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Ellie Winslow
O CORPO
NÃO ESQUECE
•••••••••••••••••••••••••••••••••
Digitalização: Andrea Leoncio
Formatação e Revisão: Elisa Henrich
© Copyright desta edição, Editora Rio Gráfica Ltda. Rio de Janeiro, 1986.
O uso da marca Sedução por esta editora tem autorização expressa de Fernando
Chinaglia Distribuidora S.A., titular do certificado de registro n.º
1231/0689156, expedido em 25-03-79 pelo I.N.P.I.
— Oh, não! exclamou Nadine. Onde ela iria arranjar dinheiro para pagar
um médico? Eu vou ficar boa. Eu não posso é perder o trem,
O homem recolheu rapidamente as coisas que estavam espalhadas pelo
chão e enfiou-as novamente na mochilas
— Que trem é esse? perguntou — Deixe que eu carrego isso para você.
— Para Roma. Espero que ele esteja atrasado.
O estranho sorriu para ela e seu sorriso era encantador, o que fez com
que Nadine respondesse também com um sorriso,
— Era o trem que eu também estava tentando pegar. Acho que nós dois o
perdemos. E a culpa foi minha, que trombei com você daquele jeito.
Desculpe-me. O próximo trem só sai amanhã de manhã.
Ela não pôde esconder seu desânimo — Oh, não!
— E tão grave assim? O que vai acontecer se você não chegar a Roma
esta noite?
Nadine tentou recuperar-se.
Mas Nadine queria mais que os carinhos dele, e murmurou seu nome em tom
suplicante. O hálito daquele homem estava quente em seu pescoço, e então ele
soergueu o corpo, separou as pernas dela com o joelho, e Nadine ergueu os quadris
para encontrá-lo. A grandiosidade daquele momento fez com que ela se
esquecesse da dor. Agarrou os ombros de Lawrence, esquecida da ansiedade pela
sua inexperiência, já não mais preocupada em agradá-lo, mas sentindo-se perdida
na onda de extremo prazer que atravessava seu corpo.
— Oh, meu bem! — Lawrence estava tentando conter-se com dificuldade. Sua
boca estava enterrada nos seios dela.
As ondas ficaram maiores e mais fracas, passando pela corrente sangüinea de Nadine,
levando-a para o mundo do prazer. Aproximou-se do limite, sem saber o que viria a seguir.
Lawrence a trouxe de volta. Havia alguma coisa iminente, com a qual ela nem sonhava.
Aproximou-se novamente do limite, sentindo-se dominada pela força do desejo que se
apossara dela.
— Devagar, meu bem, devagar... disse Lawrence, acariciando-a,
Por um momento, ela esteve a ponto de atravessar aquela barreira e cair no
precipício do prazer infinito, mas, mais uma vez, Lawrence trouxe-a de volta para o
lado seguro.
— Por favor — gemeu Nadine. — Por favor, Lawrence...
O auto-controle dele também estava cedendo. Sua respiração ficou mais
acelerada e ele a apertou com mais força.
Nadine soltou mais um grito. Estava sendo empurrada para o precipício, e
sentiu-se como se sua alma estivesse explodindo e ela estivesse atravessando uma
luz dourada, ao mesmo tempo em que estremecia. Depois de algum tempo, parou de
cair e sentiu-se flutuar numa atmosfera celestial, respirando profundamente,
envolvida pelos braços fortes de Lawrence.
O sol surgiu sobre as montanhas distantes, arroxeadas. Nadine abriu os olhos e
viu as gotas de chuva espalhadas pelo campo, mais parecendo diamantes. Eles
tinham conversado muito, e agora estavam ambos em silêncio. Os olhos de Lawrence
estavam encantados diante do arrebatamento dela, e não era preciso, palavras para
compartilhar a maravilha daquele momento.
Capítulo Três
— Melodrama não lhe fica bem, querida. Você me condenou sem me ouvir, está
sofrendo sem razão, e culmina dizendo que eu não sei o que é o amor.
— E não sabe mesmo.
Ele se levantou bruscamente, mostrando-se aborrecido.
— Eu vou lhe mostrar o que é o amor, sua pirralha que pensa ser dona da
verdade. — E começou a desabotoar a camisa.
Quando viu surgir os pêlos escuros no peito dele, Nadine sentiu um enjôo de
estômago, pensando nas unhas vermelhas de Lily passando por eles, brincando
com eles, provocando Lawrence. Ela queria que suas pernas a levassem até a
escada.
Ele a segurou com uma das mãos, e com a outra continuou a desabotoar a
camisa.
— Onde vai?
Usando toda sua força, soltou-se dele e segurou o pulso machucado.
— Eu queria fazer com que você entendesse, mas não consigo. — "Por que
está sendo tão difícil respirar?", pensou Nadine. — Você não quer entender. — Olhou
para os lábios que Lily tinha beijado e baixou o olhar. — Só de pensar em dormir com
você hoje me dá enjôo.
Então virou-se e desceu a escada correndo, indo refugiar-se junto ao
riacho, onde ele só a encontrou horas depois, trazendo-a de volta para o quarto e
acariciando-a até que pegasse no sono.
Depois daquela noite, as coisas entre eles pioraram bastante, sendo que a última
gota ocorreu na noite de Natal.
Nadine resolveu fazer uma ceia de Natal, achando que Lawrence iria ficar
emocionado com a surpresa, e saiu para comprar o champanhe e tudo mais que fosse
necessário. Quando voltou, ele tinha saído, mas seu otimismo a convenceu de que ele
provavelmente também estaria lhe preparando uma surpresa.
Depois que tudo estava pronto, ela arrumou a mesa, acendeu a lareira e as velas.
Sentou-se para esperar por Lawreme. Estava usando uma malha vermelha de
cachemira, calças pretas e um colar de coral que ele lhe havia dado de presente há um
mês.
As horas foram se passando, e nada de ele aparecer. O peru passou do ponto,
as velas se extinguiram, e Nadine continuava esperando. Sua impaciência
transformou-se em irritação, a irritação em ciúme, e o ciúme em fúria cega. Ela estava
uma fera quando Lawrence finalmente chegou, bem depois da meia-noite — e
acompanhado de Lily. Ambos estavam embriagados e riam histericamente, tentando
fazer com que Nadine participasse das brincadeiras. Mas ela apenas respondeu com
frieza e se refugiou, pela última vez, junto ao riacho, voltando para casa só depois de
ouvir o carro sair.
Quando voltou, ele tentou falar com ela no pátio, mas Nadine não lhe deu a menor
atenção, subindo diretamente para o quarto, onde começou a fazer as malas.
Lawrence a seguiu.
— Você vai embora?
Ela nem se deu o trabalho de responder, enchendo sua mochila com seus parcos
pertences, deixando tudo que havia comprado em Florença e o que ele havia lhe dado.
Só esqueceu de tirar o colar de coral do pescoço.
Nadine. — Ele se aproximou dela, mas não ousou tocá-la ao ver sua
expressão. — Nunca mais vou fazer isso. Amanhã, comemoraremos o Natal à nossa
maneira. Só nós dois.
Ela colocou a mochila nos ombros e passou por ele, em direção à porta. O
que ela sentia era uma mistura de fúria e tristeza.
— Desculpe-me — repetiu ele. — Não pensei que iria magoá-la tanto. —
Colocou-se diante da porta e estendeu os braços. Ela olhou diretamente nos
olhos dele.
— Jamais o perdoarei. — E passou por ele. Quando entrou no carro,
ele também entrou pela outra porta.
— Nadine, são duas horas da madrugada do Natal. Pelo amor de Deus,
vamos conversar. A esta hora não há nenhum trem para Roma. Vamos fazer uma
reserva para próximo vôo e agir como adultos.
— Eu já lhe dei todas as chances do mundo para resolver isso conversando, e
agora é tarde demais. — Ela deu a partida e engatou a marcha, colocando o carro
em movimento.
Fizeram a viagem em absoluto silêncio, e, ao chegarem à estação, Nadine
desceu com sua mochila e dirigiu-se ao guichê de passagens, sem se preocupar se
Lawrence a seguia. Mas quando ela foi falar com o bilheteiro, ele já estava ao seu
lado.
— Sinto muito, mas só às seis da manhã — informou homem, com ar
cansado.
Ignorando Lawrence, sentou-se numa cadeira de plástico na sala de espera
enfumaçada.
— Você não pode ir embora assim, Nadine. Depois de tudo o que houve
entre nós...
Ela cerrou os punhos, nervosamente.
— Você saiu assim todas as vezes em que tivemos uma discussão. Sem
explicações e sem desculpas; batia a porta e ia embora. Agora é a minha vez.
— Mas eu voltava.
— Aí é que está a diferença.
Ela segurou o estômago, sentindo um forte enjôo. Como podia deixá-lo
daquela maneira? Para ela, Lawrence era mais importante que o ar que respirava.
Não podia viver sem ele.
— Por favor, vá embora, Lawrence — disse, sem pensar. Sentiu a vista
escurecer e apertou com mais força o estômago, fechando os olhos. — Eu não
agüento se você ficar.
— Venha comigo.
— Não. — Achou que ia vomitar. Lutou contra o enjôo e levantou-se
lentamente. — Onde é o banheiro? — sussurrou.
Ele a acompanhou, amparando-a, assustado por vê-la passando mal.
Permaneceu por muito tempo dentro do banheiro, e, quando saiu, Lawrence já estava
pedindo a uma moça que fosse vê-la.
— Você não está nada bem. O que você tem?
Ela continuava segurando o estômago e tremendo.
— Por favor, vá embora. Eu não vou agüentar passar mais três horas aqui
com você.
— Eu só vou embora quando você estiver naquele trem ou no meu carro.
— Por favor, Lawrence.
Voltaram para as cadeiras cinzentas da sala de espera.
— Você vomitou? — Ele estava preocupado.
— Sim. — Ela começou a chorar, escondendo o rosto nas mãos. — É você
que me deixa assim! Vá embora, eu quero ficar sozinha.
Mas durante três horas Lawrence ficou sentado ao lado dela, em silêncio,
fumando. Nadine tirou as mãos do rosto e continuou a segurar o estômago. Ela
sentia um enjôo violento. Só quando o trem foi anunciado é que ele falou:
— Nós não podemos terminar assim, Nadine. Não podemos! Olhe para mim.
Só um pouquinho.
Mas ela não podia olhar para ele. Alguma coisa crescia em seu peito,
apertando-o, tirando-lhe o ar dos pulmões e o amor do coração. Com passos
trôpegos, dirigiu-se para o trem, e, quando já ia subir, ele a segurou, abraçando-a
carinhosamente. O corpo de Nadine estremeceu com soluços convulsivos.
A partida do trem foi anunciada mais urna vez e ela desvencilhou-se dos braços
de Lawrence, enxugando os olhos com as costas da mão. E pela última vez antes
de entrar no trem, olhou nos olhos dele.
Lawrence olhava para Nadine, sem vê-la. Percebendo que estava escapando
dele, voltou-se transtornado e saiu da estação.
Sentindo os olhos arderem, Nadine acabou de subir os degraus e entrou no
trem.
Capítulo Quatro
— Na d i n e .
— O que é? — Ela não se virou.
— Até agora, só eu fiz perguntas. Você não vai me perguntar nada?
Ela engoliu seco.
— Não há nada que eu queira saber.
— Mas há uma coisa que eu quero que você saiba. Lily. Ele ia falar de Lily.
Ela se virou bruscamente.
— Por favor, não me conte nada.
Continuou sentado na poltrona, com as pernas esticadas e os olhos
inquisidores pregados nos dela, iguais aos de Jamie quando queria contar-lhe
alguma coisa e ter a certeza de sua total atenção. Mas ela se recusava a dar-lhe essa
atenção, e ficou com os olhos abaixados, olhando para o copo sem sequer vê-lo.
Lawrence aproximou-se dela.
— Precisamos conversar sobre isso — disse calmamente. — Você tem de
saber porque eu me casei com Lily apesar de sempre dizer que não queria prender-me
a nenhum compromisso.
Nadine levantou os olhos, ouvindo o que ele dizia. Por que queria enterrar mais ainda
aquele espinho em seu coração? Ou será que o removeria milagrosamente? Ele
continuou:
— Lily disse-me que estava grávida. Você sabe, ela é italiana, de família
católica, e assim sendo não poderia fazer um aborto e nem ter um filho solteira sem
cair nas desgraças da sociedade. Sua única saída era que eu me casasse com ela. Foi
uma decisão muito difícil para mim, pois eu prezo minha liberdade e independência
tanto quanto minha honra e meu senso de responsabilidade. A honra e a
responsabilidade venceram, e você sabe por quê, Nadine? Por sua causa. De tanto
você falar, alguma coisa acabou ficando, e foi com você que eu aprendi a assumir as
minhas responsabilidades. Foi por isso que eu casei com Lily.
— Por favor, não diga mais nada. Eu não quero saber dos seus motivos
para se casar com Lily.
Lawrence ficou nervoso com a resposta de Nadine e entrou em casa. O
espinho não tinha sido arrancado, mas também não tinha sido enterrado mais fundo,
pensou ela. Nada havia mudado. Mas Jamie tinha um meio-irmão ou meia-irmã em
algum lugar do planeta. A idéia deixou-a ainda mais triste, pois provavelmente
Lawrence ficaria indiferente à existência de Jamie já que tinha um filho legitimo. Isso
deveria deixá-la aliviada, mas ficou arrasada. Sentiu-se totalmente só no universo.
Na verdade, tinha Jamie, mas ele estava tão longe!
Ao ouvir Lawrence voltar, sentiu-se mais aliviada. Era preferível ouvir falar de Lily
do que ficar sozinha. Sorriu para ele, e os dois falaram ao mesmo tempo:
— Desculpe-me...
— Desculpe-me...
E então riram nervosamente.
— Quer um conhaque? — ofereceu Lawrence, colocando dois cálices e a
garrafa de conhaque sobre a mesinha.
Ela deu uma olhada no relógio. Ao ver seu gesto, Lawrence comentou sorrindo:
— Eu não vou falar de nada que você não queira ouvir. Não vá embora ainda.
Não é nem meia-noite.
Nadine voltou para a poltrona e riu, dizendo:
— Meia-noite! Em Nova Iorque, às dez eu já estou na cama. Eu tinha me
esquecido de como você dormia tarde.
Tomando um gole do conhaque que ele lhe ofereceu, Nadine sentiu uma onda de
calor invadir seu corpo, evaporando a tristeza que sentira momentos atrás.
— Você dorme cedo mesmo? — perguntou ele.
— Não há razão para não dormir. Afinal, eu tenho de me levantar às seis e
meia...
— Seis e meia! Que loucura! Eu nunca consegui sair da cama antes do
meio-dia.
— Eu sei. — É claro que ela se lembrava, pois naqueles tempos, ficavam até a
madrugada fazendo amor, conversando e fazendo amor de novo.
— Mas por que você tem de se levantar tão cedo? Você só começa a trabalhar
na galeria às dez, não é?
— É, mas é que... — Ela ficou atrapalhada, percebendo que quase tinha
revelado o fato de que tinha de deixar Jamie na escola às oito e vinte. — Eu tenho
muita coisa para fazer de manhã — explicou, evitando o olhar dele.
No dia seguinte, Nadine acordou com uma leve ressaca. Com os olhos
semicerrados, viu que a roupa que usara no dia anterior estava toda espalhada pelo chão.
Como tinha dormido com o cabelo molhado, o travesseiro estava úmido e achatado.
Sentando-se na cama, tentou rememorar o que tinha acontecido na casa de
Lawrence. A doce lembrança de ter feito amor com ele no estúdio fez com que ela
fechasse os olhos por um breve instante.
Quando já ia se levantando da cama, o telefone tocou.
— Alô?
— Oi, Nadine. Dormiu bem? — Era Lawrence, bem acordado, alerta,
confiante.
— Sim, obrigada.
— Já tomou seu café?
— Ainda não. — "Onde ele arruma tanta energia?", pensou.
— Então, você vai sair comigo, está bem? Apanho-a daqui a meia hora.
Nadine lembrou-se de que eles ainda precisavam combinar tudo a respeito da
exposição, pois quase nem tinham tocado no assunto na noite anterior. Quanto antes
tratasse disso, mais cedo voltaria para Jamie.
— Es t á be m .
— Encontro você no saguão.
— Combinado. Então, até já.
Se Lawrence pretendia tratá-la cordialmente, ela teria de corresponder a isso. A
noite anterior havia sido tumultuada demais para ser revivida, ainda que fosse em
pensamento, principalmente aquela parte em que tinha ficado furiosa quando ele disse
que detestava a idéia de ser pai. Todos os seus instintos maternais haviam se
revoltado ao pensar em Jamie. Mas agora achava que sua reação tinha sido absurda.
Primeiro, porque seria ridículo esperar que Lawrence dissesse que estava ansioso para
descobrir que tinha um filho em algum lugar no mundo; e, segundo, ela deveria estar
aliviada por saber que, caso ele soubesse da existência de Jamie, não iria querer a
custódia dele.
Quando Nadine chegou ao saguão, ele ainda não havia chegado. Sentou-se
para esperá-lo, forçando um ar de indiferença.
— Bom dia. — Lawrence ia beijá-la no rosto, mas foi impedido pela mão que ela
lhe estendeu num cumprimento formal.
— Bom dia, Lawrence. Onde vamos tomar café? Estou esfomeada.
Ele soltou sua mão e continuou a olhá-la nos olhos, enquanto ela se levantava,
encaminhando-se para a porta.
Lawrence não comentou a discussão da noite anterior, mas insistiu que os
negócios poderiam esperar até que Nadine tivesse a chance de rever os pontos
pitorescos de Florença.
Depois de passarem algumas horas passeando pelos lugares que Nadine mais
gostava, foram almoçar num restaurante. Lawrence pediu uma garrafa de vinho
para acompanhar o peixe que haviam pedido. Passaram horas conversando,
trocando idéias sobre a exposição, aparentemente em total descontração.
Depois da segunda rodada de café, continuaram conversando, sem nem mesmo
perceberem que eram as únicas pessoas dentro do restaurante.
"Será que ele não vê", pensou Nadine quando se levantaram para sair, "como
é difícil, para mim, manter esta farsa de amizade? Será que ele não entende?"
Mas Lawrence continuava conversando como se fosse a coisa mais natural do
mundo, como se eles se vissem todos os dias.
Nadine, por uma questão de orgulho, continuou a manter as aparências, e foi só
no fim da tarde que, acidentalmente, deixou que ele percebesse a profundidade de
seu sofrimento.
Ele fizera questão de levá-la ao campanário, de onde se descortinava uma vista
maravilhosa da cidade e das montanhas que a cercavam. Nadine sabia que não
deveria correr aquele risco, pois recentemente havia adquirido fobia de altura. Como
não queria que ele soubesse, encheu-se de coragem e subiu no elevador da torre.
Mas, ao chegar ao alto, sua coragem acabou, e ficou agarrada à parede junto à
porta do elevador. Quando Lawrence deu por falta dela, voltou imediatamente.
— O que aconteceu?
Ela estava tremendo. Com os olhos fechados, não conseguia parar de se imaginar
caindo lá para baixo, uma vez atrás da outra. Sem perceber, segurou com força a mão
de Lawrence.
— Nadine, o que foi?
Ela não tinha coragem de falar, com medo de começar a gritar histericamente.
O elevador voltou e Lawrence a levou para baixo.
Nadine saiu da torre agarrada a Lawrence, com os joelhos trêmulos. Ele a levou
até um banco de jardim, onde se sentaram. Ela recostou a cabeça no ombro
dele.
— Conte-me o que aconteceu.
Agora, que ela estava em terra firme, já se sentia capaz de responder.
— Não é nada grave. Eu... é que, de vez em quando, tenho vertigem. Pensei
que já tivesse superado este problema, mas pelo jeito me enganei.
— Vertigem!? — Ele não escondeu sua surpresa. — Você nunca teve medo
de altura. Nós já viemos tantas vezes ao campanário!
— Eu sei. Tudo começou depois que eu voltei para Nova Iorque.
— Mas, afinal, o que aconteceu em Nova Iorque que a fez mudar tanto?
Não vai me contar?
Ela o olhou com nervosismo, mas respondeu calmamente;
— Não acha que a causa de toda essa mudança pode ter sido você mesmo?
Você foi cruel comigo. Pior ainda, foi indiferente. Deveria imaginar que esse
tratamento acabaria me afetando de alguma maneira.
— Eu nunca fui indiferente a você.
— Indiferente a ponto de me trocar por outra.
— Eu não a troquei por ninguém. — A voz dele continuava calma. — Você
apenas exagerou o que fiz. Eu fui honesto desde o principio: queria minha liberdade
e independência, e também queria você. Como me aceitou nesses termos, foi você
quem me abandonou. Mas não guardei rancor por quatro anos devido a sua
possessividade e seu ciúme. Terá de abandonar a ilusão de que era uma
companheira e amante perfeita e que eu era um bastardo.
Nadine apoiou o queixo nas mãos e ficou olhando para os tufos de capim à
beira do passeio.
— Talvez você tenha razão — disse ela finalmente. — Mas isso não é uma
questão de certo ou errado. Você era mais velho e mais experiente do que eu, e
podia ver melhor as coisas. Devia entender o fato de eu sentir saudades dos meus
pais, por mais que falasse mal deles para você. E também devia entender o meu
ciúme, ao invés de brigar e sair de casa.
Lawrence enfiou as mãos nos bolsos e ficou olhando para o pé dela, que
roçava as pedras do calçamento num movimento para frente e para trás.
— Eu esperei demais de você, tem razão. Principalmente, considerando
sua idade e posição social.
— E eu esperei demais de você, considerando sua falta de sensibilidade e
seu egoísmo.
— Meu único erro foi o de fazer o que eu sempre disse que faria.
Arrasada diante do argumento dele, Nadine sentiu um aperto na garganta. Aquele
homem não tinha mais nenhum poder sobre as emoções dela; então, por que ela
sentia toda aquela tristeza diante do desprezo dele, diante da idéia de sua iminente
separação, diante da idéia de que Jamie jamais viria a conhecer seu pai?
— E o meu único erro foi o de me apaixonar por você. E também de ser cega
a ponto de não ver que você não me amava, e que em pouco tempo se cansaria de
mim. Simplesmente, jamais me ocorreu que você um dia poderia deixar de me amar, de
me querer. — Levantou-se bruscamente, num esforço para que ele não visse a agonia
estampada em seu olhar. — Provavelmente, foi por isso que eu fiquei com medo de
altura: eu me apaixonei e não havia ninguém para me segurar quando caí de uma
das nuvens.
Lawrence não respondeu e eles começaram a caminhar. Em contraste com a
descontração de algum tempo atrás, havia agora um silêncio incômodo entre eles.
Mas Nadine não se arrependeu do que tinha dito. Se ele pretendia passar a vida
magoando mulheres, era melhor que soubesse o dano que lhes causava.
— Eu não pretendia que nossa conversa se voltasse para um nível, tão pessoal —
É melhor falarmos apenas de negócios.
— Como é que nós podemos deixar de ser íntimos depois do que aconteceu na
noite de ontem? — Lawrence parecia nervoso. — Você não sentiu nada quando
fizemos amor?
Ela continuou a caminhar em silêncio.
— Responda — insistiu. — Não sentiu nada?
— Aquilo foi apenas um lapso; uma combinação de cansaço de viagem com
um hábito antigo. Eu não estou interessada em ter um caso amoroso com ninguém,
muito menos com você. Eu só quero segurança, apoio financeiro, compromisso,
fidelidade... .
Ele a interrompeu bruscamente:.
— Você não respondeu minha pergunta.
Os olhos dela se apertaram.
— Não, Lawrence. Eu não senti nada quando fizemos amor. Certamente, nada
a ponto de querer repetir a dose. — Então, ela colocou uma pitada de sarcasmo na
voz: — Mas não se preocupe, pensando que não terá ninguém em Nova Iorque.
Tenho certeza de que acharemos alguém para você. Eu colocarei um anúncio, e
você selecionará as candidatas quando chegar.
O olhar de Lawrence ficou sombrio, e, por um momento, Nadine temeu que
tivesse passado dos limites. Mas ele conseguiu controlar-se.
— Vou levá-la de volta para o hotel. Amanhã de manhã resolveremos tudo o
que falta ser decidido para a exposição.
— Seria bom. Estou pensando em reservar minha passagem para amanhã à
tarde.
Lawrence não respondeu, e fizeram o resto do caminho em silêncio. Na
despedida, ele foi totalmente frio:
— Até amanhã. — E girou sobre os calcanhares, voltando para o carro.
Nadine ficou olhando para ele, e então dirigiu-se rapidamente para o elevador.
Mais do que nunca, queria estar a salvo com Jamie em seu pequeno apartamento,
cozinhando, lendo, dormindo sozinha e em segurança. O ritmo e o tédio de uma
semana de trabalho pareciam o paraíso se comparados com o tumulto emocional pelo
qual passara nos dois últimos dias. Abriu a porta do quarto e bateu-a com força,
como se quisesse fechar também suas emoções em conflito.
Mas, assim que ficou sozinha, Nadine sentiu remorsos por ter sido rude com
Lawrence, e apertou o estômago com força. Havia nele tanta ternura e compaixão, tanta
compreensão, inteligência e humor, que sua vontade era a de esquecer o passado,
esquecer suas: mágoas e obedecer apenas ao desejo de simplesmente ficar com ele.
Não era verdade que ela não tinha sentido nada quando fizeram amor: até agora
estava com medo do que havia sentido. A paixão ardente que havia se acalmado em
seu peito retinha um calor que se incendiava ao contato das mãos e dos lábios dele.
Nadine tentara sufocar o desejo causado pelo seu jeito viril de fazer amor, mas, em
apenas algumas horas na companhia dele, seu corpo tinha sucumbido. Se ela
deixasse, seu coração também viria a sucumbir? Será que seu coração esqueceria,
assim como na noite anterior seu corpo traidor tinha esquecido, a mágoa que Lawrence
um dia lhe causara e poderia causar novamente?
"O melhor é esquecer tudo", pensou, tirando as sandálias e esticando-se na
cama macia. Esquecer, esquecer, esquecer. As palavras ecoaram em seu cérebro.
Esquecer o passado, esquecer o amor por Lawrence, esquecer a amargura. Se ela
conseguisse fazer isso, poderiam ser amigos. Era estranho, mas agora queria ser
amiga de Lawrence. Já que não podiam ser amantes, ela pelo menos queria ocupar
um lugar especial no coração dele, como amiga.
Virou-se de bruços e enterrou o rosto no travesseiro. Como podiam ser amigos?
Como era possível ignorar as batidas frenéticas de seu coração ao vê-lo, ao tocar
nele? Numa amizade não havia lugar para tanta sensibilidade e tanta carga emocional.
Amigos não podiam agir como pólos opostos de um ímã, atraídos de maneira
irresistível um pelo outro, pela força da atração física.
Tentando superar aquele sentimento de desolação, Nadine pegou o telefone para
fazer sua reserva no vôo do dia seguinte, à tarde.
Capítulo Seis
— Não, ele não mudou muito — disse Nadine, evitando o olhar de curiosidade
da irmã.
— Você encontrou a mulher dele?
— Eles se divorciaram há dois anos. — Embora estivesse esperando essas
perguntas, Nadine não tinha vontade de descrever em detalhes sua visita a
Florença.
Charlotte continuava hostil a Lawrence, como sempre. A conversa se tornou
difícil, pois os sentimentos de Nadine haviam mudado há algumas semanas. O fato
de rever as razões da separação teve peso, embora ela não o admitisse na ocasião,
pois pôde compreender que a culpa não era única e exclusivamente dele. Ela tentou
sugerir isso a Charlotte, mas sem êxito.
— Ele a enganou e a abandonou com um filho! A culpa é toda dele!
Diante disso, Nadine mudou de assunto. Estava preocupada com Jamie. Desde
que viajara, ele havia se tornado uma criança mais difícil. Agora, que ela estava
cuidando dos preparativos da exposição, ele ficava, quase o tempo todo em que não
estava na escola, sob os cuidados complacentes de Charlotte. Nadine já havia
recebido mais, de uma queixa da professora, que reclamava da desobediência de
Jamie. Não via a hora de a exposição terminar, para que pudesse dedicar mais tempo
ao filho, que se mostrava cada vez mais ressentido das longas ausências dela.
Setembro transcorreu num torvelinho de atividades e dificuldades. Satisfeito com
a organização da mostra, Everett cercava Nadine de atenções e mostrava-se
aborrecido por ela insistir em recusar seus convites para sair. Ele fazia perguntas
íntimas e constantes a respeito da estada de Nadine em Florença, e ela só
conseguiu colocar um ponto final no assunto quando respondeu com uma firmeza
que beirava a grosseria.
— Você me mandou para Florença para tratar dos detalhes administrativos da
mostra. E foi o que fiz. Não há nada mais que eu tenha de prestar contas. — E,
procurando controlar-se, saiu da saia dele, fechando a porta com força.
Alguns dias antes de Lawrence chegar, Everett chamou Nadine à sua sala e
deu-lhe ordens estritas no que dizia respeito à estada do artista em Nova Iorque.
Queria que ela passasse o maior tempo possível com Lawrence.
— Mas há ainda muita coisa para ser resolvida aqui na galeria, e ele
chegará na quinta-feira!
— Faça uma lista de tudo o que precisa ser feito. Donna cuidará disso. — Ele
acendeu um cigarro e soprou a fumaça. Nadine ficou olhando desconfiada para
Everett, tentando adivinhar o que estava preparando. — Stebbing sabe da
existência do seu filho?
— Não. — A voz dela era calma. Será que Everett sabia que Jamie era filho
de Lawrence?
— Vou fazer um trato com você, benzinho. Se fizer exatamente o que eu
disser, Stebbing não ficará sabendo por meu intermédio que tem um filho.
Ela empalideceu ao perceber que ele sabia.
— Não fique tão espantada. Meus poderes de dedução não são tão maus
assim. A Madrugada toscana foi pintada vários meses antes do nascimento de seu
filho. Eu a conheço e sei que você não é uma moça promíscua; a dedução lógica é
que Lawrence é o pai de seu filho. — Deu mais uma tragada no cigarro. — Quer
dizer que ele não sabe, não é?
Nadine mostrava nos olhos toda a raiva que estava sentindo.
— Não quero que ele saiba.
— Eu já lhe disse que ele não ficará sabendo, a não ser que você não
cumpra a sua parte do trato. Confie em mim. — Tirou uma pasta da gaveta. — Aqui
está o seu roteiro. Quero que o siga.
Ela abriu a pasta e viu que continha uma relação detalhada de entrevistas
coletivas, excursões, restaurantes e festas a que eles deveriam comparecer,
juntamente com comprovantes de reservas, passes e convites formais, num
envelope do lado. Nadine procurou esconder seu desespero.
— Eu não posso abandonar meu filho dessa maneira. Não sou obrigada a
trabalhar à noite. Farei todo o resto, mas tenho de passar as noites com Jamie.
— Sinto muito, benzinho. Você fará tudo o que está na lista. Caso contrário,
Stebbing ficará sabendo da existência de Jamie, e você não terá mais nenhuma
noite com seu filho. Você sabe o que acontecerá se ele descobrir, é claro. Não
conseguiria convencer nenhum júri de que pode cuidar sozinha de uma criança, com
o seu salário.
— Eu conto com você para fazer com que ele não recuse nada.
Nadine cruzou os braços, lutando para não perder o controle.
— Por que está fazendo isso?
Não havia qualquer expressão nos olhos de Everett.
— A única coisa que me interessa é o sucesso da minha galeria, e isso
depende dessa exposição. Não tenho qualquer outro motivo. Eu quero que a mostra
seja um sucesso, e, com a sua colaboração, será.
Durante um longo momento, eles se olharam com desconfiança mútua, e então
Nadine saiu da sala. Sentiu um arrepio só de pensar nas dificuldades que encontraria.
Não sabia o que se passava na cabeça de Lawrence. E se ele não quisesse passar doze
horas por dia com ela? E se quisesse arranjar uma mulher para passar a noite? Ela
certamente não seria essa mulher! Desta vez, não!
Entrou em sua sala e fechou a porta. Havia uma maneira de resolver esse problema,
é claro. Era só contar a Lawrence sobre Jamie. Mas, e se Lawrence mudasse de idéia
e resolvesse levar Jamie para Florença? Ela não poderia expor Jamie a uma disputa pela
custódia no tribunal, mesmo porque nem teria dinheiro para isso. Everett tinha razão:
até ela ter absoluta certeza de que poderia confiar em Lawrence, ele não poderia saber
sobre Jamie.
Alguns dias mais tarde, Nadine acordou curiosamente feliz, do jeito que costumava
acordar no dia de seu aniversário quando era pequena. Por um momento, ficou sem
saber por que seu coração estava batendo tão depressa, e então lembrou-se: Lawrence
iria chegar naquele dia.
Procurou abafar seu entusiasmo. Já fazia um mês que não via Lawrence, e,
apesar de terem conversado pelo telefone diversas vezes, as conversas tinham sido
sempre curtas e impessoais. "Talvez ele esteja feliz por ter se livrado de mim",
pensou, lembrando-se com remorsos de seu comportamento vingativo, imaturo e
mal-humorado.
Lawrence não se mostrou surpreso por ser recebido por Nadine no aeroporto
Kennedy. Enquanto eles se cumprimentavam com um demorado aperto de mão,
Nadine ficou espantada por sentir-se iluminada pelos flashes de diversas máquinas
fotográficas.
Na porta do hotel, Nadine hesitou, sem saber se ia direto ver o filho, ou se passava
antes na galeria. Se Everett descobrisse que eles não tinham ido à vernissage, e
soubesse que ela não tinha voltado à galeria, será que cumpriria sua ameaça? Não,
provavelmente não queimaria seus trunfos tão cedo, pois ela ainda poderia lhe ser de grande
utilidade. Além do mais, como saberia se eles tinham ido ou não à vernissage? Assim,
tomou sua decisão e dirigiu-se à casa da. Irmã.
Charlotte ficou furiosa com a atitude de Everett, e sua sugestão para resolver o
problema era muito simples: contar a verdade a Lawrence.
— Mas, se ele ficar sabendo, tenho quase certeza de que vai querer tirar
Jamie de mim.
— Bobagem! Um pai natural tem menos direitos sobre o filho do que a
mãe!
Quando Jamie ficou sabendo que a mãe ia jantar fora, teve mais um de seus
acessos de mau humor e foi emburrado para o quarto. Quando Nadine quis
conversar, ficou desenhando e nem olhou para ela. Sentando-se na beirada da cama,
ela disse:
— Meu filho querido, você sabe que mamãe tem de trabalhar para ganhar
dinheiro e a gente poder viver. Estou saindo porque é o meu trabalho. Você sabe
que, se eu pudesse, ficaria com você. Mas não posso. Eu vou sentir muita falta sua.
Não pense que estou saindo porque quero.
— Aonde você vai?
— Eu vou jantar. E vou voltar para dormir aqui, para que amanhã de manhã a
gente possa tomar o café juntos numa lanchonete, antes de irmos para a escola. Só
nós dois. O que você acha?
— Eu não quero dormir aqui. Quero ir para casa.
Querido, eu sei disso. Eu também queria. Mas, na vida, às vezes a gente tem de fazer
coisas que não quer. Seja bonzinho e ajude a mamãe. Em menos de uma semana,
tudo isso vai terminar e nossa vida voltará ao normal. Está bem assim?
Ela viu que Jamie estava lutando para não chorar, e então abraçou-o com
carinho. Ele não pôde conter um soluço.
— Está bem, mamãe.
Charlotte escolheu um vestido lindo para emprestar a Nadine, comprado na
época em que ela era bem mais magra. Era de seda pura verde-esmeralda, com um
decote em V na frente, que ia até a cintura.
— Você vai ficar maravilhosa com este vestido.
— Mas, Charlotte, é um jantar de negócios — protestou Nadine, rindo. — E meu
negócio não é levar Lawrence para a cama. Vamos ver outro.
Mas Charlotte gostava de vestidos sensuais, e cada um que tirava do armário era
mais audacioso que o anterior. Com um suspiro profundo, Nadine pôs o vestido
verde e se olhou no espelho.
— Você está deslumbrante! — exclamou Charlotte com entusiasmo. — E está
certinho em você! Oh, Nadine, como é que eu fui engordar tanto?
— Você não está gorda. Você está gostosa e sabe que Steve a prefere assim.
Portanto, não reclame. — E apertando os olhos girou diversas vezes pelo quarto, fazendo
o vestido subir em ondas suaves. Ele era realmente maravilhoso, e Nadine estava certa de
que Steve tinha pago uma fortuna por ele.
— Acho que só o usei uma vez — disse Charlotte com tristeza. — Que
desperdício!
Nadine concordou, mas não disse nada. Pelo menos, quando Lawrence a visse
naquele vestido; não iria desconfiar da vida apertada que levava. Só de pensar nas
poucas roupas que tinha em seu pequeno armário, teve vontade de rir. Mas aquilo era
uma coisa que Lawrence jamais veria. Esta noite, ela seria uma outra pessoa: a rica e
misteriosa companheira do famoso artista:
De joelhos, Charlotte revirava o armário procurando sapatos.
Seus pés são maiores que os meus — disse, arfando, depois de encontrar o que
queria. — Mas veja se estes lhe servem. Não é por causa de uma ou duas bolhas
que você vai estragar seu visual, não é?
Nadine calçou os sapatos de saltos altíssimos e fez uma careta, pois estavam
bastante apertados.
— Não tem importância — animou-a Charlotte. — Lembre-se de que vai
passar a maior parte do tempo sentada, comendo. Ninguém vai reparar se você os
tirar. Com as meias, vai melhorar um pouco. Aqui estão, pegue-as. Agora,
precisamos de um colar. — E saiu do quarto.
Nadine ficou parada no meio do quarto, lembrando-se de seu tempo de
adolescente, quando elas também usavam roupas e acessórios uma da outra.
— Veja o que encontrei! — disse Charlotte, trazendo um colar de coral na mão.
— Vai ficar perfeito. Você gosta?
Nadine sacudiu a cabeça, calçando novamente os sapatos e tirando-os
rapidamente.
— É lindo, mas não posso ir com ele. É muito parecido com aquele que
Lawrence me deu em Florença.
— Por favor, diga ao senhor Lawrence Stebbing que Nadine Barnet está aqui
— pediu ao recepcionista do hotel, ignorando seu olhar de admiração.
Enquanto o recepcionista ligava para o quarto de Lawrence, ela se virou de costas,
olhando em torno do saguão elegantemente decorado e pensando, com grande
excitação: "Lawrence, Lawrence! Eu vou sair com Lawrence!"
— Geralmente, sou eu. — Soltou o cartão sobre a mesa e olhou para ele,
tentando tirar aquele quadro da cábeça. Como é que uma simples reprodução podia
deixá-la tão sem ação? — Desta vez, Everett insistiu em cuidar pessoalmente da
publicidade. Ele disse que essa mostra era importante demais para me deixar correr o
risco de cometer algum engano. Só agora entendo o porquê. Eu jamais teria escolhido
essa obra.
Lawrence pegou a garrafa de champanhe e começou a soltar a rolha.
— Por que não? É um dos meus melhores trabalhos.
— Isso é mesmo.
A rolha saltou com um estouro e o champanhe derramou no carpete. Com
destreza, Lawrence encheu as taças.
— A Everett Mills! — brindou ele, erguendo a taça.
Ela assentiu em silêncio e tomou um longo gole. Então, engasgou e começou
a tossir. Com um tapa nas costas, Lawrence ajudou-a a recuperar o fôlego,
fazendo-a rir.
— Obrigada — disse, quando voltou a respirar. — Desceu pelo lado errado. Vamos
fazer outro brinde, aquele não foi muito bom. Ao sucesso da exposição! Quero ver se eu
engasgo agora. — E bebeu tranqüilamente o resto do champanhe.
Como já eram quase oito horas quando eles terminaram a garrafa de champanhe,
decidiram tomar um táxi em vez de atravessar o parque a pé, pois ficaria muito tarde.
Nadine suspirou aliviada, sabendo que seus pés ficariam acabados com aquela
caminhada, por causa dos sapatos apertados da irmã.
Enquanto esperavam que o porteiro chamasse um táxi, Nadine estava exultante
por estar tomando parte da verdadeira vida noturna de Nova Iorque, de cuja existência
ela só ouvira falar sem jamais ter participado. Mas, como era só por alguns dias, ela
pretendia aproveitá-la ao máximo. Durante o trajeto, conversaram amigavelmente.
Era maravilhoso estar novamente com Lawrence. Apesar de não demonstrar
nenhum interesse romântico por ela, era o mesmo homem de quatro anos atrás:
interessado, alerta, gentil, simpático. Chegou a lembrar-se de quando iam à ópera
em Florença, ou a concertos, com a diferença de que, naquela época, havia um
brilho diferente nos olhos de Lawrence, e ele raramente largava sua mão. Essa era a
única diferença, disse a si mesma. Uma diferença sem importância.
A mesa reservada no restaurante ficava no jardim, iluminado por lampiões
presos às árvores. Nadine estava encantada.
— Você vem sempre aqui? — perguntou Lawrence, depois que eles fizeram o
pedido.
— Não. — Seu véu de sofisticação caiu um pouco. — Na verdade, é a
primeira vez.
Ele levantou as sobrancelhas.
— Mas parece que todo mundo a conhece por aqui. Como é possível?
Ela não tinha notado nada de extraordinário, além da extrema cortesia com
que estavam sendo tratados.
— Eu não sei — respondeu, sem entender por que Lawrence estava franzindo
a testa.
Um flash iluminou a mesa deles enquanto ela seguia o olhar de Lawrence,
no fundo do restaurante. Dois fotógrafos e um repórter vinham na direção deles.
Ela olhou assustada para Lawrence.
— Fico feliz por saber disso, mas você ainda não respondeu minha pergunta. O
Nos dias que se seguiram, a imprensa apertou mais ainda o cerco. Jornais e
revistas publicavam fotografias do casal, relatando todas as suas atividades e
criando a história do renascimento de um romance ardente entre eles.
Quando Charlotte entregou a Nadine um jornal onde aparecia uma fotografia
dos dois se beijando, esta ficou ruborizada.
— Parece que você não o odeia tanto quanto diz — falou Charlotte. — O
que está havendo entre vocês? Eu tenho lido tanta besteira nestes últimos dias,
que já não sei mais o que é realidade e o que é invenção...
Mas ela não conseguiu fazer com que a irmã lhe contasse nada. Nadine dizia
apenas que Everett insistia que ela continuasse acompanhando Lawrence nas
atividades programadas, e que eles não estavam envolvidos emocionalmente.
Sem acreditar, Charlotte deu mais uma olhada na fotografia.
— Você vai lhe contar sobre Jamie?
— Jamie! Você está brincando? Aqueles malditos repórteres iriam cercá-lo
quando ele chegasse e saísse da escola... Ele não teria um minuto de sossego,
Char! Eu já estou dando graças a Deus por ainda não terem descoberto nada por
conta própria.
— Não estou sugerindo que você conte aos repórteres. — Charlotte não se
deixou impressionar pela veemência de Nadine. Só ao pai. Ele tem o direito de
saber.
Nadine deu uma risada de deboche.
— Você acha que, se nós três saíssemos juntos pelas ruas de Nova Iorque, os
repórteres não cairiam sobre nós como um bando de lobos? Eu não vou permitir que
Jamie passe por isso; para mim mesma já é bem difícil.
— Oh, Nadine! — Charlotte estava com pena da irmã. — Você está
atravessando um momento muito difícil, não é mesmo? Mas, assim que essa
exposição terminar e você se sentir mais calma e menos pressionada, poderá contar
tudo a ele.
Nadine nem respondeu. Naquele mesmo dia, Everett tinha dito que estava
tentado a revelar acidentalmente que Lawrence tinha um filho, para assegurar o
sucesso da exposição. Ela teve de recorrer a mentiras e ameaças, dizendo que eles
tinham realmente reatado o romance, e que, assim que a exposição terminasse, ela
mesma lhe falaria sobre Jamie. Se Everett expusesse o filho de Lawrence à imprensa,
ele certamente ficaria furioso e abandonaria a exposição sem pensar duas vezes.
Everett franziu os lábios e concordou em esperar mais um pouco.
Na véspera da inauguração da mostra, eles foram jantar num restaurante no
bairro italiano, e depois do jantar passearam pelas ruas estreitas. Lawrence insistia em
saber as coisas da vida particular de Nadine, mas ela sempre respondia com evasivas.
Enquanto caminhavam de mãos dadas, uma lufada de vento frio fez Nadine
estremecer, dizendo:
— Detesto inverno!
Num impulso, ele passou o braço pelos ombros dela, procurando aquecê-la. A
princípio, Nadine enrijeceu o corpo, mas logo achou que estava tão gostoso que acabou
passando o braço pela cintura de Lawrence.
Depois de caminharem mais um pouco, tomaram um táxi até o hotel,
continuando abraçadinhos dentro do carro. Ao chegarem, ele perguntou:
— Não quer subir?
A tentação era grande. O carinho e o calor dele despertaram em Nadine um desejo
que ela não ousava demonstrar. Então, ela sacudiu a cabeça. Além do mais, disse a
si mesma, não queria mais se prender a nenhum homem, nenhum mesmo. Era
doloroso demais quando chegava ao fim.
— Então, até amanhã.
Ela sorriu.
— Você vai ver: sua exposição será um grande sucesso. Boa noite.
Capítulo Oito
— Aonde? Comigo.
— Quero ficar a sós com você.
Aquelas palavras não eram um bom sinal, mas seu desejo de continuar com
ele depois do sucesso daquela festa era tentador demais. Concordou em ir
andando com ele até o hotel, e assim seguiram pela 5ª Avenida.
:
— Nadine disse que Jamie pode dormir aqui. Espero que vocês não se
importem, pois temos muito que conversar,
— Foi um prazer conhecê-lo — disse Steve. — Esperamos vê-lo outras
vezes.
Ao chegarem à rua, Lawrence começou a procurar um táxi.
— Aonde vamos? — perguntou Nadine, sem saber se estava tremendo
de frio ou de nervosismo.
— Como eu já sei porque você nunca me convidou para ir ao seu
apartamento, talvez agora a gente possa ir lá. A não ser que você tenha mais
segredos...
Sem responder, ela entrou no táxi que havia parado e deu seu endereço
ao motorista. Fizeram o trajeto todo sem trocar uma palavra, e Nadine sentia que
a raiva de Lawrence crescia a cada momento.
Como o apartamento era muito pequenino, Nadine se sentiu
envergonhada, achando que Lawrence estava aborrecido por ver que seu filho
estava vivendo naquele lugar horroroso, quando poderia estar correndo pelas
campinas de Fiesole. Mas, pela expressão dele era impossível adivinhar o que se
passava em sua cabeça.
— O que você quer tomar: café ou alguma outra coisa?
— Você devia ter me contado. — A voz dele tremia de raiva.
— Eu ia lhe contar. Só não queria que ele ficasse exposto a toda aquela
publicidade, e decidi esperar até depois da exposição. Ontem à noite eu ia lhe
contar...
— Não estou falando de ontem à noite, ou da semana passada. Estou
falando de quatro anos atrás. Você já sabia quando foi embora? Quando estava
com enjôo na estação?
— Não.
— Quando ficou sabendo?
— Em janeiro.
— Devia ter me contado, então.
Nadine se preparou para a batalha, cruzando os braços.
— Devia ter lhe contado o quê? Jamie é meu. Só meu.
— Steve me disse a idade dele, e sou perfeitamente capaz de fazer
contas. Também conheço um pouco de biologia. Que eu saiba, é totalmente
impossível uma criança ser apenas de uma mulher.
— Você sabe muito bem do que estou falando — disse ela, levantando o
queixo.
— Não, não sei, não. Você devia ter me contado! Eu poderia, pelo
menos, tê-la ajudado financeiramente, mesmo que você nunca mais quisesse me
ver.
— Eu me virei muito bem sozinha. Eu não queria e não precisava da sua
ajuda.
— Steve me disse que lhe emprestava dinheiro até dois anos atrás.
— E daí? Eu lhe paguei tudo. Além do mais, você deveria estar contente
por seu filho não ter sido criado em berço de ouro, como eu fui. Você sempre
achou isso errado. Sempre se achou superior por ter sido criado na pobreza. Não
se sente realizado ao saber que seu filho teve a mesma criação?
— Nadine, eu jamais permitiria que um filho meu passasse as
necessidades que passei, se pudesse evitar.
— O meu filho não passa necessidades. Nós vivemos muito bem.
— Vocês não vivem muito bem, não. Você não só está negando um pai
ao seu filho, como está negando uma mãe ao meu filho. Você trabalha, portanto
passa o dia inteiro longe dele. Se ao menos gostasse do seu trabalho, eu ainda
entenderia, mas você nem gosta do que faz!
— Não estou negando nada a Jamie, nada. Ele tem uma mãe, que
passa a maior parte do tempo possível com ele. Tem parentes que tomam conta
dele com muito carinho e cuidado, quando necessário. Você não tem o direito de
criticar o que eu fiz, ou como fiz. Fiz o melhor que pude.
— Você sabe que não é assim. Se não o tivesse escondido de mim,
teria meios de criá-o com maior segurança.
— Ora, Lawrence, você não queria assumir nenhuma responsabilidade,
quanto mais a de criar um filho! Pensa que é um homem honrado porque se
casou com Lily, achando que ela estava grávida. Você acha que amor e honra
são a mesma coisa? Eu o amava e aceitei viver com você nos seus termos, por
causa disso. E não o abandonei porque você saiu com Lily. Eu o abandonei
porque você abusou da liberdade na nossa relação. Aí, você perdeu todos os
direitos ao seu filho.
— Se eu soubesse da existência de Jamie — disse ele, com os dentes
cerrados —, teria sido diferente.
— Você quer dizer que teria se casado comigo porque ia ter um filho seu?
Ora Lawrence, você acha que eu ficaria feliz se me casasse por causa de Jamie?
A esta altura, você deve saber que sou mais egoísta e possessiva do que isso!
Eu queria o seu amor, e não o seu maldito senso de obrigação!
Lawrence se virou e ficou de frente para ela. Nadine sustentou seu olhar.
— Você sabe que eu a amava tanto quanto você me amava. E também
sabe que era uma pessoa muito difícil de se conviver, assim como eu também.
Então, não venha pôr toda a culpa da nossa separação nas minhas costas. Você
também teve a sua parte. Eu a amava tanto que lhe escrevi duas cartas, mesmo
depois daquela sua resposta. Por favor, Nadine, tire-me do pedestal em que me
colocou. Eu não sou um cafajeste, um traidor, mas também não sou aquele
homem virtuoso e perfeito que você imaginava, ou queria que fosse. Sou apenas
um sujeito comum, que está apaixonado por você.
Ah, se aquilo fosse verdade! Mas como poderia acreditar nele agora?
— Você quer dizer: estava apaixonado,
— Ao contrário de você, digo o que penso: eu estou apaixonado por
você.
— Você, provavelmente, fica interessado nas mulheres com quem faz
sexo, e, para aliviar a consciência, chama esse interesse de amor. Assim que
você se cansar de fazer amor comigo, ou assim que surgir algum problema com o
qual não queira se preocupar, você irá procurar outra mulher.
— Acha que egoísmo, ciúme e possessibilidade são sinônimos de amor,
não é mesmo? E que amor é esse que fez você me abandonar? — perguntou
Lawrence.
A pequena sala estava carregada de amargura e ressentimento de
quatro anos. Muitas acusações e palavras ásperas foram trocadas, até que
Lawrence, finalmente, explodiu:
— Mas isso foi há quatro anos! Como é que você pode ficar remoendo
coisas velhas, que não interessam mais? Eu mudei, você mudou! É com a nossa
relação atual que estou preocupado: eu, você e Jamie.
— Será que você não entende que o que aconteceu há quatro anos
influi, e muito, sobre o que está acontecendo neste momento? Sim, você tem
razão: eu mudei. Foi você quem me ensinou como eu deveria ser, e aprendi a
lição direitinho. Pode ter certeza de que mudei!
— E o que foi que eu lhe ensinei?
— A nunca mais confiar em você! Nunca mais!
Ele cerrou os dentes e se aproximou dela. Por um momento, Nadine
achou que tinha ido longe demais e que ele iria agredí-la; então, levantou o
queixo num ar desafiador.
Ele não a agrediu, mas suas palavras foram mais duras que qualquer
agressão física.
— Você é uma idiota, Nadine. Jamie é meu filho também. E eu não vou
permitir que ele cresça sem pai, só com meia mãe.
Nadine arregalou os olhos, aterrorizada. Aquilo era o que mais temia: ele
ia tirar Jamie dela!
— Não se atreva! Nunca deixarei que você me tire Jamie. Não vou
permitir que faça com ele o que fez comigo. Custei para me recuperar de sua
traição, mas uma criança ficaria marcada pelo resto da vida se fosse abandonada.
Jamais deixarei que você entre mais uma vez na minha vida, ou na de Jamie!
Jamais!
— Eu nunca a traí e jamais trairei Jamie. Você quer fazer o favor de parar
com esse melodrama?
— Não vou discutir semântica com você — disse, procurando colocar
desprezo em sua voz para disfarçar o medo. — Mas não vou deixar que você
magoe meu filho do jeito que me magoou. Não posso perdoá-lo por ele, se não
por mim.
Depois de ficarem algum tempo em silêncio, Lawrence falou:
— Eu estava enganado. Você não mudou nem um pouquinho. Continua
sendo a mesma garota imatura, ciumenta e possessiva que conheci, e, ao que
parece, nunca vai crescer para se transformar numa mulher.
E, assim dizendo, deu-lhe as costas e saiu do apartamento, batendo a porta
com força atrás de si.
“Você também não mudou”, pensou Nadine. “Você sempre teve a mania de
sair no meio de uma discussão.”
Capítulo Dez
— Nadine, meu casamento foi horrível e meu divórcio pior ainda, mas, apesar
de tudo, eu quero me casar com você. Foi você quem me abandonou, e eu a perdoei.
Quero recomeçar minha vida com você.
— Não adianta, Lawrence, não posso correr esse risco. Não quero depender
de ninguém, pois acho que não agüentaria sofrer mais um golpe. Além do mais,
tenho de ter muito cuidado, porque quero proteger Jamie.
— Você não confia mesmo em mim, não é?
— Quando se trata de relacionamentos, você é muito diferente de mim. Você
se apaixona e desapaixona num piscar de olhos. Pode fazer amor com dezenas de
mulheres e dizer que ama todas. Pode se casar com uma dessas mulheres por achar
que é um dever de honra, e, quando descobre que não havia necessidade, livra-se
do relacionamento. Aposto que disse a Lily que a amava. Você não acha que a
magoou? Já imaginou quanto ela deve tê-lo amado para forçá-lo a se casar com ela?
Você magoa as pessoas porque não quer assumir a responsabilidade dos seus
relacionamentos. Lily, eu, você mesmo, todos nós fomos magoados, e não vou
deixar que magoe Jamie.
Lawrence se levantou e começou a andar de um lado para outro, até que
finalmente falou:
— Como você exagera o que fiz! Por que me faz ficar na defensiva o tempo
todo? Já lhe pedi desculpas. Fiz muita besteira e assumo o que fiz, mas agora eu
mudei. E não é possível que você continue achando que fui o único culpado da
nossa separação. — Ele parou de andar e ficou olhando para ela. — Agora, tente ser
prática. Você estaria adquirindo e não perdendo segurança. Nós três teríamos uma
vida familiar, e você poderia se concentrar na defesa da sua tese de mestrado, sem
qualquer preocupação financeira, vivendo numa cidade que eu sei que você adora,
com seu filho e com o homem que a ama. Nadine, nunca deixei de amar você,
acredite-me.
Como ela desejou, durante todos aqueles anos, ouvir aquela declaração de
amor! Tudo parecia um sonho: a casa em Florença, seu mestrado, Jamie correndo
livremente pelos campos floridos, e Lawrence, o tempo todo ao lado dela. A oferta era
praticamente irrecusável, mas ela já o amara muito e não dera certo.
— Estou contente — disse finalmente. — Estou contente por saber que você
me ama, pois agora vai ver como é bom. Agora vai entender o quanto sofri quando
você me traiu com Lily.
— Está bem. Agora você está vingada. Você me amava antes e eu a amo
agora. Se a gente fosse viver junto, talvez você voltasse a me amar e pudéssemos ser
felizes. Mas não estou pedindo que você me ame. Só quero que aceite a
segurança que estou lhe oferecendo, por você e por Jamie. Assim, ambos teremos o
que mais queremos na vida: você quer segurança e eu quero você.
Nadine sentia um zumbido na cabeça. Estendeu a mão para Lawrence e ele a
segurou.
— Lawrence — começou, mas logo sentiu um nó na garganta. Com a outra
mão, segurou a cabeça dele e beijou-lhe o pescoço. Em seguida, abriu-lhe a camisa e
acariciou-lhe o peito, fazendo-o gemer.
— Querida... Ele a beijava no pescoço, na orelha, com sofreguidão.
Sentia que ela o queria. Ela apertou o corpo contra o dele, tremendo.
— Jamie pode acordar? — ele perguntou entre beijos.
— Não. Ele estava cansado.
Ele a despiu, admirando a dança da luz das velas sobre seu corpo nu, e foram
para a cama, que ficava no canto oposto da sala. Nadine sentia o corpo queimar até
os ossos. A cama rangia sob o peso deles, e Lawrence a olhou com os olhos
carregados de paixão.
— Diga — ordenou ele, com a voz rouca.
A princípio, ela não entendeu. Ele esmagou sua boca contra a dela, e depois
desceu para o pescoço e os seios.
— Eu amo você... Eu amo você, Nadine.
Era evidente que ele queria ouvir a mesma coisa dos lábios dela, e como ela
continuasse calada, continuou aquele assalto carinhoso ao corpo dela.
— Lawrence, por favor... — gritou Nadine. Ela podia lhe entregar seu corpo,
demonstrar todo o seu desejo, mas ainda não podia lhe dizer que o amava.
Finalmente, ele atingiu o centro de prazer dela, e em questão de segundos
Nadine explodia numa delirante onda de arrebatamento. Agarrado a ela, e chamando
seu nome, Lawrence a embalou nos braços. Seus corpos estavam molhados.
Algum tempo depois, quando eles já não estavam mais ofegantes, Lawrence se
apoiou sobre o cotovelo e passou a mão pelo rosto de Nadine, que a beijou.
— Antes de conhecer você, eu nunca soube o que era abrir o coração para
alguém. Quando era criança, tentei; primeiro para o meu pai, que nos abandonou, e
depois para a minha mãe, que me tratou de forma abominável a maior parte do tempo.
Assim, aprendi cedo que não podia ter sentimentos, a fim de me proteger. As únicas
vezes em que me libertava era quando pintava, mas mesmo assim havia muita frieza em
mim. E então conheci você, que era tão aberta, tão confiante, tão cheia de amor
para dar. Você era mais forte do que eu porque não tinha medo de se dar, e eu me
senti arrasado quando você se foi. Foi por isso que escrevi aquela carta, e a sua
resposta só me confirmou que eu seria rejeitado se abrisse meu coração para
alguém.
— Desculpe-me. Sinto muito...
— Não tem importância, porque tudo isso serviu para uma coisa: eu aprendi
a ter sentimentos e a expressá-los. Você se lembra de como notou que meus
quadros estavam diferentes no mês passado? Só agora encontrei a explicação
para isso: eu passei a pintar com sentimento, e isso uma coisa maravilhosa!
Nadine escondeu as lágrimas, fechando os olhos.
— Comigo foi diferente — disse ela. Eu era do jeito que você falou, mas
agora sou insegura e uma das coisas que aprendi foi controlar minhas emoções.
Não dou mais meu afeto e minha lealdade como costumava dar.
— O autocontrole não é uma coisa ruim. Só porque você pode controlar
suas emoções não significa que não as tem guardadas. Mas eu não sabia mais
sentir emoções. Eu não tinha mais nada para controlar.
Nadine assentiu, sentindo um misto de tristeza e alegria no peito. Lawrence
a abraçou, e ela recostou o rosto no peito dele.
— Venha comigo para Florença. Você vai ver como tudo vai dar certo.
Depois de um longo silêncio, ela respondeu:
— Está bem. Vou me casar com voc ê.
Lawrence respirou aliviado, depois de tanta tensão, e selou aquela
promessa com um beijo.
— Vamos nos casar antes de partirmos.
— Mas não conte a Jamie ainda — disse ela, repentinamente.
— Po r qu e nã o?
— É melhor esperar alguns dias.
O coração de Nadine estava disparado como o de um animal assustado.
Lawrence a beijou mais uma vez, e ela procurou afastar o pânico infundado que
estava sentindo por ter assumido aquele compromisso.
Nenhum dos dois dormiu bem, e logo que o dia amanheceu se levantaram e
foram tomar café. Não tocaram no assunto da noite anterior, e como Jamie também
acordou em seguida, pai e filho ficaram conversando animadamente à mesa.
Lawrence se ofereceu para levar Jamie à escola e Nadine lhe entregou a chave
do apartamento, porque assim ele poderia também trazê-lo de volta.
— Então, até a noite — disse ele, beijando-a no rosto.
Ela ficou olhando os dois descerem a escada, de mãos dadas, e sentiu o coração
se contrair de amor e de um certo temor.
— Acho que nunca vou me sentir de outro jeito. Serei sempre como sou agora:
insegura, desconfiada de sua fidelidade, sem saber se você me ama de verdade,
ou se está se casando comigo por causa de Jamie, ou porque está com pena de
mim... — Engoliu em seco e continuou: — Não é só pelo que aconteceu entre nós
no passado, é porque os meus pais também me abandonaram. Nunca pensei que eles
pudessem fazer uma coisa dessas comigo. Você não imagina o pânico que senti!
Tive tanto medo de não conseguir vencer sozinha.
— Mas você conseguiu.
— Consegui. Mas o preço que paguei foi alto demais para eu me arriscar a
passar novamente pelo que passei. É por isso que não quero mais depender de
você, dos meus pais, ou de quem quer que seja. E o amor é um tipo de dependência.
É por isso que não quero mais ver meus pais. Porque eu os perdoaria e voltaria a
precisar deles e a contar com eles como antigamente.
— Esqueça seus pais. E eu?
— Com você é a mesma coisa. Se me casasse com você, passaria a precisar
de você, contar com você, e viveria aterrorizada, temendo que a qualquer momento eu
fosse atirada na rua da amargura, e dessa vez eu teria Jamie para proteger também.
Não posso me casar com você, Lawrence. Não posso mudar meus sentimentos.
Pensei que pudesse, mas não posso.
A resposta dele marcou o fim do relacionamento:
— Eu sei. — Foi tudo o que ele disse.
Quando ela olhou para ele, para mostrar como estava sendo corajosa, como não
estava chorando pelo rompimento do romance, ele nem pôde vê-la, pois estava com
os olhos cheios de lágrimas.
— Nunca me perdoarei por destruir sua fé e confiança nas pessoas que ama.
Mas você esperou demais de mim, Nadine. Sou apenas um homem. Não posso sequer
lhe prometer que se nós nos casássemos eu nunca mais a magoaria. Tenho minhas
fraquezas, meus defeitos, e se você não pode conviver com eles, não daria certo.
Ele se levantou abruptamente, ficando de costas para ela, com os ombros
caídos. Sentindo um aperto no coração, ela se levantou e pôs a mão no ombro
dele.
— Lawrence...
Apoiando-se com as duas mãos na mesa da cozinha, como se estivesse muito
fraco para sustentar o corpo, ele pediu:
— Não fa ça isso.
Ela voltou para o sofá, admirada com a tristeza dele, e ficaram assim por
algum tempo, em completo silêncio.
Lawrence foi o primeiro a se mexer. Pegando o copo de uísque, deu um gole
muito grande e acabou engasgando. Nadine correu para acudí-lo e deu-lhe um
tapa forte nas costas. Quando ele recuperou o fôlego, ambos começaram a rir,
olhando um para o outro. Então, ele a segurou pelos pulsos e se beijaram
desesperadamente.
A grande frustração pela qual eles passaram transformou-se numa luta pela
posse física. Aquela era a Nadine de antigamente: desinibida, audaciosa, meiga e
terrivelmente excitante. Ela pressionava os seios contra o peito dele, brincando com a
língua em sua orelha, pescoço, dentes e língua.
Rapidamente, ela o despiu lá mesmo, jogando as roupas no chão da cozinha.
Enlouquecido com tanta provocação, ele a pegou no colo e a levou para a cama, onde a
despiu quase com selvageria.
Com o maior empenho, ele passou a cobrir todo o corpo dela de beijos, e Nadine
também passou a excitá-lo, até que finalmente ele a puxou sobre si, fazendo com
que ela o montasse e olhasse extasiada para ele, por entre as pálpebras semicerradas.
— Quero que você me ame — ele ordenou com a voz rouca. — Venha, meu
amor.
E ela obedeceu. Seus corpos se transformaram em um só, e eles rolaram na
cama, ao ritmo do amor, num frenesi de paixão. Lawrence nunca havia feito amor com
tanta violência, como se quisesse tomar posse do corpo dela, já que não podia
possuir sua alma. Ele foi aumentando o ritmo e a força, como se estivesse
procurando alguma coisa dentro dela, até atingir o clímax, levando-a consigo naquela
onda carregada de paixão, que finalmente arrebentava.
Quando ele soltou o peso do corpo sobre ela, percebeu que ela estava
tremendo.
— O que foi, meu amor? — perguntou, abraçando-a carinhosamente. Ele
ainda estava ofegante. — Eu a machuquei?
— Não. — A voz dela estava abafada pelo peito dele. — É que você... foi
demais...
— Ele a abraçou com mais força.
— Deve haver uma maneira de recomeçar — murmurou, sentindo-se frustrado.
— Não vou desistir. Não vou mesmo.
Capítulo Onze
Quando Nadine acordou de manhã, viu que estava sozinha. Cansada, porém
animada, depois do amor selvagem que tinham feito na noite anterior,
espreguiçou-se e olhou em todos os cantos do quarto. Onde estaria Lawrence? Não
havia nenhum ruído no banheiro ou no quarto de Jamie. Levantou-se, vestiu um
roupão e foi até a cozinha, onde encontrou um bilhete em cima da mesa; era de
Lawrence e dizia:
No dia seguinte, Nadine pediu sua demissão a Everett, sem lhe dizer o motivo,
também pedindo dispensa das duas semanas de aviso prévio. Depois do expediente, foi
buscar Jamie na casa de Charlotte pela última vez.
— O que aconteceu com você? — exclamou Charlotte, ao vê-la. — Parece
até que ganhou na loteria!
Nadine se sentia tão leve que tinha até vontade de dançar.
— Eu pedi demiss ão!
Charlotte não ficou muito contente com a notícia.
— Arranjou outro emprego?
— Não.
— Você é muito impulsiva, Nadine. O que vai fazer agora?
Nadine jogou o casaco numa poltrona, deu uma pirueta no meio da sala e
fez uma reverência para a irmã, que olhava muito séria para ela.
— Eu vou para Florença, Char! Eu e Jamie estamos de mudança para lá.
— Com Lawrence? Então você vai se casar! Que maravilha!
— Nada disso. Eu e Jamie vamos morar sozinhos.
— Mas por quê? Ele desistiu de se casar com você? Nadine encolheu os
ombros, dizendo:
— Não sei. Não falei mais com ele. Mas nós vamos nos mudar para
Florença e morar sozinhos.
Nem a ansiedade de Charlotte conseguia deprimí-la. Segurou as mãos da irmã e
olhou-a com um brilho nos olhos.
— Sabe de uma coisa, Char? Eu me sinto como se tivesse tirado uma carga das
costas, que estava carregando há quatro anos. Sinto-me muito bem. Posso ir a
qualquer lugar, fazer qualquer coisa sem ter de dar satisfação a ninguém, sem ter
ninguém para me repreender. Entendi que, seja lá o que eu fizer, sempre vai aparecer
alguém para criticar; assim sendo, o melhor é ir em frente e fazer o que acho que está
certo. — Soltando as mãos da irmã, deu mais algumas piruetas pela sala. — Vou para
Florença, mesmo que Lawrence tenha se casado com outra! Ele não é dono da
cidade! Nós vamos procurar um apartamento, vou defender minha tese e Lawrence vai
ajudar a criar Jamie. Agora é a vez dele, não é mesmo?
— Mas será que ele vai ajudá-la? Não quero desanimá-la, mas acho que você
não pesou bem as coisas antes de decidir. Será que vai querer ajudá-la se você não for
morar com ele?
— Claro. Estou livre, Char. Livre de Everett, livre daquele emprego horroroso, livre
de Lawrence, livre de mim mesma. É maravilhoso!
— Você já conversou sobre isso com Lawrence? Nadine sacudiu a
cabeça, pois não queria contar sobre Lily.
— É melhor não dizer nada a Jamie por enquanto.
— Agora é tarde demais. Eu já disse, e ele adorou a idéia.
— Bem, já que não há mais nada a fazer, acho que vou abrir uma garrafa de
vinho para comemorarmos essa sua recém-encontrada liberdade. Mas quero que me
prometa que vai telefonar para Lawrence esta noite.
— Está bem. Sabe de uma coisa? Vou ligar para a mamãe e o papai antes de ir
embora.
— Oh, Nadine, que maravilha!
— Já era tempo, não é? Lawrence tinha razão.
Naquela mesma noite, depois de colocar Jamie na cama, Nadine ligou para
Lawrence.
— Dica pure?
Lily continuava lá! Bem, aquilo só podia significar uma reconciliação dos dois.
Nadine agarrou o fone.
— Alô, Lily. — Procurava manter a voz cordial. — É Nadine, de novo.
— Oi, Nadine. — A voz dela estava sonolenta e sensual. Nadine mordeu o
lábio, imaginando Lawrence deitado ao lado dela na cama.
— Lawrence está?
Lily hesitou, depois disse:
— Sinto muito, mas ele ainda não voltou. Quer deixar recado?
— Sim, por favor. Diga-lhe que chegarei em Florença na semana que vem, e
que lhe telefonarei da pensão.
— Da pens ão?
Nadine ouviu perfeitamente uma voz de homem no fundo. Então, Lily não estava
sozinha. Ela havia mentido quando disse que Lawrence não estava. Nadine sabia
que não deveria se importar com aquilo, mas era impossível evitar. Seus olhos se
encheram de lágrimas.
— Boa noite. — Foi a única coisa que conseguiu dizer, antes de desligar.
Ela levou mais de uma hora para se acalmar, e finalmente foi para a cama. Ela
teria de se acostumar com os casos amorosos de Lawrence. No final, eles
aprenderiam a ser amigos.
Mas ia ser muito difícil. Ela quisera ser amiga dele há um mês atrás, quando
estivera em Florença, mas viu que era impossível. Suas emoções ultrapassavam de
longe o campo da amizade e da camaradagem, entrando no mundo do desejo físico,
da adoração.
Mas, por mais que isso lhe custasse, iria tentar.
Capítulo Doze
— Foi bom a gente ter se encontrado — disse com sinceridade. — Assim que eu
estiver instalada, precisamos nos encontrar de novo.
— Isso seria maravilhoso, mas eu só vou ficar aqui por mais alguns dias. Eu agora
moro em Paris. Mas nós ainda nos falaremos antes de eu viajar. — Antes de ir
embora, ela sorriu com tristeza olhando para Jamie.
Nadine e Jamie voltaram para a pensão. Enquanto o garoto se sentava para
desenhar, Nadine ligou para Lawrence.
— Onde você está? — perguntou ele.
— Na Pensão Maschella.
— Quando foi que vocês chegaram?
— Hoje de manhã.
— Por que você não me avisou? Eu teria ido esperá-los no aeroporto.
— Eu liguei duas vezes dos Estados Unidos, mas não o encontrei.
— Eu soube. É que eu passei mais de uma semana em Roma, preparando uma
exposição que farei em fevereiro.
Nadine não estava entendendo. Se ele estava em Roma, o que Lily estava
fazendo na casa dele?
— Quando foi que você voltou?
— Ontem. Eu tentei ligar para você, mas seu telefone tinha sido desligado.
— Lawrence, precisamos nos encontrar logo, pois preciso discutir meus
planos com você.
— Planos? Que planos?
— É que eu preciso da sua ajuda nas próximas semanas. Preciso encontrar um
apartamento para alugar, e também gostaria que você cuidasse de Jamie enquanto eu
estiver preparando o material para a minha tese de mestrado. Ah, e eu também
preciso encontrar um emprego de meio período.
Depois de um longo silêncio, Lawrence respondeu:
— O que está acontecendo, Nadine? Eu só quero saber o que foi que deu
em você para não vir direto para cá e por que pretende morar sozinha. Bem, mas isso
não é coisa para se falar pelo telefone. Você é dona do seu nariz e eu seria a última
pessoa no mundo a obrigá-la a fazer algo contra a sua vontade. Mas, quaisquer que
sejam as suas razões, é melhor que sejam boas.
— E são.
Ele suspirou fundo.
— Está bem. Então vamos conversar. Vamos jantar aqui em casa, está bem?
Jamie poderá dormir lá em cima e nós poderemos conversar.
— Para mim, está ótimo.
— Então, passarei aí daqui a meia hora.
Nadine tomou um bom banho, vestiu-se e estava enxugando o cabelo
quando Lawrence chegou.
Ele olhou para ela sem dizer nada, e depois se voltou para Jamie, que estava
olhando com adoração para o pai e veio correndo ao seu encontro para
abraçá-lo.
— Oi, filho.
— Oi.
— Tem desenhado muito?
— Tenho, sim. Eu trouxe todos os meus desenhos novos para você ver.
— Então, assim que chegarmos à minha casa, quero ver todos, está bem?
Quer ver onde moro?
— Quero, sim. Mamãe me falou do campo, do quarto onde você desenha,
das jóias.
— Jóias?
Nadine se apressou a explicar, sentindo-se embaraçada:
— É quando o sol bate no orvalho do campo, de manhã cedo.
— Ah. — Os olhos de Lawrence estava fixos em Nadine. — Bem, vamos
indo.
Durante todo o trajeto, Nadine ficou calada e Lawrence conversou com Jamie,
que não parava de fazer perguntas, interessado em tudo o que via.
Quando chegaram em casa e entraram na sala, Jamie prendeu a respiração,
impressionado.
— Que Iiiiiindo! — exclamou, cheio de admiração, fazendo Lawrence sorrir de
prazer.
— Quer dar uma olhada no resto? Então, vamos. Nadine, venha conosco.
Ela ficou admirada ao ver que ele tinha dividido o dormitório ao meio, criando um
quarto para Jamie, com uma cama, uma escrivaninha e um tapete peludo. Jamie
logo o reconheceu:
FIM