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NARA
Essa não sou eu. Nunca foi. Não importa. Não me faz diferença. Existe uma
constante em mim, uma constante de fugas disfarçadas. Eu me mascaro. As minhas
máscaras são sinceras quando eu realmente me mostro, me permito, me deixo ser o ser.
E não ser o corpo. Não ser o cabelo. O enclausuramento dentro desses padrões da
sexualidade, da beleza estética, da organização familiar me fizeram perceber que eu
tenho medo da liberdade. Já deixei de muita coisa por isso. Até que resolvi explodir a
liberdade. Coloquei 20 kilos de TNT e taquei fogo, pra ver se no caminho, eu encontro
pedacinhos dela. / Eu sempre quis expressar isso de um jeito muito piegas, e então eu
pensei em muitas coisas, mas essa música foi a que mais me tocou. (Canta “Chegadas e
partidas”) Isso não é um monólogo sobre mim e a minha dificuldade de falar com você.
Eu tô intacta aqui. Todos saltaram, se jogaram no abismo e eu tô inteira. Descansada.
De rosto limpo. Tô aqui ainda. Vocês me veem. Isso é real. Mas não adianta. É uma
pena. Mas de mim vocês não vão arrancar nada. É assim que eu me despeço. Sozinha e
sem ter contado tudo que deveria. E vocês, sem ter dito. Passamos tanto tempo juntos
aqui e você não me disse nada. E eu também, fiquei aqui falando sem ter dito. É, sem ter
dito. Eu disse tantas coisas! Construí tantas frases! É assim que eu me entrego, ou pelo
menos como consigo me entregar. Deixando pedacinhos de mim em lugares que eu
quero. Até hoje eu sonho.