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Do positivismo ao pós-positivismo

jurídico
O atual paradigma jusfilosófico constitucional

Ricardo Vieira de Carvalho Fernandes e


Guilherme Pereira Dolabella Bicalho

Sumário
Introdução. 1. O positivismo jurídico. 2.
O pós-positivismo jurídico. 2.1. A questão
dos valores: abertura valorativa do sistema.
2.2. Normas jurídicas: princípios e regras. 2.3.
Constituição: locus principal dos princípios. 2.4.
Aumento do foco político no Judiciário. 2.5. Al-
guns excessos de correntes extremadas do pós-
-positivismo: um alerta necessário. Conclusão.

Introdução
O neoconstitucionalismo é em essência
uma nomenclatura utilizada para informar
um novo direito constitucional, composto
por pensamentos ora coincidentes, ora até
mesmo antagônicos em relação ao constitu-
cionalismo clássico. Uma das características
do neoconstitucionalismo é estruturar-se
sobre a perspectiva filosófica do pós-
Ricardo Vieira de Carvalho Fernandes é
Doutorando em Direito pela Universidade de -positivismo1. Nesse contexto, a busca de
Brasília (UnB), Mestre em Direito Público pela uma identidade para esse pensamento
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), jusfilosófico atual é um problema que ne-
pós-graduado em Direito Público, é professor cessita de investigação mais aprofundada.
de Direito Constitucional e Direito Tributário do É essa pesquisa que se propõe no presente
UniCEUB/DF, Procurador do Distrito Federal, trabalho.
advogado e consultor em Brasília. Diante do inicialmente exposto, o obje-
Guilherme Pereira Dolabella Bicalho é Mes- tivo do presente estudo será a identificação
trando em Direito pela Universidade de Brasília
de características do pós-positivismo – pen-
(UnB), pós-graduado em Direito da Economia
e da Empresa pela Fundação Getúlio Vargas 1
Nesse sentido, ver Luis Roberto Barroso (2007, p.
(FGV), é professor de Direito Tributário do 22) e George Marmelstein (2008, p. 10-15). Este último,
Instituto dos Magistrados do Distrito Federal em que pese não utilizar o termo neoconstituciona-
(IMAG/DF), Procurador do Distrito Federal, ad- lismo, baseia sua teoria dos direitos fundamentais na
vogado e consultor em Brasília e Belo Horizonte. perspectiva do pós-positivismo.

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samento filosófico basilar, orientador, para pelo absolutismo”. E qual era o reclamo
a interpretação e concreção da legislação da sociedade: a limitação do soberano, a im-
constitucional – identificadas no pensa- posição de balizas às suas arbitrariedades.
mento de autores contemporâneos que A lei passa a ser considerada a expressão
se propõem a estudar o tema, tecendo-se máxima da soberania popular, soberania
algumas comparações entre eles. essa que é considerada o fundamento cen-
Para atingir os objetivos propostos, foi tral para a criação dos Estados modernos.
utilizada pesquisa bibliográfica em que se “O povo não poderia ser apenas o autor da
buscou identificar os trabalhos científicos Constituição, mas tinha de ser o soberano,
mais relevantes sobre o tema, com o objeti- sem se deixar travar pela Constituição. A
vo de realizar um trabalho com amplitude visão radical da soberania popular ganha
suficiente para sua utilização como revisão espaço” (MENDES et al., 2007, p. 176).
bibliográfica a demonstrar a realidade so- A representação política, nesse contexto,
cial estudada. “tem como ponto de partida a teoria da
soberania nacional e a soberania nacional
conduz a um governo representativo” (CA-
1. Positivismo jurídico
NOTILHO, 2003, p. 113). A titularidade do
Muitas vezes o direito foi responsável poder passa a ser atribuída ao povo, mas
por sacrificar um de seus grandes objeti- para o seu exercício era necessária a dele-
vos – a justiça – em nome da segurança gação desse poder aos seus representantes,
jurídica. Mas isso teve uma explicação. Na os quais seriam então os únicos legitimados
transição da idade média para a moderna, para confeccionar a maior expressão da
de meados do século XVIII ao início do sé- vontade popular – a lei. Esse pensamento
culo XIX, a sociedade reclamava limites ao foi imortalizado no art. 6o da Declaração
poder concentrado e ilimitado do soberano. francesa de 1789, o qual dispunha que a lei
Buscavam-se barreiras aos arbítrios dos reis “é a expressão da vontade geral”. E conti-
absolutistas. nuava: “Todos os cidadãos têm o direito
Os movimentos constitucionais mo- de concorrer, pessoalmente ou através dos
dernos, cuja origem remonta às criações seus representantes, para a sua formação”.
da Constituição francesa de 1791 e da Com esses fundamentos, criou-se um
Constituição dos Estados Unidos de 1787, ambiente extremamente favorável à super-
trouxeram consigo também um mito no valorização desse diploma normativo. A lei
sistema jurídico: a lei. Esse instrumento adquire, então, um novo status, nunca visto
conformador da liberdade dos cidadãos na história. A sociedade necessitava afastar
passa a ser considerado o único a legitimar a abertura do sistema jurídico aos valores
a limitação dos seus direitos. Somente a jusnaturais, uma vez que muitas atrocida-
lei válida poderia impor obrigações aos des eram realizadas em nome do Direito e
cidadãos. A lei e o primado da soberania de seus princípios naturais (religiosos ou
popular ganham tamanha importância não). Nesse contexto, buscava-se segurança
que são alçados a um patamar de dogma jurídica e objetividade do sistema, e o Direito
(MENDES et al., 2007, p. 176-180). positivo cumpriu bem esse papel.
Roger Aguiar (2004, p. 146) condensa o Essa mudança, decorrente também da
pensamento da época ao aduzir que a “co- estruturação do Estado moderno, ocorreu
locação da lei no patamar de um comando sobre três pilares. O primeiro refere-se à
estratificado, abstrato e absolutamente posição da norma positiva no sistema. Como
coercitivo atendia certamente ao reclamo dito, a lei passa a ganhar mais relevância
da sociedade da época, em repúdio aos jurídica que os postulados principiológicos,
desmandos e extravagâncias produzidos a ponto de afastar os princípios não posi-

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tivados do ordenamento, ou no mínimo 1) por valer apenas em alguns lugares, ao
retirar-lhes a força normativa. As normas contrário deste, que vale em toda parte; 2)
de conduta passam a ser adstritas à lei, a por ser mutável, enquanto este é imutável
qual passa a ser o ponto central de confor- no tempo; 3) por ter fontes distintas deste;
mação da sociedade. Com isso, os códigos 4) por ser conhecido “através de uma de-
são transportados para o centro do Direito. claração de vontade alheia (promulgação)”,
O segundo trata do modo de confecção em contrapartida a este, que é conhecido
desse diploma normativo. Antes desse através da razão; 5) porque, em seu objeto,
momento, a lei não se formava a partir de os comportamentos são por si mesmos indi-
construções teóricas, mas, sim, de um es- ferentes, “assumem uma certa qualificação
tudo dos casos concretos, fruto do legado apenas porque (e depois que) foram disci-
romano. A formulação de leis passava por plinados de um certo modo pelo direito
uma minuciosa análise dos casos concretos positivo”, enquanto neste os comportamen-
e das soluções aplicáveis aos mesmos. Na tos são bons ou maus em si mesmos; e, por
modernidade, as leis adquirem “um cará- último, 6) em face do critério da valoração
ter de abstração desconhecido em épocas das ações: aquele estabelece aquilo que é
pretéritas, passando a expressar um padrão útil, enquanto este, aquilo que é bom.
de comportamento contido em uma relação O direito natural é empurrado “para a
obrigatória entre uma hipótese abstrata e margem da história pela ascensão do po-
sua conseqüência” (AGUIAR, 2004, p. 145). sitivismo jurídico, no final do século XIX”
O terceiro é quanto à forma de aplicação (BARROSO, 2007, p. 22). O positivismo
das leis. A partir de então, a lei passa a pre- jurídico surge, então, em contrapartida ao
ver uma solução a priori, sendo aplicada jusnaturalismo com vistas a buscar a objeti-
ao caso concreto por meio de um método vidade do sistema e, para tanto, “equipara
dedutivo. Passa a ser um “comando estrati- o direito à lei” (Idem). O Direito passa a ser
ficado, abstrato e absolutamente coercitivo” produção da vontade humana a partir de
(Idem, p. 146), não permitindo soluções sua criação pelo Estado através da lei. Con-
criadas a posteriori de sua confecção, ou forme Gustavo Biscaia de Lacerda (2009),
seja, os efeitos decorrentes da aplicação da esse pensamento teve o condão de embasar
norma são conhecidos anteriormente a sua a superação do jusnaturalismo, a separação
concreção, o que atendia a uma necessidade do Direito do divino e a limitação do po-
de proteção dos indivíduos em face dos der soberano pela lei, bem como afastar a
desmandos dos soberanos absolutistas. abertura do sistema jurídico aos valores jus-
Ganha-se em segurança jurídica e objeti- naturais, uma vez que muitas atrocidades
vidade. – como a caça às bruxas, a perseguição aos
É nesse contexto que surge o positivismo cientistas, etc. – eram realizadas em nome
jurídico2 contrapondo-se ao jusnaturalismo do Direito e de seus princípios naturais
(religiosos ou não).
2
O objeto do presente estudo não se aproxima do Modernamente, é centrado nas ideias3
positivismo jurídico, o qual é trazido para seu interior
tão somente para demonstrar as peculiaridades do de Augusto Comte e tem em Kelsen e, pos-
pós-positivismo. Por isso, não há qualquer pretensão
de aprofundamento nesse campo filosófico. Para
ou escola. Todavia, para o presente estudo, com vistas
aprofundamento da origem histórica e espécies do
positivismo jurídico, ver a obra de Noberto Bobbio a não perder o foco no objeto proposto, a inclusão de
intitulada O positivismo jurídico: lições de filosofia do suas várias correntes em uma só roupagem far-se-á
direito (2006, passim). Há ainda que se destacar o necessária.
alerta de Gustavo Biscaia de Lacerda (2009) de que
3
Impende frisar que não se pretende neste estudo
o esforço de buscar um denominador comum para a o aprofundamento na contribuição de teóricos posi-
expressão positivismo é um erro em face de deixar de tivistas ou na forma como se moldam seus critérios
lado importantes aspectos particulares de cada teoria de aferição de validade da norma jurídica. A rápida

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teriormente, em Hart seu apogeu4. Comte, direito; não se confunde com a Constitui-
considerado por alguns, como Gustavo ção, que é o conteúdo estático desta norma
de Lacerda (2009), como o fundador do (Idem, p. 217-221). A norma fundamental,
positivismo, abandona a busca de causas pressuposta e dinâmica, insere-se no sen-
religiosas para centrar seu pensamento na tido lógico-jurídico de Constituição, en-
busca empírica nos próprios fenômenos quanto a Constituição vigente, em sentido
observáveis, propondo a “separação entre jurídico-positivo (Ibidem, p. 222).
Igreja e Estado”. O ponto central de sua Assim, a justiça estaria na própria lei,
obra é a tentativa de separar a religião de cabendo ao aplicador do direito aferir tão
aspectos racionais (Ibidem). somente a validade formal da norma e não
Hans Kelsen (1994), mais tarde, coroa a justiça ou correção de sua aplicação, uma
o positivismo iniciado por Comte com sua vez que a norma fundamental que valida
Teoria Pura, estabelecendo o positivismo todo sistema é condição lógico-transcen-
jurídico ou juspositivismo (LACERDA, 2009). dente, desprovida de conteúdo valorativo
Para ele, o direito deveria ser considerado (KELSEN, 1994, p. 225-228). A positivação
como tal, independente de outras ciências de uma norma que fosse identificada como
ou da moral. As fontes do Direito “têm que válida seria a forma de aferição do conteúdo
ser buscadas apenas no próprio Direito, material do direito – a verificação da validez
excluindo-se as fontes extrajurídicas, como da norma ocorre por meio de sua compatibi-
hábitos e costumes compartilhados, além lidade com a Constituição. Se determinado
de valores disseminados socialmente” conteúdo foi positivado, deve ser entendido
(Idem). O estudo do Direito deveria ser como reto e justo (KELSEN, 2000).
desprovido de valores; a moral seria ex- Em sua ótica, o conteúdo valorativo de
trínseca ao ordenamento jurídico. Ele não uma norma era dado pelo legislador, não
ignorou a carga valorativa que informa o cabendo ao hermeneuta a identificação do
fato jurídico, mas simplesmente ressaltou substrato axiológico da norma quando de
a necessidade de o fenômeno jurídico ser sua aplicação concreta. O ordenamento
analisado como tal; independentemente de jurídico, para ele, não contemplava uma
outras áreas do conhecimento. aplicação valorativa da norma, ou qualquer
É de grande importância a posição dos pauta de correção. A questão se limitava ao
valores na concepção de Direito em Kelsen. aspecto de validade da lei e não de seu con-
Para ele, a norma superior sustenta a vali- teúdo. Se fosse válida, deveria ser aplicada
dade das normas inferiores, mas até onde? conforme o legislador a concebeu. Alfonso
Esta cadeia de validade precisa encontrar García Figueroa (2009a, p. 224, tradução
o elemento de validade em uma última nossa) destaca que, para Kelsen, “o direito
norma superior (KELSEN, 1994, p. 215-216). pode ter ‘qualquer conteúdo’”, uma vez
Então, o fundamento de validade de todo o que a aferição de legitimidade tem um
sistema se baseia na norma fundamental, que caráter formal.
se mostra como o fato produtor de normas, Hebert Hart (1996) contribui com o po-
cuja essência é dinâmica, pressuposta, na sitivismo jurídico no que se refere à análise
qual todo conteúdo pode ser inserido no do critério de verificação da validade da
norma – ponto central do positivismo. Em
análise das principais teorias que ora se apresenta é seu pensamento, que ganhou a análise e
suficiente para o prosseguimento da investigação. crítica de Dworkin (2002), informa que a
4
Bobbio (2006, p. 25-130) traça os aspectos his- validade da norma passa por sua aceitação
tóricos, seus representantes e as várias correntes na
Alemanha, França e Inglaterra, mas, para o presente
como obrigatória pelo grupo por ela regido.
estudo, os três autores indicados são suficientes para Outra inovação do autor é considerar duas
demonstrar as características do fenômeno. espécies de regras: as primárias, de obriga-

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ção, dizem respeito ao que as pessoas de- aferição de sua validade, o sistema não ado-
vem ou não fazer, como formas de controle ta uma pretensão de correção. Portanto, os
social; e as secundárias, em que se inclui a aspectos morais são extrínsecos ao direito7.
regra de reconhecimento5, asseguram que as O positivismo, nas palavras de Dworkin
regras primárias possam ser criadas – se (2002, p. 27-28), pode ser resumido em três
uma norma é válida, significa que ela satis- preceitos-chave: (a) acreditar o direito como
fez aos critérios da regra de reconhecimen- “um conjunto de regras especiais utilizado
to; categorias complexas não previstas por direta ou indiretamente pela comunidade
seus antecessores. Mas continua a entender com o propósito de determinar qual o
o direito distante das questões valorativas comportamento será punido ou coagido
ou morais6. Após a sua morte, Joseph Raz, pelo poder público”, regras essas que são
seu discípulo, passa a ser o maior expoente aferidas quanto a sua validade (pedigree); (b)
vivo do positivismo jurídico. caso não se encontre uma solução dentro do
Carl Schmitt (1961) também advogou direito (conjunto de regras) para uma deter-
contra a admissão da moral na concreção minado fato, o aplicador da norma deve ir
do Direito. Na obra A Tirania dos Valores “além do direito na busca de algum outro
(título original: Die Tyrannei der Werte) de tipo de padrão que o oriente na confecção
1960, o autor defende a ideia de que não é de nova regra jurídica ou na complemen-
possível ordenar o direito e a política pelos tação de uma regra jurídica já existente”; e
valores, uma vez que estes têm uma forte (c) dizer que “alguém tem uma ‘obrigação
expressão subjetiva. Critica o crescimento jurídica’ é dizer que seu caso se enquadra
da importância de valores excludentes e em uma regra jurídica válida que exige que
de flutuação livre nos contextos jurídico, ele faça ou se abstenha de fazer alguma
político e ideológico. coisa. (...) Na ausência de tal regra jurídica
Em suma, a questão central para o posi- válida não existe obrigação jurídica”.
tivismo gira em torno da segurança jurídica, O positivismo jurídico é então enten-
enquanto o ponto relativo à justiça da apli- dido como ciência da legislação positiva, que
cação de uma norma restringe-se ao aspecto “pressupõe uma situação histórica concreta:
de sua validade, sob o prisma formal (Kelsen, a concretização da produção jurídica em
Joseph Raz, Hart – em sua visão anterior). O uma só instância constitucional, a instância
aplicador do direito não realiza a verificação legislativa” (ZAGREBESLKY, 2007, p. 33,
se os efeitos, quando da concreção, são bons tradução nossa). Seu significado supõe uma
ou ruins, justos ou injustos, há somente a redução de tudo o que pertence ao mundo
jurídico, à lei, incluindo os direitos e a justi-
5
A regra de reconhecimento é responsável ça, simplificação que concebe o trabalho dos
pela identificação de quais regras de obrigação serão
unificadas de modo a não evitar dúvidas sobre sua juristas como mero serviço da lei, com a bus-
aplicabilidade. Ela é um fato, e não uma presunção, ca pura e simples da vontade do legislador.
como em Kelsen. É uma regra secundária que informa Alfonso García Figueroa (2009a, p. 17,
como os juízes reconhecem a norma válida. Há ainda
as regras de alteração que permitem a inserção de novas
tradução nossa) aduz que o que se modifica
regras primárias no sistema e as regras de julgamento com a transposição do direito natural para
identificam que indivíduos devem julgar e qual as
regras processuais para tanto. 7
A inexistência de alguma abertura axiológica
6
Sua posição original foi revista em alguns aspec- na aplicação da norma fez com que normas
tos em face das fortes críticas de Dworkin. O exposto absolutamente injustas fossem aplicadas pelos juízes
nesse parágrafo faz parte de sua tese originária, antes sem a possibilidade de sua correção, como as já citadas
da incorporação de seu Pós-escrito à obra O Conceito de leis de Nuremberg, ou na Itália as leis facistas, ou no
Direito. A partir de então, ele aceita uma possibilidade Brasil os Atos Institucionais pós-64. Para Luis Roberto
de a regra de reconhecimento adotar algum aspecto Barroso (2007, p. 22), foram as barbáries sobre a
material, substantivo, moral, com o objetivo de evitar proteção da legalidade que promoveram a decadência
as incorreções do sistema. do positivismo após a Segunda Guerra.

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o direito positivo é o título da legitimação: Portanto, não poderiam ser vindicadas em
“já não é a autoridade dos doutores, senão juízo. Essas normas teriam uma importân-
a autoridade da fonte de produção [legis- cia “exclusivamente política ou virtual”
lador como único legitimado à produção (Idem, p. 113, tradução nossa).
jurídica]; não a verdade, senão a legalidade; O positivismo teve seus louros ao criar
não a substância, é dizer, a intrínseca jus- consistentes fundamentos para o direito se
tiça, senão a forma dos atos normativos”. estabelecer como ciência e para a efetivação
Qual seria o papel dos princípios se- da segurança jurídica e da liberdade diante
gundo essa vertente jusfilosófica? No po- dos desmandos dos reis absolutos; criou
sitivismo, os princípios têm uma natureza limites racionais aos arbítrios do poder.
supletiva ou interpretativa, diferentemente Contudo, não conseguiu encontrar soluções
da fase jusnaturalista anterior, em que eles diante da “fraqueza da norma para, em da-
poderiam regular a conduta das pessoas. dos momentos e sob certas circunstâncias,
Nas palavras de Mamari Filho (2005, p. promover e garantir a justiça” (AGUIAR,
17), a natureza dos princípios gerais é 2004, p. 151).
“eminentemente supletiva, integradora, na Fica para trás o positivismo acrítico do
medida em que se admite que o sistema de século XIX – que pregava sua vinculação
leis (positivas) é incapaz de regular todas mesmo quando existia distância entre a
as situações havidas na vida cotidiana”. representação da realidade e a própria rea-
Os princípios ainda detinham outras lidade –, que hoje só está presente como um
funções: eram utilizados para dirigir a inter- resíduo, “na opinião que, pelo inconsciente
pretação dos operadores do direito, orientar geral, têm de si mesmos os juristas práticos
o legislador e também como uma espécie de (sobretudo os juízes)” (ZAGREBELSKY,
lex legum, garantindo homogeneidade na 2007, p. 33, tradução nossa).
sucessão das leis. Dessa forma, os princípios As fortes críticas dos não-positivistas
entram nos textos legais como fonte norma- fizeram com que alguns teóricos do po-
tiva subsidiária; são inseridos nas normas sitivismo tentassem adotar sua teoria ao
positivas, bem como nos textos teóricos, mas mundo atual. Com isso, ao lado do positi-
com uma posição supletiva ou interpretati- vismo exclusivo8 de Joseph Raz, “para muitos
va. Nessa perspectiva, são verdadeiros “tapa o último positivista puro” (FIGUEROA,
buracos” do sistema (SCHIER, 2005, p. 116). 2009a, p. 201, tradução nossa), cria-se o
Zagrebelsky (2007, p. 112) demonstra positivismo débil, inclusivo9 ou includente,
claramente qual era a posição dos princí- como os de Hart10 e Luis Cruz, cuja regra
pios segundo essa corrente. As normas de de reconhecimento permite a possibilidade
princípio, contenedoras de fórmulas vagas, de abertura ao sistema moral, relativizando
referências ético-políticas, formulavam pro- o parâmetro de validade unicamente for-
messas não realizáveis no momento; escon- mal da norma11. Há ainda outras vertentes
deriam, pois, um vácuo jurídico e “produ- como o positivismo crítico de Luigi Ferrajoli,
ziriam uma contaminação das verdadeiras 8
O positivismo exclusivo, segundo Alexandre
normas jurídicas com afirmações políticas, Garrido da Silva (2006, p. 335), é aquele que não admite
proclamações de boas intenções, etc. Estas nenhuma relação conceitual entre direito e moral ou
normas não poderiam ser alegadas perante entre o direto tal como ele é e o direito tal como ele
deve ser, cujos representantes são Kelsen, Joseph Raz e
um juiz (...) [pois] aumentariam a descon- Hart (antes de se tornar inclusivo com seu Pós-escrito).
fiança no direito” (ZAGREBELSKY, 2007, 9
Sobre as diferenças entre o positivismo exclu-
p. 122, tradução nossa). Sua operatividade sivo e inclusivo, v. Alfonso García Figueroa (2009c,
p. 184-184).
como autêntico direito estaria sujeita a 10
Após a inclusão em sua obra do Pós-escrito.
uma intermediação legislativa. Ou seja, 11
Figueroa (2009b, p. 27-28) ensina que essa forma
não se portavam como direitos subjetivos. de positivismo abre-se ainda a outras nomenclaturas

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que “desenvolve uma teoria particular de Antes de prosseguir, é bom que se
direito baseada também no direito constitu- frise as diferenças entre os conceitos de
cionalizado, mas ao mesmo tempo defende neoconstitucionalismo e de pós-positivismo.
que não existe uma vinculação conceitual O primeiro é uma característica comum
necessária entre direito e moral” (Idem, p. do constitucionalismo ocidental que tem
226, tradução nossa). início no segundo pós-Guerra e apogeu na
Como lembrado anteriormente em re- contemporaneidade, enquanto o segundo é
lação às leis de Nuremberg, em nome da o embasamento da filosofia do direito para
lei o direito foi utilizado para a realização aquele. O primeiro traduz uma ideologia
de barbáries e atrocidades. O mundo não ou metodologia constitucional que abrange o
mais aceitava o império de uma lei tirâni- segundo como pilar de sustentação de al-
ca. Alguns parâmetros morais de justiça gumas de suas posições, mas com ele não se
precisavam ingressar no direito, visto que confunde; o pós-positivismo é, pois, a matriz
somente os critérios formais de validade jusfilosófica que embasa as ideias neoconsti-
não eram suficientes. Com isso, surge o tucionais. Para Barroso (2007, p. 22), “o mar-
movimento de aproximação do Direito com co filosófico do novo direito constitucional
a moral, o pós-positivismo. é o pós-positivismo”. Em outras palavras,
o pós-positivismo pode ser encarado como
2. O pós-positivismo jurídico a concepção teórica do neoconstitucionalis-
mo, pois permite repensar alguns alicerces
Um novo pensamento jusfilosófico entra jurídicos, como a teoria da norma13, a teoria
em cena para impor limites valorativos ao das fontes14, a teoria da interpretação15, etc.
aplicador do direito, com uma pretensão de Diversas nomenclaturas são utilizadas
correção do sistema (FIGUEROA, 2009a, p. para esse novo paradigma filosófico como
201-251). Decisões flagrantemente aparta- pós-positivismo, antipositivismo, neopositi-
das da justiça, como as que permearam o vismo, etc16. Há ainda versões do positi-
facismo e o nazismo, não mais poderiam
ser aceitas. A sociedade percebeu que, “se inclusão de elementos morais “desejável ou preferível
não houver na atividade jurídica um forte à exclusão, mas não analiticamente necessária” (Idem).
13
As normas jurídicas não são mais somente as
conteúdo humanitário, o direito pode ser- leis, decisões judiciais, costumes, etc.; a normatividade
vir para justificar a barbárie praticada em dos princípios reformula essa teoria.
nome da lei (...), o legislador, mesmo repre- 14
Os princípios não são mais fontes secundárias,
sentando uma suposta maioria, pode ser como previa o art. 4o da LICC, porém fontes primárias
capazes de regular condutas.
tão opressor que o pior dos tiranos” (MAR- 15
A teoria da interpretação alcança novo status ao
MELSTEIN, 2008, p. 10). Com isso, cria-se receber influência da filosofia do direito: “a tópica (e a
um ambiente propício à transformação; retomada em se pensar o estudo dos casos a partir de
juntamente com o neoconstitucionalismo, problemas neles suscitados), a hermenêutica (e todos
os métodos de interpretação conhecidos e incrementa-
surge um novo pensamento jusfilosófico: o
dos pela metodologia constitucional contemporânea)
pós-positivismo12 ou não-positivismo. e a argumentação jurídica (no tocante à justificação do
intérprete)” (MOREIRA, 2009, p. 218).
como positivismo aberto, flexível, ético, dúctil. Há 16
Há autores que argumentam no sentido de que o
ainda o positivismo corrigido de Peces-Barba. pós-positivismo ou não positivismo seria, em verdade,
12
O termo foi introduzido no País por Paulo Bona- uma variação do jusnaturalismo. Manuel Atienza
vides em 1995, na quinta edição de seu Curso de Direito (2009) é um deles; no artigo Es el positivismo jurídico una
Constitucional. Alexandre Garrido da Silva (2006, p. teoría aceptable del derecho?, mostra uma conexão entre
336) informa que o pós-positivismo ou não positivismo algumas teses jusnaturalistas e as teorias de Dworkin,
defende a ideia de que “há ou deve haver um relacio- Alexy, Carlos Nino e, em alguma medida, Ferrajoli.
namento entre o direito e a justiça (moral). Sua versão Luis Prieto Sanchís (2009, p. 423-425) qualifica expres-
forte, defendida por Alexy e Dworkin, informa que essa samente Dworkin de jusnaturalista. Alfonso García
vinculação é necessária, deve existir; por isso a nega- Figueroa (2009b) também tangencia essa conclusão
ção do positivismo. A ideia fraca ou débil considera a demonstrando dois tipos de antipositivismo: o interno

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vismo jurídico que pretendem justificar A crise do positivismo e sua derrocada
o neoconstitucionalismo, entre as quais, são evidenciados, entre outras razões, 1)
soft-positivismo17, positivismo inclusivo, flexí- pelo pluralismo e a complexidade da socie-
vel, ético, dúctil, etc. Então, duas correntes dade pós-moderna, que fazem sucumbir a
podem ser visualizadas: o neoconstitucio- ideia de completude do sistema positivo co-
nalismo pós-positivista ou não-positivista18 e dificado, e 2) pelas dificuldades de mitigar
o neoconstitucionalismo positivista19. a aplicação das normas positivas mesmo
diante de soluções absurdas ou despro-
(pós-positivismo/jusnaturalismo) e o externo (que porcionais, como no exemplo do sacrifício
critica a própria dialética que mantém positivistas e
não positivistas). A outra corrente, que é adotada no
de seres humanos na Alemanha nazista.
presente estudo, é a de que o pós-positivismo é uma O positivismo jurídico tradicional passa a
corrente eclética que pretende unir os pontos positivos não ser capaz “de explicar adequadamente
de ambas as correntes e afastar suas inconsistências. a realidade do direito” (FIGUEROA, 2009a,
É oposto ao positivismo por não sustentar a “sepa-
ração do direito com a moral e a política”; afasta-se
p. 228-229, tradução nossa).
do jusnaturalismo por ser fundado “em propostas Autores como Robert Alexy (2008b),
de incremento da racionalidade, como a festejada Ronald Dworkin (2002), Gustavo Zagrebel-
ponderação” (MOREIRA, 2009, p. 216). sky (2007), García Figueroa (2009a) e, entre
17
Apesar de Hart não ser um neoconstitucionalis-
ta, sua teoria foi adaptada após as severas críticas de
os nacionais, Paulo Bonavides (2009), Luís
Dworkin (2002). Ou seja, flexibilizou sua teoria com Roberto Barroso (2007), André Rufino do
vistas a sustentar as mudanças ocorridas no mundo Vale (2009), Humberto Ávila (2009)20, entre
jurídico contemporâneo, por isso a referência ao seu muitos outros, entendem o direito segun-
termo. Hebert Hart (1996, p. 312) utilizou o termo soft-
-positivismo em seu Pós-escrito, no sentido de a regra de
do essa nova perspectiva. Apesar de não
reconhecimento (critério de aferição da validade de uma serem linearmente coincidentes seus pen-
norma) poder “incorporar, como critérios de validade samentos, pode ser identificada uma série
jurídica, a conformidade com princípios morais ou de características comuns em suas ideias.
com valores substantivos”. Não teve a pretensão de se
juntar ao pós-positivismo, mas de responder às críticas
Segundo André Rufino do Vale (2009,
de Dworkin. Hart ainda se coloca como positivista p. 47), há um ponto de convergência entre
(inclusivo), mas já admite uma abertura do sistema os autores citados: eles “relativizam a sepa-
jurídico aos valores, ainda que bem mais singela que
os pós-positivistas. includente ou inclusiva; da mesma forma que Hart,
18
Entre eles, Robert Alexy, que concordou com a o autor espanhol entende que o critério de validação
colocação de seu trabalho na categoria pós-positivista, formal do direito deve abranger uma abertura material,
respondendo à questão formulada em entrevista reali- aproximando com isso o direito da moral. Luigi Ferrajoli
zada no Ceará em 2003, publicada na Revista Trimestral (2009) e Susana Pozzolo (2009) também são positivistas
de Direito Civil, 2006, conforme lembrado por Antônio (moderados) defensores do neoconstitucionalismo.
Cavalcanti Maia (2009, p. 9); José Antonio Seoane (apud Alfonso García Figueroa (2009a, p. 202, tradução nossa)
SILVA, 2010, p. 126) informa que Alexy é o principal aduz que, segundo o positivismo inclusivo, “é possível
representante do neoconstitucionalismo não-positivista; que a regra de reconhecimento de um sistema jurídico
Dworkin (2002, p. 35), que também é adepto dessa apresente caráter substantivo, moral”. O autor critica
corrente, pois propõe um ataque ao positivismo, para essa corrente ao destacar que a mera possibilidade de
alguns, como García Figueroa (2009a, p. 216), ele é um correção das normas jurídicas não soluciona o problema,
antipositivista; Zagrebelsky (2007, p. 33), que, apesar a qual deveria prever uma necessária correção. García
de não utilizar o termo, mostra-se um não-positivista; Figueroa (Idem, p. 202-203) vai mais além e explica que
MacCormick (2006, p. 18), que, apesar de não ser ne- existe, junto às estratégias excludentes e includentes,
cessariamente um neoconstitucionalista, declara-se um outra forma de reafirmação do ideário positivista, que
pós-positivista; entre outros. No Brasil, Luis Roberto consiste em buscar refúgio em sua própria história
Barroso (2007, p. 22), Paulo Bonavides (2009, p. 264), vinculada à busca de segurança e certeza.
George Marmelstein (2008, p. 11), André Rufino do 20
Ávila (2009, p. 26) propõe um “novo paradigma
Vale (2009, p. 42), Luís Sérgio Mamari Filho (2005, p. 18), para a discussão e aplicação das espécies normativas”,
Roger Silva Aguiar (2004, p. 152), entre diversos outros. com algumas críticas substanciais aos trabalhos de
19
Entre os quais, Luiz M. Cruz (2006, p. 9,62 et seq.), Alexy, Dworkin, Esser, entre outros. Contudo, por não
que é da corrente de que o neoconstitucionalismo pode apresentar uma oposição frontal a esses trabalhos, foi
ser sustentado pelo positivismo jurídico em sua versão incluído como pós-positivista.

112 Revista de Informação Legislativa


ração entre Direito e Moral, admitindo cri- de Josef Esser, ainda em 1961, para a dis-
térios materiais de validade das normas”. cussão24. Tanto ele quanto Karl Larenz, este
Foi visto que uma das principais críticas ao com os princípios do direito justo, tiveram
modelo positivista foi a falta de critérios va- forte influência nas ideias de Alexy. Tam-
lorativos para a aplicação da norma, a qual bém destaca que Roscoe Pound traz nítidas
favoreceu, muitas vezes, decisões distantes influências sobre o pensamento de Dworkin
da justiça ou mesmo absurdas. O pós- (VALE, p. 41). Contudo, ante a delimitação
-positivismo tenta firmar bases filosóficas do objeto do presente trabalho, a contribui-
para sanar essa problemática, com o escopo ção desses autores não será analisada.
de implementar direitos constitucionais a No presente trabalho, serão analisados
partir da verificação axiológica das normas centralmente os dois autores mais influen-
aplicáveis concretamente. tes sobre o que se convencionou chamar
Em 1967, o norte-americano Dworkin21 de pós-positivismo, Alexy e Dworkin.
foi o primeiro autor da teoria do direito A presente análise – sem a pretensão de
recente a apresentar os princípios jurídi- completude, frise-se – tomará como base o
cos de uma forma oposta ao pensamento pensamento de Alexy, por entender que sua
positivista. É o próprio autor que, ao ini- teoria é mais completa que a de Dworkin,
ciar o capítulo sobre a diferenciação entre sobretudo ao não identificar uma única
regras e princípios, demonstra de pronto resposta correta como decisão jurídica.
sua posição antipositivista ao afirmar: Para Barroso (2007, p. 22), o pós-positivis-
“quero lançar um ataque geral contra o mo é a corrente que perpetrou a “confluência
positivismo” (DWORKIN, 2002, p. 35). Um das duas grandes correntes de pensamento
pouco mais tarde, do outro lado do globo, que oferecem paradigmas opostos para o Di-
na Alemanha, Robert Alexy22 formula sua reito: o jusnaturalismo e o positivismo”. Da
teoria dos direitos fundamentais, em 1979, mesma forma, para André Rufino do Vale
também em uma visão não-positivista. (2009, p. 31) e para Manuel Atienza (2004,
Na Itália, Zagrebelsky,23 em 1992, toma a p. 309), o neoconstitucionalismo combina
mesma postura. aspectos do positivismo, do jusnaturalismo
Nesse ponto, é importante frisar que, e do realismo jurídico em uma só corrente. É,
apesar do fato de Dworkin ter se destacado pois, uma posição eclética que tenta conciliar
como o primeiro autor recente a discutir as duas correntes antagônicas anteriores.
essa temática, a reflexão sobre a posição dos Sobre a confluência das duas correntes
princípios no ordenamento não deixou de anteriores, André Rufino do Vale (2009, p.
existir anteriormente a ele. André Rufino do 33) chega a duas conclusões: 1) a complexi-
Vale (2009, p. 41-61) ressalta a contribuição dade das normas constitucionais não pode
ser explicada exclusivamente a partir do po-
21
O primeiro trabalho de Ronald Dworkin sobre sitivismo ou do jusnaturalismo, tampouco
o tema foi The model of rules publicado em 1967. Sua
teoria foi aprimorada no texto Taking rights seriously
do realismo jurídico; e 2) aspectos diferentes
de 1977. A tradução deste para o português ocorreu de cada uma das teorias são imprescindíveis
em 2002 pela Martins Fontes com o título Levando os para poder compreender as normas jus-
direitos a sério. fundamentais no fenômeno constitucional
22
Robert Alexy foi posterior; seu primeiro trabalho
sobre a temática foi publicado em 1979, Zum Begriff
contemporâneo. Assim, conclui o autor que
des Rechsprinzips, trabalho que foi incorporado à obra “a compreensão das normas de direitos
Theorie der Grundrechte. fundamentais pressupõe uma teoria ao
23
O título original de sua obra sobre o tema,
publicada em 1992, é Il Diritto mitte. Legge, diritti, 24
Pietro Sanchís (2000, p. 17) lembra que, desde a
giustizia. A tradução para o espanhol se deu sob a época das codificações, existem posicionamentos dou-
rubrica El derecho dúctil, cuja primeira edição é de 1995. trinários que informam que o direito não se compõe
Não há tradução para o português. somente de normas.

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mesmo tempo integradora – de aspectos re- norma jurídica há um plexo de valores que
levantes do positivismo, do jusnaturalismo lhe deram origem. O que não significa dizer
e do realismo jurídico – e superadora – de que direito se confunde com a moral. Miguel
tratamentos isoladamente positivistas, jus- Reale (2006, p. 42), ao expor a teoria do
naturalistas e realistas” (VALE, 2009, p. 33). mínimo ético, informa que o direito “repre-
Então, na contemporaneidade, a longa senta apenas o mínimo de moral declarado
discussão entre positivistas e jusnatura- obrigatório para que a sociedade possa
listas não tem mais razão de ser. Antônio sobreviver”. O direito é, portanto, parte
Cavalcanti Maia (2009, p. 7) aduz que o da moral, armada de garantias específicas.
pensamento jurídico contemporâneo está Todavia, existem atos juridicamente líci-
além da querela entre jusnaturalismo e po- tos que podem não o ser do ponto de vista
sitivismo jurídico25. Assim, o foco central da moral, podem ser imorais ou, no mínimo,
filosofia do direito não é mais a verificação amorais. Então, apesar de ser influenciado
de qual das teorias passadas deve prevale- pela moral – com acréscimo de garantias,
cer. O que se busca atualmente são as bases ou sanções, que lhe conferem o caráter
de uma nova teoria: o pós-positivismo. obrigatório26 –, há que se distinguir um
As principais características desse campo de direito que não se confunde com
novo posicionamento teórico podem ser a moral (REALE, 2006, p. 43). O primeiro é
identificadas, em suma, como a) a abertura deontológico enquanto o segundo é axiológico
valorativa do sistema jurídico e, sobretudo, (FIGUEROA, 2009a, p. 125).
da Constituição; b) tanto princípios quanto Mas como a moral se interrelaciona
regras são considerados normas jurídicas; com o direito? Alguns valores socialmente
c) a Constituição passa a ser o locus princi- relevantes são recepcionados pelo direito
pal dos princípios; e d) o aumento da força e, a partir de então, ganham coercibilidade
política do Judiciário em face da constata- e todas as suas demais características. Esse
ção de que o intérprete cria norma jurídica. processo se dá em regra segundo ações
Um grande desafio está lançado, o de racionais de escolha pelo legislador, as
buscar a justiça dentro de uma sociedade quais apresentam margens de decisão livre,
pluralista. Nas palavras de Inocêncio Már- ou seja, pode não haver identidade com a
tires Coelho (apud VALE, 2009, p. 21), “se a moral, como nos casos das leis injustas já
sociedade é plural, a Constituição deve ser citadas. Mesmo assim, Reale (2006, p. 33-34)
pluralista”, a qual tem na justiça seu refe- assevera que a obrigatoriedade do direito
rente principal. Esse é, em essência, o pen- vem banhada de exigências axiológicas, uma
samento central do neoconstitucionalismo, vez que os valores sociais fizeram parte da
cuja matriz filosófica será agora esmiuçada. confecção da norma jurídica, isto é, “toda
norma enuncia algo que deve ser, em virtu-
2.1. A questão dos valores: de de ter sido reconhecido um valor como
abertura valorativa do sistema razão determinante de um comportamento
Por trás de toda norma há valor. Na con- declarado obrigatório”.
figuração do dever ser positivado em uma
26
Não há espaço para longas divagações entre
direito e moral, como diferenciar a coercibilidade
25
No mesmo sentido, Alfonso Garcia Figueroa do direito e a impossibilidade de coerção da moral,
(2003, p. 197, tradução nossa) ensina que há uma ou aprofundar entre a característica jurídica de
“superação do paradigma que rege a dialética po- heteronomia e a autonomia da moral em face da
sitivismo/jusnatualismo em favor de um modelo impossibilidade de sua imposição por terceiros. Os
neoconstitucional”. André Rufino do Vale (2009, p. aspectos que serão apresentados são os considerados
32) pensa da mesma forma, pois informa que os di- estritamente necessários à análise da ampliação do
reitos fundamentais “são, simultaneamente, direitos conteúdo axiológico do direito e, mais especificamen-
positivos e direitos naturais (morais)”. te, da Constituição.

114 Revista de Informação Legislativa


É nesse sentido que Alexandre Walmott ou não valor para determinado agente. Por-
Borges (2009, p. 58) enuncia que é uma tanto, valor é relacional, depende da relação
trama de valores sociais que reflete nas do sujeito com o objeto. É nessa relação que
normas jurídicas. A coletividade expressa se descobre o que é bom, ou é justo, ou tem
opiniões comuns sobre os valores relevan- valor. Valor é a qualidade da coisa registrada
tes para si, os quais servem como funda- para uma determinada pessoa, o sujeito.
mento para a produção de textos normati- Identificar o que é bom ou justo para
vos. A produção normativa, contudo, não determinada sociedade, em seu turno, é
decorre de fatos, ou de um simples recorte exatamente aferir os valores de seus inte-
de condutas, mas antes de “uma valoração grantes. Com apoio em Pontes de Miranda,
que é estabelecida sobre os fatos”; então, Walmott Borges (2009, p. 66) conclui que os
“as normas jurídicas são decorrência de valores são “escalas de ajustabilidade – em
valorações comuns sobre fatos/condutas, relação ao mundo – dos sentimentos do su-
reputados valiosos (...) e aí a sua inserção jeito, numa escala que algo tem valor para
no ordenamento” (BORGES, 2009, p. 59). alguém, no momento em que influencia a
Dessa forma, os valores jurídicos indicam, existência de outro, torna-se a representa-
também, “as finalidades a serem alcançadas ção e ajustabilidade objetiva”. Assim, os
pelo ordenamento”, uma vez que expres- valores sociais são estimativas (valorações)
sam valores sociais como justiça, segurança, de objetos feitas por vários atores da socie-
igualdade, paz (CASTILHOS, 2009, p. 778). dade, somadas às valorações dos demais
Visto que os valores integram o di- atores. Esse plexo de valores é internalizado
reito no momento de sua constituição, é no direito, em um primeiro momento, pelo
importante a busca por um significado Constituinte/legislador. Logo, os valores
de valor para, então, verificar como ele sociais são os fundamentos do dever ser.
passa a ingressar no ordenamento, em um É sabido que o Direito é uma ciência social
segundo momento, por intermédio dos axiológica e normativa (prescritiva). Miguel
princípios. Robert Alexy, embasando-se Reale já ressaltava, em sua Teoria Tridimen-
nos ensinamentos de von Wright, afirma sional do Direito, a relação dos fatos com va-
que os conceitos axiológicos são aqueles lores e com as normas. Tanto no positivismo
que giram em torno do que é bom, do que como no pós-positivismo, não se modifica a
tem valor. São utilizados quando algo pode noção de que os valores ingressam o direito
ser qualificado como bom; “como bonito, de alguma forma27. A diferença entre as
corajoso, seguro, econômico, democrático, duas correntes, no que se refere ao ingresso
social, liberal ou compatível com o Estado de valores no sistema, é que no primeiro28
de Direito” (ALEXY, 2008b, p. 145). os valores ingressam nas normas tão somente
Alexandre Walmott Borges (2009, p. 64) por meio da atividade legislativa, ou seja, a
informa que “o valor é dado pela vivência valoração entre o que é bom ou não para
que dele temos, daquilo que é valioso”; por determinada sociedade em determinado
isso, os valores são relações de adaptação, contexto social é aferida pelo legislador. Isto
em que se estabelece o valor positivo e é, a moral é elemento externo ao direito, uma
o valor negativo. Então, reconhecer algo vez positivada não mais interage com este.
como valioso “é emitir juízo de valor sobre 27
Não se está a afirmar que os valores são intrínse-
alguma coisa, é dar valor a alguma coisa”, cos ao direito segundo a visão positivista – pois não o
de forma a polarizá-la como boa ou ruim são. Nessa corrente, os valores são externos ao direito.
(BORGES, 2009, p. 66). Relaciona-se com Contudo, no momento da escolha de qual conduta será
o complexo de sensações decorrente da permitida e qual será proibida, são os valores que dão
o norte ao legislador.
relação do sujeito com os objetos que o cir- 28
Aqui a referência é ao positivismo clássico,
cundam. Trata-se de juízo sobre se algo tem exclusivo.

Brasília a. 48 n. 189 jan./mar. 2011 115


Nesse ponto calha uma observação: o cípios para oxigenar o sistema e, com isso,
legislador não tem a obrigação de se pau- o direito passa a conter uma pretensão de
tar nesses valores para construir a norma correção29. Até mesmo as regras, sobretudo
jurídica. Pode confeccioná-la independen- as que contenham conceitos jurídicos indeter-
temente deles, pois a regra de reconheci- minados mas não somente elas, necessitam
mento não contém um referencial valora- de um juízo de valor prévio do magistrado
tivo, visto usar critério formal de validez. para a sua concreção (LARENZ, 2003, p.
Mesmo em descompatibilidade com os 406-413).
valores sociais, se a regra tiver sido posta, Com isso, o operador do direito pode
deve ser aplicada. Portanto, não é cabível identificar princípios norteados em valores
ao juiz, no momento de sua atividade de relevantes e aplicá-los concretamente, mes-
interpretação/aplicação, aferir a compati- mo que a lei não os contemple de pronto
bilidade da norma com os valores sociais. ou lhes seja contrária. Assim, é possível
O magistrado somente aplica a lei, bus- afastar determinada norma quando de sua
cando a vontade do legislador, sem verificar aplicação em concreto com o escopo de se
se ela é boa ou não, se é justa ou injusta; buscar uma solução justa. Os princípios
não há aferição do conteúdo valorativo pelo jurídicos são aceitos, então, como “pautas
aplicador da norma. A velha máxima de axiológicas, abertas e indeterminadas”
Montesquieu de que o juiz é a boca da lei se (MENDES et al., 2007, p. 121).
impõe. Com essa concepção, o positivismo Sobre o tema, o posicionamento de Luís
jurídico não foi capaz de propiciar justiça Roberto Barroso:
às relações sociais. Um vácuo de justiça “O pós-positivismo busca ir além da
entre a confecção da norma e sua aplica- legalidade estrita, mas não despreza
ção tornou-se o principal problema dessa o direito posto; procura empreender
argumentação filosófica. “Só uma forma uma leitura moral do Direito, mas sem
inacreditavelmente tosca de positivismo recorrer a categorias metafísicas. A
jurídico – uma forma que aliás foi repudia- interpretação e aplicação do ordena-
da por Herbert Hart, o maior positivista de mento jurídico hão de ser inspiradas
nosso século – poderia produzir esse tipo por uma teoria de justiça, mas não
de isolamento” (DWORKIN, 2006, p. 57-58). podem comportar voluntarismos ou
O pós-positivismo, ao contrário, cria personalismos, sobretudo os judi-
sustentação jusfilosófica para que se ciais” (BARROSO, 2007, p. 22, grifo
possam buscar parâmetros de justiça ou nosso).
equidade quando da aplicação concreta do Está posta a abertura valorativa do sis-
direito. Isso se dá com a abertura valorativa tema jurídico. Robert Alexy (2008b, p. 29),
do sistema. Nessa nova corrente, a forma ao enfatizar a necessidade de uma teoria
e o momento da inserção dos valores no dos princípios, afirma que um dos objetivos
sistema são alterados; os valores permeiam de sua pesquisa “é a reabilitação da tão
o sistema tanto no momento da confecção da depreciada teoria valorativa dos direitos
norma como durante sua aplicação. Os princí-
pios são os carreadores dos valores nessa 29
Sobre a pretensão de correção do direito,
vide artigo de Alexandre Garrido da Silva (2006,
concretização. “Aquilo que, no modelo de p. 336-340) com o título Direito, correção normativa
valores, é prima facie o melhor é, no modelo e a institucionalização da justiça que examina com
de princípios, prima facie devido; e aquilo profundidade a obra de Alexy (2005, p. 35) intitulada
que é, no modelo de valores, definitiva- La institucionalizacion de la justicia. A pretensão de
correção refere-se à possibilidade de um enunciado
mente o melhor é, no modelo de princípios, normativo ser fundamentado ou justificado, com
definitivamente devido” (ALEXY, 2008b, p. vistas a verificar se “o ato jurídico é material e
153). Assim, os valores servem-se dos prin- procedimentalmente correto”.

116 Revista de Informação Legislativa


fundamentais”. Assim, o novo pensamento ção de tudo quanto uma constituição con-
se afasta das decisões que tentam negar um tém”. As Constituições são permeadas por
mínimo de valoração quando da concreção normas-regra e normas-princípio. Para as
das normas. Não se admite mais o isola- regras é que o autor afirma não ser adequa-
mento do aplicador do direito em relação da a leitura moral, uma vez que não há que se
aos valores que respaldam e sustentam o falar em análise valorativa de uma norma-regra
direito. A leitura axiológica do direito em como a que especifica a idade mínima para
busca de ideais de justiça são admitidos e a elegibilidade de um Presidente em trinta
necessários na atual conjuntura. Decisões e cinco anos. Nesse caso a leitura moral já
desprovidas de qualquer identificação de foi feita pelo legislador.
justiça, ao argumento da pura e simples As normas-regra constitucionais carac-
vontade do legislador, não mais podem terizam-se por serem fechadas, casuísticas,
ser aceitas, sobretudo as opressoras da com reduzido grau de abstração. Quando
dignidade do ser humano. da criação dessas regras, pelo Constituinte,
Assim, a lei dá espaço aos princípios e é que se analisam e ponderam os valores
estes, aos valores. Os princípios passam ao sociais envolvidos. Com as regras, a verifi-
centro dos sistemas constitucionais e levam cação valorativa se dá previamente30. Não
consigo os valores que lhes dão sustentação. cabe, em regra, ao intérprete essa aferição,
A letra fria da lei não pode mais ser aceita porque todos os critérios para subsunção
incondicionalmente. Os valores oxigenam o do caso concreto foram objetivamente de-
sistema quando necessário; oxigenação essa lineados pelo legislador. Mais à frente será
que ocorre quando da aplicação concreta da demonstrado que, por exceção, também é
norma. Cumpre ressaltar que, como será possível a leitura valorativa das regras. Por
reforçado a seguir, a Constituição é a sede hora, essa ideia geral de que a leitura moral
natural dos princípios e, por isso, a abertura não se faz necessária à interpretação das
do sistema se dá principalmente através regras é bem-vinda. Então, a ampliação va-
dela. Não obstante, o sistema jurídico não lorativa da aplicação do direito ou a inter-
abarca os princípios somente na Carta, por pretação moral da Constituição (Dworkin)
isso o pós-positivismo se aplica também aos restringe-se, em regra, às normas abertas e
demais ramos do direito. Mas sua principal com maior abstração denominadas princí-
seara é constitucional. pios ou normas-princípio.
Para Alexy (Idem), a positivação dos di- Nesse cenário, há a inclusão, nos textos
reitos fundamentais representa “uma aber- constitucionais contemporâneos, “de vários
tura do sistema jurídico perante o sistema standards morais, na forma de princípios,
moral, abertura que é razoável e que pode valores e direitos fundamentais, já que tais
ser levada a cabo por meios racionais”. standards realizam uma plasmação jurídica
Mais à frente, ressalta que “o conteúdo de conteúdos de natureza moral nos orde-
axiológico dos princípios é mais facilmente namentos jurídicos hodiernos” (MAIA, p.
identificável que o das regras; como razões 10). É por isso que “os princípios consti-
decisivas para inúmeras regras, os prin- tucionais abriram uma via de penetração
cípios têm uma importância substancial moral no direito positivo” (Idem, p. 6).
fundamental para o ordenamento jurídico” Cumpre frisar o destaque de André
(ALEXY, 2008b, p. 109). Assim, o direito se Rufino do Vale (2009, p. 7) no sentido de
abre aos valores e se aproxima da moral. que as normas constitucionais contêm duas
Impende trazer à baila o entendimento faces; “além dos elementos deontológicos”,
de Dworkin (2006, p. 11) de que a leitura
moral (axiológica) da Constituição eviden- 30
Nisso, não há discordância entre positivismo e
temente “não é adequada para a interpreta- pós-positivismo.

Brasília a. 48 n. 189 jan./mar. 2011 117


possuem um caráter axiológico, “de conteú- A grande discussão entre jusnatura-
do valorativo”. É dizer: essas normas, além listas e juspositivistas girava em torno da
de seu caráter normativo a ser verificado relação entre direito e moral. Apesar de
no mundo do dever ser (deontológico), a pendenga entre essas correntes ter sido
apresentam um forte conteúdo valorativo apartada, essa relação é uma das ques-
(axiológico). É essa forte carga axiológica tões mais complicadas, se não a mais, da
que acarreta a inevitável submissão de sua filosofia jurídica. Mas o neoconstituciona-
aplicação aos processos de argumentação lismo modifica um pouco esse cenário, a
jurídica, conforme se verá mais à frente. Os ponto de Alfonso García Figueroa (2009a,
princípios, com sua grande carga valorati- p. 207, tradução nossa) constatar que “o
va, são os que se sujeitam de maneira mais direito já não é mais o mesmo desde que
evidente a sua interpretação/aplicação por se consumou certa constitucionalização
meio da influência dessa argumentação. do ordenamento e nosso universo moral já
Portanto, os princípios constitucionais não é mais o mesmo desde a consolidação
“constituem uma ponte entre direito e mo- de teorias construtivistas e especificamente
ral” (COMANDUCCI, 2009, p. 87). discursivas”; as transformações substan-
Gustavo Zagrabelsky (2007, p. 14-15), ao ciais experimentadas tanto pelo direito
explicar sua ideia de ductilidade constitu- como pela moral dissociaram a lógica da
cional, afirma que hoje uma Constituição discussão que era mantida até hoje. É nesse
deve basear-se necessariamente na coexis- cenário que a teoria não-positivista entende
tência de valores e princípios para não renun- a convivência entre direito e moral.
ciar a sua unidade e integração e, ao mesmo
tempo, não se fazer incompatível com sua 2.2. Normas jurídicas: princípios e regras
base material pluralista; para tanto, “exige Antes de tudo, faz-se necessário diferen-
que cada um de tais valores e princípios ciar os princípios hermenêuticos dos princípios
se assumam com caráter não-absoluto, jurídicos. Os primeiros, segundo Canotilho
compatível com aqueles outros com os (2003, p. 1161), desempenham uma função
que devem conviver”. Para ele, existiria argumentativa na busca da revelação de
somente um valor, mais precisamente um normas expressas em enunciados legisla-
metavalor, que teria caráter absoluto, qual tivos. Os segundos são os que ora serão
seja, a suprema exigência constitucional de tratados.
toda sociedade pluralista de se preservar Qual é a posição dos princípios jurídicos
como tal. no ordenamento jurídico? Essa é a pergunta
Mais adiante, Zagrebelsky (Idem, p. que os filósofos do direito tentam explicar
16-17) apresenta a aspiração de convivência na atualidade. Paulo Bonavides (2009, p.
dos princípios e valores. Apesar de parecer 288), ao respondê-la, ressalta que “não
conceitualmente impossível, por ser alta- há distinção entre princípios e normas, os
mente desenhado na prática, atualmente princípios são dotados de normatividade
se aspira não à prevalência de um só valor (...) a distinção não é como nos primórdios
ou princípio, mas à salvaguarda de vários da doutrina, entre princípios e normas, mas
simultaneamente. Os Tribunais devem, entre regras e princípios, sendo as normas o
então, buscar uma concordância prática da gênero, e as regras e princípios a espécie”.
diversidade valorativa com “prudentes Para o pensamento positivista clássico,
soluções acumulativas, combinatórias, princípios não eram considerados normas;
compensatórias, que conduzam os princí- quando muito, fórmula integradora do sis-
pios constitucionais a um desenvolvimento tema ou critério de hermenêutica. A partir
conjunto e não a um decréscimo conjunto” dos estudos dos teóricos citados acima,
(Ibidem, tradução nossa). sobretudo de Dworkin de 1967 e Alexy

118 Revista de Informação Legislativa


de 1979, o pós-positivismo logrou trazer dos princípios, que causa “um certo abuso
os princípios à sua atual configuração: de utilização nos mais variados contextos
espécie de norma jurídica, ao lado das regras. teóricos e argumentativos, segundo os mais
Foi reconhecida aos princípios densidade diversos propósitos e pontos de vista”; im-
normativa suficiente para reger diretamen- precisão essa que é verificada, sobretudo,
te as relações intersubjetivas. na interpretação de casos difíceis, em que
Os autores estudados têm um pen- os princípios são utilizados como soluções
samento comum no sentido de entender a todos os problemas de concreção do sis-
os princípios como normas jurídicas. As tema, constatação com a qual o presente
distinções e compatibilidades entre o pen- trabalho concorda. É por isso que se deve
samento de cada um deles serão apresenta- tomar o devido cuidado para não transfor-
das a seguir com o intuito de demonstrar, mar o direito em uma questão unicamente
principalmente, a coesão e proximidade nas principiológica.
linhas centrais de seus estudos. Acrescente-se ainda outro conteúdo
Para Robert Alexy (2008b, p. 87) “tan- teórico a ser verificado: a distinção entre
to regras quanto princípios são normas, princípios e regras. Nessa seara, Alexy
porque ambos dizem o que deve ser”. Os (2008b, p. 85) ressalta que “a distinção en-
princípios podem, como as regras, ser for- tre regras e princípios é uma das colunas-
mulados no plano deôntico como premis- -mestras do edifício da teoria dos direitos
sas básicas do dever, da permissão ou da fundamentais”. Esse também é um dos
proibição. São, pois, razões para regulação pontos centrais do pensamento neocons-
da conduta concreta dos cidadãos, uma vez titucional, que prima pela concretização
que estabelecem fórmulas de dever-ser. dos direitos fundamentais, bem como das
Para Dworkin (2002, p. 39), as duas espécies teorias de Dworkin (2002), Barroso (2007),
de normas podem ser entendidas como entre outros. Todavia, é relevante ressaltar
conjuntos de padrões que “apontam para a crítica de Humberto Ávila (2009, p. 26) de
decisões particulares acerca da obrigação que a “distinção entre princípios e regras
jurídica em circunstâncias específicas”. Ou virou moda”, fazendo com que o tema ga-
seja, tanto princípios como regras impõem nhe tons de unanimidade; fato que resulta
padrões de conduta aos cidadãos, caracte- em uma posição acrítica dos teóricos: “são
rizados como normas jurídicas. dessa maneira, e pronto”.
Humberto Ávila (2009, p. 25), por seu Em outra passagem, Ávila (Idem, p. 39)
turno, também entende os princípios como identifica que duas são as principais for-
normas jurídicas, posto que eles, “indire- mas de distinção entre regras e princípios,
tamente, estabelecem espécies de precisas uma forte (Alexy e Dworkin31) e uma fraca
de comportamentos”. No mesmo sentido, (Esser, Larenz, Canaris). André Rufino do
Paulo Bonavides (2009, p. 275), Paulo Vale (2009, p. 39) explica que a “tese forte
Gustavo Gonet Branco (apud MENDES defende uma diferenciação qualitativa e
et al., 2007, p. 273), entre outros. Portanto, exaustiva: as normas ou são regras ou são
dúvida não há, na atual dogmática, de que princípios. (...) A tese da distinção débil
os princípios são normas e, como tal, têm [fraca] adota uma distinção meramente
o poder de regular diretamente condutas. gradual”.
Além disso, mantêm função estruturante Canotilho (2003, p. 1160) apresenta as
do sistema, alicerçando as bases para a dessemelhanças entre regras e princípios
correta interpretação do direito. segundo as diversas visões teóricas, conju-
André Rufino do Vale (2009, p. 5) 31
Acrescenta-se que Zagrebelsky (2007, p. 109-
ressalta a irresolvida imprecisão conceitual 111) também defende a distinção forte entre ambas
acerca da configuração contemporânea as espécies normativas.

Brasília a. 48 n. 189 jan./mar. 2011 119


gadas em cinco categorias, a saber: a) grau teve inspiração no do segundo, mas Alexy
de abstração [Esser, Larenz, Borowski]: os parece ter conseguido aprimorar o trabalho
princípios são normas com grau elevado de Dworkin. Ambos distinguem regras de
de abstração, enquanto as regras possuem princípios segundo um critério qualitativo33.
abstração relativamente reduzida; b) grau A tese de Robert Alexy se estabiliza em
de determinabilidade na aplicação do caso três pilares fundamentais: a tese da oti-
concreto [Esser, Larenz]: os princípios care- mização dos princípios, a lei da colisão entre
cem de intermediação concretizadora, por eles e a ponderação como critério para sua
serem vagos e indeterminados, as regras concreção.
aplicam-se diretamente; c) caráter de funda- Para Alexy (2008b, p. 90), princípios34
mentalidade no sistema de fontes no direito são normas que “ordenam que algo deva
[Guastini, Borowski]: os princípios são ser realizado na maior medida possível,
normas de natureza estruturante com papel para dentro das possibilidades jurídicas
fundamental no ordenamento devido a e fáticas existentes”. São mandamentos de
sua posição hierárquica; d) ‘proximidade’ da otimização que podem ser satisfeitos em
ideia de direito [Larenz, Dworkin, Borowski]: graus variados, uma vez que a medida de
“os princípios são ‘standars’ juridicamente
a caracterização dos princípios como mandamentos
vinculantes radicados nas exigências de de otimização”.
‘justiça’ (Dworkin) ou na ‘ideia e direito’ 33
Alexy (2008b, p. 90) expressamente assim se ma-
(Larenz)”, nas regras a vinculação abran- nifesta. André Rufino do Vale (2009, p. 63) e Humberto
ge um conteúdo meramente funcional; f) Ávila (2009, p. 37-40) concordam que Alexy e Dworkin
utilizam uma distinção qualitativa.
natureza normogenética [Esser, Canaris, Cas- 34
O próprio Alexy (2008b, p. 109-116) tece três
tanheira Neves]: os princípios são as razões objeções ao seu conceito de princípio, mas responde a
para as regras, são as normas que estão na todas elas. A primeira objeção é de que haveria colisões
base, por isso desempenham uma “função de princípios que poderiam ser resolvidas por meio da
invalidade de um deles. Então ele argumenta que isso
normogenética fundamental”. só ocorre quando se trata de princípios extremamente
Adiante será apresentada a distinção fracos que são preteridos em todos os casos; nesse caso
forte, utilizando como marco teórico Robert esses princípios fracos são afastados do ordenamento
Alexy; as referências a Dworkin e demais diante de sua invalidação perante os demais. Os confli-
tos entre os princípios só se dão no âmbito da validade
autores servirão somente para demonstrar para retirar princípios fracos do ordenamento, como o
as similaridades ou divergências com o da segregação racial. Contudo, as colisões entre prin-
marco teórico. Consoante constatação de cípios ocorrem sempre no interior do ordenamento,
Andreas Krell (2002, p. 82), “os consti- ou seja, a colisão pressupõe a validade dos princípios
colidentes, o que reafirma sua teoria. A segunda
tucionalistas modernos [entenda-se con- sustenta que existem princípios absolutos que nunca
temporâneos] seguem em grande parte as podem ser colocados em relação de preferência com
teorias do filósofo alemão Robert Alexy e os demais. Esses princípios extremamente fortes não
do norte-americano Ronald Dworkin, que encontrariam limites jurídicos, apenas limites fáticos, o
que afastaria a lei da colisão. Em sua resposta, ele traz
dividem as normas jurídicas em regras e o princípio da dignidade da pessoa humana e diversos
princípios”. Portanto, a análise dos autores julgados do Tribunal Constitucional para relativizar
escolhidos se respalda na pesquisa das o princípio e não a regra da dignidade do homem. O
teorias originais sobre o tema. princípio da dignidade pode ser satisfeito em maior
ou menor grau. A terceira, que o conceito de princípio
Na comparação com Alexy, Dworkin32 é muito amplo, por isso inútil, pois abarcaria todo e
apresenta algumas diferenças. Cumpre qualquer interesse. Por ser a mais fraca das objeções,
destacar, porém, que o trabalho do primeiro o autor se limita a apontar a prevalência de sua teoria
sobre a de Dworkin. Alexy entende que os princípios
É o próprio Alexy (2008b, p. 91) que faz essa
32
englobam os direitos coletivos e cita diversos exemplos
consideração; na nota de rodapé no 27, informa que a do Tribunal Alemão para tanto. Dworkin, de forma
distinção por ele apresentada assemelha-se à proposta contrária, entende os princípios restritivamente, sem
de Dworkin, mas “dela se difere em ponto decisivo: englobar os direitos coletivos, os quais seriam políticas.

120 Revista de Informação Legislativa


sua satisfação depende de possibilidades Como dito, são as condições que, se-
fáticas e, também, de possibilidades jurídi- gundo a carga argumentativa que se lhe
cas. Estas delimitam o âmbito de aplicação imponha, fazem com que um princípio
dos princípios conforme as regras e princí- tenha precedência sobre o outro. É dizer: a
pios colidentes. É dizer: as possibilidades colisão de princípios fixa o seu conteúdo,
jurídicas de aplicação dos princípios são sua amplitude é dada com a aplicação em
dadas pela lei da colisão. Os princípios são, concreto dessas normas, colisão essa que
então, satisfeitos em maior ou menor grau ocorre na dimensão de peso36, para além da
a depender das limitações e possibilidades dimensão de validade.
fáticas (se os fatos se adéquam ou não à Enquanto as regras têm um caráter pri-
norma) e jurídicas (colisão potencial com ma facie diferenciado37, estatuem obrigações
outros princípios) para sua concreção. Essa definitivas, uma vez que, em regra, não são
é a tese da otimização. superáveis por outras normas. Caso um
As regras, por sua vez, “são normas que fato se subsuma a uma regra, seus efeitos
são sempre satisfeitas ou não satisfeitas. devem ser produzidos assim como nela
Se uma regra vale, então, deve se fazer estabelecidos. Seus efeitos já são conheci-
exatamente aquilo que ela exige; nem mais, dos, o que impõe uma solução definitiva.
nem menos. Regras contêm, portanto, de- No caso de conflito entre as regras, somente
terminações no âmbito daquilo que é fática duas hipóteses podem ocorrer: 1) uma é
e juridicamente possível” (ALEXY, 2008b, declarada inválida em face de outra ou 2)
p. 91). Ou seja, se ocorre a subsunção (ade- ambas continuam válidas em face da cláusu-
quação exata) do fato à regra, seus efeitos
os demais, mas, sim, uma precedência concreta ou
devem ser produzidos exatamente como relativa que se dá na concreção do Direito, foi ressal-
determinado na própria regra. Não há uma tado no julgado do Tribunal Federal Alemão BVerfGE
aplicação em graus variados, mas, sim, uma 51, 324 (345), conforme Alexy (2008b, p. 97). Noutro
aplicação completa ou total da regra. trecho, Alexy (Idem, p. 111-114) demonstra que nem
mesmo o princípio da dignidade da pessoa humana
Quanto à produção de efeitos, os princí-
tem precedência absoluta sobre os demais.
pios instituem obrigações prima facie porque 36
Alexy (2008b, p. 94) concorda com as teorias de
podem ser superadas, ou ter reduzido seu Dworkin sobre a dimensão de peso dos princípios,
âmbito de abrangência em face da colisão inclusive cita na nota de rodapé no 31 sua concordância
com esse ponto da obra Levando os Direitos a Sério.
com outro princípio – sua concreção es- 37
Alexy (2008b, p. 104) afirma que as regras as-
pecífica se dá com a delimitação de sua sumem um caráter definitivo, mas essa determinação
amplitude pelos demais princípios. São pode falhar diante das possibilidades fáticas e jurídi-
aplicáveis em maior ou menor medida a cas; isso não ocorrendo, “vale definitivamente aquilo
partir do diálogo com os demais (lei da que a regra prescreve”. Esse caráter de definitividade
de sua extensão pode, porém, ceder diante de outros
colisão). Segundo essa lei (Idem, p. 93-103), princípios. Aí está o caráter prima facie também das
se dois princípios colidem, um deles deve regras. Para se afastar o caráter definitivo de uma
ceder; em determinadas condições, um terá regra, é preciso haver duas razões de precedência ou
precedência (maior peso no caso concreto de peso: uma entre os princípios materiais, ou seja,
um princípio deve ter precedência em um caso sobre o
específico) sobre o outro. Em outras con- princípio que sustenta a regra, e outra entre princípios
dições, a solução pode ser inversa, uma materiais e formais, é dizer, deve também ser atribu-
vez que não há um grau de precedência ído peso maior àquele princípio que aos princípios
abstrata ou absoluta entre os princípios. formais que afirmam que as regras são criadas por
autoridades legitimadas e, por isso, devem ser segui-
Haverá, pois, uma relação de precedência das; os princípios formais devem ser afastados para
condicionada, que será concreta ou relativa, se retirar o caráter definitivo da extensão das regras.
e não abstrata ou absoluta35. “Em um ordenamento jurídico, quanto mais peso se
atribui aos princípios formais, tanto mais forte será o
35
Esse entendimento de que não há uma prece- caráter prima facie de suas regras” (Idem, p. 105). Esse
dência abstrata ou absoluta de um princípio sobre é o caráter prima facie das regras.

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la de exceção de uma delas (Ibidem, p. 92-93). princípios39 contêm somente fundamentos,
Com isso, as regras são aplicadas segundo os quais devem ser conjugados com ou-
uma dimensão de validade – se não houver tros fundamentos provenientes de outros
cláusula de exceção e se se verificar uma princípios para a aferição de seu conteúdo
incompatibilidade entre regras, uma delas concreto. Os princípios não estabelecem
será declarada inválida. de pronto os efeitos de sua aplicação, mas
A última face da distinção para Alexy somente condições argumentativas para
(2008b, 116-120) refere-se ao processo de tanto. Se dois princípios entram em conflito,
aplicação das normas, segundo a máxima o que tiver o maior peso ou importância em
proporcionalidade38. A aplicação dos prin- um determinado caso concreto deve ser
cípios deve se dar segundo critérios de aplicado, afastando-se o de menor peso.
proporcionalidade, nessa ordem: adequação Essa é a dimensão de peso existente entre os
(apropriação do meio para se atingir o fim), princípios.
necessidade (utilização do meio menos gravoso As regras, por outro lado, “são aplicadas
para atingir o mesmo fim) e proporciona- à maneira tudo-ou-nada” (DWORKIN,
lidade em sentido estrito ou ponderação ou 2002, p. 39)40. Quando um fato se subsume à
sopesamento, decorrente da relativização em regra, ela deve ser aplicada; caso contrário,
face das possibilidades jurídicas; os dois não gera qualquer efeito. É dizer: as regras
primeiros referindo-se às possibilidades apresentam “consequências jurídicas que se
fáticas, enquanto o último às possibilidades seguem automaticamente quando as condi-
jurídicas, a partir da medida dos demais ções são dadas” (Idem, p. 40). A subsunção
princípios em cotejo. Esta lei do sopesamen- é, portanto, o modelo adequado para a apli-
to mostra sua divisão em três passos: 1) cação das regras. No caso de conflito, dois
avalia-se o grau de não satisfação de um fatores delimitam a aplicação das regras, a
dos princípios; 2) verifica-se a importância validade e a exceção.
de satisfação do princípio colidente; e 3) A regra ou é válida ou não é. Sendo
pondera-se se a importância de satisfação válida, sua resposta ou consequência deve
do colidente justifica a não satisfação do ser aceita; não o sendo, em nada contribui
primeiro (ALEXY, 2008b, p. 594). para a decisão. O conflito entre elas, como
Visitando as teorias de Dworkin (2002), em Alexy, dá-se em uma dimensão de vali-
o primeiro a recentemente enfrentar o posi- dade. Se há conflito entre duas regras, uma
tivismo com critérios racionais, são encon- deve ser considerada inválida; para tanto,
tradas as críticas à ideia positivista de que serão considerados os critérios clássicos:
o direito é um conjunto de regras ou de leis, hierárquico, cronológico e da especialidade.
sobretudo por não compreender o processo Outro fator que possibilita que as regras
de argumentação dos casos difíceis (hard não produzam efeitos, mesmo ocorrendo
cases). Ele se declarava um antipositivista. seu preenchimento fático, são as exceções.
Para Dworkin (2002, p. 36), princípio é Mas, para tanto, as regras devem enunciar
“um padrão que deve ser observado, não
porque vá promover ou assegurar uma
39
Dworkin (2002, p. 35-46) entende que os prin-
cípios são restritos aos direitos individuais, enquanto
situação econômica, política ou social os direitos coletivos estariam na vertente por ele
considerada desejável, mas porque é uma denominada políticas. Pensamento diverso da teoria
exigência de justiça ou equidade ou algu- de Alexy (2008b, p. 114-116) de que os princípios
ma outra dimensão de moralidade”. Os podem se referir tanto a direitos individuais quanto
a interesses coletivos.
40
Nesse ponto é possível verificar divergência en-
Teoria que, segundo o Tribunal Constitucional
38
tre a teoria de Alexy e Dworkin. Para Alexy (2008b, p.
Alemão, decorre “da própria essência dos direitos 103-106), a medida ‘tudo-ou-nada’ não é uma maneira
fundamentais” e demonstra uma conexão estreita mais adequada; o modelo de Dworkin “é, contudo,
com a teoria dos princípios (ALEXY, 2008b, p. 117). muito simples”.

122 Revista de Informação Legislativa


todas as possibilidades de sua não apli- (inderrotavel) poderá seguir mantendo a
cação, vez que, se assim não o fizer, seu confiabilidade da Constituição apesar de
conteúdo “será impreciso e incompleto (...) que suas normas possam ser eventualmente
[porque] pelo menos em teoria, todas as inadimplidas por uma boa razão”. Com
exceções podem ser arroladas” (Ibidem). isso, abre-se espaço para a Constituição
Esse é um ponto de crítica de Alexy (2008b, continuar vigente e compatível com os an-
p. 104), na medida em que ressalta que as seios sociais por longo período43. Também
cláusulas de exceção não são “nem mesmo com esteio em von Wright, Figueroa (Idem,
teoricamente enumeráveis”41. p. 125) continua
Ao analisar diversos autores, entre os “Pois bem, é interessante comprovar
quais Alexy e Dworkin, Alfonso García que a axiologia pluralista da Consti-
Figueroa (2003, p. 202, tradução nossa) tuição exige no plano deontológico
informa que, aparentemente em um plano um tipo de norma especial porque
pragmático, a referida distinção parece uma axiologia pluralista (de cunho
apresentar uma concordância entre os construtivista) requer uma deontolo-
juristas, que “tem a ver com uma maior gia flexível (de cunho principialista).
determinação semântica das regras e uma Não só isso. Requer normas capazes
certa carga axiológica dos princípios”, além da de expressar ideais. A deontologia
aplicação subsunciva das regras e de uma (o tipo de norma) que requer uma
atividade de ponderação dos princípios. A axiologia (um tipo de valor) baseada
diferença pragmática parece consistir em em ideais é também especial nesse
que os princípios exigem uma maior ativi- sentido. (...) a passagem do Estado
dade argumentativa por parte do aplicador de Direito ao Estado Constitucional
do direito. de Direito supõe em boa medida a
Há ainda que se destacar que os prin- transformação de um direito deon-
cípios se propõem a uma abertura da tológico (puramente normativo) em
Constituição (e do direito) aos valores um direito axiológico (puramente
sociais, permitindo a oxigenação do siste- valorativo)”.
ma. Alfonso Figueroa (2009a, p. 119-131, Dessa forma, seria possível consignar
tradução nossa), em obra mais recente, que um valor constitucional seria algo
informa que, em um ordenamento jurí- constitucionalmente desejável, o qual se
dico que se apresenta em uma dimensão expressaria mediante os princípios. Um
axiológica pluralista [como o Brasil], “deve princípio constitucional deriva de um valor/
manifestar-se através de uma estrutura de- ideal constitucional e este deriva de um valor
ontológica especial caracterizada por certa social. Assim, existiria, na visão de Figueroa
flexibilidade, e a noção de flexibilidade se (Idem, p. 127), “uma conexão prática entre
expressa sob os Estados Constitucionais os valores e os princípios constitucionais”.
através da propriedade da derrotabilidade”. Canotilho (2003, p. 1173-1175) ainda
Essa derrotabilidade se expressa por meio assevera que a Constituição convive com
dos princípios42, se o que se propõe é “o um sistema interno de regras e princípios, em
cumprimento de um princípio (derrotá- que os princípios estruturantes contêm as
vel) e não o comprimento de uma regra diretivas básicas da ordem constitucional,
seguidos dos princípios constitucionais gerais
41
No mesmo sentido, Genaro Carrió (apud VALE, e dos princípios constitucionais específicos
2009, p. 107).
42
Refere-se ao que Alexy demonstrou ser a 43
Nesse aspecto, é só verificar a Constituição
relatividade dos princípios; diante de casos concretos, dos Estados Unidos, que prevê o mesmo princípio
cedem aos outros princípios incidentes, podendo da igualdade, mas já admitiu a teoria dos separados
deixar de ser aplicado. mas iguais.

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e das regras constitucionais. Esse sistema ciais máximos. Tornam-se, pois, as normas
não se desenvolve apenas na direção das supremas do ordenamento; convertem-se
normas mais densas para as menos densas, em norma normarum, norma das normas
ou vice-versa; mostra-se como um processo (BONAVIDES, 2009, p. 290).
de esclarecimento e condicionamento re- A evolução histórica do direito demons-
cíprocos que resultam na própria unidade tra que os códigos que outrora ocuparam
da Constituição. Há, pois, a coexistência de o locus central do ordenamento cedem
regras e princípios em uma Carta consti- esse lugar às Constituições, processo que
tucional. ocorre durante os séculos XIX e XX. Com
Enfrentada a distinção entre princípios e isso, os princípios migram dos códigos
regras, o próximo ponto é identificar como para as Constituições. Como observa Luís
os princípios ganham importância no sis- Sérgio Mamari Filho (2005, p. 18), no pós-
tema e seu deslocamento dos códigos para -positivismo os princípios “são deslocados
as Constituições. dos códigos para os textos constitucionais.
Tal mudança (do Direito Privado para o Di-
2.3. Constituição: locus reito Público) lhes garantiu terrenos férteis,
principal dos princípios possibilitando a ampliação da abrangência
Os princípios são pautas abertas oxi- de sua aplicação”.
genadoras do sistema com valores, mas A Constituição passa a ser o local pro-
não quaisquer deles, somente os mais pício para os princípios; passa ao epicentro
relevantes para toda a sociedade. São o das discussões jurídicas com a superação da
pilar central do ordenamento jurídico e, era dos códigos, irradiando efeitos sobre a
por isso, possuem forte presença no corpo atividade política e jurídica. As Constitui-
das Constituições contemporâneas. Paulo ções são centrais para o século XX e XXI
Bonavides (2009, p. 288), em conclusão de como os códigos foram para o século XIX.
sua incursão teórica sobre os princípios, George Marmelsteim (2008, p. 12) também
assevera: ressalta essa posição central dos princí-
“a demonstração do reconhecimento pios no ordenamento, bem como sua sede
da superioridade e hegemonia dos constitucional. Os princípios saltam “dos
princípios na pirâmide normativa; Códigos (...) para as Constituições, onde em
supremacia que não é unicamente nossos dias se convertem em fundamento
formal, mas sobretudo material, e de toda a ordem jurídica, na qualidade de
apenas possível na medida em que princípios constitucionais” (BONAVIDES,
os princípios são compreendidos 2009, p. 289).
e equiparados (...) com os valores, Nesse panorama, a Constituição é o
sendo, na ordem constitucional dos centro do sistema jurídico e, como tal, deve
ordenamentos jurídicos, a expressão conter os valores máximos da sociedade,
mais alta da normatividade que fun- contidos nos princípios. André Rufino
damenta a organização do poder.” do Vale (2009, p. 24) também corrobora
Os princípios têm duas características o pensamento ora exposto ao frisar que a
principais: contêm os valores que a socieda- “Constituição é marcada pela presença de
de entende como estruturantes do sistema princípios”, que constituem a positivação
e, por outro lado, servem de carreadores (expressão normativa) dos valores centrais
desses valores para o ordenamento jurídico. da comunidade e que influenciam todo o
O primeiro aspecto explica sua inserção nos ordenamento jurídico e vinculam as ativi-
textos constitucionais, visto que a Consti- dades públicas e privadas. Os princípios
tuição é o ápice do sistema e os princípios passam ao coração das Constituições (VALE,
jurídicos são construídos com os valores so- 2009, p. 281).

124 Revista de Informação Legislativa


Vale lembrar que nos códigos a posição julgador, quer cientista – não consiste em
dos princípios é secundária, ancilar. O “meramente descrever o enunciado previa-
fenômeno de deslocamento da sede dos mente existente dos dispositivos” (ÁVILA,
princípios é intrinsecamente ligado à alte- 2009, p. 32). É dizer, interpretação é ato de
ração de sua essência, sua função supletiva decisão e não de descrição de um significado
ou subsidiária, conforme o pensamento previamente dado. O intérprete constrói o
juspositivista, dá espaço à normatividade significado da norma, pois seu texto tem
dos princípios (BONAVIDES, 2009, p. 288). “un sentido todavía por precisar” (ALEXY,
A sede constitucional dos princípios não 2008b, p. 34)
impede, contudo, que eles existam fora da Humberto Ávila (2009, p. 24) acrescenta
Constituição. Há princípios jurídicos, com que a “transformação de textos normativos
força normativa, nos vários microssistemas em normas jurídicas depende da constru-
de direito público e privado, os quais são ção de conteúdos de sentido pelo próprio
específicos a cada um deles. Inserem-se nos intérprete”. É o intérprete da norma que
códigos gerais ou nas normas específicas. fixa a sua extensão e abrangência. Quanto
Mas regulam situações restritas, especí- mais abertos forem os termos das disposi-
ficas de cada um deles, como no direito ções normativas, mais nítida se mostra essa
tributário, administrativo, empresarial, etc. qualidade. Portanto, é na interpretação dos
Não obstante, os valores fundamentais da princípios, que se apresentam em regra com
sociedade, como, por exemplo, a dignida- densidade normativa, que o intérprete é
de da pessoa humana ou a presunção de mais exigido44.
inocência, estes, sim, expressa ou implici- Com isso, na atual configuração da
tamente, têm sede constitucional por meio filosofia do direito e do direito constitucio-
dos princípios que os contêm. nal, cabe ao aplicador do direito a fixação
do conteúdo das normas constitucionais,
2.4. Aumento do foco político no Judiciário sejam princípios ou regras. Além disso,
A norma jurídica não se confunde com até mesmo a identificação de princípios
o texto da norma, mas reflete os sentidos passa a ser função do intérprete, uma vez
decorrentes da interpretação de seu texto. que alguns princípios podem não ser ex-
Normas são “os sentidos construídos a pressos. Alexy (2008a, p. 109) ressalta “a
partir da interpretação sistemática de tex- desnecessidade de que os princípios sejam
tos normativos” (ÁVILA, 2009, p. 30). Os estabelecidos de forma explícita, podendo
dispositivos normativos (texto) são o objeto decorrer de uma tradição de positivação
da interpretação, enquanto a norma é o seu detalhada e de decisões judiciais que, em
resultado. Em suma, o texto da norma não geral, expressam concepções difundidas
se confunde com a própria norma, a qual sobre o que deve ser o direito”.
surge com a interpretação. A norma jurídica A atividade de interpretação de textos
se extrai, pois, do processo interpretativo. normativos deve ser entendida como um
Por isso, Eros Roberto Grau (2005, p. 26,60) processo. Esse processo, ensina André
observa que a atividade do intérprete con- Rufino do Vale (2009, p. 16-17), é dividi-
siste em construir o significado da norma. do em fases. A primeira constitui-se da
O significado das palavras não é intrínse- verificação do significado linguístico das
co ao seu signo, mas depende precisamente disposições de direito fundamental (texto),
de sua interpretação. Surge a partir da com a identificação das palavras e seus
relação do sujeito que tem a função de inter- 44
Aqui não se está fazendo referência à pondera-
pretá-la. A norma, da mesma forma, surge ção entre dois princípios, a situação vislumbrada é a
a partir de sua aplicação/interpretação. de aplicação de um único princípio sem a necessidade
Ou seja, a atividade do intérprete – quer de compatibilização com os demais.

Brasília a. 48 n. 189 jan./mar. 2011 125


significados. A segunda refere-se à identi- tos dos princípios não se mostram capazes
ficação do conteúdo das normas expressas de, sozinhos, estabelecer seu conteúdo, pois
pelos seus dispositivos (texto). A terceira têm uma característica prima facie – o con-
se restringe à configuração da norma teúdo exato de sua abrangência e de seus
como regra ou princípio. Em casos fáceis, efeitos somente se verifica quando de sua
essa fase é suficiente para a identificação interpretação e concreção. Nesse caso, é a
de respostas à interpretação; sem maiores ponderação que demonstrará, a cada caso
controvérsias interpretativas, o “significado concreto, o real conteúdo e abrangência das
das disposições normativas resta claro, fora normas constitucionais.
de dúvidas ou controvérsias interpretativas O conteúdo dos direitos fundamentais é
(zona de certeza)” (VALE, 2009, p. 16). Para retirado, primeiramente pelo Constituinte,
os casos difíceis, há uma quarta fase, na dos valores centrais para a sociedade; po-
qual o conteúdo da norma depende de uma rém, é somente em um segundo momento,
atividade interpretativa de atribuição de quando da ponderação dos princípios con-
significado à regra ou princípio a partir da correntes no processo interpretativo, que
análise valorativa do intérprete, portanto são fixados o real conteúdo e a abrangência
discricionária. de seus termos.
Esse é o procedimento que é utilizado Por isso, os estudos de Peter Häberle
para a construção do significado da norma. (2002) são de tamanha importância para o
Não mais é plausível o entendimento de direito contemporâneo. Se a Constituição
que um simples critério de subsunção é se molda em concreto, a sociedade deve
capaz de identificar o significado da nor- participar o máximo possível da discussão
ma. Não há “significado algum antes do judicial sobre sua aplicabilidade (Socieda-
término desse processo de interpretação” de Aberta de Intérpretes). A interpretação
(ÁVILA, 2009, p. 32). constitucional é uma função que cabe aos
Outro ponto é que a fixação do conteú- intérpretes formais (Estado: Legislativo,
do dos direitos constitucionais passa pela Executivo e Judiciário) e aos intérpretes
análise histórica de sua estruturação. Nesse não formais (toda a sociedade). Assim, a
cenário, a atividade dos Tribunais Constitu- sociedade deve participar do processo de
cionais é de essencial relevância, uma vez concreção dessas normas, visto que a inter-
que o conteúdo das normas constitucionais, pretação constitucional é “uma atividade
notadamente dos princípios, é delimitado que, potencialmente, diz respeito a todos.
a partir da interpretação da norma e sua (...) A conformação da realidade da Consti-
aplicação ao caso concreto. Por isso, a juris- tuição torna-se também parte da interpreta-
prudência do Tribunal Constitucional dos ção das normas constitucionais pertinentes
países que o criaram é de suma importân- à realidade” (HÄBERLE, 2002, p. 24).
cia para a delimitação da abrangência dos Nessa configuração ganha relevância
direitos constitucionais, neles inseridos os o papel do Poder Judiciário45, com ênfase
fundamentais. Como frisou Alexy (2008a, p. na função de Corte Constitucional. Cabe
43-47), os direitos fundamentais são o que ao Judiciário e à doutrina a construção de
são, sobretudo, por meio da interpretação. significados das normas (ÁVILA, 2009, p.
É a interpretação realizada pelos apli- 32). A ciência do direito evoluiu no sentido
cadores do direito, mais precisamente de entender que ao Judiciário é afeto um
pela Corte Constitucional, que delimita a
amplitude dos direitos constitucionais. O 45
Luís Roberto Barroso (2010, p. 5) fala em
supremacia judicial, entendida como “a primazia
processo de interpretação é, pois, indis- de um Tribunal Constitucional ou Suprema Corte
pensável à aferição do conteúdo exato da na interpretação final e vinculante das normas
própria Constituição. Os dispositivos aber- constitucionais”.

126 Revista de Informação Legislativa


papel muito mais relevante e criativo que formar que essa concepção “virou moda”.
a simples boca da lei. Há, pois, uma trans- Nesse contexto, a concretização do direito
ferência de poder político do Legislativo enfrenta um processo de subsunção das
para o Judiciário. Luiz M. Cruz (2006, p. 26, regras e de ponderação dos princípios em
tradução nossa) fala em “deslocamento do sua existência conflituosa, submetendo-os
centro de gravidade dos parlamentos para a padrões de peso e qualidade, não mais
os Tribunais Constitucionais”. Prieto San- de validade. Mas, como tudo em excesso,
chís (2000, p. 119-120) chamou esse fenôme- faz mal!
no de onipresença judicial. Isso somado ao Até mesmo Canotilho (2005, p. 85),
fenômeno de constitucionalização do direito e doutrinador consagrado pela defesa dos
da judicialização demonstram uma superva- direitos fundamentais, assevera críticas à
lorização desse Poder na atual conjuntura. “panfundamentalização objetivista” ou à
É por isso que se discute tão calorosamente “hipertrofia jusfundamentalista”. Se tudo
na atualidade o ativismo judicial. Mas vale é direito fundamental, então nada é real-
a constatação de Inocêncio Coelho (MEN- mente fundamental. Em relação ao pós-po-
DES et al., 2007, p. 128) de que essa opção sitivismo, a crítica também é bem-vinda. Se
juridiciarista não decorreu de uma constru- tudo se transforma em ponderação, a mar-
ção teórica ou de um projeto de engenharia gem de subjetividade se mostra tão grande
política, “antes se consolidou ao sabor da que a segurança jurídica e a objetividade do
própria experiência constitucional”. sistema desaparecem por completo. Nessa
As definições do conteúdo de princípios linha, Daniel Sarmento (2009, p. 288-301)
constitucionais como da dignidade da chega a falar em panconstitucionalização e
pessoa humana (art. 1o, III, CF), do solida- oba-oba constitucional.
rismo social (art. 1o, II, CF), da eficiência Por isso, é preciso tomar cuidado para
(art. 37, CF), entre outros, são exemplos de não alargar demasiadamente os horizontes
participação ativa da doutrina e, sobretudo, da principiologia constitucional a ponto
do aplicador do direito na formulação do de se afirmar que toda norma é princípio
exato conteúdo da norma. Princípios como e, assim, toda a Constituição pode ser
os citados, ante a sua baixíssima densidade ponderada. Uma adequada compreensão
normativa, refletem mais avidamente o do que são princípios e do que são regras
caráter conteudista do aplicador do direito. é necessária. A Carta contém princípios
Humberto Ávila (2009, p. 34) afirma que jurídicos e regras jurídicas que convivem
“a conclusão trivial é a de que o Poder em harmonia46. Cada um deles deve ser
Judiciário e a Ciência do Direito constroem entendido como tal; regras são regras, prin-
significados, mas enfrentam limites cuja cípios são princípios. Por mais que pareça
desconsideração cria um descompasso óbvio, o alerta é importante.
entre a revisão constitucional e o direito Passar por esse tema sem lembrar seu
constitucional concretizado”. grande crítico seria um impropério. A
Antes de finalizar, é preciso apresentar forte crítica de Habermas à teoria trazida
um alerta.
46
Konrad Hesse (1983, p. 48) já visualiza perfei-
2.5. Alguns excessos de correntes extremadas tamente a unidade da Constituição e a harmonia de
do pós-positivismo: um alerta necessário convivência das normas constitucionais, conforme se
observa: “a relação e interdependência existentes entre
Como visto, no quadro atual, impera os distintos elementos da Constituição obrigam a não
como uma quase unanimidade na doutrina contemplar em nenhum caso somente a norma isolada
mas sempre no conjunto em que deve ser situada; to-
a prevalência de normatividade dos prin- das as normas constitucionais hão de ser interpretadas
cípios e a distinção entre estes e as regras. de tal maneira que se evitem contradições com outras
Humberto Ávila (2009, p. 26) chega a in- normas constitucionais”.

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por Alexy diz respeito à falta de racionali- objetividade modesta para o sistema atual,
dade na tomada de decisões, ou à falta de considerando-a a que se encontra “em vigor
parâmetros racionais para o sopesamento. em boa parte do debate doutrinário atual”
A afirmação de Habermas de que a apli- e a que mostra uma razoável forma de
cação dos princípios é uma “qualificação legitimar as decisões judiciais. Com essa ob-
orientada por finalidades”, o que retiraria jetividade, seria possível tentar, ao menos
força dos direitos fundamentais diante da hipoteticamente, visualizar uma condição
escolha dessas finalidades, é respondida ideal, distante das pré-compreensões dos
por Alexy (2008b, p. 576-627) em seu posfá- julgadores, em que se pudesse verificar a
cio escrito em 2002. Segundo essa resposta, correção da decisão proferida. Segundo os
sua teoria se sustenta não por encontrar a autores, essa visão afastaria a subjetividade
resposta racional em todos os casos, o que do julgador.
é possível, mas diante da racionalidade Por fim e retomando o argumento an-
encontrada no conjunto dos casos, o que terior, há de se considerar que o sistema
“é interessante o suficiente para justificar jurídico é composto de regras e princípios,
o sopesamento como método” (ALEXY, cada qual com sua função, e não somente
2008b, p. 594). por princípios, ou seja, as normas não
Paulo Ricardo Schier (2005, p. 119) aler- são todas principiológicas, somente algu-
ta que, se um sistema em que só existam mas delas são. Schier (2005, p. 120) ainda
regras é temeroso pela baixa capacidade ressalta que “a exacerbação do processo
de ajuste e evolução, um sistema forma- de principiologização não pode atingir o
do apenas por princípios “também seria ponto de tornar tudo ‘subjetivo’ (no sentido
indesejável diante da baixa densidade arbitrário)”.
normativa que teria, determinando, des-
tarte, uma espécie de corrosão da própria ocupa parte do espaço entre a forte e a subjetividade.
Segundo ela, “o que parece ser certo para a maioria da
normatividade constitucional”. O sistema comunidade determina o que é certo” (COLEMAN;
atual, em face do processo de ponderação LEITER, 2004, p. 379). O problema dessa objetividade,
(sopesamento) da interpretação/criação/ que pode decorrer de um sistema eminentemente
aplicação da norma, ganha em justiça, por principiológico, é que ela “é essencialmente antir-
realista; como nega que o mundo seja exatamente
permitir uma proximidade com os valores como qualquer pessoa considera que seja”, pois “os
socialmente relevantes, mas perde em indivíduos não são a medida de todas as coisas, mas
objetividade; o que necessariamente resulta suas práticas coletivas ou convergentes são” (Idem,
em aumento de subjetividade, até porque o p. 380). Com isso, cai-se no problema da hegemonia
da maioria dominante, o que não é admissível em
processo de ponderação tem um grande uma sociedade pluralista. A objetividade modesta,
viés subjetivo. desenvolvida pelos autores, oferece um critério para
É diante desse cenário que Coleman avaliar se a decisão judicial é legítima ou justificável,
e Leiter (2000, p. 399-418)47 defendem a pois segundo ela, “o que parece certo ‘em condições
epistêmicas ideais’ determina o que é certo” (Ibidem,
47
Sobre a objetividade do direito, ver Coleman e p. 396). A questão primordial dessa objetividade é sua
Leiter (2004, p. 378-418), artigo em que são apresenta- colocação em condições ideais, para nesse contexto se
das as formas de objetividade do sistema jurídico. No avaliar a correção da decisão judicial. “A objetividade
subjetivismo, cada indivíduo é a medida de todas as modesta reconhece a possibilidade de que todos po-
coisas, situação que é temerária para a ciência jurídica, dem estar errados quanto ao que uma norma exige;
diante da necessidade de se saber o que esperar das o que parece certo, mesmo para todos, quanto ao que
normas. Logo, a ciência jurídica busca a objetividade uma norma exige pode não estar certo. Apenas o que
do sistema, objetividade essa que pode ser forte, mí- parece certo para indivíduos colocados em uma po-
nima ou, como querem os autores, modesta. Segundo sição epistemicamente ideal determina o que é certo.
a primeira, o que “parece certo” nunca determina o (...) torna a existência e o caráter dos fatos de vários
que “é certo”, uma vez que nunca depende do que os tipos dependentes de nós, mas não de nossas crenças
humanos consideram ser (mesmo em condições ide- e evidências efetivas ou existentes” (COLEMAN;
ais), seria um objetivismo platônico. A objetividade mínima LEITER, 2004, p. 379).

128 Revista de Informação Legislativa


Essa crítica tem o objetivo de demons- nal pelo aplicador do direito...) é proposto
trar que também essa forma de ver o direito com o escopo de buscar compatibilidade
precisa de um olhar sereno e crítico dos do sistema jurídico com os anseios sociais,
cientistas jurídicos para que não se permita sobretudo nas questões difíceis.
sua corrosão – como ocorreu com o positi- Muitos critérios tem sido apresentados
vismo clássico. para a solução dessas questões difíceis
como a tese da única decisão correta de
Dworkin, a tese de Alexy que engloba a
Conclusão
otimização (princípios como mandamentos
A maneira de pensar o direito mudou. de otimização a serem realizados na maior
Diversos foram os fatores que desencadea- medida possível), compatibilizada com a lei
ram essa mudança, entre eles identificam-se da colisão e com os critérios de ponderação
os massacres de seres humanos na segunda como uma pretensão de correção do direito, as
grande guerra, o pluralismo e a comple- teses argumentativas de MacCormick, entre
xidade da sociedade contemporânea, a diversas outras. Mas o presente trabalho
derrocada da pretensão de concretude dos não teve a pretensão de esgotar o tão dis-
códigos, a concreção de normas formal- cutido tema do novo paradigma filosófico
mente válidas que levavam a resultados do direito constitucional.
materiais absurdos, entre outros. Para a delimitação do objeto, não foram
O positivismo não mais foi capaz de nele contempladas as discussões ressal-
construir uma resposta lógica para as tadas no parágrafo anterior quanto aos
questões jurídicas contemporâneas, prin- critérios para a busca de respostas racionais
cipalmente as mais complexas ou difíceis. na aplicação desse modelo, solução que
A justiça, em muitos momentos esquecida, parece estar na argumentação jurídica –
não mais pode ser deixada para segundo mas isso é tema para um próximo estudo.
plano. A sociedade exigiu a compatibiliza- Neste, buscou-se a apresentação do pós-
ção da segurança jurídica (ponto forte do -positivismo como parâmetro filosófico
positivismo jurídico) com a justiça (ponto para o neoconstitucionalismo, destacando
de busca incessante do pós-positivismo, suas diferenças em relação ao positivismo
sem o esquecimento daquela). e, sobretudo, suas características.
Com isso, surge um novo pensamento Por último, foram apresentados alguns
jusfilosófico denominado pós-positivismo, alertas em relação a possíveis excessos
o qual é a base estrutural do pensamento de correntes extremadas que defendam o
constitucional atual, o neoconstitucionalis- pós-positivismo sem uma reflexão crítica
mo. O novo constitucionalismo é estrutura- necessária à contenção do pensamento
do filosoficamente, então, sobre os pilares jurídico que possa sustentar a onipotência
do pós-positivismo. de qualquer dos Poderes do Estado.
Os valores ingressam no sistema jurí-
dico, por intermédio dos princípios, com
o intuito de permitir a tomada de decisões Referências
com base em parâmetros de justiça. Mas a
fixação de critérios lógicos e racionais para AGUIAR, Roger Silva. O positivismo e o pós-positi-
vismo na criação e aplicação do Direito civil brasileiro.
a tomada de decisões nos casos difíceis é
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uma das críticas mais correntes em relação da pós-modernidade. Niterói: Impetus, 2004.
ao modelo apresentado. O modelo pós-
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