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distinção entre escravos, libertos e pretos livres, desmontando, segundo ele, uma política de domínio,
mas que tem como consequência por ser “a cidade que escondia”, se transformar na cidade que
desconfiava, transformando todos os negros em suspeitos (CHALHOUB, 2011, p. 239).
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Sobre o tema ver Chalhoub (2001) e Arantes (2010).
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Grifo da autora.
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hooks, bell. A autora assina assim, em letra minúscula e, em respeito a sua subversão acadêmica,
reproduzo sua forma de referir-se a si mesma.
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A autora faz referências à sociedade norte-americana, não pretendemos aqui uma transposição
simplista, mas as questões trazidas pela autora são emblemáticas para se pensar a experiência da
mulher afro-brasileira.
Luiza Bairros (1995) afirma, de acordo com o ponto de vista feminista, que
não existe uma identidade única, pois a experiência de ser mulher se dá de forma
social e historicamente determinada. Ela considera essa formulação particularmente
importante, não apenas pelo que ela nos ajuda a entender diferentes feminismos, mas
pelo que permite pensar em termos dos movimentos negros e de mulheres negras
no Brasil. A autora nos diz que este ponto de vista seria fruto da necessidade de
dar expressão a diferentes formas de experiência de ser negro (vividas através do
gênero) e de ser mulher (vividas através da raça), o que torna supérfluas discussões
a respeito de qual seria a prioridade do movimento de mulheres negras – luta contra
o sexismo ou racismo? –, já que as duas dimensões não podem ser separadas. Do
ponto de vista da reflexão e da ação políticas, uma não existe sem a outra.
Com Lícia Barbosa (2010) observamos que as concepções teóricas do
feminismo negro recolocam, no centro das discussões feministas, a persistente
dicotomia entre igualdade e diferença e, mais contemporaneamente, a questão
das diferenças na diferença. Segundo ela, as proposições do feminismo negro e
do pensamento feminista negro têm forçado a teoria feminista a aprofundar suas
análises sobre a discussão racial e sobre outros modos de diferenças em relação à
sua produção teórica e prática.
A partir de feministas negras, podemos pensar a trajetória de racialização
do movimento de mulheres no Brasil. Sueli Carneiro (2003), propõe enegrecer o
feminismo. Segundo ela, essa é a expressão utilizada para designar a trajetória das
mulheres negras no interior do movimento feminista brasileiro no qual:
Considerações Finais
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“A principal indagação da afrocentricidade é se os padrões construídos pelo Ocidente constituem
crenças ou conhecimento a respeito de povos e culturas africanos e diaspóricos, de sua filosofia e
experiência de vida. A crítica afrocentrada verifica que, em grande parte, o Ocidente postula como
conhecimento um conjunto de crenças que sofrem distorções oriundas do etnocentrismo ocidental. O
pensamento afrocêntrico investiga e propõe formas de articular o estudo, a pesquisa e o conhecimento
nesse campo” (NASCIMENTO, 2009. p. 30).
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Na perspectiva de Iolanda de Oliveira (2007), o que houve em 1888 foi na verdade a legalização da
abolição, visto que, segundo ela, apenas 5% da população negra do Brasil ainda preservavam o status
de escravizados.
ABSTRACT: This work starts with a reflection on the feminist experience from
a decolonial perspective. To do so, it takes into account the asymmetries in the
Brazilian women’s movement and highlights the organizational strategies of the
black women’s movement, which considers the situation of women in the diaspora
in the southern hemisphere through their experiences. It intends to demonstrate how
the differences established by instruments that rank human beings kept the black
population at the base of the social pyramid, with even greater losses for black
women who are subject to the intersectionality of race, gender and class oppression
as barriers to active citizenship. Thus, the everyday experiences of these women,
combined with their struggle for survival, provides these women not only with a
means of resistance to the standard established by the hierarchical logic in the
acquisition of social goods, but also with a privileged viewing point for the analysis
of this society.
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Recebido em 31/05/2016.
Aprovado em 31/10/2016.