Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
GLOBALITARISMO
O geógrafo Milton Santos foi um dos poucos pensadores brasileiros realmente
preocupado com os grandes problemas em relação à população marginalizada pelo
perverso processo de globalização. Ele não era contra a globalização e sim contra o
modelo da globalização vigente no mundo atual, o qual era chamado por ele
de “globalitarismo”.
O Mundo Global Visto do Lado de Cá, é um documentário que foi produzido pelo
cineasta brasileiro Silvio Tendler, onde ele e o geógrafo Milton Santos discutem os
problemas da globalização sob a perspectiva das periferias e dos países chamados “em
desenvolvimento”. Silvio traz um cenário em que a globalização mostra toda sua
crueldade. Falas e imagens do centro e da periferia evidenciam o abismo existente entre
ricos e pobres, revelando o dinamismo do processo do cidadão protagonista dos tempos
agonizantes da globalização.
Durante o documentário, Milton se refere com frequência ao
termo “globalitarismo”, termo utilizado por ele para expressar o totalitarismo que as
nações hegemônicas impõem sobre as camadas populares, seja no âmbito econômico ou
social. Segundo o geógrafo, estamos vivendo um segundo momento da globalização,
onde se apresenta uma fragmentação dos territórios.
Ele se refere também ao humanismo como sendo o motor inicial da globalização,
que é substituído pelo consumo excessivo. Propõe novas maneiras de se combater a
informação desfigurada na maioria das vezes pela mídia. Onde a partir destas
informações, a realidade dos fatos como por exemplo: o desemprego, a pobreza e até a
miséria são vistos como algo normal. O documentário deixa claro que somos manipulados
a todo instante pela mídia, de forma que só enxergamos e ouvimos o que é transmitido
por ela. Devemos por um ponto final nesta situação, e mudar nossas concepções em
relação à sociedade consumista.
Devemos enxergar o próximo como um cidadão que possui necessidades e
carências como as nossas. Infelizmente hoje em dia não há espaço para a maioria da
população nem se quer para garantir seus itens básicos de sobrevivência.
Hoje não se vê democracia de fato e a cidadania infelizmente está se tornando uma
utopia. O que realmente existe é uma falsa democracia convocada a cada quatro anos.
Precisamos compreender que a nossa cidadania realmente tem que ser posta em prática a
todo o momento. E uma das alternativas para tal prática são os movimentos populares.
Apesar destas manifestações não mudarem todo o sistema, mudam situações, o que já é
um bom começo. O que devemos ter em mente é que a mudança deve partir de todos nós.
A história das coisas é um filme dinâmico e objetivo, que fala dentre outros
assuntos, sobre o consumo exagerado de bens materiais, e o impacto agressivo que esse
consumo desregrado acaba exercendo sobre o meio ambiente. O filme é apresentado por
Annie Leonard, e mostra de uma maneira bastante clara todo o processo que vai desde a
extração da matéria, confecção do produto, venda e ideologia publicitária, facilidade de
compra e falsa idéia de necessidade, até o momento em que vai parar nos galpões de lixo
ou incineradores. Fala também do mal que esses resíduos tóxicos presentes na confecção
e/ou incineração do produto causam não só ao meio ambiente, mas também à saúde da
população em geral. A confecção do produto depende de meteria prima, muitas vezes
encontrada em abundância na natureza, porém utilizada de maneira irresponsável, altera
não só as condições climáticas e ambientais como torna essa mesma matéria antes em
abundância, muitas vezes, escassa. Esse consumo é estruturado em uma política que se
baseia na reposição do produto, ao invés de estimular a duração. Logo os bens são feitos
com tempo de uso curto e limitado, fazendo com que de pouco em pouco tempo seja
necessária uma nova aquisição do mesmo produto, por uma versão mais “atual”. O filme
é voltado para diversos públicos, embora fique claro se tratar das especificidades de um
determinado país [no caso Estados Unidos da América, atualmente um dos países que
mais retira matéria prima e que mais estimula o consumismo nacional e internacional].
Existe também no filme, uma clara preocupação em mostrar como funciona o mecanismo
de publicidade e toda a ideologia de consumo existente por trás dessa “necessidade de
ter”. Que hoje em dia, os bens são criados para satisfazer a estética, e a aceitação por parte
da sociedade, assim, quem tem mais e quem tem o melhor, eleva-se na cadeia social,
dessa maneira, o consumismo interfere também, nas relações inter-pessoais e no status
das classes. Outro fator relevante é que esse consumo em massa e essa extração de
riquezas naturais vêem interferindo numa gradativa crescente, em questões como clima
(como um dos exemplos temos o aquecimento global), desocupação territorial por
interferência no clima ou relevo, na saúde pública, pelo aumento de substâncias tóxicas
presentes nos alimentos e produtos que utilizamos em nosso dia a dia, e principalmente,
pelo acúmulo de lixo não reciclado ou não reciclável em aterros, que contaminam o solo
e a água, ou em outro caso pior, como mostra o filme, o do lixo que é incinerado lançando
seus resíduos tóxicos diretamente no ar, aumentando a poluição, proliferação de doenças
e afetando os já citados fatores climáticos. Embora tida como utópica, a idéia para reverter
um pouco esse quadro agravante de agressão ambiental, já vem sendo implementada por
algumas grandes empresas, é a de reposição do que vier a ser extraído como matéria prima
do meio ambiente, há também quem lute pelo desligamento dos incineradores e uma
melhor estruturação do espaço reservado ao lixo, obviamente essas medidas aliadas a uma
política de uso racional de matéria prima, de preservação ambiental e estimulo de
reciclagem, gerariam resultados mais contundentes e abrangentes. Esses são alguns dos
principais fatores que serão abordados durante o documentário em questão. A história das
coisas, mostra com uma pitada de humor, os padrões de consumo impostos pela mídia e
pelas grandes empresas, e certamente nos leva a questionar o que cada um pode fazer pra
amenizar esse impacto. Vale a pena dar uma conferida!