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000669-5
Ação: Ação Civil Pública/Lei Especial
Autor: Ministério Público do Estado de Santa Catarina e outros
Réu: Oi Brasil Telecom S/A
Vistos etc.
Em sede de antecipação da tutela, objetiva o autor decisão liminar que determine que
a ré restabeleça o sinal de telefonia para todos os consumidores rurais da Comarca, bem como
proceda à migração de todos os sistemas de telefonia TDMA para GSM, ou para telefonia fixa,
garantindo a qualidade e a continuidade, sem qualquer custo para os consumidores, sob pena de
multa de R$ 10.000,00, por mês, para cada consumidor identificado.
2. Fundamento e decido.
Com efeito, o artigo 82, inciso I, da Lei n.º 8.078/90 confere ao Ministério Público
legitimidade ativa para propor Ação Civil Pública para a defesa coletiva de interesses e direitos
coletivos, assim entendidos os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária, por uma relação jurídica
base, nos termos do inciso II do parágrafo único do artigo 81 do referido diploma legal.
No caso dos autos, não se está a defender direitos individuais, como sustenta a ré,
mas, sim, direitos coletivos, de acordo com a definição legal acima citada, porquanto interessa a
um número indeterminado de titulares, consumidores usuários do serviço de telefonia. Neste
ponto, deve ser ressaltado, que também devem ser considerados como consumidores todos
aqueles que, de uma forma direta ou indireta, são atingidos pela falta na prestação do serviço,
ainda que não sejam titulares de linhas telefônicas, conforme dispõe o artigo 29 da Lei n.º
8.078/90.
Por outro lado, um dos pedidos formulados pelo órgão legitimado é a condenação da
ré ao pagamento de indenização por danos extrapatrimoniais difusos.
2.2 A pretensão objetivando a concessão de liminar, por sua vez, merece acolhimento,
tendo em vista o relevante fundamento da demanda e o justificado receio de ineficácia do
provimento final, a teor do disposto no § 3º do artigo 461 do Código de Processo Civil, cuja
redação é indêntica ao previsto no artigo 84, § 3º, da Lei n.º 8.078/90, "in verbis":
"Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao do adimplemento.
(...) § 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do
provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado
o réu"(...).
Tal falha, aliás, como relatado anteriormente, é incontroversa, devendo ser presumida
como verdadeira, pois a ré não a impugnou especificamente como lhe incumbia, nos termos do
artigo 302 do Código de Processo Civil.
Nos dias atuais, em que o intercâmbio das informações por meio da comunicação
exige uma velocidade cada vez maior, o serviço de telefonia deve ser considerado essencial e
imprescindível, devendo ser prestado de forma contínua, eficiente e segura aos consumidores, a
teor do disposto no artigo 22 da Lei n.º 8.078/90.
A ré, por ser uma concessionária desse serviço público de telefonia, tem o dever de
prestá-lo observando as normas cogentes da lei consumerista, independentemente da situação
individual de cada consumidor/usuário, devendo sempre ser assegurado a este a adequação,
eficiência, segurança e continuidades necessárias às suas relações interpessoais.
Ainda que na mais longínqua localidade deve ser garantido ao consumidor um serviço
de telefonia eficaz e continuo, sendo que questões de ordem técnica não têm o condão de justificar
vício no fornecimento.
Por outro lado, não é razoável, tampouco proporcional que, no caso em apreço, a
cláusula impeditiva prevista no § 2º do artigo 273 do Código de Processo Civil, obste a concessão
da liminar pretendida na exordial, uma vez que, por sua importância, deve-se dar primazia à
efetividade do direito da coletividade em dispor de um essencial serviço de telefonia adequado,
eficiente, seguro e contínuo, em detrimento do direito da ré em aguardar uma condenação
transitada em julgado para só então cumprir com sua obrigação legal.
"(...) Há situações, porém, que o conflito dos direitos fundamentais é tão significativo, que apenas
um deles irá prevalecer, o que implicará inevitável sacrifício do outro.
(...) Em casos dessa natureza, um dos direitos fundamentais colidentes será sacrificado, não por
vontade do juiz, mas pela própria natureza das coisas. Ad impossibilia nemo tenetur. Caberá ao
juiz, com redobrada prudência, ponderar adequadamente os bens e valores colidentes e tomar a
decisão em favor dos que, em cada caso, puderem ser considerados prevalentes à luz do direito. A
decisão que tomar, em tais circunstâncias, é, no plano dos fatos, mais que antecipação provisória; é
a concessão ou denegação de tutela em caráter definitivo.
(...) Apenas em caráter absolutamente excepcional admite-se a utilização da técnica destinada à
obtenção de tutelas sumárias e provisórias para a solução definitiva e irreversível de situações
substanciais. Somente quando os valores forem de grande relevância esse resultado pode ser
obtido. O que não se aceita é a generalização da tutela sumária irreversível, tendo em vista as
garantias inerentes ao devido processo constitucional" (in Antecipação de Tutela, 2 ed. p. 98).
No mesmo sentido, doutrinam Fredie Didier Jr, Paula Sarno Braga e Rafael Oliveira:
"(...) Diante desses direitos fundamentais em choque – efetividade versus segurança -, deve-se
invocar o princípio da proporcionalidade, para que sejam devidamente compatibilizados.
Toda vez que forem constatados a verossimilhança do direito e o risco de danos irreparáveis (ou de
difícil reparação) resultantes da sua não satisfação imediata, deve-se privilegiar esse direito
provável, adiantando sua fruição, em detrimento do direito improvável da contraparte. Deve-se dar
primazia à efetividade da tutela com sua antecipação, em prejuízo da segurança jurídica da parte
adversária, que deverá suportar sua irreversibilidade e contentar-se, quando possível, com uma
reparação pelo equivalente em pecúnia". (in Curso de Direito Processual Civil, Editora Povivm:
2009, 4 ed. v. 2, p. 494).
5. Após, voltem-me os autos conclusos nos termos e para os fins do artigo 328 do
Código de Processo Civil.
Publique-se e intimem-se.