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A FEMINIZAÇÃO COMO TENDÊNCIA DA MIGRAÇÃO BOLIVIANA PARA A REGIÃO

METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Palavras-chave: feminização, migração boliviana, Região Metropolitana de São Paulo.


A feminização como tendência da migração boliviana para a Região Metropolitana de São Paulo

RESUMO
Nas primeiras décadas do século XXI desenham-se como novas tendências da mobilidade
internacional o aumento da assim chamada migração de tipo Sul-Sul e a sua feminização. Neste
artigo, analisamos a tendência de feminização do fluxo migratório de bolivianos para a Região
Metropolitana de São Paulo, tratando de compreender no que se constitui o fenômeno. O que
propomos, aqui, é que o fenômeno de feminização das migrações seja lido como processo social
complexo que compreende origem e destino, relações de gênero e formações particulares do
patriarcado, a partir de uma relação de totalidade com este asselvajamento do patriarcado produtor
de mercadorias como processo social. A migração de mulheres compõe um momento do
acirramento das contradições das relações de gênero e a pesquisa empírica é capaz de delinear
formas particulares de violência e contextos históricos de formação do patriarcado que possam
relacionar a experiência de migração destas mulheres com a totalidade do processo social.
Consideramos em nossa exposição dois pontos que consideramos fundamentais: 1) o contexto de
dissociação de gênero na Bolívia que aparentemente leva uma quantidade cada vez maior de
mulheres a se mobilizar para fora do território nacional em busca de emprego; 2 ) e mais importante,
a necessidade da realização de atividades de reprodução (cuidado doméstico, como limpeza e
cozinha, e cuidado familiar, principalmente com crianças) dentro de uma comunidade imigrante que
se estabelece, papel socialmente delegado à mulher e essencial para a manutenção das famílias e das
oficinas de costura como unidades de produção. Coloca-se então a compreensão da feminização
deste fluxo migratório no âmago de um processo de crise que se traduz como asselvajamento do
patriarcado produtor de mercadorias, ou seja, o acirramento das suas contradições internas em um
contexto de crise do trabalho abstrato, do universo do valor marcado estruturalmente por uma
dissociação de gênero, entendido empiricamente como o aumento do número de mulheres
bolivianas mobilizadas em busca de trabalho e a sua inserção na indústria têxtil como costureiras e
responsáveis pelas atividades de reprodução, de forma remunerada ou não.

O panorama geral das migrações internacionais transforma-se drasticamente a cada período


da história mundial. Nas primeiras décadas do século XXI desenham-se como novas tendências da
mobilidade internacional o aumento da assim chamada migração de tipo Sul-Sul e a sua
feminização. A primeira tendência diz respeito a um aumento quantitativo de pessoas mobilizando-
se entre países do chamado sul global, em sua grande maioria antigas colônias que hoje se
constituem como periferias do capitalismo mundializado. Nesse caso, destacam-se os novos fluxos
migratórios entre países latino-americanos, com o Brasil ocupando um lugar importante como
receptor destes imigrantes. Segundo Baeninger (2012), a Bolívia torna-se nesse processo um dos
principais lugares de origem dos imigrantes que chegam hoje à Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP):
O Brasil se consolida na rota das migrações internacionais na América Latina, onde
intensificam-se os delocamentos de população. Este é o caso da imigração
boliviana – historicamente predominante na fronteira – ganha novos contornos em
sua distribuição no Brasil, com destaque para sua importância no cotidiano da
metrópole paulista. (BAENINGER, 2012, p. 16)

A segunda tendência ocupa o centro das reflexões deste artigo e indicaria a mudança de um
suposto perfil masculino “tradicional” dos migrantes:
(...) nas recentes duas décadas as mulheres vêm protagonizando uma experiência
inédita; superaram o tradicional protagonismo masculino nas rotas migratórias,
sendo, em alguns casos, pioneiras de ditos processos. Atualmente, as mulheres
representam mais de 50% do total dos total dos imigrantes no mundo; em cifras,
representam mais de 95 milhões. (ILLES E PLAZA, 2005, p. 1)1

Estes novos fluxos migratórios entre países latino-americanos teriam, portanto, a


feminização como uma das suas principais características. Analisaremos de perto esta questão na
mobilização de bolivianos para a metrópole paulistana, desde o ponto de vista da participação das
mulheres, tratando de identificar uma linha de continuidade que indique um tal processo.
Neste artigo, a partir de uma breve análise da presença feminina no fluxo migratório de
bolivianos para a RMSP, propomos algumas perguntas sobre o processo social que se denomina a
sua feminização. Em seguida, fazemos uma reflexão crítica sobre o mesmo conceito, tratando de
delinear em que se constitui esta chamada feminização das migrações. Desdobramos estas reflexões
em um panorama crítico atual das relações de gênero no interior do trabalho boliviano na indústria
de confecção paulistana.

1. A feminização como tendência da migração boliviana para a RMSP?

O termo feminização das migrações sugere uma transformação de um ou vários fluxos


migratórios a partir de um recorte de gênero. O conceito é usado diversamente com sentido
quantitativo e qualitativo, muitas vezes sem distinção. Pesquisas realizadas recentemente sobre a
presença feminina na migração boliviana para a RMSP tampouco se debruçam sobre o problema da

1 Retirado do documento Declaração de La Paz, elaborado como reflexão final do Encontro Sul-americano “Gênero
e Migrações”, realizado na cidade de La Paz (Bolívia) em junho de 2009 e organizado em pela Articulação Espaço
sem Fronteiras, que reúne e articula diversas organizações latino-americanas ligadas à questão migratória e aos
direitos dos migrantes. O evento foi convocado com o objetivo de “(...) analisar causas e consequências da
feminização migratória e trata de pessoas, avançando com propostas concretas” (ILLES E PLAZA, 2005, p. 1) e
atesta o peso que esta nova tendência migratória, a chamada feminização, passou a ocupar no panorama das
migrações latino-americanas.
feminização como processo social, preocupando-se mais em identificar trajetórias e condições de
inserção na sociedade de destino. Acreditamos ser necessário delinear que tipo de transformações
estão ocorrendo e quais as suas causas; esta compreensão é fundamental para discernir que lugar
ocupam as mulheres nas relações familiares e de gênero em diversos contextos migratórios.
De acordo com diversos autores (SILVA, 1997; FREITAS, 2010; FAVARETTO, 2012; entre
outros), o primeiro grande grupo de bolivianos que se mobiliza para São Paulo, entre 1950 e 1970 –
a assim chamada primeira onda – caracteriza-se principalmente por estudantes universitários,
atraídos por acordos de intercâmbio acadêmico assinados entre os Estados brasileiro e boliviano, e
por profissionais liberais que tinham dificuldade de empregar-se na sociedade de origem; embora
estes grupos fossem, em termos percentuais, pouco significativos para a cidade de São Paulo,
tiveram grande impacto no contexto de origem. É notável que pouco se comente a presença
feminina neste momento da mobilização boliviana para São Paulo; apenas Freitas (2010) menciona
a presença de mulheres realizando trabalho doméstico remunerado.
Naquele período, o Estado boliviano adotou uma série de medidas de modernização
retardatária (KURZ, 1992) que buscavam alcançar os níveis de competitividade e produtividade dos
outros países; a dificuldade de formar e manter uma classe média de profissionais liberais compõe
este cenário crítico. Segundo Freitas (2010), as medidas modernizadoras realizadas pelo Estado
boliviano foram, de forma resumida, reforma agrária, nacionalização das minas, estabelecimento do
voto universal, ampliação da fronteira agrícola e tentativa inicial de produção dos próprios bens de
consumo.
Todas essas medidas provocaram mudanças importantes na estrutura da economia
boliviana, principalmente, em sua dinâmica demográfica em que percebe-se: i)
pronunciado êxodo rural; ii) intensificação das migrações transfronteiriças já
existentes; e iii) início das migrações internacionais. No caso boliviano, portanto,
as migrações internacionais foram uma consequência indireta das tentativas de
modernização do Estado boliviano e nesse período passaram a conectar
diretamente os imigrantes bolivianos à cidade de São Paulo. (FREITAS, 2010, p. 8)

A modernização crítica boliviana atinge um novo ponto de acirramento a partir da década de


1980, desdobrando-se como hiperinflação, altas dívidas externas e instabilidade política; além disso,
o país enfrenta uma série de desastres naturais provocados pelo fenômeno do El Niño (FREITAS,
2010; NÓBREGA, 2009; SILVA, 1997). Como tentativa de gerenciar o aprofundamento da crise, o
Estado boliviano adota, em 1985, uma série de medidas neoliberais consolidadas no Decreto
21.0602. Segundo Wanderley (2009), este período neoliberal se estenderia até 2005, com a chegada

2 O Decreto 21.060, promulgado pelo então presidente boliviano Victor Paz Estesoro, altera a constituição e marca a
entrada do modelo neoliberal no país, promovendo uma série de reformas. “Em 1985, o modelo de Capitalismo de
Estado foi abandonado, transferindo-se ao setor privado a responsabilidade principal de investimento produtivo. O
Estado assumiu o papel de regulador e garantidor da estabilidade macroeconômica e de promotor dos investimentos
públicos em saúde, educação, saneamento básico e infraestrutura. Com o Decreto 21.060, também conhecido como
a nova política econômica, o investimento privado e a abertura e integração da economia na globalização
constituem as novas bases do crescimento econômico” (WANDERLEY, 2009, p. 165). Em 2011, o Decreto 21.060
de Evo Morales à presidência, e se dividiria em duas etapas: a primeira, orientada para o equilíbrio
macroeconômico e a segunda, para reformas estruturais. Segundo Vacaflores (2003), “existe una
migración antes y outra después del 21.060” (VACAFLORES, 2003, p. 2), principalmente no
sentido campo-cidade em direção aos principais centros urbanos do país (Santa Cruz, La Paz e
Cochabamba)3.
Expulsão da população do campo, inchaço das periferias urbanas e precarização do
emprego, além do aumento do desemprego, compõem um cenário de mobilização para fora do
território boliviano, para destinos variados, principalmente a partir dos anos 1990. O setor têxtil
paulistano, já em expansão a partir da entrada de imigrantes coreanos, absorve uma parte dessa
força de trabalho mobilizada como costureiros nas oficinas de costura. Estas realizam a parte de
produção da indústria de confecção, sendo o último momento de uma cadeia de terceirizações e
quarteirizações que chega às lojas de roupas e aos grandes departamentos. Nessas oficinas, as
jornadas ultrapassam quatorze horas diárias, os salários são definidos pela produtividade, o preço de
remuneração por peça muitas vezes não ultrapassa R$2,00; os trabalhadores costumam morar nas
próprias oficinas e a alimentação também é fornecida. A entrada dos bolivianos como força de
trabalho barata da indústria de confecção consolida o fluxo migratório de bolivianos para a RMSP e
a assim chamada segunda onda migratória, associada à tendência de feminização.
Atualmente, a maioria das mulheres bolivianas que se mobilizam para a RMSP se inserem
no universo da costura. Se não como costureiras, diretamente, como faxineiras, cozinheiras ou
ajudantes nas mesmas oficinas; em alguns casos, como vendedoras de roupa das oficinas para as
quais trabalhavam. Como comentamos acima, também para as mulheres trata-se de empregos
informais, com longas jornadas de trabalho e, no caso da costura, com remuneração por
produtividade. O contrato de emprego também inclui a oferta de moradia no mesmo local de
trabalho, o que aumenta a exposição destas mulheres, principalmente as mais novas, a casos de
assédio e abuso sexual. O perfil destas mulheres é extremamente variável em relação a idade, estado
civil, ocupação anterior, origem rural ou urbana e nível de escolaridade. O projeto migratório no
qual estão envolvidas também varia, podendo ser individual ou familiar, temporário ou permanente
e, inclusive, podendo transformar-se ao longo do processo migratório. Segundo Cymbalista e
Xavier (2007), a porcentagem de mulheres no grupo de imigrantes bolivianos na metrópole
paulistana era de 44% em 2007, um aumento considerável em relação aos 26% de 1992.
Diante desse breve quadro histórico da presença de imigrantes bolivianos na Região
Metropolitana de São Paulo, começamos a nos perguntar o que então quer dizer a feminização como
tendência desse mesmo fluxo migratório e como ela se manifesta empiricamente, elaborando um

é derrogado pelo presidente Evo Morales (cf. http://hoybolivia.com/Noticia.php?IdNoticia=47456, acesso em


01/06/2015).
3 Chegando a 100.000 habitantes/ano em um país de 8,5 milhões de habitantes (VACAFLORES, 2003, p. 2).
conjunto de questões sobre em que se constitui o fenômeno. Para uma interpretação quantitativa,
podemos perguntar se se trata de um aumento percentual ou absoluto do número de mulheres, que
indique um aumento da presença feminina ou uma superação percentual em relação ao número de
homens; os dados de Cymbalista e Xavier (2007), bem como nosso trabalho de campo, indicam que
não é o caso. Além disso, detalhe de grande importância, há poucos dados sobre as mulheres na
primeira onda migratória boliviana, o que dificulta uma análise puramente quantitativa.
Por outro lado, o chamado fenômeno da feminização pode ser analisado qualitativamente.
Poderia tratar-se de uma mudança em relação ao pioneirismo feminino na migração, em que as
mulheres deixariam apenas de seguir os maridos ou acompanhar as famílias e passariam a migrar
sozinhas, podendo ser as pioneiras em relação a seus grupos familiares. Pode tratar-se, em outra
hipótese, de uma reinserção das mulheres na sociedade de destino, ou de uma diferenciação de
gênero nas formas de inserção laborais e sociais. Uma feminização do fluxo migratório indica
transformações na sociedade de origem, de destino ou em ambas? Dito de outra forma, pergunta-se
se há fatores que afetam particularmente as mulheres na Bolívia ou se há condições de inserção na
RMSP que favorecem a presença feminina. Ou, ainda, se a configuração dos grupos familiares e a
posição neles ocupada pela mulher tem determinação sobre os projetos migratórios femininos.
Este artigo tenta responder aos dois conjuntos de perguntas, acessando aquilo que tem se
chamado de feminização do fluxo de bolivianos para São Paulo.

2. Feminização das migrações: breve reflexão teórica

Vainer (1999), quando convidado a falar justamente sobre novas tendências migratórias do
século XXI, tenta discernir entre fatos sociais novos e fatos invisibilizados que são trazidos à
superfície. Distingue, portanto, processos que dizem respeito às transformações da realidade social
de processos que dizem respeito à parcela da divisão social do trabalho intelectual responsável por
pensar essa mesma realidade. Isso nos ajuda a pensar se a feminização constitui um fato social
novo, uma quantidade maior de mulheres migrando, ou uma transformação profunda nas relações
de gênero dentro dos fluxos migratórios, ou se constitui um movimento teórico que tira deste lugar
do ocultamento o lugar do gênero nos processos de migração e mobilidade do trabalho.
Este é um primeiro tipo de novidade: diz respeito a novos fatos sociais. O segundo
tipo de novidade é aquele resultante de um processo de reconfiguração da nossa
capacidade perceptiva: é como se determinados processos ou práticas presentes
desde há muito tempo na realidade social viessem à tona. (...) Estas são novidades
de natureza muito especial pois a seu respeito podemos afirmar que sua
identificação ou descoberta aponta o surgimento de algo que não estava no
horizonte teórico-conceitual. A pergunta, neste caso, seria: por que determinadas
dimensões do mundo real antes invisíveis agora tornam-se visíveis? Por que aquilo
que antes não era percebido, embora ali estivesse, passa a ser percebido?
(VAINER, 1999, p. 14)
As perguntas colocadas anteriormente aparecem agora sob novo matiz: trata-se de uma
mudança nos fluxos migratórios ou nas análises teóricas que se produzem sobre eles? A feminização
constituiria-se como um fenômeno empírico, que trata de mudanças nas experiências sociais de
mulheres bolivianas mobilizadas pelo trabalho, ou antes um fenômeno teórico, ligado a
transformações da própria teoria, que passa a se interessar por temas como gênero, sexualidade e
raça? Isso explicaria, por exemplo, por que não há dados sobre a presença feminina na chamada
primeira onda de migração boliviana e por que, a partir dos anos 2010, surgem diversas pesquisa no
tema (cf. por exemplo Rezera, 2012; Almeida, 2013; Ribeiro, 2015). Aqui, propomos que os dois
processos estão intimamente ligados: há, por um lado, mudanças significativas em curso em relação
à presença feminina e aos papeis de gênero que elas ocupam neste contexto migratório particular;
por outro, há também um interesse renovado por parte das ciências humanas que comentaremos
adiante. “Se a realidade social muda, também a própria teoria (…) tem de mudar” (SCHOLZ, 2009,
p. 2), porque não são esferas isoladas, mas antes uma unidade contraditória.
Em primeiro lugar, é necessário reconhecer a possibilidade de estar, por trás deste conceito
de feminização das migrações, a suposição de um sujeito migrante ontológico e sexualmente neutro,
que se transformaria em seu outro, o feminino. Sugerimos que existe uma neutralidade que
esconde, atrás de si, o masculino, o branco, o ocidental, que aparece como o sujeito neutro do qual é
preciso destacar as diferenças caso elas existam. Afirmar que existiria uma feminização das
migrações pode supor esta neutralidade de um sujeito migrante que se diferencia de si mesmo,
tornando-se feminino; não seria, assim, necessário revelar a presença masculina em determinado
fluxo migratório, dada como certa, mas sim explicitar quando o migrante torna-se o seu contrário,
neste caso, feminino. Por isso, o ponto de partida da análise precisa ser a relação de gênero e de
mobilidade do trabalho que movimentam o processo social, contextualizando o sujeito da
migração. O conceito de Roberta Peres (2012) aponta uma aproximação do ponto de vista da
relação:
O volume de mulheres por si só, ainda que seja superior ao dos homens, não
caracteriza uma “feminização”. A reconfiguração da família, transformações nas
relações de poder e papéis de gênero, o ganho de autonomia das mulheres,
mudanças no mercado de trabalho no destino, são alguns dos impactos que causam
a feminização de um fluxo migratório. (PERES, 2012, p. 291)

Para a autora, feminização significa um processo de transformação nas relações de gênero e


familiares a partir das migrações. Nesse caso, não seria um argumento quantitativo a priori, mas um
processo social complexo que só pode ser compreendido efetivamente na sua dinâmica. No entanto,
essa dinâmica precisaria ser pensada ainda para além de si mesma, e não como fenômeno que se
resolve nele mesmo.
Nos perguntamos então por que haveria um interesse crescente sobre a relação entre
migrações e gênero. A sugestão é que, por um lado, há uma influência de um certo pós-modernismo
teórico que, segundo Scholz (2004), teve força nos anos 1990:
Nos anos noventa praticou-se muito tempo uma “culturalização do social”, ou seja,
problemáticas sociais e econômicas eram frequentemente interpretadas e abordadas
de um modo culturalista. O que acontecia especialmente numa cena pós-moderna,
pós-colonial e feminista, cada vez mais inclinada para as teorias pós-estruturalistas.
Com isso vinha uma hipostasiação ou mesmo ontologização das “diferenças”.
(SCHOLZ, 2004, p. 1)

Tal abordagem culturalista reverbera ainda hoje e traduz-se na preocupação de encontrar e


discernir o fenômeno das mulheres imigrantes, descrever suas formas de inserção na sociedade de
origem e até a divisão sexual do trabalho que marca suas condições de inserção. No entanto, não há
um conceito de totalidade que permita relacionar os fenômenos pesquisados com um princípio
estrutural geral ou com um movimento da totalidade que se preocupe em pensar o por que destas
trajetórias femininas de migração para além de um argumento da subjetividade individual da
migrante ou por algum tipo de movimento de “atração-repulsão” entre destino e origem.
As pesquisas existentes sobre migração feminina na indústria da confecção são preciosas na
medida em que localizam mulheres latino-americanas e particularmente bolivianas em sua inserção
na RMSP, mas a compreensão aprofundada daquilo que constitui a feminização dos fluxos
migratórios depende de um argumento que o compreenda em relação com a totalidade dos
processos sociais, e não como particularidade isolada; as transformações que indica Peres (2012)
precisariam ser vistas em tensão com o movimento da totalidade e, para isso, a reflexão precisa ir
além das características internas do grupo migratório. Essa totalidade é por nós entendida como o
sistema produtor de mercadorias.
Robert Kurz (2004) critica esse tipo de leitura relativista, fixada nos fenômenos que, por
isso, obscurece a forma social totalitária que determina essas particularidades empíricas, pela sua
falta de leitura de fetichismo e da substância negativa real, a saber, o trabalho abstrato 4, que
desconsidera as determinações históricas particulares das categorias estabelecidas do capital: “(...)
não é estabelecida uma diferença essencial entre as constituições da forma social historicamente
diversas, e assim sendo também não é constituída qualquer concepção específica do moderno
sistema produtor de mercadorias e das suas categorias da forma de base” (KURZ, 2004, p. 2). Sem
a consideração destas determinações categoriais historicamente constituídas, como se mulher,
migração, trabalho fossem categorias indistintas e ontológicas, tais pesquisas fixadas apenas na

4 “Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o caráter útil dos trabalhos neles representados,
e desaparecem também, portanto, as diferentes formas concretas destes trabalhos, que deixam de diferenciar-se um
do outro para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano abstrato” (MARX, 1983, p.
47).
definição de particularidades convertem-se, segundo Kurz (2004), em ideologia:
Assim surge uma inversão paradoxal da relação entre o processo social real e a
ideologia; melhor dizendo, essa relação em certa medida é escamoteada pura e
simplesmente, e é precisamente deste modo que o relativismo se converte a si
mesmo numa miserável ideologia. (…) Esta racionalidade já ideológica é em
seguida “exo-diferenciada” e declinada nas diversas áreas da reprodução e da vida.
Deste modo a crítica continua pendente na particularidade dos fenômenos (das
relações de poder na medicina à prática de deportação nos serviços de
estrangeiros, dos “constructos” do racismo à retórica política dos
constrangimentos objectivos), sem jamais poder debruçar-se sobre o todo da
conexão da forma social, uma vez que esta já não dispõe de qualquer conceito
substancial. (KURZ, 2004, pp. 2-3, grifo nosso)

Assim, de maneira geral, as pesquisas acadêmicas sobre migração de mulheres bolivianas ou


de outras nacionalidades, ou sobre feminização das migrações5, acabam focando em discernir o
objeto mulher imigrante sem colocá-lo numa perspectiva de totalidade com os processos sociais
mais amplos. A descrição dos grupos migrantes e das trajetórias individuais é um momento
específico da pesquisa que desenha as suas formas empíricas de manifestação, mas que não pode
recusar a ideia de uma totalidade que abarque estas particularidades. Como comenta Kurz (2004):
Que, por exemplo, diversas áreas da existência e de actividade têm cada uma por si
a sua própria lógica, a sua própria pretensão, o seu próprio sentido, etc., que não
podem ser abarcadas pela pretensão de validade absoluta de um único princípio
totalitário, apenas chegando a constituir um todo na relatividade do respectivo
contexto relacional, todo esse que não pode ser reduzido a uma forma única e à
substância igualmente única da mesma – é este o conhecimento que importa
começar a afirmar, contra o violento substancialismo real do moderno sistema
produtor de mercadorias em geral. (KURZ, 2004, p. 3, grifo nosso)

É curioso que a forma da crítica de Roswitha Scholz (2004) a esse relativismo da teoria
remete a um androcentrismo da teoria que hipostasia o plano do particular, neste caso, ou do geral,
no caso do estruturalismo, sem entretanto aguentar a tensão dialética entre particularidade e
totalidade, ignorando em ambos os casos o violento substancialismo real do moderno sistema
produtor de mercadorias. Segundo Scholz (2004),
(...) trata-se de subverter os padrões de pensamento racistas e anti-semitas
[podendo aqui acrescentar-se sexistas e xenófobos] já nas suas premissas
fundamentais. Tal acontece não dando a análise crítica um tratamento prioritário,
nem ao afeto ao abrangente-geral, (…) nem ao ressentimento contra o especial,
particular (…) Antes trata-se de aguentar a tensão entre os dois pólos opostos da
elaboração ideológica. (SCHOLZ, 2004, §28)

Um conceito de feminização das migrações que se atenha, portanto, apenas ao geral ou ao


particular precisaria ser desdobrado a partir destas proposições, mantendo “a tensão entre os dois
pólos opostos da elaboração ideológica”, como sugere a autora. O que sugere Scholz (2004) é que a

5 Aquelas às quais tivemos acesso em nosso levantamento bibliográfico.


crise constituída como crise do trabalho 6 leva ao acirramento das disparidades sociais constituídas
como gênero, nacionalidade, raça, sexualidade. As formas de violência econômica e extra-
econômica pesariam ainda mais sobre os indivíduos dissociados da esfera do valor e do trabalho
abstrato, aqueles que não correspondem à sua personificação como o homem branco ocidental,
constituindo um asselvajamento do patriarcado produtor de mercadorias. Este asselvajamento,
como acirramento das contradições que abarcam as dimensões do racismo, do sexismo e da
xenofobia, aparece empiricamente de maneiras diversas; atendo-nos ao universo das migrações,
podemos citar os naufrágios de navios no Mar Mediterrâneo levando refugiados e imigrantes do
norte africano para a Europa, a trata de mulheres como escravas sexuais em diversos países do
mundo, os assassinatos e humilhações na fronteira do México com os EUA, e isso apenas para
arranhar a superfície mais trágica.
O que propomos, aqui, é que o fenômeno de feminização das migrações seja lido como
processo social complexo que compreende origem e destino, relações de gênero e formações
particulares do patriarcado, a partir de uma relação de totalidade com este asselvajamento do
patriarcado produtor de mercadorias como processo social. A migração de mulheres compõe um
momento do acirramento das contradições das relações de gênero e a pesquisa empírica é capaz de
delinear formas particulares de violência e contextos históricos de formação do patriarcado que
possam relacionar a experiência empírica de migração destas mulheres com a totalidade do
processo social.
Nessa linha, seria de considerar que as condições concretas da vida destas mulheres,
configuradas pelo asselvajamento do patriarcado produtor de mercadorias, criam para o Estado um
novo problema que compõe o seu papel como gestor da crise, exigindo dele políticas públicas que
respondam a este problema. O que sugerimos ainda é que o renovado interesse pelo papel que a
mulher ocupa nos fluxos migratórios atuais, para além de uma mudança concreta nas formas de
mobilidade femininas, indica também uma crescente demanda da sociedade civil e preocupação do
Estado em formular políticas públicas que atendam a essas mulheres como parte de um
planejamento de gestão da crise 7.

6 “Se a imposição do deus-trabalho foi uma longa história, seu desmascaramento parece ser mais rápido. Apesar dos
inconscientes gritos generalizados por mais emprego e trabalho, o sistema produtor de mercadorias enfrenta uma
contradição insanável: de um lado, visa aumentar a utilização valorizadora do trabalho; de outro, atendendo à
coerção da concorrência, visa ao aumento da produtividade, isto é, predominantemente à substituição da força de
trabalho humana por capital fixo 'cientificizado'. As últimas décadas demonstraram que a velocidade de inovação
do processo da terceira revolução industrial, a microeletrônica, ultrapassa a velocidade de inovação do produto.
Mais trabalho é racionalizado do que pode ser reabsorvido por uma expansão dos mercados. O robô e as novas
tecnologias substituem cada vez mais a energia humana e o trabalho se torna supérfluo” (HEIDEMANN, 2004, p.
33). “(…) a nova migração maciça, desde o final do século XX, é consequência de uma nova crise sócio-econômica
da terceira revolução industrial, que possui diretamente um amplo caráter global. (…) Os “obsoletos” estão sendo
expelidos para circuitos subordinados, seja como empresários da miséria na circulação (ambulantes etc.), seja como
força de trabalho em condições precárias ou, então, caem em miserabilização absoluta” (HEIDEMANN, 2010, pp.
20-21).
7 O trabalho de campo realizado neste semestre incluiu a participação em duas pré-conferências municipais sobre
Não podemos, aqui, resolver a realidade da chamada feminização das migrações, mas sim
entender seu lugar no contexto deste asselvajamento do patriarcado produtor de mercadorias. No
fundo, queremos entender qual a transformação das relações de gênero no contexto de crise de
valorização; como este lugar não é único nem universal, tratamos de desenhar o papel concreto que
realizam estas mulheres que se mobilizam da Bolívia à RMSP para se inserir nas oficinas de costura
sob as condições de superexploração e violência que enfrentam.

3. Relações de gênero no trabalho boliviano imigrante na indústria da confecção

Sabemos dos limites de exposição deste artigo para dar conta do conceito complexo de
feminização das migrações que propomos aqui. Seria necessário fazer um estudo aprofundado de
formação territorial e patriarcal na Bolívia como no Brasil, ou pelo menos na RMSP. Mas aqui
vamos nos ater a pensar dois pontos acerca do processo que até então discutimos: 1) o contexto de
dissociação de gênero na Bolívia que aparentemente leva uma quantidade cada vez maior de
mulheres a se mobilizar para fora do território nacional em busca de emprego; 2 ) e mais importante,
a necessidade da realização de atividades de reprodução dentro de uma comunidade imigrante que
se estabelece, papel socialmente delegado à mulher e essencial para a manutenção das famílias e das
oficinas de costura como unidades de produção.
De acordo com Apolinar Torres 8 há, atualmente, uma grande desigualdade de condições
entre mulheres e homens em território boliviano: o analfabetismo e o desemprego são maiores para
as mulheres, além de uma alta taxa de mortalidade materna. A mulher também tem responsabilidade
quase exclusiva sobre o trabalho doméstico. No que se refere ao mercado de trabalho, as mulheres
têm maior dificuldade de se empregar, apresentando taxas de desemprego mais altas, além de
ganhar menos. A idade também é um fator do desemprego, sendo mais alto entre as mais jovens (até
24 anos). 70% da migração boliviana em geral é feminina, sendo que a maior parte deste grupo se

direitos da mulher imigrante, realizadas com o objetivo de levantar propostas para serem levadas à Conferência
Municipal da Mulher, realizada em outubro de 2015. Além disso, há grupos organizados atuando sobre a questão da
mulher imigrante em São Paulo, cujas ações tem, como parte dos objetivos, pretensão de alcançar alguma instância
de gestão pública para a realização de projetos visando esse público (sem especificação de nacionalidade). Entre as
propostas levantadas, estão a criação de uma casa de parto com atendimento específico para mulheres imigrantes,
tanto no que se refere a práticas tradicionais de parto (como o parto andino, por exemplo) quanto a um atendimento
na língua materna da gestante; a criação de creches e vagas para crianças imigrantes; a preparação de funcionários
públicos do Sistema Público de Saúde e de setores da burocracia para o atendimento aos imigrantes, incluindo-se aí
o atendimento na língua materna; entre outras.

8 Comunicação oral em palestra concedida no Seminário Mulher Imigrante (São Paulo, junho de 2014). Apolinar
Flores atua na Bolívia como assessor jurídico de povos indígenas, originários e camponeses em disputas como o
“Anteproyecto de Ley de Protección a Naciones y Pueblos Indígena Originarios en peligro de extinción, en
situación de aislamiento voluntario y no contactados”. Conferir texto de sua autoria sobre o assunto, em especial
s o b r e o p o v o U r u s d o l a g o P o o p ó , e m h t t p : / / w w w. l a - r a z o n . c o m / i n d e x . p h p ?
_url=/suplementos/la_gaceta_juridica/Proteccion-Naciones-Indigena-OriginariosExtincion_0_ 1899410126.html
(acesso em 10/12/2014).
dirige à Espanha. Também se dirigem aos Estados Unidos e, mais recentemente, ao Chile; em todos
estes países, trabalham nas áreas de cuidado, limpeza, hotelaria, trabalho doméstico e, em alguns
casos, prostituição. Os motivos são tanto o desemprego quanto a condição de chefes de domicílio;
os maiores riscos são a violência e a discriminação.
Segundo Flores, na área rural, de população indígena, a mulher é considerada invisível, uma
acompanhante do homem. Ao migrar para os centros urbanos, estas mulheres sofrem uma
discriminação tripla: mulher, pobre e indígena. O papel delas é o de administradora do lar, do
território, da saúde e da educação dos filhos, além de serem responsáveis pela transmissão cultural.
A migração interna rural-urbana é causada por falta de empregos, pobreza, falta de educação e de
terras (por degradação e contaminação, principalmente), motivada por uma crença de que há maior
possibilidade de emprego.
De acordo com dados da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) na
Bolívia, em 2010: 37,8% mulheres contra 11,1% homens não recebiam o devido salário (trabalham
mas não recebem); mulheres bolivianas ganhavam menos que os homens (US$79,9 contra
US$100), desigualdade que diminui conforme o nível educacional aumenta, mas nunca se equipara;
66% das mulheres estavam ocupadas em trabalhos informais, contra 52,8% dos homens.
No trabalho de Almeida (2013), encontramos também que: “Na América Latina, a taxa de
desemprego das mulheres é superior em relação aos homens, variando de 10% a 40%. Também tem
aumentado o número de mulheres que inserem-se em situações precárias de trabalho, com baixos
salários, ausência de contratos e proteção social, trabalho em domicílio e em subcontratos”
(ALMEIDA, 2013, p. 42), analisando Bolívia, Peru, Paraguai e Brasil. Segundo ela, a taxa de
desemprego urbano por sexo na Bolívia (%) é: 6,8 para homens, 7,8 para mulheres (1990); 7,3 para
homens e 10,3 para mulheres (2004); 3,6 para homens, 6,2 para mulheres (2009) (ALMEIDA,
2013, p. 45).
O estudo de origem, reconhecemos, pode e deve ser mais aprofundado que o breve
panorama que aqui se apresenta; no entanto, fica claro que as condições de trabalho e de vida das
mulheres, desde a Bolívia, apresenta grandes diferenças em relação aos homens, principalmente no
que se refere ao acesso ao trabalho e ao dinheiro, na forma de salário, além da obrigação sobre as
atividades de reprodução, como cuidado doméstico (limpeza, cozinha, arrumação da casa etc.) e
familiar (cuidado com crianças e idosos). Este cenário precisa ser levado em conta como parte da
feminização das migrações, pois compõe o asselvajamento do patriarcado produtor de
mercadorias que na sociedade de origem, ao tornar estas mulheres supérfluas, na expressão de
Heidemann (2004), obrigando-as a mobilizar-se em busca de trabalho.
Mas a sua inserção na sociedade de destino também precisa ser compreendida desse ponto
de vista. A princípio, homens e mulheres ocupam as mesmas posições nas oficinas de costura; tanto
um como a outra podem trabalhar nas mesmas máquinas e o salário é determinado em função da
quantidade de peças produzidas, sem disntinção de gênero. O que ocorre é que, assim como na
Bolívia (e na sociedade brasileira, que fique claro), nas oficinas de costura a responsabilidade sobre
as atividades de reprodução, como definimos acima, cai unicamente sobre as mulheres. Estas
atividades podem ser remuneradas ou não; no primeiro caso, é considerada a tarefa “mais baixa” da
oficina e a que recebe o pior pagamento; no segundo, retira as mulheres do trabalho produtivo, a
costura, para que possam cozinhar, limpar, lavar roupa, cuidar dos filhos, fazendo com que se
reduza também o seu salário final.
Sidney Silva (1997) já havia destacado que “as mulheres que se dedicam ao serviço
doméstico enfrentam sérios problemas, seja no país de origem ou no exterior” (SILVA, 1997, p. 95).
Comenta, mais adiante, que “tal realidade [a superexploração do trabalho] não é enfrentada apenas
pelos costureiros, mas pode ser extensiva também às mulheres que trabalham no serviço doméstico”
(SILVA, 1997, p. 134). Não é a toa que, na pesquisa, encontramos mais de um relato de mulheres
migrantes às quais cabe o trabalho doméstico (não remunerado) nas oficinas de costura, como
destaca Silva (1997):
Outro fator que limita ainda mais o tempo de lazer desses trabalhadores, é que eles
devem lavar a própria roupa de trabalho, como também ajudar na limpeza do local
de trabalho. No caso das mulheres, o trabalho é ainda maior, porque elas devem
ajudar nas tarefas de cozinha, lavando a louça, que em geral não é pouca, posto que
o número de pessoas que vivem e trabalham nessas oficinas é grande. Para as
casadas com filhos, a situação é ainda pior, pois em suas mãos está a administração
da cozinha, o que significa a compra e a preparação dos alimentos, além do
cuidado dos filhos, da roupa e outras responsabilidades. (SILVA, 1997, p. 143)

Para Silva (1997), o tempo das atividades domésticas é “descontado” do tempo de lazer.
Porém, nas entrevistas realizadas, ouvimos diversas vezes o relato de que o tempo do trabalho
produtivo também é substituído por essas atividades. Assim, muitas oficinas preferem contratar
casais, porque sabem que, enquanto a mulher realiza as tarefas domésticas, o seu marido garante a
produção. Mulheres solteiras com filhos, muitas vezes, tem dificuldade de se empregar na costura
pelo motivo inverso: tornam-se pouco produtivas porque dedicam muito do seu tempo ao cuidado
das crianças. Em Freitas (2013), aparece o depoimento de Suzana, migrante boliviana que esteve
em São Paulo e retornou à Bolívia para cuidar de seu filho:
“Pela manhã, às 6h, saía a levantar. E tinha que colocar o café da manhã para os
trabalhadores. Daí, desde as 7h, começamos a trabalhar: eu tinha que desenredar os
fios porque era ajudante de costura. Desde as 10h, fazia o almoço e, depois,
cozinhava até as 12h, almoçava e, às 13h, voltava a trabalhar como ajudante de
costura. E, depois, às 18h, servia chá e tinha que voltar, de novo, e somente depois
descansava. Era muito trabalho. E, ainda, tinha que limpar a oficina de costura e
para a sua filha [filha da dona] tinha que lavar roupa (...)”. (FREITAS, 2013, p.
537)
Desta trajetória de migração, é interessante destacar que Suzana veio a São Paulo junto com
seu marido, deixando o filho na Bolívia aos cuidados de um tio; quando o casal decide pelo retorno
em função dos cuidados com o filho, quem retorna é a mulher e não o homem, que continua em São
Paulo trabalhando. A divisão das atividades de reprodução no interior do núcleo familiar é portanto
fundamental na determinação das dinâmicas migratórias e precisa ser incorporada à compreensão
daquilo que constitui a feminização das migrações. A obrigação das mulheres sobre as tarefas
domésticas e o cuidado familiar marca suas trajetórias e suas possibilidades de inserção no destino.
Esta condição não pode ser entendida de forma naturalizada e precisa ser pensada também
em relação com a totalidade dos processos sociais. Scholz (2011) reconhece uma unidade
contraditória entre as dimensões da reprodução social que pertencem à esfera do valor, masculina,
como o dinheiro e o trabalho abstrato, e aquelas que lhe são dissociadas, femininas, como o afeto, o
cuidado familiar, as atividades domésticas 9. Este princípio estrutural geral, chamado valor-
dissociação, apaga a formação histórica patriarcal que determina os papeis de gênero, fetichizando e
naturalizando tais papeis.
Quando conversamos com Marisa10, costureira, originária de um pequeno pueblo rural do sul
boliviano, ela estranhou a pergunta sobre quem fazia a limpeza da oficina, tratando o assunto como
algo óbvio: onde ela trabalha, com mais 17 pessoas, há uma mulher responsável pelo cuidado
doméstico com a oficina, enquanto a limpeza dos quartos é feita de acordo com o ocupante. Durante
as entrevistas, aparece como discurso a naturalização do caráter feminino do trabalho doméstico
quando o fato nem sequer é mencionado; a Gabriela, 19 anos, originária de La Paz, não lhe ocorre
explicitar que a responsabilidade do cuidado da casa caía sobre sua mãe porque não vê isso como
algo fora do ordinário, digno de menção.
Além disso, nossa pesquisa permitiu identificar a presença de dois tipos diferentes de
oficinas de costura: pequenas oficinas de grupos familiares, em que trabalham os parentes próximos
e oficinas “proprietárias”, com donos que contratam e pagam trabalhadores, muitas vezes
agenciando a sua vinda da Bolívia. Para cada tipo de oficina, há uma forma particular de trabalho
doméstico: com ou sem remuneração, o que é preciso distinguir teoricamente.
Em oficinas menores, em geral negócio de um grupo familiar, se não há ajudante que faça o
trabalho doméstico, as mulheres costureiras se dividem entre cozinha e limpeza, sem remuneração,
9 “O valor, o trabalho abstrato, “a lógica de poupar tempo” e o mercado, que funcionam segundo o ponto de vista da
rentabilidade, da concorrência e do lucro, precisam do seu Outro, o “trabalho doméstico”, no caso do qual se trata
de gastar tempo, e das mulheres, às quais são atribuídas qualidades opostas às dos homens. A construção da
masculinidade e da feminilidade em sentido moderno e a constituição do trabalho abstrato e do “trabalho
doméstico” condicionam-se assim necessariamente uma à outra. (...) Trata-se, sim, de aguentar a tensão entre
essência (dissociação-valor) e aparência (as mulheres também desempenham atividades profissionais não
correspondentes a atividades típicas das mulheres)” (SCHOLZ, 2000).

10 Entrevistas realizadas com imigrantes bolivianas trabalhadoras da indústria de confecção residentes na cidade de
São Paulo à época. As entrevistas foram realizadas entre outubro e dezembro de 2014. Os nomes das entrevistadas
foram alterados para preservar suas identidades.
retirando-as do trabalho de costura. Assim, ao mesmo tempo em que recebem menos se dividido o
ganho familiar pela produtividade dos costureiros, também adquirem menos experiência no trabalho
de costura. Este é o caso de Gabriela, quando morou com sua família no Bom Retiro; o trabalho
doméstico cabia à mãe, com ajuda das filhas. É o que aparece na sua fala, quando conta das
dificuldades de fazer o almoço, em que se refere apenas à mãe e a si mesma. Atualmente, Selma, 36
anos, de El Alto (cidade na periferia de La Paz), está na mesma situação e é responsável pelo
trabalho doméstico de seu grupo familiar, que inclui não só as atividades de cozinha e limpeza, mas
compras de supermercado e feira, por exemplo.
Porém, Selma já esteve em outra condição: ao chegar à metrópole paulistana, em 2000,
começou trabalhando em uma oficina de costura “proprietária”, mas como cozinheira, assim como a
irmã de Gabriela, cuja trajetória comentamos adiante. Em oficinas maiores, pertencentes em
maioria a um casal, é contratada uma imigrante como empregada, apenas para o trabalho doméstico
nas áreas comuns. Nos dormitórios, a responsabilidade recai sobre as mulheres que os ocupam.
Segundo Carmen, 32 anos, também de El Alto, nestas oficinas “proprietárias”, o homem que
chega a São Paulo sem experiência no trabalho da costura assume o cargo de ajudante e em pouco
tempo se torna costureiro. A mulher, como ajudante, trabalha apenas metade do tempo na costura e
se ocupa com a cozinha e a limpeza, cargo de menor remuneração em toda a oficina. Portanto,
demora muito mais tempo para aprender o ofício e assumir uma máquina, onde tem a possibilidade
de aumentar seu ganho. A trajetória dos irmãos de Gabriela é exemplar nesse sentido; entre um
homem e uma mulher que chegam a uma nova oficina, o homem, neste caso o irmão de Gabriela, é
imediatamente colocado frente à máquina de costura, enquanto a mulher, a irmã, é colocada no
trabalho doméstico e vai, aos poucos, adquirindo experiência como costureira. Hoje, Gabriela diz
que seu irmão é muito rápido na costura; nos perguntamos se não será pelo tempo a mais que teve
para se dedicar à costura, sem exigência de realizar trabalho doméstico, como aprendiz ou depois.
Ressaltamos que este não é o caso de todas as mulheres, mas que esta inserção inicial mais
precarizada, tanto pela menor remuneração quanto pela menor possibilidade de aprendizado e
prática do trabalho produtivo (o que também resulta em maior remuneração futura), é uma condição
particular da migração feminina no contexto da indústria de confecção paulistana.
De maneira geral, as migrantes costureiras trabalham mais se considerado o trabalho
doméstico, ou seja, precisam equilibrar trabalho produtivo e reprodutivo ao mesmo tempo em que
estas atividades domésticas, consideradas inferiores por serem femininas, não são consideradas
como trabalho. A divisão sexual do trabalho cria uma hierarquia de gênero na esfera produtiva
(HIRATA E KERGOAT, 2007): mulheres em condições inferiores no trabalho produtivo, menos
oportunidade de aprender a usar as máquinas, realizando atividades menos remuneradas.
No que toca à relação entre os sexos num sentido mais restrito, o modelo dualista
dos sexos está hoje ultrapassado; mas, para o recordar mais uma vez: as actividades
associadas à reprodução, por exemplo, continuam a ser primariamente o domínio
das mulheres, não obstante a sua actividade profissional paralela. As mulheres já
não se limitam a ser esposas, donas de casa e mães, nem os homens já são os
únicos a sustentar a família. Como "duplamente socializadas", também as mulheres
estão sujeitas às tendências de individualização pós-modernas. (SCHOLZ, 2004, p.
9)

Sugerimos então uma diferenciação entre o trabalho doméstico remunerado ou não. Por um
lado, é considerado um trabalho “de mulher” dentro dos termos já expostos aqui; por outro, a partir
do momento em que há remuneração, é preciso pensar se torna-se trabalho abstrato indiferenciado.
A questão central não é a presença ou não de salário, mas o fato de que a remuneração das
atividades domésticas as coloca em relação de troca, diferente de quando não são remuneradas. Esta
mediação da troca pelo dinheiro, equivalente geral das mercadorias, pressupõe a venda de força de
trabalho, de dispêndio de energia humana contabilizado em horas. Colocadas estas atividades numa
relação de troca assim definida, abstraem-se suas qualidades, nos termos definidos por Marx (1983).
Não é a remuneração que impõe a mudança da qualidade do trabalho doméstico mas, antes, uma
mudança no sentido da relação em que estas atividades domésticas acontecem que determina a sua
abstração.
As trajetórias de Selma e de Carmen indicam a necessidade de se conjugar o trabalho na
costura com o cuidado com os filhos e o trabalho doméstico; ambas destacam, inclusive, buscar as
crianças na escola como uma marca do seu cotidiano que lhes consome tempo ou dinheiro: Selma
leva e busca as filhas na escola, o que lhe ocupa tempo, enquanto Carmen usa parte significativa de
seu salário para pagar uma perua para levar e trazer sua filha da escola. Roswitha Scholz (2000,
2004) afirma que o trabalho abstrato e o doméstico tem qualidades diferentes e, a partir daí, a
distinção precisa ser levada em consideração.
Para Scholz (2000, 2004), o trabalho doméstico exige características como o afeto, o
cuidado e a emocionalidade que são atribuídos à mulher no contexto do valor-dissociação. As
atividades feitas na casa e para a reprodução da família passam a ter outra qualidade, diferente
daquela abstração comentada por Marx (1983), pois não desaparece aí o caráter útil do produto do
trabalho a partir de uma relação de troca.
Compreendemos assim que os dois conceitos não se diferenciam apenas por uma questão de
ganho salarial, mas que essa disparidade entre atividades domésticas remuneradas ou não esconde
uma contradição mais profunda. Caracteriza-se, por um lado, o trabalho abstrato, tornado gelatina
de trabalho humano indiferenciado (Marx, 1983). Por outro, atividades domésticas que carregam
características essencialmente femininas e, ainda assim, são fundamentais para a reprodução crítica
do valor, ainda que lhe estejam dissociadas.
É por isso que Scholz (2004), em lugar do conceito de “dupla jornada” discute a “dupla
socialização” como nova forma do valor-dissociação pós terceira revolução industrial,
diferenciando a responsabilidade sobre o cuidado doméstico e familiar do trabalho abstrato,
confusão que estaria pressuposta na chamada “dupla jornada”.
Não conseguimos, aqui, resolver ou esgotar a diferenciação entre trabalho abstrato e
atividades domésticas de reprodução. Ainda assim entendemos que, no contexto de um patriarcado
produtor de mercadorias, é preciso discernir suas formas. No caso das oficinas de costura, a
realização de trabalho doméstico remunerado ou não por parte da mulher representa formas
concretas, ainda que diferentes, do valor-dissociação marcando, nos dois casos, um acesso ao
dinheiro na forma de salário inferiorizado.
Ressaltamos, ainda, que esta obrigatoriedade em relação às atividades domésticas é um
momento da precarização do trabalho feminino. Comentando o trabalho doméstico remunerado, em
primeiro lugar, é o posto mais mal-pago da oficina de costura e cabe, unicamente, às mulheres. Em
segundo lugar, no caso das ajudantes de costura que trabalham como empregadas domésticas,
dificulta sua possibilidade de adquirir experiência como costureira e conseguir um trabalho de
maior especialização e de maior remuneração. É também dado desta precarização que a atividade
“eminentemente feminina” seja a de menor salário, dada a inferioridade da mulher no universo do
trabalho abstrato colocada pelos termos do valor-dissociação. No caso das atividades domésticas
não remuneradas, de característica diferente do trabalho abstrato, há uma carga maior de tarefas a
ser cumprida pela mulher, que demanda sua energia e, mais que isso, lhes retira tempo do trabalho
produtivo, reduzindo seu acesso ao dinheiro.
Esta análise daquilo que constitui a feminização do fluxo migratório de bolivianos para a
RMSP, é, sabemos, insuficiente para dar conta de um fenômeno de alta complexidade. Esperamos
ter feito, ainda assim, alguns apontamentos sobre dois pontos que consideramos fundamentais para
a sua compreensão, a saber, a condição de vida das mulheres na origem e a forma como se
organizam as relações de gênero e familiares no contexto de destino, que abordamos aqui através da
problemática das atividades domésticas e familiares de reprodução. Acreditamos que, nessa leitura,
não se foge a uma pesquisa rigorosamente empírica nem à totalidade dos processos sociais como
sistema produtor de mercadorias, possibilitando que essa feminização seja compreendida como
asselvajamento do patriarcado produtor de mercadorias.

4. Considerações finais

A presença feminina na migração boliviana para a RMSP existe, como vimos, desde a
chamada primeira onda, ainda que haja dados escassos sobre isso; já no momento da segunda onda
migratória, o aumento do número de mulheres bem como um renovado interesse teórico por
questões como gênero faz com que a análise do fenômeno da feminização passe a estar na ordem do
dia. Este conceito aparece, ainda, usado de maneiras muito diversas; no percurso que escolhemos
para defini-lo, entendemos como um processo complexo que inclui relações de gênero e familiares
na origem como no destino, a partir de uma noção de totalidade.
Assim, a inserção de bolivianas imigrantes no âmbito do trabalho passa pelas
particularidades de gênero que definem, como apresentamos, suas trajetórias pessoais. Almeida
(2013) afirma que há uma necessidade de mulheres no fluxo migratório justamente para realizar as
atividades domésticas. Nesse sentido, a feminização do fluxo de bolivianos para a RMSP está ligada
então a estratégias individuais e familiares de permanência na sociedade de destino, o que
influencia um projeto migratório pensado inicialmente como temporário.
No caso dos projetos de migração familiares, a presença da mulher é absolutamente
necessária para viabilizá-lo enquanto divisão de tarefas produtivas e reprodutivas. Inclusive, pode-
se pensar a estratégia familiar de permanência na RMSP como um fato relacionado ao aumento do
número de mulheres neste fluxo migratório, que exige ao mesmo tempo em que possibilita a
inserção da família como núcleo produtivo da indústria de confecção. Por outro lado, nos projetos
individuais de migração, a responsabilidade sobre as atividades domésticas e o trabalho produtivo
aparece como dupla socialização.
Assim, sugerimos uma relação entre gênero e projetos migratórios, recolocando o primeiro
como aspecto estrutural das condições subjetivas e objetivas de mobilidade do trabalho. Se há
possibilidade de inserção da mulher na sociedade de destino, os projetos familiares e individuais
podem ser pensados como permanência, já que para isso há necessidade da figura feminina
responsável sobre as atividades domésticas e o cuidado com os filhos. Esta relação opera a partir do
valor-dissociação como princípio estrutural geral, que neste caso particular aparece como a
articulação de estratégias para a realização do trabalho produtivo da costura conjugado com as
atividades reprodutivas, definindo as trajetórias individuais.
Ao mesmo tempo, o projeto de permanência destes imigrantes bolivianos em São Paulo a
partir do trabalho na costura passa necessariamente pela precarização da condição das mulheres, na
forma de dupla socialização e remuneração menor. Esta precarização do trabalho feminino é
também dado do valor-dissociação. Aqui, termina de se revelar como este princípio da socialização
de uma sociedade produtora de mercadorias opera particularmente sobre as trajetórias de migração
de mulheres bolivianas e suas condições de inserção na sociedade paulistana.
Coloca-se então a compreensão da feminização deste fluxo migratório no âmago de um
processo de crise que se traduz como asselvajamento do patriarcado produtor de mercadorias, ou
seja, o acirramento das suas contradições internas em um contexto de crise do trabalho abstrato, do
universo do valor marcado estruturalmente por uma dissociação de gênero, que aparece
concretamente de muitas formas, sendo uma delas a precarização do trabalho feminino a partir da
migração, como sugerimos aqui. Se pensamos a migração de mulheres como um momento de
precarização de sua força de trabalho, podemos pensar a tendência de feminização dos fluxos
migratórios não só como dinâmica interna dos mesmos fluxos, mas como momento particular de
um contexto global de asselvajamento do patriarcado produtor de mercadorias, neste caso como
inserção precária da imigrante boliviana na indústria de confecção da RMSP.

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