Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
1. INTRODUÇÃO
Desde os tempos mais remotos os homens conhecem técnicas para induzir estados de
“transe” em si mesmos e em outros (PINCHERLE, 1985). E desde os anos 50, a hipnose
tem sido utilizada com ampla variedade de aplicações na medicina, na psicologia e na
odontologia. Cita-se a sua aplicação para alívio da dor, tratamento de patologias
gastrointestinais, dermatológicas, depressão, estresse, ansiedade, mudança de hábitos,
tratamento de fobias e traumas, dentre outras aplicações (FERREIRA, 2013).
Nesse sentido, esta pesquisa pretende colaborar com o meio científico, elucidando maior
entendimento sobre a maneira que a hipnose, enquanto intervenção terapêutica atua
sobre o cérebro. Esse trabalho busca responder quais as áreas cerebrais mobilizadas
durante o processo de hipnose e sua relação com as áreas cerebrais envolvidas em
processos de vivências reais.
Para isto, o objetivo deste estudo é realizar uma revisão bibliográfica sobre as bases
neurofisiológicas da hipnose.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão bibliográfica utilizando-se livros e bases de dados eletrônicas, tais
como Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MedLine), Scientific
Eletronic Libray Online (Scielo) e Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde
(Lilacs).
Foram incluídos artigos publicados no período de 2004 a 2014, com texto completo
disponível e publicado em língua portuguesa, espanhola e inglesa. Foram utilizados os
descritores: “hipnose”, “neurofisiologia” e “fenômenos fisiológicos do sistema nervoso”. A
busca pelos artigos foi realizada de agosto de 2013 a janeiro de 2014.
3. RESULTADOS
3.1 Hipnose
Conforme Faria (1979), a princípio a hipnose era exercida como se fosse um mito
religioso. Aviam os clássicos “templos do sono” no antigo Egito, onde sacerdotes usavam
o poder hipnótico para tratar os crentes, fazendo-os adormecerem suavemente e
ministrando-lhes passes mágicos.
Mas somente em 1842, a palavra hipnose começou a ser utilizada. Cunhada por James
Braid, derivada da palavra grega "hypnos", significa "sono". Braid defendia que os
fenômenos mesméricos nada mais eram do que um estado decorrente da fadiga sensorial,
ou seja, um fenômeno neurofisiológico (RODRIGUES, 2007).
O interesse pela hipnose ressurge durante a I Guerra Mundial (1914-1918), sendo utilizada
no tratamento das neuroses de guerra. Desde então, ela é utilizada com vasta variedade
de aplicações na medicina, na psicologia e na odontologia, seja para alívio da dor,
tratamento de patologias gastrointestinais, dermatológicas, depressão, estresse,
ansiedade, mudança de hábitos, tratamento de fobias e traumas, redução de conflitos,
dentre outros (FERREIRA, 2013).
Ao longo de sua evolução, o cérebro humano adquiriu três componentes que foram
surgindo e se superpondo, tal qual em um sítio arqueológico: o cérebro primitivo situando-
se embaixo, na parte infero-posterior, constituído pelas estruturas do tronco cerebral -
bulbo, cerebelo, ponte e mesencéfalo, pelo mais antigo núcleo da base - o globo pálido e
pelos bulbos olfatórios, e corresponde ao cérebro dos répteis; o cérebro intermediário, que
é formado pelas estruturas do sistema límbico, corresponde ao cérebro dos mamíferos
inferiores e localiza-se na parte intermediária, entre a base e a parte superior do cérebro; e
o cérebro superior ou neocórtex, quase localiza na parte superior, compreendendo a maior
parte dos hemisférios cerebrais e alguns grupos neuronais subcorticais (AMARAL;
OLIVEIRA, 1998).
Conforme Lent (2010), o sistema límbico é composto pelas seguintes estruturas: córtex
cingulado, hipocampo, hipotálamo, núcleos anteriores do tálamo e amígdala. A amígdala
revelou-se uma estrutura de enorme relevância, modulador de toda experiência emocional.
O hipotálamo foi reconhecido desde o início como a região de controle das manifestações
fisiológicas que acompanham as emoções.
Toda informação sensorial é percebida pelo córtex consciente e esta informação também
vai à formação reticular através de fibras colaterais oriundas das vias sensoriais
ascendentes. Por meio da FRA as informações sensoriais são também comunicadas ao
sistema límbico e ao hipotálamo, e aí as emoções associadas e as reações viscerais e
instintivas são elaboradas, sendo então adicionadas à experiência cognitiva do córtex,
integrando o colorido emocional e as motivações básicas. O córtex tem a possibilidade de
retroagir sobre esta energia afetiva motivacional e modular cognitivamente o
comportamento (SILBERFARB, 2011).
O EEG é, entretanto, limitado, pois só capta atividade elétrica em grupos de neurônios das
camadas I e II do córtex que se difundem na camada dendrítica, embora as células do
neocórtex sejam arranjadas numa série de seis camadas, que vão de superficial para
profunda: I (camada molecular); II (camada granular externa); III (camada piramidal
externa); IV (camada granular interna); V (camada piramidal interna); VI (camada
fusiforme) (LENT, 2010).
O estudo realizado por Henry Szechtman et al. (1998), utilizou imagens obtidas por
PETScan (tomografia por emissão de pósitrons) para mapear a atividade cerebral de
indivíduos sob hipnose que, após sugestão para imaginar um cenário, experimentaram
uma alucinação. Os pesquisadores descobriram que a alucinação auditiva e o ato de
imaginar um som são autogerados e que, como a audição real, uma alucinação é
experimentada como se viesse de uma fonte externa. Através do monitoramento do fluxo
sanguíneo nas áreas ativadas durante a audição real e a alucinação auditiva, mas não
durante a simples imaginação, os pesquisadores descobriram que a região do córtex
cingulado anterior direito mantinha-se igualmente ativa enquanto os voluntários tinham
alucinação e enquanto ouviam de fato o estímulo. A mesma região cerebral, contudo, não
era ativada enquanto os indivíduos apenas imaginavam que estavam ouvindo o estímulo.
De algum modo, a hipnose induziu esta área do cérebro a registrar o som proveniente da
alucinação como algo real.
A imagem mental visual, geralmente leva em conta a ativação de áreas occipitais. Mais
anteriormente, a ativação dos córtices pré-central e pré-motor foram similares ao que foi
observado durante imagens motoras, as quais podem ter participado na ativação parietal.
A ativação do córtex pré-frontal ventrolateral também foi observada em tarefas imaginadas
mentalmente nos sujeitos em hipnose. Verificou-se no grupo em estudo, que a ativação do
córtex cingulado anterior poderia refletir um efeito atencional necessário para o sujeito
internamente gerar imagens mentais (FAYMONVILLE et al., 2006).
Faymonville et al. (2006) constatou ainda que durante a indução da hipnose, praticamente
todo hemisfério cerebral esquerdo é ativado e, nas fases de sugestão, analgesia e
alucinação, existe visível ativação da porção anterior do giro do cíngulo à direita.
4. CONCLUSÃO
O trabalho fez uso de muitos livros em detrimento de artigos científicos sobre o assunto,
dada à escassez de publicações científicas na área. Consideramos que as limitações
impostas pelos métodos utilizados em neurociências atualmente dificultam a abordagem
do tema. Alguns trabalhos referidos são antigos, como um que data de 1979, o que
confirma a escassez de investigação na área. Livros ainda constituem os principais
veículos de divulgação de ideias não legitimadas pela ciência.
REFERÊNCIAS
DAMÁSIO, Antônio. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
FERREIRA, Marlus Vinícius Costa. Hipnose na Prática Clínica. São Paulo: Atheneu, 2013.
FERREIRA, Marlus Vinícius Costa. Manual Brasileiro de Hipnose Clínica. São Paulo:
Atheneu, 2013.
GIRARDI, G. Hipnose - a velha arte sai do armário. Revista Galileu, maio de 2003.
Disponível emhttp://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT530029-1940,00.html.
Acessado em 01 de agosto de 2013.
IZQUIERDO, Ivan et al. Mecanismos da Memória. Scientific American Brasil. 99-104. OUT.
2003.
KRAFT, UIrich. Iluminação Neuronal. Viver mente & Cérebro. Edição154 - nov. 2005.
SCIENTIFIC AMERICAN. Disponível em:
http://www2.uol.com.br/vivermente/conteudo/materia/materia imprimir35.html. Acessado
em: 01 de agosto de 2013.
PINCHERLE, Lívio Túlio et al. Psicoterapias e estados de transe. São Paulo: Summus,
1985.
RODRIGUES, Eleonardo Pereira. Compreendendo a dor e o sofrimento em hipnose,
psicoterapia e odontologia. In: ANGELOTTI, Gildo (org.). Terapia Cognitivo
Comportamental da Dor. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. p. 131-167.
TOLIPAN, Monica. Uma presença ausente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.