RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO IMPETRANTE : ANDRE RODRIGO GIMENEZ CABRERA ADVOGADO : ANDRÉ RODRIGO GIMENEZ CABRERA - SP358875 IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : LUIZ ALBERTO DE CARVALHO
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO MOURA RIBEIRO (Relator):
Cuida-se de habeas corpus substitutivo de recurso especial com pedido liminar, impetrado em favor de LUIZ ALBERTO DE CARVALHO impugnando acórdão proferido pela 14ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo que negou provimento ao Agravo de Instrumento nº 2116063-84.2017.8.26.0000 interposto contra decisão que em execução de título extrajudicial proposta pelo BANCO BRADESCO S/A em desfavor do paciente, determinou que se oficiasse ao Detran-SP para que bloqueasse a carteira nacional de habilitação dele. O impetrante sustentou que o paciente sofreu constrangimento ilegal por ato dos Desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo que proferiram acórdão mantendo a decisão do Juízo da Vara Única da Comarca de Presidente Bernardes - SP, que proferiu decisão interlocutória no processo de execução (nº 0000954-18.2010.8.26.0480) porque 1) as medidas atípicas prevista no art. 139, IV, do NCPC pressupõem a insuficiência de todos os meios tradicionais que se encontram à disposição do juízo, sendo também necessário se observar a adequação e a proporcionalidade da medida, que não foi feita no caso; 2) se busca no processo de execução de título extrajudicial o pagamento de uma dívida e não privar o devedor do seu direito de locomoção, com a restrição de dirigir veículos automotores; e, 3) a medida coercitiva aplicada pelo juízo da execução foi demasiadamente desproporcional ao cumprimento da obrigação e somente serviu para ferir seu direito fundamental de liberdade de locomoção e não acarretará o pagamento imediato dos valores devidos. Indeferi o pedido liminar (e-STJ, fls. 505/506). Recebi as informações (e-STJ, fls. 518/521). O Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento do writ (e-STJ, fls. 523/527). É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 411.519 - SP (2017/0198003-7) RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO IMPETRANTE : ANDRE RODRIGO GIMENEZ CABRERA ADVOGADO : ANDRÉ RODRIGO GIMENEZ CABRERA - SP358875 IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : LUIZ ALBERTO DE CARVALHO EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. PRECEDENTES. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. APLICAÇÃO DE MEDIDA ATÍPICA DO INCISO IV DO ART. 138 DO NCPC. SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO DO PACIENTE. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO DIREITO DE IR E VIR. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. Não é admissível, em regra, a utilização do habeas corpus como sucedâneo de recurso ordinário cabível. Precedentes. 2. A jurisprudência desta eg. Corte Superior tem orientação no sentido de que é inadequada a utilização do habeas corpus quando não há, sequer remotamente, ameaça ao direito de ir e vir do paciente, como na hipótese de restrição ao direito de dirigir veículo automotor. 3. O Habeas Corpus não é sucedâneo do recurso adequado. 4. Habeas corpus não conhecido.
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Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 411.519 - SP (2017/0198003-7) RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO IMPETRANTE : ANDRE RODRIGO GIMENEZ CABRERA ADVOGADO : ANDRÉ RODRIGO GIMENEZ CABRERA - SP358875 IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : LUIZ ALBERTO DE CARVALHO
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO MOURA RIBEIRO (Relator):
A impetração expõe a tese de que a decisão do Juízo da execução que aplicou uma das medidas coercitivas atípicas previstas no inciso IV do art. 139 do NCPC, consubstanciada na determinação de suspensão da carteira nacional de habilitação do paciente para obrigá-lo o adimplir a obrigação assumida com o credor, se mostrou desproporcional e inadequada, bem como violou o seu direito fundamental de locomoção. De acordo com os documentos que instruem o writ e com as informações recebidas pela autoridade coatora, passo a resumir os fatos que antecederam a impetração. O BANCO BRADESCO S/A (BRADESCO) ajuizou em maio de 2010 execução de título extrajudicial contra LUIZ ALBERTO DE CARVALHO (PACIENTE/EXECUTADO) que tramita pela Vara Única da Comarca de Presidente Bernardes - SP, por não ter ele pago os valores constantes de cédula de crédito bancário celebrada aos 5/1/2010, que deveriam ter sido pagos em 60 (sessenta) parcelas mensais. A dívida cobrada é de R$ 28.772,85 (vinte e oito mil e setecentos e setenta e dois reais) (e-STJ, fls. 12/16). A inércia do PACIENTE após ter sido citado para pagar ensejou aos 14/4/2011, o bloqueio judicial e a penhora na sua conta bancária pelo Sistema BacenJud de R$ 404,00 (quatrocentos e quatro reais) (e-STJ, fl. 98), a penhora de uma televisão e de um aparelho de DVD (e-STJ, fl. 259), e o bloqueio da transferência de dois veículos de propriedade dele (e-STJ, fl. 134). A execução foi arquivada duas vezes a pedido do BRADESCO por não terem sido encontrados bens suficientes à satisfação da pretensão executória (e-STJ, fls. 337 e 368). Na vigência do Código de Processo Civil de 2015, o BRADESCO formulou pedido de bloqueio da carteira nacional de habilitação (CNH) do PACIENTE e de todos os seus cartões de crédito, com base no inciso IV do art. 139 do NCPC (e-STJ, fl. 371), o que foi deferido pelo Juízo da execução aos 27/3/2017 (e-STJ, fl.
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Superior Tribunal de Justiça 372). Inconformado, o PACIENTE interpôs agravo de instrumento, no qual alegou que a medida atípica que lhe foi aplicada é desproporcional e inadequada para o fim a que se destina e pleiteou o desbloqueio da sua CNH (e-STJ, fls. 388/398). O Tribunal de Justiça de São Paulo negou provimento ao recurso em acórdão que recebeu a seguinte ementa:
EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CÉDULA DE
CRÉDITO BANCÁRIO. MEDIDAS COERCITIVAS ATÍPICAS. ART. 139, IV, DO CPC. SUSPENSÃO DA CNH. DEVEDOR QUE POSSUI PROBLEMAS DE LOCOMOÇÃO. 1. As medidas coercitivas típicas já foram tentadas sem sucesso. Assim, não restava ao credor senão tentar as medidas atípicas admitidas no art. 139, IV, do CPC. 2. O juízo determinou a suspensão da CNH do devedor, que alega ter problemas de locomoção a pé, por problemas no nervo ciático. 3. O diagnóstico não informa se o devedor pode dirigir. E, de todo modo, seus veículos foram penhorados, não se verificando maior prejuízo na suspensão da CNH. 4. As medidas coercitivas não foram previstas para prejudicar os devedores, mas para obrigá-los a empenhar-se em cumprir com suas obrigações. Enquanto somente o credor tem dever de perseguir o crédito, o devedor permanece inerte e, não raro, enquanto mantém intacto seu estilo de vida, é agraciado com a prescrição intercorrente. O dever de cooperação só é obtido quando o devedor tem algum direito atingido. 5. Recurso não provido (e-STJ, fls. 475).
Daí a impetração do presente writ, no qual o impetrante sustentou que
a manutenção da decisão que determinou a suspensão da CNH do paciente violou o seu direito de locomoção e se mostrou inadequada e desproporcional. De início, cabe ressaltar que nos termos da jurisprudência desta eg. Corte Superior não se admite a impetração habeas corpus como sucedâneo ou substitutivo de recurso ordinário cabível, em especial no caso em que se impugnou acórdão que negou provimento a agravo de instrumento interposto contra decisão interlocutória, no qual seria cabível a interposição do recurso especial. Nesse sentido, os seguintes precedentes:
HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL. ALIMENTOS. WRIT
SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. NÃO CABIMENTO. PRECEDENTES DO STF E DO STJ. CONCESSÃO DE ORDEM DE OFÍCIO. INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. Documento: 76481499 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 4 de 9 Superior Tribunal de Justiça 1. Não conhecimento do habeas corpus impetrado como substitutivo de recurso ordinário. Precedentes do STF e do STJ. 2. Inocorrência de flagrante ilegalidade ou abuso de poder a justificar a concessão da ordem de ofício. 3. Decreto prisional em razão do inadimplemento da pensão alimentícia firmada em acordo judicial em ação de execução de alimentos. 4. Jurisprudência firme do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o descumprimento de acordo firmado entre alimentante e alimentado, nos autos de ação de execução de alimentos, pode ensejar o decreto de prisão, bem como que o pagamento parcial não produz o efeito de liberar o devedor do restante do débito ou, tampouco, afastar o decreto prisional. 5. Precedentes específicos desta Corte. 6. HABEAS CORPUS DENEGADO. (HC nº 350.101/MS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Terceira Turma, julgado aos 14/6/2016, DJe de 17/6/2016, sem destaque no original).
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS
CORPUS. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. ART. 733 DO CPC. PRESTAÇÕES VENCIDAS NO CURSO DA EXECUÇÃO. IMPETRAÇÃO DE WRIT NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ORDINÁRIO. INADMISSIBILIDADE. ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. 1. A ação constitucional será cabível "sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder" (art. 5º, LXVIII, da CF), circunstância não configurada nos autos. 2. Não é admissível a utilização do habeas corpus originário no STJ como substitutivo do recurso ordinário, tampouco dilação probatória na via eleita. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC nº 298.667/RJ, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Quarta Turma, julgado aos 23/10/2014, DJe de 10/11/2014)
PROCESSUAL CIVIL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ORDINÁRIO. NÃO CABIMENTO. ART. 105, II, 'A', CF/88. PENSÃO ALIMENTÍCIA. 1. O habeas corpus não é admitido como sucedâneo ou substitutivo de recurso ordinário, ex vi da disposição expressa do art. 105, II, 'a', da CF/88. 2. A competência originária do STJ deve ser preservada em prol dos legitimados do art. 105, inc. I, 'c', da CF/88, prestigiando-se, a um só tempo, a divisão de competências realizada pelo legislador Documento: 76481499 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 5 de 9 Superior Tribunal de Justiça constituinte, bem ainda a racionalização e simplificação do sistema recursal. 3. Evolução jurisprudencial encampada pela Suprema Corte, cuja adesão de entendimento pelo STJ também se presta ao alento do órgão jurisdicional precípua e constitucionalmente incumbido da guarda e exegese da Constituição. 4. Não verificada a presença de flagrante ilegalidade, não há se cogitar da concessão ex officio da ordem pleiteada. 5. É cabível a prisão civil do alimentante inadimplente em ação de execução contra si proposta, quando se visa ao recebimento das últimas três parcelas devidas a título de pensão alimentícia, mais as que vencerem no curso do processo. 6. O pagamento parcial do débito não afasta a possibilidade de prisão civil do alimentante executado. 7. Habeas Corpus não conhecido. (HC nº 258.607/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, julgado aos 15/8/2013, DJe de 22/8/2013, sem destaque no original).
Não obstante tal orientação jurisprudencial, existe a possibilidade
excepcional de concessão da ordem de ofício, na hipótese em que se verificar que alguém sofre ou está sofrendo constrangimento em sua liberdade de locomoção em razão de decisão manifestamente ilegal ou teratológica, o que não é caso pois a suspensão do direito de conduzir veículo automotor, a meu sentir, não configura ameaça e nem sequer repercute no direito de ir e vir do PACIENTE. Em nenhum momento a liberdade dele foi ameaçada pelo Juízo da execução ou pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, autoridades apontadas como coatoras. O writ foi utilizado para atacar acórdão proferido em agravo de instrumento contra o qual seria cabível a interposição de recurso especial, se mostrando flagrante a inadequada utilização da via eleita, o que impede o seu conhecimento. Há muito tempo esta eg. Corte tem se pronunciado no sentido de racionalização desse instrumento importantíssimo para a garantia do direito de locomoção para evitar o desvirtuamento da sua função constitucional, de modo que não se admite que ele seja empregado para contestar decisão contra a qual exista recurso específico no ordenamento jurídico, como ocorre no caso em tela. A jurisprudência desta eg. Corte Superior tem orientado que se torna inadequado a utilização do habeas corpus quando não há, sequer remotamente, ameaça ao direito de ir e vir do paciente, inclusive na hipótese de restrição ao direito de dirigir. Documento: 76481499 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 6 de 9 Superior Tribunal de Justiça Nesse sentido, guardadas as devidas proporções, os seguintes precedentes:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO PRÓPRIO.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CRIMES DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO. LESÃO CORPORAL. SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO DIREITO DE IR E VIR. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. O habeas corpus não pode ser utilizado como substitutivo de recurso próprio, a fim de que não se desvirtue a finalidade dessa garantia constitucional, com a exceção de quando a ilegalidade apontada é flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício. 2. Nos termos do art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. 3. Tendo a prisão preventiva do paciente sido substituída por medidas cautelares, dentre elas a suspensão do direito de dirigir - a qual se busca revogar -, não se verifica violação direta e imediata do direito de locomoção, o qual o paciente pode exercer livremente utilizando-se de outros meios . 4. Habeas corpus não conhecido (HC nº 322.655/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Quinta Turma, julgado aos 7/4/2016, DJe de 15/4/2016, sem destaque no original).
PENAL E PROCESSUAL. FURTO SIMPLES. SANÇÃO DE PENA
DE MULTA. AUSÊNCIA DE AMEAÇA AO DIREITO DE LOCOMOÇÃO DO PACIENTE. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. SÚMULA 693/STF. NÃO CONHECIMENTO. 1. O habeas corpus é o remédio constitucional destinado a evitar ou a fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção decorrente de ilegalidade ou abuso de poder. 2. Tendo sido aplicada ao paciente apenas pena de multa, não se conhece da impetração que tem por objeto a anulação do julgamento da apelação, já transitada em julgado. Incide, à espécie, o verbete sumular 693/STF, verbis: 'Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada'. 3. Ordem não conhecida. (HC nº 133.594/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Quinta Turma, julgado aos 13/4/2010, DJe de 3/5/2010, sem destaque no original).
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Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS. PEDIDO DE REDUÇÃO DO TEMPO DE SUSPENSÃO DE CARTEIRA DE HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR. INEXISTÊNCIA DE AMEAÇA NO DIREITO DE IR E VIR DO PACIENTE. VIA INADEQUADA. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. Se não se vislumbra ameaça ao direito de ir e vir do paciente, torna-se inadequada a via estreita do habeas corpus. 2. Writ não conhecido. (HC nº 172.709/RJ, Rel Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, julgado aos 28/5/2013, DJe de 6/6/2013, sem destaque no original).
HABEAS CORPUS. CRIME DE HOMICÍDIO CULPOSO NA
DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. ELEVAÇÃO DA PENA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. POSSIBILIDADE, SE AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME EXTRAPOLAM AS NORMAIS À ESPÉCIE E SUAS CONSEQÜÊNCIAS SÃO POR DEMASIADAMENTE DANOSAS. ANULAÇÃO DA SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. IMPOSSIBILIDADE DE SE REQUERER TAL PLEITO PELA VIA DO REMÉDIO HERÓICO, DESTINADA A TUTELAR APENAS IMEDIATO CONSTRANGIMENTO ILEGAL AO DIREITO DE LIBERDADE. HABEAS CORPUS PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, DENEGADO. 1. Circunstâncias judiciais que notoriamente extrapolam aquelas normais à espécie, já que a conduta do Paciente na prática do delito denotou especial reprovabilidade (cometimento do crime em via de grande movimentação), sendo efetivamente danosas as conseqüências do crime (morte da vítima que deixou criança órfã), razões pelas quais não prospera a argüida falta de fundamentação na exasperação da pena-base pouco acima do mínimo legal. "As circunstâncias e conseqüências do crime permitem mensurar o grau de culpabilidade e reprovabilidade da conduta." (STF, HC 94.125/RJ, 1.ª Turma, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de 06/02/2009.) 2. O pedido para que se anule a decisão que suspendeu o direito de dirigir do Paciente não pode ser veiculado pela via do habeas corpus, destinado a tutelar apenas imediato constrangimento ilegal ao direito de locomoção. O remédio heróico 'Não se presta à impugnação de interdição de direito, consistente em suspensão de habilitação para dirigir veículos automotores' (STF - HC 73.655/GO, 1.ª Turma, Rel. Min. SYDNEY SANCHES, DJ de 13/06/1996.) 3. "A ação de 'habeas corpus' não se revela cabível quando inexistente situação de dano efetivo ou de risco potencial ao 'jus manendi, ambulandi, eundi ultro citroque' do paciente. [...]. não havendo risco efetivo de constrição à liberdade de locomoção física, não se revela pertinente o remédio do 'habeas corpus', cuja utilização supõe, necessariamente, a concreta configuração de Documento: 76481499 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 8 de 9 Superior Tribunal de Justiça ofensa - atual ou iminente - ao direito de ir, vir e permanecer das pessoas. (STF - HC 97.119-AgR/DF, 2.ª Turma, Rel Min. CELSO DE MELLO, DJe de 08/05/2009) 4. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa extensão, denegado. (HC nº 117.231/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Quinta Turma, julgado aos 23/3/2010, DJe de 19/4/2010, sem destaque no original)
HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO
RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. NÃO CONHECIMENTO. 1. A via eleita se revela inadequada para a insurgência contra o ato apontado como coator, pois o ordenamento jurídico prevê recurso específico para tal fim, circunstância que impede o seu formal conhecimento. Precedentes. 2. O alegado constrangimento ilegal será analisado para a verificação da eventual possibilidade de atuação ex officio, nos termos do artigo 654, § 2º, do Código de Processo Penal. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. IMPOSIÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR DE SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR. IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO EM PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM CASO DE DESCUMPRIMENTO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO OU AMEAÇA DE VIOLÊNCIA AO DIREITO AMBULATÓRIO. VIA INADEQUADA. 1. A imposição da medida cautelar de suspensão do direito de dirigir veículo automotor, em razão da ausência de previsão legal de sua conversão em pena privativa de liberdade caso descumprida, não tem o condão, por si só, de caracterizar ofensa ou ameaça à liberdade de locomoção do paciente, razão pela qual não é cabível o manejo do habeas corpus. Precedentes do STJ e do STF. 2. Ainda que assim não fosse, é necessário registrar que, embora tenha reconhecido a repercussão geral sobre a aplicação da pena de suspensão da habilitação aos motoristas profissionais no RE 607107 RG/MG, o Supremo Tribunal Federal jamais declarou inconstitucional tal penalidade, que tem sido mantida por este Sodalício em diversos julgados, sob o argumento de que é justamente de tal categoria que se espera maior cuidado e responsabilidade no trânsito. Precedentes. 3. Habeas corpus não conhecido (HC nº 383.225/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, julgado aos 4/5/2017, DJe de 12/5/2017, sem destaque no original).
Dessa forma, NÃO CONHEÇO do habeas corpus.
É como voto.
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