academias, mas que não eram Lojas na acepção
da palavra.
Depois da fundação daquelas três primeiras Lojas “oficiais”, espalharam-se, nos primeiros anos
do século XIX, Lojas nas províncias da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro, livres, ou sob os
auspícios do Grande Oriente Lusitano e do da França. Convém salientar que os governos coloniais da
época tinham instruções precisas para impedir o funcionamento de Lojas no Brasil. Tanto assim que
aquelas Lojas – Constância e Filantropia – foram fechadas em 1806 no Rio de Janeiro, cessando as
atividades maçônicas nesta cidade, mas continuando e se expandindo, principalmente na Bahia e em
Pernambuco. O Rio de Janeiro, contudo, não podia ficar sem uma Loja, e apesar desta proibição os
trabalhos prosseguiam com as Lojas São João de Bragança e Beneficência.
Um fato importante para a história do futuro Grande Oriente do Brasil foi que a Loja Comércio
e Artes, fundada em 1815, conservaram-se independente, adiando sua filiação ao Grande Oriente
Lusitano, porque os seus membros pretendiam criar uma Obediência brasileira. Convém ainda
salientar que no ano de 1817 ocorreram dois fatos de suma gravidade em termos de crime de lesa-
majestade. Estouraram duas revoluções: i) a Revolução Pernambucana de 1817, um movimento
revolucionário, de caráter fortemente nacionalista, feito no sentido de implantar a República em
Pernambuco; e Conspiração Liberal de Lisboa de 1817 liderada pelo nosso Ir. General Gomes Freire
de Andrade, ex-Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano. Dado esse clima de sedição, tanto em
Portugal como no Brasil, houve a expedição do draconiano alvará de 30 de março de 1818, que proibia
o funcionamento das sociedades secretas. As Lojas resolveram então cessar seus trabalhos, até que
pudessem ser reabertas sem perigo. Os maçons, todavia, continuaram a trabalhar secretamente como
no Clube da Resistência, fundado no Rio de Janeiro.
Estoura a Revolução Liberal do Porto em 1820, liderada pelos maçons portugueses, exigindo
a volta de D. João VI para Portugal. A partir de então os acontecimentos começam a se precipitar.
Também é desencadeada na Espanha a Revolução de 1820. A vaga liberal (maçônica) começava
contestar os Estados Absolutistas da Península Ibérica. No Brasil, o ano de 1821 começou com uma
série de acontecimentos político-militares que culminariam na Independência do Brasil. Como
naquela época inexistiam os partidos políticos, foi necessária uma organização que coordenasse e
mobilizasse o descontentamento político e a Maçonaria brasileira emprestou sua organização para
tal fim. Voltava, então, à plena atividade.
O primeiro fato foi à sedição das tropas a 26 de fevereiro que impunham ao rei D. João VI o
juramento à Constituição portuguesa, o que provocou o início de intensa conspiração, entre os quais
muitos maçons, visando à independência do Brasil. Os acontecimentos seguintes foram os de 20 e 21
de abril, quando houve a sedição dos eleitores, exigindo a permanência do rei no País, o que provocou
a pronta reação das tropas portuguesas, que garantiram o embarque da família real. Todos esses fatos
atraíram a atenção policial contra os maçons, o que não impediu, todavia, que a Loja Comércio e Artes
voltassem a trabalhar secretamente, reerguendo suas colunas a 24 de junho de 1821. Agora com o
nome de Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro, sob os auspícios do Grande Oriente de Portugal,
Brasil e Algarves.
A afluência de adesões foi tão grande nos meses seguintes que logo se pensou em criar uma
Obediência nacional, o que aconteceria a 17 de junho de 1822, com a subsequente divisão do
“Comércio e Artes”, formando o trio de Lojas fundadoras do Grande Oriente. A partir deste momento,
a Maçonaria brasileira deixava de ser um grupo heterogêneo de Lojas esparsas ou ligadas a algumas
Obediências Estrangeiras para se transformar em mais uma célula do sistema obediência mundial.
Apresenta-se um breve resumo dos primórdios até a fundação do Grande Oriente do Brasil, a
mais antiga, a maior e a mais tradicional Obediência brasileira. Apesar da precariedade documental,
pode-se apresentar a seguinte cronologia: 1796 – Fundação, em Pernambuco, do Areópago de
Itambé, que não era uma verdadeira Loja, pois, embora criado sob inspirações maçônicas não fosse
totalmente composto por maçons;
José Bonifácio
O Apostolado e o Grande Oriente viriam a representar facções diferentes da Maçonaria
brasileira, a primeira, sob a liderança de José Bonifácio, que teve papel importante na História do
Brasil, e a segunda, sob a de Gonçalves Ledo, com papel considerável na História da Maçonaria, ambas
defendendo a emancipação política do País, mas sob formas diferentes de governo e maneiras
diversas de encarar a questão. O grupo filo republicano de Ledo, Clemente Pereira, Francisco Nóbrega
e cônego Januário Barbosa defendia o rompimento total dos laços com a metrópole monárquica
portuguesa e um regime que o aproximasse mais daquele dos demais países latino-americanos, que,
paulatinamente, iam conseguindo sua independência da Coroa espanhola. O grupo de Bonifácio,
presente no Grande Oriente, mas encastelado principalmente no Apostolado, pregava a união
brasílico-lusa, ou seja, uma comunidade luso-brasileira de países autônomos, que englobasse as
colônias e não admitisse a escravização dos negros e, mais tarde, a união do Brasil em torno da figura
imperial de D. Pedro I. Crucial para entender o Zeitgeist da época são as Anotações à Biografia de
Vasconcelos de Drummond, escritas pelo próprio. José Bonifácio foi o primeiro Grão-Mestre do
Grande Oriente, sendo, pouco depois, sucedido pelo próprio Imperador no grão-mestrado.
D. Pedro I
Após a Proclamação da Independência por D. Pedro I em 7 de setembro de 1822, o mesmo
resolveu fechar o Grande Oriente em 25 de outubro do mesmo ano, permanecendo adormecido até
1831. Trabalhos maçônicos continuaram, contudo, a ser executados em lojas individuais. O próprio
Imperador chegou a montar uma Loja no palácio.
Os maçons deputados à Assembleia Nacional Constituinte continuaram atuando em forte
oposição ao Imperador que resolveu fechá-la e outorgar uma Constituição em 24 de março de 1824
que durou todo o período imperial. Depois disso, o maçom do Grande Oriente e os dos apóstolos,
que tinham visto suas entidades serem fechadas pelo imperador, uniram-se contra ele, em um
processo de solapamento do trono, o qual viria a culminar na abdicação de 7 de abril de 1831, após
a qual foi reinstalado o Grande Oriente.
A República Velha
Durante o período da República Velha – 1889/1930 – assistir-se-á a um changez de place na
Presidência da República entre dois grupos maçônicos: a matriz positivista e militar de Benjamin
Constant e o núcleo civil e liberal do Estado de São Paulo. O final desta época culmina também com
a grande cisão do GOB de 1927, início do declínio institucional da Maçonaria brasileira, que perdura
até os dias atuais. Antes de 1927 a história da Maçonaria estava imbricada com a história do Brasil,
para não dizer que eram a mesma, a partir de então as duas se separam. A 24 de fevereiro de 1891, o
Congresso Constituinte aprovava e promulgava a primeira Constituição da República, a qual instituiu
o presidencialismo, o laicismo e o federalismo.
Dois dias depois, a assembleia elegia os governantes definitivos, colocando, portanto, fim ao
Governo Provisório, que marcara a etapa de transição. Uma das chapas que se apresentaram à eleição
tinha, como candidato à presidência, o marechal Deodoro, Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil,
e, como candidato à vice-presidência, o também maçom almirante Eduardo Wandenkolk, enquanto
a chapa de oposição era encabeçada pelo maçom Prudente de Moraes tendo, como candidato a vice-
presidente o marechal Floriano Peixoto. Deodoro venceu por estreita margem de votos (129 a 97),
enquanto Floriano derrotava Wandenkolk. A partir de então a Marinha iria contestar o Exército que
detinha as rédeas da República.
Deodoro encontrou um Parlamento hostil, que só o elegera sob a ameaça de intervenção
armada. Não poderia, portanto, governar com ele. E o dissolveu, a 3 de novembro de 1891. Com isso,
perdeu todos os apoios, inclusive nos meios militares, pois uma ditadura seria uma mancha muito
grande para um regime republicano que ainda engatinhava e que procurava sua consolidação. E
quando, a 23 de novembro, o almirante Custódio de Melo, a bordo do encouraçado Riachuelo,
declarou-se em revolta, em nome da Armada, Deodoro, encontrando-se só, renunciou, para não
desencadear uma guerra civil, entregando o governo ao seu substituto constitucional, Floriano
Peixoto.
Deodoro, desencantado, então, com tudo, renuncia também ao Grão-Mestrado, em carta de
18 de dezembro de 1891. No plano social, os maçons, diante dos problemas surgidos com a rápida
industrialização do País, principalmente no Estado de São Paulo, começavam a tratar dos interesses
do incipiente operariado industrial, ainda sem organismos protetores. A 30 de junho de 1892,
realizavam-se novas eleições para o Grão-Mestrado do Grande Oriente do Brasil, sendo eleito Macedo
Soares.
Enquanto tudo isso ocorria, internamente, no âmbito externo político-social, os maçons, como
toda a sociedade, em geral, enfrentavam tempos agitados. Existia um conflito entre os maçons
militares positivistas do Estado do Rio de Janeiro e os maçons civis, principalmente do Estado de São
Paulo. Após um período de conflitos civis e armados, Floriano entrega o poder, no final do seu
mandato ao seu sucessor paulista, o Ir. Prudente de Moraes, que era o representante das oligarquias
rurais e, portanto, do federalismo, enquanto os militares positivistas retornavam à caserna, finda que
estava a espinhosa missão de consolidar o regime.
Obviamente houve, durante esse período, certa confusão entre as classes mais politizadas da
nação, incluindo-se a Maçonaria, dirigida pelo conselheiro Macedo Soares. Enquanto uma parte do
mundo maçônico, encontrada, principalmente, entre os oficiais das forças armadas, apoiava quase
geralmente os atos de Floriano, outra facção, ligada à política regional e às oligarquias rurais,
promovia revoltas, como a guerra civil do Rio Grande do Sul, envolvendo os parlamentaristas do
maçom Silveira Martins e os presidencialistas, liderados por Júlio de Castilhos, que tinha o apoio de
Floriano.
Terminado o governo do Ir. Prudente de Morais, o poder permaneceria, pacificamente, nas
mãos das oligarquias rurais – como, de resto, ocorreu até 1930 – com a eleição do Ir. Campos Sales,
expoente da Maçonaria do Estado de São Paulo, cujo governo foi caracterizado pelo grande realismo
na política econômico-financeira do maçom Joaquim Murtinho, ministro da Fazenda.
Em fevereiro de 1901, realizadas novas eleições, no Grande Oriente do Brasil, era eleito, para
o cargo de Grão-Mestre, Quintino Bocaiúva, que no dia da Proclamação da República, cavalgou ao
lado do Mal. Deodoro, e tendo como Adjunto Henrique Valadares, discípulo na Escola Militar de
Benjamim Constant. A matriz positivista mantinha o seu controle sobre o GOB. Quintino Bocaiuva,
apesar de todo o trabalho efetuado, não podia se dedicar integralmente ao Grão-Mestrado, pois fora
eleito e, a 31 de dezembro de 1900, empossado no cargo de presidente do Estado do Rio de Janeiro,
para um mandato de três anos, o que fez com que, em várias ocasiões, ele fosse substituído por
Henrique Valadares. Mesmo assim, concluiu seu mandato no Grande Oriente, com grande saldo
positivo, a 21 de junho de 1904, entregando o malhete de supremo mandatário da Maçonaria
brasileira ao general Lauro Sodré, positivista, Senador da República por vários mandatos, candidato à
Presidente da República contra o Ir. Campos Sales, e secretário de Benjamin Constant quanto este
ocupou a Pasta da Guerra.
Esta matriz positivista, juntamente com os maçons, também positivistas, do Estado do Rio
Grande do Sul, entrará em conflito com os Presidentes da República da época, egressos da maçonaria
liberal e civil do Estado de São Paulo. Lauro Sodré será até mesmo preso, enquanto GM do GOB, no
encouraçado Deodoro por quase 6 meses.
Na política republicana brasileira, nessa década, entre outros maçons, sobressaiu-se o filho do
visconde do Rio Branco, o barão do Rio Branco, Patrono da Diplomacia brasileira, que, em 1902, foi
nomeado, pelo presidente Rodrigues Alves, ministro das Relações Exteriores do Brasil, ocupando o
cargo até sua morte, em fevereiro de 1912, durante os governos dos IIr. Rodrigues Alves, Afonso Pena,
Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca, com grande destaque na resolução dos litígios com nações
limítrofes.
No final do governo do Presidente Ir. Rodrigues Alves era eleito, para a presidência da
República, o mineiro Ir. Afonso Pena, iniciando a alternância São Paulo–Minas Gerais no poder. Tendo
sido eleito por uma coligação dos partidos situacionistas estadual – os verdadeiros donos da política
da época –, que se havia oposto a um candidato da preferência de Rodrigues Alves, Afonso Pena
encontraria o Congresso comandado por uma maioria liderada pelo senador Ir. Pinheiro Machado,
líder político e maçônico, o que fazia supor que os problemas sucessórios deveriam ser submetidos,
necessariamente, à apreciação desse grupo, composto por uma maioria de maçons de diversos
Estados. Tendo surgido a candidatura do Ir. Davi Campista, em 1908, suscitando grande resistência,
pois ele se proclamava um intervencionista, o grupo liderado por Pinheiro Machado esposou a
candidatura do maçom Hermes da Fonseca, que, em sua gestão no Ministério da Guerra, criara fama
de grande administrador.
Ocorreria, então, o falecimento de Afonso Pena, no auge da crise, com a consequente
ascensão, ao poder, de Nilo Peçanha, também líder maçônico, o qual iria ser Grão-Mestre do Grande
Oriente do Brasil, de 1917 a 1919. Em torno dele, iria se fixar o oficializou político em relação à
candidatura do Ir. Hermes da Fonseca, general e sobrinho de Deodoro da Fonseca, o que provocou,
pela primeira vez na história da república, uma séria candidatura de oposição, por meio de Rui
Barbosa. Hermes, todavia, seria eleito, pois tinha o apoio dos principais Estados.
Terminado o período de Hermes da Fonseca, os nomes mais cotados para a Presidência da
República eram os do Ir. Pinheiro Machado e do Ir. Rui Barbosa: todavia, um acordo, entre os partidos
republicanos dominantes de São Paulo e Minas Gerais traria à baila o nome do vice-presidente da
República, o maçom Wenceslau Brás, o qual foi eleito sem oposição, enquanto o mundo se debatia
na Primeira Guerra Mundial. Com a eleição de Lauro Sodré para governador do Estado do Pará, será
eleito GM do GOB Nilo Peçanha em primeiro de junho de 1917. O Brasil entrará na guerra a 26 de
outubro do mesmo ano.
No governo da República, acabado o mandato de Wenceslau Brás, em 1918 era eleito, para
um novo mandato presidencial, Rodrigues Alves, que viria a falecer antes de tomar posse, o que fez
com que o vice, Ir. Delfim Moreira assumisse até julho de 1919. Como este, cansado e doente, não
tinha condições de comandar a política nacional, foi eleito, para completar o quatriênio, Epitácio
Pessoa, que teria de enfrentar graves crises políticas.
Em 1919, a política maçônica, liderada por Nilo Peçanha, foi geralmente de oposição ao
presidente Epitácio Pessoa, pois Nilo havia indicado Rui Barbosa para completar o período
governamental de Rodrigues Alves. Essa posição seria mantida, embora com menor intensidade,
durante o Grão-Mestrado do general Thomaz Cavalcanti de Albuquerque, que viria a suceder Nilo
Peçanha, quando este renunciou ao seu mandato, a 24 de setembro de 1919. Enquanto o ambiente
político estava agitado, diante da nova eleição presidencial e dos episódios que, supostamente,
envolviam Arthur Bernardes, a situação do Grande Oriente também não era tranquila, pois iniciava a
década com nova cisão, provocada por uma eleição fraudulenta.
Com a morte, a 28 de janeiro de 1921, do Grão-Mestre Adjunto Luís Soares Horta Barbosa
realizou-se novas eleições, a 25 de abril daquele ano, para o preenchimento do cargo vago. A 3 de
março, havia se realizado, no Rio de Janeiro, uma convenção para a escolha do candidato ao cargo;
nessa reunião, com pouco mais de 40 convencionais, surgiram duas candidaturas: a de Mário Marinho
de Carvalho Behring, sustentada por uma pequena maioria, que detinha o poder no Grande Oriente,
e a do general José Maria Moreira Guimarães. Com o apoio de São Paulo, que não se fizera representar
na convenção, Moreira Guimarães obteve a maioria dos votos. Manipulando, todavia, os dados, a
junta apuradora anulou votos de ambos os lados, mas principalmente os do general, de tal maneira
que Behring acabaria sendo eleito. Como se verá mais adiante Behring será o responsável por uma
das maiores cisões que sofrerá o GOB no século XX e que perdura até os dias atuais.
Ao final da gestão do general Thomaz Cavalcanti, Nilo Peçanha era indicado, mais uma vez,
para o Grão-Mestrado. Os acontecimentos políticos do País, nesse agitado período, todavia, acabaria
por tornar inoportuna sua candidatura – ele fora, inclusive, ilegalmente preso, apesar de suas
imunidades como senador da República –, fazendo com que elementos ambiciosos saíssem da
sombra e iniciassem o trabalho de intriga, visando galgar os altos postos do Grande Oriente do Brasil.
Os elementos que ambicionavam o Grão-Mestrado estavam ligados ao Ministério da Justiça
de Artur Bernardes, então ocupado pelo maçom João Luis Alves. A 20 de maio de 1922, Mário Behring
seria eleito Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, com o beneplácito de João Luis Alves. Enquanto
isso, ia agitado o ambiente político nacional, com a publicação das cartas, atribuídas Arthur Bernardes
– e que se verificou, depois, serem falsas –, contendo insultos ao Exército. Liderando a revolta contra
as cartas, encontrava-se o Clube Militar, presidido pelo então por Hermes da Fonseca, o que
provocaria a reação governamental, com o fechamento do Clube e a prisão de Hermes, fatos que
provocariam o maior inconformismo das forças armadas e a revolta do Forte de Copacabana, a 5 de
julho de 1922, no episódio conhecido como o “dos dezoito do Forte”, que iniciou a mística do
movimento conhecido como “tenentismo”, o qual iria assumir o poder com o golpe de 1930.
Eleito e empossado na Presidência da República, Arthur Bernardes teve um dos mais agitados
períodos presidenciais, só comparáveis ao de Floriano, governando, praticamente, sob estado de sítio
e intervenção federal nos Estados, embora combatido por alguns poucos destemidos, como o maçom
Nilo Peçanha, ex-Grão-Mestre do Grande Oriente. Em seu governo, eclodiu, em São Paulo, a revolta
de 5 de julho de 1924 – durante a qual as Lojas maçônicas foram fechadas – chefiada pelo general
Isidoro Dias Lopes e sufocada em 22 dias; no mesmo ano, em outubro, estouraria, no Rio Grande do
Sul, outro movimento rebelde, liderado pelo capitão Luís Carlos Prestes, que, juntamente com os
remanescentes da revolta paulista, formou a “Coluna Prestes”, que realizou a marcha de 30 mil
quilômetros pelo interior do Brasil, sempre perseguida pelas forças governamentais.
Behring, todavia, programara essa cisão, criando um substrato simbólico para o seu Supremo
Conselho, na figura de Grandes Lojas estaduais. A primeira delas, a da Bahia, já havia sido fundada a
22 de maio de 1927, recebendo, do Supremo Conselho, a carta constitutiva Nº 1; outras duas, logo
depois de declarada a cisão, foram: a do Rio de Janeiro e a de São Paulo. A partir de então a Maçonaria
brasileira entrou em um processo de declínio, deixando de ser um grupo de elite estratégico para se
tornar um grupo convencional de classe média como muitos que existem no Brasil.
A Revolução de 1930 irá aprofundar mais ainda essa característica até os dias atuais quando o
crescimento do GOB a taxas chinesas poderá gerar uma mudança qualitativa. A 3 de agosto de 1927,
Behring e seus seguidores lançam um Manifesto às Oficinas Escocesas do Brasil e o um decreto – que
ficou famoso pela atitude inusitada envolvida – declarando, oficialmente, o Grande Oriente como
potência irregular no seio da Maçonaria Universal. O inusitado é uma Obediência dos Altos Graus
escoceses declararem irregular uma Obediência simbólica. Mesmo assim, não deixou Behring, desde
que promoveu a cisão, de cortejar a Grande Loja Unida da Inglaterra, no sentido de obter, desta, o
reconhecimento para suas Grandes Lojas, o que lhes daria a tradicional regularidade emanada da
Obediência Mater. Nada conseguiria, entretanto, como se verá posteriormente, pois a Grande Loja
Unida da Inglaterra sempre reconheceu o GOB como seu parceiro no Brasil.
A Revolução de 1930
Enquanto o Grande Oriente do Brasil passava por essa convulsão interna, o País, depois do
agitado período de Arthur Bernardes, iria conhecer um tempo de relativa tranquilidade, com a
ascensão, à Presidência da República, do maçom Washington Luís Pereira de Sousa, em 1926. O
governo de Washington Luís seria tranquilo até 1929 quando a grande crise mundial, desencadeada
pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York, trouxe problemas econômicos ao País, com o grande
aumento dos estoques de café, em uma situação agravada pela recusa do governo em auxiliar,
financeiramente, a lavoura em crise.
O ano de 1930 começava, para todo o Brasil, sob o signo da intranquilidade. A par da grande
depressão econômica, oriunda da crise mundial de 1929, havia grande perturbação nas esferas
políticas, em decorrência da crise que o País atravessava, com a violenta queda da estrutura
econômica, baseada na exportação do café.
Deste o início da República até 1930, São Paulo partilharia, com Minas Gerais, sua influência
na política e na administração do País. Já antes da crise de 1929, a política de valorização do café, do
governo de Washington Luís, encontrava adversária dentro do próprio Partido Republicano Paulista
PRP, que reunia a burguesia cafeeira de São Paulo.
Ao se aproximarem as eleições para a Presidência, o PRP indicava, para suceder a Washington
Luís, o ex-presidente do Estado, líder do governo na Câmara e maçom Júlio Prestes de Albuquerque,
deixando de lado dois nomes de projeção nacional: Borges de Medeiros, ex-presidente do Rio Grande
do Sul, e Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente de Minas Gerais. Este, então, passou à franca
oposição, estabelecendo, com o Rio Grande do Sul, 50 uma coligação política denominada “Aliança
Liberal”, que lançaria a chapa Getúlio Vargas-João Pessoa, para combater a de Júlio Prestes-Vital
Soares.
A 1º de março de 1930, realizadas as eleições, vencia como era esperado, a máquina eleitoral
do PRP, tendo, em ambos os lados, funcionado a fraude eleitoral. A oposição, então, começou a
conspirar para promover o levante armado contra o governo, e tendo, o estopim da revolta sida o
assassinato de João Pessoa, a tiros, por João Duarte Dantas, por simples questões familiares da Paraíba
– Estado presidido por Pessoa – e sem nenhuma conotação política, mas que foi muito explorado
pelos rebeldes.
Eclodida a revolta, em Porto Alegre, a 3 de outubro de 1930, ela culminaria com a deposição
do presidente constitucional, Washington Luís, e a entrega do poder a Getúlio Vargas, que governaria
durante 15 anos, primeiro como chefe do governo provisório, depois, como presidente constitucional
e, finalmente, como ditador absoluto, até sua deposição, em 1945. O golpe de 1930 e a ascensão de
Vargas ao poder teriam grande repercussão na Maçonaria brasileira, proporcionando-lhe um período
de estagnação e, até, de involução, do qual está até hoje se recuperando.
No Grande Oriente, Octavio Kelly, desencantado com a insistente oposição e as perseguições
que lhe moviam, deixava o cargo, a 17 de junho de 1930, só retornando a 3 de julho, depois de
promulgada a nova Constituição do GOB, a 19 de junho. Em outubro de 1930, diante da convulsão
social e política, causada pelo golpe de 24 de outubro, com implantação de estado de sítio e
fechamento dos bancos, muitas Lojas suspenderam seu funcionamento, até por dificuldades de
ordem financeira. No mesmo ano de 1930, o Grande Oriente do Brasil havia participado do Congresso
de Bruxelas, realizado pela AMI (Associação Maçônica Internacional), sendo reconhecido como única
Potência Simbólica no Brasil.
A Cisão de 1972-1973
Em 1973 aconteceu a última cisão, também por questões eleitorais, em 27 de maio, quando
vários Grão-Mestres estaduais abandonaram o GOB. Tal movimento, sob a liderança do Grão-Mestre
de São Paulo Ir. Danilo, eliminado anteriormente do GOB, assinaram uma proclamação onde se
declaravam autônomos, surgindo ali o Colégio de Grão-Mestres, que resultou atualmente na COMAB
Confederação da Maçonaria Brasileira.
Sérias dissensões no Grande Oriente do Brasil iriam ser uma das causas remotas da crise
institucional que a Obediência enfrentaria, a partir de 1970, resultando na cisão de 1973, produto do
acirramento ideológico. No governo federal, sucedendo ao presidente Castelo Branco, assumia o
governo, a 15 de março de 1967, o marechal Arthur da Costa e Silva. No dia da posse de Costa e Silva,
entrava em vigor a nova Constituição brasileira, que fora promulgada pelo Congresso Nacional a 24
de janeiro.
Durante todo esse período o GOB não se notabilizou por alguma ação de vulto, mantendo um
perfil baixo, dentro daquele padrão de declínio desde a grande cisão de 1927. No âmbito
governamental, nova crise iria acontecer com a doença do presidente Costa e Silva e seu consequente
afastamento do governo. Constitucionalmente, deveria assumir o vice-presidente Pedro Aleixo, o qual,
todavia, por ter se pronunciado contra o AI-5, foi impedido de tomar posse, a 31 de agosto de 1969,
pela junta militar que assumiria, provisoriamente, o poder. Logo depois, a junta declararia extinto o
mandato de Pedro Aleixo e providenciaria uma nova eleição indireta pelo Congresso Nacional.
Seria, então, eleito, a 25 de outubro, o general Emílio Garrastazu Médici, que tomaria posse a
30 de outubro, implantando profunda censura a todos os órgãos da mídia nacional. No Grande
Oriente do Brasil, por essa época, já circulava, pelas Lojas e Corpos Maçônicos, uma publicação,
denominada Prancha Informativa, que, sob a responsabilidade do Ir. Felix Cotaet, deputado à
Soberana Assembleia Federal Legislativa – com o apoio e a assessoria de outros deputados da
bancada paulista –, trazia notícias daquele corpo legislativo do Grande Oriente do Brasil. Apesar de
constar como de “Circulação restrita aos maçons do Grande Oriente do Brasil”, a publicação, como o
próprio autor divulgou, era enviada a autoridades civis e militares e não poucas vezes continhas
criticam contundentes ao então GM do GOB, Ir. Moacyr Arbex Dinamarco, a quem fazia, notoriamente,
oposição. Aproveitando o clima da época e sob a alegação de que, como oficial da reserva do Exército,
cabia-lhe uma parcela da defesa da democracia, o autor inseria, em sua Prancha Informativa, mal
velada insinuações de “infiltração comunista no Grande Oriente do Brasil”, a qual aconteceria,
segundo ele, sob as vistas grossas do GM.
Quando empossado no Grão-Mestrado do Grande Oriente de S. Paulo, a 17 de junho de 1969,
o Ir. Danilo José Fernandes, havendo derrotado o candidato oposicionista, apoiado por Cotaet, Nery
Guimarães e outros, passou a sofrer, na Prancha Informativa, o mesmo tipo de críticas que Dinamarco.
Diante das críticas, Danilo, depois de grandes altercações com Cotaet, proibia a circulação da Prancha
Informativa, a 25 de fevereiro de 1970. A 13 de agosto, seis meses após a edição da circular – que não
havia suscitado reação quando publicada –, Cotaet apresentava denúncia à Secretaria de Segurança
Pública, contra o Grande Oriente do Brasil e o Grande Oriente de S. Paulo, tentando envolver o Grão-
Mestre Geral, Moacyr Arbex Dinamarco, e comprometer o Grão-Mestre de S. Paulo com as
autoridades da área da Segurança Nacional. Foi, então, instaurado um inquérito policial-militar, o qual
teria um desfecho, em outubro de 1971, quando o Juiz Auditor determinou o arquivamento dos autos,
considerando infundada a denúncia.
Apesar do tumulto no Poder Central, o Grão-Mestre continuava tentando manter a
normalidade administrativa e social e comemorar os festejos do sesquicentenário do Grande Oriente
do Brasil, os quais seriam realizados em junho de 1972.
O ano de 1971 começava, para o GOB, com a grande agitação provocada pelas pressões, sobre
o GM Dinamarco, dos integrantes do grupo já referido, em torno de uma suposta “infiltração
comunista” na Obediência, a partir de S. Paulo e de seu Grão-Mestrado estadual. Pouco tempo depois
Felix Cotaet era suspenso de todos os seus direitos maçônicos no Grande Oriente de São Paulo. Um
novo conflito surgiria quando da escolha do candidato à sucessão de Dinamarco, que soou, para
alguns como um jogo de cartas marcadas, pois, como o Grão-mestre podia deter a maioria de votos
da Soberana Congregação, já que muitos de seus componentes eram nomeados pelo próprio
Executivo, venceria aquele que, por este, fosse indicado. Pelos cálculos desses, que se opunham à
política do Poder Central e a um eventual continuísmo, só poderiam ser contrários ao candidato
indicado pelo Grão-Mestrado, alguns dos 15 Grão-Mestres estaduais e o antecessor de Dinamarco,
Álvaro Palmeira. Surgiam, então, como eventuais candidatos de oposição, os Grão-Mestres estaduais
Athos Vieira de Andrade (Minas Gerais), Enoch Vieira dos Santos (Paraná), Frederico Renato Mótola
(Rio Grande do Sul), Miguel Christakis (Santa Catarina) e Danilo José Fernandes (São Paulo).
No início de 1972, a posição do Grão-Mestre de S. Paulo era de frontal oposição ao Grão-
Mestre Geral. Enquanto isso, a 19 de abril de 1972, acontecia, em São Paulo, uma reunião, da qual
resultaria a “Proclamação de São Paulo”, com o lançamento das candidaturas de Athos Vieira de
Andrade (Minas) e Raphael Rocha (Rio de Janeiro), para os cargos de Grão-mestre e Adjunto,
respectivamente, nas eleições que seriam realizadas em 1973.
A 9 de maio, processado e julgado pelo Tribunal de Justiça Maçônico, Danilo tinha suspensos
seus direitos maçônicos, sob a alegação de que a dívida de São Paulo para com o Poder Central não
fora paga. Iniciou-se uma querela jurídica entre o GM do GOB e o Grão-mestre de São Paulo sobre
despesas não pagas.
Diante do impasse, a situação agravou-se. Danilo enviou petição ao Tribunal de Justiça
Maçônica, propondo a formação de uma Comissão de Verificação, destinada a proceder ao
levantamento e acerto das contas; declarou, também, que aceitaria como definitivo o relatório dessa
Comissão. O Tribunal decidiu não tomar conhecimento da petição, por entender que Danilo estava
com seus direitos suspensos e não poderia solicitar em nome próprio nem requerer como Grão-
Mestre de S. Paulo. Diante disso, Danilo ingressava em Juízo, em uma das Varas Cíveis do Rio de
Janeiro, ou seja, na Justiça profana.
Deveria assumir o grão-mestrado estadual o adjunto que não conseguiu o seu intento. A
oposição lança então as candidaturas Athos Vieira de Minas Gerais e Raphael Rocha do Rio de Janeiro
e era assinado pelos seguintes grão-mestres estaduais: Danylo José Fernandes, Grão-Mestre do
Grande Oriente de São Paulo; Enoch Vieira dos Santos, Grão-Mestre do Grande Oriente do Paraná;
Miguel Christakis, Grão-Mestre do Grande Oriente de Santa Catarina; Frederico Renato Móttola, Grão-
Mestre do Grande Oriente do Rio Grande do Sul; Gumercindo Inácio Ferreira, Grão-Mestre do Grande
Oriente de Goiás; Manuel Paes de Lima, Grão-Mestre do Grande Oriente de Pernambuco.
Posteriormente, essa proclamação recebeu o apoio de Salatiel de Vasconcellos Silva, Grão-Mestre do
Grande Oriente do Rio Grande do Norte; Celso Fonseca, Grão-Mestre do Grande Oriente de Brasília;
e Cyro Werneck de Souza e Silva, ex-Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil.
O Grão-Mestre Geral, então, nomeia a 26 de maio de 1972, o general reformado Luiz Braga
Mury, como interventor no Grande Oriente de S. Paulo. Danilo obtinha liminar ao mandado de
segurança impetrado junto ao Tribunal de Justiça do Estado de S. Paulo e era reintegrado no cargo,
retomando a posse do prédio.
Um longo conflito iria perdurar em São Paulo, ao mesmo tempo, lançam-se como candidatos
oficiais ao Grão-Mestrado: Osmane Vieira de Resende (que era Adjunto), para Grão-Mestre, e Osiris
Teixeira, de Goiás, senador da República e obscuro maçom, para Adjunto.
Realizadas as eleições, o resultado oficial mostrava a vitória de Osmane, com 2129 votos, ante
1107 dados a Athos, enquanto Osiris Teixeira também vencia, com 2046 votos, diante de 1180 de
Raphael Rocha. Segundo a oposição, entretanto, o resultado “extraoficial” consignava 7175 votos para
Athos, contra 3820 para Osmane; e 7195 para Raphael, contra 3794 para Osiris. Ocorre que, no
Tribunal, mais de 6 mil votos de Athos foram anulados, enquanto Osmane perdeu menos de 2 mil,
tendo, isso, acontecido sob a alegação de débitos com o Poder Central e preenchimento irregular das
atas das eleições. Todo o processo ocorreu num ambiente bastante agitado, já que os representantes
da chapa oposicionista, na apuração alegavam fraudes na anulação de atas eleitorais, com
parcialidade do tribunal, em favor dos candidatos oficiais.
A partir daí estava deflagrada nova cisão no GOB com a perda de inúmeros Irmãos de escol
de diversos estados brasileiros tais como: São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio Grande do Sul,
Ceará, Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Estado do Rio de Janeiro. O Estado
de Goiás que permaneceu coeso em torno do GOB iria jogar um papel importante no desenrolar dos
acontecimentos, além do mais a Capital da República tinha se mudado do Rio de Janeiro para Brasília.
O fato lamentável, contudo, era que se tornou ainda mais fraca a Maçonaria brasileira.
A 24 de junho de 1973, tomava posse, como Grão-Mestre do GOB Osmane Vieira de Resende
que realizou uma gestão opaca. A 15 de março de 1974, o Brasil tinha novo presidente, com a posse
do general Ernesto Geisel, também eleito pelo Congresso Nacional, a 15 de janeiro. Pouco depois, a
16 de maio, o presidente da República recebia, em audiência, o Grão-Mestre Geral e seu Adjunto,
quando este, como senador do partido situacionista, leu um ofício em que o Grande Oriente
reafirmava seu apoio ao governo que havia se instalado após o movimento de 1964.