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Apesar de ter sido vista como item de luxo na sua origem, a fotografia se
difundiu de maneira estrondosa nas últimas décadas. Estudos realizados por uma
das maiores empresas digitais do mundo, o Google, apontam 1,2 bilhão de fotos
são postas todos os dias em sua plataforma. E boa parte deste número se deve a
presença, e porque não dizer, o protagonismo que os smartphones alcançaram na
vida das pessoas. Atualmente, é possível registrar desde desastres naturais a
selfies 1despretensiosas em eventos e postá-las instantaneamente por meio das
mídias sociais, como o Facebook2 e o Instagram 3.
A existência de tantas imagens nos meios digitais faz com que nós
tenhamos que despender cada vez mais atenção para captarmos as mensagens
que estão sendo passada por meio das fotografias. De 1839 até hoje, quase
duzentos anos após a invenção da fotografia, “praticamente tudo foi fotografado,
ou pelo menos assim parece”.
A chegada das câmeras digitais fez com que o preço para se tirar uma foto
caísse drasticamente, já que ela dispensa os filmes e por vezes o registro nem
mesmo é impresso, passando a habitar exclusivamente no âmbito digital.
Consequentemente, a popularização da fotografia trouxe novas interpretações do
1 Selfie é uma fotografia, geralmente digital, que uma pessoa tira de si mesma.
3 Instagram é uma rede social online de compartilhamento de fotos e vídeos entre seus
usuários, que permite aplicar filtros digitais e compartilhá-los em uma variedade de serviços de
redes sociais.
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olhar e uma nova maneira de registrar os momentos. Não é raro presenciamos
acidentes de trânsito em que fotojornalistas precisam driblar as centenas de
câmeras que se levantam em meio à multidão ávida por registrar e compartilhar
aquele momento. Em seu texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade
técnica”, Walter Benjamin aborda a questão da reprodução artística, que sempre
esteve presente na história da humanidade. Para o autor a criação artística
humana pode sempre ser imitado de alguma forma por outros indivíduos, é isso
pode ser aplicado principalmente quando câmeras profissionais disputam a
mesma foto com smartphones. O mesmo tipo de ação acompanha a raça humana
desde os tempos mais primórdios, quando discípulos imitavam a criação de seus
respectivos mestres e posteriormente terceiros passaram também a dominar a
maneira de produzir e que passam a explorar os meios de produção.
Como participante ativo do cenário atual, o fotógrafo não sai ileso das
alterações que a evolução tecnológica traz. A criação das câmeras cada vez mais
leves e com capacidade de captar detalhes fazem com que o profissional precise
estar sempre conectado aos lançamentos que as grandes marcas fazem e que
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modificam a maneira de produção e disseminação de imagens. O advento da
internet e o surgimento dos smartphones 5 impulsionam a circulação de imagens,
principalmente nas redes sociais. Seja de eventos sociais e pessoais, ou até
mesmo em acontecimentos maiores, como acidentes, guerras e catástrofes
naturais, a figura do “eu repórter” tem sido cada vez mais presente.
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Coletivos como Jornalistas Livres e Mídia Ninja são os principais
expoentes deste movimento. No caso da Mídia Ninja, o movimento ganhou
repercussão nacional quando passou a cobrir os protestos contra o aumento da
passagem de ônibus em São Paulo, que evoluíram para as grandes
manifestações de 2013 que foram marcadas pela presença maciça de
interessados em realizar a cobertura dos acontecimentos de maneira
independente. Ferramentas como o Facebook, Instagram e Twitter 7são os
principais meios de propagação das imagens produzidas.
3 - Fundamentação da imagem
7 Twitter é uma rede social e um servidor para microblogging, que permite aos usuários enviar
e receber atualizações pessoais de outros contatos, por meio do website do serviço, por SMS e
por softwares específicos de gerenciamento.
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O que resulta disso não é só uma imagem, mas um objeto
único, autêntico e, por isso mesmo, solene, carregado de certa
sacralidade fruto do privilégio da impressão primeira, originária,
daquele instante santo raro, no qual o pintor pousou seu olhar
sobre o mundo, dando forma a esse olhar num gesto
irrepetível. (Lucia Santaella)
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suporte é baseado em fenômenos químicos ou eletromagnéticos que estão
preparados para a qualquer momento ser exposto à luz.
O resultado da captura analógica é o negativo, que paradoxalmente é
formado apenas por sombra, “rastro escuro à espera de luz que só será
restituída na revelação”. O próprio processo de revelação é categorizado por
Santaella como “a diferença, o hiato, a separação irredutível entre o real,
reservatório infinito e inesgotável de todas as coisas”.
Existe uma divisão clara no paradigma fotográfico, que fica entre o
negativo e as imagens impressas. O próprio negativo funciona como
armazenamento, ao contrário do que se pensa sobre a impressão propriamente
dito. Em suma, a passagem do paradigma pré-fotográfico o armazenamento
deixa de ser único, já que a reprodução se tornou possível com o advento do
negativo, que é passível de ser revelado a qualquer momento, além de ganhar
durabilidade.
O que se plasma na pintura é o olhar de um sujeito. O que a
foto registra, por seu lado, é a complementaridade ou o conflito
entre o olho da câmara e o ponto de vista de um sujeito. O que
se tem nas imagens sintéticas, por outro lado, é um olhar de
todos é de ninguém, pois a simulação numérica exclui qualquer
centro organizador, qualquer lugar privilegiado do olhar,
privilegiado do olhar, qualquer hierarquia espacial e temporal.
(SANTELLA)
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natureza, a imagem fotográfica oferece-se à observação, produzindo como
primeiro efeito no receptor a aquiescência do reconhecimento”.
Em suma, o paradigma fotográfico é caracterizado por Santaella como
“universo instantâneo, lapso e interrupção no fluxo do tempo”.
Com os recentes avanços tecnológicos, principalmente no que tange a
tecnologia da informação, chegamos ao terceiro paradigma, o pós-fotográfico
ou gerativo. Neste meio estão englobadas as imagens que são produzidas por
meio de uma matriz numérica, ou seja, algoritmos que são códigos que são
interpretados por computadores, que por sua vez, geram imagens por meio de
seus monitores.
Enquanto no paradigma fotográfico a divisão é sempre diádico, o pós-
fotográfico se organiza de maneira triádica. As mudanças que a entrada da
infografia8 no universo das imagens é objeto de estudo de diversos teóricos. O
que podemos afirmar é que a sua chegada deslocou o epicentro da imagem
ótica, que vinha desde os primórdios da câmara escura no Renascimento e a
perspectiva monocular desenvolvida entre os séculos XIX e XX.
Diferente das duas outras fases, agora a imagem não depende mais de
um suporte artesanal ou de um processo físico-químico, combinado com a
mecânica das câmeras fotográficas, a partir de agora o que vemos são
imagens que combinam o computador e uma tela de vídeo, sendo
acompanhados por um sistema abstrato, modelos, programas e cálculos.
Na nova ordem visual, na nova economia simbólica instaurada
pela infografia, o agente da produção não é mais um artista,
que deixa na superfície de um suporte a marca de sua
subjetividade e de sua habilidade, nem é um sujeito que age
sobre o real, e que pode até transmutá-lo através de uma
máquina, mas se trata agora, antes de tudo, de um
programador cuja inteligência visual se realiza na interação e
complementaridade com os poderes da inteligência artificial.
(SANTAELLA)
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organizam por meio de coordenadas determinadas pelo algoritmo do
computador. Santaella define “o pixel 9é controlável e modificável por estar
ligado a matriz de valores numéricos”. Isso nos leva a começar a refletir sobre
a “perpétua metamorfose” que a imagem passa a estar suscetível a sofrer, já
que ele pode ser retrabalhado.
Apesar da iconicidade e da sensibilidade que as imagens infográficas
têm, o processo do qual elas resultam é abstrato em seu âmago. Santaella
destaca três pontos sobre a produção de infografias: o primeiro deles é o
trabalho do programador, que constrói o modelo de um objeto numa matriz de
números, algoritmos ou programas. Em segundo lugar vem a própria matriz
numérica, que deve ser alterada de acordo as configurações de cada algoritmo
e em último lugar o computador, que interpretará todos os pontos e os
transforma em pontos visíveis. As leis da lógica são facilmente aplicadas as
imagens infográficas, enquanto as demais são mais ligadas a materialidade.
Para infografia a aparência, nem mesmo o rastro de luz deixado pelos
objetos, mas o comportamento que eles podem adquirir, além de suas
funcionalidades.
O que muda com o computador é a possibilidade de
fazer experiências que não se realizam no espaço e tempo
reais sobre objetos reais, mas sim por meio de cálculos, de
procedimentos formalizados e executados de maneira
indefinidamente reiterável. (SANTAELLA)
9 ponto luminoso do monitor que, juntamente com outros do mesmo tipo, forma as imagens na
tela.
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4 - Fotografia digital
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É preciso deixar claro que a manipulação não é exclusividade da
fotografia digital. Desde os primórdios a fotografia já foi alvo de modificações
“por motivos publicitários, políticos e estéticos. O autor cita o exemplo da
exposição “As Fotos Que Falsificaram a História” que foi organizada em 1986
pelo jornalista Alain Jaubert em Paris, e que trouxe quase uma centena de
fotos de figuras históricas como Fidel Castro, Lênin, Trotsky e Pinochet.
Uma das hipóteses levantadas pelo autor é que a realidade refletida
pelas fotografias seja tão inválida que com o tempo até nossos documentos
não terão mais que carregá-las.
5 - O que é midiativismo?
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ganham espaço e por meio de serviços de streaming como a twittcam12,
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periscope e fotos postadas por meio das redes sociais. Júlio Valentim explica
isso no trecho:
11 Streaming é uma forma de transmissão de som e imagem (áudio e vídeo) através de uma
rede qualquer de computadores sem a necessidade de efetuar downloads do que está se
vendo e/ou ouvindo, pois neste método a máquina recebe as informações ao mesmo tempo em
que as repassa ao usuário.
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seguidores em sua página oficial no facebook, e os Jornalistas Livres, que na
mesma data possuía 895.401.
Em uma primeira análise, o número de pessoas propensas a serem
alcançadas pelas publicações realizadas por elas parece expressivo, mas
quando analisamos os números divulgados pelo IBGE em 2015 que
demonstram que 97,1% dos lares brasileiros possuem pelo menos um aparelho
televisor. A mesma pesquisa apontou que em apenas 57% dos brasileiros
tinham acesso a internet em 2016. Isso demonstra a hegemonia que os
veículos tradicionais ainda têm no cenário midiático nacional.
O autor John D. H.Downing, classifica a internet como uma “esfera
pública global que tem por características a liberdade e a anarquia, já que se
vê livre dos mecanismos opressores dos quais a grande mídia faz parte. Desta
maneira, podemos afirmar que de uma maneira geral o midiativismo online se
posiciona em sintonia com a definição do autor, já que ele se apropria do
espaço público, seja ele virtual ou físico.
É o caso das grandes manifestações que aconteceram no país desde
2013. centenas de milhares de pessoas insatisfeitas com as mais diversas
pautas se unem por meio destes canais, que demonstram capacidade de unir
pessoas e fomentar a discussão de ideias, além da publicação de conteúdos
multimídia, incluindo o fotográfico, que é produzido de maneira colaborativa.
“Através da internet e das redes sociais, estas mídias garantem uma
distribuição massiva que tende a ultrapassar as redes de ativistas e, por vezes,
se colocar no grande circuito informacional por meio de suas funções pós-
massivas.” (Thiago D’angelo Ribeiro Almeida)
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posteriormente contra a realização da Copa das Confederações e Copa do
Mundo no Brasil, competições que à época estavam marcadas para serem
realizadas respectivamente em junho de 2013 e junho de 2014. Desde o início,
a cobertura se deu pela internet, com o uso de ferramentas de transmissão de
vídeos online e a publicação de fotografias. No facebook, a Mídia Ninja se
define assim em 12/11/2017:
Somos a Mídia NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e
Ação). Uma rede de comunicadores que produzem e
distribuem informação em movimento, agindo e comunicando.
Apostamos na lógica colaborativa de criação e
compartilhamento de conteúdos, característica da sociedade
em rede, para realizar reportagens, documentários e
investigações no Brasil e no mundo. Nossa pauta está onde a
luta social e a articulação das transformações culturais,
políticas, econômicas e ambientais se expressa.
(https://www.facebook.com/pg/MidiaNINJA/about/ acesso em
12/11/2017)
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midiativistas. Em suma podemos definir desta forma “a cobertura colaborativa
tem sua genealogia quando determinado acontecimento público é transformado
em fato jornalístico pelo trabalho de engajamento coletivo dos perfis nas redes
sociais.” (MALINI & ANTOUN, 2013, p. 247)
A forma com que estes dois veículos se financiam também se
assemelha, já que ambos dependem de doações que são realizadas por
internautas que acessam seus respectivos portais e decidem colaborar o
financeiramente com a estrutura.
Figura 1:
15 CLT: Consolidação das Leis Trabalhistas criada ainda durante o governo Getúlio Vargas.
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Figura 2:
Figura 3:
Fonte:https://www.face book.com/pg/MidiaNIN
JA/ (acesso em 12/11/2017)
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Figura 4:_
Fonte:https://jornalistaslivres.org/2017/04/usp-na-greve-geral-de-28-de-abril/ (Acesso em
12/11/2017
Figura 5:
Figura 6:
Fonte:https://jornalistaslivres.org/2017/04/usp-na-greve-geral-de-28-de-abril/ (Acesso em
12/11/2017
Figura 6:
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https://www.instagram.com/p/BTb1hiiBptd/?hl=pt-br&taken-by=jornalistaslivres (Acesso em
12/11/2017)
Figura 7:
Fonte:
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