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Boletim da Sociedade das

Ciências Antigas
Publicação da Sociedade das Ciências Antigas — Todos os Direitos Reservados

Volume 1, edição 1 Abril de 2010

Primeiras Palavras

M uitos visitantes, estudantes ou integran-


tes da Sociedade das Ciências Antigas
(SCA) nos têm solicitado com insistência, a
ção da Luz Divina é a essência deste trabalho.

Todo caminho de evolução e de aperfeiçoa-


publicação de um Boletim com artigos contidos mento segue a mesma trilha: Purificação,
em nosso site, na forma em que era distribuído Iluminação e União com o Criador, desta
Nesta edição:
há cerca de 25 anos o nosso forma nosso trabalho deve trazer a tona os
Boletim ARCANUM. três pilares centrais de certas escolas: Fé,
Esperança e Caridade.
Hoje, realizamos este pedido e lançamos o
O Mestre “Boletim da Sociedade das Ciências Antigas” É preciso ter vontade, paciência e nunca co-
2
Philippe de Lyon que conterá de forma inte- locar nada e ninguém acima
gral material publicado em de nós mesmos a não ser o
nossa homepage. Criador.

O Grande Arca- O Boletim da Sociedade das Conhecer-se a si mesmo, é


no do Ocultis- Ciências Antigas ressaltará ser verdadeiro consigo
4
mo Revelado de os pontos de maior impor- mesmo. Ser verdadeiro
Eliphas Levi tância do trabalho individual consigo mesmo é se com-
que deve realizar cada pes- preender como Homem-
soa que procura a interiori- Deus encarnado na maté-
zação e o consequente con- ria.
A Vestimenta 6 tato com a sua alma.
A mais alta espiritualidade,
Cultuar a obra e o exemplo a mais intensa submissão às
dos Mestres e Iniciados da vontades do Céu, as mais
Tradição Cristã é tarefa ardentes orações ao Ter-
O Talmud 7 diária de toda pessoa espiri- nário Divino da Criação
tualizada. Os ensinamentos jamais devem de deixar de
deixados por Martinez de acompa-nhar e de encerrar
Louis-Claude de Pasqually, Louis-Claude de cada dia das nossas vidas.
Saint-Martin e o 8 Saint-Martin, Jean Baptiste
Martinismo Willermoz, Papus, Jacob “Dar a César o que é de
Boehme e tantos outros são César e ao Cristo o que é
essenciais para a restauração da condição origi- de Cristo; jamais vender o Cristo a César”.
Os Quatro nal do homem.
Graus da Sabe- 15 Assim também, a máxima de Claude de Saint-
doria Antiga Resgatar a Glória Divina adquirida na origem Martin, "Permanecemos desconhecidos no
do homem é a meta da chamada Via Interior. mundo para que nossas obras sejam dura-
Para tanto, o estudante da SCA deve aprofun- douras e perenes" é uma divisa que deve
dar a prática das virtudes, o conhecimento so- carregar todo iniciado e fazer uso diário des-
bre o Cristianismo e desenvolver uma vontade te preceito.
acima de qualquer provação.
Fraternalmente,
O trabalho de elaborar as Virtudes, abandonan-
do os vícios e “cascões” da existência, colocan- Sociedade das Ciências Antigas
do a vontade inteligente a serviço da assimila- Presidente
Página 2 Boletim da Sociedade das Ciências Antigas

O Mestre Philippe de Lyon

N ão se pode classificar o Mestre Philippe Nizier


como fundador, sucessor, nem como tendo
pertencido a qualquer ordem Iniciática antiga ou re-
Nunca demonstrava preferência por qualquer classe
social; de uma requintava polidez, para quem quer que
fosse, falando a todos com benevolência e simplicida-
cente. de. Mas, além desta benevolência, uma autoridade e
uma liberdade transcendental emanava dele, assim
Todavia, seu impacto sobre alguns dos principais explicado.
membros das Ordens Iniciáticas da época foi certa-
mente considerável. Citaremos como exemplo os Durante anos, por ocasião de diferentes estadas em
mais conhecidos: Papus, Sedir, Marc Haven, entre ou- Yennes, pequeno vilarejo da Savóia perto de seu local
tros, que ingressaram nos mais altos graus das organi- de nascimento, Loisieux, foi feita uma busca sobre sua
zações iniciáticas tais como Martinismo, Maçonaria, juventude. As testemunhas diretas haviam desapareci-
Gnosticismo e outras. do, mas subsistia ainda entre alguns de seus descen-
dentes trechos de histórias e algumas lendas.
Com base em diversos documen-
tos consultados, há fortes razões Por exemplo, a efetiva cura das
para acreditar que este fato tra- dores de cabeça que fazia unica-
tava-se apenas da ponta de um mente com sua presença, a bola
iceberg. Um número considerá- de fogo que lhe acompanhava na
vel de ocultistas, espiritualistas, Eucaristia na hora da comunhão,
pesquisadores e políticos o con- etc.
sultaram sob diversas formas.
As histórias sobre o Mestre Philip-
É com certeza que se pode asse- pe abundam e, como sempre, cada
gurar ele possuía uma elevada qual só retém o que lhe interessa
faculdade. Qualquer que fosse o ou comprova segundo seu ponto
meio ou circunstâncias que o de vista.
conduziam a agir, ele se asseme-
lhava aos socorridos. Os poderes que o Mestre Philippe
manifestou plenamente, ele já os
Em geral, era extremamente raro possuía no decurso de uma prece-
que cada uma dessas pessoas ou dente e extraordinária vida. O
desses meios tivesse a mínima livro de Marc Haven indica que
idéia de suas verdadeiras ativida- era uma espécie de herança famili-
des. Ele manifestou desde a infân- ar de uma missão particular de
cia os mais estranhos e incomuns reabertura do “Livro da Vida”. Isto
dons e poderes. era reconhecido por muitas outras
pessoas e opiniões.
Mestre Philippe era de estatura
média, de aspecto muito simples, ele tinha cabelos Por muitas vezes ele se concentrava um instante e
pretos muito finos, bastante compridos. Seus olhos, pedia ao céu, segundo um determinado procedimento.
de cor mutável, eram normalmente de um castanho Ocorria-lhe de dizer “agrada-me que”...; ele rezava,
bastante claro, salpicado de palhetas douradas. O seguindo as formas mais clássicas, o Pai Nosso e o
olhar era de uma doçura penetrante: ia muitas vezes Ave Maria e só se referia ao Evangelho, ao Pai ou a
além da pessoa ou do objeto considerável, e era às Nosso Senhor Jesus Cristo.
vezes imperioso. Por vezes sua atitude era pensativa e
séria, logo em seguida endireitava o busto e a cabeça, Às perguntas sobre sofrimentos, dificuldades, ele res-
sua cor e sua cor dos olhos clareavam; ele irradiava. pondia com benevolência e uma autoridade que se
impunha, visto que se compreendia que lia sem esfor-
Andava muito sem apressar-se. Nunca era inativo. De ço através dos espíritos e nos corações. Doentes es-
uma grande habilidade manual, podia fazer, ele mesmo, tendiam as mãos para que os encorajassem, e eram
seus instrumentos de laboratório, e se permitia ter aliviados ou curados. Ele disse a uma pessoa: “Teu
pouquíssimo sono. marido está melhor, agradece ao Céu”. A uma outra:
“Teu filho está curado, deves pagar. Não é dinheiro
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que peço, mas sim, que não fales mal do próximo du- No mesmo instante um terror apavorante toma conta
rante um dia”. dos assistentes, um homem recebe o fluido em pleno
peito, o que lhe ocasiona um sufoco próximo da asfi-
Depois, mostrando um aleijado: Querem rezar por xia.
este doente e prometerem-me não falar mal de nin-
guém durante duas horas? Todo mundo respondeu: O mestre diz, então: “Vós só podereis fazer estas
Sim. Depois de um momento de recolhimento ele coisas mais tarde, mas quero ensinar-vos as operações
ordenou ao doente dar uma volta na sala. Exclama- a fim de que vós possais produzir fluidos magnéticos,
ções, gritos de alegria expressaram a emoção e a gra- com substâncias vegetais. A artemísia, a dedaleira,
tidão da assistência; lágrimas corriam pelas faces… etc...são plantas magnéticas. Quando se fazem passes,
se as temos nas mãos, isso aumenta a quantidade do
Tinha lugares de predileção onde gostava de ir e medi- fluido”.
tar como perto da pia de água benta, na entrada da
Basílica de Fourvière, em Lyon. Quando estava de Notemos ainda estas poucas indicações: “É preferível
passagem em Paris, dirigia-se ao cemitério próximo à cuidar dos doentes antes do levante ou depois do
antiqüíssima Igreja St. Pierre de Montmartre e orava poente, à noite é melhor”.
perto de um jazigo onde se via a imagem de Cristo.
Era um bom Cristão, jamais criticava as instituições ou Entregou-se, do mesmo modo, a diferentes pesquisas
as pessoas, mas tanto quanto se sabe, ele não manifes- concernentes a arcanos médicos e com esse feito
tava um amor imoderado pela Igreja. ocupou diferentes laboratórios. O mais conhecido
situava-se à rue du Boeuf, na Croix Rousse.
Fora da calma propícia ao recolhimento e à oração,
pensa-se que esses périplos são uma fraquíssima per- Possuem-se pouquíssimas informações sobre estas
cepção de seu verdadeiro trabalho, a parte visível de atividades e sobre os resultados conseguidos. Sabe-se,
sua passagem por este plano. entretanto que somente André Savoret retomou es-
tes trabalhos e aperfeiçoou alguns remédios. Encon-
Desde muito jovem, ele presidia sessões de cura em travam-se no meio deles outras pesquisas sobre o
Lyon, seguindo nisso um método particular, ultrapas- ácido láctico, assim como o famoso soro “Héliosine”.
sando amplamente o quadro do simples magnetismo Resultava da ação prolongada do cloreto de sódio
curativo. Isso poderia ser expresso em algumas frases, sobre uma matéria rica em queratina.
edificantes a mais de um título sobre a validade e efi-
cácia do poder: “Recebi o poder de comandar”; “eu O Dr. Emmanuel Lalande conhecia, sem dúvida algu-
vos afirmo que tenho um grau que me permite perdo- ma, o conjunto dessa farmacopéia. Conheceu-se uma
ar as faltas”. carta que ele endereçou a Papus, sugerindo-lhe a
montagem de um laboratório espagírico, em associa-
Sem cessar ele voltava aos ensinamentos dados nas ção como o que Jolivet Castelot anunciava.
sessões cotidianas, insistindo na humildade, na oração
e no amor ao próximo, sem os quais qualquer tentati- Sempre se manifestaram, ainda que fora da iniciação,
va de curar os doentes permaneceria inoperante no seres particularmente dotados. Sem procurar estabe-
tempo. lecer uma primazia ou uma hierarquia entre uns e
outros, o que é, entretanto notável, quase que único
Suas aulas eram ilustradas por experiências surpreen- aqui, são a extensão e a qualidade dos poderes mani-
dentes. Mergulhava-se verdadeiramente num outro festados por este ser.
mundo em que o milagre era constante: com demons-
tração física a cada instante daquilo que fora ensinado. Verificou-se cuidadosamente durante anos a autentici-
dade dos fatos relatados. Foram comparados com
Na aula de 26 de Dezembro de 1895, na qual 75 pes- outros homens dotados de poderes e pode-se dizer
soas estavam presentes, nota-se a seguinte experiên- que os seus continuam a ser um enigma que desafia a
cia: “Vou pegar uma quantidade considerável de fluido ciência e a razão, a ascese e até mesmo a santidade.
magnético numa região que vós não conheceis. Vou Sem dúvida porque eles são da ordem da Fé, da Graça
torná-lo tangível, quer dizer, sólido, e vós vereis assim e do Mistério.
como eu e sentireis tanto quanto eu! É feito no ins-
tante mesmo”... Todos os assistentes declaram distin- Só pode-se deduzir que existem poderes de uma ori-
guir perfeitamente o fluido na mão do mestre. “Vou gem infinitamente superior, agindo por intermédio de
lançar esse fluido no gelo que está à vossa frente; vede palavras simples e cotidianas, tendo como centro, a
e ouvi”. humildade e o amor ao próximo.

François Trojani
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O Grande Arcano do Ocultismo Revelado de Eliphas Levi

O Abade Alphonse-Louis Constant que com o


pseudônimo de Eliphas Levi se destacou como
Grande Mago e Cabalista do século passado, nasceu
Gostaríamos de ser sábios, mas, teríamos a certeza de
nossa sabedoria enquanto acreditássemos que os lou-
em Paris, no dia 8 de fevereiro de 1810, e morreu na cos são mais felizes e até mais alegres do que nós?
mesma cidade em 31 de maio de 1875.
Sabedoria, moralidade, virtude, são palavras respeitá-
Sua convicção e seu pensamento são revelados magis- veis, porém, vagas, sobre as quais se discute há muitos
tralmente em seu Credo Filosófico: séculos e sem conseguir entendê-las.

Creio no desconhecido que Deus personifica, A virtude supõe a ação, pois se opomos a virtude às
Provado pelo próprio ser e pela imensidade, paixões é para demonstrar que ela jamais é passiva. A
Ideal sobre-humano da Filosofia, virtude não é somente a força, é também a razão dire-
Perfeita inteligência e suprema bondade. tora da força. É o poder equilibrante da vida. É a arte
de balançar as forças para equi-
Esta obra (Grande Arcano do librar o movimento. O equilí-
Ocultismo Revelado) é o testa- brio que é necessário ser alcan-
mento do autor: é um dos çado não é aquele que produz
mais importantes de seus li- a imobilidade, senão aquele que
vros sobre Ocultismo. Está realiza o movimento. Pois a
dividida em duas partes: imobilidade é morte e o movi-
mento é vida. A natureza, equi-
1ª Parte: “O mistério real ou a librando as forças fatais, produz
arte de fazer-se servir pelas o mal físico e a destruição apa-
Forças”. rente do homem mal equilibra-
do.
2ª Parte: “O mistério sacerdo-
tal ou a arte de fazer-se servir Os animais vivem por assim
pelos Espíritos”. dizer, por si mesmos e sem
esforços: Só o homem deve
PRIMEIRA PARTE: apreender a viver. A ciência da
vida é a ciência do equilíbrio
Para magnetizar sem perigo é moral. Conciliar o saber e a
necessário ter em si a luz da religião, a razão e o sentimen-
vida, ou seja, ser um sábio e to, a energia e a doçura é o
um justo. O homem escravo alicerce desse equilíbrio.
das paixões não magnetiza,
fascina; porém, a irradiação da A verdadeira força invencível é
sua fascinação aumenta em a força sem violência. Os ho-
torno dele o círculo da sua vertigem, multiplica seus mens violentos são homens débeis e imprudentes,
encantos e debilita cada vez mais a sua vontade. cujos esforços sempre se voltam contra eles mesmos.
A raiva faz com que as pessoas se entreguem cega-
Os indivíduos e as massas a quem a razão não gover- mente aos seus instintos ou inimigos.
na, são escravos da fatalidade, a qual rege a opinião
que é por sua vez a rainha do mundo. “Desejai a Luz, pois ela se fará. Não procureis a Vitó-
ria pela espada, pois o assassino provoca o assassínio.
Os homens querem ser dominados, arrastados; as É pela paciência e a doçura que vos fareis senhores de
grandes paixões parecem-lhes mais belas do que as vós mesmos e do mundo”.
virtudes, e, aqueles que chamam de grandes homens,
muitas vezes não são mais do que grandes insensatos. Aquele que toma Tróia é o prudente e paciente Ulis-
Podemos concluir que os loucos são magnetizadores, ses, que sempre sabe se conter e só fere com golpe
ou melhor, fascinadores; e, é isto que torna a loucura seguro. Aquiles é a paixão e Ulisses a virtude. Sem
tão contagiosa. Por não saber medir o que é grande, a dúvida o autor destes poemas conhecia profundamen-
maioria das pessoas se apaixona pelas coisas estranhas te o Grande Arcano da Alta Magia, o qual é Único, e
e ninguém ama tanto a turbulência como o impotente. tem por objetivo o de colocar o Poder Divino a servi-
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ço da vontade do homem. Para chegar à realização o sentimento do belo, o qual produz a fé. O homem
deste Arcano não esqueçamos jamais a palavra quádru- equilibrado é aquele que pode dizer: sei o que é, creio
pla do enigma eterno proposto pela Esfinge: no que deve ser e nada nego do que pode ser. O fasci-
nado dirá: creio no que as pessoas, em quem acredito,
“Saber, na sua cabeça de mulher de olhar penetrante; me disseram para acreditar. Creio porque amo a cer-
Querer, no perfil do laborioso touro; Ousar, nas suas tas pessoas e certas coisas. Em outros termos, o pri-
garras de leão e Calar, nas suas asas dobradas.” meiro poderá dizer, creio pela razão e o segundo,
creio pela fascinação.
Toda substância modifica-se pela ação; toda ação é
dirigida pelo espírito; todo espírito dirige-se conforme Porque é tão frio o homem quando se trata da razão, e
uma vontade, e, toda vontade é determinada por uma tão ardente quando combate a favor de uma quimera?
razão.
É que o homem, apesar de todo seu orgulho, é um ser
SEGUNDA PARTE: que não ama sinceramente a verdade, senão que, pelo
contrário, venera as ilusões e mentiras. Vendo que os
A escravidão de um prazer chama-se paixão. O domí- homens são loucos, diz São Paulo: “Queríamos salvá-
nio de um prazer pode converter-se em poder. A na- los pela sua própria loucura, impondo o bem à ceguei-
tureza coloca o prazer junto ao dever; se o separamos ra da sua fé”.
do dever, corrompe-se e nos envenena. Se o juntamos
com o dever, o prazer não se separará mais dele, nos Aqui temos o Grande Arcano do Catolicismo de São
seguirá e será a nossa recom- Paulo, enxertado no Cristianis-
pensa. mo de Jesus e completado pelo
“Desejai a Luz, pois ela se fará. Não Jesuitismo de Santo Inácio de
Um homem nulo e medíocre Loyola. São necessários absur-
poderá chegar a tudo, porém
procureis a Vitória pela espada, pois dos às multidões. A sociedade
jamais será algo. Um homem o assassino provoca o assassínio. É compõe-se de um pequeno
apaixonado, que se abandona pela paciência e a doçura que vos número de sábios e de uma
aos excessos, morrerá por massa enorme de insensatos.
sua própria intemperança, ou fareis senhores de vós mesmos e do Para completar poderíamos
será fatalmente arrastado ao mundo” dizer: “Os malvados instruídos
excesso contrário. O espírito são os perversos mais comple-
humano é um doente que tos e mais temíveis”.
ainda caminha com o auxílio de duas muletas: a ciência
e a religião. A falsa filosofia tira-lhe a religião, e o fana- Os povos formam ídolos e os destroem; o inferno se
tismo tira-lhe a ciência. encherá de deuses caídos até que a palavra do “Grande
Iniciador” se faça ouvir. Deus é espírito e devemos
Todo poder mágico está no ponto do equilíbrio Uni- adorá-lo em espírito e em verdade.
versal. A sabedoria equilibrante está nestas quatro má-
ximas: E como diz o próprio testamento do autor: “Neste
livro, está a última palavra do Ocultismo e foi escrito
Saber a verdade, Querer o bem, Amar o belo e Fazer com a maior claridade possível. Pode e deve ser publi-
o que é Justo. Porque a verdade, o bem, o belo e o cado este livro? Ignoramos; porém, julgamos que pode-
justo são inseparáveis, de tal forma que aquele que ríamos e deveríamos fazê-lo. Se ainda existem verda-
sabe a verdade não pode deixar de querer o bem, amá- deiros Iniciados no mundo, é para eles que foi dedica-
lo porque é belo e fazê-lo porque é justo. do e cumpre somente a eles julgar-nos”.

O ponto central na ordem intelectual e moral é o laço E encerra sua magistral exposição com as seguintes
de união entre a ciência e a fé. Na natureza do homem palavras: "Aqui falamos sem rodeios e mostramos a
este ponto central é o meio pelo qual se unem a alma verdade sem véus e, contudo, não tememos que nos
e o corpo para identificar a sua ação. Todo homem acusem, com razão, de sermos revelador temerário.
está destinado a atingir este ponto, porque Deus deu a Aqueles que não devem compreender estas páginas
todos uma inteligência para saber, uma vontade para não as compreenderão, porque para os olhos muito
querer, um coração para amar e um poder para ope- fracos a verdade que mostramos faz um véu com a sua
rar. luz e se esconde no brilho do seu próprio esplendor!"

O exercício da inteligência aplicada à verdade conduz a


ciência. O exercício da inteligência aplicada ao bem da
Página 6 Boletim da Sociedade das Ciências Antigas

A Vestimenta

A aparência das coisas pode tornar-se um proble-


ma aos mais desavisados, preconceituosos ou
ignorantes. Uma antiga história conta: um diabo estava
Se a Cabala é a tradição Iniciática Ocidental, a Tradi-
ção Oral que desde séculos passa de mestre para dis-
sentado à porta da casa de um sábio, e um homem cípulo, por que nos é apresentada com uma roupagem
aproximou-se. O diabo tentou iludi-lo com mentiras e hebraica enquadrada dentro de uma filosofia tempo,
fantasias, mas não conseguiu, pois ele já havia passado espaço e cultura?
por tais experiências. Entrando na casa, o homem
deparou-se com o sábio, sentado no chão e vestindo Por que o hebraico? Por que o mundo e os símbolos
boas roupas, e pensou: - “Esse homem é muito sim- do antigo Israel continuam nela até hoje?
ples, pois senta-se no chão. Não, esse homem é orgu-
lhoso, porque veste ricas roupas”. A Cabala faria como a Alquimia, que emprega toda
uma simbologia particular para revelar seus ensina-
Reparando mais no sábio, conti- mentos, ou seriam seus gráficos e
nuou: “Sua aparência é nobre letras análogos às forças viventes
mas sua postura me desagrada. do universo? Imaginemos que
Na verdade, esse não é o ho- diante de nossos olhos surgisse
mem que procuro, ele não pode um antigo escrito hebraico. É
transmitir-me nada, nada...” hebraico sem os pontos massoré-
ticos, que tanto facilitam a sua
O homem se foi. O sábio virou- leitura, sem vírgulas ou maiúscu-
se para a porta e gritou: - las. Supondo que possamos ler
“Diabo, sua tentativa inicial não este hebraico, uma interpretação
era necessária. Esse homem era seria uma aventura imprudente,
um daqueles que procuram em pois, o que nós homens do sécu-
vão. lo XX conhecemos realmente
sobre a cultura, dia-a-dia, a vida
Os sábios Alquimistas gritam, os dos homens que escreveram
Cabalistas gritam e os Verdadei- aquilo?
ros Iniciados também, toda vez
que alguém bate à porta da ini- Um outro problema é que em
ciação e quer entrar “cheio de hebraico existem palavras com
si”... dois ou mais sentidos; é o caso
de “Ruach”, nosso conhecido dos
Eles vão entrando e vão dizen- livros de Cabala. “Ruach” pode
do: ser: sopro, vento ou alma.

“A Alquimia é fazer ouro, é uma superciência que veio Tentando decifrar o texto seguinte, no sentido bíblico
do céu. A Cabala é isso e aquilo, etc.” (da Torá), como ele ficaria?

Se o alquimista não tiver barba branca, se o Cabalista - “Deus pairou sobre as águas com seu “Ruach”, e
não for judeu e o ocultista não tiver cara de bruxo através dele, infundiu nela seu poder...”
medieval, dirão:
O que fez Deus? Soprou as águas infundindo vida, fez
- “Esse não é o homem que procuro”. um furacão e as águas se levantaram ou fecundou as
águas com seu espírito?
Se entrarem em alguma Sociedade ou Ordem e ela
não possuir vestimentas brilhantes, rituais suntuosos, Qual a interpretação desejada e qual a necessária a um
palavras indecifráveis, dirão: estudante de Cabala?

- “Essa não é a Sociedade que procuro”. Podemos considerar três interpretações: a Literal, a
Simbólica e a Iniciática.
Foi assim, que muita gente desistiu e é assim que a
Cabala se apresenta aos que a estudam pela primeira Na Literal, devemos nos preocupar com o que está
vez. escrito: “Se Moisés falou que devemos andar dez pas-
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sos para o Oriente, andaremos dez passos e sempre tomar ao pé-da-letra um texto exotérico. O véu das
andaremos dez passos. Não discutiremos, a letra é a aparências revelam que a ilusão é a mãe dos que ousa-
Lei e assim está escrito...” ram sem conhecer.

Na Simbólica, devemos nos preocupar com o que está Para conhecer não é necessário só estudar, é famosa a
“atrás” do que está escrito: “Moisés disse dez passos, história de um rabino que teria lido mais de quinhen-
ao Oriente”. O que significa andar em direção ao Ori- tas obras cabalísticas, uma das quais lhe teria sido en-
ente, etc... O símbolo é o mais importante, ele dura tregue por um anjo e outra pelo profeta Elias, mas ao
eternamente. Sobrevive dentro de nós, guarda e vela encontrar um homem que era conhecido como mes-
seu significado. tre, reconheceu que nada sabia. E o mestre, graças à
humildade do discípulo, o levou ao que restava para
Na Iniciática, preocupamo-nos com o que “não” está seu aprendizado: a experiência, a vivência do que leu.
escrito: Através da letra, chegamos ao símbolo. Pelo Quando as letras se tornam vivas, o Deus dos livros
símbolo adquirimos um conhecimento que podemos mostra-se face a face.
chamar de indireto e procuramos encontrar o cora-
ção de onde tudo emanou. A Fonte em que Moisés O Mestre da história é a verdadeira Cabala, a Tradi-
bebeu. Nos apropriamos disso de maneira direta e ção Oral, muda aos que procuram em vão, como
real Isso é chamado de: “Experiência”. aquele que saiu da casa do sábio, surda para os que
falam o que não conhecem e cega para os que enxer-
Um corpo, o sentido literal. Uma alma, sentido simbó- gam só as aparências.
lico e um espírito, o sentido iniciático. Nunca se deve

O Talmud

A maior parte do povo judeu foi levado ao cativei-


ro da Babilônia no ano de 586 AC., quando o
primeiro Templo foi destruído. As demais 11 tribos
tários e formaram-se os instrutores mais ou menos
qualificados, que mais tarde tornaram-se os Doutores
da Lei (Sopherim = homens de letras, escribas).
não judaicas já tinham sido praticamente aniquiladas
um século antes (722 AC.), pelos assírios, no norte do Entre esses escribas destacou-se Esdras, profundo
país. Essa dispersão dos israelitas repercutiu-se na conhecedor da Torah de Moisés, restabelecendo-a na
maneira pela qual se transmitia a Tradição entre os sua pureza primitiva.
homens, bem como no modo de revelar o ensinamen-
to religioso entre as massas. Retornando a Judéia, Esdras estabeleceu a leitura e os
comentários públicos da Torah, fundando a Grande
Na comunidade cativa, na Babilônia, destacou-se Eze- Sinagoga, colégio composto por 120 membros. Foi
quiel como grande profeta. Ele manteve acesa a tradi- esse Colégio de Doutores que, depois de Esdras,
ção e, mais do que isso, a retransmitiu de maneira manteve a tradição oficial da Torah, ou seja os comen-
revigorada aos discípulos que reunia em sua casa. Essa tários do Pentateuco.
tradição denomina-se Torah, que significa lei, ensina-
mento, direção. Um dos doutores, Hillel, constituiu-se em um dos
grandes codificadores do Talmud de Jerusalém, ou
A Torah designa o corpo das doutrinas judaicas, escri- Mishna, palavra que significa repetir.
tas e orais, retransmitidas desde os primeiros patriar-
cas de Israel. Hillel defendia a liberdade de interpretação da Torah,
enquanto Chamai e seus discípulos davam uma inter-
Acredita-se que a instituição da Sinagoga ocorreu no pretação bem mais restrita às Escrituras. Era o primei-
exílio da Babilônia, com o objetivo de reunir uma na- ro século após J.C. Foi, no entanto, a escola de Hillel
ção sem pátria e sem templo. Procurava-se, inicial- que prevaleceu.
mente, ler e explicar as escrituras ao povo. Mais tar-
de, acrescentaram-se as orações a essas reuniões. Um dos discípulos de Hillel, Jokhanan Zakkai, desta-
cou-se a seguir pelos seus conhecimentos. Ele mante-
Despertou-se o interesse das massas por tais comen- ve acesa a tradição cabalista de Hillel, assegurando
Página 8 Boletim da Sociedade das Ciências Antigas

novas adições à Mishna, que recebeu novas incorpora-


ções nos séculos seguintes. 3.- Midraschim: das duas correntes de pensamento
anteriores, desenvolvidas nas sinagogas, surge um no-
Os estudos sobre a Mishna, durante séculos, deu lugar vo ramo da literatura rabínica, que tenta reunir esses
a novos comentários sobre esse texto, denominados materiais para estudos privados;
Gemará, ou complementos.
4.- Tenaim (= Os Iniciados);
Duas Gemarás foram conhecidas, a da Palestina e a da
Babilônia; a Mishna e a Gemará da Palestina constitu- 5.- Amoraim (= discípulos dos Tenaim);
em o Talmud Palestino; a Gemará da Babilônia consti-
tui o Talmud da Babilônia; somente a Mishna constitui 6.- Massoretas e os Chachamim: conservadores
uma obra verdadeiramente cabalista. cegos dos textos sagrados;

Formaram-se escolas e seitas em torno da Torah e do 7.- Grandes Cabalistas: Hillel, Maimônides, Rabi-
Talmud: Jehuda-Hakadosch-Hanassi (Judas, o santíssimo e prín-
cipe, último chefe dos Tenaim, principal redator da
1.- Halakha (=Marcha) - constituído do desenvolvi- Mishna no século II da era cristã.);
mento lógico da teoria de Esdras pelas gerações de
sábios; 8.- Formação das Sociedades Maçônicas, cujo obje-
tivo era a reconstrução do Templo de Salomão, des-
2.- Haggada (=Narração) - designa as seções da lite- truído pela segunda vez no ano 70 d.C. pelos roma-
ratura rabínica desprovida do caráter legal (isto é, nos.
livre);

Louis-Claude de Saint-Martin e o Martinismo

Os profanos não vos lerão, a não ser que sejais claro ou Uma Sociedade qualquer não está ligada ao Invisível
obscuro, prolixo ou sintético. Somente os HOMENS DE por nenhum vínculo. Seu princípio de existência tem
DESEJO irão ler os vossos escritos e aproveitarão vossa sua origem em seus membros e em nada mais. Toda
luz. Dai-lhes essa luz tão pura e revelada quanto possível. sua organização administrativa se faz de baixo para
cima, com seleções sucessivas por eleição.
Louis-Claude de Saint-Martin
Infere-se disso que esta última forma de fraternidade

M uitos erros foram cometidos em relação ao


Movimento Martinista; muitas calúnias foram
proferidas contra seus fundadores e suas doutrinas, o
nada pode produzir para fortificar sua existência a não
ser cartas constitutivas e papéis administrativos, co-
muns a toda sociedade profana; enquanto as Ordens
que torna necessário elucidar alguns pontos de sua de Iluminados baseiam-se, sempre, no Princípio do
história, esclarecendo os objetivos deste movimento, Invisível que as dirige.
estabelecendo a diferença entre ele e os propósitos
das diversas sociedades que se ligam a um simbolismo A vida privada, as obras públicas e o caráter dos diri-
qualquer. gentes da maioria das fraternidades de Iluminados
demonstram que esse Princípio Invisível pertence ao
É impossível compreender a essência do Martinismo plano Divino, sem relação alguma com o plano materi-
de todas as épocas, se antes não estabelecermos a al ou corporal.
diferença fundamental existente entre uma Sociedade
de Iluminados e uma Sociedade qualquer. Uma Socie- A Fraternidade de Iluminados mais conhecida, anterior
dade de Iluminados liga-se ao Invisível por um ou por a Swedenborg, a única da qual se pode falar no mundo
vários de seus dirigentes. Seu princípio de existência profano, é a dos Irmãos Iluminados da Rosa-Cruz.
tem sua origem em um plano supra-humano; toda sua Foram os membros dessa fraternidade que decidiram
organização administrativa se faz de cima para baixo. criar sociedades simbólicas, encarregadas de conser-
Os membros da fraternidade obedecem a seus chefes, var os rudimentos da Iniciação Hermética, dando nas-
obrigação que se torna ainda mais importante à medi- cimento aos diversos ritos da Franco-Maçonaria.
da que os membros entram no círculo interior.
Através dos esforços constantes dos Irmãos Ilumina-
Volume 1, edição 1 Página 9

dos da Rosa-Cruz, o Invisível concedeu um impulso que assistiram às suas operações, como testemunham
considerável à Humanidade, através da iluminação de ainda todos os seus escritos. Então, os seres invisíveis
Swedenborg, o célebre sábio sueco. apareciam, resplandecentes de luz. Agiam e falavam,
ministravam ensinamentos elevados e instigavam à
A missão de realização de Swedenborg consistiu basi- oração e ao recolhimento; tudo isso ocorria sem mé-
camente na constituição de uma cavalaria laica do diuns adormecidos, sem êxtase, sem alucinações do-
Cristo, encarregada de defender a idéia cristã, dentro entias.
de sua pureza primitiva, e de atenuar, no Invisível, os
deploráveis efeitos das corrupções, das especulações Quando a operação terminava, os Seres Invisíveis ten-
de fortuna e de todos os processos caros ao "Príncipe do ido embora, Martinez de Pasqually dava as seus
deste Mundo". discípulos os modo de chegarem por si mesmos à
produção dos mesmos
Swedenborg dividiu sua resultados. Somente
obra de realização em quando os discípulos
três seções: - Seção de obtinham sozinhos a as-
ensinamento, constituí- sistência real do Invisível
da por seus livros e pelo é que Martinez de Pas-
relato de suas visões; - qually lhes outorgava o
Seção religiosa, constitu- grau de Rosa-Cruz, como
ída pela aplicação ritua- mostram suas cartas,
lística de seus ensina- com evidência.
mentos; - Seção encar-
regada da tradição sim- A iniciação de Willer-
bólica e da prática, cons- moz, que durou mais de
tituída pelos graus iniciá- dez anos, a de Louis-
ticos do Rito Sweden- Claude de Saint-Martin e
borgiano. da de outros, mostram-
nos que o Martinesismo
Ora, entre os iniciados foi consagrado a outros
de Swedenborg, houve objetivos, além da prática
um a quem o Invisível da Maçonaria Simbólica.
prestou assistência par-
ticular e incessante, um Martinez de Pasqually
homem dotado de gran- procurava desenvolver
des faculdades de reali- cada um dos membros
zação em todos os pla- de sua ordem pelo traba-
nos. Esse homem, Marti- lho pessoal, deixando-
nez de Pasqually, rece- lhes toda a liberdade e
beu a iniciação do Mes- toda a responsabilidade
tre em Londres, sendo por seus atos. Ele seleci-
encarregado de difundi- onava com o maior cui-
la na França. dado seus iniciados, con-
ferindo os graus somente
Em que consistia o Mar- Jean-Baptiste Willermoz a uma real aristocracia da
tinesismo? Na aquisição inteligência.
pela pureza corporal,
anímica e espiritual, dos poderes que permitem ao Os iniciados, uma vez recrutados, reuniam-se para
homem entrar em relação com os Seres Invisíveis, trabalhar em conjunto; essas reuniões eram feitas em
denominados anjos pela Igreja, chegando não somente épocas astrológicas determinadas. Assim se constituiu
a sua reintegração pessoal, mas também à reintegra- uma cavalaria de Cristo, cavalaria laica, tolerante e que
ção de todos os discípulos de vontade. se afastava das práticas habituais da Magia Tradicional.

Martinez de Pasqually fazia vir à sala de reuniões todos Procura individual da reintegração pelo Cristo, traba-
os que lhe pediam a luz. Traçava os círculos ritualísti- lho em grupo, união de esforços espirituais para aju-
cos, escrevia as palavras sagradas, recitava suas ora- dar os principiantes: tal foi, em resumo, o papel do
ções com humildade e fervor, agindo sempre em no- Martinesismo. Essa Ordem recrutava seus discípulos
me do Cristo, como testemunharam todos aqueles diretamente junto aos profanos, como foi o caso de
Página 10 Boletim da Sociedade das Ciências Antigas

Saint-Martin, ou, mais habitualmente, entre os homens Willermoz. O Willermosismo, assim como o Martine-
já titulares de altos graus maçônicos. sismo e o Martinismo, sempre foram Cristãos. Ele dá
a César o que é de César e ao Cristo o que é de Cris-
O Iluminismo portanto, criou vários grupos interliga- to.
dos por objetivos comuns e por Mestres Invisíveis
oriundos da mesma fonte, que se reuniram posterior- Como se observa, o Willermosismo tendeu sempre
mente no plano físico. De Martinez de Pasqually vem a ao agrupamento de fraternidade iniciáticas, à constitui-
obra mais fecunda nesse sentido, pois foi a ele que o ção de coletividades de iniciados dirigidas por centros
céu deu "poderes ativos", lembrados por seus discípu- ativos religados ao Iluminismo. Não tem razão quem
los com admiração e respeito. pensa que Willermoz tenha abandonado as idéias de
seus mestres; pensar isso é conhecer mal seu caráter
Dos discípulos de Martinez de Pasqually, dois mere- elevado. Sempre até a morte, quis estabelecer a Maço-
cem particularmente nossa atenção pelas obras que naria sobre bases sólidas, dando como objetivo a seus
realizaram: Jean Baptiste Willermoz, e Louis-Claude membros a prática da virtude e da caridade; mas sem-
de Saint-Martin. Inicial- pre procurou fazer das
mente iremos nos ocupar lojas e dos capítulos cen-
do primeiro. Willermoz, tros de seleção para os
negociante Lionês, era grupos de Iluminados. A
maçom quando começou primeira parte de sua obra
sua correspondência inici- era clara, a segunda oculta;
ática com Martinez de
“A mais alta espiritualidade, a mais é por isso que as pessoas
Pasqually. Habituado à intensa submissão às vontades do Céu, mal informadas podem não
hierarquia maçônica, aos as mais ardentes orações a Nosso ver Willermoz sob sua
grupos e às Lojas, concen- verdadeira personalidade.
Senhor Jesus Cristo jamais deixaram de
trou sua obra de realiza-
ção no sentido do traba- preceder, de acompanhar e de encerrar Após a tormenta revoluci-
lho em grupo. Tendeu, as reuniões presididas por Willermoz. O onária, tendo seu irmão
pois, a constituir Lojas de Jacques Willermoz sido
Willermosismo, assim como o
Iluminados; enquanto guilhotinado, com todos os
Saint-Martin dirigiu seus Martinesismo e o Martinismo, sempre seus iniciados, havendo ele
esforços para o trabalho foram Cristãos. Ele dá a César o que é próprio escapado por mila-
individual. de César e ao Cristo o que é de Cristo”. gre da mesma sorte, foi
ainda ele quem reconstituiu
A obra capital de Willer- na França a Franco-
moz foi a organização de Maçonaria espiritualista,
congressos maçônicos, os graças aos rituais que pôde
Conventos, permitindo salvar do desastre. Tal foi a
aos Martinistas desmascarar previamente a obra fatal obra deste Mestre e Martinista.
dos Templários e apresentar o Martinismo sob seu
real aspecto de universalismo integral e imparcial da Embora não se conhecesse a ortografia correta do
Ciência Hermética. nome de Martinez de Pasqually e a profundidade da
obra real de Willermoz, antes da publicação das cartas
Quando foi iniciado por Martinez de Pasqually, Willer- de Martinez de Pasqually, muito se escreveu sobre
moz era venerável da loja A Perfeita Amizade de Lyon, Saint-Martin; muitas inexatidões foram publicadas em
cargo que ocupou entre 1752 e 1763. Essa loja filiava- relação à sua obra.
se à Grande Loja da França. Em 1760, uma primeira
seleção foi realizada e todos os membros portadores As críticas, as análises, as suposições e também as
do grau de Mestre constituíram uma grande Loja de calúnias feitas à sua obra baseiam-se tão somente nos
Mestres de Lyon tendo Willermoz como Grão- livros e nas cartas esotéricas do Filósofo Desconheci-
Mestre. Em 1765, nova seleção foi realizada através da do. Sua correspondência de Iniciado, endereçada a seu
criação do Capítulo de Cavaleiros da Águia Negra, colega Willermoz, mostra os inúmeros erros cometi-
colocados sob a direção do Dr. Jacques Willermoz, dos pelos críticos. É verdade que não se pode obter
irmão mais moço de Jean-Baptiste. muita informação com base nos documentos atual-
mente conhecidos, sobretudo quando não se tem
A mais alta espiritualidade, a mais intensa submissão às nenhuma luz sobre as chaves que dá o Iluminismo a
vontades do Céu, as mais ardentes orações a Nosso esse respeito.
Senhor Jesus Cristo jamais deixaram de preceder, de
acompanhar e de encerrar as reuniões presididas por Willermoz foi encarregado do agrupamento de ele-
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mentos Martinistas e de ação na França; Saint- Martin considerava aptos para receber verdades tão elevadas.
recebeu a missão de criar a iniciação individual e de Ele possuía, também os pontos que nosso amigo B...
exercer sua ação tão longe quanto possível. A esse não conheceu ou não quis mostrar, tais como a resi-
respeito, permitiram-lhe estudar integralmente os piscência do ser perverso, para a qual o primeiro ho-
ensinamentos do "Agente Desconhecido". mem teria sido encarregado de trabalhar; idéia que
me parece ainda ser digna do plano universal, mas
Além dos estudos ligados ao Iluminismo, começados sobre o qual, entretanto, ainda não tenho nenhuma
junto a Martinez de Pasqually e desenvolvidos com demonstração positiva, exceto pela inteligência. Quan-
Willermoz, Louis-Claude de Saint-Martin ocupou-se to à Sofia e ao Rei do mundo, ele nada nos revelou;
ativamente da Alquimia. Ele possuía em Lyon um labo- deixou-nos nas noções elementares do mundo e do
ratório organizado para esse fim. Tendo estendido seu demônio. Mas não afirmarei que ele não tenha tido
raio de ação, Saint-Martin foi obrigado a fazer certas conhecimento de tudo isso; estou persuadido que
reformas dentro do Martinesismo. Os autores clássi- acabaríamos por chegar a esse conhecimento, se o
cos de Maçonaria deram o nome do grande realizador tivéssemos conservado por mais tempo".
à sua adaptação e designaram sob
o nome de Martinismo o movi- "Resulta de tudo isso que há
mento proveniente de Louis- um excelente casamento a
Claude de Saint-Martin. se fazer entre a doutrina de
nossa primeira escola e a de
A Ordem de Saint-Martin foi in- nosso amigo B... É sobre
troduzida na Rússia sob o reinado isso que trabalho; confesso-
da Grande Catarina, sendo tão vos francamente que consi-
difundida ao ponto de ser mencio- dero os dois esposos tão
nada em uma peça de teatro ence- bem feitos um para o outro
nada na corte. É à Ordem de Saint que não encontro nada de
-Martin que se ligam as iniciações mais completo: assim,
individuais, referidas nas memórias aprendamos deles tudo o
da baronesa de Oberkierch. O que pudermos, eu vos aju-
autor clássico da Franco- darei da melhor maneira
Maçonaria, o positivista Ragon, possível".
que não simpatizava com os ritos
dos Iluminados, descreve nas pági- A Iniciação Martinis-
nas de sua Ortodoxia Maçônica as
mudanças operadas por Saint-
ta e seu Caráter
Martin para constituir o Martinis- "A única iniciação que prego
mo. e que procuro com todo o
ardor de minha alma é
Ligação de Saint-Martin aquela que nos permite en-
com os Ensinamentos de trar no coração de Deus e
Martines de Pasqually fazer entrar o coração de
Deus em nós, para aí fazer
Segundo citações do próprio um casamento indissolúvel,
Saint Martin: Martines de Pasqually transformando-nos no ami-
go, irmão e esposa do Divi-
"Meu primeiro mestre, a quem no Reparador. Não existe
eu fazia perguntas semelhantes em minha juventude, outro mistério para chegar-se a essa santa iniciação a
respondia-me que se aos sessenta anos eu tivesse atin- não ser este: penetrar cada vez mais nas profundezas
gido o termo, não deveria lamentar. Ora, tenho ape- de nosso ser até aflorar a viva e vivificante raiz; por-
nas cinqüenta anos!" Procurai ver que as melhores que, então, todos os frutos que deveremos portar,
coisas aprendem-se e não se ensinam, e sabereis mais segundo nossa espécie, irão se produzir naturalmente
que os doutores. em nós e fora de nós, como aqueles que vemos nas-
cer em nossas árvores terrestres, porque são aderen-
"Nossa primeira escola tem coisas preciosas. Eu mes- tes à sua raiz particular e porque não cessam de sugar
mo fui levado a acreditar que Martinez de Pasqually, seu sumo".
de quem me falais (o qual, é necessário vos dizer, era
nosso mestre) tinha a chave ativa de tudo aquilo que "Quando sofremos por nossas próprias obras, falsas e
nosso caro B...... expõe em suas teorias, mas não nos infectas, o fogo é corrosivo e queima; e, entretanto
ele deve ser menos do que aquele que serve de fonte
Página 12 Boletim da Sociedade das Ciências Antigas

a essas obras falsas. Também tenho dito, mais por sozinho no Santo dos Santos para pronunciá-lo; e,
sentimento do que por luz (no livro O homem de segundo algumas tradições, ele possuía campainhas na
Desejo), que a penitência é mais doce do que o peca- barra de seu balandrau para ocultar sua voz aos que
do. Quando sofremos pelos outros homens, o fogo é permaneciam nos recintos vizinhos.
ainda mais vizinho do óleo e da luz; mesmo que ele
nos rasgue a alma e nos inunde de lágrimas, não passa-
remos por essas provas sem delas retirar deliciosas
consolações e as mais nutritivas substâncias". Quando o Cristo veio, tornou a pronúncia dessa
palavra ainda mais central ou mais interior, uma vez
Caráter Essencialmente Cristão do Marti- que o grande nome que essas quatro letras exprimem
nismo é a explosão quaternária ou o sinal crucial de toda
vida. Jesus Cristo, transportando do alto o a dos he-
Os clérigos sempre se esforçaram em conservar só breus, ou a letra S, juntou o santo ternário ao grande
para si a possibilidade de comunicação com o plano nome quaternário, devendo encontrar em nós sua
Divino. A partir desta preten- própria fonte nas ordenações
são, todo contato que não antigas, com mais forte razão
vem por seu intermédio atri- o nome do Cristo deve tam-
bui-se a Satã ou a outros de- bém esperar dele, exclusiva-
mônios. Caluniaram ao ponto mente, toda eficácia e toda
de pretender que os Martinis- luz. Também, ele nos disse
tas não eram cristãos, não para nos encerrarmos em
servindo ao Cristo, mas a um nosso quarto quando desejás-
demônio qualquer, disfarçado semos orar; ao passo que, na
sob esse nome. Eis a resposta antiga lei, era absolutamente
de Saint-Martin a essas acusa- necessário ir ao Templo de
ções: Jerusalém para adorar; e aqui,
vos envio os pequenos trata-
"Acrescento que os elemen- dos de vosso amigo sobre a
tos mistos foram o meio de penitência, a santa oração, o
que se serviu o Cristo para vir verdadeiro abandono, intitula-
até nós; enquanto devemos dos: Der Weg zu
quebrar e atravessar esses Christ; "O caminho de Cris-
elementos para chegar até ele; to" ai vereis, passo a passo,
assim, enquanto repousarmos que se todos os costumes
sobre esses elementos, esta- humanos não desaparecerem,
remos atrasados". e se é possível que qualquer
coisa nos seja transmitida,
"Entretanto, como acredito verdadeiramente, se o espíri-
falar a um homem sensato, to não se criar em nós, como
calmo e discreto, não escon- criasse eternamente no prin-
derei que na escola onde passei há mais de vinte e cípio da natureza universal, onde se encontra perma-
cinco anos as comunicações de todo o tipo eram nu- nentemente a imagem de onde adquirimos nossa ori-
merosas e freqüentes; e eu tive a minha parte como gem e que serviu de exemplo a Mensebwerdung. Sem
muitos outros. Nesses trabalhos, todos os sinais indi- dúvida, há uma grande virtude ligada a essa verdadeira
cativos do Reparador estavam compreendidos. Ora, pronúncia, tão central quanto oral, deste grande nome
não ignorais que o Reparador e a Causa Ativa são a e daquele de Jesus Cristo que é como a flor. A vibra-
mesma coisa". ção de nosso ar elementar é uma coisa bem secundá-
ria na operação pela qual esses nomes tornam sensí-
veis aquilo que não o foi. A virtude deles é de fazer
hoje e a todo momento o que fizeram no começo de
todas as coisas para lhes dar a origem; e como produ-
Acredito que a palavra comunicou-se sempre,
ziram toda coisa antes que o ar existisse, sem dúvida
diretamente e sem intermediário, desde o começo das
que ainda estão abaixo do ar, quando desempenham
coisas. Ela falou diretamente a Adão, a seus filhos e
as mesmas funções; não é impossível a esta Divina
sucessores, a Noé, a Abraão, a Moisés, aos Profetas,
palavra se fazer escutar mesmo por um surdo e em
etc., até o tempo de Jesus Cristo. Ela falou pelo gran-
lugar privado de ar, pois não será difícil à luz espiritual
de nome e queria tanto transmiti-lo, diretamente, que
tornar-se sensível a nossos olhos mesmo físicos, pelo
segundo a lei levita o grande sacerdote encerrava-se
menos não ficaríamos cegos e ofuscados no mais tene-
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broso calabouço. Quando os homens fazem sair as Foi então que os mestres do Invisível dirigiram a gran-
palavras fora de seu verdadeiro lugar, livrando-as por de reação idealista e forneceram ao Martinismo os
ignorância, imprudência ou impiedade, às regiões exte- meios para adquirir considerável expansão. Assim
riores ou à disposição dos homens de torrente, elas como Martinez de Pasqually havia adaptado o Sweden-
conservam sempre, sem dúvida, sua virtude, mas daí borgismo ao meio no qual deveria agir, assim como
retiram muito de si próprias, porque não se acomo- Saint-Martin e Willermoz tinham também feito as alte-
dam por combinações humanas; também, esses tesou- rações indispensáveis, igualmente o Martinismo con-
ros tão respeitáveis não fizeram outra coisa senão temporâneo adaptou-se a seu meio e à sua época,
provar a escória, passando pela mão dos homens; sem conservando à Ordem seu caráter tradicional e seu
contar que não cessaram de serem substituídos pelos espírito primitivo.
ingredientes nulos ou perigosos, que, produzindo
enormes efeitos, acabaram por encher o mundo intei- Essa adaptação consistiu sobretudo na união íntima
ro de ídolos, porque ele é o templo do Deus verda- dos sistemas de Saint-Martin e de Willermoz. Os inici-
deiro, que é o centro da palavra". adores livres, criando discretamente outros Iniciado-
res e desenvolvendo a Ordem pela ação individual,
caracterizavam o sistema de
A Prática, os Seres Saint-Martin. Os grupos de
Iniciados e Iniciadores, regi-
Astrais dos por um centro único e
Como todo Iluminado, constituídos hierarquicamen-
Saint-Martin soube insistir te, caracterizavam o Willer-
sobre o perigo das comuni- mosismo. Eis porque o Marti-
cações com os seres as- nismo contemporâneo consti-
trais, como prova a corres- tuiu seu Supremo Conselho,
pondência entre os dois mantendo Iniciadores Livres,
assessorando-se de Delega-
amigos: dos Gerais, Delegados Especi-
ais, administrando lojas e gru-
"Não poderíamos denomi-
pos espalhados atualmente
nar os três reinos que vos-
sa escola designava em todo o mundo.
"natural, espiritual e Divi-
no", natural, astral e Divi- Não solicitando a seus mem-
bros nenhuma cotização, nem
no? direitos de entrada, não exi-
gindo nenhum tributo regular
"Todas essas manifestações
de suas lojas ao Supremo
que vêm após a iniciação,
Conselho, o Martinismo ficou
não seriam do reino astral?
fiel a seu espírito e às suas
Uma vez tendo colocado
origens, fazendo da pobreza
os pés nesse domínio, não
material sua primeira regra.
se entraria em sociedade
Desse modo, pôde evitar as irritantes questões de
com os seres que aí habitam, cuja maior parte, se me
dinheiro, causa dos desastres de certas ordens con-
for permitido, em assunto dessa natureza, servir-me
temporâneas; assim, também, pôde exigir de seus
de uma expressão trivial, é má companhia? Não se
membros um trabalho intelectual elevado, criando
entra em contato com seres que podem atormentar,
escolas, distribuindo seus graus exclusivamente atra-
até ao excesso, o operador que vive nessa multidão,
vés de exame, abrindo suas portas a todos os que
ao ponto de suscitar-lhe o desespero e de inspirar-lhe
justificarem uma riqueza intelectual ou moral. O Mar-
o suicídio, como testemunharam Schoroper e o Con-
tinismo ignora a exclusão de membros pelo não paga-
de de Cagliostro! Sem dúvida que terão os iniciados
mento de cotização, desconhece o tronco de solidari-
os meios mais ou menos eficazes para se protegerem
edade. Apenas seus chefes são chamados a justificar
das visões; mas, em geral, parece-me que essa situa-
seu título, participando, segundo seus graus, do desen-
ção, que está fora da ordem estabelecida pela Provi-
dência, pode ter antes conseqüências mais funestas do volvimento geral da Ordem.
que favoráveis ao nosso progresso espiritual".
Filiação Martinista: Saint-Martin, Chap-
tal e Delaage
O Martinismo Contemporâneo
A organização Martinista em grupos proporcionou-lhe
grande dinamismo; ela foi efetuada por um modesto
Página 14 Boletim da Sociedade das Ciências Antigas

ocultista, fiel à conservação da tradição iniciática do dador da loja, Lucien Chamuel, foram fundados em
Espiritualismo, caracterizada pela Trindade, e à defesa 1891. O Supremo Conselho da Ordem Martinista foi
do Cristo fora de qualquer seita. São essas as caracte- constituído, como um local reservado às reuniões e às
rísticas do Incógnito a quem foi confiado o depósito iniciações, primeiro na rua Trevise nº 29, após na rua
sagrado: Henri Delaage, que preferiu ficar fiel à sua Bleue e, finalmente na rua Savoie.
iniciação do que fundar uma nova seita não tradicional.
Em seguida, a Ordem constituiu seus delegados e suas
Delaage manteve o respeito ao segredo, nada revelan- lojas, inicialmente na França e nas diversas partes da
do, a ponto de não falar da origem de sua iniciação em Europa; mais tarde na América, no Egito e na Ásia.
seus livros. Somente aos íntimos falava de coração
aberto do Martinismo, cuja tradição lhe foi transmitida Tudo isso foi obtido sem que jamais um Martinista
através de seu avô, o Senhor de Chaptal, iniciado pelo pagasse uma quotização qualquer, sem que jamais uma
próprio Louis-Claude de Saint-Martin. loja tivesse fornecido um tributo regular ao Supremo
Conselho. Os fundadores consagraram todos os seus
Alguns meses antes de sua ganhos à sua obra e o Céu
morte, Delaage quis passar lhes recompensou digna-
a alguém a semente que mente pelos seus esforços.
lhe tinham confiado, mas “A Ordem Martinista é antes de tudo
dela não esperava nenhum uma escola de cavalaria moral, que se Características do
fruto. Pobre depósito, Martinismo Con-
constituído por duas letras esforça em desenvolver a
e alguns pontos, resumo espiritualidade de seus membros pelo temporâneo
dessa doutrina iniciática
que iluminou as obras de estudo do Mundo Invisível e de suas Derivando diretamente do
Iluminismo Cristão, o Mar-
Delaage. Mas o Invisível Leis, pelo exercício do devotamento e
estava presente e foi ele tinismo acabou adotando
quem se encarregou de
da assistência intelectual e pela seus próprios princípios. A
religar as obras à sua real criação em cada espírito de uma fé Ordem sobreviveu a tudo,
origem e de permitir a mesmo às calúnias lança-
cada vez mais sólida. O Martinismo das contra seus membros
Delaage confiar sua se-
mente a uma terra onde constitui uma cavalaria de Altruísmo, e dirigentes.
ela poderia se desenvol- oposta à liga egoísta dos apetites A Ordem Martinista em
ver.
materiais, e, finalmente, um centro seu conjunto é antes de
As primeiras iniciações tudo uma escola de cavala-
onde se aprende a permanecer ria moral, que se esforça
pessoais, sem outro ritual
que essa transmissão oral impassível diante dos turbilhões em desenvolver a espiritu-
alidade de seus membros,
de duas letras e de dois positivos ou negativos que subvertem a pelo estudo do Mundo
pontos, tiveram lugar en-
tre 1884 e 1885, na rua Sociedade” Invisível e de suas Leis,
Rochechouart (em Paris). pelo exercício do devota-
De lá, passaram à rua de mento e da assistência
Strasbourg, onde os primeiros grupos foram criados. intelectual e pela criação em cada espírito de uma fé
A primeira loja foi constituída na rua Pigalle, onde cada vez mais sólida, baseada na observação e na ciên-
Arthur Arnould foi iniciado, começando a senda que o cia. O Martinismo constitui uma cavalaria de Altruís-
mo, oposta à liga egoísta dos apetites materiais, uma
afastaria definitivamente do materialismo.
escola onde se aprende a dar ao dinheiro o seu justo
Essa Loja foi em seguida transferida para um aparta- valor, não o considerando como influxo Divino; é,
mento da rua Tour d'Auvergne, onde as reuniões de finalmente, um centro onde se aprende a permanecer
iniciação foram freqüentemente e frutuosas sob o impassível diante dos turbilhões positivos ou negativos
ponto de vista intelectual. Os cadernos surgiram entre que subvertem a Sociedade! Formando o núcleo real
1887-1890 e foi mais ou menos nessa época que Sta- desta universalidade viva, que fará um dia o casamento
nislas de Guaita pronunciou seu belo discurso de inici- da Ciência sem divisão com a Fé sem atributos, o Mar-
ação. A partir desse momento o progresso foi bastan- tinismo esforça-se em tornar-se digno de seu nome,
criando escolas superiores de ciências metafísicas e
te rápido. fisiogônicas, desdenhosamente separadas do ensino
O grupo Esotérico e a Livraria do Maravilhoso, tão clássico, sob pretexto de serem ocultas.
bem criada por um bacharel em direito, membro fun-
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Tal é o caráter do Martinismo. Compreende-se que é ou excomunguem ao Martinismo ou a seus chefes. A Luz
impossível encontrá-lo integralmente em cada um dos atravessa os vidros mesmo imundos e ilumina todas as
membros da Ordem, pois cada iniciado representa uma trevas físicas, morais e intelectuais.
adaptação particular dos objetivos gerais. Mas esta época
de ceticismo, de adoração da fortuna material e do ateís- Acusados de serem demônios por uns, clérigos por ou-
mo tem grande necessidade de uma reação francamente tros, magos negros ou alienados pela multidão, permane-
cristã, ligada sobretudo à ciência e independente de to- ceremos simplesmente Cavaleiros ferventes do Cristo,
dos os cleros, sejam católicos ou protestantes. Em todos inimigos da violência e da vingança; opostos a toda anar-
os países onde penetrou, o Martinismo salvou da dúvida, quia de cima ou de baixo, em uma palavra: permanecere-
do desespero e do suicídio muitas almas; trouxe à com- mos Martinistas como foram nossos gloriosos antepassa-
preensão do Cristo muitos espíritos que as manipula- dos, Martinez de Pasqually, Louis-Claude de Saint-Martin
ções clericais e seu objetivo de baixo interesse material, e Jean Baptiste Willermoz.
isto é, de adoração de César, tinham distanciado de toda
fé. Após ter feito isso, não importa se caluniem, difamem

Os Quatro Graus da Sabedoria Antiga

O homem normalmente tenta buscar o conheci-


mento através da pluralidade. Quando um con-
junto de coisas ou idéias se lhe apresenta, julga de
fase essencialmente teórica destas leis que, segundo se
sabe, fornecem e regem as manifestações da vida.

pronto ser o caminho, perdendo, quase sempre de Acolhido por um conhecimento básico e genérico,
aproveitar a capacidade de analisar comparativamente começa a desenvolver uma fase passiva. O conheci-
com o que demais existe. Daí decorre muitas vezes o mento vem de todos os lados, dotado de verdades e
esgotamento e o desânimo devi- de erros, do bem e do mal, de
do ao vazio que geralmente sub- células e de conjuntos. Ele toma
siste. conhecimento da analogia e come-
ça a ter ciência de sua posição
Papus discorre sobre esta busca, dentro da humanidade, de sua
citando os quatro graus da sabe- alma coletiva. Normalmente, nesta
doria antiga, que ao observar- etapa ele vislumbra quão grande e
mos, é tão atual quanto real no difícil é o caminho e como desco-
próprio ensinamento que trás. brir a força universal, pois ela ma-
nifesta a vida em tudo o que exis-
Propomo-nos a analisar estes te.
quatro graus, comparando-os
com o caminho da espiritualida- Se o desânimo for vencido, a im-
de. portância de cada coisa e a vida de
cada coisa dará origem a uma fase
Partindo do princípio que o ter- equilibrante; é a posse de um es-
nário é a expressão do Verdadei- tado mental capaz de discernir o
ro, dividiremos a análise de cada criado do incriado, quando o do-
grau em três segmentos. mínio das relações entre ele e a
natureza começam a se efetivar.
O primeiro grau da sabedoria Este conhecimento, obrigatoria-
antiga é o estudo da Força Uni- mente fisiogônico neste estágio,
versal em suas manifestações Gerard Encausse — Papus dará uma base teórica que se
vitais, ou seja, as Ciências Fisi- apresentará como fundamento de
ogônicas. todo o resto dos estudos.

O Ativo é a primeira manifestação que o estudante O segundo grau da sabedoria antiga é o estudo da
percebe das leis que concebem a própria existência. força Universal em suas manifestações humanas; são
As perguntas são infinitas e as respostas quando exis- as chamadas Ciências Androgônicas.
tem, são vagas. Seus sentidos comunicam à alma uma
quantidade de registros que não sabe discernir. Mas se Neste segundo momento da evolução o estudante
buscar é o objetivo, o estudante começa então uma tende a orientar os estudos a partir de si próprio,
Página 16 Boletim da Sociedade das Ciências Antigas

passando por um período de interiorização mais pro- A fase equilibrante deste grau de sabedoria, pode ser
fundo. Jamais voltado à prática, utiliza-se da analogia chamada de superior, pelo próprio posicionamento
com mais afinco e passa a ser o ativo de si mesmo, elevado que o homem alcança dentro de si, no univer-
separando e utilizando apenas o necessário para conti- so e na própria procura. É em síntese, a volta que a
nuar na Senda. Só que este trabalho deve ser dirigido natureza faz aos seus sentidos de uma forma mais
para o bem de toda a humanidade da qual ele quer ser ampla e simples, como resultado desta obra, confor-
a luz. me a prática alcançada. O estudante atinge, neste pon-
to, uma ação mais eficaz sobre os planos conhecidos,
Com a eliminação dos excessos com os quais viveu podendo ser chamado operativo, e é o ponto em que
até então, sua vontade começa a dominar a alma e começa a Autoridade de determinadas leis da manifes-
esta transmite ao corpo, pela vida que o anima, os tação.
atos já depurados, dissolvendo pouco a pouco a natu-
reza elementar. A mudança de fases ativa, passiva e O quarto grau da sabedoria antiga é o estudo da For-
equilibrante, neste ponto, se dá quase sem que dela ça Universal em sua essência e em função dos princí-
tenha percepção. pios descobertos, são as Ciências Teogônicas.

Com o domínio destas dualidades interiores, seu estu- Pela vivência obtida no caminho da evolução, a própria
do se volta para as relações da manifestação da força vontade do estudante alcançará o domínio completo
em toda a humanidade, que é o sol da animalidade. As sobre toda sua natureza, atribuindo a este, uma ação
leis que regem uma célula ou um átomo são as mes- positiva, pela própria ascensão que obteve. Podendo
mas que animam os conjuntos. Em todos os planos, os propor que a mesma lei que se lhe descortinou, seja
princípios são análogos. Assim, o conhecimento práti- atuante em outro elemento que a busca, dando solu-
co das leis tenderá a colocar o estudante fora da alma ção de continuidade aos ensinamentos e criando um
coletiva da humanidade. pólo negativo próprio, negativo este, em posiciona-
mento iniciático. Penetra ainda, de forma mais positiva
O terceiro grau da Sabedoria antiga é o estudo da em um plano mais elevado, recomeçando novamente
Força Universal em suas manifestações astrais; são as a aplicação dos conhecimentos um pouco mais acima.
Ciências Cosmogônicas.
Na fase oposta deste grau está a própria essência da
O período vivido aqui, requer um despojamento das Força, ele a conhece, mas não age sobre ela, ele a
vestes da ignorância, por isto a importância da teoria vislumbra de maneira tangencial a própria capacidade
no primeiro momento e da prática no segundo. de ação e é o passivo novamente, opondo-se às difi-
culdades certamente maiores de toda a Iniciação. Sua
O estudante coloca-se acima da materialidade unindo- iluminação ofusca seus próprios olhos e com mais
se a ela apenas por pontos que promovam a realiza- antagonismos se depara. A materialidade em que se
ção da idéias. Ele é neste momento, o ativo de seus apóia dificulta uma ação realmente produtiva neste
sentidos e continua apoiando-se na analogia para co- estágio. Deve estar aí, o Iniciado, operando sobre a
meçar novamente seu trabalho, (só que a orientação humanidade sem vincular-se à alma coletiva da mesma.
teórica e a prática desta fase situam-se dentro e fora
da forma) buscando em outros planos da mesma ma- Como fase equilibrante pode ser até mesmo uma dua-
neira que buscou até então, pois que, as próprias fases lidade, uma queda infantil e grotesca, ou uma situação
da Espiritualidade são análogas entre si. de finalização material.

Transportados os conhecimentos para uma visão mais Quando se atinge o objetivo deste grau, o Iniciado
elevada, o estudante aproxima-se da fonte da Força pode ser considerado Teurgo; ele é a própria Força;
Universal e começa a ser o passivo em relação a ela, ele se destina à união com a fonte desta Força; ele já
pois ela age sobre ele com a mesma intensidade que não possui alma, só espírito; cessam os ciclos reencar-
até então ele procurou desvendá-la. natórios; atinge a Iniciação Real; ele pertence à paz
profunda da própria Criação.

Publicação da Sociedade das Ciências Antigas


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