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Que dizer da fotografia senão que, atualmente, ela nada mais é que nada?
”Basta eu te fotografar e comparar as fotos com a minha inteligência de fotógrafo, que você,
fotografado, dirá: …”.
Porque a fotografia nada é! E caso o fosse, não o seria. Afinal, não pode o não existente ter o
predicado da existência.
Amo me exercitar. Com uma perna, leio; com outra, escrevo. Coloco as duas em movimento,
chamo as vizinhas de cima para o rolê e pronto: estou vivendo!
E até na da felicidade.
Mas com a fotografia eu não me meto. Mexo as pernas, mas não mexo com ela.
Um dia resolvi seguir a praxe e compartilhar com os outros o meu escovar de dentes, o meu café
da manhã, o meu exercício matinal… Só não queria ter registrado o levantar com o pé esquerdo.
Um elefante indiano tinha acordado no mesmo horário que eu, preparado seu café com os
mesmos ingredientes e artefatos que os meus e o pior: usado a minha escova nos seus dentes.
Foi assim que corremos a manhã inteira juntos, eu e Raj, e descobrimos, ao postarmos nossa
foto no Instagram, que todas, absolutamente todas, as pessoas no nosso celular eram Isaias e
elefantes; melhor: Isaia’s e Raj’s.
Como não lembrar de Cristo quando da Tentação? Não à toa o episódio famoso como A
Negação.
Mas o Instagram me revelou não ser preciso Jesus para se chegar ao Pai. Esqueça do
cristianismo, do judaísmo, Maomé. Agora o religamento é com tudo e a todos.
Mais que uma angústia pela constatação do nada, uma certa coceira pela constatação de nada.
Que nada! Quem fala em infelicidade quando o assunto é fotografia, não quer nada com nada…
Mas para não dizerem que eu nada falei porque do nada falei, um probleminha:
Que dizer da fotografia senão que, atualmente, ela nada mais é que nada?