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Introdução
O tema proposto neste trabalho tem como foco principal a santificação do cristão
no sentido ético e moral. Dentre os objetivos da pesquisa está o mapeamento de escritos
sobre o tema da santificação ou da vida cristã numa perspectiva bíblica e sistemática,
bem como um levantamento de ocorrências do tópico da vida cristã em documentos
litúrgicos da Igreja Evangélica Luterana. No núcleo da questão está a ideia de observar
aspectos convergentes entre a teologia da vida cristã e das afirmações litúrgicas
luteranas e, com base nisto, propor um caminho para que haja uma melhor compreensão
e assimilação do que se crê e do que se confessa em atos litúrgicos.
Por vezes, tratar do tema da santificação parece ser meio melindroso. Um exemplo
desse melindre é de uma chamada de um livro publicado sobre a vida santificada e que
traz o seguinte texto na Amazon:
1<https://www.amazon.com.br/Sanctified-Living-Forgiveness-Lutheran-Voices-
ebook/dp/B001D50QXW/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1482953320&sr=8-1&keywords=Sanctified+living>.
Acesso em 03 jul. 2017.
Artigo XXVI da Confissão de Augsburgo (CA)2, “Da distinção de comidas”. Mesmo que a
expressão apareça uma única vez, de acordo com o índice remissivo, seu uso é
significativo por ter coerência com o entendimento de vida cristã em textos bíblicos; por
ter autoridade, pois é um Documento da Igreja Luterana e tem significado histórico, uma
vez que o significado pretendido na ocasião de sua escrita tem perfeita aplicabilidade
contemporânea, como por exemplo será visto mais abaixo, com referência ao texto
bíblico de Levítico 19.2-3a, o qual conecta a vida santa à vocação cotidiana do cristão.
A ideia de falar em vida cristã surge à medida que o termo “santificação”, do ponto
de vista a ser enfatizado aqui, não seria de tão fácil assimilação conceitual, uma vez que
ele poderia ser confundido com a obra santificadora do Espírito Santo na vida do cristão
em separá-lo do pecado e fazê-lo propriedade e habitação de Deus. Ou, num sentido
mais restrito, santificação ainda poderia estar relacionada, e por isso ser confundida, com
a transformação espiritual interna do cristão ou o estado de santidade de vida posterior à
justificação.
De fato, santificação está conectada a boas obras efetuadas pelo cristão, mas
seria preciso constantemente efetuar esta diferenciação para não incorrer em equívocos
(PIEPER, 1958, p.3-5). Ela também é entendida e identificada por vezes como sendo a
“nova obediência”, conforme o Artigo VI, da CA, ou a vida cristã que deriva do evangelho
de Jesus Cristo (MIDDENDORF, 2015).
Pelo que foi exposto acima, parece haver fundamento suficiente para sustentar o
ponto de vista que a utilização da expressão “vida cristã”, ao invés de santificação, é
melhor. Porém, por serem, por um lado, sinônimos em formulações sistemáticas e, por
outro lado terem em sua essência conceitual diferenças fundamentais, dependendo da
perspectiva que for usada santificação, a expressão vida cristã terá primazia, não
exclusividade.
Metodologia
2
Que a partir de agora será identificada com a sigla CA.
documental, por analisar documentos teológicos da Igreja Luterana, como a Escritura
Sagrada, o texto fundante da sua Teologia, a Confissão de Augsburgo, Lutero e
documentos litúrgicos do Culto Cristão Luterano. Faz parte também da pesquisa uma
revisão bibliográfica particular no principal documento litúrgico da Igreja Evangélica
Luterana, O Hinário Luterano, com vistas a explorar quantitativa e qualitativamente
aspectos relacionados à vida cristã e possíveis decorrências na vida do povo de Deus.
Limitações
As limitações deste trabalho estão atreladas a no mínimo dois fatores. O primeiro,
é sobre a própria delimitação imposta na proposta da pesquisa, uma vez que o foco não
estará, e nem poderia estar, obviamente, na totalidade do material bibliográfico existente
sobre o tema e por fazer parte de uma complexa rede de possibilidades e variáveis que
precisam ser consideradas.
O segundo aspecto está relacionado ao papel e ação do pesquisador. Por vários
séculos se fez uma separação entre sujeito/objeto, no sentido de indicar a possibilidade
de apreensão plena e objetiva do conhecimento. É o exagero no uso da razão. Isto pode
ser conectado com o modelo cartesiano de pesquisar, que usava um método
pretensamente objetivo para se chegar à verdade3. Whitehead (2006) afirma que ver tudo
pela razão é ver com um olho só. Sua crítica é contra “o idealismo filosófico que encontra
a razão última da realidade na capacidade intelectiva, a qual é totalmente cognitiva”
(p.85). Assim, “o defeito científico do século XVIII foi não cuidar de nenhum dos
elementos que compõe as experiências psicológicas imediatas da humanidade” (p.97) e,
numa pesquisa, do próprio pesquisador e suas subjetivações.
Pelas duas dimensões limitadoras apontadas acima, o assunto não será e nem
pode ser apresentado e apreendido de forma conclusiva e exaustiva, mas ser objeto de
pesquisa e ensino constante, bem como de práticas experimentais, visando o progresso
nessa área da vida tão desafiadora quanto é a vida cristã ou a vida santificada.
3Descartes acreditava que seguir estes quatro passos poderia conduzir à verdade: 1) nunca aceitar alguma
coisa como verdadeira de forma precipitada, nem incluindo algo nos juízos que não estejam claros; 2)
dividir as dificuldades encontradas em tantas partes quanto necessárias; 3) subir degrau por degrau, dos
conhecimentos simples até os mais complexos; e 4) fazer anotações exaustivas na certeza de não ter
omitido nada (DESCARTES, 2001, p.23)
Ao investigar o uso de santificação na palavra de Deus, pode se observar que
existem alusões no uso de justificação e santificação em paralelo, como é o caso de 1
Coríntios 1.30: “Mas vocês são dele, em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós, da parte
de Deus, sabedoria, justiça, santificação e redenção” (grifo meu)4. Também em 1
Coríntios 6.11 o termo é utilizado no sentido de que os crentes em Cristo foram separados
pela obra de Jesus Cristo e do Espírito de Deus. “Alguns de vocês eram assim. Mas
vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados em o nome do Senhor Jesus
Cristo e no Espírito do nosso Deus”. Mesmo que a linguagem seja de santificação, existe
uma articulação e conexão com o Evangelho ou com a justificação operada por Deus.
Este também é o caso de Êxodo 31.13 e Levítico 20.8: “[...] para que saibais que eu sou
o SENHOR, que vos santifica”; “Guardai os meus estatutos e cumpri-os: Eu sou o
SENHOR que vos santifico” (MIDDENDORF, 2015).
Contudo, em outras ocasiões o termo santificação diz respeito, de forma mais
estrita, à vida santa dos cristãos, abordagem a ser feita no presente trabalho, como é o
caso das passagens de Levítico 19.25 (cf. Lv 20.7); 1 Tessalonicenses 4.76; 2 Pedro 3.117
(cf. Mateus 5.48). Estas passagens expressam a “nova obediência”, conforme o Artigo VI
da CA e a santidade de vida que deriva da justificação, como também afirmada por Pieper
(MIDDENDORF, 2015).
Ainda que haja esta separação conceitual na palavra de Deus, a opção por vida
cristã, ao invés de santificação, tem suas razões e a principal delas está no fato de que
ela é, em princípio, uma expressão menos polêmica, ao contrário de santificação, que
parece ter às vezes até uma conotação agressiva, especialmente quanto tratada sem os
devidos ajustes conceituais.
4 Neste trabalho será utilizada a Tradução Nova Almeida Atualizada –, da Sociedade Bíblica do Brasil,
2017.
5 “[...] Santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo”. É importante observar de que na
sequência imediata deste versículo é estipulada a primeira ação para esta santidade se tornar concreta,
“cada um respeitará a sua mãe e a seu pai” (Lv 19. 3a). A implicação para isto é que a santidade almejada
por Deus ocorre nas e através das vocações e, mais especificamente, na família.
6 “Pois Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação”.
7 “Uma vez que tudo será assim desfeito, vocês devem ser pessoas que vivem em santo procedimento e
piedade”.
Problema (objeto de estudo) da pesquisa e tese
A importância de se fazer a pergunta certa e identificar o objeto de pesquisa a ser
seguido, parece ser de suma importância para começar e terminar bem o trabalho
proposto para este momento. Pearce (2009) introduz um dos seus livros afirmando que
muitas vezes está se correndo de um lado para o outro tentando vender respostas sem
se ter uma pergunta adequada a ser respondida. Teóricos da área de metodologia
científica entendem que na formulação do problema está a afirmação de qual dificuldade
que se pretende abordar e resolver através de uma pesquisa. De certa forma é o assunto
da pesquisa, mas colocado em forma de uma pergunta (LAKATOS, 2010). Neste sentido,
o problema deve ser claro, preciso e ser suscetível de solução e delimitado a uma
dimensão viável. Não pode ser genérico demais, nem amplo em demasia. É preciso
delimitar de tal forma que se consiga abordar o tema dentro das possibilidades e recursos
reais (Gil, 2016).
Por isto, o primeiro desafio foi tentar imaginar e fazer a pergunta adequada para
este momento. Que pergunta poderia ser feita num trabalho que tem como tópico
principal a santificação e os endereçados são pastores e líderes da Igreja Evangélica
Luterana do Brasil?
Com base em algumas pesquisas e reflexões pessoais, a pergunta que se
pretende responder é a seguinte: O que precisa ser esclarecido, do ponto de vista
sistemático e bíblico, para que haja maior clareza na compreensão do tema da vida cristã
e posterior exame em possíveis decorrências na Teologia Aplicada (Ensino) da Igreja
Evangélica Luterana do Brasil?
A tese que se pretende defender neste trabalho é desdobrada em três
pensamentos: a) O primeiro, é que uma vez justificados e tendo a vida regida pelo
Espírito, através do Batismo e da Palavra, somos habitação do Espírito e dos dons da
humanidade de Jesus Cristo. Assim, somos movidos a viver a vida cristã, como objetos
da ação graciosa de Deus, não mais como criaturas destituídas de condições para tal,
mas recuperadas parcialmente à imagem original de Deus; b) O segundo pensamento
que se quer defender é que o campo de discussão proposto sobre este tema deve ter
como caminho a graça de Deus, o ensino bíblico e sua consequente ação em nos orientar
em nossos instintos, decisões, vontade e emoções, não para julgar ao próximo, nem para
se basear em possíveis progressos morais para obter méritos diante de Deus. Neste
sentido, a lei vem colada à graça e a graça à lei, no processo de ensino sobre a vida
cristã; c) E o terceiro pensamento é sobre qual o fim último da vida cristã. Neste caso, a
ideia é que Deus seja glorificado, pessoas sejam beneficiadas e que sejamos aptos, tanto
a ler e interpretar melhor a nossa vida quanto a reconhecer que o progresso na vida cristã
também significa simplesmente poder começar de novo pela ação graciosa e constante
do Espírito em nossa vida.
Abaixo, está uma tentativa de expor isto graficamente. No gráfico 1, está expressa
a ideia que não se pretende seguir na presente abordagem e que diz respeito a uma
visão de impossibilidade em se obter algum crescimento no conhecimento da graça de
Deus e consequente progresso na vida cristã.
Pecado
Perdão Lei
Evangelho Evangelho
Lei Perdão
Pecado
O gráfico 2, logo abaixo, expressa outra forma que não se pretende adotar como
fórmula e abordagem, por se caracterizar numa visão progressiva da vida cristã. Esta
posição contraria um dos princípios mais básicos da vida santificada, que é começar de
novo. Além disto, põe em risco o ensino sobre o pecado original, que não deixa nunca
em paz o cristão e por conta disto, gera constantes quedas em pecado.
Gráfico 2: Vida cristã na perspectiva do progresso moral
Fonte: https://exame.abril.com.br/revista-exame/tire-os-valores-da-parede-e-os-cultive-dia-a-dia/
Referencial Teórico
O referencial teórico que trata do tema da vida cristã e é a sustentação para a tese
que se pretende defender neste trabalho é, inicialmente, o Livro de Concórdia, e
especificamente a CA, que foi escolhida, por questões de delimitação, como a Confissão
de Fé da Igreja Evangélica Luterana a ser considerada na presente pesquisa. Deste
documento foram selecionados os Artigos VI, Da Nova Obediência; o Artigo XII, “Do
Arrependimento”; o Artigo XX, “Da fé e das Boas Obras” e o Artigo XXVI, “Da distinção
das comidas”. Todos estes artigos têm como foco manter a graça de Deus intocável no
que diz respeito ao perdão conquistado na cruz por Jesus Cristo.
Também fazem parte do referencial teórico textos bíblicos selecionados do Antigo
e Novo Testamento, como as Dez Palavras (Ex 20.1-17), o Sermão do Monte (Mt 5-7) e
as epístolas de Gálatas, Efésios, Colossenses e 1ª Pedro, que sustentam a ideia que a
partir da graça de Deus, seu povo está justificado e apto a receber seu ensino e
orientação. Também será usado a epístola de Tito, mais especificamente o texto de Tt
2.11-15, para subsidiar a discussão do tema da vida cristã na esfera da graça de Deus.
Além disso, serão usados pensamentos de teólogos como Pieper (1953), que enfatiza a
Lei como estando a serviço do Evangelho, que por sua vez é a única fonte da vida
santificada; Köberle (1999), cuja ênfase está no ensino equilibrado tanto da justificação
quanto da santificação, pois ambas são obras exclusivas de Deus; Forde (1988), que
também acentua a santificação como ação de Deus; Schumacher, Sanchez (2015), que
adicionam elementos ao tema na perspectiva cristológica e pneumatológica, afirmando
que assim como Cristo foi ungido em sua humanidade, o batismo, incorpora os cristãos
nesta unção de Cristo e nos seus dons; Kolb e Arand (2008), que asseguram que o
Espírito restaurou o cristão à humanidade plena através de Jesus Cristo e Lutero (2014),
que entende o Evangelho como restaurador da imagem de Deus no pecador, tornando o
apto a viver a vida cristã.
Pressupostos para o desenvolvimento do tema da vida cristã à luz da graça de
Deus
Antes de desenvolver o tema, é importante estabelecer alguns pressupostos que
serão levados em conta na discussão sobre o tema da vida cristã. Eles servirão como um
portal de entrada e que precisa ser constantemente lembrado, para que se evite qualquer
ideia utópica, triunfalista ou moralista.
O primeiro pressuposto considerado neste trabalho e que precisa constantemente
ser colocado em primeiro plano é que somos pecadores. “Não há justo, nem um sequer,
não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Todos se desviaram e juntamente
se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3. 10b-12).
O pecado original é o princípio geral. Mas, visando dar ares ainda maiores de
dramaticidade e irreparabilidade desta situação de pecadores, é preciso salientar que
não tem efetivamente nada em nós que não esteja corrompido ou danificado. Desde a
nossa mente, capaz de pensar as maiores asneiras, até o sistema endócrino, que faz
pessoas reagirem colericamente e serem seres sem noção, estamos tomados totalmente
pelo vírus que compromete todas as nossas ações, o nosso ser e a nossa existência,
tanto no plano espiritual, diante de Deus, quanto no plano horizontal, em nossos
relacionamentos interpessoais e conosco mesmos.
A verdade teológica do pecado original tem sido percebida como sendo uma das
realidades da fé cristã que é verificável através de outras ciências. Através de estudos
psicológicos, sociológicos e biológicos, é possível dialogar com outras ciências sobre a
corrupção total do gênero humano desde a sua concepção, mas também delinear com
mais precisão a teologia sobre o pecado original e implicações decorrentes na vida cristã.
A Biologia, por exemplo, reconhece, em alguns de seus segmentos, a impossibilidade de
explicação do ser humano de forma puramente mecânica. “Sabemos, por exemplo, que
o grau de adrenalina no nosso corpo nos torna mais ou menos capazes de resistir à
cólera. Alguns desequilíbrios das hormonas sexuais podem também conduzir a atos
descontrolados e até mesmo a crimes” (ATLAN, 2004, p.17). A Biologia, de certa forma,
destrona a ideia que o ser humano é dotado de livre arbítrio e que poderia conferir certa
responsabilidade ao ser humano em suas ações morais. “[...] ruíram todas as visões
anteriores, de Platão a Descartes, de uma alma que guia o corpo como um cocheiro a
sua charrete” (ATLAN, 2004, p.13). A Biologia também desconstrói, em certa medida, a
concepção que o ser humano é um ser previsível, estático e rígido, como um cristal, mas
é também como a fumaça, por causa de sua transitoriedade e imprevisibilidade (ATLAN,
1992).
Além da adrenalina e dos hormônios que podem afetar o comportamento humano
do cristão e fazer jorrar, por exemplo, de sua boca louvores e obscenidades, existem
ainda outros elementos que podem ser levados em conta ao se olhar a situação de
pecado do cristão. Dentro da ideia que não há como imaginar que o ser humano, como
ser vivo, siga de forma cartesiana a vida, é importante lembrar, por exemplo, o que
Aristóteles diz a seu filho Nicômaco a respeito de virtudes a serem cultivadas. Ele lhe
ensina a não perder de vista o fato que, ainda que seja ele, na visão de Aristóteles,
sempre o agente da ação, pois não poderia ignorar a si mesmo, existem tanto causas
exteriores quanto causas interiores ao se fazer o que se faz. Dentre as causas exteriores
estão o acaso e a coação para praticar determinadas ações. Dentre as causas interiores
estão as ações refletidas e as irrefletidas. Praticar determinadas ações por hábito e por
decisão da vontade são as causas refletidas. Dentre as irrefletidas estão a ira e os
desejos próprios da natureza humana (ARISTÓTELES, 2015).
O que se visa acentuar com o que foi exposto nesta primeira pressuposição é a
pecaminosidade e complexidade humana. É o que a Fórmula de Concórdia (1993, p.
502.8) quer dizer quando afirma “[...] que o pecado original não é corrupção leve da
natureza humana, senão em tal grau profunda, que nada de são ou incorrupto ficou no
corpo e na alma do homem, em seus poderes interiores ou exteriores”.
A segunda pressuposição, que junto com a primeira, é a mais básica e a mais
essencial pressuposição deste e de todos os outros tópicos relacionados à Teologia e
que precisam ser debatidos na Igreja Cristã. A justificação pela fé. O princípio geral da
justificação pela fé é de que “sobre este artigo a igreja fica ou cai”. Expandindo algo deste
princípio geral, é preciso salientar outros desdobramentos envolvidos nisto, mas, o
principal, é que não haveria diretoria nacional que sobrevivesse, nem pastor, nem
diretoria de congregação, nem professor, nem qualquer membro da Igreja de Cristo, que
continuasse a viver diante de Deus e diante das pessoas, não fosse justificado pela fé e
fosse reconciliado com Deus Pai através de Jesus Cristo. Não existisse a justificação
pela fé, não haveria, nunca e ninguém, digno para falar sobre este e outros temas
teológicos na Igreja. Por isto, a justificação pela fé é a âncora central deste trabalho,
porque é o fundamento da existência da Igreja Cristã e porque nos torna absolutamente
iguais diante de Deus.
Teólogos têm percebido o ensino da justificação pela fé como princípio
fundamental da Teologia (SCHULZ, 2009).
Uma igreja evangélica que percebe o ensino da justiça da fé como evidente por
si mesmo, mas sobre o qual ninguém deveria se preocupar porque tem outras
coisas mais importantes, acaba roubando, em princípio, a solução central pela
qual todas as outras questões são iluminadas [...] se nós tiramos o artigo da
justificação do centro da igreja, logo nós não saberemos por que nós somos
cristãos evangélicos e assim permanecemos (IWAND, citado por SCHULZ, 2009,
p.72)
Quando se perde de vista a justificação pela fé como centro da Teologia e da
Igreja, corre-se o risco de ser “tolerantes onde deveríamos ser radicais e radicais onde
deveríamos ser tolerantes” (IWAND, citado por SCHULZ, 2009, p.72). Abandonar a
justificação pela fé como centro da Igreja e da própria Teologia decorre em prejuízos que
nos deveriam alarmar e pensar este artigo como sendo o princípio integrador de toda a
teologia e da vida da igreja, inclusive na dimensão horizontal, ou seja e por exemplo, o
respeito e o amor pelos irmãos e pelas autoridades eclesiais. Por isto, a presente
pressuposição funciona como âncora e na qual temos que nos agarrar bem firme, a fim
de que sejamos lembrados que somos justificados diante de Deus pela fé, unicamente
isto.
O terceiro pressuposto é que, apesar desta situação comprometida do ser humano
e sua completa dependência de Deus, somos criação recuperada de Deus através da
ação do seu Evangelho. Fomos lavados no Batismo e lá recebemos os méritos e os dons
de Jesus Cristo, nosso Salvador. Não somos deuses (Rm 7.16-20), mas como pessoas
recuperadas à imagem de Deus e nas quais Cristo habita, estamos debaixo da graça de
Deus (Rm 6.1-14). Em outras palavras, o pecado não é a única coisa que define o ser
humano, embora ele seja pecador (SCHUMACHER, 2010). O Evangelho restaura a
imagem perdida por causa do pecado e com ele renascemos para uma vida com Cristo
e na qual há uma vida que honra o nome de Deus e sua Palavra (LUTERO, 2014).
Assim como as outras três, a quarta pressuposição também é essencial na
compreensão da vida cristã. A vida no Espírito significa liberdade da condenação da lei
e do pecado, é a glória da ressurreição através do batismo (Rm 6 e 7), mas também
reserva a cruz ao filho batizado. “E, se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros
de Deus e coerdeiros com Cristo, se com ele sofremos, para que também com ele
sejamos glorificados” (Rm 8.17).
Os cristãos, às vezes, podem até associar a presença do Espírito Santo na igreja,
com tempos de sucesso, com orações atendidas e quando presenciam atos de
santidade. Talvez sejamos menos predispostos a identificar a presença do Espírito em
tempos de "luta espiritual." Quando aparentemente orações não são atendidas, quando
lutamos com a vontade de Deus e somos tentados ao pecado ou a duvidar do amor de
Deus em tempos de crise (SÁNCHEZ, 2006).
No entanto, essa é a vida no Espírito que Jesus viveu sob a cruz. Logo no início
de seu ministério, o Filho é conduzido pelo Espírito ao deserto, para lutar contra o diabo
(Mt 4.1). Os seus discípulos deram as costas a Jesus quando ele falou que suas palavras
são "espírito e vida” (Jo 6.60-64). No Getsêmani, com a aproximação de sua a morte,
Jesus ora fervorosamente ao Pai, em Espírito, enquanto lutava com a vontade de Deus
(Mc 14.32-36) (SÁNCHEZ, 2006).
Essa vida moldada pela cruz flui de unção do Pai ao Filho com o Espírito, como
Servo Sofredor. Isto significou que a presença do Espírito em Cristo não o tornou imune
à paixão e morte. O que realmente a vida de Cristo no Espírito traz a Ele é uma vida de
conflito, de tentação, rejeição, perseguição e, finalmente, a morte. O que isso tem a ver
com a vida cristã? A Recepção do dom do Espírito de Cristo por meio do batismo e da
Palavra traz a Igreja para dentro da vida de Cristo. Paulo pode falar da participação da
igreja na morte de Cristo através do batismo como o morrer para o pecado e o ressuscitar
para uma nova vida (Romanos 6), mas também como uma partilha na vida de Cristo, com
seus sofrimentos e ressurreição corporal (SÁNCHEZ, 2006).
Como Jesus, também nós lutamos com a vontade de Deus, sofremos ataques do
diabo e enfrentamos a morte. O que é verdade para Cristo é verdadeiro para o corpo de
Cristo. Aqueles que sofrem também serão glorificados com Ele. A vida no Espírito é
cruciforme e escatológica. A igreja pode esperar várias lutas mesmo sendo guiada pelo
Espírito. Tais lutas são um sinal da obra do Espírito Santo na igreja que a faz não se
acomodar ao mundo. Como Pedro diz: "Se são insultados por causa do nome de Cristo,
vocês são bem-aventurados, porque o Espírito da glória, que é o Espírito de Deus,
repousa sobre vocês” (1 Pedro 4.14).
Além disso, não custa lembrar que diversas vezes Deus deixa solto no ar o “por
quê” de algumas coisas e ficamos sem saber, nem sequer uma, razão plausível para a
vida cristã ser vivida também em meio ao sofrimento. O fato é que, assim como ocorrem
com Jó, não é prudente dizer que o sofrimento tem um caráter disciplinar (JÚNIOR, 2007).
Ao mesmo tempo, há também aqueles que, como o próprio Pedro, vão ouvir as
palavras inspiradas pelo Espírito e responder no Espírito "Senhor, para quem iremos? Tu
tens as palavras de vida eterna" (João 6.68). A presença do Espírito de Cristo nos
batizados não os tornará imunes à rejeição ou quaisquer outras dificuldades. No entanto,
essa luta que espera ao cristão batizado também nos lembra que a vida está, em última
análise, não em nossas mãos, mas nas mãos de Deus.
Estas quatro pressuposições expostas acima visam servir de base para o que vem
a seguir. O ser humano é pecador e é justificado unicamente pela fé em Jesus Cristo.
Recuperado pela graça de Deus, ele se torna apto a ser ensinado e a seguir nos
caminhos de Deus e, por último, nessa caminhada de sua vida cristã existe a cruz, o
sofrimento e as dúvidas quanto à presença de Deus em sua vida. Tomando isto como
fundamento, a ideia agora é realizar um mapeamento sobre a abordagem feita no Hinário
Luterano em sua conexão com a vida cristã e olhar por possíveis desdobramentos
teológicos e práticos.
Uma análise dos dados dos quadros 1 e 2, revela que nos dois principais
documentos litúrgicos da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, é ressaltada e esperada
a vida cristã por parte de seus membros. Na Confissão e Absolvição, na liturgia da Santa
Ceia, em orações, nos hinos e em ritos de instalações de diretorias em todos os níveis
eclesiais, é considerada a possibilidade e se espera que cada membro viva
exemplarmente, pela graça de Deus, sua vida de cristão na família, sociedade e igreja.
Este é um retrato confessional luterano, conforme será exposto na próxima seção.
A vida cristã na Confissão de Augsburgo: Lei colada à graça, graça colada à Lei
O artigo VI, “Da Nova Obediência”, afirma de forma inequívoca que “[...] a fé deve
produzir bons frutos e boas obras, e que, por amor de Deus, se deve praticar toda sorte
de boas obras por ele ordenadas [...]” (CA, 1993, p.31.1). Não obstante o tópico deste
artigo é a nova obediência, preconiza-se a fé em Cristo como único meio receptor do
perdão dos pecados, a fim de que não haja confiança naquilo que é realizado pelo cristão
(CA, 1993).
No Artigo XII, “Do Arrependimento”, é ensinado que o arrependimento consiste em
contrição e pesar por causa do pecado. Segue-se daí a absolvição por causa da graça
obtida por meio de Cristo e que resultará em consolo e serenidade de coração. Além
disso, “Deve seguir-se a melhora da vida e o abandono do pecado; pois esses devem ser
os frutos do arrependimento” (CA, p.33.6 – Cf. Mt 3.8).
Esta mesma disposição pode ser percebida no Artigo XX, “Da fé e das Boas
Obras”. Nele, é exaltada a fé como artigo principal do cristianismo, enfatizando as boas
obras não como meio para alcançar a graça (CA, 1993, p.38.27-28), mas tópico a ser
ensinado. “Por isso não se deve fazer a essa doutrina concernente à fé a censura de que
proíbe boas obras; antes deve ser louvada por ensinar que se façam boas obras e
oferecer auxílio quanto a como se possa chegar a praticá-las” (CA, 1993, p.39.35- ênfase
minha). Este artigo também deixa claro quem é responsável, em última análise, do porquê
de um cristão poder viver de acordo com sua fé: “E visto que pela fé é dado o Espírito
Santo, o coração também se torna apto para praticar boas obras” (CA, 1993, p.38.29).
Interessante observar que ao final deste artigo são elencadas algumas destas obras:
“Pois que sem a fé e sem Cristo a natureza e capacidades humanas são por demais
frágeis para praticar boas obras, invocar a Deus, ter paciência no sofrimento, amar o
próximo, exercer com diligência ofícios ordenados, ser obediente, evitar maus desejos”
(CA, 1993, p.39.36-37).
O tema sobre a vida cristã nas Confissões também é abordado no Artigo XXVI,
“Da distinção das comidas”. Aqui ele emerge de um contexto em que tradições humanas
eram postas acima da palavra de Deus com o intuito do merecimento da graça de Deus.
A propósito, a fórmula aparece apenas no texto da língua alemã. Em latim, o termo é
“cristianismo” ou “vida espiritual e vida perfeita”. Porém, em ambos os textos o foco está
em contrapor tradições de origem humana e ordenanças divinas a serem exercidas pelos
cristãos. De acordo com este artigo, há três grandes prejuízos envolvidos em se ater a
essas tradições humanas.
Elas obscurecem a graça de Deus, pois desconsideram os méritos de Jesus Cristo
e a fé nele é que está acima de todas as obras. Elas também obscurecem os
mandamentos de Deus, uma vez que a vida cristã era avaliada segundo o que se comia
e como se vestia. Neste ponto, as confissões “mandam” os cristãos para casa, para o lar
e para o seu trabalho para exercitar ali a vida cristã (CA, 1993, p. 49.8-11). O terceiro
prejuízo diz respeito às consciências das pessoas, que era tão sobrecarregada com
tradições humanas, a ponto de alguns cometerem suicídio, pois eram cargas pesadas
demais postas sobre seus ombros (CA, 1993).
Este artigo está nas Confissões para afirmar que este assunto demanda ensino
para melhor compreensão (CA, 1993, p.50.18-20; p. 82.18-20) e reafirmar, de uma vez
por todas, que graça é graça e não há nada no mundo que possa ser feito para se
merecer alguma coisa diante de Deus.
Porém, é preciso reafirmar que isto demanda orientação e ensino a fim de que o
cristão se exercite em algumas obras, além daquelas que tratam das vocações diárias
conforme exposto acima. Por um lado, o cuidado com a alimentação física: “[...] todo
cristão deve exercitar e dominar-se mediante disciplina ou exercícios corporais e labores
de modo tal, que a saciedade ou a indolência não o estimulem ao pecado, não a fim de
merecer remissão de pecados ou satisfazer por pecados mediante aqueles exercícios”
(CA, 1993, p.83. 33-34; cf. p. 83.38-39). O ponto é que nada pode obscurecer a graça de
Deus através da oneração das consciências mediante a prática de certas obras. Por outro
lado, isto também diz respeito ao culto e a cânticos. É preciso ensinar de tal forma os
cristãos que eles não se vejam como fazendo algo que os justifique diante de Deus (CA,
p. 84.40-42).
A ênfase dada pela CA aponta para um contínuo e insistente processo de ensinar
sobre a graça salvadora revelada em Jesus Cristo; cuidar em não onerar consciências
com obras e tradições humanas que possam obscurecer a graça de Deus e dar direção
e instrução aos cristãos sobre os frutos da fé.
Uma das referências importantes sobre o tema da vida cristã no sistema teológico
luterano é Pieper (1953). A sua abordagem é bastante ampla e vai desde a definição de
santificação até a vida cristã em conexão com a esperança da vida eterna. Ao que tudo
indica, Pieper usa como sinônimos santificação, boas obras e vida cristã. A sua
construção teológica sobre o tema é sistematizada de forma cartesiana e dentre os
tópicos apresentados elegemos alguns para serem objetos de atenção.
O primeiro é de que o cristão também é responsável por sua vida santificada. Se
na conversão a obra é exclusiva de Deus, na santificação ele tem um papel ativo e
coopera como agente ativo nesta obra. O segundo tópico é de que os movimentos
internos para a vida santificada estão baseados na fé, que cria um “novo homem”, ainda
que este esteja em constante conflito com o “velho homem”. Por isto, não deve haver
surpresas quando inclinações pecaminosas e tentações levam ao cometimento até de
pecados grosseiros por parte dos cristãos. A vitória nesta batalha é assegurada pela
permanência na graça de Deus através da Palavra, meio pelo qual é dado o Espírito e
seu divino poder (PIEPER, 1953).
O terceiro elemento diz respeito à Palavra que mortifica o velho homem e supre
com força o novo homem para viver a vida cristã. “É apenas o Evangelho que destrona o
pecado; a Lei somente pode multiplicar o pecado (Rm 6.14, 7.5-6; Jr 31.31). Porém, a Lei
tem seu lugar na obra de santificação ao prestar serviço ao Evangelho” (PIEPER, 1953,
p. 18). Com isto, Pieper (1953) segue sua linha de raciocínio afirmando que a capacidade
de praticar boa obras e se abster das más vem unicamente do Evangelho. O papel da
Lei na santificação é preparar o caminho do Evangelho e ser seu carreador.
Neste sentido, Pieper (1953) entende que a principal função da Lei é acusar e
desvendar a pecaminosidade e o estado de condenação do ser humano. Porém, por
causa da inclinação natural do ser humano em seguir suas próprias ideias e vagamente
conhecer a santa vontade de Deus “[...] ele está em constante necessidade da Lei
revelada como ‘norma’ para lhe mostrar em todos os tempos a verdadeira natureza da
vida que agrada a Deus e as verdadeiras boas obras” (PIEPER, 1953, p. 19). Aqui vale
a observação de Schumacher (2010) que critica esta posição de Pieper, pois ele não
considera a conexão que existe entre a criação e a lei, especialmente quando afirma que
a diferença entre a Lei e o Evangelho, é que a lei apenas acusa e condena, enquanto o
Evangelho absolve e justifica.
Um quarto objeto de debate importante extraído de Pieper (1953) é sobre a
recompensa às boas obras. “Ora, o que planta e o que rega são um, e cada um receberá
a sua recompensa de acordo com o seu próprio trabalho” (1 Co 3.8). Com base nesta
passagem bíblica, Pieper (1953) entende que boas obras dos cristãos serão muito bem
recompensadas (cf. ainda Mt 5.12; Lc 6.23, 35). Nem as falsas concepções sobre o
sentido de recompensa, deveriam ser impedimento de fazer uso deste termo. “Não
deveríamos hesitar em ensinar, tanto pública quanto privadamente, que Deus
recompensa as boas obras dos cristãos já aqui nesta vida e, particularmente, na
eternidade” (PIEPER, 1953, p. 52 – ênfase minha - cf. 1 Tm 4.8; Lc 14.14).
Na proposta de Pieper (1953) existe uma certeza e ao mesmo um aspecto mais
complexo de ser assimilado. A dificuldade está em harmonizar sua posição de que a Lei
não teria nenhum papel na obra da santificação, senão somente o Evangelho, mas que
ela pode indicar o caminho do que agrada a Deus e o que são obras verdadeiras. É bem
provável que o correto é compreender esta formulação na perspectiva que ele esteja se
referindo à capacidade de realizar coisas boas, e que vem unicamente do Evangelho e
da fé e não da Lei. A certeza diz respeito ao aspecto didático concernente à vida cristã.
É preciso ensinar em todo o tempo, incluindo, inclusive, as recompensas às boas obras
praticadas pelos cristãos.
Uma obra clássica que trata da vida cristã é o livro de Köberle (1999). Ele percebe
a santificação como obra de Deus na vida do cristão. Seu debate sobre este tópico
começa na exposição de que a ética cristã precisa ser vista no sentido do conteúdo e da
força para a ação. Ou seja, existe um problema material e que se refere ao que deve ser
feito e um problema formal, que diz respeito sobre como serão levadas a efeito as
obrigações a serem realizadas. Esta parece ser uma discussão importante e certeira: o
que fazer e como vou realizar isto?
Como cristãos é impossível seguir uma ética livre. Uma das características do
sistema ético autônomo, é a crença na possibilidade de uma compreensão racional da
moralidade, característica do utilitarismo evolucionista. Assim, se faz aquilo que é
compreendido e que é útil (KÖBERLE, 1999).
Köberle (1999) se reporta à antiga família, à moralidade cívica da China, bem como
a doutrina socrática e estoica das virtudes, porém, existe uma versão contemporânea em
vigor deste pensamento e cujo alerta vem de um filósofo francês. Lipovetsky (2017)
entende que os ideais éticos existem, mas estão perdendo sua força e não agem mais
na vida das pessoas. Primeiro, porque a religião perdeu sua influência nesta esfera e
segundo porque se vive numa ética que não dói e que é seguida de acordo com o
interesse individual das pessoas. É a crítica de Köberle (1999) à ética autônoma. É o que
Lipovetsky (2016) intitula de tempos “da leveza”. “Os pais ensinam cada vez menos
valores éticos aos filhos. Cobram, no entanto, dos outros que esses valores sejam
ensinados e obedecidos. Os pais só se preocupam com a felicidade dos filhos. Nesse
sentido, tornam mais leves as imposições e obrigações” (LIPOVETSKY, 2017).
Em sua investigação bíblica, histórica e sistemática, Köberle (1999) menciona que
em Israel o entendimento era de que sem a revelação contada através da Torá, é
simplesmente impossível entender a vontade de Deus ao se pressupor a condição
pecaminosa do ser humano. “Quem não ficar sabendo da vontade de Deus e não
observar seus preceitos cairá no erro” (KÖBERLE, 1999, p. 84). A ênfase está na
obrigação. Com Cristo ocorre uma transição do antigo para o novo. Porém, ao contrário
do que pensou Marcião, o Filho não revelou um “Pai light” em lugar do Deus vingativo do
Antigo Testamento. A realidade do mundo caído continua ativa e ela tem poderes para
obscurecer a moralidade e escravizar o mundo. Com Cristo a maldição da Lei foi anulada
e a paz com Deus estabelecida. “Graças a um único sacrifício, há dois benefícios:
libertação da culpa e força e entendimento para a ação moral” (KÖBERLE, 1999, p. 86).
A fé salvadora em Cristo recebe tanto a justificação quanto a santificação. Ambas
são inseparáveis, ainda que à “Justificação [...] deve ser dado sempre o primeiro lugar”
(KÖBERLE, 1999, p.96).
Köberle (1999) privilegia a apreciação por uma unidade orgânica entre a religião e
a moralidade no Cristianismo. Aqueles que vivem em arrependimento e permanecem à
sombra do portal da justificação, podem ser e são recipientes do dom do Espírito Santo.
Onde Cristo é pregado e crido sem reservas, a nova criação é estabelecida. “É como a
igreja da Palavra que o Cristianismo possui a promessa que a tornará a Igreja das ações”
(KÖBERLE, 1999, p. 92 – ênfase do autor). Com isto, é reafirmado que, assim como a
justificação, a santificação é uma ação exclusiva de Deus.
8Por outro lado, contudo, diz-se acertadamente que na conversão Deus, por intermédio da atração do
Espírito Santo, transforma homens recalcitrantes e não-volentes em volentes, e que depois dessa
conversão, em diário exercício do arrependimento, a vontade renascida do homem não é ociosa, mas
coopera em todas as obras do Espírito Santo, que ele realiza através de nós (FÓRMULA DE CONCÓRDIA,
Epítome – Do Livre Arbítrio, 1993, p. 508.17)
o portador e doador do Espírito, então também devemos olhar para Cristo para saber
qual é a vida no Espírito que se parece com as nossas próprias vidas” (SÁNCHEZ, 2015,
p.228).
Esta pneumatologia sacramental direciona a atenção para a presença e atividade
santificadora do Espírito na vida de pessoas e assim estabelece uma relação direta com
ação do Espírito no cristão segundo a própria vida de Jesus Cristo no Espírito. Cristo
recebeu e foi portador do Espírito e isto proporcionou à sua vida uma trajetória cruciforme,
colocando-o no caminho da cruz. Assim, “a própria vida cruciforme de Cristo no Espírito
molda a vida Cristã no Espírito” (SÁNCHEZ, 2015, p.220).
Com base nesta pneumatologia encarnacional, é possível conceber o curso da
vida cristã a partir de três modelos. O primeiro é o retorno ao batismo, onde morremos
com Cristo e renascemos com ele para uma nova vida. É o “modelo Batismal”. O segundo
modelo é o “Dramático”, é a vida cristã no deserto e sujeita a ataques do diabo, tentações
e a luta com as armas da oração e da Palavra. O terceiro modelo da vida cristã é “modelo
Eucarístico”, que é o ato do cristão em cultuar ou dar graças a Deus por todos os seus
dons (SÁNCHEZ, 2015). Estes três modelos serão sintetizados e apresentados no
quadro 3, abaixo.
Quadro 3 – Os modelos da vida cristã na concepção de Sánchez (2015)
Modelo Evento relacionado com Cristo Decorrências na vida do cristão
e ao cristão
Batismal Nas águas do Jordão o Espírito O cristão morre diariamente para o
retorna à humanidade corrupta. pecado para uma nova vida pelo perdão
dos pecados;
O cristão é batizado na morte e Arrependimento, contrição e fé;
ressurreição de Cristo e tem sua O Evangelho provê força para combater o
humanidade restaurada com o pecado, fazer a vontade de Deus de
perdão dos pecados acordo com sua palavra e benefício do
próximo9;
9O modelo batismal evita uma visão fatalista da vida cristã, como se a realidade da natureza pecaminosa
do cristão o paralisasse e o impedisse de lutar contra o poder do pecado em sua vida. Essa visão da vida
no Espírito também evita uma visão perfeccionista ou utópica da santificação, como se o crente pudesse
pensar que o progresso na santificação é certo e, portanto, vive sob a ilusão de que ele não tem nada ou
Dramático Nas tentações do deserto e do Os cristãos também são conduzidos ao
jardim, Jesus disse “sim” à deserto para sofrer ataques e ceder ao
vontade de Deus. pecado e duvidar do amor e do cuidado
pouco para se arrepender. O modelo batismal nos encoraja a voltar cada dia às águas, onde vemos um
reflexo de nossa culpa e vergonha, mas também, onde somos purificados de nossos pecados e nossos
trapos imundos são substituídos pela santidade de Cristo (SÁNCHEZ, 2015, p.231-232).
10 O modelo dramático nos encoraja à vigilância diante dos pecados recorrentes e habituais, através de
formas de disciplina externa ou corporal e até a responsabilidade (por exemplo no jejum, descanso, menos
tempo na Internet e Whats, grupos de apoio), mas, especialmente, através da oração diária e meditação
na Palavra. O atleta corre a corrida e o guerreiro fica firme. Ambos aprendem a estar alertas, disciplinados
e bem preparados, conscientes de perigos e desafios ao longo do caminho, enquanto esperam o fim de
todas as lutas e a alegria do triunfo na vida do mundo vindouro (SÁNCHEZ, 2015, p. 233-234).
11 O modelo eucarístico da santificação é centrado na fé e nos seus frutos, incluindo o exercício dos dons
[...] quando falamos sobre a imagem de Deus, falamos sobre uma coisa
desconhecida que nós não apenas não experimentamos, mas
experimentamos continuamente o contrário e não ouvimos nada senão
meras palavras. Adão tinha uma razão iluminada, um conhecimento
verdadeiro de Deus e uma vontade autêntica de amar a Deus e o próximo
(LUTERO, 2014, p.104).
A queda complicou tudo. A carne agora é impetuosa para cobiçar, razão e vontade
não são mais íntegras e o furor é maior do que dos próprios animais. Para Lutero (2014),
não só a carne contraiu vícios e limitações, mas toda a criação e tudo o que se utiliza
nesta vida foi desfigurada pela lepra do pecado. Schumacher (2010) usa a expressão
“desumanização” para os estragos feitos pela queda em pecado.
Sánchez (2013) fala sobre isto na perspectiva de que o ser humano perdeu sua
identidade de seres vocacionais e que oram. A partir da queda, vemos estas realidades,
tão naturais na criação original, como estranhas e acidentais para nossa atual natureza.
Perdemos a santidade com a qual Deus nos investiu orginalmente. É o que Kolb (2010,
p.75) chama de um “caso terminal de egocentrismo inato”. “Deus nos criou com os nossos
olhos voltados para ele e as nossas mãos estendidas para a criação” (KOLB, 2010, p.75).
Porém, a destruição da vida no relacionamento original com Deus fez com que se
passasse a adotar uma perspectiva narcisista, pois nós nos curvamos para nós mesmos,
para nossa autossuficiência e nossos próprios interesses. E tudo isto porque perdemos
a nossa identidade original, que só Deus pode nos devolver. Ele realiza isto em Jesus
Cristo, fazendo com que orar e trabalhar sejam experiências que nos deixam felizes e
realizados como seres humanos (SÁNCHEZ, 2013).
Por isto, é o Evangelho de Jesus Cristo que torna possível a restauração desta
imagem original em nós. Embora todo o nosso ser esteja contaminado pelo pecado, a
imagem de Deus é restaurada e recriada em Jesus Cristo (SCHUMACHER, 2010).
Assim, com a fé em Cristo, “[...] não renascemos somente para a vida, mas
também para a justiça, pois a fé apropria-se do mérito de Cristo [...] de lá, origina-se
nossa outra justiça, ou seja, aquela novidade de vida, mediante a qual nos esforçamos
por obedecer a Deus, instruídos e ajudados pelo Espírito Santo” (LUTERO, 2014, p.105).
Neste sentido, “[...] a justiça pela qual Deus restaura os seres humanos não é uma justiça
que pertence intrinsicamente à natureza divina, mas uma justiça que Cristo adquiriu por
nós como segundo Adão” (ARAND, KOLB, 2008, p.39).
Seguindo nesta linha de pensamento, ao descrever a imagem original de Adão,
recuperada em Cristo e repartida com os crentes, é possível afirmar que, ainda que de
forma totalmente embaçada e imperfeita, o cristão tem de volta a imagem de Deus
através da justificação pela fé. Essa justiça de Cristo não é apenas uma promessa e que
concede perdão dos pecados e a esperança da vida eterna, mas “ela também liberta as
criaturas humanas a viver já agora na criação como criaturas de Deus” (SCHUMACHER,
2010, posições do Kindle 4442-4444). Assim, para ser genuinamente e completamente
humano é preciso considerar duas fórmulas: simultaneamente santos e pecadores, mas
também, simultaneamente criaturas e pecadores (SCHUMACHER, 2010).
Nesta linha pensamento, e diante do que foi exposto, a reflexão de Schumacher
(2010) é de que está se tornando um desafio às formulações dogmáticas tradicionais
sobre o que significa ser uma criatura humana tanto diante de Deus quanto perante as
criaturas. Tem também razão o questionamento feito por ele, diante do fato de que o
cristão tem sua vida restaurada pela ação e presença de Cristo: “É o pecado a única
coisa digna de se falar sobre o que significa ser humano?” (SCHUMACHER, 2010,
Edição, Kindle, posição 196-197).
Além disso, é igualmente importante observar que as palavras da proclamação do
perdão dos pecados não apenas definem uma nova identidade, como já foi exposto
acima, mas criam uma realidade nova de criaturas humanas. Elas têm de volta a imagem
de Deus. Elas foram resgatadas para uma vida de confiança no Pai, como era
originalmente no Jardim. Neste sentido, o perdão dos pecados adquire uma centralidade
vital no entendimento do que significa ser humano. Não há e nem é preciso haver, outra
definição da realidade da criatura humana fora da palavra de perdão pronunciada por
Deus para suas criaturas caídas em pecado (SCHUMACHER, 2010).
É o que Kretzmann (1964) parece afirmar quando diz que “a palavra do perdão
constitui a nova criação” (p.142). O toque de Deus através do Evangelho eleva o pecador
ao estado de justiça e a vida antiga é substituída, pelo perdão, por uma segunda vida.
Esta, por sua vez, é vivida em comunhão com o Cristo vivo e governada pela vontade de
Deus. “A vida antiga, em suas ambições e soberba, morreu, e nova vida foi criada pelo
perdão divino” (KRETZMANN, 1964, p. 142). Agora, este novo ser em Cristo é capaz de
receber “exortações evangélicas” e o ensino da lei pressupõe esta nova relação do cristão
com Deus, através de Cristo.
Conforme foi exposto acima, os principais documentos litúrgicos e confessionais,
bem como alguns referenciais teológicos, tanto de abordagem mais tradicional quanto
contemporânea, enfatizam a vida cristã como parte natural de um cristão batizado.
Podem até existir variações naquilo que Köberle fala a respeito do conteúdo e da força
para execução, mas a convergência está no fato que é um pressuposto teológico admitir
que uma comunidade cristã vai procurar viver uma vida do ponto de vista ético e moral
em todos os segmentos de sua existência. A base para isto é pneumatológica e
cristológica. Cristo foi ungido pelo Espírito em sua humanidade e assim somos ungidos
por Cristo e nos seus dons, que por sua vez restauram em nós a imagem original deixada
para trás por Adão e Eva no Jardim do Éden, a partir do perdão gracioso de Deus. Vale
ressaltar que se consideram aqui, as duas fórmulas já expostas acima: somos
simultaneamente santos e pecadores, mas também, simultaneamente criaturas e
pecadores.
O que falta ainda debater na Teologia aplicada da Igreja Evangélica Luterana do
Brasil, para que haja maior clareza, ainda, na compreensão do tema da vida cristã e
consequente prática correspondente ao que está documentado em nosso sistema
teológico e litúrgico? Uma proposta inicial deste trabalho é que esta abordagem seja feita
na esfera da graça de Deus, através do ensino da sua Palavra, o que inclui aqueles textos
bíblicos que, a priori, são identificados como lei.
Como pôde ser observado pela exposição feita até aqui, os principais documentos
fundantes do sistema teológico cristão confirmam o fato que a santificação, as boas obras
ou a vida cristã, estão incluídas e são percebidas como sequência natural da justificação
pela fé. Não é possível afirmar que existem problemas na área da santificação na Igreja
Evangélica Luterana do Brasil, pois não há dados nem pesquisas que podem, e nem
poderiam confirmar esta suposição. Talvez em função de experiências vividas e
observadas pela presidência e DN da IELB, por pastores em suas congregações, bem
como pelos membros das congregações, possam haver indicativos que revelem a
existência de problemas com a vida cristã em nível ministerial e dos cristãos luteranos
em geral. Talvez. Por isto, ao falar sobre este tema, o passo seguinte foi tentar identificar
a arena de discussão deste tópico, para, também, tentar vislumbrar uma esfera em que
se possa continuar a discussão de forma teologicamente segura e saudável.
Como foi exposto acima, o referencial teórico/teológico/confessional analisado no
presente trabalho, atesta que a vida cristã pode ser vivida mediante a presença do
Espírito em nossa vida a partir do Batismo, do Evangelho e da presença de Cristo na vida
do cristão. Também foi percebido que a vida espiritual não é antônima ao corporal e ao
concreto, nem pode ser vivida no isolamento, mas é vida a ser vivida no corpo de Cristo
em sacrifício vivo de uns para com os outros. Os documentos litúrgicos revelam, desde
as liturgias de culto, passando pelos diferentes ritos de instalação, até aos hinos, que a
vida cristã é um tópico concretamente presente em seus conteúdos. É importante notar
que não se pressupõe que um cristão viverá a sua vida cristã automaticamente, mas
frequentes lembranças e súplicas são feitas diante de Deus para que isto de fato
aconteça.
Em qual esfera um assunto como este deve ser debatido? Lei e Evangelho? A
Teologia Luterana tem se notabilizado pelo seu esforço em fazer uma separação
adequada da Lei e do Evangelho, em todas as instâncias da vida da igreja. Já se tem a
resposta na ponta da língua: Lei e Evangelho. Neste caso, a Lei funcionaria como
instrutora aos cristãos e aí a controvérsia pode pender tanto para questões relacionadas
ao dilema teológico do Terceiro uso da Lei, quanto à possível conotação legalista na
aplicação pura e simples da Lei. Lei e Evangelho seria a primeira alternativa para
discussão deste tema. Porém, e se aceitarmos o fato de que um cristão precisa ser
ensinado a viver a vida cristã, é preciso descartar esta opção como esfera de discussão
do tópico da vida cristã, uma vez que a Lei pode passar a ser vista apenas em seu uso
teológico e assim o cristão ser definido tão somente como pecador. Ainda que é preciso
reconhecer que este princípio irá “beirar” sempre a discussão sobre o ensino cristão, a
ideia não é focar nesta distinção de Lei e Evangelho. Além disso, “a lei se endereça ao
velho homem. Exortações evangélicas dirigem-se ao novo homem, que é o homem em
comunhão com Cristo” (KRETZMANN, 1964, p.135).
Middendorf (2015), ao compartilhar de sua experiência de ensino, afirma que ele
declinou de fazer isto na esfera e na polarização Lei-Evangelho, para adotar a fórmula
Lei-Evangelho-Resposta. Isto, na visão dele, é o que faz o Artigo VI da Confissão de
Augsburgo e que trata da “Nova Obediência”. A resposta, neste caso, é pela ação de
Deus através de Jesus Cristo. Esta poderia ser a segunda esfera na qual o assunto
pudesse ser tratado, mas que também está sendo descartada por poder facilmente
deslocar o foco de Deus como sujeito da obra santificadora através de sua Palavra, para
o ser humano em sua capacidade de resposta. O perigo, neste caso, é o cristão pensar
que ele “pode, por sua própria natureza, razão e força, escolher a viver uma vida que
agrada a Deus” (RAABE; VOELZ, 2006, p.162).
A terceira esfera possível para discussão e prática da vida cristã em nossas
comunidades, é se utilizar do Terceiro Uso da Lei. A questão envolvendo o terceiro uso
da Lei foi uma tentativa de resolver um assunto bem complexo. O tema era encontrar um
consenso entre os que ensinavam que era preciso promulgar a lei aos cristãos, para que
eles aprendam a servir a Deus e os que entendiam que a lei não necessitava mais ser
pregada, uma vez que o cristão era templo do Espírito Santo e livremente ele cumpriria
as exigências de Deus (FÓRMULA DE CONCÓRDIA, 1993).
Ainda que este seja um tópico da Fórmula de Concórdia, e adquiriu certo
consenso, ele continua em debate. Em 1995, por exemplo, um simpósio teológico no
Concordia Seminary, Estados Unidos, tratou do tema no sentido de debater o papel,
função e existência do Terceiro Uso da Lei. Uma das questões debatidas por ocasião
deste evento, é sobre a fórmula “a Lei sempre acusa”, que poderia ser expandida para “a
Lei não só acusa”. A defesa, portanto, era para a utilização da Lei em sua função de
instruir (ARAND, 1996).
Murray (2002) continuou o debate sobre o Terceiro Uso da Lei reconhecendo que
o Artigo VI, da Fórmula de Concórdia, e que trata do Terceiro Uso da Lei, é uma exceção,
no sentido que é um artigo que não apresenta unanimidade, na medida que alguns o
rejeitam e afirmam que seu ensino não é correspondente ao ensino de Lutero. Isto foi
contestado em 2011, em artigo de Scaer, quando o debate foi sobre C.F.W. Walther e o
Terceiro Uso da Lei12.
Em 2005, o periódico Concordia Theological Quarterly dedicou um dossiê sobre o
Terceiro Uso da Lei num dos seus números13. Foi uma série de sete artigos e um deles
tratou da tensão que existe na busca por encontrar um caminho de debate sobre este
ensino. Kretzmann (1964) entendeu que esta expressão “terceiro uso da lei”, como sendo
sinônimo de exortação evangélica, deve ser evitada. A razão disto está no fato que “as
exortações da graça diferem amplamente dos mandamentos da lei, porque se dirigem
apenas a crentes, apenas aos que não estão debaixo da lei, mas sob a graça, na forma
de imperativos” (KRETZMANN, 1964, p. 135). Assim, por estar em constante discussão
e não apresentar consenso teológico, optou-se por não tratar deste tema na esfera do
Terceiro Uso da Lei, todavia, esta perspectiva também estará na beira da discussão sobre
o tema da vida cristã.
Poderia ainda se seguir o caminho das duas justiças. Lutero desenvolve este
pensamento, principalmente, em seu Prefácio do Comentário aos Gálatas. Seu
12 SCAER, David P. Walther, the Third Use of the Law, and Contemporary Issues. Concordia Theological
Quarterly, Volume 75:3-4 July/October 2011.
13 Concordia Theological Quarterly, Volume 69:3-4, July/October 2005.
argumento é que diante de Deus não podemos fazer absolutamente nada e somos
receptores passivos das dádivas do perdão e da salvação, assim como a terra seca
recebe a chuva. É a justiça passiva. Porém, depois de ser regada com a chuva, a terra
adquire força para produzir frutos (LUTERO, 2008). Faz sentido, mas dá a impressão que
existirá uma cooperação decisiva do cristão, ao se atribuir a ele a justiça ativa. Esta
também não é uma concepção unânime uma vez que atribui ao crente em Cristo algum
tipo de mérito nas boas obras, o que também inviabilizaria tratar do tema da vida cristã
neste esfera.
Por isto, a proposta neste trabalho não foi seguir nenhuma destas alternativas:
nem Lei-Evangelho; nem Lei-Evangelho-Resposta, nem Terceiro Uso da Lei, nem as
duas justiças, mas na esfera da Graça e do Ensino e que inclui a Lei em seu papel
didático, mas que pressupõe o Evangelho na vida das pessoas e que tem como ênfase
e foco o ensino para a vida cristã através da palavra de Deus. O conteúdo neste caso
são as Dez Palavras, histórias bíblicas e demais textos, como as parêneses, que incluem
recomendações éticas e morais aos cristãos. O que está se propondo, é que está no
ensino na voz do próprio Deus e na confiança da ação do Espírito Santo, através da
Palavra, o caminho para se abordar o tema da vida cristã.
Na figura 1, logo abaixo, está uma tentativa de estruturar a ideia que se tem em
mente ao abordar o tema. A centralidade está na Graça de Deus, ou seja, estamos na
casa do Pai, através da obra e méritos do Filho. Nesta casa recebemos todas as boas
dádivas de Deus, incluindo o ensino em como viver a presente vida. Como foi observado
anteriormente e pode ser notado neste gráfico, as esferas circundantes, em princípio,
estão sendo descartadas na discussão do tema, mas elas estão continuamente
“beirando” a esfera central em que se pretende desenvolver este tema.
Figura 1: Estrutura de abordagem do tema na perspectiva da Graça/Ensino
Lei/Evangelho
Lei-
Duas justiças Graça-Ensino Evangelho-
Resposta
- Graça
Terceiro
uso da
Lei
Com base no Gráfico 1, o objetivo é defender a ideia que o tópico da vida cristã
deve ser conduzido na esfera da graça de Deus e do ensino da Palavra, incluindo o uso
da Lei de Deus para instruir seu povo.
A base teológica para o tema da vida cristã ser tratado na esfera da graça de Deus,
está em exemplos bíblicos julgados como importantes para sua sustentação. O primeiro
deles é a promulgação das Dez palavras de Deus, o Decálogo, em Êxodo 20.1-17. Não
há dúvidas que este episódio começa com a afirmação da graça de Deus, ou de palavras
essencialmente evangélicas. “Eu sou o SENHOR, seu Deus, que o tirei da terra do Egito,
da casa da servidão” (Êx 20.2).
Usar o Decálogo para instruir cristãos pode soar legalismo. Porém, com a
promulgação de abertura por parte de Deus, é possível atribuir ao Decálogo um caráter
mais didático, sem desconsiderar o papel da Lei em seu segundo uso, do que imperativos
exigentes. Mesmo que sejam proibições fortes e duradouras, não dá para ignorar que
Deus tem um projeto bom de vida aos seus filhos e a forma como ele expressa sua
vontade nessas proibições reflete essa ideia.
Dietrich (1977) também vê o Decálogo como a carta magna que Deus concede ao
povo que recém foi resgatado da morte. Ela serve como guardiã da liberdade recebida.
Por um lado, ela não deixa de desvendar nossa pecaminosidade, por outro lado, as Dez
palavras estabelecem as bases da ordem divina da criação. A vontade divina abrange
todas as relações humanas, diante de Deus e do próximo. Receber a Lei também é um
sinal da graça de Deus, embora ela se torne, através da transgressão, em condenação.
No Novo Testamento ela tem a função pedagógica de nos conduzir a Jesus Cristo,
porque abre os nossos olhos para o nosso verdadeiro estado (Gl 3.21-29), mas também
de continuar sendo a carta magna de Deus ao povo liberto da escravidão do pecado e
da morte (Rm 13). Com a justiça de Deus imputada ao homem, através de Cristo, o cristão
está livre da tirania do pecado e da lei e sua vida é vivida no poder do Espírito (Rm 6-8).
“O cristão sabe, com efeito, que em Jesus Cristo a condenação da lei foi revogada”
(DIETRICH, 1977, p.62).
Com Cristo, o Decálogo se torna a carta dos cidadãos do Reino, a carta dos
agraciados, ela funciona como lembretes do que é a vida cristã (Gl 5.12-25; Rm 12.1-21).
Ela estabelece conselhos seguros. Qualquer ética desconecta da vontade do Criador e
Salvador, é frágil e sujeita ao colapso.
Notamos logo que não há mais normas válidas para todos, nem critérios
seguros; tudo se torna puro oportunismo político e social. Uma sociedade
que viola os mandamentos do Decálogo (respeito da pessoa, da família,
da dignidade, do trabalho) acaba por desmoronar-se. Só retorno à fonte
de todo direito e de toda verdade pode, então, reergue-la (DIETRICH,
1977, p.63).
A lei em seu papel pedagógico de abrir os olhos do pecador para que ele se
enxergue como tal, continua em vigor, mas vivendo na casa da graça do Pai, ela também
cumpre sua missão em lembrar a boa vontade de Deus para a nossa vida.
A propósito, em Mateus 24.12, Jesus alerta para o esfriamento do amor no fim dos
tempos. “E, por se multiplicar a maldade, o amor se esfriará de quase todos”. O foco está
sobre a palavra “maldade”, que no original é anomia. O prefixo desta palavra pode indicar
tanto a ausência quanto a quebra da lei (GUTBROD, 1992). Seu uso em textos como de
Levítico 20.1414, Deuteronômio 31.2915, Isaías 9.1816.Romanos 6.1917, 1 João 3.418, pode
indicar que uma das possíveis interpretações das palavras de Jesus em Mateus 24.12,
sinaliza para o fato de que o amor é impossível para uma pessoa que não tem lei
(MORRIS, 1995) e que o esfriamento do amor, profetizado por Jesus, pode ser em
decorrência da falta da lei.
Este princípio é defendido, por exemplo, entre estudiosos da Pediatria no que diz
respeito à criação e educação de filhos. Num contexto em que se prega a liberdade antes
de qualquer coisa e a noção que o mais importante é a felicidade, Capelatto e Filho
(2012), reconhecem a complexidade do tema, mas afirmam que “[...] a permissividade, a
falta de limites e de responsabilização, somadas à terceirização dos cuidados, afetam o
desenvolvimento não apenas do indivíduo, mas da própria sociedade” (CAPELATTO,
FILHO, 2012, p. 9 – grifo meu). A razão disto está no fato que quando não são impostos
limites aos filhos, não haverá vínculos amorosos de sustentação. Assim, as fronteiras da
lei de Deus na vida do seu povo são limitadoras estabelecidas pelo Pai que está nos céus
e se tornam necessárias para manter e preservar a humanidade e suas instituições
menores. “Quando as pessoas se recusam a se submeter à lei e cada um faz o que é
certo aos seus olhos, o desastre moral está às portas” (MORRIS, 1995, p. 600).
Esta consideração nos remete ao pensamento de Köberle (1999), crítico da ética
autônoma e de sistemas éticos que privilegiam a moralidade racional e consequente
realização apenas do que é compreendido. Ao focar na anomia, Jesus com certeza não
está se referindo ao literalismo farisaico, que prega obediência a todas as leis
estabelecidas por Deus, bem como àquelas instituídas pelos próprios fariseus para
angariar méritos diante de Deus, mas um reconhecimento que se está na casa da graça
do Pai, que, por sua vez, quer e precisa, por causa do pecado, orientar graciosamente
os seus filhos para que andem nos caminhos do bem e no caminho da liberdade obtida
por Jesus na cruz. Ou seja, o que está se propondo é que toda a lei de Deus seja
14 “[...] para que não haja maldade no meio de vocês” (quebra da lei).
15
“Porque se que, depois da minha morte, vocês certamente deixarão se corromper [...]” (agir sem lei)
16 “Porque a maldade queima como um fogo [...]” (sem limites, sem lei)
17 “Assim como ofereceram os seus membros para que fossem escravos da impureza e da maldade que
19
Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos. Ela nos educa para que, renegadas
a impiedade e as paixões mundanas, vivamos neste mundo de forma sensata, justa e piedosa, aguardando
a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele deu a
si mesmo por nós, a fim de nos remir de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente
seu, dedicado à prática de boas obras. Ensine estas coisas. Também exorte e repreenda com toda a
autoridade. Que ninguém despreze você (Tt 2.11-14).
Quadro 4 – A graça e a vida sob a misericórdia de Deus em epístolas de Paulo e
de Pedro
Todas as nossas boas obras são obras do próprio Deus, que ele opera
em nós e por nós. São seus dons, mas é nossa tarefa andar nelas.
Somente Deus conhece nossa boa obra. Tudo o que necessitamos
conhecer é sua obra e continuar a viver. Na nova relação da graça temos
o poder de combater e bom combate da fé contra o diabo, o mundo e a
nossa carne (KRETZMANN, 1964, p. 143).
Definido o conteúdo, a palavra de Deus em sua totalidade; a força para execução,
o próprio Deus agindo através do ensino da Palavra e a partir da sua graça, o terceiro
aspecto diz respeito à dinâmica do ensino ou comunicação da vontade de Deus ao seu
povo. Lutero utilizou e acreditava que uma das ferramentas pedagógicas mais eficazes
do ensino para a vida cristã eram as histórias bíblicas (GRAFF, 2017). Ele contava e
interpretava histórias bíblicas, na confiança que estas eram um suplemento para fixar a
nova identidade evangélica em seu povo. Ele cria que os dois espaços em que um cristão
necessitaria estar preparado para viver e servir a Deus eram a sociedade e a igreja e
para tanto, ele deveria ser ensinado para exercer seu cristianismo (MAXFIELD, 2008).
Em conexão direta a este primeiro aspecto das boas obras, está um segundo
elemento que justifica o ensino para a vida cristã: a criação contínua e continuada de
Deus. Lutero era convicto que Deus criou o mundo bom e esta pressuposição avalizaria
o engajamento do cristão no mundo. Desta premissa, por sua vez, emergem dois
desdobramentos que poderiam ser objetos de atenção adicional. O primeiro diz respeito
à contínua obra criativa de Deus no mundo e que é o fundamento da própria existência
humana. E o segundo desdobramento tem a ver com o papel dos seres humanos nessa
atividade criativa de Deus, na medida em que eles são agentes de Deus na criação,
preservação e renovação do mundo (ARAND, KOLB, 2008, p.55). Assim, a vida cristã
extraordinária, em e através de cada uma das vocações e ofícios, não se torna um fim
em si mesma, mas é em benefício das pessoas que por sua vez vivem sob o cuidado e
preservação contínua de Deus.
Boas obras servem para glorificar a Deus, na medida em que apontam para o Pai
que está nos céus. A vida cristã também se justifica, uma vez que o engajamento do
cristão no mundo é o engajamento da própria missão de Deus em cuidar e zelar pelo
mundo, através de ofícios e vocações legitimadas pela palavra de Deus. Há ainda, ainda
que de frágil argumentação e de difícil assimilação, uma questão relacionada à
capacidade de leitura e interpretação de cada cristão individualmente, sobre sua vida em
particular. Por exemplo, uma pessoa que comete exageros em sua vida e não faz uma
boa mordomia do seu corpo, pode ter a tendência de desenvolver patologias ao longo de
sua vida. Pode, mas não há elementos que fundamentem satisfatoriamente este ponto
de vista, uma vez que existem casos em que pessoas que tomaram cuidados ao longo
de sua vida, adoecem como as demais. O pecado habita em todos. Porém, o ponto é que
o ensino, amparado pela graça de Deus, pode indicar caminhos que privilegiem uma vida
de cuidados e atenção com a dádiva do corpo.
Finalmente, uma última consideração diz respeito às recompensas de se viver a
vida cristã de acordo com a vontade de Deus. “Ora, o que planta e o que rega são um, e
cada um receberá a sua recompensa de acordo com o seu próprio trabalho” (1 Co 3.8)20.
Baseado neste texto, conforme foi exposto acima, Pieper (1953) afirma que não
deveríamos nos ater a falsas conotações que este termo poderia suscitar, nem de nos
deter em usá-lo no ensino sobre a vida cristã. Recompensas são promessas da graça de
Deus e com o pressuposto que não podem ser exigidas como direito, “nós podemos
ensinar sem vacilar, tanto pública quanto privadamente, que Deus recompensa as boas
obras dos cristãos aqui no tempo e, particularmente, na eternidade - 1 Tm 4.8; Lc 14.4”
(PIEPER, 1953, p.52)
Considerações finais
Uma das expressões que caracterizam o relacionamento de Deus e os seus filhos
é a figura do Pai. Desde o Antigo Testamento, o povo, bem como os filhos
individualmente, está autorizado a chamar e se dirigir a Deus invocando o como Pai.
“Diga a Faraó: Assim diz o SENHOR: Israel é meu filho, meu primogênito” (Ex 4.22);
“Virão com choro, e com súplicas os levarei; eu os guiarei aos ribeiros de águas por um
caminho reto em que não tropeçarão; porque sou pai para Israel e Efraim é o meu
primogênito” (Jr 31.9); “Mas tu és o nosso Pai” (Is 63.16); “Mas agora, SENHOR, tu é os
20
Outros textos que tratam de recompensas aqui e na eternidade: Mt 5.12; 25.14-23; Lc 6.23; 14.14;
19.12-19; 1 Co 6.9-10; Dn 12.3; Pv 3.1-11.
nosso Pai” (Is 64.8). Esta paternidade de Deus e a filiação de Israel não precisam ser
vistas da perspectiva mitológica, mas a partir de experiências concretas de ações
salvadoras realizadas por Deus pai na história de Israel filho (VIEIRA, 2013)21.
Este relacionamento pai/filho também domina os ensinamentos do Filho Jesus. No
Sermão do Monte, por exemplo, são mais de 15 vezes (5.43, 48; 6.1, 4, 6, 8, 9, 14, 15,
18, 26, 32; 7.11, 21) e algumas delas ressaltam que ele é o “Pai de vocês”. Além destas,
ainda há outras referências de Deus como pai no Evangelho de Mateus, nos outros
evangelhos e nas epístolas de Paulo, como é o texto de Romanos 8.15: “Porque vocês
não receberam um espírito de escravidão, para viverem outra vez atemorizados, mas
receberam o espírito de adoção, por meio do qual clamamos: Aba, Pai” (cf. Ainda Gl 4.6).
A parábola do “Filho Pródigo”, em Lucas 15.11-32, usa da tipologia paterna para
falar de Deus como pai em cujo colo há refúgio. Através da imagem de Deus como Pai,
tipificada na pessoa do pai da parábola, é possível perceber que Jesus tinha intenção de
revelar Deus como um Pai Amoroso e cujos filhos são recebidos graciosamente (VIEIRA,
2013).
Existe algum significado teológico relevante nesta relação para com a vida cristã?
Middendorf (2015) escreveu uma analogia abordando esta realidade pai/filho na
perspectiva da nova obediência do cristão. De acordo com ele, quando pais terrenos
estabelecem regras para seus filhos, eles não o fazem com o intuito de lhes mostrar que
são filhos desobedientes e indignos de receber dádivas de seus pais. Seu objetivo
também não é lhes levar ao reconhecimento que são filhos fracassados e indignos de
pertencer à família. Quem é o filho que iria querer ficar próximo a seus pais frente a esta
perspectiva? Se fosse esta a percepção de um filho a respeito deste tipo de amor dos
pais, ela provavelmente seria negativa e o alvo, na visão do filho, “poderia ser a
obediência, mas apenas para evitar a raiva e a punição do pai. Esta seria a velha
obediência” (MIDDENDORF, 2015, p. 212).
Porém, muito provavelmente este não é, e nem se espera que seja, o caso nas
famílias, em termos gerais. Ainda que comparados ao Pai perfeito, os pais terrenos sejam
completa e irreversivelmente imperfeitos, eles normalmente dão regras a seus filhos e,
quando necessário, impõe algum tipo de disciplina quando estas forem quebradas. Pode
21 Outras referências no Antigo Testamento de Deus como pai: Dt 32.6; Sl 68.5; 89.26; Ml 1.6; 2.10.
se dizer que, independente de qualquer coisa, sua intenção é amorosa e visa o benefício
e bem de seus filhos. Quando uma relação amorosa dos pais para com os filhos for
intensificada, os filhos irão praticar uma “nova obediência”, baseada no reconhecimento
que isto será em seu benefício e por isto será feito com espírito de gratidão e respeito, e
não por medo da punição (MIDDENDORF, 2015).
Ao considerar ainda esta relação Pai/filho, é difícil sustentar a ideia que a lei de
Deus sempre ou predominantemente funciona como um instrumento de denunciar seus
filhos por seus erros e pecaminosidade. Parece não ser esta a relação que Deus Pai quer
com seus filhos. Ele investiu todo o amor possível e inimaginável aos olhos humanos,
para recuperar as criaturas caídas em pecado para serem “novas criaturas”. Em Cristo,
o Pai não olha mais para seus filhos como pessoas condenadas, mas salvas e
recuperadas por sua graça. Porém, vale ressaltar que um relacionamento maduro e mais
íntimo se desenvolverá apenas a partir da graça, ou então da pregação do Evangelho.
A obra do ensino precisa ocorrer na esfera da graça de Deus, pois somos filhos
da graça. É pela fé em Jesus que a vida cristã será desenvolvida livremente, sem temor,
sem coação, mas em espírito de gratidão, para o benefício do próximo, para o bem
pessoal do cristão e para a glória do gracioso Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo
e autor da nossa vida cristã.
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